quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Marshall McLuhan - Automóvel, Tecnologia & Crítica da Globalização.

Ubiracy de Souza Braga

 “McLuhan a préconisé une approche pionnière et inédite de l’analyse des media”. Oumar Kane (2016)

    

          Marshall McLuhan foi um arguto pensador e destacado teórico da comunicação canadense, reconhecido por vislumbrar a rede mundial de comunicação quase trinta anos antes dela ter ser sido implementada. Ficou também famoso por sua máxima de que “O meio é a mensagem”, e por ter cunhado o termo comunicativo de Aldeia Global. O mais importante não é o conteúdo da mensagem, mas o meio de trabalho através do qual a mensagem é transmitida. Isto porque independente da sua utilidade, afeta a sociedade de algum modo além da finalidade para a qual foi criado. Ele tinha o objetivo de indicar que tecnologias eletrônicas tendem a encurtar distâncias e o progresso entre elas tende a reduzir todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia: um mundo em que todos estariam, de certa forma, interligados. Foi pioneiro dos estudos culturais e filosófico das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das redes de telecomunicações. Em 1921, Marshall demonstrou sua aptidão para o manejo das comunicações ao construir um receptor para captar transmissões de uma rádio do centro-oeste americano. Em meados da década de 1930, começou a lecionar na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos da América. Interessou-se pelo estudo da cultura popular. Após se fixar converteu-se ao catolicismo, decisão favorecida pela leitura de uma coletânea de ensaios de Chesterton (2006), um popular ensaísta e crítico de arte inglês. É muitas vezes referido como o “príncipe do paradoxo” e por seu personagem sacerdote-detetive Padre Brown e sua apologética. Mesmo seus oponentes reconheceram a importância de textos como Ortodoxia ou O Homem Eterno. Foi membro da Sociedade Fabiana, a qual renunciou quando viu no distribucionismo o modelo econômico. No âmbito político foi um ambíguo crítico do progressismo e do conservadorismo de seu tempo como se referia: - “O mundo está dividido entre conservadores e progressistas. O negócio dos progressistas é continuar cometendo erros. O negócio dos conservadores é evitar que erros sejam corrigidos”.

        Iniciou sua formação de nível superior no curso de Engenharia, mas formou-se Bacharel em Artes em 1933, quando obteve a University Gold Medal in Arts  and Sciences. Bacharelou-se em 1936 e prosseguiu estudos de pós-graduação sobre cultura medieval e literatura do renascimento. Em 1937, tornou-se professor da Universidade de St. Louis. Em viagem à Califórnia, conheceu a texana Corinne Keller Lewis, casando-se em 1939. Obteve o Mestrado em 1940 e o Doutorado em 1942,  intitulado: The Classical Trivium: The Place of Thomas Nashe in the Learning of His Time (2000).  Estudou em Trinity Hall, na Universidade de Cambridge, conhecendo os especialistas em literatura inglesa Ivor Armstrong Richards e Frank Raymond Leavis.  No livro em 1951, intitulado: The Mechanical Bride: Folklore of Industrial Man, embora inclua uma pequena porção dos elementos que investigou. Neste estudo, analisa os exemplos de persuasão efetivados na cultura popular, referenciados numa dinâmica pari pasu retórica e dialética. Foi um período no qual se sentiu atraído pela influência dos meios de comunicação, cuja investigação desemboca no aforismo the médium is the message; em que qualquer media contém uma dada mensagem a transmitir, criando uma relação semiótica, na forma como essa mensagem é captada e difundida de forma persuasiva.   

            Semiótica representa o estudo dos signos, que consistem em seus elementos que com significado e sentido para o ser humano, abrangendo as linguagens verbais e não-verbais. Os objetos de estudo e de pensamento da semiótica são amplos e variados, consistindo em qualquer tipo de signo social praticado, seja no âmbito das artes visuais, música, cinema, fotografia, gestos, religião, moda, etc. Segundo registros históricos e sociais, a semiótica teve sua origem na Grécia Antiga, mas apenas se desenvolveu no começo do século XX, com o trabalho de alguns pesquisadores. Os estudos semióticos estão intrinsecamente relacionados com a comunicação, seja verbal ou não-verbal. Pelo fato da semiótica ser o estudo dos significados, esta é essencial para que se formem os elementos necessários para o compreendimento entre as pessoas em determinados grupos. Através da semiótica somos capazes de interpretar as palavras que formam um texto linguístico e atribuir um significado para as respectivas sequências de palavras, por exemplo. Na linguagem não-verbal, os sinais também são dotados de significados específicos, como os sinais de trânsito, os movimentos, os sons, os cheiros, etc.

Understanding Media: The Extensions of Man (1964), apresenta-se como análise onde aflora a tessitura integrada nesta emissão comunicativa. Antes viria a fazer outra: The Place of Thomas Nashe in the Learning of His Time para a Universidade de Cambridge (1942), na qual analisou a história das artes verbais clássicas: a gramática, a retórica, e a lógica, reconhecidas nos tempos medievais, como parte do trivium. É precisamente nessa abordagem histórica que McLuhan mergulha, referindo-se que o desenvolvimento-chave conducente ao Renascimento foi, precisamente, uma alteração na importância dada à lógica, sendo relegada perante a retórica e a própria linguagem. O ressurgimento da gramática surge, para o canadense, como a principal caraterística da vida contemporânea, naquilo que é o entendimento dos objetos per se. As influências sofridas por McLuhan no seu trabalho incluíram um filósofo jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). Algumas das ideias veiculadas anteciparam aquilo que seria a maturidade do seu pensamento, em especial naquilo que é o desenvolvimento da mente humana até ao estado de noosphere. Este foi um dos conceitos mais rebatidos em The Mechanical Bride, em que a externalização dos sentidos, naquilo que é a feitura do chamado “cérebro tecnológico” para todo o mundo globalizado, acaba por ser monitorizada por uma entidade capacitada de regular essa informatização do mundo. A coexistência e a interdependência surgem como valores sociais imprescindíveis perante o medo da parametrização e vigilância.

        Em 1944, regressou ao Canadá para lecionar durante dois anos na Assumption University, uma universidade católica em Windsor, Ontário, Canadá, federada com a Universidade de Windsor. Foi fundada em 1857 como Assumption College pela Sociedade de Jesus e incorporada por uma lei do Parlamento do Alto Canadá, recebendo Royal Assent, em 16 de agosto de 1858.  Sua mãe era batista, professora de colégio e atriz. Seu pai era metodista e corretor de imóveis. Em 1915, a família, de origem escócio-irlandesa, mudou-se para Winnipeg, na área leste do Canadá. Em 1951, publicou o ensaio: The Mechanical Bride: Folklore of Industrial Man. Em 1952, tornou-se professor catedrático no St. Michael`s College da Universidade de Toronto. Entre 1953 e 1955, dirigiu o Seminário sobre Cultura e Comunicações patrocinado pela Fundação Ford. Com o antropólogo Edmundo Carpenter, reconhecido por seu trabalho em arte tribal e mídia visual, lançou o publicação de revista sob a forma de artigos,  Explorations e editou a antologia Explorations in Comunication (1960). Na década de 1960, já detinha uma sólida reputação como teórico da comunicação social, tendo sido contratado pelo U.S. Office of Education e pela National Association of Educational Broadcasters. Em 1962, publicou a obra máxima: The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man, que lhe proporcionou o Prêmio Governador Geral de 1963.  Recebeu a Ordre du Canada em 1970, é uma ordem nacional e a segunda maior honra ao mérito no sistema de ordens, condecorações e medalhas do Canadá. Antecede apenas para a participação na Ordem de Mérito, que é o dom pessoal do monarca do Canadá.

            No livro, o acadêmico analisa os efeitos sociais da mídia massiva e da invenção da imprensa na cultura e na consciência europeia. Foi essa obra que popularizou o termo e o conceito da aldeia global, alusão à intensa integração globalizada através dos meios de comunicação em massa. Mas a teoria crítica diferia dessa condição em vários aspectos. Antes de tudo, recusava-se a fetichizar o conhecimento como algo separado da ação e superior a ela. Além disso, reconhecia que a pesquisa científica desinteressada era impossível em uma sociedade em que os próprios homens ainda não eram autônomos, o pesquisador era sempre parte do objeto social que tentava estudar. Num comentário em que respondia a Marshall McLuhan, trinta anos antes da recente popularidade deste engenheiro social, Max Horkheimer escreveu: - “Inverta a frase que diz que as ferramentas são extensões dos órgãos dos homens, para que os órgãos também sejam extensões  das ferramentas dos homens” – uma injunção endereçada até mesmo ao cientista social “objetivo”, positivista ou intuicionista (cf. Jay, 2008: 127). Os dois extremos interpretavam mal as subjetividades culturais, vendo-a como totalmente autônoma ou totalmente contingente. Apesar de, fora de dúvida, ser parte da sociedade, o pesquisador não era incapaz de se elevar acima dela. Na verdade, era seu dever revelar as forças e tendências negativas da sociedade, que apontavam para outra realidade.         

            Na mesma conjuntura, assumiu a diretoria do Centro de Cultura e Tecnologia da Universidade de Toronto. Em 1964, publicou Understanding Media: The Extensions of Man, no qual prosseguia suas análises a respeito das consequências da televisão, do telefone, do rádio e dos computadores para a reestruturação da percepção humana do mundo contemporâneo. Em 1966, proferiu palestras no Simpósio sobre Tecnologia e Comércio Mundial do National Bureau of Standards, na Associação de Linguagem Moderna e na Sociedade de Relações Públicas da América. Também  foi convidado a assumir a cátedra de humanidades Albert Schweitzer (1875-1965), importante teólogo, organista, filósofo e médico alemão, na Fordham University,  universidade privada, sem fins lucrativos e católica dos Estados Unidos, com três campi ao redor da cidade de Nova Iorque. Fundada pela Diocese Católica Romana de Nova Iorque em 1841. No ano seguinte, publicou The Medium is The Message: An Inventory of Effects. Em 1968, publicou Guerra e Paz na Aldeia Global, prevendo que o mundo deixaria de se tornar tribal e fragmentado passando a uma aldeia integrada pela tecnologia elétrica. McLuhan permaneceu na Universidade de Toronto até 1979, quando teve um derrame que afetou sua habilidade de falar. Nunca mais se recuperou. Faleceu um ano depois, em 1980.

