segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Paul McCartney - Magia Business & Cultura Irlandesa de Rock.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

Acho que, basicamente, é a magia. Os Beatles eram mágicos”. Paul McCartney

                          
Sir James Paul McCartney nascido em Liverpool, 18 de junho de 1942, é um cantor, compositor, baixista, guitarrista, pianista, multi-instrumentista, empresário, produtor musical, cinematográfico e ativista dos direitos dos animais britânico. As origens de Paul tanto do lado do pai como da mãe são irlandesas. Ao longo da história houve uma relação próxima entre as duas nacionalidades, criada principalmente pelo ressentimento compartilhado no que diz respeito aos ingleses. Eles têm muito em comum, desde o idioma gaélico ao gosto por uísque e a paixão e o sentimentalismo de sua música nativa, tocada nos dois casos com a ajuda de gaitas de foles. É possível encontrar famílias de ascendência escocesa em toda a Irlanda, e vice-versa. Uma das músicas mais controversas que Paul escreveu foi Give Ireland Back to the Irish, embora seus ancestrais tenham se privado da terra natal de bom grado. Seu bisavô paterno, James McCartney, fez parte da imigração em massa do final do século XIX, quando a miséria terrível que assolou a Irlanda levou milhares de pessoas a deixar o país com a esperança de uma vida melhor.
          James McCartney foi um dos muitos a cruzar o mar da Irlanda para Liverpool, cujo porto fervilhante e cujas fábricas justificavam o título autoconcedido de única segunda cidade do Império Britânico. Ele chegou no início dos anos 1880, se estabelecendo no humilde distrito de Everton e trabalhando como pintor de casas. O filho de James, Joseph, cresceu e se tornou um cortador de folhas na fábrica de tabaco Cope, e, em 1896, casou-se com a filha de um peixeiro local, Florence Clegg. Ela teve nove filhos, dos quais dois, Ann e Joseph Junior, morreram na infância e seus nomes foram dados depois a outro menino e a outra menina que nasceram mais tarde. O segundo filho de Joseph e Florrie a sobreviver, nascido em 1902, era o pai de Paul, James, que sempre foi reconhecido como Jim. O lar de Jim e de seus seis irmãos, Jack, Joe Junior, Edith, Ann, Millie e Jane, era uma pequena casa geminada em Solva Street, a parte mais pobre de Everton. Mais tarde, ele contaria que os filhos dos McCartney tinham dois pares de sapatos compartilhados por todos, um para os meninos, um para as meninas. Como a escola proibia os alunos de irem descalços, eles se revezavam para ir à aula com o precioso calçado, depois para casa e repetiam a aula do dia em voz alta para os outros. Florence McCartney (nascida Clegg) era a avó de Paul McCartney da fama dos Beatles. Florrie era reconhecida como “Granny Mac” na vizinhança e era  consultada quando as famílias tinham problemas.
Paul McCartney alcançou fama mundial como membro da banda de rock britânica The Beatles, com John Lennon, Ringo Starr e George Harrison. Lennon e McCartney foram uma das mais influentes e bem sucedidas parcerias musicais de todos os tempos, “escrevendo as canções mais populares da história do rock”. Após a dissolução dos Beatles em 1970, McCartney lançou-se na carreira “solo de sucessos”, formou uma banda com sua ex-mulher Linda McCartney, denominada: Wings. Ele também trabalhou com música clássica, eletrônica e trilhas sonoras. A separação da banda The Beatles revelou um processo cumulativo marcado por rumores e comentários ambíguos de seus membros no que dizia respeito ao próprio futuro enquanto integrantes da banda. Em setembro de 1969, John Lennon reservadamente informou a seus companheiros de banda que ele estava deixando o grupo. No entanto, não houve reconhecimento público do fato socialmente relevante, até que em 10 de abril de 1970 se tornou público, quando McCartney anunciou que estava deixando o grupo musical.
                    

Houve numerosas causas para a separação da banda, inclusive o abandono das turnês em 1966 e a morte do brilhante empresário Brian Epstein em 1967. Brian nasceu em Liverpool, Inglaterra no dia 19 de setembro de 1934 vindo de uma família de origem judia. Seu avô, Isaac Epstein veio da Lituânia para a Inglaterra por volta de 1890. Isaac fundou a I. Epstein and Sons e expandiu os negócios da família abrindo uma loja de instrumentos musicais, discos de música entre outras coisas. A nova loja se chamou North End Music Stores (NEMS). O pai de Brian, Harry e sua mãe, Malka (reconhecida como Quennie) tiveram outro filho além de Brian, Clive. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Epstein mudaram-se para Southport (perto de Liverpool) para fugir da Blitz. Eles voltaram a Liverpool em 1945. Até aos 16 anos, Brian estudou em vários internatos até que escreveu uma carta ao pai dizendo que queria ser designer de moda. Como o pai não aceitou, Brian foi trabalhar na loja da família. Em dezembro de 1951, Brian serviu a Royal Army Service Corps e foi colocado em serviço na Albany Street Barracks em Londres. Em 1956, aos 21 anos, Brian se tornou gerente da NEMS pouco depois com a ambição de se tornar ator, o pai permite que Brian parta para Londres para os estudos da carreira. Brian estudou na Academia Real de Artes Dramáticas, mas abandonou no terceiro termo retornando a Liverpool. De volta a cidade natal, Brian voltou a trabalhar no departamento de música da recém inaugurada NEMS em Great Charlotte Street. Determinado em tornar a North End Music Stores provavelmente a melhor loja comercial de venda de discos, Brian contratou o experiente vendedor Peter Brown, que na época trabalhava na seção de música na loja de departamento Lewis`s.

Em agosto de 1961, Brian começou a escrever regularmente artigos sobre música no Mersey Beat. O primeiro encontro com os Beatles aconteceu em 1961, segundo Brian, um cliente chamado Raymond Jones foi até a NEMS pedir um compacto com a música My Bonnie gravada pelos Beatles e Tony Sheridan quando o grupo estava fazendo algumas apresentações em Hamburgo. Como Brian não conhecia a banda e ficou sabendo que eles tocavam regularmente um pub não muito distante de sua loja resolveu vê-los. Foi assim que no dia 9 de novembro de 1961, Brian viu os Beatles tocando no Cavern Club pela primeira vez. Sua chegada ao Cavern Club foi anunciada nos alto falantes da casa, Brian foi tratado como vip.  A história do primeiro encontro de Brian com os Beatles é contestada por Bill Harry, editor da revista Mersey Beat. Segundo Bill, Brian teria visto um artigo sobre os Beatles no Mersey Beat vendido na sua loja, a NEMS. A influência de Brian nos Beatles foi grande, ele propôs uma nova maneira de se vestir e se comportar no palco. Antes os Beatles se vestiam de jaquetas de couro e jeans. Com Brian passaram a usar ternos impecáveis. Antes os Beatles bebiam, fumavam, conversavam, xingavam durante o show, também paravam uma música no meio. Com Brian, os Beatles passaram a se comportar de maneira mais profissional. Durante o show, nada de beber, fumar ou parar uma música no meio nem usar palavrões.

Paul McCartney foi o primeiro beatle a aceitar esta nova maneira de se comportar da banda. Após o contato com os Beatles, Brian foi várias vezes a Londres tentar um contrato com alguma gravadora sendo recusado por várias incluindo a Columbia, Pye, Philips e Oriole. Mas a recusa mais famosa foi na Decca. Os Beatles chegaram a gravar um material para um disco na Decca mas a gravadora os dispensou. .No dia 8 de fevereiro de 1962, Brian levou a audição da Decca até a loja de discos HMV em Oxford Street com intenção de transformar a fita em um disco. Na HMV o técnico Jim Foy acabou gostando do material e sugeriu que Brian procurasse George Martin na Parlophone (uma subsidiária da EMI). Com a fita da Decca, os Beatles conseguiram o contrato com a Parlophone antes mesmo que Martin os tivesse visto pessoalmente. Com o sucesso dos Beatles, Brian contratou outros artistas para empresariar entre eles Gerry & The Pacemakers, Cilla Black e Billy J. Kramer, The Farmoust e The Cyrkle. Em 1963, grupos descobertos pelo empresário eram responsáveis por 85 músicas das 100 mais da parada britânica. O Financial Times estimou, em 1967, a fortuna do empresário em torno de 7 milhões de libras. Mas quando faleceu no segundo semestre daquele ano foi descoberto que sua fortuna havia sido superestimada devido a jogos e gastos generosos.

