sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Lou Reed - Técnica, Liberdade & Finitude da Solidão.

Ubiracy de Souza Braga*
                                                            “Lou Reed. Um maestro da improbabilidade em cena”. Jotabê Medeiros

            

Lewis Allan “Lou” Reed nasceu no Brooklyn (Nova York), em 1942. Fã de doo-wop e dos primórdios do rock and roll, ele também foi inspirado pelo poeta Delmore Schwartz quando estudava na Syracuse University. Depois da faculdade, trabalhou como compositor contratado no selo Pickwick Records. Em meados dos anos 1960, ficou amigo do violinista clássico galês John Cale. Juntos formaram a banda chamada The Primitives, posteriormente renomeada The Warlocks. Depois de conhecerem o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker, tornaram-se o Velvet Underground. Com um som simples e visual sombrio, a banda chamou a atenção de Andy Warhol, que a incorporou ao show experimental dele, o Exploding Plastic Inevitable. - “Andy projetava os filmes dele na gente”, contou Reed. “Nós vestíamos preto para que os outros pudessem ver o filme. Mas andávamos sempre de preto de qualquer modo”. Produzido por Andy Warhol e recebido com total indiferença quando lançado no  começo de 1967, o disco de estreia da banda, The Velvet Underground & Nico permanece como um marco musical no mesmo nível comparativamente de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles e Blonde on Blonde, de Bob Dylan. 

A famosa frase: - “No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, como profetizou certa vez o cineasta e pintor norte-americano Andy Warhol, reconhecido pelos coloridos retratos da glamorosa Marilyn Monroe e Elvis Presley tornou-se sua marca na modernidade. Mais do que isso, sua fama parece ter se tornada eterna, como tem ocorrido no tempo e espaço quando é cada vez mais celebrada. É o que garante o jornal norte-americano The New York Times. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, foram programadas pelo menos três mostras com criações de Andy Warhol nos Estados Unidos da América. Em uma extensa reportagem sobre o legado de um dos criadores e principal representante da Pop Art, o jornal divulgou que nada menos que 40 exposições com obras do artista, muitas delas até então inéditas para o público, “inundarão museus e instituições de arte nos próximos cinco anos”. Isso porque a fundação que leva o nome de Andy Warhol está na terceira fase de um projeto que visa popularizar cada vez mais o trabalho do artista, morto em 1987. É neste sentido que a fundação doou mais de 14 mil obras, sobretudo fotografias e gravuras, “com a condição de que os museus as exibam no prazo de cinco anos”. Já foram distribuídas, desde 1999, 52.786 obras do artista para 322 instituições diversas, sobretudo nos Estados Unidos da América.

Neste sentido, marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que seja ela, objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria da comunicação, pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. Uma simples palavra pode referir uma marca. O termo é frequentemente usado hoje em dia como referência a uma determinada empresa: um nome, uma marca verbal, imagens ou conceitos que distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é comum estar se referindo, na maioria das vezes, a uma representação gráfica no âmbito e competência do designer, onde a marca pode ser representada graficamente por uma composição de símbolo ou logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto, o conceito de marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica. Marca não é um conceito fácil de definir. A marca em essência representa produção-consumo com uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. A garantia de qualidade surge entre marcas, mas a marca é um símbolo mais complexo, pois em princípio, a relação social entre complexo e símbolo, coincide em muitos aspectos do desejo, comparativamente, pois ambos se enraízam num núcleo de significado arquetípico. 

Analogamente se referem sociologicamente enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais a unidades de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado de consumo editorial. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos sociais da mesma conexão geracional lida com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. Karl Mannheim não esconde sua preferência pela abordagem histórico-romântica alemã. E destaca que este é um exemplo bastante claro de como a forma de se colocar uma questão pode variar de país para país, assim como de uma época para outra.     

