“Los tiempos
felices en la humanidad son las páginas vacías de la historia”. Leopold von
Ranke
Nascido
em Nápoles, na Itália, Gabriele Salvatores faz parte do seleto grupo de cineastas
que têm um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, como era reconhecida a categoria
chamada de Filme Internacional. Gabriele Salvatores nascido em Nápoles, em 30
de julho de 1950 é um diretor e roteirista italiano. Seu filme Mediterrâneo
(1991) recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1992. É um dos
fundadores, junto com Maurizio Totti e Diego Abatantuono da produtora
cinematográfica Colorado Film e de diversos projetos associados à empresa, como
a editora Colorado Noir, esta última fundada em 2004 junto com Totti e
Sandrone Duties. Perguntado sobre seu cineasta favorito, em certa ocasião, ele
não citou um dos tantos mestres do cinema italiano pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
mas admitiu a predileção pelo britânico Stanley Kubrick (1928-1999). Ao longo dos anos,
Gabriele diversificou seus pontos de vista, fez dramas sociais, filmes de
super-heróis, demonstrou personagens fugindo dos problemas políticos do mundo moderno,
etc. Gabriele Salvatores nasceu em 30 de julho de 1950 em Nápoles, mas mudou-se
com os pais e a irmã para Milão aos seis anos. Formado no liceu clássico Cesare
Beccaria, a sua primeira aproximação ao mundo cinematográfico do entretenimento não passou pelo
cinema, mas exatamente quando iniciou a carreira artística no
Teatro dell`Elfo, é
um anfiteatro da antiga Delfos, na Grécia, estando localizado no perímetro do
sítio arqueológico de Delfos. Foi o local dos concursos e apresentações de
música e poesia associados aos Jogos Píticos, com Ferdinando Bruni (1972),
com o qual dirigiu espetáculos per se definidos como
vanguardistas.
Em
junho de 1941, um grupo de soldados italianos, liderado pelo tenente Raffaele
Montini, chega a uma pequena ilha grega, no Mar Egeu, onde montam um Posto de
Observação.A pequena vila da ilha
parece abandonada, não havendo o menor sinal do inimigo nem de seus habitantes.
Logo, o rádio por eles trazido se quebra.Algumas tentativas são feitas para recuperá-lo, sem sucesso, ficando o
grupo sem qualquer contato com o resto do mundo. A população civil local,
basicamente composta de idosos, mulheres e crianças, já que os homens mais
jovens haviam partido por conta da guerra, sentindo o espírito pacífico dos
italianos, deixa seus esconderijos e desce a montanha.A princípio, os soldados se preocupam por
acreditarem na possibilidade de uma emboscada, mas depois relaxam. O líder
religioso informa ao tenente Montini que, antes deles chegarem, havia um grupo
de alemães, os quais destruíram várias casas e afundaram seus barcos.Assim, ao avistarem o navio que os trouxera,
os moradores da vila se refugiaram nas montanhas, acreditando que os alemães
estavam de volta. Uma bela jovem, de nome Vassilissa, procura o tenente
Montini, em busca de trabalho.Na sua
ausência, o Sgt. Lorusso se faz passar por ele.Perguntada sobre suas habilidades profissionais, ela responde que é
puta. O sargento lhe diz
que vai ter que consultar o regulamento. Mas, depois de conversar com seus colegas de farda, é elaborada uma programação
de atendimento de Vassilissa aos interessados.
O
soldado Farina, que nunca havia tido relação sexual com uma mulher, logo se
apaixona pela bela jovem e, ameaçando seus colegas com um fuzil, avisa que
ninguém mais vai ficar com ela. Alguns
dias depois, o padre da comunidade celebra o casamento dos dois. O tempo
passa. Três anos depois da chegada do
grupo à pequena ilha, um monomotor, pilotado pelo tenente Carmelo, sofre pane e
o obriga a fazer um pouso de emergência na praia onde o grupo jogava futebol. Ao verificar que seus colegas italianos não
estavam sabendo do andamento da guerra, ele os informa que o líder fascista
Benito Mussolini caiu e que a Itália se acha dividida em duas formas de oposições
assimétricas. No Sul, estão os ingleses
e os norte-americanos, enquanto no Norte acham-se os alemães e os
fascistas. Depois de reparar o avião, o
Ten. Carmelo se despede dizendo que vai falar com seu comandante, na ilha de
Creta, para que eles sejam resgatados. Um navio inglês chega à pequena ilha,
trazendo um grupo de gregos que lá moram.
Os italianos partem no mesmo, exceção de Farina que, casado, prefere
desertar, refugiando-se com Vassilissa nas regiões montanhosas. Anos depois, agora um
senhor grisalho, o antigo tenente Montini retorna à ilha. Lá, reencontra o ex-sargento Lorusso, que não
se readaptando à Itália, resolvera voltar pra ilha, bem como, protagonizando a história, Farina & esposa, proprietários do Restaurante Vassilissa.
Foi de uma dessas obras, em 1983, que nasceu o tema de sua primeira
direção cinematográfica, Sonho de Uma Noite de Verão: inspirado em William Shakespeare, o filme é um híbrido caleidoscópico inclusivo em torno de cinema, teatro, música e
dança com contos de fadas, cadências. De seu período teatral lembramos, em
1983, Class Enemy de Nigel Williams , drama de 1978 - traduzido e
adaptado pelo ator e diretor Elio De Capitani - com protagonistas de nomes
desconhecidos na época e que mais tarde se tornaram atores de grande
importância (Claudio Bisio , Paolo Rossi , Antonio Catania , além do próprio De
Capitani), Comediantes de Trevor Griffiths, em 1985, comédia de 1975 traduzida
e adaptada pelo próprio Salvatores junto com a dupla Gino e Michele e na qual
também estava Silvio Orlando e que depois o mesmo arguto diretor transporá
livremente para o cinema em duas ocasiões distintas, Kamikazen - Ultima Notte
a Milano, em 1988 e Call Me Kowalski do próprio Paolo Rossi, de
1987, espetáculo que consagrou o ator de Trieste como estrela histriônica do teatro italiano. Abandonou o teatro em 1989, passando para o mercado de trabalho para o mundo do cinema.
Os
filmes Marrakech Express (1989) e o seguinte Turné, de 1990 foram rodados com
seu grupo de amigos atores, incluindo Diego Abatantuono, com quem é dono e
dirige a produtora cinematográfica “Colorado”, e com quem se casou com a
ex-esposa e Fabrizio Bentivoglio, e entre as atrizes está Laura Morante. Em
1990 recebeu uma indicação ao European Film Awards na categoria “Juventude”
por Turné. Em 1990 foi também diretor do único videoclipe rodado pelo
cantor e compositor Fabrizio De André, para a música “La Domenica delle Salme”.
Em 1991 alcançou reconhecimento internacional com Mediterraneo, filme de
enorme sucesso, que lhe rendeu o Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme
também ganhou outros prêmios, incluindo o David di Donatello de melhor filme,
edição e som e um Nastro d`argento de direção. A sua chamada “trilogia de fuga”,
composta pelos três filmes acima mencionados, é idealmente continuada em 1992
por Puerto Escondido, filme baseado no romance homônimo de Pino Cacucci,
sobre temas próximos dos anteriores, ao qual Abatantuono é
acompanhado pelo ator Claudio Bisio. No ano seguinte dirigiu Sud (1993),
uma tentativa de denunciar a situação política da Itália dos marginalizados e desempregados, entre os quais se destaca a
interpretação de Silvio Orlando.
Em
primeiro lugar, não devemos esquecer que o mundo das “histórias nacionais” de Leopold
von Ranke (1795-1886) é, assim, determinado, visto que sua
particularidade refere-se a existenz,
para lembramo-nos de Friedrich Hegel, na técnica
de interpretação na literatura e na filosofia de um “mundo europeu”, que
mal se dilata, mas sem perder o conteúdo essencial, sobre províncias e
continentes do ultramar colonizados por povos europeus. Mas não é a Europa
inteira o que o ocupa, e sim as fronteiras geográficas dessa Europa latina e
germânica, protestante ou católica, que são também as fronteiras do espaço e do
tempo histórico a que devotou o melhor de sua atividade intelectual: “somos
mais vizinhos de Nova York e de Lima do que de Kiev e Smolensk”. Mas é melhor
tentarmos entender sua ideia de “nexo de sentido”, posto que as razões dessa
crítica só valessem se quisesse dizer que o mundo histórico cessava, para
Ranke, “nos limites da Europa Ocidental com seus apêndices ultramarinos”. Sua
ideia de “nexo de sentido”, que poderia justificar-se como um princípio de economia
necessário, passa a ser um “mandato de exclusão sem apelo”. Os povos que não
tiveram o privilégio de originar-se das grandes invasões dos séculos IV a VII,
que não se puseram logo sob a égide da Igreja de Roma, que não tomaram parte
nas cruzadas e direta ou indiretamente nos descobrimentos e conquistas
ultramarinos, que não se viram envolvidos, dentro do mesmo espírito cristão, mas
cristão ocidental, nas guerras de religião do século XVII e nem na Ilustração
do século XVIII, “esses povos não têm salvação diante da História”.
Curioso é notar que em defesa do exclusivismo de Ranke poderia alegar-se que essa universalização da cultura ocidental parecia rigorosamente imprevisível à época em que ele viveu, e, no entanto é forçoso observar que sua noção científica da História, ao mesmo tempo em que lhe traçava limites fixos no espaço, também excluíam a dimensão do futuro. Nada há, em sua obra, que se assemelha a certas previsões feitas por homens de seu tempo. E nem há como exprobrá-lo por ter seguido a regra, que Hegel definiu, mas não seguiu, de que não é da competência dos historiadores o arvorar-se em profetas ou dramaturgos. A limitação metodológica de Ranke, neste particular, não está em que para ele o tempo histórico pode comportar “um ontem”, quando muito “hoje”, cujo conhecimento nos é acessível através de pesquisas ou de experiências. A história se baseia num tempo incompleto, inacabado, que em si mesmo é uma exigência de mudança. O passado jamais se entrega imediatamente a nós, por isso devemos considerar ideológica a pretensão de estabelecer “o que efetivamente aconteceu”. Ou seja, a ideia conspícua de Leopold von Ranke, contida em seu Zur Kritik neurer Geschichsreiber do “como efetivamente aconteceu” (essen Sie tatsächlich, es passierte). Nosso ponto de partida é articulado emtorno do conceito de “tempo-de-agora” (Jetztzeit); é nele que tomamos consciência e que podemos nos relacionar em termos novos com o passado e exercermos a crítica analítica como veremos adiante.