    A teoria matemática da informação estuda a quantificação, armazenamento e como ocorre comunicação da informação. Ela foi originalmente proposta por Claude E. Shannon  (1916-2001) em 1948 para achar os limites fundamentais no processamento de sinais e operações de comunicação como as de compressão de dados, em um artigo divisor de águas intitulado: A Mathematical Theory of Communication. Da simplicidade dos primeiros  estudos norte-americanos funcionalistas como a de teoria Shannon e Weaver sobre uma teoria da matemática da informação e as demais pesquisas de uma outra importante escola norte-americana, a Escola de Chicago que versava, sobretudo sobre uma análise da cidade como laboratório social, também é fundamental para se ler Marshall McLuhan. Influenciada pelos estudos de Georg Simmel sobre o “hiperestímulo sensorial” que demarca o advento inicial do século XX, a Escola de Chicago dimensiona importantes questões sobre a relação entre a cidade  e  homem. A cidade como o local da mobilidade é discutida por Robert Ezra Park (1864-1944) num ambiente biológico e uma ecologia humana parece ressoar ao imaginarmos a discussão de McLuhan, por exemplo, sobre os meios de transporte. A leitura atenta de Martin-Barbero (1987) sobre o pensamento de McLuhan como continuidade das teorias americanistas é oportuna e relevante.

        Martín-Barbero num de seus principais estudos e pesquisas chegou ao conceito-chave de mediações, que seriam os lugares em que a cultura se concretiza, mudando o modo como os receptores absorvem a mensagem dos meios. Para ele, as mediações são mais representativas que a “intencionalidade comunicativa”, elas apontam as possibilidades interpretativas com as quais o receptor valida quando se apropria dos discursos da mídia. Martín-Barbero entende que a mídia deve ser tomada no contexto das mediações, como parte integrante – e determinante – delas, já que as mensagens veiculadas pela mídia se transformam quando os receptores se apropriam delas. Devido às diferentes mediações vivenciadas pelos receptores, no processo comunicativo, diversificados serão os sentidos que as mensagens irão ganhar. À medida que elas ganham novos significados, elas se desdobram em novas práticas sociais. Desta forma, tão-só Martín-Barbero, mas também outros autores latino-americanos apostam a possibilidade de reelaboração dos discursos da mídia por parte das pessoas que em geral compõem a sociedade, o que desmistifica em aprte a utilidade de uso do poder onipresente da mídia, sendo necessário investir nas possibilidades de ação, e não somente na prática de reação dos receptores, e na construção social de saber coletivo. 

           Ele divide essas mediações em quatro temas intrínsecos: tecnicidade, o aspecto textual, narrativo ou discursivo da mídia que funciona como organizador perceptivo; institucionalidade, representam os meios utilizados para produzir discursos que atendem a interesses privados. Não são apenas aparatos, mas instituições de peso economicamente determinado, assim como político e cultural; socialidade, representando os laços afetivos e relações cotidianas que servem de base para outras formas de interação social e comunicação e, ritualidade, refere-se a cotidianidade familiar, a temporalidade social, a competência cultural, aos diferentes usos sociais dos meios e aos diferentes trajetos encaminhados de leitura. Vale lembrar que ao criar e explorar conceitos McLuhan estabelece um outro olhar sobre a técnica. Ao introduzir os meios de comunicação nessa análise, reinventa o homem, estende o homem. Mas ao mesmo tempo insere uma dimensão de integração entre os homens a partir da técnica

        O que é preciso salientar nesse ponto é que sua análise aprofunda e traz para o universo da comunicação uma questão mais densa sobre o tema. Como pensou McLuhan a tecnologia remodela e reestrutura padrões na ordem do social e do pessoal. Sendo obrigado a se remodelar em função dos meios, pois tudo parecia estar mudando com a entrada em cena da tecnologia no âmbito da sociedade. Da dimensão técnica como fator decisivo para compreender a história do homem. Para compreender sua preocupação central é com a criação de um novo ser humano, na aurora do que Nietzsche pensou “como além do homem”. Nesse âmbito o cinema parece ter papel importante ao alertar sobre sérias questões que pensam a criação de um novo homem que sai das telas. Pensando a partir de um meio técnico, o cinema parece ser o locus possível de uma outra relação do homem com o ambiente. Abre-se no seu pensamento sobre a técnica um horizonte que coloca a questão da sensorialidade no cerne da discussão do contemporâneo. Questão que parece alinhavar muitas discussões analíticas, segundo Silva Filho, (2006) no campo das redes da comunicação social e do que McLuhan parece ser uma das vozes enunciadoras.

            Segundo Pereira (2004) McLuhan sempre chamou atenção para o fato  social de  que  toda  e  qualquer  investigação científica deveria desviar o olhar fixo do objeto que se busca apreender, focando o fundo adjacente ao  objeto,  pois  este  fundo  seria  capaz  de revelar novas facetas do objeto. Esta seria uma estratégia para apreender de maneira mais ampla as possíveis relações sociais  com  acontecimentos outros não raramente, são difíceis de serem  percebidas.  Aposta-se com  tal  metodologia na impossibilidade de se separar rigidamente sujeito, objeto e contexto, ou, simplesmente, figura e fundo. Quando fala sobre o automóvel, por exemplo, McLuhan chama a atenção para o fato de que o automóvel traz consigo toda uma reestruturação das cidades, bem como uma série de bens e serviços tais como postos de gasolina, pistas de alta velocidade, fábricas e companhia de petróleo, sem os quais toda a complexa relação que envolve as pessoas e os carros não pode ser plenamente apreendida. Ele compreende que o letrado, que tende a fragmentar e compartimentalizar todas as coisas a fim de  melhor  controlá-las,  confrontando-se com quaisquer objetos que queira apreender, com frequência ignora o rico tecido que liga figura e fundo, fixando o olhar apenas no objeto estudado.   

            A princípio, a memória não faz parte do  conjunto  de  objetos  explícitos  com  os quais McLuhan trabalha. Como pôde, então, surgir a proposta de tomá-la, junto com da ideia de consciência, como um dos temas mcluhanianos,  propondo-se,  ainda,  a  partir destas ideias, retomar McLuhan para a leitura  das  dinâmicas  contemporâneas  de comunicação? A resposta a tal questão estará na adoção da metodologia sugerida por McLuhan, aplicada a si próprio. Trata-se, então, de explorar e fazer emergir um fundo para as principais figuras tratadas. A apropriação da memória e a consciência em sua obra,  realiza  uma  dobra  no  pensamento aplicando-o sobre si mesmo, estendendo-o. Poder-se-ia apostar que os  objetos  de  estudos  comunicológicos  seriam ideias como o meio, a mensagem, as tecnologias, a ideia de extensões humanas, dentre algumas outras possíveis. Nesta  perspectiva buscar  os objetos abordados por McLuhan implica  o reconhecimento  que  o  jogo  contínuo de rebatimento entre figura e fundo alguns desses  objetos  sofrerão  “alargamentos”  conceituais, o que exigiria que os mesmos fossem considerados em progressão, em diferentes momentos, quais seriam os temas principais, os objetos de estudo, por excelência, tratados por  McLuhan? 

            É o autor da indagação quem responde a esta questão, escrevendo explicitamente sobre este ponto, em uma carta enviada a Robert Fulford, no ano de 1964: - Meu tema principal é a extensão do sistema nervoso na progressiva era da eletricidade e, portanto, a ruptura completa em 5000 anos de tecnologia mecânica. Eu afirmo repetidamente”. Mas o que seria esta extensão do sistema nervoso na era elétrica? Com  McLuhan  deve-se  interpretar  a ideia das extensões, sempre sob a ótica da lógica  complementar do chamado processo “figura/fundo”,  como  a  ideia  de  que  uma  tecnologia de comunicação, ao vir à tona, não pode ser considerada apenas como a chegada de um dispositivo técnico,  especificamente requerida por uma determinada sociedade. Uma extensão tecnológica deve ser entendida, principalmente, como um novo modelo gramático a propor padrões de organização e de disponibilização de informações, qual uma  linguagem. Em  McLuhan  deve-se  interpretar  a ideia das “extensões humanas”, sempre sob a ótica da lógica  complementar  do  processo figura/fundo,  como a tecnologia de comunicação, não deve ser considerada apenas como a chegada de dispositivo técnico, com o qual se atende a uma  demanda  funcional,  racional, com utilidade de uso requerida por uma determinada sociedade. Uma extensão tecnológica deve ser entendida como um modelo gramático de padrões de organização e de disponibilização de informações.           

            Como  um  desdobrar  do  entrecruzamento das temáticas das extensões e do meio, surge uma outra, trazida pelas temáticas anteriores, e muito importante em todo o trabalho teórico de McLuhan. A ideia de uma extensão própria da  consciência  que  será  conquistada  não apenas com o contínuo acúmulo de conhecimento, ao longo da história, mas, principalmente, com as novas possibilidades visuais de rearranjar tais conhecimentos, através das mídias eletrônicas. Além disso, que alterações quanto às tecnologia de  comunicação  proporcionariam  novos modelos de subjetividade cultural, como um todo, e de consciência, em particular, novas formas de perceber, de processar e de estocar informações levariam a uma nova forma de consciência. Neste ponto seria tentar entender o momento da passagem de uma forma de se adquirir  conhecimento. E ainda  que  dentro  do modo  tradicional  da  escrita  se  dava  paulatinamente,  somando  os  conhecimentos fragmentados  em  um  lento  e  sistemático processo. Em seguida para um outro modo, possibilitado por toda uma nova geração de meios técnicos e sociais, do telégrafo ao computador, cujas marcas seriam processos instantâneos. Onde a apreensão das mensagens se dão de forma imediata, muitas vezes no momento em que os acontecimentos a serem comunicados estariam ocorrendo.