  Ipso facto, sociologicamente falando a relação social entendida por globalização representa um dos processos de aprofundamento da divisão internacional do trabalho, da integração econômica, social e política, em seus extremos que teria sido impulsionado pela redução dos meios sociais de comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI. Embora vários estudiosos situem a origem da globalização em tempos modernos, Marx analisou a sua história social e econômica na gênese do industrial capitalista relacionado com os chamados descobrimentos do Novo Mundo pelos europeus. Um país com imprensa livre hoje pode ter acesso, algumas vezes por televisão por assinatura ou satélite, a emissoras de difusão de comunicação, desde a NHK do Japão a Cartoon Network norte-americana. A globalização é analisada por sociólogos, historiadores e cientistas políticos como o movimento social sob o qual se constrói o processo de hegemonia econômica, política e cultural ocidental sobre as demais nações. Esta nova dominação é constituída por redes assimétricas, e as relações de poder se dão mais pela via cultural e econômica do que pelo uso coercitivo de força.         

As descrições prosaicas do submundo boêmio nova-iorquino feitas por Reed, repletas de alusões às drogas e S&M, foram além até dos momentos mais “sinistros” dos Rolling Stones, enquanto as altas doses de distorção e ruídos gratuitos revolucionaram a guitarra roqueira. Os três álbuns subsequentes – o ainda mais corrosivo White Light/White Heat (1968), o frágil e folk The Velvet Underground (1969) e Loaded (1970), que, apesar de ter sido gravado quando Reed estava deixando a banda, contém dois de seus maiores clássicos, “Rock & Roll” e “Sweet Jane” – foram igualmente ignorados pela crítica e consumo. Mas eles seriam adotados pelas gerações posteriores, consolidando o status do Velvet Underground como uma das bandas de rock mais influentes de todos os tempos. O talentoso musicista Lou Reed intermitentemente cultivou a fama de “pesadelo dos jornalistas” por não demostrar nenhuma paciência ou boa vontade ao conceder entrevistas e declarar sem hesitação “seu ódio por críticos musicais”. Era bastante comum ouvir respostas atravessadas e irônicas, silêncio ou mesmo agressões diretas ao fazer uma pergunta sobre um assunto do qual o cantor e instrumentista não quisesse falar. Uma das “vítimas” mais recentes foi um repórter da revista “Spin”, em novembro de 2010.

 Interrompido logo na primeira pergunta, o jornalista despertou a fúria de Reed justamente ao abordar sua reputação de “entrevistado difícil”. A conversa foi encerrada com um: - “Esse é o tipo de merda que você queria o tempo todo e você guardou para o final. O que eu deveria dizer? Você não está interessado em música. Nossa conversa acabou”. Morto em um domingo (27/10/2013), aos 71 anos, Lou Reed nem sempre foi uma figura polêmica, desde que se tornou conhecido na década de 1960 com “The Velvet Underground”. Sem nunca esconder sua bissexualidade, seu amor pelas drogas e sua aversão aos jornalistas, pois, o cantor “construiu a fama de ser uma pessoa difícil”. Psicologicamente entendemos que o que motiva a alguém ser ou tornar-se difícil como indivíduo ou uma pessoa ou ainda uma situação é também sua história de vida. Algumas vivências podem ter sido fortes demais e fragilizaram a ponto de impedir que esta pessoa tenha relações tranquilas e saudáveis com todo mundo. Por outro lado também é possível que características de personalidade sejam a raiz do problema, ou seja, mesmo não havendo nenhum causador de danos emocionais esta pessoa tem em suas características que dificultam o bom trato social. Lou Reed nascido no Brooklyn, Nova Iorque, em 2 de março de 1942 e morto em Long Island, Nova Iorque, 27 de outubro de 2013, foi um cantor, guitarrista e compositor nascido em uma das mais notórias comunidades judaicas do mundo, o Brooklyn onde está a sede mundial das Testemunhas de Jeová. Isso faz com que a cidade seja a maior “capital judaica” fora de Israel. 
Em Manhattan, os judeus se espalharam por várias regiões. Os judeus ortodoxos moram quase todos numa parte do Brooklyn, subúrbio de Nova York, conhecida como Crown Heights. Foi no Brooklyn historicamente que surgiu o judeu radical Baruch Goldstein, em fevereiro de 1994. É no Brooklyn que estão situados as maiores sinagogas e os pequenos negócios como aparecem em filmes com minimercados, restaurantes, lavanderias e armarinhos mantidos pelos judeus. Os judeus ortodoxos controlam quase todo o comércio de joias de Nova York -sobretudo o de diamantes. As joalherias ficam uma ao lado das outras no lado oeste da rua 47, em Manhattan. É difícil não encontrar algum homem no balcão que não esteja usando o chapéu e o paletó preto característicos dos judeus ortodoxos. As mulheres sempre estão usando saias longas e as meninas, vestidos. Ao contrário de outras regiões de Manhattan, onde as lojas abrem durante os sete dias da semana, o comércio na rua 47 fica praticamente vazio nas tardes de sextas-feiras e aos sábados, para respeitar o sabá judaico. As grandes sinagogas, escolas, creches e centros de recreação. A Shaare Zion, é uma das maiores do Brooklyn: possui 3.000 membros, a maioria de origem síria. A sinagoga tem um complexo de escolas, além de centro social. Tudo em Crown Heights.