A História das mentalidades é modalidade que privilegia os modos “de pensar e de sentir” dos indivíduos de uma mesma época. Segundo Michel Vovelle, em Ideologies et Mentalités (1982), é o “estudo das mediações e da relação dialética entre, de um lado, as condições objetivas da vida dos homens e, de outro, a maneira como eles a narram e mesmo como a vivem”; ou, Le Mort et l’Occident de 1300 à nous Jours, à Paraître fin 1982, ou ainda, segundo Robert Mandrou, no livro Magistrados e Feiticeiros na França do Século XVII - Uma Análise de Psicologia Histórica em que interpreta “uma história centrada nas visões de mundo”. Esta obra apresenta os resultados de uma longa investigação pelos arquivos judiciários e pelos trabalhos consagrados à caça às bruxas na França no século XVII. Através
de um itinerário intelectual e afetivo complexo, os Magistrados das cortes
supremas (os Parlamentos) em Paris, Dijon, Bordeaux etc. renunciaram com
dificuldades, lentamente, a condenação automática à fogueira dos suspeitos de
bruxaria; longa tomada de consciência na qual os médicos, teólogos e juízes
colaboram através de polêmicas veementes suscitadas em particular por alguns
processos que causaram grande escândalo e puseram em causa os confessores de
conventos femininos presos do demônio: em Aix-em-Provence, em Louviers. Segundo Roger Chartier, uma “história do sistema de crenças, de valores
e de representações próprios a uma época ou grupo”. Segundo Georges Duby, a
designação ajustava-se à necessidade de explicar o que de mais fundo “persiste
e dá sentido à vida material das sociedades”, ou seja, representam as ideias que formam das suas condições reais de existência e que além disso “comandam de forma
imperativa a organização e o destino dos grupos humanos”.
Haveria
uma “mentalidade coletiva”? Lucien Febvre (1953; 1978) perguntava-se se
existiriam “modos de sentir e de pensar” que fosse comum a “Cristóvão Colombo e
ao mais humilde marinheiro de suas caravelas”. Esta pergunta foi retomada a
partir dos anos 1960, e começou a se formar mais claramente como “uma nova
técnica de orientação da pesquisa histórica” a partir de autores como Philippe
Ariès (1982b), e ainda, George Duby & Robert Mandrou, em Histoire de la civilization française.
Moyen Âge - XVIe siècle(1958). Deve-se ainda ter em vista que a História
das mentalidades associou-se também ao conceito de “la longue durée” ou “tempo
longo”, característico da Escola dos Annales.
Tal como o compreendia Fernand Braudel, as mentalidades constituiriam um “padrão
de pensamento” ou de “sensibilidade” que mudaria muito lentamente, “vindo a
formar uma estrutura de longa duração”. Objetos típicos da História das
mentalidades são: “as sensibilidades do Homem diante da morte”, a história dos “grandes medos
dos seres humanos nos diversos períodos” (cf. Jean Delumeau), da feitiçaria (cf.
Robert Mandrou) e tantas outras que à época em que começa aflorar a História
das mentalidades, que “pareciam constituir temáticas exóticas para os historiadores
que se dedicavam a temas historiográficos mais tradicionais”. Não temos
história do amor, da morte, da piedade, da crueldade, da alegria. A queixa de
Lucien Febvre, em 1948, muito repetida desde então, tornou-se quase um
manifesto da disciplina que se convencionou chamar a “história das
mentalidades”. Uma das lacunas que o fundador da Escola dos Annales deplorava foi preenchida pela História do medo no Ocidente, de Jean
Delumeau. Ao tomar como objeto de estudo o medo, ele parte da ideia de que não apenas os
indivíduos mas também as coletividades estão engajadas num diálogo permanente
com a menos heroica das paixões humanas.
Revelando-nos
os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século XIV ao XVIII, por exemplo, o
mar, os mortos, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e
seus agentes (o judeu, a mulher, o muçulmano) -, o grande pensador francês
realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente. Alguns autores
postulam que a história das mentalidades apresentou como principais precursores
dois grandes historiadores ligados à escola dos Annales: Marc Bloch, que publicou em 1922, Os Reis Taumaturgos, uma obra comparativa que examinava “a relação
entre a crença no poder curativo dos reis e a autoridade das grandes dinastias
francesas e inglesas”, e Lucien Febvre, que publicou O Problema do Ateísmo no Século XVI: a religião de Rabelais, obra
na qual já “defendia a tese da História como estudo interdisciplinar”. A
chamada História das mentalidades é um ramo da Teoria da História. É
considerada uma análise de tipo mais profundo da História, pois visa perscrutar
e compreender as grandes alterações nas formas de “pensar e agir do Homem ao
longo dos tempos”. Inscreve-se no chamado “tempo longo” (a “longa duração”), de
teor essencialmente estrutural e que atua nos mais diversos fatores de uma
sociedade.
Por ser do
domínio do “tempo longo”, a perspectiva temporal é fundamental para seu estudo.
Devido à sua abrangência intrínseca, permite ampliar o conceito de documento,
extravasando em muito o mero documento escrito de cariz oficial. Os atos
inconscientes são tão ou mais importantes que a formalidade dos decretos e das
ordens régias; a Arte, a Literatura, os costumes, os ritos, os mitos e os
símbolos (Augé), a religião são manifestações fundamentais para revelar a
consciência auto reflexiva que o homem tem de si numa determinada época”
(Hegel). Com a história das mentalidades, a elaboração histórica deu um salto
qualitativo, quer em termos científicos quer no concernente ao seu ensino. A História Nova, de Marc Bloch foi a
grande impulsionadora da história das mentalidades. Outro grande impulsionador
desta teoria foi o filósofo e epistemólogo francês Michel Foucault, ligado à influência
de Sigmund Freud na esfera de saber da psicologia e psicanálise.
A história das
mentalidades é um meio de compreensão dos mecanismos sócio históricos sobre um
plano de fundo onde os conceitos elaboram-se a partir dos “estados mentais de
grupos coletivos”. Desse modo, as manifestações que estão ligadas ao amar,
lazer, morrer e viver num sentido de desvelar os discursos. Para além do óbvio
visando uma interação entre o antropológico, a sociologia e a psicanálise. Em
que a autoridade, tradição e passado está ligado à investigação multidisciplinar.
Apesar de estudar o modo de agir e pensar do indivíduo a História das mentalidades estava ficando “fora de moda” e os
historiadores não gostam de serem tratados e rotulados como “historiador do
mental” e a partir de meados da década de 1980, na França, esse tipo de análise
histórica já estava sendo reformulada, dando lugar a sua principal herdeira, a
Nova História Cultural. A história cultural no Brasil, mutatis mutandis, para sermos breves, deu-se através do historiador
Sérgio Buarque de Holanda e do antropólogo Gilberto Freyre, a partir de suas
respectivas obras “Raízes do Brasil”, publicada em 1936, e “Casa Grande e
Senzala”, publicada em 1933. Para compreender
a história das mentalidades é preciso remontar aos séculos XIX e XX,
onde conceitos estabelecidos pelo historiador Leopold von Ranke (1979a; 1979b) que
idealizava uma história tradicional, política voltada à biografia dos reis, foi
contestada mais tarde por Marc Bloch e Lucien Febvre que, em busca de uma
história-problema e de uma história do cotidiano fundaram a “Revue des Annales”,
em torno da qual se estabeleceu a chamada Escola
dos Annales. A história das mentalidades teve como destaques principais
dois historiadores que com suas obras mostraram o pensar e o agir na História
do mental: Bloch editou “Os Reis Taumaturgos”, uma obra comparativa entre
crença e autoridades dos Reis e Febvre publicou “O Problema do Ateísmo no Século
XVI: a religião de Rabelais” onde defendia a tese da História representar uma forma de
estudo interdisciplinar.
Seu
nome em italiano é Cristóforo Colombo, em latim Christophorus Columbus e
em espanhol, Cristóbal Colón. Este antropónimo inspirou o nome de, pelo
menos, um país, Colômbia e duas regiões da América do Norte: a Colúmbia
Britânica no Canadá e o Distrito de Colúmbia nos Estados Unidos da América.
Entretanto o Papa Alexandre VI escrevendo em latim sempre chamou ao navegador
pelo nome de Christophorum Colon com significado de Membro e nunca pelo
latim Columbus com significado de Pombo. Colombo é creditado como o
primeiro explorador europeu a estabelecer e documentar rotas comerciais para as
Américas, apesar de ter sido precedido cinco séculos por uma expedição viquingue
liderada por Leif Erikson no século XI. As viagens de Cristóvão Colombo abriram
caminho para um período de contato, expansão, exploração, conquista e
colonização do continente americano pelos Europeus pelos próximos séculos.
Essas viagens e expedições trouxeram várias mudanças e desenvolvimentos na
história moderna do conturbado Mundo Ocidental. Entre várias outras coisas,
impulsionou, por exemplo, o comércio atlântico de escravos. Colombo é acusado
por diversos historiadores de iniciar e incitar o genocídio e repressão
cultural dos povos nativos na América. O próprio Colombo viu suas conquistas
sob a luz de expandir a religião cristã. Ele foi também acusado, até por
contemporâneos, de “comportamento tirânico, corrupção e vários crimes contra os
nativos indígenas, como espancamentos, torturas, saques e estupros”.
Há
denúncias sobre como a chegada/invasão de Colombo ao Novo Mundo esteve
ligada à perseguição, agressão, estupro e morte de nativas, consequência da
subvalorização e desconhecimento da humanidade dos povos nativos. Essas
reavaliações de seus feitos fizeram com que a visão dos acadêmicos e
historiadores sobre Colombo ficasse um tanto quanto negativa com o passar do
tempo. Na biografia História del Almirante Don Cristóbal Colón escrita
pelo filho, este obscureceu a pátria e origem de Colombo, afirmando que o pai
não queria que fossem conhecidas tais informações, enumerando várias cidades
italianas, em especial ligures, que disputavam tal glória. No livro Pedatura
Lusitana, um nobiliário de famílias de Portugal, Cristóvão Colombo é
apresentado como um homem natural de Gênova, junto aos seus dois irmãos,
Bartolomeu Colombo e Diogo Colombo. Também é possível observar que no documento
é relatado o seu casamento com uma mulher portuguesa chamada D. Filipa Muniz de
Melo. Em Espanha Colombo invariavelmente foi considerado como estrangeiro,
lamentando-se inclusivamente de como essa situação o prejudicava em alguns dos
documentos que escreveu. Esteve constantemente em contacto com italianos, e
neles depositava a sua confiança. Mas “as regras do tempo mostram-nos que um
plebeu nunca se casava com uma nobre, pelo que a origem de Colombo é assaz
duvidosa”. Apesar do esforço desenvolvido na investigação da vida do navegador,
ainda restam algumas incertezas, ou fantasias nacionalistas ou ideológicas. Um
dos principais problemas apresentados é o da pátria do navegador, e embora este
assunto não seja de interesse primário, a importância que lhe tem sido dada e a
sua constante atualidade obrigam a que se lhe faça menção.