Uma das figuras fundamentais no lançamento e na promoção mundiais de The Beatles, Brian Epstein também conseguiu manter a banda funcionando como uma unidade. O seu estilo gerencial consistia em deixar o grupo buscar seus próprios projetos e interesses musicais, frequentemente assumindo o papel de mediador quando aconteciam conflitos. Este papel minguou após a banda interromper as turnês em 1966: muito embora Epstein ainda continuasse a exercer forte influência, tanto na mediação das discussões entre os membros, quanto administrando as finanças do grupo. Quando Epstein morreu de overdose em agosto de 1967, surgiu um vazio na banda. John Lennon, que tinha o relacionamento mais próximo com Epstein, também foi o mais afetado por sua morte. Paul McCartney provavelmente sentiu a precariedade da situação relacional do grupo e logo buscou iniciar projetos para manter o grupo coeso. Lennon, Harrison e Starr ficaram perturbados pelo domínio crescente de McCartney na seara musical. Lennon mais tarde refletiu que seus esforços foram importantes para a sobrevivência da banda, mas que ainda acreditava que o desejo de Paul McCartney em ajudar vinha das dúvidas e apreensões deste extaordinário baixista em seguir carreira-solo. Conflitos também surgiram das diferenças na visão artística.

George Harrison nasceu em Liverpool, na Inglaterra, em 25 de fevereiro de 1943, o último de quatro filhos de Harold Hargreaves Harrison e sua esposa Louise, nascida Louise French. Possuía raízes irlandesas, uma vez que seu avô materno, John French, nascera no Condado de Wexford, na Irlanda, imigrando para Liverpool, onde se casou com a jovem do subúrbio londrino, Louise Woollam.  Tinha uma irmã, Louise, de mesmo nome de sua mãe, nascida a 19 de agosto de 1931, e dois irmãos, Harry, nascido a 1934 e falecido nos anos 1990 e Peter, nascido a 1940 e falecido em 2007. Sua mãe, Louise (1911-1970), trabalhava em uma loja de Liverpool e Harold (1909-1978), seu pai, era um motorista de ônibus que, anteriormente, havia trabalhado como dispensário de barcos na White Star Line. Sua família era de formação católica. Nasceu na casa aonde viria a morar pelos seus primeiros seis anos de vida, o número 12 da Arnold Grove, situada em Wavertree, Liverpool. Em 1950, uma modalidade de “council house” foi oferecida à família, que se mudou para o número 25 da Upton Green, em Speke.

No começo dos Beatles, George Harrison era visto pelos outros membros do grupo como um garoto, por ser o mais jovem dentre eles. Ele foi o primeiro Beatle a ir aos Estados Unidos da América, quando visitou sua irmã Louise em Benton, Illinois, em setembro de 1963. Em 1964, ele voltaria aos Estados Unidos com os Beatles, época em que eles se apresentaram no programa de TV, Ed Sullivan Show. Durante esta visita, Harrison ganhou uma guitarra modelo “360/12” da Companhia Rickenbacker; esta guitarra de 12 cordas fez parte de vários solos de George por volta de 1965. Durante o auge da beatlemania, George ficou conhecido como o “quiet Beatle” (“Beatle tímido”), devido a sua maneira introspectiva e tendência a falar pouco durante as entrevistas. Apesar da imagem de “beatle tranquilo”, a maioria dos amigos, como Eric Idle, membro do Monty Python, assegura que na intimidade ele era muito falante, contradizendo a imagem vulgarizada que a imprensa especulava a seu respeito. Harrison escreveu a primeira canção em 1963, “Don`t Bother Me”, no 2° álbum dos Beatles.  

Historicamente foi a partir de 1965 que George Harrison começou a contribuir frequentemente com composições para o grupo. No álbum Help! ele lançou duas composições próprias: “I Need You” e “You Like Me Too Much”. Um importante marco em sua carreira aconteceu durante a turnê norte-americana de 1965, quando David Crosby, do grupo The Byrds, introduziu George à cultura indiana através do trabalho do músico Ravi Shankar. George ficou fascinado pelo som indiano e se tornou um dos maiores responsáveis pela popularização da música indiana nos anos 1960. Após comprar um sitar, ele introduziu pela primeira vez na música pop um instrumento indiano, na canção “Norwegian Wood” do álbum Rubber Soul. Após essa experiência, escreveu algumas canções que utilizaram outros instrumentos indianos como a tabla e o sitar. Entre essas canções destacam-se “Love you too”, do álbum Revolver (1966) e “Within you without you”, do Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band (1967). Ainda em 1967, ele foi responsável pela inclusão de Ravi Shankar no Festival Pop de Monterey.

      Tanto George Harrison quanto Ringo Starr temporariamente deixaram o grupo algumas vezes durante 1968 e 1969; em 1970 todos os quatro membros haviam começado a trabalhar em projetos-solo após terem percebido que o grupo não se reuniria mais. Por fim, a animosidade crescente tornou impossível que o grupo continuasse a trabalhar junto. Nos anos seguintes, houve parcerias e trabalhos esporádicos de gravação entre os membros do grupo, mas jamais com os quatro ex-Beatles colaborando simultaneamente em uma gravação ou em um concerto novamente. Em 1979, o Livro Guinness dos Recordes declarou-o “como o compositor musical de maior sucesso da história da música pop mundial de todos os tempos”. Paul McCartney teve 29 composições de sua autoria no 1° lugar das paradas de sucesso dos Estados Unidos da América, 20 das quais junto com The Beatles e o restante em “solo” ou com a parceria da banda Wings.  Após a morte de Lennon em 1980, os três membros  reuniram-se para o projeto Anthology em 1994, usando duas demos deixadas por John Lennon – Free as a Bird e Real Loveper se para novas canções gravadas e lançadas como The Beatles. 
         Paul McCartney é representado como canhoto e baixista mais famoso da história do rock, embora também toque outros instrumentos, como bateria, piano, guitarra, teclado, etc. É considerado como “um dos mais ricos músicos de todos os tempos”. Foi eleito, em 2008, o 11º melhor cantor de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Fora seu trabalho musical, McCartney advoga “em favor dos direitos dos animais, contra o uso de minas terrestres, a favor da comida vegetariana e a favor da educação musical”. Em 1997 foi publicada a biografia intitulada: Many Years From Now, autorizada pelo músico e escrita pelo britânico Barry Miles. Sua empresa MPL Communications detém os direitos autorais de mais de três mil canções, incluindo todas as canções escritas por Buddy Holly. Sobre o uso de maconha, o astro - que tem quase 70 anos - revelou que largou a erva aos 69 anos. Segundo o músico, sua filha caçula Beatrice, de oito anos, o fez desenvolver “um grande senso de responsabilidade”. - “Eu fumei bastante e agora já chega. Eu já fumei minha cota. Quando você tem uma pessoa para cuidar, em algum momento, se você tiver sorte, o senso de responsabilidade aflora. Basta! Você não acha que é necessário continuar” (cf. McCartney, 2004).                        
Como os outros três membros da banda, McCartney foi agraciado, em 1966 como Membro do Império Britânico. Porém, é o único membro dos Beatles a ostentar o título de “Sir”, honraria que lhe foi concedida pela Rainha em 1997. Paul McCartney é vegetariano e já declarou à imprensa como tomou essa decisão: - “Há muitos anos, estava pescando e, enquanto puxava um pobre peixe, entendi: eu o estou matando, pelo simples prazer que isso me dá. Alguma coisa fez um clique dentro de mim. Entendi, enquanto olhava o peixe se debater para respirar, que a vida dele era tão importante para ele quanto a minha é para mim”. É membro honorário e participante ativo das campanhas do “People for the Ethical Treatment of Animals”. Em 2006 no Grammy Awards ele cantou com Linkin Park e Jay-Z uma versão de “Numb/Encore” incluindo a sua música “Yesterday”. Paul nasceu no Hospital Geral de Liverpool, Inglaterra, onde sua mãe, Mary, tinha trabalhado como enfermeira na maternidade alguns anos antes. Ele tinha um irmão, Michael, que nasceu no dia 7 de janeiro de 1944. Foi batizado com o nome de James Paul McCartney; sua mãe era católica e o pai protestante, mas tornou-se agnóstico. Como muitos de Liverpool, “os McCartney tinham ascendência irlandesa”.
                          