Bibliografia geral consultada.

MCLUHAN, Marshall, A Galáxia de Gutenberg. A Formação do Homem Tipográfico. São Paulo: Editora Nacional; Editora da USP, 1972; MILLER, Jonathan, As Ideias de McLuhan. São Paulo: Cultrix; Editora da Universidade de São Paulo, 1973; MARTIN-BARBERO, Jesús, De los Medios a las Mediaciones. Barcelona: Editor Gustavo Gili, 1987; PEREIRA, Vinícius Andrade, Comunicação e Memória: Estendendo McLuhan. Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002; Idem, “Consciência e Memória como Objetos da Comunicação: O Approach de Marshall McLuhan”. In: Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 24, julho 2004; ROMANCINI, Richard, O Campo Científico da Comunicação no Brasil: Institucionalização e Capital Científico. Tese de Doutorado. Escola de Comunicação e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; SILVA FILHO, Wilson Oliveira da, McLuhan e o Cinema – O Homem como Possível Extensão dos Meios. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006;  CHESTERTON, Gilbert Keith, What`s wrong in the world. Publisher: Obscure Press, 2006; JAY, Martin, A Imaginação Dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais 1923-1950. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2008; Artigo: “100 Anos de Marshall McLuhan: Um Teórico de Vanguarda”. In: Revista do Instituto Humanitas Unisinos. Edição 357. São Leopoldo, 11 de abril de 2011; BARBOSA, Rodrigo Miranda, Um Programa de Pesquisa Comunicacional a partir de Harold Innis e Marshall McLuhan. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Faculdade de Comunicação. Brasília: Universidade de Brasília, 2014; FERNANDEZ, Andreza Lisboa da Silva, A Extensão de McLuhan no Cinema de David Cronenberg: Influências e Aplicações da Medium Theory no Filme Existenz. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Comunicação. Londrina: Universidade de Londrina, 2016; KANE, Oumar, “Marshall McLuhan et la Théorie Médiatique: Genèse, Pertinence et Limites d’une Contribution Contestée”. In: Tic & Societè. Vol. 10, n° 1, 2016; CAZAVECHIA, William Robson, A Educação para Além da Sala de Aula no Pensamento Intelectual de Herbert Marshall McLuhan (1911-1980). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2017; DALL’AGNESE, Carolina Weber; CANAVILHAS, João; BARICHELLO, Eugenia Maria Mariano da Rocha, “A Tétrade de McLuhan na Pesquisa em Comunicação: Revisão Sistemática de Aplicações no Brasil e em Portugal”. In: MATRIzes, Vol. 14 - nº 1 jan./abr. 2020; entre outros.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Museologia - Formação, História da Cultura & Comunicação Social.

Ubiracy de Souza Braga

            “Museologia: uma ciência aplicada, a ciência do museu”. George Henri-Rivière

           Por mais simples que seja a linguagem e clara a sua exposição, sempre apresenta dificuldades específicas inevitáveis, porque dizem respeito à natureza própria da teoria, mais precisamente da produção do discurso teórico, e por isto produção. A dificuldade própria da terminologias teórica consiste pois em que, por detrás do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual. Um bom exemplo, ocorre quando o leitor pensa compreender imediatamente o que Marx quer dizer quando emprega uma palavra tão corrente como a palavra trabalho. No entanto, é preciso um grande esforço para discernir, por detrás da evidência familiar (ideológica) desta palavra, o conceito marxista de trabalho, e mais ainda, para ver que a palavra trabalho pode designar vários conceitos distintos: os conceitos de processo de trabalho, de trabalho concreto, de trabalho abstrato, etc. Quando uma terminologia teórica é boa, lembra Louis Althusser, no ensaio: Sobre o Trabalho Teórico (1978), isto é, bem determinada e bem referenciável, ela assume a função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e o significado teórico (conceptual) das mesmas palavras. E a sua conjunção particular que produz significado novo, definido que é o conceito teórico. Não pode haver discurso teórico sem a produção destas expressões específicas, que designam conceitos teóricos de determinada prática da teoria.

            Isto quer dizer que a cultura, a sociedade e a comunicação vem articular-se a uma estrutura de relações sociais. No escravagismo antigo, nada distingue, do ponto de vista do modo de produção (cf. Bartra, 1978), o escravo do agricultor independente, proprietário privado individual. O que os distingue é a relação com o trabalho. Se um se conduz como proprietário das condições materiais da reprodução de sua existência, no outro caso é o mestre que se conduz como proprietário das condições naturais da reprodução de sua existência material do escravo. Pode-se fazer a mesma comparação e  distinção entre o escravo moderno, do século XIX, e o trabalhador agrícola no sistema técnico de trabalho, ao qual se articulam relações sociais diferentes. A interligação dos processos de trabalho é primeiramente de ordem técnica, na medida em que está contida nos meios de trabalho e envolve imediatamente trabalhadores em situações específicas de trabalho. Em seguida é de ordem social, basicamente quanto à escala e quanto ao sentido de conjunto para satisfazer necessidades sociais. É, finalmente, de ordem tecnológica, na medida em que a produção, circulação, uso, dos produtos resultantes do processo de trabalho interligados, representam o próprio sistema social no âmbito de determinada cultura e/ou sociedade. Produzindo e consumindo determinados produtos/mercadoria os homens primeiro tecnologicamente (cf. Leroi-Gourhan, 1984) produzem a sociedade e as relações nela existentes. Um sistema de trabalho é uma estrutura onde o que está em jogo é o  trabalho e a reprodução da vida.

            Do ponto de vista metodológico notou Norbert Elias (2011) que o conceito de civilização refere-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciários ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas também não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais. Acima de tudo, é grande a diferença entre a forma como ingleses e franceses empregam a palavra, por um lado, e os alemães, por outro. O conceito resume em uma única palavra seu orgulho pela importância de suas nações para o progresso do Ocidente e da humanidade.

                                                              

Quando no emprego que lhe é dado pelos alemães Zivilisation, significa algo de fato útil, mas, apesar disso, apenas um valor de segunda classe, compreendendo apenas a aparência externa dos seres humanos, a superfície da existência humana. A palavra pela qual os alemães se interpretam, que mais do que a qualquer outra expressa-lhes o sentimento de orgulho em suas próprias realizações e no próprio ser, é Kultur, pois ão inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem. O conceito francês e inglês de civilização pode ser referir a fatos políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão Kultur alude basicamente a fatos intelectuais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais, por outro lado. O conceitos francês e inglês de civilização pode se referir a realizações, mas também a atitudes ou “comportamento”, pouco importando se realizaram alguma coisa. No conceito alemão de Kultur, em contraste, a referência a comportamento, o valor que a pessoa tem em virtude de sua mera existência e conduta, sem absolutamente qualquer realização, é de fato considerado muito secundário.

O sentido alemão de Kultur encontra sua expressão mais clara derivado no adjetivo Kulturell, que descreve o caráter e valor de determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco. O conceito inerente a Kulturell, porèm não pode ser traduzido exatamente para o francês e o inglês. A palavra kultiviert (cultivado) aproxima-se muito do conceito ocidental de civilização. Até certo ponto, representa a forma mais alta de ser civilizado: até mesmo pessoas e famílias que nada realizaram de kulturell pode ser kultiviert. Tal como a palavra “civilizado”, kultiviert refere-se primariamente à forma da conduta ou comportamento da pessoa. Descreve a qualidade social das pessoas, suas habitações, suas maneiras, sua fala, suas roupas, ao contrário de kulturell, que não alude diretamente às próprias pessoas, mas exclusivamente a realizações humanas peculiares. Há outra diferença entre os dois conceitos estreitamente vinculada a isto. “Civilização” descreve um processo  ou, pelo menos, seu resultado. Diz respeito a algo que está em movimento constante,  movendo-se incessantemente “para a frente”.

O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos humanos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a individualidade de um povo. O conceito Kultur delimita. Até certo ponto, o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos: enfatiza o que é comum a todos os seres humanos ou – na opinião dos que o possuem – deveria sê-lo. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional foram plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas. Em contraste, o conceito alemão de Kultur dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Em virtude disto, o conceito adquiriu em pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito. 

A necessidade de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas ao serviço da relação inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencional de comunicação. Ao antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton, os chineses, e inclusive tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos, no tempo da monarquia Inca, que formavam um método mnemônico, fundado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para comemorar acontecimentos felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações dos mortos das tribos.  

Na segunda, pictórica, a comunicação tem como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A última, fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos letras, como unidade fonética menor.

A invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A comunicação sempre vem unida à existência da mudança de mercadoria e á busca de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos canais informativos, lentos e precários, que abasteceram aos homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo e das tentações dos outros considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias passavam por intermediários antes de serem revendidos na Europa medieval. Era um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos.

O irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com fortificações feitas de árvores e espinheiros e habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração, centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, Atenas ou Alexandria na Antiguidade clássica, virtualmente inexistia na paisagem ocidental desse período.

Havia historicamente burgos descendentes dos centros logo fundados pelos conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (Istambul), capital do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes, abastado comércio e porto movimentado. Há cerca de mil anos, amplas extensões do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência, da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários historicamente constituídos na Europa, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte de açúcar dos europeus de então. Comparativamente, vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo.