Sempre
existiu uma controvérsia sobre o local de origem do navegador já que um
documento da corte de Castela de 1487 chama-lhe “português”. Entre todas as
teorias contemporâneas, a genovesa teve mais apoio até ao século XX quando
tentou-se fazê-lo natural da Córsega. No final desse século, Garcia de la
Riega, de Pontevedra, na Galiza, publicou uma série de documentos que
apresentavam nomes de pessoas da região e de origem judia da primeira metade do
século XV com os mesmos nomes da família de Colombo - a despeito destes apenas
serem conhecidos através da documentação genovesa - que supostamente teriam
imigrado para Genova após o nascimento de Colombo. Durante muitos anos esta
teoria obteve popularidade, já que satisfazia o nacionalismo espanhol, o judeu
e o galego, até que em 1928 foi desclassificada como fonte histórica pela
Academia de História espanhola, que comprovou os documentos como sendo
autênticos, mas manipulados para apresentar aqueles nomes. Para os Estados
defensores dos direitos civis, um dos maiores erros da Europa na crise
migratória do Mediterrâneo ocorreu com o fim do programa italiano de patrulha e
salvamento chamado “mare Nostrum”. Sob a liderança da Marinha, o programa
salvou milhares de migrantes à deriva no gigantesco mar. Mas seu fim, em grande
parte por razões econômicas e em parte por razões ideológicas, teve efeitos
políticos e sociais que vão muito além da redução dos esforços humanitários.
“Mare Nostrum” era o nome dado pelos antigos romanos para o mar Mediterrâneo.
Após a unificação da Itália, em 1861, o termo foi revivido por um intenso debate entre pensadores nacionalistas, que se acreditavam como sucedâneo do Império Romano os
territórios que pertenceram a Roma em sua fase historicamente imperialista por todo o extraordinário Mediterrâneo.
As
águas do Mediterrâneo banham as três penínsulas do sul da Europa, a Ibérica,
mas apenas a Sul e Sudeste de Espanha, a Itálicae a Balcânica. Suas
águas representam uma comunicação com as do oceano Atlântico, através do
estreito de Gibraltar e com o mar Vermelho, através do canal de Suez. As águas
do mar Negro também desaguam no Mediterrâneo pelos estreitos do Bósforo e dos
Dardanelos. As águas do Mediterrâneo são quentes devido ao calor vindo do
deserto do Saara, fazendo com que o clima das zonas próximas seja mais temperado
representando o clima mediterrânico. O termo latino “mare Nostrum” foi usado
originalmente pelos antigos romanos para se referir ao mar Tirreno, logo após a
conquista da Sicília, Sardenha e Córsega, durante Guerras Púnicas,
ocorridas contra Cartago. Em 30 a. C., a dominação romana já se estendia da
Hispânia ao Egito, e a expressão “mare Nostrum” passou a ser utilizado no
contexto de todo o mar Mediterrâneo. A ascensão do nacionalismo italiano
durante a chamada “Partilha da África” da década de 1880 gerou o desejo geral
da nação do estabelecimento de um império colonial italiano. A expressão teria
sido utilizada pela primeira vez pelo poeta Gabriele d`Annunzio, símbolo do
decadentismo e herói de guerra. Além de sua carreira literária, teve também uma
excêntrica carreira política. A África é o terceiro continente mais extenso,
somente atrás da Ásia e da América do Norte, com cerca de 30 milhões de km²
cobrindo 20,3 % da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente
mais populoso, apenas atrás da Ásia com aproximadamente 1 bilhão de habitantes
(2005), representando cerca de 1/7 da população mundial, contando com 54 países
independentes no processo civilizatório.
Gabriele
Salvatores participando do 52° Festival Internacional de Cinema de Veneza
(1995).Delineou-se
assim o que se poderia chamar, de acordo com Michel Foucault, uma genealogia, ou
melhor, pesquisas “genealógicas múltiplas”, ao mesmo tempo redescoberta exata
das lutas e memória bruta dos combatentes. E esta genealogia, como acoplamento
do saber erudito e do saber das pessoas, como ocorre com a historiografia
varnhageniana, para o caso brasileiro, só foi possível e só se pôde tentar
realizá-la à condição de que fosse eliminada a tirania dos discursos
englobantes com suas hierarquias e com os privilégios da vanguarda teórica, mas
que não trataremos agora. A noção de região, tratada como instrumento da ação
política, é inseparável da noção de “regionalismo nordestino”. Este, visto como
o discurso que a representa, é um
movimento de reivindicação de tratamento diferenciado a um determinado espaço
territorial. É uma expressão de luta de poder no interior dos espaços regionais
quanto ao direito sobre a representação externa da região nas diversas escalas
de poder. Um grande
historiador de nosso tempo assinalou, no entanto, a ambiguidade da fórmula do
tal “como efetivamente aconteceu”, dizendo que essa ambiguidade é
característica de muitas máximas e serve para explicar sua grande repercussão.
Porque, analiticamente continua Marc Bloch (1886-1944), a ideia de que o sábio, neste caso o historiador,
deve apagar-se ante os fatos, pode entender-se, por um lado, como um conselho
de probidade, “e não se pode duvidar que fosse esse o sentido que lhe deu
Ranke”, mas, além disso, é lícito interpretá-la como um convite à passividade.
E à pergunta sobre se é possível ao historiador ser absolutamente imparcial,
responde que a palavra “parcialidade” também tem duplo significado, pois se
pode ser “imparcial à maneira do sábio e imparcial à maneira do juiz”. Ambas as
maneiras teriam suporte comum, que é a honesta sujeição à verdade. Os dois
caminhos assinalados por Bloch não diferem substancialmente dos caminhos
descritos e separados por Ranke: o da Filosofia que, no seu entender, é o reino
das leis gerais ou abstratas, e o da História, que, partindo da observação do
único, deverão, entretanto, explicá-lo, o que só pode fazer
recorrendo aos meios que servem para se comunicarem os homens entre si, pois
que são geralmente inteligíveis. Ranke foi
historiador sem pretensões a filósofo, mas teve mais de uma vez o cuidado de
definir “quase filosoficamente o ofício do estudioso do passado”. Entendia,
ainda assim, que a História é uma “ciência do único”, separando-se por esse
lado da Filosofia que, segundo ele, se ocupa de abstrações e generalizações.
Por outro lado, pretende que a observação e o “conhecimento do único”
representem só o ponto de partida do historiador. Para alçar-se ao conhecimento
dos grandes nexos de sentido, faz-se necessário que siga sempre seus “próprios”
caminhos, que, afirmou, “não são os caminhos do filósofo”. Nesse passo, porém,
seu raciocínio é pouco preciso. O certo é que, embora alguns autores, reagindo
mais tarde contra as correntes positivistas na historiografia, tentassem
emancipar o conhecimento histórico das generalizações e abstrações, que
passariam a ser privatista das ciências nomotéticas, e interpretasse o legado
rankiano ao sabor de suas teorias, esse modo de ver já não se pode justificar. Uma notável
ilustração dos métodos de Ranke, nesse particular, aparece no desenvolvimento
que dá à sua ideia da unidade fundamental (Ranke, 1979a: 65 e ss.; Ranke,
1979b) dos “povos românticos e germânicos na origem de toda história moderna”,
que ainda em seus dias lhe parecia guardar essa marca originária.
É possível
que não fosse uma ideia nova ou inteiramente sua, e, com efeito, ela já
aparece, em termos muito semelhantes aos que emprega, em uma carta de Guilherme
de Humboldt datada de 1799, e que o historiador provavelmente ignorava. Essa ideia,
“minha ideia favorita”, escreverá posteriormente, já se define em seu primeiro
livro, que lhe abriu as portas do professorado de Berlim, onde trata da
história dos povos latinos e germânicos, entre 1494 e 1530. Assim, a “ideia da unidade”, até do
parentesco, dos povos românticos e germânicos, prepara-se, segundo ele, no Sul
da Europa, como resultado das grandes migrações dos povos nos séculos IV a
VIII, para expandir-se ao Norte, com o império carolíngio, e é quando, a bem
dizer, se forma o sentimento nacional tanto da Itália, como da França e da
Alemanha, ganhando logo a Grã-Bretanha, a Espanha e a Escandinávia. Sua
importância singular está em que, sobre essa ideia, descansa para ele, até na
época contemporânea, toda a vida europeia, além de seus prolongamentos
ultramarinos, como os do continente americano.
Para ele, protestantes e
católicos são galhos de uma só árvore, a da cristandade ocidental, separada do
mundo bizantino. Depois das lutas religiosas, a unidade manifesta-se sob a
forma de afeições, preceitos, instituições, códigos de compostura, que, tendo raiz comum, são patrimônio que esses
povos se formam como uma vasta República. Ipso facto não queremos perder de vista que “não importa que o
historiador se dedique ao estudo das diferentes histórias nacionais, quando não
perca de vista o pano de fundo que de algum modo as congrega”. Não devemos perder de vista que o mundo das “histórias nacionais” de Leopold von Ranke é, assim, determinado
historicamente, visto que sua particularidade refere-se à existenz para lembramo-nos de Hegel, na técnica de interpretação na
literatura e na filosofia de um “mundo europeu”, que mal se dilata, mas sem
perder o conteúdo essencial, sobre províncias e continentes do ultramar
colonizados por povos europeus. Mas não é a Europa inteira o que o ocupa, e sim
as fronteiras geográficas dessa Europa latina e germânica, protestante ou
católica, que são também as fronteiras do espaço e do tempo histórico a que
devotou o melhor de sua atividade intelectual: “somos mais vizinhos de Nova
York e de Lima do que de Kiev e Smolensk”. Melhor dizendo, fora da Europa, de
sua Europa e, quando muito, fora das terras colonizadas por europeus, só
existiam para ele “o caos e o cemitério”.
