terça-feira, 31 de março de 2020

Colégios de Aplicação - Escolas Públicas & Descentralizadas.


Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo”. Friedrich Nietzsche

         
            Um Colégio de Aplicação representa um tipo de escola, uma instituição de ensino fundamental e/ou de Ensino Médio, mantido e gerido por uma Instituição de nível superior, a universidade, e dedicado a aplicar as práticas pedagógicas nela desenvolvidas. Por ser ligado a uma universidade, um colégio de aplicação serve de campo de experimentação para inovações em didática e gestão escolar. Sua função social é integrar a relação teoria e prática na formação de alunos e professores. Universidades utilizam os colégios de aplicação como local de testes de hipóteses das pedagogias, bem como local de estágio profissional para os formandos das universidades. Os colégios de aplicação têm a função de pôr em prática inovações que sejam estudadas e pesquisadas no campo da Educação como área de conhecimento. Como parte integrante de universidades, os colégios de aplicação têm a função de disciplinar o tempo para o exercício das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Universidades públicas manietadas por reconhecido esprit de corps, por aquela capacidade inventada dos membros de um grupo fechado de manter a crença em uma instituição ou objetivo, diante de oposição ou dificuldades, não vislumbram nem por acidente constituir um Colégio de Aplicação.
             A tendência é conselheira quando temos de um lado, um quadro de pensamento que vai se formando e, de outro, que não se mistura, não amadurece no plano das ideias, pois encontra dificuldade da corporação ou Colegiado de admitir as hierarquias, as subjetividades culturais das práticas de trabalho e das práticas de formação  que se constituem na troca de favores.  O Caso da Cara é um dos contos mais famosos de Machado de Assis. Publicado inicialmente na Gazeta de Notícias, no ano de 1891.  Neste conto, Machado tem como escopo o drama pessoal de Damião, o protagonista, que deseja abandonar o seminário. Seminarista sem vocação, fugido do seminário, troca a vara com que Sinhá Rita irá castigar a negra Lucrécia - pelo trabalho não terminado - pelos favores que a mesma lhe prestará intercedendo junto ao padrinho e, por este ao pai, no caso da fuga do seminário. Neste conto, que o autor situa em 1850, fica claro a relação de favor como nexo quase universal, que caracterizava as relações sociais no século XIX. Pode-se perceber a intenção em analisar as cruéis relações de dominação entre iguais. Todos subjugados por um sistema político e social marcado pelo autoritarismo, mas que não hesitam em reproduzir e legitimar, a opressão, de que são as próprias vítimas. O Caso da Vara é um dos exemplos da crítica machadiana, sutil, mas repleta de uma ironia amarga.



Os professores de ensinos fundamental e médio nesses colégios são também professores da universidade ainda que não dedicados ao ensino superior, muitos com titulação acadêmica de pós-graduação (Mestrado, Doutorado), que cumprem tarefas como pesquisadores, reproduzindo novas concepções de ensino e pesquisa e no plano da extensão acadêmica retornando o conhecimento (feedback) da instituição para a sociedade. Frequentemente, os alunos graduandos em cursos de Educação, Pedagogia e as tradicionais licenciaturas em Letras, Matemática, Química, História, Biologia, Geografia, Física e Educação Física de universidades que mantêm colégios de aplicação realizam obrigatoriamente seus estágios docentes nessas escolas. Mesmo inseridos na estrutura institucional de universidades, devido à história social da universidade, nem sempre os Colégios de Aplicação têm instalações localizadas no campus universitário. Alguns podem ter prédios próprios, separados dos campi principais. Mas a maioria das instituições públicas, no plano estadual e federal, não têm colégios de aplicação. A questão nevrálgica diz respeito a seguinte pergunta: o que é que os professores, os coordenadores e chefes de unidades colocaram em seu respectivos lugares?
A Universidade Federal de Santa Catarina foi criada pela Lei n° 3.849, de 18 de dezembro de 1960, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Em fevereiro de 1961, foi criado um Ginásio de Aplicação, visando a dar cumprimento ao que estabelece o Decreto-Lei n° 9.053, de 12 de março de 1946. O funcionamento do Ginásio de Aplicaçao proporcionou ao aluno do curso de Didática, a prática de ensino, requisito exigido para a formação pedagógica necessária ao desempenho da função docente do primeiro ciclo do Ensino Médio, o curso ginasial, na Universidade Federal de Santa Catarina, foi autorizado pela Portaria n° 673, de 17/07/61, da Diretoria do Ensino Secundário do Ministério de Educação o e Cultura, filiando-o ao Sistema Federal de Ensino. De acordo com depoimentos dos professores do Centro de Ciências da Educação que atuaram na década de 1960, os professores do Departamento de Métodos de Ensino do Centro de Educação (CED) eram também professores do Ginásio de Aplicaçao. Isto é, estes professores ministravam aulas nas diversas práticas de ensino e eram responsáveis pela regência de classe neste Colégio. Estes dados não constam das atas da Congregação da referida Faculdade. No primeiro ano de funcionamento, a Diretora do Instituto Estadual de Educação, de Florianópolis, definiu que duas turmas daquele estabelecimento de ensino passariam a constituir as 5ª e 6ª séries do Ginásio de Aplicação, conforme o Livro nº 1 de Atas da Congregação de Professores da Faculdade Catarinense de Filosofia, 1961 (cf. Sena, 1987).
No caso da professora Guiomar Osório de Sena, O Colégio de Aplicação no Contexto das Universidades Brasileiras (1987) é pesquisa pioneira por três motivos: a) foi realizada pelo emergente curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina; b) trata-se de pesquisa teórica e empírica realizada entre 1978 a 1984, e na relação das entidades brasileiras cujos dirigentes são membros do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) de dimensão nacional; c) com os dados colhidos na periodização da pesquisa no Catálogo das Universidades Brasileiras, existem cinquenta e nove (59) Instituições de Ensino Superior (IES) federais, oitenta e cinco (85) estaduais, cento e vinte e duas (122) pertencentes â rede municipal de ensino e seiscentas e vinte e duas (622) vinculadas ã rede particular de ensino. O universo da pesquisa é constituído de onze (11) Colégios de Aplicação pertencentes a universidades federais, cinco (5) Colégios de Aplicação Estaduais, dos quais três (3) vinculados a universidades estaduais e dois (2) a instituições isoladas estaduais, um (l) vinculado a instituição isolada municipal, um (1) pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, consequentemente, da rede particular de ensino e vinte e um (21) Colégios de Aplicação vinculados a instituições isoladas particulares. Dos trinta e nove (39) Colégios de Aplicaçao analisados na pesquisa empírica, dois (2) foram criados antes de 1950, sendo um deles anterior ao surgimento do Decreto-Lei n° 9053, de l2 de março de 1946, que “cria um Ginásio de Aplicaçao anexo às Faculdades de Filosofia do País”. Isto significa 2,5% do total existente.
 