Museologia tem como representação o conhecimento apreendido na relação dos homens com objetos socialmente relevantes, num dado contexto histórico e sociológico. Entre pioneirismo dos museólogos distingue-se em essência duas escolas: A Escola da Museologia, que precisa o estatuto científico da arte, e a escola dos Estudos de Museus (Museum Studies), que aborda os museus como produção técnica. A tradição científica desenvolve-se pragmaticamente na década de 1970 entre museólogos do Leste europeu, França e América Latina, majoritariamente dominada pelos impérios coloniais europeus Espanhol e Português e Central, compreendendo os Estados soberanos ístmicos e antilhanos mais as dependências situadas no mar do Caribe, incluído Canadá, Estados Unidos da América, México e Brasil através de experiências singulares de intervenção  encontrando acolhimento organizacional do International Council of Museums. Na tradição normativa dos Estudos de Museus a preocupação científica com a proposição das teorias sociais que consideram a autonomia relativa do objeto, incorporando a multireferencialidade metodológica das ciências humanas: sociologia, antropologia e sociais: arqueologia, comunicação social e os estudos per se das ciências da natureza.  

O Museu institucionalmente se dedica à gestão, pesquisa e comunicação social em suas diversas formas, dentro ou fora de museus, no âmbito da divisão internacional do trabalho, visando promover a cultura, a educação e as representações da sociedade. A museologia, particularmente do ponto de vista tecnológico, trata desde as técnicas de restauração, conservação, acondicionamento e documentação do acervo à preparação de mostras, exposições e as próprias ações culturais. O museólogo trabalha com as ciências da informação, melhor dizendo,  um processo mediante o qual as ciências e o processo de comunicação tem sido incorporadas pari pasu como meio de trabalho para transmitir os conteúdos de forma eficiente e a própria manipulação, estudo e catalogação dos objetos passando praticamente a uma condição técnica essencial aos museus, assim como a inclusão de tecnologia que durante tempos ficou restrita a parques de diversão, os trens para percorrer réplicas de minas e cavernas, dinossauros, etc.


Origina-se em seu sentido histórico e genético no mouseion grego, destinado às musas que na mitologia grega representavam as nove filhas de Zeus com Mnemósine, a divindade da memória. Compunha uma mistura de templo e instituição de pesquisa, na dinâmica do saber filosófico, onde a mente privilegiada repousava. O pensamento profundo e criativo, liberto do problemas pessoais e aflições cotidianas, poderia se dedicar às artes e às ciências. As obras expostas no mouseion existiam mais em função de apetecer as divindades que serem contempladas pelo homem. Ao lado do mouseion encontravam-se “lugares praticados” denominados thesaurus, onde se abrigavam ex-votos  trazidos em devoção às divindades. O museu teve na Grécia Antiga a sua origem. Quando seus núcleos foram construídos para abrigar os “tesouros dos templos”, devido o acúmulo de ex-votos. Eles poderiam ser analisados pelos sacerdotes, que realizavam a triagem, a classificação, o controle e a segurança desses objetos. Em  Roma aparenta o que ocorreu na Grécia Antiga, porém não exclusivamente nos templos.           

Os objetos eram depositados nos fóruns, jardins, banhos públicos e nos teatros. As famílias também adquiriam e conservavam em suas casas quadros e estátuas que resultavam em valiosas coleções. Em Alexandria, durante o século II a. C., o termo mouseion foi utilizado pela primeira vez para denominar “um espaço destinado ao saber enciclopédico”. Os objetos artísticos e as obras de arte eram recolhidas em templos, santuários e tumbas. O local representava um espaço para a discussão e o ensinamento do saber nos campos da religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina, zoologia, geografia e demais áreas do conhecimento que se tinham em seu tempo, configurando-se, numa compilação entre as áreas do conhecimento. Durante a Idade Média as igrejas e catedrais se converteram em autênticos museus, onde se depositavam manuscritos, estátuas, joias e relíquias sagradas. Cada igreja, representando valor de culto e valor de exposição, segundo Walter Benjamin (1966), representando objetos, que configuram verdadeiras coleções empregando os objetos com uma intenção pedagógica e um caráter moral. É durante esse período que a Igreja financia artistas para a confecção de obras de arte e que configuram e irradiam-se em grandes obras-primas da humanidade.

Historicamente no Renascimento surgiram coleções privadas denominadas por coleções reais e principescas – como forma de demonstração de requinte e símbolo de poder econômico das famílias principescas, servindo como verdadeiro metabolismo social das rivalidades entre elas. O colecionismo tornou-se moda em diversos países de grande parte da Europa. Mas foi durante o longo período de irradiação do Renascimento que o conceito de museu começou a mudar. Entre os séculos XV e XVI surgiram os chamados “gabinetes de curiosidades”, onde eram expostas coleções de objetos curiosos, estranhos e exóticos. Sua organização social poderia ser vista como confusa e aparentar ser um amontoado de objetos, sem lógica organizacional, mas é apenas provisório enquanto não nascia uma lógica padrão ou uma lógica comum estabelecida, existia uma lógica pessoal do dono do gabinete. Alguns autores erram em afirmar que os gabinetes de curiosidades se transformaram em museus. São antecessores aos museus, pois tinham uma característica única e não possuíam os mesmos objetivos que os museus possuem. Eram situados em espaços pequenos, de propriedade privada. No fim do século XIX é que um museu, o Museu de História Natural de Londres, onde conviveram por razões diversas, tanto  Marx & Engels, quanto Charles Darwin, exibiu seus objetos ordenados cientificamente, graças à classificação teórica de Carlos Lineu.

Marx escreveu seu famoso livro: O Capital, na sala de leitura da Biblioteca Britânica. Em 1844, conheceu, em Paris, Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima durante mais de 40 anos. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicando-se em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados. Ao mesmo tempo em que, na França, estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em Colônia, primeiro jornal diário francamente socialista. Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e do fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi para Paris e daí expulso para Londres, onde fixou residência. Em Londres, dedicou-se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo frequentador assíduo da sala de leituras do British Museum. Escrevia artigos para jornais norte-americanos, sobre política latin-maericana, mas sua situação material esteve sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels, que vivia em Manchester feliz e em boas condições financeiras.

A British Library é a Biblioteca Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo. Atualmente, o seu acervo possui aproximadamente 150 milhões de itens e a cada ano incorporam-se à coleção cerca de três milhões de itens novos. A Biblioteca Britânica contém, além de livros, mapas, jornais, partituras, patentes, manuscritos, selos, dentre outros materiais. Todos estão dispostos sobre 625 km de prateleiras que crescem 12 km a cada ano. O espaço físico para a leitura possui capacidade para mil e duzentos leitores. Entre as coleções especiais da Biblioteca Britânica, consta o caderno de anotações de Leonardo da Vinci, material de 300 a. C. aos jornais atuais, a Carta Magna, a gravação do discurso experimental do líder negro Nelson Mandela, cerca de 50 milhões de patentes, 310 mil volumes de manuscritos, de Jane Austen a James Joyce, de Händel aos Beatles, e aproximadamente mais de 260 mil títulos de jornais e mais de quatro milhões de mapas. A biblioteca disponibiliza informações para estudantes, pesquisadores de ciências específicas e para executivos no Reino Unido e ao redor do mundo. A cada ano aproximadamente seis milhões de buscas são geradas pelo catálogo online e mais de 100 milhões de itens são fornecidos aos leitores de todo o mundo.

A palavra laboratório origina-se do latim através da junção das palavras labor (trabalho) e orare (orar) misturando aspectos da oralidade e experimentação. A importância do laboratório na pesquisa social baseia-se no exercício de suas atividades repetitivas em condições ambientais controladas e normatizadas, de modo a assegurar que não ocorram influências ideológico-culturais que alterem o resultado da pesquisa, de modo a garantir que o experimento seja repetível em outro laboratório e obtenha o mesmo resultado. Um exemplo paradigmático de laboratório surge com a biblioteca do Museu Britânico, nos tempos de Marx, ao contrário de um centro de ideias e artes criativas como Paris, ou mesmo Berlim, era em Londres a capital da ciência. Sua rotunda, sala de leitura circular nos dias de hoje, uma sala de exposição na qual os turistas conhecem a cadeira preferida de Marx, logo viria a se tornar o “lar de Marx” fora de sua casa. A Dean Street, onde a família de Marx morou, juntamente com a empregada, Lenchen, de 1850 a 1856, ficava no coração do Soho. Numa Londres que se tornara a capital política e administrativa do mais importante império colonialista de além-mar que existiu no mundo ocidental durante os três primeiros quartos do século XIX, Londres era também o centro nevrálgico do capitalismo transnacional globalizado.

Foi o maior império em extensão de terras descontínuas do globo, composto por domínios, colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou administrados pelo Reino Unido. Originou-se com as violentas conquistas das colônias ultramarinas (cf. Marx & Engels, 2008) e entrepostas estabelecidas pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total da Terra. Como resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado, globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios invadidos e colonizados. Representou um período histórico de colapso dos impérios da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mogol. Testemunhou hic et nunc o poderoso crescimento da influência geopolítica dos impérios Britânico, Russo, Alemão, Japonês e Norte-Americano, estimulando conflitos militares e avanços técnico-científicos de exploração capitalista do trabalho. O Império Britânico foi o maior império na história da humanidade, chegando a dominar quase 1/4 do planeta. O território que foi apelidado de “o império no qual o Sol nunca se põe”.

Para tratarmos do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo existencialismo, incluindo Sören Kierkegaard e Martin Heidegger. Sofreu influências, também em certa medida associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção incluíram a “desconstrução” e as diversas áreas que começam com o prefixo “pós”, como o “pós-estruturalismo”, o “pós-marxismo” e o “pós-feminismo”. É também utilizado para designar a familiaridade por artistas e criadores ocidentais de elementos, descrições ou imitações culturalmente conotadas com as culturas ditas orientais. Popularizado como um campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a partir do colonialismo do século XIX, o orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo humano vulgarizado pela designação “mundo árabe” e mesmo a África, em alguns casos. 