Em tais condições hão de ficarem fora
de seu horizonte aqueles mundos informes ou álgidos que lhe parecem,
efetivamente, “terras sem história”. Daí a referência idiossincrática em
Varnhagen, repetimos, quando analogamente refletindo sobre o Brasil afirma: “De
tais povos na infância não há história: há só etnografia”. Do engano sugere uma
história carregada de interpretação da cultura. O regionalismo é
um discurso apoiado numa aliança de forças e grupos sociais que forja uma identidadereferida a um espaço; forja
uma ideia de históriae de práticas
comuns; apresenta uma leitura do passado, do presente e projeta um futuro em
cima de interesses gerais remetidos a uma circunscrição territorial. Ele
legitima um determinado “bloco de poder” e o seu
monopólio da representação dos interesses gerais numa determinada região,
outorgando autoridade aos seus membros de porta-vozes para exercer essa
representação. Esse “grupo dominante”, enquanto fração das classes dominantes,
através da reivindicação de um tratamento diferenciado por parte das diversas
escalas de “poder supralocais”, busca monopolizar a interlocução com essas
instâncias e exercer o controle sobre os recursos fundamentais que interferem
na reprodução das condições locais de desenvolvimento. A identidade
cultural não está na condição de ser
“nordestino”, mas sim no modo como esta
condição é apreendida e organizada
simbolicamente. Percebe-se assim, que determinados enunciados audiovisuais
se produziram e permaneceram como representações acerca do Nordeste, como sua
essência. É preciso questionar e criticar a própria ideia de identidade, que é
concebida como “uma repetição, uma semelhança de superfície”. Porém, apesar
desses estereótipos do Nordeste a ser propagados no contexto geral da chamada “indústria
cultural” e de massa, a expressão “região Nordeste”, possui significados muito
cristalizados que evocam uma série de imagens das características geográficas
culturais, sociais e econômicas. Entre as primeiras, podemos citar elementos da
paisagem que incluem desde o recorte litorâneo com suas praias e seus
remanescentes coqueirais, até a paisagem mais seca do agreste e, sobretudo, a
do sertão. Veillons!
Bibliografia Geral Consultada.
FEBVRE, Lucien, “Une Vie d’Ensemble: Histoire et Psychologie”. In: Combats pour l’Histoire. Paris: Armand Colin, 1953, pp. 207-15; BRAUDEL, Fernand, “A Longa Duração”. In: História e Ciências Sociais. 2ª edição. Lisboa: Editorial Presença, 1976; MOTA, Carlos Guilherme (org.), Febvre. São Paulo: Editora Ática, 1978;RANKE, Leopold
von, Pueblos y Estados en la Historia Moderna. México: Fondo de Cultura
Económica, 1979: Idem, Leopold von Ranke: História/Organizador [da
coletânea] Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Editora Ática, 1979; CASTORIADIS,
Cornelius, A Instituição Imaginária da Sociedade. Rio de Janeiro:
Editora Paz e Terra, 1982; VOVELLE, Michel, Ideologies et Mentalités.
Paris: Éditions François Maspero, 1982; Idem, Le Mort et l’Occident de 1300
à nous jours, à paraître fin 1982. Paris: Éditions Gallimard, 1982; DELUMEAU, Jean, História do Medo no Ocidente: 1300-1800, Uma Cidade
Sitiada. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1989; BLOCH, Marc, Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1993; SALLMANN,
Jean-Michel, “Santi Patroni e Protezione Collettiva”. Santi barocchi:
modelli di santità, pratiche devozionali e comportamenti religiosi nel regno di
Napoli dal 1540 al 1750. Lecce: Argo Ediciones, 1996; FURET, François, A Oficina da História.
Lisboa: Gradiva, 1991; GINZBURG, Carlo, Nenhuma
ilha é uma ilha. Quatro visões da literatura inglesa. São Paulo: Editora Companhia
das Letras, 2004; DOBB, Maurice Herbert, Estudios sobre el Desarrollo
del Capitalismo. Ciudad de México: Siglo XXI Editores, 2005; SILVA LIMA,
Sheila Conceição, Em Nome do Pai, do Filho e do Poder Joanino: Portugal e a
Santa Sé na Primeira Metade do Século XVIII. Tese Doutorado em História
Política. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2013; MOREIRA, Vivane Venâncio, Leopold
von Ranke e a Questão Oriental: O Caso d`A Revolução Sérvia (1829-1879).
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História Social.
Departamento de História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; GÓMEZ, Bárbara Natalia, El
Secreto de la História Universal: Un Misterio para Leopold von Ranke. Tese
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura.
Departamento de História. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro, 2015; entre outros.
__________________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o
cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude”. Leonardo Boff
Leonardo Boff ingressou na Ordem dos Frades Menores em
1959 e foi ordenado sacerdote em 1964. Em 1970, doutorou-se em Filosofia e
Teologia na Universidade de Munique, Alemanha. Ao retornar ao Brasil, ajudou a
consolidar a chamada Teologia da Libertação no país (cf. Gutiérrez, 1988).
Lecionou Teologia Sistemática e Ecumênica no Instituto Teológico Franciscano em
Petrópolis, no Rio de Janeiro durante 22 anos. Seus conceitos teológicos sobre
a doutrina Católica com respeito à hierarquia da Igreja, no livro: Igreja,
Carisma e Poder, renderam-lhe um processo junto à denominada “Congregação para
a Doutrina da Fé”, então dirigida por Joseph Ratzinger. No documento final assinado
pelo laureado Cardeal concluiu com as seguintes palavras: “as opções aqui
analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã
doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar”.
Em 1985, condenado a 1 ano de “silêncio obsequioso” (cf. Arias, 1985), perdeu
sua cátedra e funções editoriais na
Igreja. Em 1986, recuperou funções, mas sob a “contínua observação de seus
superiores”. Em 1992, desligou-se da Ordem Franciscana e dispensa do
sacerdócio. Uniu-se matrimonialmente à educadora militante dos direitos civis
Márcia Monteiro da Silva Miranda, divorciada e mãe de seis filhos.
Boff afirma que nunca deixou a Igreja,mas
deixou de exercer a função de padre dentro da Igreja: - “Continuei e continuo
dentro da Igreja e fazendo teologia como antes”. Sua reflexão abrange os campos
da Ética, Ecologia e da Espiritualidade, além de assessorar as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) e
movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Trabalha também no campo do ecumenismo. Em 1993
foi aprovado em concurso público como professor de Ética, Filosofia da Religião
e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor Emérito. Foi professor de Teologia e
Espiritualidade em vários institutos no Brasil e exterior como a Universidade
de Lisboa, Universidade de Salamanca, Universidade Harvard, Universidade de
Basel e Universidade de Heidelberg. É doutor honoris causa em Política pela Universidade de Turim, em Teologia
pela Universidade de Lund e nas Faculdades EST – Escola Superior de Teologia em
São Leopoldo (RS). Sua produção é superior a 60 livros. A maioria de suas obras
foi publicada no exterior.
De
inspiração do método de análise
marxista, que tem como escopo a análise concreta de situações concretas, teve
origem na oposição ao modelo de reforma agrária imposto pelo regime militar,
principalmente nos anos de 1970, que priorizava a colonização de terras
devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de excedentes
populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST
busca fundamentalmente a redistribuição das terras improdutivas. O MST teve
origem na década de 1980, defendendo que a expansão da fronteira agrícola, os
“megaprojetos” dos quais as barragens são o exemplo típico, e a mecanização da
agricultura contribuíram para eliminar as pequenas e médias unidades de
produção agrícola e concentrar a propriedade da terra. Paralelamente, o modelo
de Reforma Agrária adotado pelo regime militar priorizava a colonização de
terras devolutas em regiões remotas, tais como as áreas da rodovia Transamazônica, com objetivo de
“exportar excedentes populacionais” e favorecer a integração do território,
considerada estratégica do ponto de vista da chamada soberania nacional. Esse
modelo de colonização revelou-se, no entender do movimento dos trabalhadores
rurais sem terra (MST), inadequado e
eventualmente catastrófico para
centenas de famílias, que acabaram abandonadas, isoladas em ambiente inóspito,
condenadas a cultivar terras reveladas impróprias ao uso agrícola. Nesta conjuntura política, intensificou-se o êxodo rural, com abandono do
campo por seus habitantes, com a migração de mais de 30 milhões de
trabalhadores rurais para as cidades, atraídos pelo desenvolvimento urbano e
industrial, durante o chamado milagre brasileiro. Grande parte deles ficou
desempregada ou subempregada, sobretudo no início dos anos 1980, quando a economia
brasileira entrou em crise. Alguns tentaram resistir na cidade e outros se
mobilizaram para voltar à terra. Desta tensão, movimentos locais e regionais se
desenvolveram na luta pela terra. Em 1984, apoiados pela Comissão Pastoral da Terra, representantes dos movimentos sociais,
sindicatos de trabalhadores rurais e outras organizações reuniram-se em
Cascavel, Paraná, no 1º Encontro Nacional
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, para fundar o MST. Apesar de os
movimentos organizados pela reforma agrária no Brasil serem relativamente
recentes, remontando apenas às ligas camponesas, as associações de agricultores
que existiam durante as décadas de 1950 e 1960, o MST entende-se como herdeiro
ideológico de todos os movimentos de bases sociais camponesas ocorridos desde
que os portugueses invadiram e colonizaram o Brasil, quando a terra foi
dividida em sesmarias por favor real, de acordo com o Direito feudal português,
o que excluiu em princípio grande parte da população do acesso direto à terra.
Contrariamente a esse modelo concentrador da propriedade fundiária, o MST
declara buscar a redistribuição das terras através da Reforma Agrária. Desde o
início do movimento social em 1985, foram assassinados 1722 militantes, segundo
a Comissão Pastoral da Terra.
O livro Igreja: Carisma e Poder denuncia a hierarquia e as instituições da
Igreja (cf. pp. 65-66, 88, 239-240). Como explicação e justificação para
semelhante atitude reivindica “o papel dos carismas e, em particular, do
profetismo” (cf. pp. 237-240, 246, 247). A hierarquia teria a simples função de
“coordenar”, de “propiciar a unidade, a harmonia entre os vários serviços”, de
“manter a circularidade e impedir as divisões e sobreposições”, descartando,
pois, desta função “a subordinação imediata de todos aos hierarcas” (cf. p.
248). Não há dúvida de que todo o povo de Deus participa do múnus profético de
Cristo (cf. LG 12); Cristo cumpre o seu múnus profético não só por meio da
hierarquia, mas também por meio dos leigos. Mas é igualmente claro que a denúncia
profética na Igreja, para ser legítima, deve permanecer sempre a serviço
burocrático, para a edificação da própria Igreja. Esta não só deve aceitar a
hierarquia e as instituições, mas colaborar positivamente para a consolidação
da sua comunhão interna; pertence à hierarquia o critério supremo para julgar
não só o exercício bem orientado da denúncia profética, como também a sua
autenticidade (cf. LG 12). Assim, “a
Congregação sente-se na obrigação de declarar, igualmente, que as opções aqui
analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã
doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar”. Entre as visões de mundo de Friedrich Nietzsche e
Leonardo Boff, guardadas as proporções de tempo e espaço, é possível uma
aproximação conceitual do ponto de vista das relações de poder. Para Nietzsche o reativo, dialético, é
simplesmente conservação de força frente ao inesperado. Que precisa do controle
e da submissão daquele que é atingido pelo inusitado. O trágico afirma-se na
consciência plena do acaso como constituinte da própria realidade e o “cosmiza”
ativamente e não reativamente. O trágico não só afirma a necessidade a partir
do acaso, como afirma o próprio acaso. Não só afirma a ordem a partir da
desordem, como afirma a própria desordem. Não só afirma o cosmos a partir do
caos, como afirma o caos. Reitera, sobretudo, o próprio devir. Essa é a
inversão de Nietzsche, para o que nos interessa, que tira do pensamento
qualquer pressuposição de sentido e valor, para construí-los a partir do “jogo
de forças” visando expansão de potência. Sua tese em relação ao pensamento
ocidental pressupõe que o sentido e valor já é uma “Vontade de Potência”, se
afirmando como força e moldando os agentes a reagirem contra aquilo que
constitui a realidade: a falta de valor em si e sentido próprio. Entrega daMedalha Pedro Ernestoao teólogo Leonardo Boff.