                                        
Com John Cale, Lou Reed funda a banda: “The Primitives”, que tem algum sucesso em 1964 com o tema “The Ostrich”, uma paródia à música de dança. Os membros “The Primitives” são depois rebatizados “The Warlocks”. E quando se juntam ao grupo o guitarrista Sterling Morrison e o percussionista Angus Maclise, nasceu não apenas uma nova banda, mas, na opinião de alguns críticos, a melhor banda de rock de todos os tempos: os “Velvet Underground”. O grupo não teve grande sucesso comercial nos anos 1960, mas alguém já observou que muitos dos jovens que ouviram o seu álbum de estreia, em 1967, “The Velvet Underground & Nico”, foram influenciados para criar a criação de suas próprias bandas. Quase não há um tema nesse primeiro álbum, produzido por Andy Warhol, que não seja hoje um clássico da música pop, de “I’m waiting for the man” e “Venus in furs” a “All tomorrow’s parties” ou aos sete minutos de “Heroin”. O grupo durou pouco (Cale saiu logo em 1968), mas a sua influência perdura até hoje. O empresário e artista plástico Andy Wahrol, ícone da pop art, faleceu em 1987. Figura ímpar da cultura nova-iorquina, ele havia sido homenageado, em 1991, por Lou Reed e John Cale, no álbum “Songs For Drella”, referente a um dos apelidos de Andy Wahrol no meio artístico.
Foi considerado o “81º melhor guitarrista de todos os tempos” e o 52º na lista pontual pela revista Rolling Stones. Confirmada no site oficial da banda Metallica (15 de junho de 2011) a participação de Lou Reed no álbum “Lulu”, que possui dez canções e foi lançado no dia 31 de outubro de 2011. O disco, porém, não foi bem recebido pelo público por não repetir a fórmula que levou os “Metallica” ao topo do estilo “speed metal”. Com poucos solos e “riffs”, e Lou Reed recitando poemas durante todas as músicas, aparentemente houve um péssimo feedback acerca do álbum. Lou Reed foi um dos vocais do “The Velvet Underground”, influenciando Iggy Pop, New York Dolls e David Bowie. Mais tarde toda a cena pós-punk (cf. Braga, 2011) inglesa. Admirador de Edgar Allan Poe e Raymond Chandler, além de James Joyce, a quem faz referências em “Blue Mask”. Em sua última turnê, que passou pela Europa em 2012, Lou Reed fazia um apanhado de sua trajetória do início da carreira até o lançamento do álbum com o “Metallica”. Não à toa a turnê se chamava: “From vu to Lulu”. Em maio de 2013 passou por um transplante de fígado, mas com um quadro de desidratação severa, veio a falecer em 27 de outubro do mesmo ano.         