               Em 8 de maio de 2007, uma histórica cerimônia em Belfast deu início a um novo governo de união na província britânica da Irlanda do Norte. Depois de décadas de conflitos sanguinolentos, os protestantes do Partido Unionista Democrático e os católicos do Sinn Fein concordaram em dividir o poder na primeira reunião do governo, com o vice-premiê católico Martin McGuinness e o premiê protestante Ian Paisley. O acerto tem “a bênção da Inglaterra, que hoje administra a Irlanda do Norte”. O governo conjunto pode consolidar a estabilização a Irlanda do Norte - a província vive desde 1998 sob um acordo de paz que praticamente acabou com o terrorismo e a violência sectária. Desde 1969, estatisticamente 3.600 pessoas morreram pela causa separatista  entre os dois lados . A maioria, vítima de atentados do Irish Republican Army, grupo paramilitar católico e reintegralista, que pretende separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e reanexar-se à República da Irlanda, representando, portanto, o braço armado dos católicos. A homenagem de McCartney brevemente: “Give Ireland Back To The Irish/Don`t Make Them Have To Take It Away/Give Ireland Back To The Irish/Make Ireland Irish Today/Great Britain You Are Tremendous…”. 
         Em 11 de junho de 2002 Paul se casou com a modelo Heather Mills, na catedral protestante “Saint Salvator,” do Castelo Leslie, construída no Século XVII, uma propriedade remota na Irlanda, com uma recepção para 300 convidados. E, como manda o figurino, Heather fez seus convidados esperar pela sua chegada. Mas tudo indica que valeu a pena os convidados terem esperado pela noiva, pois foi considerado o nº 2 entre os casamentos mais extravagantes, de acordo com a revista People Magazine, com um custo de $3,2 milhões de dólares. A festa contou com algumas das mais famosas celebridades do cenário da música pop internacional, como: Elton John, David Gilmour, Eric Clapton, Ringo Starr, George Martin, Jools Holland, Tim Rice, Chrissie Hynde, entre outras. Em 2003 nasceu a primeira e única filha do casal, Beatrice. Em 17 de maio de 2006, sítios comerciais na internet - rede mundial de computadores anunciaram a separação do casal.
Em fevereiro de 2012, a quatro meses de completar 70 anos de idade, em entrevista à edição norte-americana da revista Rolling Stone, Paul McCartney afirmou, repetimos, que iria parar de fumar maconha por causa de sua filha com Heather Mills, Beatrice, então com 8 anos de idade: “Já fumei o suficiente. Quando você está cuidando da criação de um jovem, seu senso de responsabilidade aparece, se você tiver sorte, em algum momento. (...) Já chega - você não vê mais necessidade”. Oficialmente, o governo britânico afirma nunca ter tomado parte em nenhum dos lados do conflito, e diz que todas as suas ações - políticas ou militares - na região sempre tiveram o único intuito de manter a lei e a ordem. Para os católicos da Irlanda do Norte, entretanto, a polícia britânica foi vista como o inimigo a ser derrubado durante boa parte dos últimos 30 anos. Embora nunca tenha sinalizado claramente que o Ulster pode vir a ser independente no futuro, existe em Londres atualmente um movimento de conceder autonomia cada vez maior aos outros três países do Reino Unido - Escócia, Gales e Irlanda do Norte. No fim dos anos 1990, o governo do primeiro-ministro Tony Blair aprovou a criação de Legislativos autônomos para os três membros.
A Irlanda aderiu à União Europeia (então Comunidade Europeia), em 1973, ao abrigo de um tratado redigido em várias línguas, incluindo o irlandês e o inglês. Desde então, os seus dois nomes foram oficiais na UE. O irlandês tornou-se língua oficial de trabalho da União Europeia em 1° de janeiro de 2007. Ambos os nomes são agora usados em documentos ou na identificação dos membros que representam o Estado irlandês. Isto não muda o nome da Irlanda na legislação da União Europeia. Nas últimas três décadas as ações do grupo separatista IRA e dos grupos paramilitares “protestantes” intensificaram suas ações e foi responsável por vários atentados na Irlanda do Norte, principalmente na capital, Belfast. A ascensão do Partido Trabalhista ao poder em 1997, a criação do Euro e a “nova ordem mundial” criaram novas condições de negociação política, tendo de um lado a Inglaterra uma nova preocupação, em fortalecer-se dentro da Europa e a própria elite irlandesa católica, em aproveitar as novas condições de desenvolvimento. A suspensão dos atentados por ambos os lados foi fundamental para que as negociações pudessem existir, criando condições concretas para a pacificação da região. Historicamente o lastro monetário simbolizava a integração do continente que, no século XX, enfrentou duas guerras mundiais e uma divisão ideológica que quase provocou uma terceira. Hoje, porém, o euro é sinônimo de incertezas, numa crise que ameaça a futuro da segunda maior economia do planeta. A Eurozona é composta por 17 dos 27 Estados-membros da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal. Na ocasião em que o euro foi instituído, Dinamarca, Suécia e Reino Unido optaram por não aderir ao projeto e mantiveram suas moedas locais. O euro é usado diariamente por aproximadamente 332 milhões de europeus. A moeda também é a 2ª maior reserva monetária internacional tanto quanto comercial, atrás do dólar norte-americano. 
Bibliografia geral consultada.

DAVIES, Hunter, The Beatles. New York: Editor McGraw Hilll, 1968; BECKER, Howard, Los Extraños. Buenos Aires: Editorial Tiempo Contemporâneo, 1971; HANSLICK, Eduard, The Beautiful Music. New York: Da Capo Press, 1974; SODRÉ. Muniz Araújo Cabral, O Dono do Corpo. Rio de Janeiro: Editora CODECRI, 1979; CONNOLY, Ray, The Beatles Complete. London: Wise Publications, 1983; LEERSSEN, Joep, Mere Irish and Fíor Ghael: Studies in the Idea of Irish Nationality, Its Development and Literary Expression prior to the Nineteenth Century. Editor Cork University Press, 1996; WRIGHT, Patrick &; LYONS, Evanthia, “Remembering pasts and representing places: the construction of national identities in Ireland”. In: Journal of Environmental Psychology. Vol.17.1 (1997): 33-45; BOBBIO, Norberto, O Tempo da Memória: De Senectude e Outros Escritos Autobiográficos. Rio de Janeiro: Editor Campus, 1997; GOLDSTEIN, Donna (Org.), Políticas do Corpo e o Curso da Vida. São Paulo: Editora Sumaré, 2000; BOURHIS, Hervé, O Pequeno Livro dos Beatles. São Paulo: Editor Conrad, 2010; DEROGATIS, Jim; KOT, Greg, The Beatles vs The Rolling Stones: A grande rivalidade do rock’n’roll. São Paulo: Editora Globo, 2011CARLIN, Peter Ames, Paul McCartney: Uma Vida. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011; Artigo: “Paul McCartney fala sobre Maconha, Carreira e Reunião com os Beatles”. In: http://www.cifraclubnews.com.br/2012; BURROWS, Terry, Tesouro dos Beatles: reviva os agitados anos 1960 dos Fab 4. São Paulo: Editora Lafonte, 2012; Artigo: “18 curiosidades sobre Paul McCartney”. In: http://www.opovo.com.br/2013/05/08/; HEWITT, Paolo, Love Me Do: 50 Momentos Marcantes dos Beatles. 1ª edição. Campinas: Editora Versus, 2014; AZEVEDO, Eliane Marchetti Silva, A Ressignificação de Identidade e a Re/construção da Cidadania de Brasileiros na República da Irlanda: Um Estudo de Caso de Emigrantes Trabalhadores Qualificados (2000-2014). Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015; SAES, Diogo Xavier, A Retórica dos Beatles: A Visualidade e as Relações Multissensoriais entre Música, Imagem e o Contexto Sessentista nas Capas dos Discos dos Beatles de 1965 a 1968. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Londrina: Universidade Federal de Londrina, 2015; entre outros.  