Ao
longo dos 30 anos em que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro funciona no
Palácio Pedro Ernesto, foram criadas homenagens para que os vereadores,
representantes da população carioca, pudessem agraciar àqueles que se
destacaram na sociedade brasileira ou internacional. A Medalha de Mérito
Pedro Ernesto é a principal Comenda que a cidade do Rio de Janeiro possui.
Além dela, os vereadores também podem oferecer a cada Sessão Legislativa, a Medalha
de Mérito Esportivo Pan-Americano, os Títulos Honoríficos e as Moções. A
Medalha de Mérito Pedro Ernesto foi criada através da Resolução nº 40, em 20 de
outubro de 1980. Ela é a principal homenagem que a cidade do Rio de Janeiro
presta a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional. Recebeu
esse nome em reconhecimento ao trabalho do prefeito Pedro Ernesto (1884-1942),
e por isso sua figura aparece estampada nas duas Medalhas que fazem parte do
Conjunto. Uma presa ao colar, e a outra para ser colocada na lapela do lado
direito do homenageado. Ambas são presas em uma fita de cores azul, vermelha e
branca que representam as cores da bandeira da cidade. Primeiro político a dar
apoio financeiro ao carnaval, articulado dentro de um projeto social que visava
transformar o Rio de Janeiro numa potência do turismo, o prefeito Pedro Ernesto
foi considerado um dos maiores benfeitores das escolas de samba, e alcançou
tamanha popularidade que chegou a ser cotado para a Presidência da República,
antes de ser preso, sob acusação de ser comunista.
A
Teologia da Libertação nasceu da influência de três frentes de
pensamento, o Evangelho Social das igrejas norte-americanas, trazido ao Brasil
pelo missionário e teólogo presbiteriano Richard Shaull (1919-2002); a Teologia
da Esperança, do teólogo reformado Jürgen Moltmann; e a teologia
antropo-política que tinha como seus grandes expoentes o teólogo católico
Johann Baptist Metz (1928-2019), na Europa, e o teólogo batista Harvey Cox, nos
Estados Unidos da América. Especialmente a publicação em 1965, pelo teólogo
batista Harvey Cox, “A Cidade Secular”, como contraposição à obra clássica de
Santo Agostinho, De Civitate Dei, na qual defende que a divisão entre a
cidade dos homens (o mundo terreno) e a cidade de Deus (o mundo espiritual),
segundo ele a partir do século XX essa visão encontra-se superada pela
contraposição entre a cidade dos operários oprimidos, a cidade dos donos do
poder e a cidade dos capatazes opressores no mundo burguês. O marco do nascedouro da Teologia da Libertação, porém, está na publicação da obra: Da Esperança,
de Rubem Alves, que tinha o título de “Teologia da Libertação”, criticando a práxis metafísica de uma forma geral e
propondo o nascimento ex-nihilo de
novas comunidades de cristãos, animados por uma visão e por uma paixão pela
libertação humana cuja “linguagem teológica” se tornava de âmbito social e histórico.
A primeira participação católica no lançamento da Teologia da Libertação foi a
publicação da Teologia da Revolução, em 1970, pelo teólogo belga radicado no
Brasil José Comblin. Em 1971, Gustavo Gutiérrez publicou Teologia da
Libertação. Somente em 1972, Leonardo Boff surge no cenário teológico com a
publicação de Jesus Cristo Libertador. Como Rubem Alves estava asilado nos
Estados Unidos da América (EUA) neste período, Leonardo Boff passou a ser o reconhecido representante desta
importante e reveladora corrente teológica que vivia no Brasil, devido à proteção recebida pela ordem
dos franciscanos, à qual ele pertencia. O método de análise destas teologias é indutivo: não
parte da Revelação e da Tradição eclesial para fazer interpretações teológicas
e aplicá-las à realidade. Mas partem da interpretação da realidade concreta da
pobreza e do processo social de exclusão e do compromisso ético-político com a libertação humana para
fazer a reflexão teológica e convidar à ação transformadora desta mesma
realidade. Ocorre também uma análise crítica à teologia moderna e sua pretensão
de universalidade do espírito. Consideram esta teologia eurocêntrica e
desconectada da realidade dos países ditos periféricos. Historicamente Teologia
da Libertação é uma corrente teológica cristã nascida na América Latina, depois
do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (1968). Parte da consideração que o Evangelho exige a opção
preferencial pelos pobres e que a teologia, para concretizar essa opção, deve
usar também as categorias e conceitos das ciências humanas e sociais. É considerada como um movimento social
“supradenominacional, apartidário e inclusivista de teologia política, que
engloba várias correntes de pensamento que interpretam os ensinamentos de Jesus
Cristo em termos de uma libertação de injustas condições econômicas, políticas
ou sociais”.
Ela foi descrita, pelos seus proponentes como reinterpretação
analítica e antropológica da fé cristã, em vista dos problemas sociais, mas,
seus oponentes a descrevem como uma vertente do marxismo, relativismo e materialismo
cristianizado. A Teologia da Libertação dialeticamente está diretamente relacionada ao
movimento societário ecumênico, de retorno à união e comunhão de todas as
religiões cristãs. Embora tenha se iniciado como um movimento social especulativo
dentro da Igreja Católica, na América Latina nos anos 1950-1960, o termo foi
cunhado pelo padre peruano Gustavo Gutiérrez em 1971, sendo que mais de 40 anos
depois se reconciliou com o Vaticano. Escreveu um dos livros mais carismáticos e famosos de status do movimento social, A Teologia da Libertação. Outros expoentes são Leonardo Boff do Brasil, Jon Sobrino de El Salvador, e Juan Luís Segundo do Uruguai. A Teologia
da Libertação desde os anos 1990 sofreu um forte declínio, principalmente
devido ao envelhecimento natural de suas lideranças, e a falta de participação social das
recentes gerações no âmbito desse movimento. A influência da Teologia da Libertação
diminuiu após a condenação ideológica e política pela Congregação para a Doutrina da Fé em 1984 e
1986.
A Santa Sé condenou os principais fundamentos sociais da Teologia da
Libertação: a) como a ênfase exclusiva no pecado institucionalizado, coletivo
ou sistêmico, b) excluindo os pecados individuais, a eliminação da
transcendência religiosa, c) a desvalorização do magistério, e o incentivo à
luta de classes. Seu recente discurso aos dirigentes do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) na Jornada
Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco alertou para o risco da
ideologização: - “Esse método pode levar ao reducionismo socializante. É a
ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte.
Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo
com as ciências sociais”. É um organismo da Igreja Católica fundado em 1955 pelo Papa Pio XII a pedido dos bispos da América Latina e do Caribe. O Conselho presta serviços de contato, comunhão, formação, pesquisa e reflexão às 22 conferências episcopais desde o México até o Cabo de Hornos, incluindo o Caribe e as Antilhas. Seus dirigentes são eleitos a cada quatro anos por uma assembleia ordinária que reúne os presidentes das conferências episcopais da América Latina e do Caribe. A sede está localizada na cidade de Santa Fé de Bogotá, a capital e maior cidade da Colômbia. Ela é administrada como o Distrito Capital, embora muitas vezes seja considerada parte de Cundinamarca. Bogotá é uma entidade territorial de primeira ordem, com o mesmo estatuto administrativo que os departamentos colombianos. É o centro político, econômico, administrativo, industrial, artístico, cultural e esportivo do país.
A afirmação do teólogo católico romano
brasileiro Leonardo Boff (n. em 1938) de que a Teologia da Libertação é “a
primeira teologia do Terceiro Mundo com ressonância mundial” deve ser
efetivamente acertada. Não era possível ficar indiferente a ela, e menos ainda
ignorá-la, entre outras razões por causa de sua recepção muito controvertida no
Ocidente, sobretudo em Roma. Em termos positivos, na Teologia da Libertação
manifesta-se, nas palavras de Johann Baptist Metz, “a tensa transição de uma
igreja ocidental mais ou menos homogênea em termos culturais e, neste sentido, monocêntrica
para uma igreja mundial com muitas raízes culturais e, neste sentido,
policêntrica”. E o próprio Boff decerto é o teólogo latino-americano internacionalmente
mais publicado e mais lido. Esses fatos o colocam de saída, num horizonte
mundial; seu conflito com a Igreja Católica Romana mundial fez outro tanto. O
horizonte mundial, também corresponde à
sua teologia, desenvolvida a partir da urgência do contexto teórico, histórico e pontual explicativos, sempre com vistas
não só aos católicos romanos, exclusivamente, portanto, não só ao universo ecumênico cristão, não só aos
seres humanos, mas também ao cosmo e ao universo inteiro. As vantagens da doutrina da trindade de Leonardo Boff residem, na estreita relação espiritual que ele compreende e evidentemente obtém discernimento entre Deus e a relação entre o mundo por ele demonstrado e na comunhão do próprio mundo.
Que compreende como planetária e da qual os seres humanos representam apenas uma parte. O
Deus revelado nas Escrituras tem como
representação três pessoas. Isto é, sem dúvida, um mistério: um só Deus que
existe e se revela em três pessoas distintas e divinas. Mas é possível
discernir parte deste mistério levando em consideração três indícios presentes
na Bíblia: primeiro, o indício de que só existe um Deus; segundo, o indício de
que Deus é representante de três pessoas; terceiro, o indício de que o Pai é
Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Por mais paradoxal e estranho
que pareça, é correto afirmar que o Deus que reclama unicidade é, ao mesmo tempo,
o Deus que deve ser compreendido como três pessoas. Após 20 anos escavando a Cidade de Davi, sítio arqueológico de Jerusalém, foi descoberta a fortaleza Cidadela da Primavera. - “A cidadela foi construída para salvar e proteger a água da Fonte do Giom dos inimigos que queriam conquistar as cidades, bem como proteger as pessoas que queriam beber água e voltar para a cidade”, afirma Oriya Dasberg, diretor na Cidade de Davi. Os arqueólogos acreditam que essa é a mesma estrutura conquistada pelo rei Davi em passagem de Samuel e o mesmo local onde Salomão foi ungido rei. Esse Deus existe e se revela como três pessoas distintas, que possuem uma única natureza divina. Logo, o Deus revelado nas Escrituras, o Deus que é o único Deus do universo, existe como três pessoas distintas. Deus é a Trindade, representando três pessoas em unidade ontológica. Torna-se
claro, também, que efetivamente faz uma diferença, para nosso pensamento
teológico e nossa ação, em que Deus cremos e com que imagens e concepções
cremos nele. Estas são sempre construtos; decisivo, porém, é que se informe
abertamente sobre o surgimento delas e, com isso, se possibilite um diálogo
crítico. Na exposição de Leonardo Boff fica claro a
imagem particular da trindade é desenvolvida a partir das necessidades da
sociedade que, por sua vez, deve ser enfocada a partir da trindade em termos de
comunhão. O primeiro aspecto pode ser percebido pelas necessidades da igreja, da
sociedade e do cosmo, bem como a partir da oposição a uma igreja hierárquica. A
uma sociedade aparentemente não democrática; uma natureza ecologicamente desrespeitada. O
segundo aspecto resulta do tratado dogmático e histórico-dogmático da trindade,
sobretudo da pericórese. Da confluência dos dois aspectos espirituais surge, para o conspícuo
teólogo, uma doutrina da trindade orientada pela contextualidade e catolicidade.