O orientalismo ratificou a hipótese colonialista da inferioridade racial e cultural de todas as civilizações não europeias. O seu objetivo, não assumido, foi à busca da justificação do processo de dominação imperialista através do discurso de redenção dos povos ditos primitivos, inferiores e subdesenvolvidos” que tem origem na esfera da antropologia colonialista. Durante este século as técnicas de exposição foram incorporando os avanços da comunicação social e da ciência da informação, havendo posteriormente museus que fazem uso de multimídia, com a utilização de tecnologias com suporte digital para criar, manipular, armazenar e pesquisar conteúdos. No Brasil, o Museu da Língua Portuguesa usa recursos como projeção de imagens para transmitir a informação sobre seu acervo, e objeto, a própria língua portuguesa. Os gabinetes de curiosidades, ou, Os quartos das maravilhas designam os lugares em que durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos século XVI e século XVII, se colecionavam uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos dos três ramos da biologia. Em geral os gabinetes de curiosidades eram uma exposição de curiosidades e achados procedentes de novas explorações ou instrumentos tecnicamente avançados, como foi o caso análogo da coleção do czar Pedro, o Grande, em outros casos eram amostras de quadros e pinturas, sendo este o caso do arquiduque Leopoldo Guillermo, podendo ser considerados como os precursores dos atuais museus de arte. Apareceram durante o Renascimento na Europa. Os gabinetes de curiosidades são os antecessores diretos dos museus.

Tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna embora refletissem a opinião popular do tempo: não era raro encontrar sangue de dragão secado ou esqueletos de animais míticos. A edição de catálogos, geralmente ilustrados, permitia acessar e difundir o conteúdo para os cientistas da época. Os gabinetes de curiosidades desapareceram durante os séculos XVIII e XIX, sendo substituídos por instituições oficiais e coleções privadas. Os objetos considerados mais interessantes foram transferidos para museus de artes e de história natural que começaram a ser fundados. Tiveram grande importância no estudo precoce de certas disciplinas de biologia ao criar coleções de fósseis, conchas e insetos.  O redescobrimento das culturas clássicas grega e romana, do ponto de vista da análise comparada se configuraram numa nova dimensão ao colecionismo de objetos de arte. Importantes coleções foram as dos poderosos Médici, uma pródiga família de nobreza italiana, que financiava a sequência de importantes obras de arte e a formação teórica e prática de artistas. 

Museu Nacional - Rio de Janeiro.

O colecionismo representa um conjunto de práticas e saberes sociais em que as pessoas individual e coletivamente, através dos símbolos têm o hábito de guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria, técnica e social em função de interesses pessoais. No mundo globalizado milhões de colecionadores organizam diversas coleções de objetos e atividades que pode trazer para o colecionador, em especial do ponto de vista geracional, decorrendo o desenvolvimento dos sensos de classificação e organização, de interação social e socialização com outros colecionadores, do poder de barganha em especial de negociação, bem como o aumento do repertório cultural acerca do objeto determinado colecionado. Dentre os principais coleções, algumas recebem nomes específicos. Tais nomes referem-se, em princípio, ao estudo dos itens aos quais se referem, e num processo de ampliação de sentido o termo passou a designar também o ato de colecionar tais itens. Isso se deve ao fato de que a maior parte desses estudiosos também acabava por colecionar seus objetos de estudo.

Ao afirmar que a existência do colecionador é uma tensão dialética entre os polos da ordem e da desordem, Benjamin adianta sua visão sobre esse processo de reunião, catalogação e arquivo de livros, que é a sua própria coleção: o colecionador, e seus objetos, estão sempre no umbral entre a desordem que é adquirir livros novos e a ordem (ou a tentativa) que é arquivá-los em uma estante. Se, por um lado, há a perspectiva de que a catalogação é a única forma de estabelecer qualquer tipo de coerência em uma biblioteca, por outro, há a sensação de que ela nunca está totalmente organizada, haja vista que são inúmeras as informações que povoam de sombras cada exemplar: nome do autor, ano de publicação, ano da escrita, ano de aquisição, e outras categorias. A discussão de Benjamin (cf. Krüger, 2014: 74) sobre fragmentos habita o plano do metafórico, pois toda ela é forjada sobre as bases das alegorias com que pretende explicar os conceitos de unidade, de conjunto, de parte, de todo. A primeira e mais recorrente figura utilizada é a das estrelas em contraponto à ideia de constelação,  o enlace, a rede imaginária que dá sentido de coletividade às muitas individualidades e ao isolamento de cada astro. Em paralelo, o autor estabelece a mesma noção de unidade menor e de coletivo ao resgatar os conceitos de ideias e coisas, no plano da filosofia.

Museologia e Museus têm caminhos entrelaçados, responsabilidades recíprocas e funcionalidade pragmática do ponto de vista da divisão do trabalho. A Museologia, enquanto disciplina, pode colaborar com a sociedade contemporânea na identificação de suas referências culturais, na visualização de procedimentos preservacionistas que as transformem em herança patrimonial e na implementação de processos comunicacionais que contribuam com a educação formal. O Museu, por sua vez, corresponde ao modelo institucional vocacionado à construção e à administração da memória, a partir de estudo, tratamento, guarda e extroversão dos indicadores culturais, materiais e imateriais (referências, fragmentos, expressões, vestígios, objetos, coleções, acervos), mediante o cumprimento de três funções básicas: científica, educativa e social (Léon, 1978). Se a consolidação epistemológica dessa disciplina depende, em grande parte, de sua experimentação nos museus, estas instituições necessitam, em contrapartida, de orientação filosófica e conceitual, derivada dos paradigmas que alimentam a discussão em torno da Museologia. Neste sentido, o refinamento dos caminhos entre os mitos, os ritos e os símbolos, além da utopia reside na conciliação entre o desenvolvimento, que na fenomenologia de Hegel tem como significado “vir a ser aquilo que se é”, na formulação ideal-típica dos museus e suas conquistas do pensamento museológico.

Bibliografia geral consultada.

HOLANDA, Cristina Rodrigues, Museu Histórico do Ceará: A Memória dos Objetos na Construção da História (1932-1942). Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2005; DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria, Gestão de Museus e o Desafio do Método na Diversidade: Diagnóstico Museológico e Planejamento. Tese de Doutorado em Museologia. Porto: Universidade Lusófona de Tecnologias e Humanidades, 2012; SILVA, Maurício Candido da, Musealização da Natureza: Exposições em Museus de História Natural como Representação Cultural. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; ZURITA, Priscila, Iluminação como Ferramenta de Comunicação dos Museus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. Centro de Ciências Humanas e Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2014; REMELGADO, Ana Patrícia Soares Lapa, Estratégias de Comunicação em Museus. Instrumentos de Gestão em Instituições Museológicas. Tese de Doutoramento em Museologia. Faculdade de Letras. Porto: Universidade do Porto, 2014; ISOLAN, Fiorela Bugatti, A Formação em Museologia nas Universidades Brasileiras: Reflexões sobre o Ensino da Gestão e do Planejamento sob a Ótica da Museologia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia. Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; RAFAEL, Maurício, Políticas Públicas para o Campo Museal: Um Estudo sobre o Programa de Capacitação Museológica do Sistema Estadual de Museus de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; GOMES, Alexandre Oliveira, Museus Indígenas, Mobilizações Étnicas e Cosmopolíticas da Memória: Um Estudo Antropológico. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Departamento de Antropologia e Museologia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2019; JORGE DE MELLO, Diogo, Festas de Encantarias: As Religiões Afrodiaspóricas e Afroamazônicas, um Olhar Fratrimonial em Museologia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2020; entre outros.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Mamonas Assassinas - Fadiga, Morte & Questão Efeitual Artística.


 Ubiracy de Souza Braga

 “A história de uma vida, seja qual ela for, é a história de um fracasso”. Jean-Paul Sartre 


            Com Friedrich Schleiermacher no início do século XIX, a hermenêutica recebe uma reformulação, pela qual ela definitivamente entra para o âmbito da filosofia. Em seus projetos de hermenêutica coloca-se uma exigência significativa de se estabelecer uma hermenêutica geral, compreendida como “uma teoria geral da compreensão”. Esta hermenêutica deveria ser capaz de estabelecer os princípios gerais de toda e qualquer compreensão e interpretação de manifestações linguísticas. Onde houvesse linguagem, ali aplicar-se-ia sempre a sua interpretação. E tudo o que é objeto da compreensão é linguagem. Esta afirmação, entretanto, demonstra todas as suas implicações quando se lhe justapõe esta outra tese de Schleiermacher: - “A linguagem é o modo do pensamento se tornar efetivo. Pois, não há pensamento sem discurso. Ninguém pode pensar sem palavras”. Ao postular a unidade de pensamento e linguagem, a tarefa da hermenêutica se torna universal e abarca a totalidade do que importa ao ser humano,  a partir da natureza da linguagem e das condições basilares da relação entre o falante e o ouvinte.

            A historicidade revela-se como uma propriedade fundamental da consciência humana. Os sistemas filosóficos não constituem uma exceção. Como as religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância comparativamente com as épocas históricas em que vieram à luz do dia, traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo procura trazer a imagem do mundo à clara consciência e ao mais estrito urdimento cognitivo. Neste esforço intelectual de reflexão e de trabalho dos conceitos, que gera uma circunspecção potenciada, é que reside o valor prático da atitude filosófica.  Como o centro da compreensão cognitiva está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão entre a ética e a teoria compreensiva.

Em verdade uma concepção da teoria, ao longo de quase meio século, permeada lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica.  Ele desejava evitar tanto quanto o empirismo dos positivistas, desde que fique clara a dimensão de ser criador de significados, que não representa apenas a noção ampla e biológica de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda experiência humana. Ipso facto, a história é suscetível de conhecimento porque é obra humana; nela o sujeito e objeto do conhecimento formam uma unidade. Nessa direção chega-se à formulação final da concepção de Wilhelm Dilthey. Seus elementos categoriais são: vivência, expressão e compreensão. A vivência surge nesse ponto, como algo especificamente social – pela sua dimensão intersubjetiva e cultural e pela sua dimensão significativa, para além do seu nível psicológico ou mesmo biológico porque guarda na memória. Trata-se de um ato reflexivo de consciência, que propõe e persegue fins num contexto intersubjetivo.