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do Curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza:  Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

domingo, 29 de novembro de 2015

Gueixa – Escolha da Arte, Memória & Trabalho Social.

                                                                                                Ubiracy de Souza Braga*
 
Não tornamos gueixas para termos vida satisfatória, porque não tivemos escolha”. Mineko Iwasaki
                        
        

Em primeiro lugar, a palavra gueixa significa literalmente artista (trabalho) e desde o final do século XVIII, etnograficamente pode descrever uma série de artistas  japonesas: “Shiro”, puramente uma apresentadora; “kerobi”, uma gueixa acrobata; “kido”, uma gueixa que estava na entrada de carnavais, ou “joro”, uma prostituta, sendo esta a profissão que gueixas têm sido erroneamente mal interpretadas por muitos anos em que não detém o conhecimento etnológico de interpretação da cultura. A dança das gueixas evoluiu a partir da executada no palco do kabuki. As danças “selvagens e ultrajantes” transformaram-se em uma forma mais sutil, estilizada, passando a uma forma controlada. São disciplinadas, semelhante ao Tai Chi, vale lembrar, uma arte marcial chinesa interna, parcialmente baseada no bagua. Este estilo de arte marcial é reconhecido também como uma forma de meditação em movimento. Os princípios do taiji Quan remetem ao taoismo e à alquimia chinesa relacionada ao taoísmo. Seus praticantes utilizam os Cinco Elementos; o Tao, a relação entre Yin e Yang; o Ki; o I-Ching; a astrologia chinesa; os princípios do feng shui, e da medicina tradicional chinesa. Cada dança usa gestos para narrar uma história. Um conhecedor pode entender seu simbolismo. Um gesto de mão, representa ler uma carta de amor. O canto de um lenço na boca falta de modos. As mangas longas do quimono para simbolizar situações de fortes emoções em lágrimas. A utilização dos quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas multicoloridas para cada estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem as estampas e cores por mês. Assim, cada mês representativo do ano é representado por uma estampa e gama de cores específica. A utilidade de uso dos quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas multicoloridas para cada estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem as estampas e cores mês. Assim, cada mês representativo do ano é representado por uma estampa e gama de cores específica.

Em segundo lugar, as precursoras da gueixa do sexo feminino foram as adolescentes odoriko (dançarinas). Na década de 1680, elas eram populares artistas pagas nas casas particulares da alta classe samurai, apesar de muitas se transformarem em prostitutas no início do século XVIII. Aquelas que não eram mais adolescentes e não poderiam mais praticar o estilo odoriko, adotaram outros nomes, sendo um deles gueixa, se assemelhando aos artistas masculinos. A primeira mulher reconhecida por ter chamado a si mesma de gueixa era uma prostituta de Fukagawa, em cerca de 1750, uma cidade japonesa localizada no distrito de Sorachi, na província de Hokkaido. Em 2003 a cidade tinha uma população estimada em 26 645 habitantes e uma densidade populacional de 50,36 h/km². Tem uma área total de 529,12 km². Recebeu o estatuto de cidade a 1 de maio de 1963. Ela era uma cantora qualificada e tocadora de shamisen chamada Kikuya, e que foi um sucesso, tornando as gueixas mulheres extremamente populares na década de 1750 em Fukagawa. Como se tornou mais difundido ao longo dos anos de 1760 e 1770, muitas começaram a trabalhar apenas como artistas, em vez de prostitutas, muitas vezes nos mesmos estabelecimentos que “gueixas do sexo masculino”. As gueixas que trabalharam dentro dos bairros de prazer eram essencialmente presas e proibidas de “vender sexo”, a fim de proteger o negócio das Oiran - para isso, existiam cortesãs licenciadas “para atender as necessidades sexuais dos homens”. Por volta de 1800, ser uma gueixa foi considerada uma ocupação feminina. A evolução histórica e social do estilo de vida das gueixas era imitada por mulheres elegantes por grande parte da sociedade japonesa.

                 