Bibliografia geral consultada.
BAPTISTA, Paulo Agostinho Nogueira, A Articulação entre Teologia da
Libertação e Teologia do Pluralismo Religioso em Leonardo Boff. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião. Juiz de Fora:
Universidade Federal de Juiz de Fora, 2007; PRINCESWAL, Marcelo, O MST e a
Proposta de Formação Humana da Escola Nacional Florestan Fernandes para a
Classe Trabalhadora: Uma Síntese Histórica. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana. Faculdade de
Educação. Centro de Educação e Humanidades. Rio de Janeiro: Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2007; SOUZA, José Carlos Lima de, O Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Moderno Príncipe Educativo Brasileiro
na História do Tempo Presente. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação
em História. Departamento de História. Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 2008; VILELA, Daniel Marques, Utopias Esquecidas. Origens da
Teologia da Libertação. São Paulo: Fonte Editorial, 2013; OLIVEIRA, Kathlen
Luana de, Por Palavras e Ações: Há um Mundo entre Nós. Justiça, Liberdade e
Comunhão: Sentidos Teológico e Políticos nos Paradoxos da Democracia em Tempos
de Direitos Humanos. Tese de Doutorado em Teologia. São Leopoldo: Escola
Superior de Teologia, 2013; COUTINHO, Célio
Ribeiro, Formação Político-educativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) no Contexto do Governo Lula (2003 a 2010). Tese de Doutorado.
Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade
Federal do Ceará, 2014; MATSOVELE, Anastâncio Jemo, O Pai-Nosso na
Teologia de Leonardo Boff e na Perspectiva Cultural Moçambicana.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Teologia. Faculdade de
Teologia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2015; BOFF, Leonardo, Igreja, Carisma e Poder.
Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1982; Idem, Teologia do Cativeiro e da
Libertação. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1998; Idem, O Despertar da Águia: O Dia-Bólico e o
Sim-Bólico na Construção da Realidade. Petrópolis: (RJ): Editoras Vozes, 1998;
Idem, Ética da Vida. Brasília: Editora Letra Viva, 1999; Idem, Befreit
die Erde! Eine Theologie für die Schöpfung. kbw, Bibelwerk,
Stuttgart 2015; entre outros
________________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Lou
Reed. Um maestro da improbabilidade em cena”. Jotabê Medeiros
Lewis
Allan “Lou” Reed nasceu no Brooklyn (Nova York), em 1942. Fã de doo-wop
e dos primórdios do rock and roll, ele também foi inspirado pelo poeta Delmore Schwartz
quando estudava na Syracuse University. Depois da faculdade, trabalhou como
compositor contratado no selo Pickwick Records. Em meados dos anos 1960, ficou
amigo do violinista clássico galês John Cale. Juntos formaram a banda chamada The
Primitives, posteriormente renomeada The Warlocks. Depois de
conhecerem o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker,
tornaram-se o Velvet Underground. Com um som simples e visual sombrio, a
banda chamou a atenção de Andy Warhol, que a incorporou ao show experimental
dele, o Exploding Plastic Inevitable. - “Andy projetava os filmes dele
na gente”, contou Reed. “Nós vestíamos preto para que os outros pudessem ver o
filme. Mas andávamos sempre de preto de qualquer modo”. Produzido por Andy Warhol e recebido com total indiferença quando lançado no começo de 1967, o disco de estreia da banda, The
Velvet Underground & Nico permanece como um marco musical no mesmo
nível comparativamente de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles e Blonde on Blonde, de Bob Dylan.
A
famosa frase: - “No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, como
profetizou certa vez o cineasta e pintor norte-americano Andy Warhol,
reconhecido pelos coloridos retratos da glamorosa Marilyn Monroe e Elvis
Presley tornou-se sua marca na modernidade. Mais do que isso, sua fama parece
ter se tornada eterna, como tem ocorrido no tempo e espaço quando é cada vez
mais celebrada. É o que garante o jornal norte-americano The New York Times.
No primeiro semestre de 2015, por exemplo, foram programadas pelo menos três
mostras com criações de Andy Warhol nos Estados Unidos da América. Em uma
extensa reportagem sobre o legado de um dos criadores e principal representante
da Pop Art, o jornal divulgou que nada menos que 40 exposições com obras do
artista, muitas delas até então inéditas para o público, “inundarão museus e
instituições de arte nos próximos cinco anos”. Isso porque a fundação que leva
o nome de Andy Warhol está na terceira fase de um projeto que visa popularizar
cada vez mais o trabalho do artista, morto em 1987. É neste sentido que a
fundação doou mais de 14 mil obras, sobretudo fotografias e gravuras, “com a
condição de que os museus as exibam no prazo de cinco anos”. Já foram
distribuídas, desde 1999, 52.786 obras do artista para 322 instituições
diversas, sobretudo nos Estados Unidos da América.
Neste
sentido, marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que seja
ela, objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por
exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria da comunicação,
pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. Uma simples palavra pode referir uma
marca. O termo é frequentemente usado hoje em dia como referência a uma
determinada empresa: um nome, uma marca verbal, imagens ou conceitos que
distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é
comum estar se referindo, na maioria das vezes, a uma representação gráfica no
âmbito e competência do designer, onde a marca pode ser representada
graficamente por uma composição de símbolo ou logotipo, tanto individualmente
quanto combinados. No entanto, o conceito de marca é bem mais abrangente que a
sua representação gráfica. Marca não é um conceito fácil de definir. A marca em
essência representa produção-consumo com uma série específica de atributos,
benefícios e serviços uniformes aos compradores. A garantia de qualidade surge
entre marcas, mas a marca é um símbolo mais complexo, pois em princípio, a
relação social entre complexo e símbolo, coincide em muitos aspectos do desejo,
comparativamente, pois ambos se enraízam num núcleo de significado
arquetípico.
Analogamente
se referem sociologicamente enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais a unidades de
geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas
diferentes em relação a um mesmo mercado de consumo editorial. O nascimento em um contexto social
idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos
sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida
distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A unidade
geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida
pela conexão geracional. Mas a forma como grupos sociais da mesma conexão
geracional lida com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir
distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no
conjunto da sociedade. Karl Mannheim não esconde sua preferência pela abordagem
histórico-romântica alemã. E destaca que este é um exemplo bastante claro de
como a forma de se colocar uma questão pode variar de país para país, assim
como de uma época para outra.
Ipso
facto, sociologicamente falando a relação social entendida por globalização representa um dos processos de
aprofundamento da divisão internacional do trabalho, da integração econômica, social
e política, em seus extremos que teria sido impulsionado pela redução dos meios
sociais de comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI.
Embora vários estudiosos situem a origem da globalização em tempos modernos,
Marx analisou a sua história social e econômica na gênese do industrial
capitalista relacionado com os chamados descobrimentos do Novo Mundo pelos
europeus. Um país com imprensa livre hoje pode ter acesso, algumas vezes por
televisão por assinatura ou satélite, a emissoras de difusão de comunicação,
desde a NHK do Japão a Cartoon Network norte-americana. A globalização é
analisada por sociólogos, historiadores e cientistas políticos como o movimento
social sob o qual se constrói o processo de hegemonia econômica, política e
cultural ocidental sobre as demais nações. Esta nova dominação é constituída
por redes assimétricas, e as relações de poder se dão mais pela via cultural e
econômica do que pelo uso coercitivo de força.
As
descrições prosaicas do submundo boêmio nova-iorquino feitas por Reed, repletas
de alusões às drogas e S&M, foram além até dos momentos mais “sinistros”
dos Rolling Stones, enquanto as altas doses de distorção e ruídos gratuitos
revolucionaram a guitarra roqueira. Os três álbuns subsequentes – o ainda mais
corrosivo White Light/White Heat (1968), o frágil e folk The Velvet
Underground (1969) e Loaded (1970), que, apesar de ter sido gravado
quando Reed estava deixando a banda, contém dois de seus maiores clássicos,
“Rock & Roll” e “Sweet Jane” – foram igualmente ignorados pela crítica e
consumo. Mas eles seriam adotados pelas gerações posteriores, consolidando o status
do Velvet Underground como uma das bandas de rock mais influentes de
todos os tempos. O talentoso musicista Lou
Reed intermitentemente cultivou a fama de “pesadelo dos jornalistas” por não demostrar
nenhuma paciência ou boa vontade ao conceder entrevistas e declarar sem
hesitação “seu ódio por críticos musicais”. Era bastante comum ouvir respostas
atravessadas e irônicas, silêncio ou mesmo agressões diretas ao fazer uma
pergunta sobre um assunto do qual o cantor e instrumentista não quisesse falar.
Uma das “vítimas” mais recentes foi um repórter da revista “Spin”, em novembro
de 2010.
Interrompido logo na primeira pergunta, o jornalista despertou a fúria
de Reed justamente ao abordar sua reputação de “entrevistado difícil”. A
conversa foi encerrada com um: - “Esse é o tipo de merda que você queria o
tempo todo e você guardou para o final. O que eu deveria dizer? Você não está
interessado em música. Nossa conversa acabou”. Morto em um domingo (27/10/2013),
aos 71 anos, Lou Reed nem sempre foi uma figura polêmica, desde que se tornou
conhecido na década de 1960 com “The Velvet Underground”.Sem
nunca esconder sua bissexualidade, seu amor pelas drogas e sua aversão aos
jornalistas, pois, o cantor “construiu a fama de ser uma pessoa difícil”. Psicologicamente entendemos que o que motiva a alguém ser ou tornar-se difícil como indivíduo ou uma pessoa ou ainda uma situação é também sua história de vida. Algumas
vivências podem ter sido fortes demais e fragilizaram a ponto de impedir que
esta pessoa tenha relações tranquilas e saudáveis com todo mundo. Por outro
lado também é possível que características de personalidade sejam a raiz do
problema, ou seja, mesmo não havendo nenhum causador de danos emocionais esta
pessoa tem em suas características que dificultam o bom trato social. Lou Reed
nascido no Brooklyn, Nova Iorque, em 2 de março de 1942 e morto em Long Island,
Nova Iorque, 27 de outubro de 2013, foi um cantor, guitarrista e compositor
nascido em uma das mais notórias comunidades judaicas do mundo, o Brooklyn onde
está a sede mundial das Testemunhas de Jeová. Isso
faz com que a cidade seja a maior “capital judaica” fora de Israel.
