“A excelência física vem da excelência mental”. Clara Hughes
As
terras ocupadas pelo Canadá são habitadas há milênios por diferentes grupos
humanos de povos aborígines. Começando no fim do século XV, expedições
britânicas, portuguesas e francesas exploraram e, mais tarde, se estabeleceram
ao longo da costa Atlântica do país. A França cedeu quase todas as suas
colônias na América do Norte em 1763 depois da Guerra dos Sete Anos. Em
1867, com a união de três colônias britânicas da América do Norte em uma
confederação, o Canadá foi formado como um domínio federal de quatro
províncias. Isto começou com um acréscimo de províncias e territórios e com um
processo de aumento de autonomia do Reino Unido. Esta ampliação de autonomia
foi salientada pelo Estatuto de Westminster de 1931 e culminou no Canada
Act de 1982, que “eliminou os vestígios de dependência jurídica do
Parlamento Britânico”. O Canadá representa uma federação composta por dez
províncias e três territórios, uma democracia parlamentar e uma monarquia
constitucional, com o rei Carlos III como chefe de Estado que é um símbolo dos
laços históricos do Canadá com o Reino Unido, o governo dirigido por um
primeiro-ministro, cargo ocupado atualmente.
É
um país bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como
línguas oficiais. Um dos países mais
desenvolvidos do mundo, o Canadá tem uma economia diversificada, dependente dos
seus abundantes recursos naturais e do comércio, particularmente com os Estados
Unidos, país com que o Canadá tem um relacionamento longo e complexo. É um membro
do Grupo dos Sete (G7) é o grupo dos países mais industrializados do mundo,
composto por: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino
Unido, embora a União Europeia também esteja representada. Esses países são as
sete economias mais avançadas do mundo, de acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI), os quais representam mais de 64% da riqueza líquida
global, equivalente a 263 trilhões de dólares estadunidenses. A grande riqueza
líquida nacional e índice de desenvolvimento humano (IDH) extremamente elevado
são algumas das principais características dos membros deste grupo. Eles também
representam 46% do produto interno bruto (PIB) global avaliado as taxas de câmbio
do mercado e 32% da paridade do poder de compra (PPC) global. Em março de 2014,
a Rússia foi expulsa do grupo após ter anexado a Crimeia ao seu território, e
assim o grupo passou a ter sete integrantes (G7) novamente.
O G20 ou Grupo dos 20 representa um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia. Foi criado em 1999, após as sucessivas crises financeiras da década de 1990. Visa favorecer a negociação internacional, integrando o princípio de um diálogo ampliado, levando em conta o peso econômico crescente de alguns países, que, juntos, representam 90% do PIB mundial, 80% do comércio mundial, incluindo o comércio intra-União Europeia e dois terços da população mundial. O peso econômico e a representatividade do G-20 conferem-lhe significativa influência sobre a gestão do sistema financeiro e da economia global. O G-20 estuda, analisa e promove a discussão entre os países mais ricos e os emergentes sobre questões políticas relacionadas com a promoção da estabilidade financeira internacional e encaminha as questões que estão além das responsabilidades individuais de qualquer organização. Com o crescimento da importância do G-20 a partir da reunião de 2008, em Washington, e diante da crise econômica mundial, os líderes participantes anunciaram, em 25 de setembro de 2009, que o G-20 seria o novo conselho internacional permanente de cooperação econômica, eclipsando o G8, constituído pelas sete economias mais industrializadas e a Rússia.
A
partir da 18ª cúpula realizada em Nova Deli em 2023, a União Africana entra
para a organização como membro permanente, da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN),
da OCDE, da OMC, da Comunidade das Nações, da Francofonia, da Organização dos Estados
Americanos, da APEC e das Nações Unidas. Existem várias teorias sociais quanto
à origem etimológica da palavra Canadá. O Dictionary of Canadianisms on
Historical Principles Online considera que a etimologia da palavra Canadá não
se encontra claramente estabelecida e apresenta uma extensa lista com várias
teorias que foram apresentadas no decorrer do processo civilizatório. A teoria
com mais aceitação talvez seja a de que a origem do nome Canadá venha da
palavra iroquesa chamada kanata, que significa “aldeia” ou “povoado”. Em
1535, nativos norte-americanos vivendo na região utilizaram a palavra para
explicar ao explorador francês Jacques Cartier o caminho para a aldeia de
Stadacona, que se encontra a cidade Quebec.
O
corpo, notoriamente, percorre a história da ciência e da filosofia. De
Platão a Henri Bergson, passando por René Descartes, Baruch de Espinosa, Maurice
Merleau- Ponty, Sigmund Freud, Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Max Weber e
principalmente Michel Foucault, a definição de corpo demonstra um puzzle. Quase
todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes, que define o corpo
como uma substância extensa em oposição à substância pensante. Podemos perceber
que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade,
o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O corpo foi pensado como um
mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens
desta “máquina” promovendo o seu bom funcionamento. Isto quer dizer que através
dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o
lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se
pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem
definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz
e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do sujeito moral. E,
finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e sempre definido pela soberania
do indivíduo sobre si mesmo. Michel Foucault (2014) nos adverte sobre a questão abstrata
da analítica do poder que se constitui o marco histórico e pontual de
“docilidade dos corpos”.