 A maquiagem da gueixa é sua grande característica marcante. Mas esta é usada de acordo com seu grau de experiência. É um processo demorado, e é aplicada antes de se vestir para evitar sujar o quimono. Quando aprendiz, a gueixa usa a maquiagem de forma regular e mantém todo o rosto branco. Ela realmente só usa a maquiagem quando precisa dançar ou para demonstrar seu desempenho a algum cliente. Quem aplica essa maquiagem na gueixa podem ser a sua “onee-san” (ou irmã mais velha) ou pela “okaa-san” (ou gueixa-mãe), de sua casa de gueixas. Sua aplicação é feita com muito cuidado, pois, ao cometer um erro, o aprendiz que está a maquiar seria obrigado a limpar tudo e começar novamente. O tempo de duração dessa maquiagem pode ser de até duas horas. É impossível ver uma maquiagem assim e instantaneamente não associar a imagem à elas. As mulheres daquela deste tempo e até nos dias atuais usavam pó de farinha de arroz ou um pó à base de chumbo misturado com água. Vira uma pasta fina e com ela, aplicavam na pele como se fosse uma base, aplicando pelo rosto todo, pescoço e colo. Têm o hábito também de arrancar todos os pêlos das sobrancelhas e depois de aplicarem a pasta branca no rosto, faziam sobrancelhas falsas no alto da testa. É hábito higiênico  chamado Ohaguro que consiste em escurecer os dentes com uma mistura de limalha de ferro oxidado mergulhada em uma solução ácida.
         A aplicação desta mistura deve ser  repetida a cada dois dias, porque em caso contrário os dentes voltam a ser branco.Nos estágios iniciais da história japonesa, existiam artistas do sexo feminino chamado “saburuko” (“meninas que servem”), que eram em sua maioria meninas vagando cujas famílias haviam sido deslocadas nas lutas no fim do século VII. Algumas  “dessassaburukos” vendiam serviços sexuais, enquanto outras com uma melhor educação ganhavam a vida entretendo uma alta classe da sociedade em encontros sociais. Após a corte imperial mudar a capital para Heian-kyō (Kyoto) em 794, no início do período Heian, as condições que formam a cultura japonesa da gueixa começaram a surgir, e depois se tornaram o lar uma elite política obcecada pela beleza e mistério dessa cultura. Na cultura japonesa, a mulher ideal era uma mãe modesta e gerente da casa. Para o prazer sexual e apego romântico, os homens procuravam por cortesãs. No Japão, a condição comportamental de gueixa é simultaneamente cultural, simbólica e repleta de status, delicadeza e tradição. Ao longo dos séculos, esse contexto social foi desenvolvido pelo aperfeiçoamento da técnica dessas artes e pela estrutura rígida e polida necessária para se tornar uma gueixa e permanecer como tal.
Neste sentido criaram-se os chamados “quarteirões do prazer” conhecidos como “yūkaku” construídos no século XVI, que depois se tornaram bairros fora dos quais a prostituição seria admitida como ilegal. Neles as “yujo” que significam “mulheres para brincar” seriam classificadas e licenciadas. As “yujo” como as categorias mais elevadas foram antecessoras da cultura das gueixas, chamadas “Oiran”, uma combinação de atriz e prostituta, originalmente se apresentando em etapas definidas. Elas realizavam danças eróticas, entre outros aspectos artísticos, e esta nova arte foi apelidada “kabuku”, que tem como representação “ser selvagem e ultrajante”. As danças eram chamadas de “Kabuki,” e esta arte deu início ao maravilhoso teatro kabuki. Daí estes quartos de prazer rapidamente tornaram-se centros de entretenimento glamorosos, oferecendo muito mais do que sexo. As cortesãs talentosas destes distritos entretinham seus clientes, dançando, cantando e tocando música. Gradualmente, elas tornaram-se especializadas na nova profissão. Na virada do século XVIII as primeiras artistas encontradas nos “quartos de prazer”, chamadas de gueixa, eram homens, entretendo seus afetivos clientes que esperavam para ver as cortesãs mais populares e talentosas (“oiran”).
O filme: “Memórias de uma gueixa” é baseado no romance homônimo escrito por Arthur Golden, best-seller nos anos 2000. O livro narra a história de Niita Sayuri, uma das mais populares gueixas do Japão nas décadas de 1930 e 1940. Trata-se da história de uma menina de 9 anos, Chiyo, filha de pescadores vendida pelos próprios pais à “Niita okiya” (casa de gueixas), tradicional em Tóquio em 1929. A princípio Chiyo é educada em igual com outra menina, “Kabocha” (“abóbora”), no filme chamado de “Pumpkin”, para ambas tornarem-se gueixas. Mas após uma tentativa frustrada de fuga da casa de gueixas, Chiyo é retirada da escola de gueixas e passa a trabalhar como empregada doméstica da okiya em troca de abrigo e comida. Além de ser tratado de forma severa pela “okaasan” (mãe), modo pelo qual a gueixa mais velha administra a okiya, a menina Chiyo fica à mercê das intrigas de Hatsumomo, a gueixa mais experiente e popular da okiya. Bela, mas orgulhosa e amarga, Hatsumomo têm como rival sua antiga “oneesan” (irmã mais velha), Mameha.
       Considerada a mais refinada das gueixas do “hanamachi” (cidade de flores), comunidade das gueixas que possuem registro oficial para trabalhar, Mameha é uma “geiko” (mulher das artes) respeitada e independente por ter conseguido um danna (patrono), que lhe deu vida luxuosa e livre das dívidas e obrigações que possuem e que constitui motivo pelo qual Hatsumomo nutre enorme inveja do gozo de Mameha.  Na literatura de Arthur Golden tudo começa quando Sayuri ainda era uma criança e se chamava Chiyo Sakamoto. Vivendo com os pais e a irmã Satsu, a menina vê sua mãe a beira da morte quando seu pai começa a vender as filhas. Enquanto Satsu é entregue para ser prostituta em Gion, a pequena Chiyo é levada para um okiya. É a partir de então que a narrativa se torna encantadora, pela riqueza de detalhes no cotidiano da existência e do processo de formação artística nesta particular sociedade. A história social da pequena Chiyo para se tornar uma gueixa é contada/narrada de uma maneira simples, repleta de beleza, mas demonstrando as contradições sociais em torno de um sistema de hierarquia e poder, secularizado, articulado em torno dos problemas enfrentados no começo dos treinamentos, nas primeiras festas e ambientado com os primeiros suspiros masculinos.
O livro Memórias de Uma Gueixa atraiu a atenção do genial Steven Spielberg, que comprou os direitos autorais para a adaptação no cinema. O que a princípio foi considerado “filme de arte” pelos distribuidores, tornou-se um sucesso comercial sendo o quinto filme mais visto nos Estados Unidos em dezembro de 2005, um feito relevante, considerando que “As Crônicas de Nárnia” e “Harry Potter e o Cálice de Fogo” estavam em cartaz na mesma época, sendo indicado em várias categorias para o Globo de Ouro. Lançado no Japão, onde o título foi trocado para “Sayuri”, o filme naturalmente não causou o mesmo impacto social que obteve comercialmente em geral no ocidente. Foi objeto de inúmeras críticas vulgares, que concluíam que “Memórias de uma gueixa” era um filme antropologicamente considerado “para inglês ver” (cf. Fry, 1982). Ou seja, um filme caricatural que mais reflete uma imagem ocidentalizada e distorcida do Japão e das gueixas, do que um período da história recente do país. É a velha querela da transfiguração que não exclusiva deste caso.    
   A adaptação do best-seller de Arthur Golden, dirigida pelo norte-americano Rob Marshall, com as chinesas Ziyi Zhang e Gong Li e a malasiana Michelle Yeoh nos papéis principais, conta a vida da jovem Sayuri (Ziyi Zhang), menina de olhos azuis tirada do convívio dos pais na vila de pescadores em que morava e levada para uma cidade grande, onde será treinada para ser gueixa com a experiente Mameha (Michelle Yeoh) e terá de enfrentar a rivalidade de Hatsumomo (Gong Li), ainda a profissional mais importante, claramente demonstrando disciplina e sabedoria em função de sua longa carreira. Ambas disputarão as condições e possiblidades de envolvimento amoroso com o Executivo (Ken Watanabe), e Saiyuri se apaixonará por ele, contrariando as regras únicas de formação das gueixas em diferentes artes. Pois são vocacionadas para o entretenimento de clientes geralmente notáveis ou poderosos, dentre aqueles convidados em banquetes, casas de chá ou outros locais que podem ser públicos ou privados, onde sejam requisitadas e que devem servir ao homem.
            Do ponto de vista da análise comparada, no caso da produção fílmica de Isabel Allende: Casa dos Espíritos trata-se de produção híbrida na qual “a latinidade se acha quase ausente”. Indagado por um repórter sobre o porquê de um diretor dinamarquês filmando um livro sul-americano numa produção alemã, usar a língua inglesa, Bille August justifica: - o filme está orçado em 25 milhões de dólares e ninguém no mundo financiaria esta cifra para um filme espanhol. Acrescenta que Hamlet é uma história dinamarquesa e foi filmado em inglês. Pondera ainda o premiado diretor: - Quem assistiria a “O Último Imperador” se fosse rodado em chinês? O diretor bem que se interessou por penetrar num universo sulamericano de amores proibidos, vingança, misticismo, opressores e oprimidos e de golpes militares, entretanto, o filme ao que parece, não contém o “sabor latino” do livro. Esta circunstância levou alguns integrantes de origem hispânica, residentes nos Estados Unidos, a organizarem um protesto contra a ausência de profissionais étnicos no elenco técnico e artístico de La Casa de los Espíritus (cf. Allende, 2017). Eles pediram à considerável parcela latina de 39 milhões de pessoas do público norte-americano que não assistissem ao filme. De acordo dados do Census Bureau (2005), os latino-americanos residentes representavam em torno 13,4% da população do país, constituindo o segundo grupo étnico.
           Quando o filme foi divulgado simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos da América, a crítica especializada considerou a parte técnica de primeira qualidade: o desenho de produção, o guarda-roupa, a fotografia e a música. Igualmente, sem a família, base de tudo na vida, e sem ter a quem recorrer ou aonde ir, a pequena Chiyo mal sentia qualquer motivação em continuar viva. Para passar o resto de seus dias como escrava doméstica de pessoas que procuravam ignorar sua existência. Um dia, ao parar numa das pontes sobre o rio na cidade, um senhor acompanhado por duas outras gueixas interrompeu seu caminho para conversar um pouco com a desalentada Chiyo, que o deixou impressionado por seus incomuns olhos azul. Após comprar um cartão de sorteio para a menina, o homem simpático chamado de Shachō, representando um presidente de empresa, chamado no filme de “Chairman” pelas gueixas se vai. Nas fantasias de uma criança, Chiyo apaixona-se pelo Presidente (“Chairman”) com aquele simples encontro casual, ou o amor da sua vida, você pode achá-lo num lugar que faz desse amor platônico sua razão de viver. Decidida a reencontrá-lo, ela decide fazer o que pudesse ser possível para tornar-se uma gueixa como as belas moças que o acompanhavam.        
   Para os chineses, culturalmente com razão, foi absurdo ver “filhas da terra” interpretando “prostitutas japonesas”, incidente diplomático que reavivou memórias desagradáveis da relação entre os dois países durante a 2ª guerra sino-japonesa (1937-1945), quando milhares de chinesas teriam sido estupradas por soldados japoneses (cf. Vigarello, 1998). A ultraconservadora Pequim ameaçou proibir a exibição do filme em território nacional. Para Iwasaki (2002), ex-gueixa que foi a principal inspiração para o livro de Arthur Golden, a revolta se deu em forma de um processo que ela move contra o autor e o diretor, por ter sua “privacidade desrespeitada”. Ela não gostou de ver divulgada a prática da “mizuage”, referida à venda da virgindade da jovem gueixa no mercado a quem der o lance econômico mais alto, fato que teria contado “off the records”. Arthur Golden retrata em sua concepção o “mizuage” como um acordo financeiro em que a virgindade de uma menina é vendida a um patrono do “mizuage” que Desde 1959, tornou-se o equivalente a comemoração de debutante . Mineko Iwasaki, uma das gueixas que Golden reconheceu durante as tomadas de gravação do filme Memórias de uma Gueixa, o mizuage é descrito em sua autobiografia como sendo rito de passagem ou uma festa de iniciação.    
A verdadeira história, diz ela, está representada na sua biografia Geisha of Gion - The Memoir of Mineko Iwasaki. – “Fui fiel ao que ela me disse”, afirmou o escritor Golden, cujo livro vendeu 4 milhões de exemplares. – “O fato é que agora todos querem ganhar um pouco de dinheiro com a publicidade em torno do filme”. Outros japoneses reclamaram da falta de compreensão dos ocidentais sobre a profissão. Gueixas, disseram críticos cinematográficos japoneses, não se vestiam da maneira demonstrada no filme nem dançavam assim. Além disso, usavam uma camada espessa de pó branco no rosto, que foi abrandada por motivos comerciais por Marshall. – “Seria um absurdo esconder da plateia os belos rostos das atrizes e suas inflexões”, retrucou o norte-americano que infelizmente não compreendeu o sentido histórico da beleza contida no termo estético, sobretudo cultural personificado na expressão “Kabuki, máscara”!   em busca dos repertórios que representem o significado presente da consciência, da memória e da cultura na prática, onde performances do kabuki mais bem sucedidas foram e são plenamente realizadas.  
        A história do personagem kabuki começou em 1603, quando Okuni, uma miko do santuário Izumo Taisha, passou a executar um novo estilo de dança dramática em Kyoto. Atrizes representavam papéis tanto masculinos quanto femininos em encenações cómicas sobre a vida cotidiana. O estilo conquistou popularidade instantânea; Okuni foi inclusive convidada para se apresentar na Corte Imperial. O Japão estava sob o controlo do Shogunato Tokugawa, liderado por Tokugawa Ieyasu. No despertar de tal sucesso, trupes rivais formaram-se rapidamente e o kabuki nasceu como uma dança dramática de conjunto executada por mulheres, numa composição muito diferente da sua representação moderna. Muito do seu apelo advinha das sensuais e sugestivas performances realizadas; um grande número de atrizes estavam comummente dispostas à prostituição; e os membros masculinos da audiência podiam requerer livremente os serviços destas mulheres.  O kabuki tornou-se uma forma comum de entretenimento no estilo de vida Ukiyo, em distritos como Yoshiwara - uma zona de meretrício em Edo. Estas práticas urbanas e todo o mal que dele advinha, especialmente pela variedade de classes sociais que se misturavam em performances de kabuki, não passou despercebido ao shogunato.   
A “maiko” usa um pó branco que cobre o rosto, pescoço e peito, com duas ou três áreas sem estar brancas, caricaturando uma forma de W ou V, deixados na nuca, para acentuar uma área tradicionalmente erótica (cf. Bataille, 1957), e uma linha de pele nua em todo o couro cabeludo, o que cria a ilusão de uma máscara (cf. Leloup, 1998). Suas bochechas são acentuadas de pó rosa escuro, e os olhos são pintados de acordo com a idade: vermelho para as mais jovens e vai mudando de preto com a mistura de cores. Como descrição deste processo, começa-se com a aplicação bintsuke-abura para o rosto e a região superior do peito, aplicando a maquiagem em toda esta área (cf. Masuda, 2003). Esta cera não só ajudará a aderir à pele, mas também irá impedir que a maquiagem caísse em seu quimono, o que seria um erro muito ruim. Logo, irá misturar o pó branco com água para fazer a massa, que é o que dá o aspecto mais visual da sua maquiagem. Este pó foi feito originalmente com chumbo, mas hoje é feito a partir de cosmético moderno, livre de chumbo e muito mais seguro. Enfim, durante a divulgação do filme: Memórias de uma gueixa, a imprensa ocidental deu ênfase às atrizes Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh, mas pouco se falou de Ken Watanabe (o Presidente), Kōji Yakusho (Nobu), Youki Kudoh (Abóbora), Kaori Momoi (Gueixa-mãe), e de Suzuka Ohgo (Chiyo, Sayuri criança).  Em geral as análises e reportagens são eivadas de um fatalismo comercial pessimista desconcertante. Manchetes e expressões tais como “fracasso pessoal ou da democracia”, representam uma lacuna que o site Cultura Japonesa preencheu em tempo e espaço com uma análise crítica e de riqueza discritiva.
Bibliografia geral consultada.