Em
Manhattan, os judeus se espalharam por várias regiões. Os judeus ortodoxos
moram quase todos numa parte do Brooklyn, subúrbio de Nova York, conhecida como
Crown Heights. Foi no Brooklyn historicamente que surgiu o judeu radical Baruch
Goldstein, em fevereiro de 1994. É no Brooklyn que estão situados as maiores
sinagogas e os pequenos negócios como aparecem em filmes com minimercados,
restaurantes, lavanderias e armarinhos mantidos pelos judeus. Os judeus
ortodoxos controlam quase todo o comércio de joias de Nova York -sobretudo o de
diamantes. As joalherias ficam uma ao lado das outras no lado oeste da rua 47,
em Manhattan. É difícil não encontrar algum homem no balcão que não esteja
usando o chapéu e o paletó preto característicos dos judeus ortodoxos. As
mulheres sempre estão usando saias longas e as meninas, vestidos. Ao contrário
de outras regiões de Manhattan, onde as lojas abrem durante os sete dias da
semana, o comércio na rua 47 fica praticamente vazio nas tardes de
sextas-feiras e aos sábados, para respeitar o sabá judaico. As grandes
sinagogas, escolas, creches e centros de recreação. A Shaare Zion, é uma das maiores do Brooklyn: possui 3.000 membros, a maioria de
origem síria. A sinagoga tem um complexo de escolas, além de centro social.
Tudo em Crown Heights.
Com
John Cale, Lou Reed funda a banda: “The Primitives”, que tem algum sucesso em
1964 com o tema “The Ostrich”, uma paródia à música de dança. Os membros “The
Primitives” são depois rebatizados “The Warlocks”. E quando se juntam ao grupo
o guitarrista Sterling Morrison e o percussionista Angus Maclise, nasceu não
apenas uma nova banda, mas, na opinião de alguns críticos, a melhor banda de
rock de todos os tempos: os “Velvet Underground”. O grupo não teve grande
sucesso comercial nos anos 1960, mas alguém já observou que muitos dos jovens
que ouviram o seu álbum de estreia, em 1967, “The Velvet Underground & Nico”,
foram influenciados para criar a criação de suas próprias bandas. Quase não há
um tema nesse primeiro álbum, produzido por Andy Warhol, que não seja hoje um
clássico da música pop, de “I’m waiting for the man” e “Venus in furs” a “All
tomorrow’s parties” ou aos sete minutos de “Heroin”. O grupo durou pouco (Cale
saiu logo em 1968), mas a sua influência perdura até hoje. O empresário e
artista plástico Andy Wahrol, ícone da pop art, faleceu em 1987. Figura ímpar
da cultura nova-iorquina, ele havia sido homenageado, em 1991, por Lou Reed e
John Cale, no álbum “Songs For Drella”, referente a um dos apelidos de Andy Wahrol
no meio artístico.
Foi
considerado o “81º melhor guitarrista de todos os tempos” e o 52º na lista pontual
pela revista Rolling Stones. Confirmada no site oficial da banda Metallica (15
de junho de 2011) a participação de Lou Reed no álbum “Lulu”, que possui dez
canções e foi lançado no dia 31 de outubro de 2011. O disco, porém, não foi bem
recebido pelo público por não repetir a fórmula que levou os “Metallica” ao
topo do estilo “speed metal”. Com poucos solos e “riffs”, e Lou Reed recitando
poemas durante todas as músicas, aparentemente houve um péssimo feedback acerca do álbum. Lou Reed foi um dos vocais do “The Velvet Underground”,
influenciando Iggy Pop, New York Dolls e David Bowie. Mais
tarde toda a cena pós-punk (cf. Braga, 2011) inglesa. Admirador de Edgar Allan
Poe e Raymond Chandler, além de James Joyce, a quem faz referências em “Blue
Mask”. Em sua última turnê, que passou pela Europa em 2012, Lou Reed fazia um
apanhado de sua trajetória do início da carreira até o lançamento do álbum com
o “Metallica”. Não à toa a turnê se chamava: “From vu to Lulu”. Em maio de 2013
passou por um transplante de fígado, mas com um quadro de desidratação severa,
veio a falecer em 27 de outubro do mesmo ano.
Nos
final da década de 1960, Lou Reed começou a carreira musical à frente do “Velvet
Underground”. Foram três discos naquela década, todos reconhecidos pela crítica
como importantes para o rock e influentes no surgimento do punk em Nova York e
do rock alternativo das décadas posteriores. Além da estreia de 1967, foram
lançados “White Light/White Heat”, do ano seguinte, e “The Velvet Underground”,
de 1969. Com o “Velvet”, Lou Reed ajudou a colocar o experimentalismo e as
narrativas sobre o submundo urbano, drogas e perversões sexuais entre as
matérias primas do rock e do pop. Os anos 1970 foram os mais importantes de sua
carreira que durariam 40 anos. Com o fim dos Velvet em 1970, Reed parte para o
Reino Unido, onde grava um disco com músicos da banda Yes. Mas é com o disco
seguinte, “Transformer”, produzido por David Bowie, que se torna uma estrela
incontestável do rock. O tema “Walk on the wild side” torna-se um sucesso, mas
o disco inclui outras canções justamente célebres, como “Perfect day” ou
“Vicious”.
O nome da banda que tornou Lou Reed famoso foi
tirado de “Velvet Underground”, livro escrito por Michael Leigh sobre “parafilia”,
representando um conjunto de comportamentos sexuais considerados perversos ou
anormais. E logo em seu primeiro disco, “The Velvet Underground & Nico”
(1967), Reed já falava em sadomasoquismo, vício em cocaína e heroína. A capa
foi desenhada pelo artista Andy Warhol, que adotou a banda e ajudou a
divulgá-la. Reed mexeu mesmo com fogo ao falar de sexo e drogas pesadas em suas
letras. Em 1970, com sua saída do “Velvet Underground”, Lewis Allan Reed se viu
totalmente livre para expor como bem entendesse sua visão do (sub) mundo. Não
bastava usar enormes quantidades e variedades de drogas e escrever sobre elas
em suas letras. O cantor também adorava falar sobre o assunto e chegou a dizer
em uma entrevista, em 1974, que era nisso que gastava quase todo seu dinheiro. Mais tarde admitiu que tentasse se livrar das drogas... “bebendo”. Nos anos 1980, abandonaria os dois vícios e nas últimas duas
décadas de vida se tornou um dedicado praticante de Tai-Chi, reconhecido “como uma forma de meditação em movimento” (cf. Cheng, 1989).
Nas décadas seguintes, Lou Reed vai sempre inovando,
e muitas vezes driblando as expectativas dos seus fãs, num trajeto que inclui
álbuns brilhantes como: “Berlin” (1973), o experimentalista “Metal Machine
Music” (1975), “Blue Mask” (1982), “New Sensations” (1984), “New York” (1989)
ou “Hudson River Wind Meditations”, de 2007. Lou Reed era casado desde 2008 com
a compositora e música Laurie Anderson. Os discos mais lembrados deste período
são: “Transformer”, de 1972, e o depressivo “Berlin”, de 1973. Ele também lançou,
em 1975, o controverso “Metal Machine Music”, com uma hora de “barulho quase
incessante”. Nesta direção, Lou Reed estabeleceu sua reputação como figura exponente e ipso facto, fundamental no rock, apesar de diminuir o número de discos importantes. Entre os trabalhos mais reconhecidos estão: “Blue mask”, de 1982,
e “New York”, de 1989. Em 1975, quando o 5° disco solo de Lou Reed chegou às lojas, o impacto ideológico foi geral e revelador.
Considerado brincadeira por alguns, desaforo por outros, o LP duplo
subvertia as estruturas convencionais de composição e foi um dos primeiros
exemplos de “noise music”. Na época, o álbum estabeleceu um recorde de
devoluções nas lojas e arranhou seriamente a credibilidade do cantor, ganhando
a fama de “pior disco do mundo”. Mais tarde, porém, se tornou “cult” e foi
apontado como grande influência para gêneros como punk, metal e industrial. Na
metade da década de 1970, ele conheceu Rachel, um transexual por quem se
apaixonou à primeira vista e com quem viveu durante três anos. A namorada,
inclusive, teria sido a maior inspiração durante a composição do disco: “Coney
Island Baby” (1976), chegou a acompanha-lo em turnês e a posar ao seu lado para
a revista “Penthouse”. Mas, a partir de 1978, o cantor simplesmente se recusou
a tocar no assunto, passou a se relacionar apenas com mulheres e Rachel voltou
ao anonimato. Em 2008 criou a “Metal Machine Trio” e fez uma turnê onde músicos improvisavam ao vivo, baseados no disco. Ironicamente, as
apresentações foram bastante elogiadas e a maioria dos shows teve seus
ingressos esgotados.
Em
1975, depois de ganhar reconhecimento por seus primeiros discos solo, Lou Reed
lançou “Metal Machine Music”. Muitos não entenderam, alguns acharam piada. O
disco trazia apenas quatro músicas. Cada uma com 15 ou 16 minutos. Não há
vocais, apenas distorções de guitarras, texturas e camadas sonoras. Em três
meses, o disco foi retirado das lojas. Muito se disse que “Metal Machine Music”
foi um disco feito para cumprir contrato com a RCA. Reed negava isso, apontando
o disco como antecessor dos estilos “noise” e “industrial”. – “Metal Machine Music é dedicado à proposta
da guitarra como o maior instrumento conhecido ao homem (...). Você não precisa
de um vocalista ou um baterista (...). E uma reflexão da glória do rock” –
disse Reed, em entrevista à BBC. Em 2002, Reed se espantou ao ver o saxofonista
alemão Ulrich Krieger interpretar o álbum. Acabou convidando-o para formar o
grupo Metal Machine Trio, que revisitou em performances
repletas de improvisos. Esse show veio ao Brasil. Reed e seu grupo tocaram nos
dias 20 e 21 de novembro de 2010 em São Paulo.