A diferenciação das ciências da sociedade não se realizou por artifício da “inteligência teórica”, em resolver o problema posto pela existência do mundo mediante a análise metódica do objeto de investigação: a própria vida a realizou. Fica evidente que, na segunda metade do século XIX todas as metafísicas não podem ser classificadas como ciências, mesmo os grandes novos sistemas do idealismo alemão. Por esta razão, Dilthey as declara “visões de mundo” (Weltanschauungen), que não são comprováveis, mas também não são refutáveis e, por esta razão, permanecem em eterno conflito entre si. Os três tipos de metafísica discernidos por Dilthey – naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo objetivo – têm a mesma posição perante as ciências das três religiões monoteístas em Ephraim Lessing: elas têm uma verdade existencial, mas não uma  verdade científica. A verdade é que há que uma diferença crucial no despontar do pensamento heideggeriano e a assunção de uma via histórica representada por influência de Dilthey e Heinrich Rickert. Com Wilhelm Dilthey, Martin Heidegger percebeu que não se devem tratar as questões filosóficas de maneira a-histórica, mas as enraizando no seu contexto histórico particular, onde qualquer experiência embora seja singular, a mesma só pode ser apreendida quando fazem parte de uma “comunidade de sentido”. Mais uma vez precisamos compreendermos a explicação da ordem singular-universal. Essa vivência singular encerra em si uma ligação com o todo de um determinado tempo histórico, o que o próprio Dilthey irá chamar em sua hermenêutica de visão de mundo.

Não resta dúvida de que a história e seus desdobramentos hermenêuticos, segundo Barbosa (2019)  possuem um ponto de destaque tanto em Hans-Georg Gadamer quanto Martin Heidegger. Todavia, ainda mais indubitável é a singularidade com que cada um desses filósofos desenvolve a temática, fazendo com que o desfecho dessas unicidades de pensamento produza caminhos hermenêuticos diametralmente opostos. Mas o trabalho filosófico de Gadamer não pode ser compreensível em sua totalidade sem que sejam demonstradas as contribuições deixadas por Heidegger em sua obra. A analítica existencial do Dasein, desenvolvida por este filósofo, não influenciou apenas o pensamento Hans-Georg Gadamer, mas transformou todo o cenário paradigmático da filosofia hermenêutica. O próprio Heidegger reconhece, em uma carta a Otto Pöggeler datada de 05 de janeiro de 1973, que a hermenêutica de  Gadamer possui nuances diversas de fenomenologia, ao afirmar a célebre sentença: - “A filosofia hermenêutica é coisa de Gadamer”. Portanto, ao revés das idiossincrasias referentes à identidade desses hermeneutas, a proposta nevrálgica deste texto é demonstrar o efetivo distanciamento de Gadamer, ao elaborar e destrinchar o conceito de história efeitual (Wirkungsgeschichte), face à postura heideggeriana de elaboração da historicidade do Dasein (Geschichtliches), em suas especificidades e originalidades de análise que precisam ser levadas em consideração quando ao parti pris hermenêutico.           

Mamonas Assassinas foi uma banda brasileira de rock cômico formada na cidade de Guarulhos, São Paulo, em 1989. A banda era formada por Dinho (vocal), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclado), Sérgio Reoli (bateria) e Bento Hinoto (guitarra). Sua interpretação musical consistia numa mistura agradável de pop rock com influências de gêneros populares, passando pelo sertanejo, brega, heavy metal, pagode romântico, forró, música mexicana e vira. O único álbum de estúdio gravado pela banda, Mamonas Assassinas, lançado em junho de 1995, vendeu mais de 1 milhão 800 mil cópias no Brasil, sendo certificado com disco de diamante comprovado pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD). Com um sucesso relâmpago, a carreira da banda durou apenas 1 ano e meio, de outubro de 1994 a 2 de março de 1996, quando o grupo musical foi vítima de acidente aéreo fatal (cf. Amalberti, 1995) na Serra da Cantareira, localizada ao norte da cidade de São Paulo. Sua encosta sul pertence ao Parque Estadual da Cantareira, reserva possuidora de 7.916 hectares - o equivalente a 8 mil campos de futebol. Apresenta também normas rígidas de preservação da mata atlântica nativa, portando apenas algumas poucas trilhas.

            O rock cômico é a música rock de natureza cômica, muitas vezes misturada com sátira ou ironia. É um gênero  musical que mistura o som do rock and roll com sátiras e outras formas usuais de comédia. Frequentemente consiste em regravações de músicas famosas, com modificações em suas letras e/ou melodia, mas músicas originais também são comuns. Os precursores desse gênero foram Frank Zappa, Stan Freberg e Sheb Wooley. Os primeiros exemplos norte-americanos incluem Stan Freberg, que satirizou artistas como Elvis Presley, Harry Belafonte and the Platters e Sheb Wooley.  Na Grã-Bretanha, durante os anos 1950 e início dos anos 1960, comediantes como Charlie Drake and the Goons frequentemente apareciam entre os dez primeiros com discos de rock 'n' roll humorísticos; este último, em conjunto com Lewis Carroll e Edward Lear, influenciariam, por exemplo, o jogo de palavras de letras do pacifista John Lennon.  Grupos britânicos se especializaram em comédia: estes incluíam o Scaffold, a Bonzo Dog Doo-Dah Band e Alberto y Lost Trios Paranoias. Mais tarde,  na década de 2000, Mitch Benn lançou vários álbuns de estúdio que satirizaram sua atualidade usando vários gêneros musicais, mas principalmente o rock. Seu álbum 2012 Breaking Strings foi aclamado pela crítica especializada por sua sensibilidade ao métier do rock.   

Vale lembrar que Frank Zappa é precursor e padrinho da comédia rock. A banda de pop rock e folk rock The Turtles lançou um álbum de comédia rock, The Turtles Present the Battle of the Bands, em 1968, embora a banda já tivesse incorporado o humor em suas canções. Dois de seus membros, Howard Kaylan e Mark Volman, posteriormente interpretaram canções mais explicitamente cômicas como Flo e Eddie com sua própria banda e com o anarquista Frank Zappa. Outras bandas de rock cômico reconhecidas no país são o Massacration e o Pedra Letícia. Contudo, rock onanista, é compreendido como um subgênero do rock cômico misturando rock and roll com a temática onanista. Conforme sugere na Folha de S. Paulo (2016), este gênero musical é creditado aos Mamonas Assassinas, que abriram espaço nas rádios para músicas cujas letras falam não apenas sobre sexo. Sociologicamente a expressão banda de música, ou “banda”, vem sendo utilizada para definir a formação composta por madeiras, metais e percussão. Essa também é a temática popular das ruas cariocas no que se refere a canção “A Banda”, do cantor, compositor Chico Buarque de Holanda.

Frank Vincent Zappa foi compositor, cantor, guitarrista, multi-instrumentista, produtor e realizador. Considerado um dos melhores compositores da história do Rock e um dos maiores músicos da historia da musica do séc. XX. Com uma carreira de mais de trinta anos, a sua obra musical estendeu-se pelo rock, fusion, jazz, música eletrônica, música concreta e música clássica. Zappa compôs e produziu quase todos os seus 60 álbuns. Os Mothers of Invention, banda que o acompanhou em grande parte da carreira era apenas o conjunto de músicos que o acompanhava nos seus concertos e gravações não tendo por isso uma estrutura estática, mudando constantemente os seus elementos. Apesar de sempre se ter considerado como um musico anverso e contrario à indústria musical, principalmente contra a sua maquina comercial, esta não pode deixar de reconhecer a sua genialidade. Zappa foi um artista altamente produtivo e prolífico, ganhando aclamação da crítica. Muitos de seus álbuns são considerados essenciais na história do rock e do jazz. Ele é considerado um dos guitarristas mais originais de seu tempo. Ele também continua sendo uma grande influência para músicos e compositores. Alcançou algum sucesso musical, particularmente na Europa, e pela maior parte de sua carreira trabalhou como artista independente. Frank Zappa faleceu, em decorrência de um câncer de próstata, em 1993, 17 dias antes de completar aniversário de 53 anos.

Com o surgimento e difusão do rock and roll, os grupos artísticos musicais que tocavam esse estilo passaram a ser denominados bandas de rock, ou simplesmente bandas. A partir daí, a denominação banda musical, ou banda passou a designar diferentes tipos de grupos artísticos e de formações musicais. As bandas de rock tipicamente possuem um ou dois guitarristas, baixista, baterista e, dependendo do estilo, tecladista. Possuem também um vocalista, que pode ser um dos instrumentistas, ou um músico dedicado exclusivamente para cantar, seja por suas características de voz e popularidade. As bandas musicais geralmente são classificadas de acordo com o número de real seus integrantes. Um duo ou dupla musical é a menor formação de um grupo musical formado exatamente pela representação desses dois membros. É comum na música sertaneja brasileira. Todavia, são comuns mormente os trios, quartetos, quintetos e sextetos, formados por três, quatro, cinco e seis integrantes. A influência neste aspecto é notável desde o surgimento do Quinteto Violado, um conjunto instrumental-vocal formado em 1970, na cidade de Recife (PE), que se caracteriza pela interpretação de músicas nordestinas e a realização de pesquisas sobre o folclore ao sexteto do Jô Soares.