FRY, Peter, Para Inglês Ver: Identidade e Política na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1982; BATAILLE, Georges, L`Erotisme. Paris: Éditions Minuit, 1957; DALBY, Liza, Geisha. Londres: University of Califórnia Press, 1983; DARNTON, Robert, O Beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; KUNIYOSHI, Celina, Imagens do Japão: Uma Utopia de Viajantes. São Paulo: Editor Estação Liberdade, 1998; LELOUP, Jean-Yves, O Corpo e Seus Símbolos. Uma Antropologia Essencial. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1998; IWASAKI, Mineko, Geisha, a Life. New York: Washington Square Press, 2002; pp. 206-210; MASUDA, Sayo, Autobiography of a Geisha (translation Gayle Rowley). New York: Columbia University Press, 2003; IRWIN, Robert, Pelo Amor ao Saber: Os Orientalistas e seus Inimigos. São Paulo: Editor Record, 2008; FRÉDÉRIC, Louis, O Japão: Dicionário e Civilização. São Paulo: Editora Globo, 2008; DUKE, Benjamin, The History of Modern Japanese Education: Constructing The National School System, 1872-1890. Nova Jersey: Rutgers University Press, 2009; NUNES, Benedito, O Dorso do Tigre. Rio de Janeiro: Editora 34, 2009; TAKEUCHI, Marcia Yumi, Entre Gueixas e Samurais. A Imigração Japonesa nas Revistas Ilustradas (1897-1945). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009; KAWAGUCHI, Yoko, Butterfly Sisters: The Geisha in Western Culture. Yale University Press, 2010; SILVA, Laureny Aparecida Lourenço da, O Grotesco Feminino em Griselda Gambaro: Três Atos com a Cega, a Gueixa e a Louca. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Faculdade de Letras. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2014; MAIA, Carla, Sob o Risco do Gênero: Clausura, Rasuras e Afetos de um Cinema com Mulheres. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

sábado, 28 de novembro de 2015

Giordano Bruno - Inquisição, Metafísica & Tribunal Eclesiástico.

                                   Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

                “Foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam queimado vivo”. Luigi Firpo

                     
Giordano Bruno notável frade dominicano italiano nasceu em Nola, Reino de Nápoles em 1548 e foi queimado vivo em Roma, no Campo de Fiori, em 17 de fevereiro de 1600.  Foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana, reconhecida na história política da religião como “Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício”, sob a acusação errônea de heresia ao defender erros teológicos no âmbito da história social da filosofia e o conhecimento da Terra como centro do universo. Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino, seu nome de batismo era Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade. No Seminário, estuda o expoente da filosofia escolástica, Santo Tomás de Aquino que foi fortemente influenciado por Aristóteles e Averróis. Giordano Bruno os interpreta analiticamente como arquétipos da doutrina Católica obtendo seu doutorado em Teologia.  