Por
meio da tradução de suas mais de 300 letras, é possível contemplar Lou Reed em
suas múltiplas facetas: a) o cronista do submundo nova-iorquino, b) o narrador
de inegável talento para capturar as vozes das ruas, c) o fetichista depressivo
com tendências suicidas e masoquistas, d) o amante da literatura e das artes de
vanguarda. Vale lembrar que ao lado de Neil Young, Reed é um dos únicos
representantes do rock dos anos 1960 a manter uma produção constante e digna de
nota ao longo das últimas quatro décadas e, como letrista, junto com Bob Dylan
e Leonard Cohen, é um dos poucos compositores da música popular norte-americana
a conquistar o status de grande
poeta. À frente do “Velvet Underground”, nas palavras do lendário crítico
musical Lester Bangs (194801982), com quem Lou Reed mantinha sociologicamente uma notória relação de amor e
ódio - “trouxe dignidade, poesia e rock
and roll a temas como as drogas, as anfetaminas, a homossexualidade [ou
homoerotismo], o sadomasoquismo, o assassinato, a misoginia, a passividade
entorpecida e o suicídio”.
O
lançamento nacional do songbook de
Lou Reed reitera o “status poético” da obra do artista e reacende a discussão
sobre as relações entre música e poesia. Discussão calorosa quando o assunto é
delimitar a fronteira tênue entre o que é poesia e o que é letra de música. No
caso de Reed, letras de puro rock como as reunidas no livro: “Atravessar o fogo”.
Há quem sustente que os versos do compositor de músicas como “City lights” e
“Dirty Blvd.” são moldados para o espetáculo do rock e que, sem o volume das
guitarras distorcidas, perdem força, impacto social e poesia. Dizem isso de
Reed. Mas dizem isso de Bob Dylan também. E o fato é que tanto Dylan como Reed
- para citar somente dois sócios de um clube seleto no qual John Lennon foi “admitido”,
por conta de sua obra solo inusitado e da parcela adulta do cancioneiro dos
Beatles - alçaram as letras de rock a um patamar poético ainda hoje alcançado
por muito poucos. Por isso, Reed nunca foi estranho no ninho literário. E, por
isso, há tanta reverência, talvez justa - a “um roqueiro que sempre viu poesia
nas sombras”.
Lou
Reed nasceu em 2 de março de 1942, em Nova York, nos EUA. Ele fundou em 1964,
com John Cale, o Velvet Underground, uma das bandas mais influentes da história
do rock. O disco mais conhecido da banda é The Velvet Underground and Nico,
de 1967. No final dos anos 1960, Lou Reed começou a carreira à frente do Velvet
Underground. Foram três discos naquela década, todos reconhecidos pela crítica
como importantes para o rock e influentes no surgimento do punk em Nova York e
do rock alternativo das décadas posteriores. Além da estreia de 1967, foram
lançados “White Light/White Heat”, do ano seguinte, e “The Velvet Underground”,
de 1969. A capa foi desenhada pelo artista Andy Warhol, que adotou a banda e
ajudou a divulgá-la. Ele também lançou discos solo cultuados, como Transformer,
de 1972, produzido por David Bowie, e Berlin, de 1973. A única música que Lou
Reed conseguiu transformar em sucesso nas rádios dos Estados Unidos da América
foi Walk on the wild side, de 1972.
Com
o Velvet, Lou Reed ajudou a colocar o experimentalismo e as narrativas
sobre o submundo urbano, drogas e perversões sexuais entre as matérias primas
do rock e do pop. Os anos 1970 foram os mais importantes da carreira solo. Os
discos mais lembrados deste período são Transformer, de 1972, e o
depressivo Berlin, de 1973. Ele também lançou, em 1975, o controverso Metal
Machine Music, com uma hora de ruído quase incessante. Nas décadas
seguintes, Lou Reed estabeleceu sua reputação como figura fundamental no rock,
apesar de diminuir o número de lançamentos importantes. Entre os trabalhos mais
reconhecidos estão Blue mask, de 1982, e New York, de 1989. O músico se
casou em 2008 com a artista Laurie Anderson, cujo trabalho abrange performance,
música pop e projetos multimídia. Com formação inicial em violino e escultura,
Anderson realizou uma série de projetos em Nova Iorque durante
os anos 1970, focando especialmente em linguagem, tecnologia e imagens.
O
músico norte-americano Lou Reed, considerado um dos mais influentes do rock e morto
em outubro aos 71 anos, deixou uma fortuna de R$ 66,5 milhões, informou o New
York Post. De acordo com o jornal, Robert Gotterer, empresário do cantor e
compositor, declarou em um tribunal de Manhattan na semana passada que seu
cliente acumulou um total de R$ 44 milhões desde novembro de 2013. Foi a partir
dali que Gotterer assumiu a supervisão do espólio do fundador do Velvet
Underground. Esse valor adicional,
descrito como “dinheiro e outras posses”, não inclui os cerca de R$ 22 milhões
que Reed deixou no testamento para sua mulher, sua esposa e sua mãe. Também não
entra na conta o seguro de vida. Segundo o New York Post, possivelmente
se trata de rendimentos com direitos autorais, incluindo a obra de Reed como
escritor. No testamento, Gotterer foi instruído “a cuidar de tudo como se fosse
dele”. Lou Reed deixou para sua mulher, a artista Laurie Anderson, uma
cobertura de R$ 15,5 milhões em Nova York e uma casa de praia de R$ 3,3
milhões, além de joias, roupas, obras de arte, carros, barcos e da empresa
Sister Ray Enterprises. Também deixou R$ 1,1 milhão para sua única irmã,
Margaret Reed Weiner, para que ela usa nas despesas com a mãe deles. Do dinheiro
adicional informado por Gotterer, a viúva vai ficar com R$ 33,3 milhões.
Margaret, com R$ 11 milhões.
O empresário, que começou a trabalhar com Reed em
1970, pediu R$ 487 mil em honorários. Já o advogado de Reed, James Purdy,
entrou com uma ação dizendo que os executores do espólio vão apresentar um
inventário completo em janeiro de 2015. Escrever
que a música chora a morte de Lou Reed não é um exagero quando são tantas as
homenagens prestadas. Dos mais novos aos mais velhos. Do rock, à folk music e ao pop. A controversa Miley
Cyrus, os históricos The Who, Patrick Carney, baterista dos Black Keys, Flea,
dos Red Hot Chilli Peppers, Morrissey, Jim James, as Warpaint, Alex Kapranos,
dos Franz Ferdinand, Gary Numan, LL Cool J, Juliette Lewis, Tom Morello, dos
Rage Against the Machine e dos Audioslave. Mas nem só da música vieram tais
mensagens. Foram muitos os atores, realizadores, escritores e rostos conhecidos
da mídia que também quiseram deixar umas palavras.
O “chef” norte-americano
Anthony Bourdain escreveu no twitter
uma parte da canção Sweet Jane:
“Heavenly wine and roses… seem to whisper to me…when you smile”, enquanto o
escritor britânico Salman Rushdie escreveu que o seu amigo Lou Reed, “chegou ao
fim da sua canção”, fazendo referência a duas das mais icônicas músicas de
Reed: “But hey, Lou, you`ll always take” a “walk on the wild side. Always a perfect
day”. Enfim,
curiosamente o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, o cardeal
Gianfranco Ravasi, fez uma homenagem inesperada em sua conta no Twitter ao fundador do “Velvet
Underground”, Lou Reed. O cardeal italiano, um dos primeiros na Cúria e do
Colégio de Cardeais a adotar as redes sociais, reproduziu o refrão de “Shuch a
perfect day”, uma das mais conhecidas canções do cantor norte-americano: - “Oh,
it`s such a perfect day/ I`m glad I spend it with you/Oh, such a perfect day/
You just keep me hanging on”. Em um segundo Twitter, ele explicou a escolha: -
“Não se iludam. Tudo o que o homem semear, também colherá”. Essa passagem da
Epístola aos Gálatas “foi citada por Lou Reed em Perfect Day”. Ravasi, escolhido pelo papa adepto ao fascismo Bento XVI para ser
o Ministro da Cultura e mantido por seu sucessor o papa Francisco, tem uma “vasta
cultura eclética” e nunca escondeu que ama o rock.
Bibliografia geral consultada.
ALMEIDA, Mauro
Lauria de, EUA: Civilização Empacotada. São Paulo: Editor Fulgor, 1961;
BELTRÃO, Luiz, A Imprensa Informativa. São Paulo: Editora Folco Musucci,
1969; MICELI, Sérgio, A Noite da Madrinha. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1972; CHOMSKY, Noam, USA: Mito, Realidad, Acracia.
Barcelona: Editorial Ariel, 1978; FISCHER, Ernest, A Necessidade da Arte.
9ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983; GINZBURG, Carlo, Miti,
Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; LISBOA,
João, Superstars: Andy Warhol e os Velvet Underground. Lisboa: Editor
Assírio & Alvim, 1992; DURAND, Gilbert, Mythe, Thèmes et Variations.
Paris: Éditions Desclée de Brouwer, 2000; DOR, J., O Pai e sua função em
psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991; CASTRO, Dana, La mort pour de
faux et la mort pour de vrai. Paris: Albin Michel, 2000; LOPES, Pedro Alvim Leite,
Heavy Metal no Rio de Janeiro e Dessacralização de Símbolos Religiosos: A
Música do Demônio na Cidade de São Sebastião das Terras de Vera Cruz. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; GRÜN, Anselm, A Sublime Arte
de Envelhecer. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2007; REED, Lou, Atravessar
o Fogo. Tradução de Christian Wartz e Caetano Galindo. Rio de Janeiro:
Editora Contraponto, 2010; MERHEB, Rodrigo, O Som da Revolução: Uma História
Cultural do Rock 1965-1969. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,
2012; Artigo: “Lou Reed, Velvet Underground Leader and Rock Pioneer, Dead at
71”. In: http://www.rollingstone.com/27/10/2013;
CUNNINGHAM, David, “O Rock como Modernismo Minimalista”. In: Radical
Philosophy, nº 183, jan.-fev., 2014; Artigo: “Aos 71 anos, Morre
Guitarrista Lou Reed, Líder do Velvet Underground”. Disponível em: http://musica.terra.com.br/; Artigo:
“Veja Repercussão da Morte do Cantor e Guitarrista Lou Reed”. In: http://g1.globo.com/musica/noticia/2013/10/;
Artigo: “Ministro da Cultura do Papa homenageia Lou Reed no Twitter”.
Disponível em: http://www.jb.com.br/2013/10/28/;
Artigo: “Morre o Poeta das Trevas Urbanas aos 71 anos”. In: Diário do
Nordeste. Fortaleza, 29/10/2013; BISCARO, Barbara, Vozes Nômades:
Escutas e Escritas da Voz em Performance. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Teatro. Centro de Artes. Florianópolis: Universidade do Estado
de Santa Catarina, 2015; entre outros.