O Sexteto do Jô representava a House band que acompanhou o apresentador Jô Soares nos programas de entretenimento na televisão, quer seja no Jô Soares Onze e Meia, nessa época chamada de Quinteto Onze e Meia e também no Programa do Jô. No início era um Quarteto, formado por Miltinho, Bira, Rubinho, Edmundo Villani-Côrtes que animavam os intervalos das gravações e as apresentações musicais no talkshow televisivo do apresentador, ator, músico e escritor Jô Soares. A fórmula deu certo e o Quarteto virou Quinteto Onze e Meia e, depois, Sexteto e no final de 2016, novamente quarteto. Não houve nenhuma manifestação se o conjunto iria continuar depois do fim do Programa do Jô, no final de 2016. Esse sexteto faz shows desde 1992 pelo Brasil. Todos os integrantes têm seus projetos musicais individuais. No programa tocavam jazz com Jô Soares e acompanham os convidados em seus mais variados estilos musicais como quando tocaram blues com o guitarrista virtuoso norte-americano Joe Satriani. Em novembro de 2015, Satriani foi contemplado com o prêmio “The Maestro” durante o 11ª Annual Classic Rock Roll of Honour Award. Com mais de 10 milhões de discos vendidos, Satriani é o músico de rock instrumental que mais vendeu discos na história. De seus vários álbuns solo, dois chegaram a disco de platina e outros quatro a disco de ouro, com 15 indicações ao Grammy entre eles. Sua música é tão eclética que não se pode englobá-lo num só estilo musical. Por vezes soa rock and roll, blues, progressivo, pop. Por isso, o próprio Satriani definiu seu estilo como Joe Satriani Music.

            Em março de 1989, mutatis mutandis - Sérgio Reis de Oliveira que ao trabalhar na empresa de máquinas de escrever Olivetti, conheceu Maurício Hinoto, irmão de Alberto Hinoto que mais tarde adotaria o nome artístico de Bento Hinoto. Ao saber que Sérgio era baterista, Maurício decidiu apresentar o irmão, que tocava guitarra. A partir daí, Sérgio conheceu Alberto e decidiram criar uma banda. Na período, Samuel Reis de Oliveira, irmão de Sérgio, não se interessava em música, preferindo desenhar aviões. Contudo, ao ver Sérgio e Bento ensaiarem em sua casa, Samuel se interessou pela música e passou a tocar baixo elétrico. Estava formada, assim, a base da banda, com baixo, guitarra e bateria. Os três formaram o grupo Utopia, especializado em covers de grupos famosos como Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Rush, entre outros. O Utopia passou a apresentar-se na periferia de São Paulo. Durante um show realizado em julho de 1990 no Parque Cecap, um conjunto habitacional de Guarulhos, o público solicitou que o trio executasse a canção Sweet Child o' Mine, da banda norte-americana Guns N` Roses. Como desconheciam a letra, pediram a um dos espectadores que subisse ao palco para ajudá-los. Alecsander Alves, que mais tarde adotaria o nome artístico de Dinho, voluntariou-se para cantar. Mesmo não sabendo a letra, sua performance e malandragem provocaram grandes risadas da plateia. Foi assim com sua maneira escrachada garantiu o lugar de vocalista da banda.  

Em 1990, por intermédio de Sérgio, o tecladista Márcio Araújo, que mais tarde passou a ser conhecido como “o sexto Mamonas” foi inserido ao grupo. O último integrante a entrar para o Utopia foi Júlio Cesar Barbosa, que mais tarde adotaria o nome artístico de Júlio Rasec. Júlio era amigo de Dinho e foi incorporado para auxiliá-lo nas canções cover em inglês, além de atuar como percussionista e realizar consertos de fios e cabos dos equipamentos da banda, quando necessário. Com esta formação, a banda continuou tocando em locais de pouca expressão artísticas de São Paulo e região metropolitana. Em uma das suas entrevistas, o baterista Sérgio Reoli revelou que os melhores shows para a banda eram os beneficentes “porque não gastavam nem ganhavam dinheiro”. Sérgio Reoli, também noutra entrevista, narra quando eles foram fazer um show no interior do estado e chegaram a dormir no próprio palco, “já que o dinheiro mal deu para pagar a Kombi e ainda por cima, na volta, Dinho fez uma gracinha para uma menina dirigindo a Kombi e quebrou a caixa de marchas”.

Em 1992, a banda conheceu Rick Bonadio, e em seu estúdio produziram o vinil Utopia, seu primeiro e único disco independente, composto por 6 canções. Das 1.000 cópias produzidas, apenas 100 foram vendidas. Naquela época, Márcio Araújo cursava engenharia civil na Universidade de Guarulhos, e a rotina de ensaios e viagens tornou-se um obstáculo para seus estudos e projetos profissionais. Por conta disso, ele passou a faltar nos ensaios de sábado quando havia aulas na faculdade e nas viagens em dias úteis. Pelo mesmo motivo, não chegou a gravar nenhuma das faixas do disco vinil Utopia, embora apareça na fotografia da capa. Após Márcio Araújo sair da banda, Júlio Rasec passou a ser o tecladista e back vocal da banda. Aos poucos, os integrantes começaram a perceber que as palhaçadas e canções de paródia que faziam nos ensaios para se divertirem eram mais bem recebidas ainda pelo público do que covers e canções sérias. Gradualmente, foram apresentando nos shows algumas paródias musicais, com receio da aceitação do público. O público, porém, aceitava muito bem as canções escrachadas. Os integrantes do  grupo Utopia perceberam a chave para o sucesso progressivo da banda. 

Foi ele, produtor musical, quem descobriu os Mamonas. Agora, em parceria com o jornalista Luiz César Pimentel, Bonadio lança sua biografia - “Rick Bonadio – 30 Anos de Música”, pela editora Seoman -, em que narra sua história, trabalhos e experiências, não só com os Mamonas, mas com os inúmeros artistas que produziu. - “A partir de um acerto fui colocado no mapa do cenário fonográfico e passaram a prestar atenção no que eu fazia”, diz o produtor. Mas, apesar disso, Bonadio admite que cometeu erros e aprendeu com eles, tendo inclusive apostado em artistas que não deslancharam. “Depois do acidente [com os Mamonas] ninguém me procurava. No mundo da música, em um momento você está no topo e de repente, não mais. De um dia para o outro tudo muda”. Após o baque inicial, Bonadio voltou a todo vapor. Descobriu ou produziu artistas como Charlie Brown Jr., Tihuana, CPM22, Los Hermanos, Ultraje a Rigor, Luiza Possi, Rouge, Br’oz, IRA!, NX Zero, Fresno, Titãs, Mr. Catra, Biel, Sérgio Reis, Roberta Miranda, entre outros. Com três décadas recém-completadas de carreira, Bonadio é jurado de programas para descobrir novos talentos e coleciona a marca de cinco prêmios Grammy Latino. Ainda assim, possui sonhos a serem realizados. - “Não há maior realização profissional do que receber um Grammy. É sinal de um bom trabalho e de reconhecimento. Mas, nunca produzi artistas que gostaria, como Ivete Sangalo e Seu Jorge”. Como músico e produtor, Bonadio aposta na diversidade. - “Já fui criticado por trabalhar com uma variedade enorme de gente. Acredito que quanto mais artistas diferentes, de perfis e estilos distintos, melhor. Afinal, há diversos talentos no Brasil que precisam de incentivo”.

Quem viveu na década de 1990 sabe que a trupe liderada por Alecsander Alves, o Dinho, com roupas que homenageavam de “Chapolin” a “Star Trek”, encarnou com maestria o espírito de escracho de um país saído só dez anos antes da ditadura militar. O primeiro e único disco, que tinha apenas 39 minutos e oito segundos e trazia a banda sob o desenho de grandes seios, vendeu três milhões de cópias. Os cinco garotões na casa dos 20 anos, a maioria ex-office boy em Guarulhos (SP),estavam por todos os cantos, seja convidando o Brasil “para uma tal de suruba”, no punk-fado “Vira-Vira”, seja tomando as dores do ciborgue de “andar erótico” que se transforma num “ato cirúrgico”, na sci-sofrência de “Robocop Gay”. Ambas onipresentes nas festinhas infantis. Após cogitarem se chamar Os Cangaceiros do teu Pai e Tangas Vermelhas, o grupo foi de Mamonas Assassinas do Espaço, nome depois reduzido. Chegaram rápido ao topo. Cobravam R$ 70 mil por show, o que não era uma fortuna para a época. Tocaram em 24 Estados e Brasília, exceto Acre e Tocantins. Ganharam o Troféu Imprensa de melhor música em 1995. “Sabão Crá-Crá” foi tema de André Marques, aquele que fez o Mocotó em Malhação, na segunda temporada do programa da Globo.
            O Brasília foi um dos primeiros Volkswagen a serem projetados e construídos fora da matriz alemã, sendo o também brasileiro SP2 o primeiro. O então presidente da Volkswagen do Brasil, Rudolph Leiding, inspirado pelo SP2, desafiou os engenheiros da marca a produzir uma nova versão do Fusca, porém adaptado ao mercado nacional. O modelo deveria oferecer mais espaço, deveria utilizar a mesma mecânica, porém deveria parecer mais contemporâneo. Após uma série de protótipos, finalmente José Vicente Martins e Márcio Piancastelli apresentaram o conceito do que seria o modelo final. Semelhante a uma “mini-Variant”, com uma versão modernizada da dianteira desse veículo, era 2 centímetros menor do que o Fusca, porém com o mesmo entre-eixos, maior espaço interno, ampla área frontal envidraçada, satisfatório porta-malas dianteiro e uma prática tampa hatchback para o porta-malas traseiro. O design retilíneo da carroceria, com linhas suaves e equilibradas, foi inovador na época. Esta característica privilegiava um amplo espaço interno para os passageiros, algo difícil de se encontrar na época em carros do segmento do Brasília. Quando este modelo alcançou a fase de testes, um repórter conseguiu fotografar alguns modelos em ruas próximas à fábrica. Os seguranças tentaram afastá-lo, e quando falharam, decidiram atirar contra seu carro. O incidente causou alguma comoção comercial na imprensa nacional, levando a Volkswagen a se desculpar publicamente. Entretanto a notícia alavancou a venda da revista Quatro Rodas que comprou as fotos do então repórter free-lance Cláudio Laranjeira, que logo depois seria contratado profissionalmente pela revista.

Rick Bonadio se reuniu com o grupo e sugeriu que a mudança de perfil, além da composição das novas canções deveria ser completa a começar pelo nome. Os nomes sugeridos pelos próprios músicos foram: “Um Rapá da Zé”, “Tangas Vermelhas”, “Coraçõezinhos Apertados” e “Os Cangaceiros de Teu Pai”. E então Samuel sugeriu Mamonas Assassinas do Espaço, que foi reduzido para “Mamonas Assassinas”. Este nome, de duplo sentido, casou-se perfeitamente com o novo perfil da banda. Além do nome, como a banda passou a adotar uma via mais cômica, os integrantes trocaram seus nomes e seus figurinos, que passou a ser menos rock'n'roll, e mais caricato. Em 2010, a Rede Record, numa matéria de Arnaldo Duran para o Jornal da Record, mostrou a primeira apresentação do grupo Utopia em um programa de televisão. Foi no programa popular Sábado Show, no quadro Oficina, aberto às chamadas “bandas de garagem”. Nas imagens, é possível perceber o figurino dos músicos. Bento, por exemplo, aparece com o cabelo curto e de boné. E os outros aparecem com cabelos bem compridos.

Bonadio ficou responsável por gravar, lançar os músicos e também vender os shows. Após gravar o disco, que foi lançado no dia 23 de junho de 1995, o disco passou desapercebido nas lojas. Porém, no dia seguinte, quando a 89 FM a Rádio Rock tocou a canção “Vira-Vira”, os Mamonas estouraram de vez para o sucesso. Foi o disco de estreia que mais vendeu no Brasil e também o que mais vendeu cópias em um único dia: 25 mil cópias nas primeiras 12 horas após a canção ter sido executada. A partir da mudança de perfil, eles passaram a sempre se apresentar vestidos de Chapolin Colorado, de presidiários, bonés extravagantes e cabelos pintados, e, claro, com uma postura mais brincalhona no palco. Uma nova gravação da demo foi feita. “Mina (Minha Pitchulinha)” ficou mais pesada e passou a ser chamada “Pelados em Santos”. “Robocop Gay” ganhou nova mixagem e “Vira-Vira” foi gravada pela primeira vez.                  

O logotipo da banda é uma inversão da logomarca da Volkswagen, colocada de cabeça para baixo, com a adição de uma barra horizontal para formar o A, formando assim um M seguido de um A de Mamonas Assassinas. Dois veículos da empresa alemã são citados nas canções: em “Pelados em Santos”, a Volkswagen Brasília, e em “Lá vem o Alemão”, a Volkswagen Kombi. Os Mamonas naquele momento preparavam uma carreira internacional, com partida para Portugal preparada para 3 de março de 1996. No dia 2 de março de 1996, enquanto voltavam de um show em Brasília, o jatinho Learjet em que viajavam, modelo 25D prefixo PT-LSD, chocou-se contra a Serra da Cantareira, às 23h16 minutos, numa tentativa de arremetida, matando todos os que estavam no avião. O enterro, no dia 4 de março de 1996 no cemitério Parque das Primaveras, em Guarulhos, São Paulo, fora acompanhado por mais de 65 mil fãs, em algumas escolas, até mesmo não houve aula por motivo de luto. O enterro também foi transmitido em TV aberta, com canais interrompendo sua programação normal.             

O que consumou o acidente foi uma operação equivocada do piloto Jorge Luiz Martins e seu copiloto, depois de uma longa escala de voos que passavam por cidades onde ocorreram as apresentações da banda, segundo o Centro de Investigações e Prevenções de Acidentes Aeronáuticos, que assim concluiu para explicar o acidente com o jatinho que causou a morte dos cinco integrantes do grupo. - O que contribuiu para que o acidente ocorresse foi fadiga de voo, imperícia por parte do copiloto que não tinha horas de voo suficientes para aquele tipo e modelo de aeronave e não era contratado pela empresa de táxi aéreo Madri, que transportava a banda, falha de comunicação entre a torre de controle e os pilotos, cotejamento e fraseologia incorretos das informações prestadas pela torre. A 10 quilômetros do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, os pilotos pediram à torre de controle o procedimento de aterrissagem. Após uma tentativa de pouso sem sucesso, a aeronave foi arremetida e foi pedido uma nova autorização de pouso que foi autorizada pela torre de controle, daquele aeródromo. No entanto, em vez de fazer uma curva para a direita, onde fica a extensa Rodovia Dutra, por uma falha de comunicação e fatores humanos, os pilotos efetuaram uma curva com o avião para a esquerda, chocando-se com a Serra da Cantareira.

A modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo global em que vivemos, ainda que em diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública em dimensão mundial.          

Além disso, enquanto totalidade histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o colonialismo. Nela, as relações de trabalho e de produção entre formas sociais e eventos locais e globais, distantes se tornam correspondentes e sociologicamente alongadas. A globalização se refere essencialmente a este processo de alongamento, na medida em que as modalidades de conexão entre diferentes regiões ou contextos sociais se enveredam através da superfície da Terra como um todo. Ela é definida na sociologia de Anthony Giddens, em sua dimensão exógena, “como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modeladas por eventos ocorrendo a muitas milhas de distâncias e vice-versa”. Este é um processo de comunicação dialético porque tais acontecimentos locais podem se deslocar numa direção anversa às relações muito distanciadas que aparentemente os modelam. A transformação local é tanto parte da globalização quanto a extensão das conexões sociais através do tempo e do espaço.

Parque Cecap é um bairro de Guarulhos, no estado de São Paulo. Nesse distrito fica localizado o Terminal Turístico Rodoviário de Guarulhos, o Hospital Geral de Guarulhos, o SESC Guarulhos e a Estação Guarulhos – Cecap da Linha 13 da CPTM -  Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, sociedade de economia mista operadora de transporte ferroviário vinculada à Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo. Criada pela lei nº 7.861 de 28 de maio de 1992, a partir de ferrovias já existentes na Região Metropolitana de São Paulo. O Parque Cecap foi concebido e construído sob o auspício da antiga Caixa Estadual de Casas para o Povo, a partir de 1968. Encomenda e supervisão do projeto feito a três importantes arquitetos paulistas: Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado. Marco importante na arquitetura modernista brasileira e na política pública habitacional, denominado Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, demonstra rara preocupação e eficiência em relação à qualidade de vida dos moradores. Valorizando os espaços coletivos, o ambiente e os equipamentos públicos necessários ao cotidiano. Quase quarenta anos da entrega das primeiras moradias, o bairro passou por diversas modificações urbanísticas e tecnológicas que refletem as transformações técnicas da sociedade e os limites tanto das propostas modernistas, quanto das políticas públicas habitacionais. Nos quais são constituídos doze (12) condomínios de moradores com nomes dos respectivos estados da federação, começando por estados da região Sudeste e Sul, a saber: estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Região Centro-Oeste: Goiás. Região Norte: estado de Tocantins.

Os demais condomínios são constituídos pela região Nordeste: Bahia, Alagoas e Sergipe. Dentre eles há um centro comercial, um clube e há escolas. A principal homenagem de Guarulhos ao grupo Mamonas Assassinas, no Cecap, a praça instalada no bairro onde o grupo guarulhense, morto em trágico acidente aéreo em 1996, cresceu está completamente abandonada. Localizada entre os condomínios do Cecap, próxima ao Terminal Rodoviário de Guarulhos, o local se encontra abandonado. Nem a estátua da “mamona”, símbolo do grupo, escapa. Algumas pichações e pequenos danos tomam conta do monumento, que perdeu até a placa da inauguração que mostrava as informações sobre a homenagem. Ela foi levada. Alguns refletores que fazem a iluminação da estátua e da praça foram depredados. Pelo chão, cacos de vidro espalhados por toda a grama. O morador Rui Ferreira, 68 anos, acredita que por ser um ponto turístico o local deveria ser melhor cuidado. “Esses dias veio uma excursão conhecer a praça e não tinha banheiro público para os visitantes, tiveram que pedir para um comerciante se ele deixava o pessoal usar o banheiro de lá”. Ao lado da praça dos Mamonas, um cenário diferente. Na pista de skate do Parque Cecap, sinais de limpeza e cuidados, que partem de ações isoladas, que incluem até a instalação de lixeiras. Esse é o resultado do projeto: “Recicla-me ou Te Devoro”, uma parceria entre os coletivos Baquira Sistema de Som, que faz um evento mensal no local e defende o uso do espaço público de forma consciente, Arrastão Cultural e a Ecooficina. O local é frequentado por jovens que cuidam da pista e podem ter o local conservado para praticar esporte.

Em sua dimensão endógena, a globalização pode ser entendida formando um clima de comunicação, aqui entendido enquanto estado que tende à estabilização dos elementos num ambiente/meio atravessado por forças reguladoras/desreguladoras de efeito generalizado de transmissão/interligação. Pode-se ilustrar isso em dois registros. Com o apuramento técnico da economia de guerra que alguns chamam logística, onde há um clima poderoso de comunicação claramente manifesto. Melhor dizendo, que vem gradativamente sendo reconstruído, desde o colonialismo, ou a destruição das novas e velhas culturas no globalismo. Ocorre nos procedimentos e resultados já familiares de controle da informação, com a informática etc., padrão comunicacional nesse clima. O que se chamou vulgarmente em política de guerra fria nos últimas cinco décadas de conflito mundial conformava-se à idéia de um tal adensamento. Em consequência do adensamento/expansão do clima de comunicação, portanto, se estabelece um modelo tecnológico de avanço/modernização das forças produtivas e do modo de sua produção.

Enfim, o que determina a escolha racional de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos pragmáticos. O meio artístico age quase que indefinidamente assim. Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou aqueles achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela Razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. Violência em última análise. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre seu próprio corpo humano. Não é mais suficiente a assertiva segundo a qual para compreender as estruturas de poder devemos desloca-las para os dispositivos e os procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar, disciplinar e depois gerir, classificar e hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho. Na política contemporânea o que faz andar na vida são relíquias de sentido, por vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nome que no sentido da memória deixaram de ser próprios. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e se fundem três funcionamentos distintos, conjugados, das relações entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo.

Bibliografia geral consultada.

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