Nos final da década de 1960, Lou Reed começou a carreira musical à frente do “Velvet Underground”. Foram três discos naquela década, todos reconhecidos pela crítica como importantes para o rock e influentes no surgimento do punk em Nova York e do rock alternativo das décadas posteriores. Além da estreia de 1967, foram lançados “White Light/White Heat”, do ano seguinte, e “The Velvet Underground”, de 1969. Com o “Velvet”, Lou Reed ajudou a colocar o experimentalismo e as narrativas sobre o submundo urbano, drogas e perversões sexuais entre as matérias primas do rock e do pop. Os anos 1970 foram os mais importantes de sua carreira que durariam 40 anos. Com o fim dos Velvet em 1970, Reed parte para o Reino Unido, onde grava um disco com músicos da banda Yes. Mas é com o disco seguinte, “Transformer”, produzido por David Bowie, que se torna uma estrela incontestável do rock. O tema “Walk on the wild side” torna-se um sucesso, mas o disco inclui outras canções justamente célebres, como “Perfect day” ou “Vicious”.
O nome da banda que tornou Lou Reed famoso foi tirado de “Velvet Underground”, livro escrito por Michael Leigh sobre “parafilia”, representando um conjunto de comportamentos sexuais considerados perversos ou anormais. E logo em seu primeiro disco, “The Velvet Underground & Nico” (1967), Reed já falava em sadomasoquismo, vício em cocaína e heroína. A capa foi desenhada pelo artista Andy Warhol, que adotou a banda e ajudou a divulgá-la. Reed mexeu mesmo com fogo ao falar de sexo e drogas pesadas em suas letras. Em 1970, com sua saída do “Velvet Underground”, Lewis Allan Reed se viu totalmente livre para expor como bem entendesse sua visão do (sub) mundo. Não bastava usar enormes quantidades e variedades de drogas e escrever sobre elas em suas letras. O cantor também adorava falar sobre o assunto e chegou a dizer em uma entrevista, em 1974, que era nisso que gastava quase todo seu dinheiro. Mais tarde admitiu que tentasse se livrar das drogas... “bebendo”. Nos anos 1980, abandonaria os dois vícios e nas últimas duas décadas de vida se tornou um dedicado praticante de Tai-Chi, reconhecido “como uma forma de meditação em movimento” (cf. Cheng, 1989).   
Nas décadas seguintes, Lou Reed vai sempre inovando, e muitas vezes driblando as expectativas dos seus fãs, num trajeto que inclui álbuns brilhantes como: “Berlin” (1973), o experimentalista “Metal Machine Music” (1975), “Blue Mask” (1982), “New Sensations” (1984), “New York” (1989) ou “Hudson River Wind Meditations”, de 2007. Lou Reed era casado desde 2008 com a compositora e música Laurie Anderson. Os discos mais lembrados deste período são: “Transformer”, de 1972, e o depressivo “Berlin”, de 1973. Ele também lançou, em 1975, o controverso “Metal Machine Music”, com uma hora de “barulho quase incessante”. Nesta direção, Lou Reed estabeleceu sua reputação como figura exponente e ipso facto, fundamental no rock, apesar de diminuir o número de discos importantes. Entre os trabalhos mais reconhecidos estão: “Blue mask”, de 1982, e “New York”, de 1989. Em 1975, quando o 5° disco solo de Lou Reed chegou às lojas, o impacto ideológico foi geral e revelador.