De 1951 a 1961 constata-se a criação de oito (8) colégios, alcançando 20,5%, e de 1961 a 1971 foram criados mais dez (10), ou seja, 25,6% dos Colégios de Aplicaçao em funcionamento. Após 1971, foram criados dezenove (19) colégios, o que representa 48,7%. Da análise dos dados, verifica-se que a partir de 1961 é bem maior o número de Colégios deste gênero, com destaque nas redes federal e particular de ensino. Data desta época a criação do único Colégio da rede municipal constante desta pesquisa. Dos onze Colégios de Aplicaçao vinculados à rede federal de ensino, apenas dois (2) oferecem o Ensino Pré-Escolar (l8,2%) e dois (2), num percentual de 18,2%, o Ensino de 1° grau parcial (5ª a 8ª séries); 64%, representados por sete (7) Colégios, atendem alunos de sete (7) a catorze (14) anos, faixa da obrigatoriedade escolar, abrigando uma clientela de sete mil, cento e vinte e oito (7. l28) alunos. Os cinco (5) Colégios de Aplicaçao em funcionamento na rede estadual de ensino, ou seja, com dados estatísticos de 13% do universo empírico da pesquisa foram criados a partir de 1951. Nesta rede de ensino é atendida uma clientela de dois mil, oitocentos e trinta e oito (2.838) alunos no Ensino de 1º grau e de dois mil cento e cinquenta e oito (2. l58) alunos no Ensino de 2º  grau. No que concerne ã profissionalização, no Ensino de 2º grau as habilitações mais oferecidas nesta rede de ensino são as Técnicas em E1etrônica, Análises Químicas e Agricultura.       
Na realização da pesquisa foram previstos dois momentos distintos de operacionalização: um primeiro, para a identificação das Instituições de Ensino Superior (IES) com Colégio de Aplicação em funcionamento, e um segundo, visando a atingir especificamente estas IES. Neste sentido, foram elaborados dois instrumentos, que depois de submetidos a teste, foram encaminhados para a coleta de dados. O primeiro método foi através de um Roteiro de Informações remetido a quatrocentas e cinquenta e quatro (454) IES com seus cursos de Licenciatura e Educação. As IES que não dispunham de Colégio de Aplicação em funcionamento deveriam explicitar as razoes. Numa terceira etapa, em março de l985, já de posse dos dados estatísticos coletados que informavam quantas e quais IES mantinham Colégio de Aplicação, procedeu-se ã remessa do segundo instrumento. Como a devolução do questionário não aconteceu de maneira satisfatória, reiteradas vezes foi solicitada a colaboração das IES, justificando-se a importância da remessa do instrumento devidamente preenchido.

Em outubro de 1985 durante a realização do I Encontro Nacional de Professores de Colégios de Aplicação, em Florianópolis, o contato foi realizado pessoalmente com algumas IES. Como resultado do apelo feito durante aquele evento, retornaram alguns instrumentos convenientemente preenchidos. Porém o número de respostas ainda não satisfazia, por ser pouco representativo. Foi então que, em abril de 1986, seguiu para aquelas uma nova correspondência, agora assinada pelo Pró-Reitor de Ensino, reiterando a importância da colaboração de cada IES. Para esta etapa foi dado um prazo final de vinte (20) dias. Não sendo ainda atingido o objetivo, foram também enviados telex assinados pelo Pró-Reitor de Graduação de Ensino. Como último prazo para a devolução, ficou estabelecido o final do mês de maio de 1986. Todas as informações “colhidas” durante a execução da pesquisa propiciaram o estudo aprofundado sobre Colégio de Aplicação a que este trabalho se propôs, em termos de objetivos gerais. Com base nos dados, procedeu-se a uma análise descritiva de como vem se desempenhando o Colégio de Aplicação, órgão integrante da estrutura universitária brasileira.
O Decreto-Lei n° 9.053, de 12 de março de 1946 instituiu o Ginásio de Aplicação. Com este dispositivo legal, ficou estabelecido que todas as Faculdades Federais de Filosofia, reconhecidas ou autorizadas a funcionar no território nacional, deveriam manter um Ginásio de Aplicaçao destinado à prática docente dos alunos matriculados no Curso de Didática. Como a idéia era nova e o tempo disponível era curto para que as Faculdades de Filosofia criassem o Colégio de Aplicação, decidiram os estudiosos do problema que primeiro se criaria o Ginásio. A importância da criação do Ginásio de Aplicaçao estava diretamente relacionada â eficiência da formação profissional. Defendia-se a idéia de que a didática devesse ser trabalhada “ao vivo”, sob a forma técnica de Prática de Ensino. Esta deveria acontecer sob a responsabilidade de uma instituição ligada à Faculdade de Filosofia, de onde receberia influência da cultura, do material didático e de seu equipamento, considerando-se, para isto, relevante a flexibilidade experimental. Era preciso proporcionar-lhe organização, de acordo com as exigências pedagógicas, para que realmente pudesse funcionar como “escola-modelo” na Faculdade de Filosofia, mas que precariamente  não vinham sendo ministradas de acordo com o dispositivo legal em vigor.
       De acordo com a pesquisadora (Sena, 1987: 15 e ss.), o Colégio de Aplicação, dentro da Universidade, constituiu-se, na escola-laboratório, preferencial centro ativo de investigações e irradiador de conhecimentos inovadores para solução dos problemas emergentes. Sua integração com outras unidades da estrutura universitária e condição que não  exime da responsabilidade de oferecer campo de pesquisa para tantos quantos o procurem. Neste sentido, em outubro de 1985, realizou-se na Universidade Federal de Santa Catarina o referido encontro de  professores de Colégios de Aplicação. A programação deste evento versou sobre a problemática do Colégio de Aplicaçao e sua inserção na Universidade, pretendendo questionar: a) Como a escola viabiliza o desempenhar-se como Colégio de Aplicação?; b) Que caminhos foram percorridos para ser uma escola experimental?; c) Quais as dificuldades enfrentadas para atingir os objetivos?; d) Como se fez e em que contexto se concretiza a relação com a Universidade? Contudo, os professores dos diversos Colégios de Aplicação presentes ao Encontro demonstraram sua preocupação face ã precariedade em que se encontra o Ensino de 1° e 2° graus no país, hic et nunc e a responsabilidade destes Colégios, propriamente dita, por se tratarem de escolas públicas responsáveis pelo estímulo à melhoria da qualidade do ensino.
O Colégio de Aplicação é uma escola criada com características sociais e filosofia que o tornam diferente das escolas públicas. A sua filosofia está diretamente relacionada à função de resgate da escola, como local de transmissão e produção crítica de saber que dê condições e habilite o educando a uma prática social transformadora. Manter esta característica filosófica implica na criação ou, até mesmo, no resgate da relação pedagógica entre o. Colégio de Aplicação e o Centro de Educação ou Faculdade de Educação. O Colégio de Aplicaçao precisa assumir efetivamente seu papel na produção teórico-prática do ensino de 1º e 2º graus, integrando a universidade pública Universidade e Sistema de Ensino. Esta preocupação, segundo Sena (1987) com o conceito e o destino do Colégio de Aplicação constou da pauta de reuniões do 1º Encontro Nacional de Colégios de Aplicação, em Belo Horizonte (1977). No evento defendeu-se a necessidade da Universidade manter um Colégio de Aplicação como campo de pesquisa e experimentação de ensino e aprendizagem, comprovada que nas diferentes áreas do saber cada vez mais se torna presente a exigência do Laboratório. A atualização das funções do laboratório reforça a estreita vinculação com o Centro ou Faculdade de Educação para planejar, experimentar e avaliar continuamente o processo formativo do aluno, do professor ou do especialista. 