Para
ele o soldado é, antes de tudo, alguém que se reconhece de longe; que leva os
sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas também de seu orgulho:
seu corpo é o brasão de sua força e de sua valentia: e se é verdade que deve
aprender aos poucos o ofício das armas – essencialmente lutando – as manobras
como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de
uma retórica corporal de honra. Eis como ainda no início do século XVIII se
descrevia a figura ideal do soldado. Mas na segunda metade deste século, o
soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo
inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as
posturas: lentamente uma coação calculada percorrer cada parte do corpo,
assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se
prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos; em resumo, foi “expulso o
camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de soldado”. Ipso facto, houve,
durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder.
Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo
que se manipula, modela-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou
cujas forças multiplicam o “homem-máquina”.
O
grande livro do homem-máquina foi descrito simultaneamente em dois registros:
no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas por
Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro, técnico-político,
constituído por um conjunto de regulamentos militares, escolares, hospitalares
e por processo empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações
do corpo. Dois registros bem distintos, pois se tratava ora de submissão e
utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo útil, corpo
inteligível. E, entretanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O
homem-máquina” de Julien Offray La Metrie (1709-1751) é ao mesmo tempo uma
redução da alma e uma teoria geral do adestramento, no centro dos quais
reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável o corpo manipulável.
Em sua significação específica é dócil um corpo que pode ser submetido, que
pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. Os famosos
autômatos, por seu lado, não eram apenas uma maneira de ilustrar o organismo;
eram também bonecos políticos, modelos reduzidos de poder: obsessão de
Frederico II, rei minucioso das pequenas máquinas, dos regimentos bem treinados
e longos exercícios.
Para
Foucault metodologicamente a questão a responder é a seguinte: Nesses esquemas
de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão
novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos
tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no
interior de poderes mito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou
obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas nessas técnicas. A escala, em
primeiro lugar, do controle; não se trata de cuidar do corpo, massa, grosso
modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalha-lo
detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao
mesmo nível prático da mecânica – movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder
infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou
mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas
a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz
mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente
importa é a do exercício. A modalidade, enfim, implica uma coerção
ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que
sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha
ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos.
Esses
métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que
realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar disciplinas. Muitos processos
disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas
oficinas também. Mas as disciplinas historicamente se tornaram no decorrer dos
séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. Isto é, diferentes da escravidão,
pois não se fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a
elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo
efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes. Mas também ocorre que são
diferentes também da domesticidade, que é uma relação social de
dominação constante, global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida
sob a forma de vontade de poder singular do patrão, sendo quase seu “capricho”.
Diferentes da vassalidade que é uma relação de submissão altamente
codificada, mas longínqua e que se realiza menos sobre as operações do corpo
que sobre os produtos do trabalho e as marcas rituais de obediência. Diferentes
do ascetismo e das “disciplinas” de tipo monástico, que têm
por função realizar renúncias mais do que aumentos de utilidade e obediência,
têm como fim um aumento do domínio de cada um sobre seu próprio corpo.
O
momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma “arte do corpo humano”,
que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar
sua sujeição, mas a formação de uma relação social e histórica que no
mesmo mecanismo o torna tanto uma política das coerções que são um trabalho
sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de
seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também
igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter
o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se
quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a
eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e
exercitados, corpos dóceis. A
disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e
diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma
palavra: ela associa o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma
“capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a
potência que poderia resultar, e faz dela uma relação de sujeição estrita.
Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. Entendida como consumo cultural, a prática do “culto ao corpo” situa-se como preocupação geral de mobilidade social, que perpassa a estratificação de classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso clínico difuso que se refere tanto a questão estética, quanto per se a preocupação alimentar com a saúde. Nas sociedades contemporâneas há uma crescente apropriação do corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados pelo processo de massificação da propaganda/consumo a desde o desenvolvimento econômico dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Nesse sentido, as fábricas de imagens estéticas do vencedor como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso. Ipso facto, nos leva a pensar que a imagem da eterna fonte de juventude, associada ao ideário ocidentalizado pelos mass mídia de um corpo perfeito e ideal, ao sucesso na educação, no trabalho e na vida amorosa atravessa as etnias e classes, compondo de maneiras diferentes os mais diversos estilos de vida.