             Considerado brincadeira por alguns, desaforo por outros, o LP duplo subvertia as estruturas convencionais de composição e foi um dos primeiros exemplos de “noise music”. Na época, o álbum estabeleceu um recorde de devoluções nas lojas e arranhou seriamente a credibilidade do cantor, ganhando a fama de “pior disco do mundo”. Mais tarde, porém, se tornou “cult” e foi apontado como grande influência para gêneros como punk, metal e industrial. Na metade da década de 1970, ele conheceu Rachel, um transexual por quem se apaixonou à primeira vista e com quem viveu durante três anos. A namorada, inclusive, teria sido a maior inspiração durante a composição do disco: “Coney Island Baby” (1976), chegou a acompanha-lo em turnês e a posar ao seu lado para a revista “Penthouse”. Mas, a partir de 1978, o cantor simplesmente se recusou a tocar no assunto, passou a se relacionar apenas com mulheres e Rachel voltou ao anonimato. Em 2008 criou a “Metal Machine Trio” e fez uma turnê onde músicos improvisavam ao vivo, baseados no disco. Ironicamente, as apresentações foram bastante elogiadas e a maioria dos shows teve seus ingressos esgotados.           
Em 1975, depois de ganhar reconhecimento por seus primeiros discos solo, Lou Reed lançou “Metal Machine Music”. Muitos não entenderam, alguns acharam piada. O disco trazia apenas quatro músicas. Cada uma com 15 ou 16 minutos. Não há vocais, apenas distorções de guitarras, texturas e camadas sonoras. Em três meses, o disco foi retirado das lojas. Muito se disse que “Metal Machine Music” foi um disco feito para cumprir contrato com a RCA. Reed negava isso, apontando o disco como antecessor dos estilos “noise” e “industrial”.  – “Metal Machine Music é dedicado à proposta da guitarra como o maior instrumento conhecido ao homem (...). Você não precisa de um vocalista ou um baterista (...). E uma reflexão da glória do rock” – disse Reed, em entrevista à BBC. Em 2002, Reed se espantou ao ver o saxofonista alemão Ulrich Krieger interpretar o álbum. Acabou convidando-o para formar o grupo Metal Machine Trio, que revisitou em performances repletas de improvisos. Esse show veio ao Brasil. Reed e seu grupo tocaram nos dias 20 e 21 de novembro de 2010 em São Paulo.
Por meio da tradução de suas mais de 300 letras, é possível contemplar Lou Reed em suas múltiplas facetas: a) o cronista do submundo nova-iorquino, b) o narrador de inegável talento para capturar as vozes das ruas, c) o fetichista depressivo com tendências suicidas e masoquistas, d) o amante da literatura e das artes de vanguarda. Vale lembrar que ao lado de Neil Young, Reed é um dos únicos representantes do rock dos anos 1960 a manter uma produção constante e digna de nota ao longo das últimas quatro décadas e, como letrista, junto com Bob Dylan e Leonard Cohen, é um dos poucos compositores da música popular norte-americana a conquistar o status de grande poeta. À frente do “Velvet Underground”, nas palavras do lendário crítico musical Lester Bangs (194801982), com quem Lou Reed mantinha sociologicamente uma notória relação de amor e ódio - “trouxe dignidade, poesia e rock and roll a temas como as drogas, as anfetaminas, a homossexualidade [ou homoerotismo], o sadomasoquismo, o assassinato, a misoginia, a passividade entorpecida e o suicídio”.