Giordano Bruno foi um frade, filósofo e escritor da ordem dos dominicanos. Viveu entre 1548 e 1600, quando foi condenado pela Santa Inquisição. Conheça alguns aspectos curiosos sobre sua vida, obra e ideias. Giordano Bruno foi um monge italiano da Ordem Dominicana, na qual ingressou aos 15 anos de idade. Também conhecida como Ordem dos Pregadores, a Ordem dos Dominicanos foi fundada na França por São Domingos de Gusmão. Chamava-se Felippo Bruno, mas mudou o nome para Giordano na ocasião em que recebeu o hábito de frei dominicano. Giordano foi um grande estudioso da filosofia aristotélica, criada pelo filósofo grego Aristóteles, e escolástica, fundada por Tomás de Aquino (por sinal, estudou no mesmo convento em que Aquino viveu). Formou-se em teologia, mas abandonou o hábito pouco tempo depois. Chegou a adotar o Calvinismo, no qual permaneceu durante pouco tempo. Costumava negar qualquer tipo de imagem religiosa que não fosse o crucifixo. Adotou ideias consideradas excêntricas pela Igreja Católica, entre elas a de que os homens não possuíam capacidade para entender o conceito de Deus, que a tudo abrangia e estava em todo lugar. Deus seria uma espécie de inteligência cósmica que sustentava a vida, não um velho barbudo centrado num trono celestial e preocupado com picuinhas da vida humana.

Acreditava que todos os seres possuíam uma alma que não se perde após a morte, mas transforma-se. Defendeu com convicção a ideia de que a verdade deve prevalecer sobre as crenças. Dizia também que “a verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria”. Ao contrário de outros estudiosos da época, Bruno abraçou o heliocentrismo defendido pelo astrônomo Nicolau Copérnico. Mais do que isso, ele acreditava ser o universo infinito e salpicado de estrelas com sistemas solares próprios. Giordano Bruno percorreu quase toda a Europa dando aulas e divulgando suas teorias. Passou por cidades como Praga, Frankfurt, Toulouse, Paris, Gênova e Londres, onde viveu sob proteção do embaixador francês. Foi durante a passagem pela Alemanha, onde lecionou em diversas cidades, que escreveu sua principal obra: Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias. O julgamento de Bruno durou sete anos, durante os quais ele permaneceu no cárcere do Santo Ofício. Negou qualquer interesse particular em questões teológicas, mas em momento algum abandonou sua filosofia. Esse foi o maior obstáculo para Bruno: a Inquisição queria que ele abdicasse completamente de todas as suas ideias. Ao ouvir a sentença, Bruno teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. Na morte pela Inquisição a vítima não morre queimada. Morre antes pela falta de oxigênio em torno de si, que as chamas consomem.

                            

        Morre por queimar os pulmões pelo pouco ar, incandescente, à sua volta. Morre, sobretudo por asfixia, antes mesmo de ter seu corpo cremado. Giordano foi morto com um pedaço de pau amarrado na sua boa para evitar que falasse, para evitar que os insultasse antes de morrer. Morreu calado, mas suas idéias sobre o Universo Infinito, sobre os sistemas solares mais do que nunca vem sendo provadas, admitidas e comprovadas, pois a verdade é filha do tempo e não da autoridade. Talvez ele recordasse naquele instante derradeiro às palavras que certa vez escrevera num momento de profunda melancolia: “Vejam”, prognosticou ele, “o que acontece a este cidadão servidor do mundo que tem como o seu pai o Sol e a sua mãe a Terra, vejam como o mundo que ele ama acima de tudo o condena, o persegue e o fará desaparecer”. Assassinado aos 52 anos tornou-se mártir mas não apenas do livre-pensamento pós-renascentista. Ele enfrentou como homme de lettres a radicalização propugnada pela contrarreforma da Igreja Católica. São muitas as influências apontadas que Giordano Bruno teria sofrido durante o período de sua formação. É especialmente atraído pelas novas correntes de pensamento, entre as quais as obras de Platão e Hermes Trismegistus, ambos muito difundidos na Itália ao início do Renascimento. 
Quanto aos métodos de memorização, foi muito influenciado pelo pensamento de Raimundo Lúlio, de Maiorca, místico catalão e poeta autor de um manual da cavalaria, “Ars Magna” e “Liber de Ascensu et Descensu Intellectus” descrevendo estágios do desenvolvimento intelectual no entendimento na compreensão de todos os seres através do método da sua arte. Outra influência sobre Bruno, versando o mesmo campo, supõe-se que foi a de Giovanni Battista Della Porta, um erudito napolitano que publicou um livro importante sobre mágica natural. Nessa área, porém, talvez a influência predominante sobre Giordano Bruno tenha sido a da antiga religião egípcia do culto ao deus Toth, escriba dos deuses, inventor da escrita e patrono de todas as artes e ciências, e identificado com o deus grego Hermes Trismegisto pelos neoplatônicos. Além das obras de Platão e também a Hermética, que representa o conjunto dos segredos revelados por Hermes-Toth que constituem as ciências ocultas e astrologia a nível popular, e certos postulados de filosofia e teologia a nível erudito, - introduzidos em Florença por Marsilio Ficino ao final do século anterior. Suas ideias avançadas para seu tempo em que compreernde o Universo como um sistema em permanente transformação, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia autoritária da Igreja católica. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália. Iniciou-se, então, o período de peregrinação e solidão de sua vida fantástica como um ilustre pensador. 
Em Gênova ainda em 1579, aparentemente, adotou o sistema Calvinista – a fé em torno da qual giraram as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII dos países capitalistas altamente desenvolvidos – Países Baixos, Inglaterra e França. Os julgamentos sobre a importância de um fenômeno histórico podem ser, por um lado, de valor ou fé, isto é, quando elas se referem ao que, por si só, é interessante ou ao que, por si só, é duradouramente “valido em si”. Por outro lado, podem referir-se à sua influência como o fator causal sobre o processo histórico. Bruno já sabia de seu destino. Nos proêmios do “Despacho da Besta Triunfante” e “Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos”, declarara-se consciente ser “odiado e censurado, perseguido e assassinado”. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições eclesiásticas. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464). Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. 
Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias, viveu como um fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo. Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriotra Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças enquanto estratégias políticas e religiosas que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.

       No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e idéias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
     O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
      Giordano Bruno não percebeu o estado de espírito conspiratório do aluno. E neste caso, iria pagar muito caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas, é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, Mocenigo, covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, hoje perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo inquisitório, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições cujas mediações complexas habitavam as instituições. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464).

         Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias extraordinárias, viveu como um pensador assediado e fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido perremptoriamente pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo.
       Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriota Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.
                No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e ideias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
        O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
       Giordano Bruno, porém, não percebeu o estado de espírito conspiratório do ex-aluno. E neste caso, iria pagar caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas , é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, João Mocenigo, 
covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, infelizmente posteriormente perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte, abjura, “declarando estar arrependido de todos os erros que porventura tivesse cometido e pronto para reorientar toda sua vida”. Nesse ponto nevrálgico, o processo poderia ter-se encerrado com a absolvição, mas o papa não o permitiu e fez com que o processo passasse ao tribunal do Santo Ofício em Roma. Em janeiro de 1593, Bruno é entregue às autoridades romanas e encarcerado durante sete anos, ao fim dos quais é condenado à morte na fogueira, juntamente com suas obras consideradas heréticas. No dia 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno é executado friamente no Campos das Flores. Giordano Bruno interpretado por Gian Maria Volonté, 1973.  O que negaria mais tarde, ao ser julgado mais uma vez sendo agora em Veneza.

Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e também expulso de Gênova. Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris), Suíça e Inglaterra. Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, quando  frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney que ao regressar a Inglaterra em 1575, Sidney conheceu Penelope Devereaux, a futura Penelope Blount, que, apesar de ser muito jovem, inspirou o seu mais famoso soneto, Astrophel and Stella. No seu país, Sidney ocupou-se com a política e com as artes. Após uma discussão com Edward de Vere, Philip ausentou-se do mundo político. Durante essa ausência, escreveu Arcadia. Anteriormente, Sidney teria conhecido Edmund Spenser, a quem dedicou Shepheardes Calendar. Sidney regressou à política e aos tribunais em 1581 e foi ordenado cavaleiro em 1583. Nese mesmo ano, casou-se com Frances Walsingham. No ano seguinte, conheceu Giordano Bruno, que dedicou dois livros a Philip.
        Em 1585, Bruno retornou a Paris, seguindo para a rota de Marburgo, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde publicou vários de seus manuscritos e aquela que é considerada sua principal obra: “Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias”. Em Helmstedt, na Alemanha, Giordano sofre sua terceira excomunhão - agora da Igreja Luterana.  Aos cinquenta e dois anos - vestindo uma túnica de condenado, amarrado a uma estaca e com a língua atravessada por um prego e presa a uma estrutura de metal - Giordano Bruno, um dos maiores pensadores da história da Humanidade, agoniza sob as chamas de uma fogueira, na Praça das Flores, no centro de Roma, no dia 17 de fevereiro de 1600. Giordano Bruno é um símbolo vivo de liberdade e de autonomia de pensamento crítico.O filme Giordano Bruno (1973), de Giuliano Montaldo, se inicia justamente nesse de politização de sua imagem. Bruno já é reconhecido em grande parte da Europa e se hospeda na casa de Mocenigo, em Veneza. Os dois se desentendem e Bruno é denunciado aos inquisidores
    Nessa conjuntura é realizado ojulgamento, interrompido pela Santa Inquisição Romana, que exigia a extradição do prisioneiro a Roma. No filme, alguns traços históricos são relevantes e dentre eles, a análise comparativa destaca as diferenças entre a República de Veneza e Roma, centro do poder papal. A autoridade do papa era reconhecida por todos os reinos católicos, mas controlava administrativamente apenas o centro da península itálica como fazem os reitores de universidades contemporâneas. Quando o senado veneziano vota em favor da extradição de Giordano Bruno, fica evidenciada, esta questão da perda da autonomia de Veneza, que no século XVI, já em decadência, a denunciava a ponto de o senado decidir conforme fosse mais conveniente para suas relações políticas com uma clara formação de dependência com a Santa Sé. Nesse ponto, o filme como o calor do fogo, refaz bem o contexto histórico e político e demonstra que Bruno morreu não só por suas ideias reformistas, mas também como valor de troca pelo sacrifício burocrático de Veneza.   
       Vale lembrar que na Feira do Livro de Frankfurt de 1590, uma dupla de livreiros a serviço do nobre veneziano Giovanni Mocenigo o teria convidado a ir a Veneza ensinar Mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, na qual era um perito. Pouco depois de sua volta, desentendeu-se com Mocenigo, que o trancou num quarto e chamou os agentes da Inquisição. Encarcerado na prisão de San Castello no dia 26 de maio de 1592, seu julgamento começou em Veneza, foi transferido para Roma em 1593 e chegou à fase final na primavera europeia de 1599. Durante os sete anos do processo romano, Bruno negou qualquer interesse particular em questões teológicas e reafirmou o caráter filosófico de suas especulações como estratégia política. Essa defesa pública não satisfez aos inquisidores que exigiram uma retratação incondicional de suas teorias. Como se mantivesse irredutível foi condenado devido à sua doutrina teológica segundo a qual Jesus Cristo representava a figura de “um mágico de habilidade incomum, que o Espírito Santo era a alma do mundo e que o demônio seria salvo um dia”.
     Nove dias após a sentença, na madrugada do dia 17 de fevereiro de 1600, uma quinta-feira, Giordano Bruno seria impiedosamente levado à fogueira no Campo dei Fiori, animado tanto de dia pelo seu mercado, quanto à noite por seus restaurantes e terraços é uma das zonas mais autênticas de Roma. Acerca dos derradeiros momentos da vida do Nolano, o filme de Montaldo busca retratar um Bruno aparentemente delirante, que esbravejava palavras desconexas através do cansaço de seu corpo quase imóvel durante o processo de tortura sobre seu próprio fim. Essas palavras levaram seus algozes a providenciar uma espécie de mordaça que contava com um prego em sua extremidade, para que, com a língua furada, Bruno não proferisse heresias. Confirmando esse fato, uma testemunha ocular, o gramático e filólogo da época Gaspare Schopp, escreve uma carta ao jurista Corrado Ritterhausen, contando-lhe que, quando Bruno estava sendo levado para fogueira, “próximo à morte, foi-lhe mostrada uma imagem do Salvador crucificado, a qual foi rejeitada com vulto desdenhoso”.  
julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de´ Fiori, Roma. Em 21 de maio de 1592, a Igreja consegue aprisionar Giordano Bruno, a partir de uma denúncia de João Mocenigo e apodera-se também de suas últimas obras: De predicamenti di Dio (“Sobre os atributos de Deus”) e Libretto di congiurazioni (“Pequeno livro de conjurações”). Antes de ser denunciado ao Santo Ofício, pretendia entregar ao Papa a obra Le sette arti liberali e inventive (“As sete artes liberais e inventivas”). Luigi Firpo, afirmou sobre a morte do Nolano, que ao chegar à fatídica madrugada de 17 de fevereiro, Bruno, então conduzido ao Campo dei Fiori, “foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam”, e acabou “queimado vivo”, consciente de seu fim como “mártir, e de boa mente, pois que sua alma subiria junto àquele fumo”, para ir conjugar-se com a alma do universo. Sabe-se que Bruno possuía uma visão bastante ampliada e não temerosa da morte. Sobre isso, afirmou certa vez que, “se analisarmos o ser com profundidade, na substância em que somos imutáveis, saberemos que a morte não existe, não só para nós, mas também para qualquer substância; no entanto, nada diminui substancialmente, mas tudo, no infinito espaço, altera sua aparência”. Ao ouvir sua sentença, a 8 de fevereiro de 1600, teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. 
Contudo, a Congregação do Santo Ofício, presidida pelo papa Clemente 8 (1592–1605), ainda concedeu ao “herege impertinente e pertinaz” (“injuriosum retines haereticus et pertinax”) oito dias de clemência para um eventual arrependimento. A capitulação de Giordano Bruno teve um efeito propagandístico num ano da graça como o de 1600. Mas ele preferiu enfrentar a pena de morte a abjurar suas extraordinárias ideias. Seus trabalhos foram publicados no Índex em agosto de 1603 e só foram liberados pela censura do Vaticano em 1948. Giordano Bruno prestou uma contribuição intelectual decisiva para acabar de vez com a Idade Média. Morto aos 52 anos tornou-se um mártir do livre pensamento. Foi vítima da intolerância religiosa típica da chamada Contrarreforma, a batalha travada pela Igreja Católica contra a Igreja Reformada. O martírio de Bruno (1600), seguido do julgamento de Galileu Galilei (1616), abriu um fosso profundo entre a ciência como modernidade e a religião como verdade.
Bibliografia geral consultada.

FIRPO, Luigi, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LX, 1948, pp. 542-597; Idem, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LXI, 1949, pp. 5-59; SALVESTRINI, Virgilio, Bibliografia di Giordano Bruno. Firenze: Editor Sansoni, 1959; MICHEL, Paul Henry, La Cosmologie de Giordano Bruno. Paris: Herman Editeur, 1962; MONDOLFO, Rodolfo, Figuras e Ideas de la Filosofia del Renacimiento. Barcelona: Icaria Editorial, 1980; GEREMEK, Bronislaw, A Piedade e à Forca. História da Miséria e da Caridade na Europa. Lisboa: Editor Terramar, 1986; YATES, Frances, Giordano Bruno e a Tradição Hermética. São Paulo: Editora Cultrix, 1986; GONÇALVES, Iria, Imagens do Mundo Medieval. Lisboa: Livros Horizonte, 1988; SANTOS, Patrícia Lessa, No Caldeirão dos Bruxos: A Filosofia Herética de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade de Campinas, 1997; BRUNO, Giordano, “De L`Infinito, Universo e Mondi”. In: Opere Italiane. Torino: Unione Tipografico; Editrice Torinese LIbrarie, 2007; pp. 7-167; BARACAT FILHO, Antônio Abdala, O Infinito Segundo Giordano Bruno. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2009; ATROCH, Tiago José Cavalcanti, A Visão do Cosmo no Tratado da Magia de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado em História. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2012; PINTO, Anibal, O Infinito: Ideias, Transformações e as Considerações de Giordano Bruno. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Departamento de História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012; LOPES, Ideusa Celestino, A Cosmologia Bruniana como um Pressuposto para uma Reforma Moral. Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2013; Entrevista: Reabilite Giordano Bruno: O Pedido de Frei Betto ao Papa. In:  http://www.ihu.unisinos.br/14/04/2014; RIBEIRO, Rodrigo Petrônio, Mesons: Ontologia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; entre outros.