Colégio de Aplicação da UERJ.
A real função do Colégio de Aplicação o destaca como polo de irradiação das experiências educacionais, proporcionando crescimento e participação ampla e efetiva em atividades educacionais da comunidade. Outro fator social, diretamente implicado na implementação da filosofia de funcionamento do Colégio de Aplicaçao é a função administrativa. O administrador desta escola será o agente propiciador do clima organizacional necessário, no sentido de que o Colégio de Aplicação seja um conjunto organizado, onde as diferentes forças atuantes sejam ordenadas e controladas de forma a permitir o alcance das finalidades pretendidas. A administração da escola laboratório esta intimamente relacionada ãs demais funções, constituindo-se num meio necessário ã realização de seus propósitos. Um dos objetivos do Colégio de Aplicaçao, de acordo com a filosofia que norteia todo o seu funcionamento, é a integração da Universidade com o Ensino de 1º e 2º graus. Isto nada mais é do que integrar a Universidade com a Comunidade. A universidade e os sistemas de ensino, integrados, realizam a identificação dos problemas e necessidades de interesse comum, com vistas a um plano de ação conjunta, cuja continuidade evitará a ruptura do processo educacional.
Segundo a análise concreta de Sena (1987) a prática de ensino e o estágio supervisionado no Colégio de Aplicação têm implicação no desempenho do seu papel fundamental, relacionando teoria e prática e estimulando um maior envolvimento dos professores do Centro ou Faculdade de Educação. Desta forma, o Centro ou Faculdade de Educação deixará de exercer funções meramente complementares em relação às diversas licenciaturas como tem sido recorrente. E a Universidade, voltada para o exercício do papel integrador, trabalhará intimamente associada ao Sistema Estadual de Ensino, no que se refere às diretrizes e à Operacionalização do Ensino. Nesta integraçao da Universidade com o Ensino de 1º e 2º graus, o Colégio de Aplicação será para a comunidade de forma complementar constituindo um núcleo efetivo de orientação e de renovação da prática educativa. No III Encontro de Colégios de Aplicação, realizado em Porto Alegre (1979), este tipo de escola foi considerado um “componente expressivo da Universidade”, cuja relevância está na intercomplementação e atualização de suas funções na medida da ação universitária. O seu significado no processo de investigação reside na correspondência com a própria essência factual da Universidade.
A partir destes pressupostos se depreende que está definido o papel que cabe ao Colégio de Aplicação, como elemento mediador da prática social e polo de reflexão e crítica dos problemas e conflitos emergentes na sociedade, responsável por mudanças estruturais e inovações técnicas que visem ã melhoria dos padrões educacionais. As inovações e a consequente melhoria do ensino são decorrências das experiências nele realizadas como escola-laboratório e a relação entre os resultados da pesquisa e sua difusão na comunidade. Ao Colégio de Aplicaçao ê inerente a função de renovação da estrutura e de funcionamento da Escola, tendo em vista as inovações e renovações na estrutura e funcionamento do Ensino, face ás necessidades e interesses da Universidade e da Comunidade a que serve a Escola. O isolamento e a falta de integração entre Universidades e Secretarias de Educação, de maneira geral, podem ser entendidos como um dos sérios problemas que comprometem a eficiência educativa de um e de outro. Estes fatos indicam a necessidade de novas tentativas de efetiva integração dos três graus de ensino a partir do estudo das condições que vêm impedindo aquela integração.
Enfatizar a integração desses três níveis ê estimular a renovação da ação pedagógica, visando ao aperfeiçoamento de recursos humanos, com a finalidade não só de obter um desempenho satisfatório na expansão do processo educativo, mas manter e aprimorar a qualidade do ensino ministrado. Esta ação conjunta se consubstancia na integraçao com a comunidade, considerando-se suas necessidades, realidades e aspirações, numa efetiva participação. Aqui se destaca o papel dos Colégios de Aplicação como laboratórios de ensino onde a finalidade não será apenas um padrão a ser seguido, mas, numa visão mais ampla, um teste dos modelos teóricos estudados. O Colégio de Aplicação estendendo suas pesquisas sobre a prática de ensino e o estágio supervisionado e respectivos resultados às demais escolas, estimulará o sistema estadual de ensino a proporcionar as condições mínimas necessárias para uma melhor qualidade do ensino sob sua responsabilidade social. Enquanto isto não ocorrer a Universidade continuará responsabilizada pelas deficiências constatadas no sistema de ensino em geral.