             O lançamento nacional do songbook de Lou Reed reitera o “status poético” da obra do artista e reacende a discussão sobre as relações entre música e poesia. Discussão calorosa quando o assunto é delimitar a fronteira tênue entre o que é poesia e o que é letra de música. No caso de Reed, letras de puro rock como as reunidas no livro: “Atravessar o fogo”. Há quem sustente que os versos do compositor de músicas como “City lights” e “Dirty Blvd.” são moldados para o espetáculo do rock e que, sem o volume das guitarras distorcidas, perdem força, impacto social e poesia. Dizem isso de Reed. Mas dizem isso de Bob Dylan também. E o fato é que tanto Dylan como Reed - para citar somente dois sócios de um clube seleto no qual John Lennon foi “admitido”, por conta de sua obra solo inusitado e da parcela adulta do cancioneiro dos Beatles - alçaram as letras de rock a um patamar poético ainda hoje alcançado por muito poucos. Por isso, Reed nunca foi estranho no ninho literário. E, por isso, há tanta reverência, talvez justa - a “um roqueiro que sempre viu poesia nas sombras”.

Lou Reed nasceu em 2 de março de 1942, em Nova York, nos EUA. Ele fundou em 1964, com John Cale, o Velvet Underground, uma das bandas mais influentes da história do rock. O disco mais conhecido da banda é The Velvet Underground and Nico, de 1967. No final dos anos 1960, Lou Reed começou a carreira à frente do Velvet Underground. Foram três discos naquela década, todos reconhecidos pela crítica como importantes para o rock e influentes no surgimento do punk em Nova York e do rock alternativo das décadas posteriores. Além da estreia de 1967, foram lançados “White Light/White Heat”, do ano seguinte, e “The Velvet Underground”, de 1969. A capa foi desenhada pelo artista Andy Warhol, que adotou a banda e ajudou a divulgá-la. Ele também lançou discos solo cultuados, como Transformer, de 1972, produzido por David Bowie, e Berlin, de 1973. A única música que Lou Reed conseguiu transformar em sucesso nas rádios dos Estados Unidos da América foi Walk on the wild side, de 1972.

Com o Velvet, Lou Reed ajudou a colocar o experimentalismo e as narrativas sobre o submundo urbano, drogas e perversões sexuais entre as matérias primas do rock e do pop. Os anos 1970 foram os mais importantes da carreira solo. Os discos mais lembrados deste período são Transformer, de 1972, e o depressivo Berlin, de 1973. Ele também lançou, em 1975, o controverso Metal Machine Music, com uma hora de ruído quase incessante. Nas décadas seguintes, Lou Reed estabeleceu sua reputação como figura fundamental no rock, apesar de diminuir o número de lançamentos importantes. Entre os trabalhos mais reconhecidos estão Blue mask, de 1982, e New York, de 1989. O músico se casou em 2008 com a artista Laurie Anderson,  cujo trabalho abrange performance, música pop e projetos multimídia. Com formação inicial em violino e escultura, Anderson realizou uma série de projetos em Nova Iorque durante os anos 1970, focando especialmente em linguagem, tecnologia e imagens.  

O músico norte-americano Lou Reed, considerado um dos mais influentes do rock e morto em outubro aos 71 anos, deixou uma fortuna de R$ 66,5 milhões, informou o New York Post. De acordo com o jornal, Robert Gotterer, empresário do cantor e compositor, declarou em um tribunal de Manhattan na semana passada que seu cliente acumulou um total de R$ 44 milhões desde novembro de 2013. Foi a partir dali que Gotterer assumiu a supervisão do espólio do fundador do Velvet Underground.  Esse valor adicional, descrito como “dinheiro e outras posses”, não inclui os cerca de R$ 22 milhões que Reed deixou no testamento para sua mulher, sua esposa e sua mãe. Também não entra na conta o seguro de vida. Segundo o New York Post, possivelmente se trata de rendimentos com direitos autorais, incluindo a obra de Reed como escritor. No testamento, Gotterer foi instruído “a cuidar de tudo como se fosse dele”. Lou Reed deixou para sua mulher, a artista Laurie Anderson, uma cobertura de R$ 15,5 milhões em Nova York e uma casa de praia de R$ 3,3 milhões, além de joias, roupas, obras de arte, carros, barcos e da empresa Sister Ray Enterprises. Também deixou R$ 1,1 milhão para sua única irmã, Margaret Reed Weiner, para que ela usa nas despesas com a mãe deles. Do dinheiro adicional informado por Gotterer, a viúva vai ficar com R$ 33,3 milhões. Margaret, com R$ 11 milhões. 

O empresário, que começou a trabalhar com Reed em 1970, pediu R$ 487 mil em honorários. Já o advogado de Reed, James Purdy, entrou com uma ação dizendo que os executores do espólio vão apresentar um inventário completo em janeiro de 2015. Escrever que a música chora a morte de Lou Reed não é um exagero quando são tantas as homenagens prestadas. Dos mais novos aos mais velhos. Do rock, à folk music e ao pop. A controversa Miley Cyrus, os históricos The Who, Patrick Carney, baterista dos Black Keys, Flea, dos Red Hot Chilli Peppers, Morrissey, Jim James, as Warpaint, Alex Kapranos, dos Franz Ferdinand, Gary Numan, LL Cool J, Juliette Lewis, Tom Morello, dos Rage Against the Machine e dos Audioslave. Mas nem só da música vieram tais mensagens. Foram muitos os atores, realizadores, escritores e rostos conhecidos da mídia que também quiseram deixar umas palavras.