Ciclismo representa um esporte competitivo de corrida de bicicleta cujo objetivo dos participantes é chegar em primeiro lugar a determinada meta ou cumprir determinado percurso no menor tempo possível. Foi na Inglaterra, em meados do século XIX, que o ciclismo se iniciou como esporte, sendo condicionado durante o período histórico em que, comparativamente, o aperfeiçoamento do veículo possibilitou o alcance de maiores velocidades. Apesar das bicicletas BMX serem de construção mais simples e com menos tecnologia que as mountain bikes e bicicletas de ciclismo de estrada de última geração - as bikes BMX, são capazes de suportar terrenos bem mais pesados que as bicicletas de outros tipos não conseguissem. Estas exigem que o ciclista que pretenda entrar nesse tipo de modalidade tenha no mínimo alguns conhecimentos técnicos básicos antes de comprar uma bike BMX, assim como acontece com variados tipos de bicicleta. O ciclismo é regido por diversas regras. Mas geralmente enquadra-se em quatro tipos de categorias: provas em estradas, provas em pistas, provas de montanha (“Mountain Bike”) e BMX e é praticado com diversos tipos e modelos de bicicletas. O ciclismo surgiu a partir de 1890 e nos dez anos seguintes nasceram grandes provas, que ao longo dos anos se tornaram clássicos, alguns ainda existem como o “Liège-Bastogne-Liège”, frequentemente chamada de La Doyenne, é uma das cinco corridas clássicas monumentais de ciclismo de estrada profissional europeu e uma das 24 provas que atribuem pontos para o ranking mundial da UCI. A primeira edição era voltada para amadores e aconteceu em 1892.
Em
1894 teve início a primeira edição voltada para os profissionais quando Leon
Houa (1867-1918) que também venceu a edição 1892 como amador, obteve a vitória.
Ela acontece na região das Ardenas (Bélgica), largando de Liège, seguindo até
Bastogne e retornando à cidade de partida. Em 1891 acontece a primeira grande
prova de Audax, ou Randonneurs, entre Paris e Brest (na França), ida e volta,
num total de 1200 km. A prova é a mais tradicional do ciclismo mundial e não
tem caráter competitivo. Os participantes correm contra o tempo, com diversas
regras, para chegar ao final em uma longa prova de logística e superação.
Atualmente, para poder participar dos 1200 km, o ciclista deve conseguir
realizar num mesmo ano, as provas de 200, 300, 400 e 600 km, ganhando o chamado
“brevet”, para realizar o 1200 km. No Brasil essa prova é relativamente
recente, realizada desde 2003 com autorização do Audax Club Parisien.
Historicamente em 1893 foi realizado o primeiro Campeonato Mundial, com provas
de “sprints” e “meio fundo”, exclusivamente para o círculo os corredores
amadores do mundo ocidental. Contudo, o ciclismo faz parte do programa olímpico
desde a primeira edição moderna dos jogos de Atenas, em 1896, quando os eventos
realizados eram apenas os considerados de Pista. Até os Jogos Olímpicos de 1984
em Los Angeles, Estados Unidos, teve apenas a participação masculina. Uma
questão importante diz respeito ao fato de que as mulheres apenas começaram a
participar dos eventos de estrada nas Olimpíadas de Seul, em 1988.
Especialmente durante a primeira parte da década de 1990 o ciclismo em pista teve um personagem como Graeme Obree que rompeu os moldes. Pois à prova as regras da União Ciclista Internacional com uma bicicleta construída por si, criando novas posições para correr que causaram controvérsia do ponto de vista ergonômico e de design. Foi assim como amador que bateu em duas ocasiões o recorde mundial da exigente prova da hora e foi campeão do mundo em duas oportunidades. Todo isto convivendo com depressão, enfermidade que o levou a tentar suicidar-se em três ocasiões. Obree mantinha uma rivalidade com outro britânico: Chris Boardman, convertido em celebridade logo ao haver ganhado o ouro olímpico em Barcelona em 1992. Impulsionado por este logro de Boardman en 1993 se, pois, a trabalhar para bater a marca da hora, especialidade que leva ao limite psicofísico o ciclista. Para termos ideia do duro que é Eddy Merckx, cinco vezes campeão do Tour de France, considerado um dos melhores da história, rompeu a marca em 1972, quando disse que nunca mais iria tenta-lo pois “não queria se submeter-se outra vez ao sofrimento a que se expôs”. Na Olimpíada de Atlanta, 1996, é um marco histórico-sociológico em que participaram pela primeira vez ciclistas profissionais e introduziram o método de “cross-country” e o ciclismo de montanha ou “Mountain Bike”. Nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, foi adicionada outra modalidade desta disciplina a categoria social “BMX SX”, ascendente do BMX Supercross que incorpora algumas dificuldades de percurso de pista, como rampa mais íngreme, saltos maiores e velocidade considerável.
Nas competições de pista, do ponto de vista técnico-metodológico estas podem ser de concreto ou madeira. As provas são de velocidade, perseguição individual, perseguição por equipes, velocidade olímpica, corridas por pontos, km contra o relógio, “Madison” com uma hora de corrida para cada ciclista, sendo o vencedor aquele que fizer mais voltas e “keirin” com oito voltas na pista em que os ciclistas devem acompanhar uma bicicleta motorizada. As bicicletas utilizadas nas competições não possuem freios, a inclinação das pistas de competição normalizada pode chegar a 42º lugar. As competições são realizadas em pistas com distância padronizada de 4 km de extensão. Nas competições de estrada, as provas são disputadas numa pista de terra com várias irregularidades naturais como buracos, elevações e superficiais, como obstáculos. Existem as seguintes categorias: Cross Country, praticada em solo de terreno irregular com muitas subidas e descidas, Free Ride, em pistas com muitos saltos e descidas e Down Hill, para ciclistas somente descida em alta velocidade. Existem dois tipos principais de provas: resistência; a) para homens são 195 km e para mulheres 70 km, e, b) contra o relógio quando os ciclistas na competição partem de dois em dois minutos, sendo o vencedor aquele membro fizer o menor tempo. As primeiras competições oficiais desta modalidade ocorreram em Paris, no final do século XIX. No caso da BMX, as provas ocorrem em pistas de 350 metros com diversos obstáculos. São duas modalidades em oposição assimétrica: aquelas de desempenho de corrida (BMX Racing) e as de manobras (BMX Freestyle).
Do ponto de vista teórico-metodológico a prática do ciclismo, desde que realizada com orientação de especialistas em educação física e acompanhamento médico, é benéfica para o desenvolvimento muscular e cardiovascular. É considerada uma excelente atividade aeróbica e sua prática regular queima muitas calorias. O primeiro campeonato mundial de ciclismo de pista ocorreu no ano de 1895. As competições internacionais oficiais de ciclismo são organizadas pela Union Cycliste Internationale com sede na cidade de Aigle (Suíça). Foram realizadas, nas Olimpíadas de Londres, 20 provas de ciclismo nas seguintes modalidades: Pista, Mountain Bike, Estrada e BMX. O Reino Unido é o país que mais se destacou, ganhando 12 medalhas, sendo 8 de ouro, 2 de prata e 2 de bronze. No Brasil, as competições oficiais são organizadas pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), órgão responsável pela organização dos eventos e de representação dos atletas de ciclismo no Brasil. O calendário nacional de ciclismo de estrada representa o conjunto das provas organizadas pela CBC ou pelas federações estaduais disputadas no período de um ano. Além do calendário de provas do ciclismo de estrada, um calendário nacional de provas é estabelecido para as disciplinas de ciclismo de pista, mountain bike, BMX e a questão inclusiva para caso do ciclismo paraolímpico. O calendário é composto por provas internacionais, nacionais e estaduais realizadas no Brasil. Cada prova, de acordo com a sua classe prevista na categoria e no calendário, quando atribui números de pontos que são contabilizados para o Ranking Brasileiro de Ciclismo.
O ranking brasileiro comparativamente existe para cada categoria do ciclismo (elite, júnior, juvenil, entre outros), tanto no masculino como no feminino. Há um ranking individual e um por equipes. As grandes potências competitivas do ciclismo mundializado são respectivamente o Reino Unido, a Austrália e Alemanha. O último campeonato mundial de ciclismo em pista ocorreu em fevereiro de 2015. A França ficou em 1° lugar no quadro de medalhas, com 5 de ouro e 2 de bronze. O Campeonato Mundial de Ciclismo em Pista de 2016 foi realizado em Londres, na Inglaterra, entre os dias 2 e 6 de março de 2016, sob a organização da União Ciclística Internacional e da Federação Britânica de Ciclismo. Como foi o último principal evento de ciclismo de pista antes dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, as competições foram particularmente importantes para os ciclistas e equipes nacionais visando a qualificação para as competições de ciclismo de pista no Rio de Janeiro em 2016. Os anfitriões britânicos terminaram no topo do quadro de medalhas, com cinco medalhas de ouro, uma de prata e três de bronze. Em 2017, O eslovaco Peter Sagan conquistou em Bergen, Noruega, seu terceiro campeonato mundial de ciclismo consecutivo - um resultado inédito na história social do esporte. Para vencer, Sagan superou o norueguês Alexander Kristoff em um incrível sprint para a linha de chegada, com decisão comprovada apenas no photo finish. A prova foi realizada em terreno apropriado para a prática da competição, mas sendo bastante ondulado e a cada volta o pelotão enfrentou uma subida mais longa, com o pelotão perdendo integrares a cada passagem.
O dia foi marcado por dezenas de tentativas de fuga e por corajosos ataques na fase final, com o francês Julian Alaphilippe e Vasili Kiryienka protagonizando “fuga espetacular”, com o último sendo capturado a menos de 1 km da chegada da prova. Vale lembrar que Peter Sagan foi ouro em 2015 e 2016 e repetiu o feito no Campeonato Mundial de 2017. A prova de 276 quilômetros foi disputada em Bergen, na Noruega. Todo o pelotão chegou junto nos 500 metros finais, mas Peter deu um sprint incrível e terminou com o tempo de 6h28s11s. E mais espetacular de tudo é que só levou o ouro por centímetros de diferença (por apenas meia roda) do segundo colocado, o norueguês Alexander Kristoff. O australiano Michael Matthews completou o pódio. No final da prova, Sagan dedicou a vitória a Michele Scarponi (1979-2017), ciclista que morreu há alguns meses. Se o ciclismo representasse apenas sofrimento psicofísico, todos os desportistas seriam interpretados como um grande “bando de masoquistas”. Mas a verdade é que, nesse esporte de vez em quando, mesmo num esforço gigantesco, tudo se torna extremamente prazeroso e claro. Alguns especialistas chamam isso de “la volupté” e pode ser descrito como sensação de integração entre espaço/tempo; espaço/movimento do ciclista, como ocorre em cenas cinematográficas, a bicicleta, o ato de pedalar e o ambiente, o que resulta numa sensação integrada de trabalho que consiste na aparente parada das ondas mentais. Quer dizer, na junção entre o observador, o objeto observado e o ato de observar. São estados especiais de consciência que podem ser atingidos, com diferentes técnicas respiratórias ou com longas permanências em técnicas corporais que trabalham com isometria, desde que feitas com a intenção e orientação corretas.
Dessa
forma, com o domínio adquirido sobre a bicicleta, totalmente concentrada no
ambiente, com a respiração ritmada e o corpo físico trabalhando intensamente, a
mente conduz o ato repetitivo, abrindo o espaço possível, com a intuição mais
aguçada. Clara Hughes, nascida em 27 de setembro de 1972 é uma ciclista e
patinadora de velocidade canadense que ganhou várias medalhas olímpicas em
ambos os esportes. Hughes ganhou dois bronzes nos Jogos Olímpicos de Verão
de 1996 e quatro medalhas: uma de ouro, uma de prata, duas de bronze ao longo
de três Olimpíadas de Inverno. Hughes é uma das poucas atletas que competiu nos
Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno. É uma das seis pessoas a ter pódio nas
versões de inverno e verão dos Jogos, e é a única pessoa a ganhar múltiplas
medalhas em ambos. Hughes foi a primeira mulher canadense a ganhar uma medalha
no ciclismo de estrada nas Olimpíadas, vencendo duas nas Olimpíadas de Atlanta
em 1996. Como resultado de seu sucesso
em vários esportes e de seus esforços humanitários, Hughes foi nomeada
tanto para a Ordem de Manitoba quanto para Oficial da Ordem do Canadá.
Ela está envolvida com a Right To Play, uma organização humanitária
internacional dirigida por atletas que utiliza o esporte para “incentivar o
desenvolvimento de jovens em áreas desfavorecidas”. Depois de ganhar sua
medalha de ouro em 2006, ela doou US$ 10.000 para a Right to Play. Ela
foi nomeada Atleta Feminina do Ano pela Speed Skating Canada em 2004
por pista longa. Em 2006, o Troféu Esporte e Comunidade do Comitê
Olímpico Internacional. Ela foi nomeada para a Lista das Mulheres Mais
Influentes no Esporte e na Atividade Física de 2006 pela Associação Canadense
para o Avanço da Mulher e do Esporte (CAAWS). No verão de 2010, foi anunciado
que receberia uma estrela na Calçada da Fama do Canadá e em 15 de
novembro de 2010, é introduzida no Hall da Fama dos Esportes do Canadá.
Histórica e estatisticamente um
terço da população canadense vive dentro de um raio de 160 km da cidade.
Toronto é considerada uma das cidades mais multiculturais do mundo e,
como metrópole que atrai dezenas de milhares de imigrantes anualmente. Seus
habitantes são chamados de “torontonianos” ou “Torontonians”. É a capital
financeira do Canadá, considerada uma cidade “global alfa”, exercendo
significativa influência em níveis regional, nacional e internacional. É
considerada um dos principais centros financeiros do mundo, bem como um dos
principais centros culturais e científicos. Toronto é o maior polo industrial,
financeiro e de telecomunicações do Canadá. A cidade possui uma das economias
mais diversificadas da América do Norte, com a maior “concentração de sedes de empresas,
instituições culturais e a maior comunidade artística do país”. Em janeiro de
2005, Toronto foi escolhida pelo governo canadense como uma das “capitais
culturais” do Canadá. É uma das cidades mais seguras do continente
norte-americano - sua taxa de criminalidade é menor comparativamente do que
qualquer grande cidade estadunidense, e uma das menores do gigante território
do Canadá. As terras ocupadas pelo Canadá são habitadas há milênios por
diferentes grupos humanos de povos aborígines. Começando per se no fim
do século XV, expedições britânicas, portuguesas e francesas exploraram e, mais
tarde, se estabeleceram ao longo da costa Atlântica do país.
A França cedeu quase todas as suas colônias na América do Norte em 1763 depois da Guerra dos Sete Anos. Em 1867, com a união de três colônias britânicas da América do Norte em uma confederação, o Canadá foi formado como um domínio federal de quatro províncias. Isto começou com um acréscimo de províncias e territórios e com um processo de aumento de autonomia do Reino Unido. Esta ampliação de autonomia foi salientada pelo Estatuto de Westminster de 1931 e culminou no Canada Act de 1982, que eliminou os vestígios de dependência jurídica do Parlamento Britânico. O Canadá representa uma federação composta por dez províncias e três territórios, uma democracia parlamentar e uma monarquia constitucional, com o rei Carlos III como chefe de Estado que é um símbolo dos laços históricos do Canadá com o Reino Unido, sendo o governo dirigido por um primeiro-ministro, cargo ocupado atualmente. É um país bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais. Um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Canadá tem uma economia diversificada, dependente dos seus abundantes recursos naturais e do comércio, particularmente com os Estados Unidos, país com que o Canadá tem um relacionamento longo e complexo. Existem várias teorias sociais quanto à origem etimológica da palavra Canadá. O Dictionary of Canadianisms on Historical Principles Online considera que a etimologia da palavra Canadá não se encontra claramente estabelecida e apresenta uma extensa lista com várias teorias sociais que foram apresentadas no decorrer do processo civilizatório. A teoria com mais aceitação talvez seja a de que a origem do nome Canadá venha da palavra iroquesa kanata, que significa uma “aldeia” ou um “povoado”. Em 1535, nativos americanos utilizaram a palavra para explicar ao explorador francês Jacques Cartier (1491-1557) o caminho para a aldeia de Stadacona, onde se encontra a cidade Quebec.
O Estatuto de Westminster, assinado em 11 de dezembro de 1931, representou uma emenda do Parlamento do Reino Unido que estabeleceu o status de iguais entre os diferentes Domínios independentes do Império Britânico. Este estatuto deu aos países, ex-colônias inglesas total independência política. Anteriormente ao tratado, o papel do Ministério do Exterior era desempenhado pelo Reino Unido, motivo pela qual e Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Terra Nova, África do Sul e o Estado Livre Irlandês entraram automaticamente na Primeira Guerra Mundial. O estatuto entrou em vigor imediatamente ou após a ratificação. Assim, tornou-se uma personificação legal dos princípios de igualdade e lealdade comum à Coroa estabelecidos na Declaração Balfour de 1926. Como o estatuto removeu quase toda a autoridade do parlamento britânico para legislar para os Domínios, teve o efeito de tornar os Domínios em grande parte nações soberanas por direito próprio. Foi um passo crucial no desenvolvimento dos antigos Domínios como estados separados. Suas versões modificadas agora são leis domésticas na Austrália e no Canadá; foi revogado na Nova Zelândia. O Estado Livre Irlandês nunca adotou formalmente o Estatuto de Westminster, seu Conselho Executivo (gabinete) considerando que o Tratado Anglo-Irlandês de 1921 já havia encerrado o direito de Westminster de legislar para o Estado Livre Irlandês. Embora a União da África do Sul não estivesse entre os Domínios que precisavam adotar o Estatuto de Westminster para que entrasse em vigor, duas leis - a Lei do Status da União de 1934 e a Lei de Funções Executivas Reais e Selos de 1934 - foram aprovadas para confirmar o status da África do Sul como um estado soberano.[6] O Domínio de Terra Nova nunca adotou o Estatuto de Westminster, especialmente por causa de problemas financeiros e corrupção lá. A pedido do governo do Domínio, o Reino Unido estabeleceu a Comissão de Governo em 1934, retomando o domínio direto da Terra Nova. Esse arranjo politicamente falando permaneceu até Terra Nova se tornar uma província do Estado do Canadá em 1949 após referendos sobre o assunto em 1948.
Jacques
Cartier utilizou a palavra não somente em referência a Stadacona, mas
também a toda a região sujeita ao domínio de Donnacona, então cacique de
Stadacona. Em torno de 1547, mapas europeus passaram a nomear esta região,
acrescida das áreas que a cercavam, pelo nome Canadá. Outra teoria atribui a
origem do nome Canadá a navegadores espanhóis que, tendo chegado “às
costas do Canadá e não encontrado nem ouro nem nada de proveito”, teriam dito
“Acá nada”, palavras que, mais tarde, repetir-se-iam pelos nativos e pelos
franceses. Outra teoria bastante divulgada há séculos é que um navegador
português, depois de visitar as terras geladas do continente norte-americano,
teria deixado escrito num mapa “Cá Nada”, pois nas terras nada haveria de
interessante, e um copista francês teria interpretado essas duas palavras como
sendo o nome da terra. O historiador luso-alemão Daehnhardt (1998), defensor
desta última teoria, refuta a hipótese da origem nativa iroquesa, argumentando
que os iroqueses habitavam o interior e que existe cartografia anterior aos
primeiros contatos com iroqueses a qual já fazia uso da palavra Canada. A
partir do século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao longo do rio São
Lourenço e das margens Norte dos Grandes Lagos, era reconhecida como Canadá. Mas,
foi dividida em duas colônias britânicas, Canadá Superior e Canadá
Inferior, até a união das duas como uma única Província Britânica do
Canadá, em 1841.
Até
a década de 1950, era oficialmente e comumente chamado de Dominion of Canada.
À medida que o Canadá adquiriu maior autoridade e autonomia política do Reino
Unido, o governo federal passou a utilizar cada vez mais somente o Canada em
documentos oficiais, em documentos governamentais e em tratados. Com o Canada
Act de 1982, o nome oficial do país passou a ser simplesmente Canadá, assim
escrito nos dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês. Com o Canada
Act, o dia da Independência, em 1º de julho, mudou de Dominion Day para
Canada Day. Esta divisão do trabalho segundo os sexos, indicada no nível da
linguagem, é praticada desde o nascimento, pontuada por ritos e marcada por
inumeráveis símbolos. Com efeito, a aceitação e a interiorização da divisão
sexual do trabalho tanto entre trabalho doméstico e trabalho assalariado quanto
no interior mesmo do trabalho assalariado são o objetivo da socialização
inicial das crianças. Essa educação é condição prévia da aceitação e
interiorização mesmas da autoridade mediante aprendizado, na escola, das formas
de linguagem diferenciadas de acordo com o estatuto social do emissor e do
receptor.
Assim,
desde o nascimento, a menina será educada dentro do respeito pelos homens, que
serão os primeiros (contrariamente ao Ladies First da etiqueta ocidental) a ser
servidos à mesa e a ter os melhores pedaços; os primeiros a entrar no banho; o
que consagra e reproduza o preceito feudal das mulheres dentro e dos homens
fora (“oto wa sotomawari, tsuma wa utimawari”) e a regra de obediência
em ordem: quando jovem, ao pai; casada, ao marido, e idosa, ao
primogênito. Esse duplo movimento
impulsionou em vários países a abordagem da divisão sexual do trabalho para
repensar a questão tópica do trabalho e suas categorias. Essas reflexões
levaram a mudança de simbólica da sociologia da família e do paradigma que lhe
servia de base. No que se referem à sociologia do trabalho, elas permitiram
retomar noções e conceitos como de qualificação, produtividade, mobilidade
social e abriram novos campos de pesquisa: relação de serviço, trabalhos de
cuidado pessoal, mixidade no trabalho, ingresso das mulheres às profissões de nível
superior, temporalidades sexuadas, vínculos entre políticas de emprego e
políticas para família etc. Tal literatura tinha como escopo aspectos sociais
comparativos como o crescimento das taxas de desempenho de atividade no
trabalho, o perfil etário da mulher na composição da força de trabalho e as
transformações no padrão de mixidade em setores e ocupações tendências que
também se verificavam em outros países.
A
divisão sexual do trabalho representa a forma de divisão do trabalho social
decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator
prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é
modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação
prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva
e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor
social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.). Sobre essa
definição, todo mundo, ou quase, está de acordo. Contudo, do nosso ponto de
vista, era necessário ir mais longe ao plano conceitual. Por isso, propusemos
distinguir claramente os princípios da divisão sexual do trabalho e suas
modalidades. Essa forma particular da divisão social do trabalho tem dois
princípios organizadores: o de separação existente entre trabalhos de homens e
trabalhos de mulheres e o princípio hierárquico, segundo o qual, um trabalho de
homem “vale” mais que um trabalho de mulher. Esses princípios são válidos tanto
no plano teórico como empírico para todas as sociedades no tempo e no espaço.
Portanto, pode ser aplicada mediante um processo específico de legitimação, concorrendo
para a chamada ideologia naturalista.
Esta rebaixa o gênero ao sexo biológico, reduz as práticas sociais a “papéis sociais” sexuados que remetem ao destino natural da espécie. Com essa perspectiva naturalista e manipuladora da realidade, a ideologia naturalista dificulta a consciência de que a desigualdade entre os sexos é determinada por interesses socialmente construídos. Se os dois princípios de separação e hierárquico encontram-se em todas as sociedades conhecidas e são legitimados pela ideologia naturalista, isto não significa, no entanto, que a divisão sexual do trabalho seja um dado imutável. Ao contrário, ela tem inclusive uma incrível plasticidade: suas modalidades concretas variam grandemente no tempo e no espaço, como demonstraram fartamente antropólogos e historiadores (as). O que é estável não são as situações (que evoluem sempre), e sim a distância entre os grupos de sexo. Portanto, esta análise deve tratar dessa distância, assim como das “condições”, pois, se é inegável que a condição feminina melhorou, pelo menos na sociedade francesa, a distância continua insuperável. Trata-se antes de tudo da aparição e do desenvolvimento, com a precarização e a flexibilização do emprego, de “nomadismos sexuados”, segundo Kergoat (1998): nomadismo no tempo, para as mulheres representa a explosão do trabalho em tempo parcial, geralmente associado a períodos de trabalho dispersos no dia e na semana; nomadismo no espaço, para homens com provisórios canteiros do Banque du Bâtiment et Travaux Publics (BTP) e do setor nuclear para os operários, banalização e aumento dos deslocamentos profissionais na Europa e em todo o mundo para executivos.
Constata-se que a divisão sexual do trabalho molda as formas do trabalho e de emprego e, que a bendita “flexibilização” reforça as formas mais estereotipadas das relações sociais de sexo. O segundo exemplo é o da priorização do emprego feminino, que ilustra bem o cruzamento das relações sociais. Desde a década de 1980, o número de mulheres sendo contabilizadas pelo Institut National de la Statistique et des Études Économiques (INSEE), como “funcionários e profissões executivas de nível superior” mais do que dobrou; eles destacam que cerca de 10% das mulheres ativas são classificadas nessa categoria. Simultaneamente à precarização e à pobreza de um número crescente de mulheres, observa-se, portanto, o aumento dos capitais econômicos, culturais e sociais de uma proporção não desprezível de mulheres ativas no trabalho. Assiste-se a forma contemporânea ao aparecimento, pela primeira vez na história social do capitalismo, de uma camada de mulheres cujos interesses diretos, isto é, não mediados como antes pelos homens: pai, esposo, amante, opõem-se frontalmente aos interesses daquelas que foram atingidas pela generalização do tempo parcial, pelos empregos em serviços muito mal remunerados e não reconhecidos e, de maneira mais geral, pela precariedade.
Enfim,
as mulheres das sociedades do Norte trabalham cada vez mais e, com uma
frequência cada vez maior, são funcionárias e investem em suas carreiras. Como
o trabalho doméstico nem sempre é levado em conta nas sociedades mercantis, e o
envolvimento pessoal é cada vez mais solicitado, quando não exigido pelas novas
formas de gestão de empresas, essas mulheres para realizar seu trabalho
profissional precisam externalizar o trabalho doméstico. Para isso, podem
recorrer à enorme reserva de mulheres em situação precária, sejam francesas ou
imigrantes. Essa demanda, maciça no âmbito europeu, criou um imenso alento para
as mulheres migrantes que chegam aos países do Norte com a esperança de
conseguir um emprego de serviço, neste caso, particularmente no cuidado de
crianças e idosos, no em prego doméstico e assim por diante. Essas mulheres,
muitas vezes diplomadas, entram em concorrência direta com as dos países de
origem, que têm situação precária e pouco estudo. Duas relações sociais entre
mulheres, inéditas historicamente, estabelecem-se dessa maneira: uma relação de
classe entre as mulheres do Norte, empregadoras, e essa nova classe servil; uma
relação de concorrência entre mulheres, todas precárias, mas precárias de
maneira diferente, dos países do Norte e dos países do Sul e, logo também, de
etnias diferentes com a chegada e a esse mercado globalizado em movimento de
mulheres dos países do Leste.
As
relações étnicas começam assim a ser remodeladas através das migrações
femininas e da explosão dos serviços a particulares. As relações de gênero
também se apresentam de uma forma inédita: a externalização do trabalho
doméstico tem uma função de apaziguamento das tensões nos casais burgueses dos
países do Norte e em inúmeros países urbanos do Sul, mas, nesse caso, trata-se
de movimentos migratórios internos no país em questão e permite igualmente
maior flexibilidade das mulheres em relação à demanda de envolvimento das
empresas. A reorganização simultânea do método e processo de trabalho
no campo assalariado da oficina, da fábrica, e no campo doméstico da casa. O
que remete, no que diz respeito a este último, à externalização do trabalho
doméstico, mas também à nova divisão do trabalho doméstico, o maior
envolvimento de certos pais é acompanhado de um envolvimento quase exclusivo no
trabalho parental; duplo movimento de mascaramento, de atenuação das tensões
nos casais, de um lado, e a acentuação das clivagens objetivas entre mulheres,
de outro: ao mesmo tempo em que aumenta o número de mulheres em profissões de
nível superior, cresce o de mulheres em situação precária de desemprego,
flexibilidade, feminização das correntes migratórias.
Esses
movimentos desenvolvem-se em um nível material, a externalização, mas,
evidentemente, estendem-se às representações ad hoc (os “novos pais”, o casal
visto como lugar de negociação entre dois indivíduos iguais de direito e de
fato). Contudo, é preciso rever agora a outra modalidade de teorização, a da
divisão sexual do trabalho como vínculo social, pois é ela que fundamenta a
tese, que hoje adquiriu o estatuto de política – e de política europeia a
partir da cúpula de Luxemburgo em 1997 -, da conciliação vida familiar/vida
profissional – política fortemente sexuada, visto que define implicitamente um
único ator dessa conciliação: as mulheres, e consagra o statu quo segundo o
qual homens e mulheres não são iguais perante o trabalho profissional. A ideia
de uma complementaridade entre os sexos está inserida na tradição funcionalista
de A. Comte à E. Durkheim da complementaridade de papéis. Remete a uma
conceptualização em termos de vínculo social afetivo pelos conteúdos de sentido
de suas noções como solidariedade orgânica, conciliação, coordenação, parceria,
especialização e divisão de tarefas etc. A abordagem em termos de
complementaridade é coerente com a ideia de uma divisão entre mulheres e homens
do trabalho profissional e doméstico e, dentro do trabalho profissional, a
divisão entre tipos e modalidades de empregos que possibilitam a reprodução dos
papéis sexuados. É essa expansão em serviços nos países capitalistas
ocidentais, tanto desenvolvidos como “em vias de desenvolvimento”, que oferecem “soluções” no antagonismo entre responsabilidades familiares e
profissionais.
Bibliografia
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