       Neste caso, a prática de ensino e o estágio supervisionado são diretamente implicados, o estagiário, pelo tempo reduzido do estágio e a falta de sequência nas atividades, não chega a ter uma visão mais ampla das possibilidades e alternativas de ensino. Com isto, poder-se-á contrariar a individualidade do aluno-mestre, dificultando, ou até mesmo impedindo, a busca de um estilo próprio de ensino. Os estágios supervisionados em escolas da comunidade viabilizam a prática do fazer, do pensar de cada escola e, consequentemente, impulsionam o crescimento horizontal e vertical das ações em desenvolvimento. O relacionamento então existente ê apenas rotineiro e impossibilita uma integração institucional adequada. Propiciar o contato com a realidade das escolas ê estimularem a existência de um campo cultural para a prática de estágio na rede oficial e a ação conjunta entre IES e o Sistema Estadual de Ensino. O Ensino Superior, como qualquer atividade educacional que se propõe ao crescimento científico. Deve preocupar-se com o intercâmbio, a integração com os diversos graus de ensino e a troca de experiências, visando ã melhoria da educação brasileira.
Para a pesquisadora quando os professores do Colégio de Aplicaçao são os responsáveis pela Didática, pela Metodologia e pela Prática de Ensino dos respectivos Departamentos, reforça-se a atuação conjunta do Centro ou Faculdade de Educação, o que ajuda a superação das dificuldades de articulação entre as unidades da Universidade como componentes de agência formadora de recursos humanos para o magistério. O Colégio de Aplicação, pelas suas características, ê uma escola de vidas proporcionadas em situação tal que dela se possa extrair todas as consequências educativas, .por meio da reflexão e da formulação do que assim for aprendido. É uma ótima maneira de se realizar na prática aquilo que se conhece na teoria. O administrador deste Colégio deve ser o maior colaborador da renovação pedagógica. Desta forma, favorecerá, por todos os meios, as condições necessárias ao melhor funcionamento do Colégio, em relação ao aspecto administrativo e técnico. A integração do Colégio de Aplicação na estrutura universitária deve acontecer logo, para que se possa tentar integrá-lo a comunidade. Para tanto, ë imprescindível a comunicação entre o Colégio e o Centro ou Faculdade de Educação e respectivos Departamentos, visando-se ã maior participação, no processo de renovação da metodologia com repercussões benéficas sobre todo o sistema de ensino.
Em 1970, foi criado o segundo ciclo do então Ensino Médio, respaldado na Resolução n° 34/69 do Reitor. Sua matricula inicial foi de trinta (30) alunos. Desta época em diante, passou-se a denominar este estabelecimento de ensino de Colégio de Aplicaçao. Com este fato novo, o funcionamento do Colégio tornou-se mais complexo, abrangendo, agora, o então segundo ciclo do Ensino Médio. Os professores do Centro de Educação deixaram de integrar o corpo docente do Colégio, como acontecia até então. Assim, teve início o processo de dissociação entre o Colégio de Aplicação e o Centro de Educação e vice-versa. Muito embora o Colégio de Aplicação seja legalmente um órgão do Centro de Educação (CE), com características e interesses especiais, o relacionamento entre eles é administrativo, conforme art. 4° do Regimento do Colégio de Aplicação: - “A Inspeção do Colégio de Aplicação compete ao Diretor do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina”. O artigo seguinte define as atribuições do Inspetor que, face às características da função, são administrativas.
Dentre elas, encontra-se como uma das atribuições da função: - “Decidir, em instância superior, sobre os assuntos administrativos relacionados com o Colégio de Aplicação”. Porém, quanto ao aspecto pedagógico, nada existe além do que estabelece o citado artigo 99 do Regimento Geral da Universidade Federal de Santa Catarina. O Colégio de Aplicação tem seu Regimento aprovado pela Portaria n° 87/81. Este documento prevê que é condição para ingresso na carreira de professor ser aprovado em concurso público de provas e títulos cabendo ao Diretor do Colégio solicitar a renovação ou não do contrato de trabalho ao Diretor do Centro de Educação. No que se refere ás atribuições do professor nada há explícito quanto ã experimentação e renovação pedagógicas, razão de ser do próprio Colégio. A direção do Colégio, de acordo com o que estabelece o respectivo Regimento, “caberá a um dos professores do Colégio, licenciado em Pedagogia com habilitação em Administração Escolar e experiência na função específica”. Na falta do elemento técnico devidamente credenciado, o Regimento da instituição prevê a indicação de um membro licenciado em Pedagogia, com experiência na função específica ou de professor do Colégio com curso de Licenciatura em Pedagogia.  O uso dos recursos pedagógicos do laboratório didático, no ambiente educacional, toma dimensões globais e se torna de extrema valia propedêutica e de orientação aos professores que utilizam as atividades experimentais em suas aulas.
 A discordância entre a importância dada pelos docentes e a pouca realização dessas atividades, na prática pedagógica, podem estar associadas à falta de clareza que ainda se tem quanto ao papel do laboratório no processo ensino-aprendizagem. O laboratório didático ajuda na interdisciplinaridade, que tem como conceito o que é comum a duas ou mais disciplinas,  e na transdisciplinaridade, uma corrente de pensamento mais aberta e que busca dar uma resposta ao método tradicional de divisão de disciplinas, já que permite desenvolver vários campos, testar hipóteses e comprovar diversos conceitos, favorecendo a capacidade de abstração do aluno. O todo, na forma em que aparece no espírito como todo-de-pensamento, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, de um modo que difere da apropriação  desse mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático. Antes como depois, lembrava Marx, o objeto real conserva sua independência fora do espírito; durante o tempo em que o espírito tiver uma atividade meramente especulativa, meramente teórica. Por consequência, também no emprego do método teórico é necessário que o objeto, a sociedade, esteja constantemente presente no espírito como dado primeiro. A abstração mais simples que exprime uma relação antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece no entanto sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade mais moderna. O trabalho demonstra com toda a evidência que até as categorias mais abstratas, precisamente por causa de sua natureza abstrata, para todas as épocas, não são sob a forma determinada desta mesma abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente válidas nestas condições sociais imediatas. 

Bibliografia geral consultada.

SENA, Guiomar Osório, O Colégio de Aplicação no Contexto das Universidades Brasileiras. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Centro de Ciências Humanas e da Educação. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1987; SILVA, Elizabeth Farias da, Ontogenia de uma Universidade/A Universidade Federal de Santa Catarina (1962-1980). Tese de Doutorado em Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000; GOHN, Maria da Gloria, “Educação não Formal, Participação da Sociedade Civil e Estruturas Colegiadas nas Escolas”. In: Ensaio: aval. pol. prob. Educ. Rio de Janeiro, vol. 14, nº 50, pp. 27-38, jan.-mar., 2006; TOSCANO, Kelly Cristina Ramos, As Transformações das Práticas em Educação Infantil no Período 1960-2000: Os Trabalhos dos Alunos, a Voz das Professoras e os Documentos Curriculares. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2006; ALMEIDA, Gisele Gomes, Sentidos Compartilhados sobre o Colégio de Aplicação da UFPE: Um Estudo com Pais e Estudantes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014; ENGERROFF, Ana Martina Baron, A Sociologia do Ensino Médio: A Produção de Sentido para a Disciplina através dos Livros Didáticos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2017; ARAÚJO, Luana Adriano, Os Desafios para a Efetivação do Direito à Educação Inclusiva: Igualdade, Diferença e Deficiência nas Escolas Públicas Municipais de Fortaleza (CE). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2018; MOTA, Maria Danielle Araújo, Laboratórios de Ciências/Biologia nas Escolas Públicas do Estado do Ceará (1997-2017): Realizações e Desafios. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019; SILVA, Carmem Lúcia Rosa, Percepção Ambiental dos Discentes e Docentes do Colégio de Aplicação de Boa Vista – Roraima quanto aos Aspectos e Problemas Geoambientais das Apps do Igarapé do Frasco. Tese de Doutorado em Geografia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019; GOMES, Luanna Priscila da Silva, Introdução à Álgebra nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Uma Análise a partir da Teoria da Objetivação. Tese de Doutorado em Educação. Centro de Educação. Nata: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,  2020; entre outros.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Madam Walker - Alisamento & Beleza Capilar Feminina.


Construí minha própria fábrica no meu próprio terreno”. Sarah Breedlove Walker

                      
         Sarah Breedlove (1867-1919) foi uma empreendedora, filantropa e ativista política. Ela é registrada como a primeira mulher negra que se tornou milionária nos Estados Unidos. Embora outras mulheres possam ter sido as primeiras, sua riqueza não é tão bem documentada.  Madam Walker fez sua fortuna desenvolvendo e comercializando uma linha de cosméticos e produtos para cabelos para mulheres negras através do negócio que ela fundou Madam C. J. Walker Manufacturing Company. Ela ficou reconhecida também por sua filantropia, além do ativismo. Ela fez doações financeiras para inúmeras organizações sociais e tornou-se patrona das artes. Villa Lewaro, a luxuosa propriedade de Walker em Irvington (NY), serviu como local de encontro social para a comunidade afro-americana representando suas contribuições culturais para a sociedade dos Estados Unidos, seja como parte distinta ou dominante da cultura americana. A identidade distinta da cultura afro-americana está baseada em preceitos históricos do povo afro-americano, incluindo o tráfico de escravos para o Atlântico. A cultura influencia a vocação dos norte-americanos. Com a morte, passa a ser considerada a empresária afroamericana mais rica e a mulher negra mais rica e autodefesa da América. Seu nome veio de seu terceiro marido, Charles Joseph Walker, que morreu em 1926.
            Sarah Breedlove nasceu em 23 de dezembro de 1867, perto de Delta, Luisiana, filha de Owen e Minerva. Era uma das seis crianças, que incluía uma irmã mais velha, Louvenia, e os irmãos Alexander, James, Solomon e Owen Jr. Os pais de Breedlove e seus irmãos mais velhos foram escravizados por Robert W. Burney em sua plantação da Paróquia de Madison. Sarah foi a primeira filha da família nascida em liberdade após a assinatura da Proclamação de Emancipação. Sua mãe morreu em 1872, provavelmente por cólera. O pai se casou novamente, mas ele morreu um ano depois.  Órfã aos sete anos, Sarah mudou-se para Vicksburg, uma cidade localizada no estado de Mississippi, no Condado de Warren, fundado em 1809 e recebeu o seu nome em homenagem a Joseph Warren (1741-1775), revolucionário da Guerra da Independência dos Estados Unidos, morando aos 10 anos, com sua irmã mais velha, Louvenia, e o cunhado Jesse Powell. Sarah começou a trabalhar ainda criança como empregada doméstica. - “Tive pouca ou nenhuma oportunidade quando comecei na vida, tendo ficado órfã e sem mãe ou pai desde os sete anos de idade”. Ela também narra que tinha apenas três meses de educação formal, que aprendeu durante as aulas na escola dominical na Igreja Episcopal Metodista Africana que frequentou durante seus primeiros anos.

A historiadora Cassadra Pybus (2005) estimou que vinte mil escravos passaram para o lado dos britânicos, dos quais oito mil morreram de doenças, foram feridos ou recapturados pelos americanos. Os outros doze mil fugiram do país e buscaram refúgio no Canadá, Caribe ou até Londres. Alguns até foram reescravizados e mandados para as Índias Ocidentais britânicas. William Baller (2006) examinou dinâmicas familiares e a mobilização pela Revolução na região central de Massachusetts. Ele reportou que a guerra e a cultura de fazendeiros eram incompatíveis. Milicianos americanos vivendo e trabalhando em fazendas não se prepararam para operar máquinas de guerra, marchas ou o rigor da vida nos quartéis. Um individualismo inflexível entrou em conflito com a disciplina militar e com a regimentação. A ordem de nascimento dos homens na maioria das vezes influenciava em seu recrutamento militar, enquanto jovens iam para a guerra e os mais velhos ficavam nas fazendas. As responsabilidades familiares de uma pessoa e o prevalente patriarquismo poderia impedir a mobilização. Deveres com a colheita e emergências familiares forçavam homens a voltar para casa, independente se eram liberados ou não. Alguns parentes podiam também ser legalistas, o que criava tensões sociais e de gênero dentro das próprias famílias. Como um todo, alguns historiadores concluem que os efeitos da Revolução no patriarquismo e padrões de herança favoreceram o igualitarismo.

      O autor Michael A. McDonnell (2006) fala sobre grandes complicações na mobilização de tropas na Virgínia por causa do conflito de interesses das distintas classes sociais, o que tendeu a dividir o compromisso com a causa patriota. A Assembleia do estado tentava balancear as exigências da elite rica de fazendeiros (que possuíam muitos escravos), os pequenos proprietários rurais (com alguns que também possuíam escravos) e os sem-terra, além de outros grupos. A Assembleia adiou alistamentos, impostos, serviço militar e conscrições para aliviar as tensões. O conflito de classes não resolvido, contudo, fez das leis menos eficientes. Havia mais protestos violentos, casos de evasões fiscais e muitas deserções, tornando a contribuição da Virgínia para a guerra ter sido bem pequena. Com a invasão britânica do estado em 1781, a Virgínia, que estava atolada em divisões de classe, tentou convocar tropas e implorou por auxílio. No fim deste ano boa parte das tropas inglesas na região já havia se rendido ou se retirado. O número total de mortos no conflito ainda é incerto. 

Como era comum em conflitos naquela época, doenças acabaram matando mais do que combates de fato. Entre 1775 e 1782, uma epidemia de varíola varreu a América do Norte, matando 130 000 pessoas durante o período da guerra. O historiador Joseph Ellis sugeriu que a decisão de Washington de inocular suas tropas contra a varíola foi uma das suas decisões mais importantes na guerra, pois salvou a vida de milhares de soldados. Pelo menos 25 mil combatentes americanos morreram durante a guerra. Cerca de 6 800 destes morreram em batalha, com outros dezessete mil morrendo devido a doenças, incluindo 8 a 12 mil que morreram de fome ou de enfermidades adquiridas em campos de prisioneiros (a maioria destes nos infames navios-prisão ingleses na costa de Nova Iorque). Outras estimativas afirmam que mais de setenta mil americanos morreram, o que se for verdade faz este conflito proporcionalmente mais sangrento do que a Guerra Civil Americana. A incerteza quanto ao real número de fatalidades vem da taxa de mortes por causa de doenças, que foi bem alta, sendo pelo menos dez mil apenas em 1776. O número de militares americanos seriamente feridos ou incapacitados varia de 8,5 a 25 mil. Proporcionalmente ao número de habitantes no país na época, a guerra revolucionária foi o segundo conflito mais sangrento da história militar da nação, à frente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e atrás a questão política da Guerra Civil.



                                      
               A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos da América inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e a origem de dois modelos econômicos opostos, mas não-antagônicos. O norte em expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o sul numa economia baseada na plantação e no escravismo. Durante a maioria do século XVII e parte do século XVIII, escravos do sexo masculino eram em maior número que escravas do sexo feminino, fazendo com que os dois grupos tivessem experiências distintas nas colônias. Vivendo e trabalhando em uma ampla variedade de circunstâncias e regiões, homens e mulheres afro-americanos tiveram experiências singulares no processo de escravidão. A grande hostilidade norte-americana em relação ao ex-escravo e sua condição de trabalhador livre já pode ser percebida nas leis das colônias e estados do norte e do sul dos Estados Unidos desde o século XVIII. Nenhum estado do sul, e apenas alguns do norte, permitia o voto de homens livres no século XIX. A maioria dos estados do norte e do sul proibia liberto(a)s de se casarem com branco(a)s e dissolvia qualquer tipo de organização negra que porventura surgisse. Além disso, todos os estados adotaram a regra de um quarto de sangue se um dos avós fosse negro ou mulato, a pessoa seria mulata, e todos os mulatos eram tratados da mesma forma que os negros. Homens livres não podiam testemunhar em processos judiciais envolvendo brancos. Eram punidos por atacar brancos, e em diversos tipos de crimes eram tratados como escravos e podiam ser chicoteados. Como os escravos a pena capital pelo estupro de mulher branca e não o contrário.

          A partir de 1700 e 1740, um número estimado de 43.000 escravos foi levado para a Virgínia e, a exceção de 4.000 escravos, que foram sequestrados diretamente da África. Pesquisas recentes sugerem que o número de mulheres e homens transportados neste período foi semelhante, incluindo um elevado número de filhos. Como a maioria dos escravos provinham da África Ocidental, suas culturas eram centrais historicamente desde meados ao fim do século XVIII da escravidão na Virgínia. Valores africanos foram predominantes e as culturas das mulheres da África Ocidental tinham fortes representações. Algumas representações culturais predominantes formavam os poderosos laços entre mãe e filho e entre as mulheres na comunidade feminina. Entre o grupo étnico Ibo da atual Nigéria, em particular, que incluía entre um terço e metade dos escravos no início do século XVIII, a autoridade feminina (a omu) “administrava sobre uma ampla variedade de questões importantes para as mulheres, em particular, e para a comunidade como um todo”. O descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens de direito paterno dos povos ditos civilizados, tem, para a história primitiva, a mesma importância que a teoria da evolução de Charles Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Karl Marx, para a concepção de economia política.
            O grupo étnico lbo representava  pessoas trazidas para a Chesapeake, que pode se referir a várias localidades nos Estados Unidos porém, em geral, os africanos vieram traficados de uma variada gama de culturas. Todos vieram de comunidades onde as mulheres eram fortes, e foram introduzidas sociedade patriarcal, violentamente racista e exploradora; homens brancos normalmente caracterizavam todas as mulheres negras como uma erotização sexual, visando justificar seu abuso sexual e miscigenação. O caráter capitalista da plantation escravista do sul, análogo aos estados do norte, era em certa medida uma contradição, mas em última instância, de oposição assimétrica no sentido formal marxista interno ao sistema econômico. Em sua complementaridade uma economia escravista tende a inibir o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como apontado, neste caso por Max Weber. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, no caso de Marx, presente no norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso, daí o binômio: produção-consumo. Norte e sul diferem-se na medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo com o retorno dos lucros à produção, e o sul, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em conta produtividade da mão-de-obra escrava. Quando Walker nasceu, em 1867, seus pais eram escravos emancipados que trabalhavam em uma plantação no Estado da Louisiana.  

             A Guerra Civil, que culminou com a abolição da escravidão nos Estados Unidos, havia terminado apenas dois anos antes. Ainda criança, ela também já trabalhava na mesma plantação de algodão. Aos sete anos de idade, órfã de pai e mãe, foi morar com a irmã e o cunhado. Casou-se aos 14, teve uma filha, A`Lelia Bundles, aos 17, e ficou viúva aos 20. Ela então se mudou com a filha pequena para St. Louis, no Estado de Missouri, onde trabalhava como lavadeira e cozinheira, ganhando US$ 1,50 (R$ 7,60) por dia. O segundo casamento acabou em divórcio. Nessa época, seu cabelo começou a cair. Segundo Bundles, sua trineta, muitos norte-americanos não tinham acesso a água corrente ou eletricidade na virada do século passado e, por isso, lavavam o cabelo com menos frequência, o que danificava o couro cabeludo e muitas vezes levava à queda dos cabelos. Em 1904, Walker descobriu um produto, a partir de suas experiências, para fazer os cabelos crescerem que foi inventado por outra pioneira da indústria cosmética para mulheres negras, Annie Turnbo Malone. Ela logo passou a trabalhar como vendedora dos produtos de Turnbo e mudou-se para Denver, onde se casou com o terceiro marido, Charles Joseph Walker.
Em 1882, aos 14 anos, Sarah casou-se com Moses McWilliams, para escapar dos abusos sexuais de seu cunhado, Jesse Powell. Sarah e Moses tiveram uma filha, A`Lelia Bundles Walker, nascida em 6 de junho de 1885. Durante a década de 1880, ela viveu em uma comunidade onde a música Ragtime foi desenvolvida, em Charleston, na Carolina do Sul, fiéis se reuniram às centenas para sua reabertura, com 400 pessoas no interior do templo não conseguiram conter as lágrimas durante a cerimônia, a primeira desde que Dylann Roof, 21 anos, entrou na igreja e abriu fogo depois de dizer que alvejaria os integrantes porque eram negros. Quando Moses morreu em 1887, Sarah tinha vinte anos e A`Lelia tinha apenas dois anos. Sarah se casou em 1894, mas deixou seu segundo marido, John Davis, em 1903. Ela se mudou para Denver, Colorado, em 1905, como uma das primeiras migrantes vindas do extremo sul para o oeste. Em janeiro de 1906, casou-se com Charles Joseph Walker, um publicitário do ramo de comunicações de jornais que  conhecera em St. Louis, Missouri, onde três de seus irmãos moravam.  
Lá encontrou trabalho como lavadeira, ganhando pouco mais de um dólar por dia. Ela estava determinada a ganhar dinheiro suficiente para fornecer à filha uma boa educação formal. Cantou na Igreja Episcopal Metodista Africana de São Paulo e começou a ansiar por uma vida educada enquanto observava a comunidade de mulheres em sua igreja. Através deste casamento, ela tornou-se reconhecida como Madam C. J. Walker. Mas divorciou em 1912, sendo que Charles Walker morreu em 1926. A'Lelia McWilliams adotou o sobrenome de seu padrasto, passando a ser reconhecida socialmente como A'Lelia Walker. Para o que nos interessa, como era comum entre as mulheres negras de seu tempo, Sarah sofreu caspa severa e outras doenças do couro cabeludo, incluindo calvície, devido a distúrbios da pele e à aplicação de produtos agressivos, como lixívia, que foram incluídos nos sabonetes para limpar os cabelos e lavar as roupas. Mas contribuíram para a perda de cabelo a dieta pobre, doenças e banhos e lavagens de cabelo pouco frequentes durante um período em que a maioria dos norte-americanos não possuía encanamento interno, aquecimento central e eletricidade.
Inicialmente, Sarah aprendeu cuidados com os cabelos com seus irmãos, que eram barbeiros em St. Louis. Na época da Louisiana Purchase Exposition em 1904, ela tornou-se agente de comissão de venda de produtos para Annie Malone, uma empresária afroamericana em cuidados com os cabelos, milionária e proprietária da Porto Company. As vendas da exposição foram uma decepção, pois a comunidade afroamericana foi amplamente ignorada. Enquanto trabalhava para Malone, que mais tarde se tornaria o maior rival de Walker na indústria de cuidados com os cabelos, Sarah começou a adquirir novos conhecimentos e a desenvolver sua própria linha de produtos. Em julho de 1905, quando tinha 37 anos, Sarah e sua filha se mudaram para Denver, Colorado, onde continuou a vender produtos para Malone e a desenvolver seu próprio negócio de cuidados com os cabelos. Uma controvérsia comercial se desenvolveu entre Annie Malone e Sarah porque Malone acusou Sarah de utilizar sua fórmula. Mas, em verdade, a mistura de vaselina e enxofre, para escabiose e acne é utilizado até 10% de enxofre em cremes para uso tópico que estava em uso havia cem anos. Os surtos epidêmicos realizam-se a cada período entre 15-30 anos dependem de fatores diversos como a imunidade individual, condições de vida, hábitos higiênicos, migrações e aglomerados habitacionais.
           Após o casamento com Charles Walker, em 1906, Sarah ganhou reconhecimento como Madam C. J. Walker. Ela comercializou como uma cabeleireira independente e varejista de cremes cosméticos. Madam foi expressão adotada por mulheres pioneiras na indústria da beleza francesa. Seu marido, que também era seu parceiro de negócios, prestou consultoria em publicidade e promoção. A grande jogada comercial, no entanto, é que Sarah vendeu seus produtos de porta em porta, ensinando a técnica capilar de utilização dos produtos às outras “mulheres negras a cuidar e pentear seus cabelos”. Em 1906, Walker colocou a filha no comando da operação de pedidos por correio em Denver, enquanto ela e o marido viajavam pelo sul e leste dos Estados Unidos para expandir os negócios. Em 1908, Walker e seu marido se mudaram para Pittsburgh, Pensilvânia, onde eles abriram um salão de beleza e fundaram o Lelia College para treinar “culturistas de cabelos”, pois o tempo social em que uma mulher precisa investir para manter o cabelo longo e bem cuidado, acaba  privando-a de investir em si mesma, e usar seu tempo disponível para o desenvolvimento pessoal e, sobretudo, para atividades sociais em busca do lazer. Como defensora da independência econômica das mulheres negras, ela abriu estimulando programas de treinamento padronizado no Sistema Walker em rede nacional de agentes de vendas licenciados que receberam comissão saudável.   
A revolução técnica capilar do ponto de vista do método de trabalho e produção ocorreu em 1910, quando Walker mudou seus negócios capilares para Indianápolis, onde estabeleceu a sede da Madam C. J. Walker Manufacturing Company. Ela investiu na compra de uma casa e fábrica 640 North West Street. Mais tarde, construiu uma fábrica, um salão de cabeleireiro e uma escola de beleza para treinar seus agentes de vendas e adicionou um laboratório de cooperação na pesquisa & desenvolvimento. Ela também reuniu uma equipe competente que incluía Freeman Ransom, Robert Lee Brokenburr, Alice Kelly e Marjorie Joyner, entre outros, para o gerenciamento da empresa em franco crescimento. Muitos dos funcionários de sua empresa eram mulheres, incluindo aqueles em cargos importantes de gerência e de cooperação. Para aumentar a dinâmica de vendas de sua empresa, Walker treinou outras mulheres para se transformarem em “culturistas de beleza” usando o Sistema Walker, seu “método de preparação que foi projetado para promover o crescimento do cabelo e condicionar o couro cabeludo através do uso de seus produtos”. O sistema de trabalho de Walker incluía um xampu, uma pomada  para o cabelo crescer, escovação e aplicação de pentes de ferro no pelo, para “tornar os cabelos sem brilho e quebradiços macios e luxuosos”. Entre 1911 e o final da guerra mundial em 1919, durante o período de desenvolvimento e auge de sua carreira industrial,  suas empresas empregaram milhares de mulheres como agentes de comercialização no mercado de vendas de produtos.    
Em 1917, a empresa alegou ter treinado quase 20.000 mulheres. Vestindo um uniforme característico de camisas brancas e saias pretas e carregando sacolas pretas, eles visitaram casas nos Estados Unidos da América e Caribe oferecendo pomada para cabelos de Walker e outros produtos embalados em recipientes de estanho com sua imagem. Walker entendeu e tornou standard o poder da publicidade e do reconhecimento da marca. A publicidade eficaz, principalmente nos jornais e revistas afro-americanos, além das frequentes viagens de Walker para promover seus produtos, ajudou-a tornar seus produtos reconhecidos nos Estados Unidos. O nome de Walker ficou ainda mais conhecido na década de 1920, após sua morte, quando o mercado de negócios de sua empresa se expandiu além dos Estados Unidos para Cuba, Jamaica, Haiti, Panamá e Costa Rica. Enfim, Walker possuía vários carros, em função do apogeu do no âmbiro do processo de trabalho fordista incluindo um Ford Modelo T e um Waverly, um carro elétrico fabricado em Indianápolis, não muito longe de sua casa. Embora tivesse um motorista particular em período integral, ela preferia dirigir o seu belo Waverly para excursões pessoais. Eram comercializados para mulheres, neste caso, especialmente mulheres ricas, como uma alternativa mais elegante a automóveis mais barulhentos a gasolina.  

Vale lembrar que Ângela Yvonne Davis, nascida em Birmingham, 26 de janeiro de 1944 foi professora e filósofa socialista estado-unidense que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos. Através do grupo Panteras Negras, por sua militância pelos direitos civis das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos da América. E, particularmente, por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história norte-americana. Ângela Davis nasceu no estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Leitora voraz quando criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país. Sendo selecionada com bolsa de estudos que a levou a estudar no Greenwich Village, em Nova Iorque, onde travou conhecimento com o comunismo e o socialismo teórico, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens estudantes. Na década de 1960, Ângela tornou-se militante do partido e participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade norte-americana, primeiro, como filiada à SNCC de Stokely Standiford Churchill Carmichael (1941-1998) e depois de movimentos sociais e organizações políticas como o Black Power e Panteras Negras que não trataremos agora.

Desnecessário dizer que Stokely Carmichael foi um dos pilotos de liberdade originais do SNCC de 1961 sob a liderança de Diane Nash. Ele se tornou um grande ativista dos direitos de voto no Mississippi e no Alabama depois de ser orientado por Ella Baker e Bob Moses. Como a maioria dos jovens do SNCC, ele ficou desiludido com o sistema bipartidário depois que a Convenção Nacional Democrata de 1964 não reconheceu o Partido Democrático da Liberdade do Mississippi como delegados oficiais do estado. Carmichael finalmente decidiu desenvolver organizações políticas independentes totalmente negras, como a  Organização da Liberdade do Condado de Lowndes e, por um tempo, o Partido Nacional dos Panteras Negras. Inspirado pelo exemplo de Malcolm X , ele articulou uma filosofia do Black Power e a popularizou tanto por meio de discursos provocativos quanto de escritos mais sóbrios. Carmichael tornou-se um dos líderes negros mais populares e controversos do final dos anos 1960. John Edgar Hoover (1895-1972), diretor do FBI, secretamente identificou Carmichael como o homem com maior probabilidade de suceder Malcolm X como o “messias negro” da América. O FBI o alvejou por atividade de contra-inteligência através de seu programa COINTELPRO, então Carmichael se mudou para a África em 1968. Ele se restabeleceu em Gana e depois na Guiné em 1969. Lá, ele adotou o nome de Kwame Ture e começou a fazer campanha internacionalmente pelo pan-africanismo socialista revolucionárioNascido em Trinidad, e nos Estados Unidos desde os 11 anos ativista enquanto frequentava a Bronx High School of ScienceTure morreu de câncer de próstata em 1998, aos 57 anos.

  O feminismo negro começa a ganhar visibilidade mundial a partir da segunda “onda do feminismo”, instalada entre 1960 e 1980, por conta da fundação da National Black Feminist, nos Estados Unidos, em 1973. Surge no final do conflito armado segundo os vietnamitas, intitulado: “Guerra Americana”,  ocorrido no Sudeste Asiático entre 1955 e 30 de abril de 1975. Notadamente, porque feministas negras passaram a escrever sobre o tema, criando uma literatura “feminista negra” universal. Porém, historicamente, mulheres negras já desafiavam o sujeito mulher determinado pelo feminismo num mundo masculino ainda ressentido pelas formas de opressão e dominação em mulheres. Duas questões pontuais me fazem refletir sobre a cisão das mulheres negras com o movimento feminista: a) Por deterem o domínio racial e contarem com maior número de lideranças consolidadas, as feministas em geral resistem às questões das mulheres negras, em particular; b) Supondo que passam pelos mesmos problemas e desejam  quase as mesmas coisas, o feminismo não atenta para as especificidades de cada grupo feminino e acaba atuando sob omissão. Muitas vezes deliberada sobre as necessidades das mulheres negras, sem que seja feita uma análise histórica e crítica do racismo brasileiro, levando em conta os aspectos culturais regional, nacional e global.   
   À medida que a riqueza e a notoriedade de Walker aumentavam, ela promoveu uma espécie embrionária de “populismo negro” mais vocal sobre suas opiniões. Em 1912, Walker se dirigiu a uma reunião anual da Liga Nacional de Negócios Negros (NNBL) do centro de convenções, onde declarou: - “Sou uma mulher que veio dos campos de algodão do Sul. De lá fui promovida à banheira. De lá, fui promovida à cozinha de cozinheiro. E, a partir daí, fui promovida ao ramo de fabricação de produtos para cabelos e preparações. Construí minha própria fábrica no meu próprio terreno”. No ano seguinte, ela se dirigiu aos participantes do pódio como oradora principal. Ela ajudou a levantar fundos para estabelecer uma filial da YMCA na comunidade negra de Indianápolis, comprometendo US $ 1.000 ao fundo de construção da YMCA da Avenida do Senado. E também contribuiu com fundos de bolsas para o Instituto de Tuskegee, a Casa Flanner de Indianápolis e a Igreja Episcopal Metodista Africana de Bethel, a escola industrial e educacional de Mary McLeod Bethune para meninas negras que mais tarde se tornou a Universidade de Bethune-Cookman em Daytona Beach, Flórida, o Instituto Memorial Palmer, na Carolina do Norte; e o Instituto Industrial e Normal Haines, na Geórgia. Walker também se tornou uma “patrona das artes”.
  Por volta de 1913, a filha de Walker, A`Lelia, mudou-se para uma nova casa no Harlem e, em 1916, Walker se juntou a ela em Nova Iorque, deixando o dia-a-dia da empresa para a equipe de gerenciamento em Indianápolis. Em 1917, Walker contratou Vertner Tandy, o primeiro arquiteto negro licenciado na cidade de Nova Iorque e membro fundador da fraternidade Alpha Phi Alpha, para projetar sua casa em Irvington-on-Hudson, Nova Iorque. Walker pretendia que Villa Lewaro, que custou US$ 250.000 para construir, se tornasse um local de encontro para líderes comunitários e inspirasse outros afro-americanos a perseguir seus sonhos. Ela se mudou para a casa em maio de 1918 e organizou um evento de abertura para homenagear Emmett Jay Scott, o então Secretário Assistente de Assuntos Negros do Departamento de Guerra dos Estados Unidos da América. Proporcionalmente Madam Walker tornou-se mais envolvida socialmente em questões políticas após sua mudança para Nova Iorque. Ela deu palestras sobre questões políticas, econômicas e sociais em convenções patrocinadas por poderosas instituições políticas negras.           
   Entre seus amigos e associados estavam Booker T. Washington, Mary McLeod Bethune e W. E. B. Du Bois. Durante a 1ª guerra mundial (1914-18), Walker foi uma líder no Círculo de Ajuda à Guerra do Negro e defendeu o estabelecimento de um campo de treinamento para oficiais do exército negro. Em 1917, ingressou no comitê executivo do capítulo de Nova Iorque da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), que organizou a Parada do Protesto Silencioso na 5ª Avenida de Nova Iorque. A manifestação pública atraiu mais de 8.000 afro-americanos para “protestar contra uma revolta no leste de Saint Louis que matou 39 afro-americanos”. Os lucros de seus negócios impactaram significativamente as contribuições de Walker aos seus interesses políticos e filantrópicos. Em 1918, a Associação Nacional de Clubes de Mulheres de Cor (NACWC) honrou Walker para fazer a maior contribuição individual para ajudar a preservar casa Anacostia de Frederick Douglass. Antes de sua morte em 1919, Walker prometeu US$ 5.000 ao fundo anti-linchamento da NAACP. Naquela conjuntura, era o maior presente de um indivíduo que a NAACP já havia recebido. Walker entregou quase US$ 100.000 a orfanatos, instituições e indivíduos; ela direcionará dois terços dos lucros líquidos futuros de seus bens para caridade. Walker morreu em 25 de maio de 1919, por insuficiência renal e complicações da hipertensão, aos 51 anos. Os restos mortais de Walker estão enterrados no cemitério de Woodlawn, no Bronx, Nova Iorque. No momento de sua morte, Madam Walker era considerada a mulher afroamericana mais rica economicamente dos Estados Unidos da América.

De acordo com o obituário de Walker no The New York Times, “ela disse a si mesma há dois anos [em 1917] que ainda não era milionária, mas esperava que fosse algum tempo, não que quisesse o dinheiro para si mesma, mas para o bem que poderia fazer com isso”. O obituário também observou que, no mesmo ano, sua mansão de US$ 250.000 foi concluída nas margens do Hudson em Irvington. Sua filha, A'Lelia Walker, tornou-se presidente da Madam C. J. Walker Manufacturing Company. O prédio da sede da Walker em Indianápolis, renomeado Madame Walker Theatre Center, inaugurado em  1927, incluía os escritórios e a fábrica da empresa, além de teatro, escola de beleza, cabeleireiro e barbearia, restaurante, farmácia e salão de baile para a comunidade negra. O edifício foi listado no Registro Nacional de Lugares Históricos em 1980. Madam Walker é apresentada no documentário de Stanley Nelson, Dois Dólares e um Sonho (1987), o primeiro tratamento cinematográfico da vida de Walker. Como neto de Freeman B. Ransom, advogado de Madam Walker e gerente geral da Walker Company, Nelson teve acesso aos registros comerciais originais da Walker e ex-funcionários da Walker Company que ele entrevistou durante os anos 1980. Em 2006, a dramaturga Regina Taylor escreveu Os Sonhos de Sarah Breedlove, narrando a história das lutas e de seu sucesso. 
  A peça estreou no Teatro Goodman em Chicago. Em 4 de março de 2016, a Sundial Brands, uma empresa de cuidados com a pele e cabelos, lançou uma colaboração comercial com a Sephora em homenagem ao legado de Madam Walker. O lançamento fílmico da história social de Walker, intitulado Madam C. J. Walker Beauty Culture compreendeu quatro coleções e seu escopo foi o uso de ingredientes naturais para cuidar de diferentes tipos de cabelo negro. A atriz L. Scott Caldwell fez o papel principal. Madam Walker também é apresentada no documentário de 2019 da Bayer Mack, No Lye: An American Beauty Story (2019), que narra a ascensão e o declínio da indústria de beleza étnica de propriedade dos negros. indústria da beleza étnica começa com o desejo dos afro-americanos (as) por alisadores de cabelo e clareadores de pele na chamada “era da reconstrução” após a escravidão. Na década de 1960, a venda de produtos comerciais para saúde e beleza para negros floresceu em um negócio multimilionário que foi fortemente influenciado pelo movimento social dos direitos civis. Uma década depois, estilos de cabelo inovadores e produtos cosméticos transformaram o mercado em uma indústria de bilhões de dólares. Os fabricantes de produtos de beleza afro-americanos logo começaram a enfrentar a concorrência hostil de grandes corporações não negras. Este documentário detalha sua luta para controlar a indústria e analisa o impacto da cultura popular nos padrões étnicos de beleza na América. O filme resgata o perfil de pioneiros da indústria da beleza étnica, incluindo Annie Malone, Madam CJ Walker, Samuel B. Fuller, John H. Johnson, George E. Johnson Sênior, Cormer Cotrell, Soft Sheen Products, Bronner Bros., Willie Morrow, Black Entertainment Television e Revista Essence.

Bibliografia geral consultada.
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