O “chef” norte-americano Anthony Bourdain escreveu no twitter uma parte da canção Sweet Jane: “Heavenly wine and roses… seem to whisper to me…when you smile”, enquanto o escritor britânico Salman Rushdie escreveu que o seu amigo Lou Reed, “chegou ao fim da sua canção”, fazendo referência a duas das mais icônicas músicas de Reed: “But hey, Lou, you`ll always take” a “walk on the wild side. Always a perfect day”. Enfim, curiosamente o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, o cardeal Gianfranco Ravasi, fez uma homenagem inesperada em sua conta no Twitter ao fundador do “Velvet Underground”, Lou Reed. O cardeal italiano, um dos primeiros na Cúria e do Colégio de Cardeais a adotar as redes sociais, reproduziu o refrão de “Shuch a perfect day”, uma das mais conhecidas canções do cantor norte-americano: - “Oh, it`s such a perfect day/ I`m glad I spend it with you/Oh, such a perfect day/ You just keep me hanging on”. Em um segundo Twitter, ele explicou a escolha: - “Não se iludam. Tudo o que o homem semear, também colherá”. Essa passagem da Epístola aos Gálatas “foi citada por Lou Reed em Perfect Day”. Ravasi, escolhido pelo papa adepto ao fascismo Bento XVI para ser o Ministro da Cultura e mantido por seu sucessor o papa Francisco, tem uma “vasta cultura eclética” e nunca escondeu que ama o rock.

Bibliografia geral consultada.

ALMEIDA, Mauro Lauria de, EUA: Civilização Empacotada. São Paulo: Editor Fulgor, 1961; BELTRÃO, Luiz, A Imprensa Informativa. São Paulo: Editora Folco Musucci, 1969; MICELI, Sérgio, A Noite da Madrinha. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972; CHOMSKY, Noam, USA: Mito, Realidad, Acracia. Barcelona: Editorial Ariel, 1978; FISCHER, Ernest, A Necessidade da Arte. 9ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983; GINZBURG, Carlo, Miti, Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; LISBOA, João, Superstars: Andy Warhol e os Velvet Underground. Lisboa: Editor Assírio & Alvim, 1992; DURAND, Gilbert, Mythe, Thèmes et Variations. Paris: Éditions Desclée de Brouwer, 2000; DOR, J., O Pai e sua função em psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991; CASTRO, Dana, La mort pour de faux et la mort pour de vrai. Paris: Albin Michel, 2000; LOPES, Pedro Alvim Leite, Heavy Metal no Rio de Janeiro e Dessacralização de Símbolos Religiosos: A Música do Demônio na Cidade de São Sebastião das Terras de Vera Cruz. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; GRÜN, Anselm, A Sublime Arte de Envelhecer. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2007; REED, Lou, Atravessar o Fogo. Tradução de Christian Wartz e Caetano Galindo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2010; MERHEB, Rodrigo, O Som da Revolução: Uma História Cultural do Rock 1965-1969. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2012; Artigo: “Lou Reed, Velvet Underground Leader and Rock Pioneer, Dead at 71”. In: http://www.rollingstone.com/27/10/2013; CUNNINGHAM, David, “O Rock como Modernismo Minimalista”. In: Radical Philosophy, nº 183, jan.-fev., 2014; Artigo: “Aos 71 anos, Morre Guitarrista Lou Reed, Líder do Velvet Underground”. Disponível em: http://musica.terra.com.br/; Artigo: “Veja Repercussão da Morte do Cantor e Guitarrista Lou Reed”. In: http://g1.globo.com/musica/noticia/2013/10/; Artigo: “Ministro da Cultura do Papa homenageia Lou Reed no Twitter”. Disponível em: http://www.jb.com.br/2013/10/28/; Artigo: “Morre o Poeta das Trevas Urbanas aos 71 anos”. In: Diário do Nordeste. Fortaleza, 29/10/2013; BISCARO, Barbara, Vozes Nômades: Escutas e Escritas da Voz em Performance. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Teatro. Centro de Artes. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina, 2015; entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário