Vida da Gueixa – Escolha da Arte, Memória & Trabalho Social.
Ubiracy de Souza Braga*
“Não tornamos gueixas para termos vida satisfatória, porque
não tivemos escolha”. Mineko Iwasaki
Em
primeiro lugar, a palavra gueixa significa literalmente artista (trabalho) e
desde o final do século XVIII, etnograficamente pode descrever uma série de
artistas japonesas: “Shiro”, puramente
uma apresentadora; “kerobi”, uma gueixa acrobata; “kido”, uma gueixa que estava
na entrada de carnavais, ou “joro”, uma prostituta, sendo esta a profissão que
gueixas têm sido erroneamente mal interpretadas por muitos anos em que não
detém o conhecimento etnológico de interpretação da cultura. A dança das
gueixas evoluiu a partir da executada no palco do kabuki. As danças “selvagens
e ultrajantes” transformaram-se em uma forma mais sutil, estilizada, passando a
uma forma controlada. São disciplinadas, semelhante ao Tai Chi, vale lembrar,
uma arte marcial chinesa interna, parcialmente baseada no bagua. Este estilo de
arte marcial é reconhecido também como uma forma de meditação em movimento. Os
princípios do taiji Quan remetem ao taoismo e à alquimia chinesa relacionada ao
taoísmo. Seus praticantes utilizam os Cinco Elementos; o Tao, a relação entre
Yin e Yang; o Ki; o I-Ching; a astrologia chinesa; os princípios do feng shui,
e da medicina tradicional chinesa. Cada dança usa gestos para narrar uma
história. Um conhecedor pode entender seu simbolismo. Um gesto de mão, representa
ler uma carta de amor. O canto de um lenço na boca falta de modos. As mangas
longas do quimono para simbolizar situações de fortes emoções em lágrimas. A
utilização dos quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas
multicoloridas para cada estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem
as estampas e cores por mês. Assim, cada mês representativo do ano é
representado por uma estampa e gama de cores específica. A utilidade de uso dos
quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas multicoloridas para cada
estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem as estampas e cores mês.
Assim, cada mês representativo do ano é representado por uma estampa e gama de
cores específica.
Em segundo lugar, as
precursoras da gueixa do sexo feminino foram as adolescentes odoriko (dançarinas).
Na década de 1680, elas eram populares artistas pagas nas casas particulares da
alta classe samurai, apesar de muitas se transformarem em prostitutas no início
do século XVIII. Aquelas que não eram mais adolescentes e não poderiam mais
praticar o estilo odoriko, adotaram outros nomes, sendo um deles gueixa,
se assemelhando aos artistas masculinos. A primeira mulher reconhecida por ter
chamado a si mesma de gueixa era uma prostituta de Fukagawa, em cerca de 1750, uma
cidade japonesa localizada no distrito de Sorachi, na província de Hokkaido. Em
2003 a cidade tinha uma população estimada em 26 645 habitantes e uma densidade
populacional de 50,36 h/km². Tem uma área total de 529,12 km². Recebeu o
estatuto de cidade a 1 de maio de 1963. Ela era uma cantora qualificada e
tocadora de shamisen chamada Kikuya, e que foi um sucesso, tornando as gueixas
mulheres extremamente populares na década de 1750 em Fukagawa. Como se tornou
mais difundido ao longo dos anos de 1760 e 1770, muitas começaram a trabalhar
apenas como artistas, em vez de prostitutas, muitas vezes nos mesmos
estabelecimentos que “gueixas do sexo masculino”. As gueixas que trabalharam
dentro dos bairros de prazer eram essencialmente presas e proibidas de “vender
sexo”, a fim de proteger o negócio das Oiran - para isso, existiam cortesãs
licenciadas “para atender as necessidades sexuais dos homens”. Por volta de
1800, ser uma gueixa foi considerada uma ocupação feminina. A evolução histórica e social do
estilo de vida das gueixas era imitada por mulheres elegantes por grande parte da
sociedade japonesa.
A
maquiagem da gueixa é sua grande característica marcante. Mas esta é usada de
acordo com seu grau de experiência. É um processo demorado, e é aplicada antes
de se vestir para evitar sujar o quimono. Quando aprendiz, a gueixa usa a
maquiagem de forma regular e mantém todo o rosto branco. Ela realmente só usa a
maquiagem quando precisa dançar ou para demonstrar seu desempenho a algum
cliente. Quem aplica essa maquiagem na gueixa podem ser a sua “onee-san” (ou
irmã mais velha) ou pela “okaa-san” (ou gueixa-mãe), de sua casa de gueixas.
Sua aplicação é feita com muito cuidado, pois, ao cometer um erro, o aprendiz
que está a maquiar seria obrigado a limpar tudo e começar novamente. O tempo de
duração dessa maquiagem pode ser de até duas horas. É impossível ver uma maquiagem assim e instantaneamente não associar a imagem à elas. As mulheres daquela deste tempo e até nos dias atuais usavam pó de farinha de arroz ou um pó à base de chumbo misturado com água. Vira uma pasta fina e com ela, aplicavam na pele como se fosse uma base, aplicando pelo rosto todo, pescoço e colo. Têm o hábito também de arrancar todos os pêlos das sobrancelhas e depois de aplicarem a pasta branca no rosto, faziam sobrancelhas falsas no alto da testa. É hábito higiênico chamado Ohaguro que consiste em escurecer os dentes com uma mistura de limalha de ferro oxidado mergulhada em uma solução ácida. A aplicação desta mistura deve ser repetida a cada dois dias, porque em caso contrário os dentes voltam a ser branco.Nos
estágios iniciais da história japonesa, existiam artistas do sexo feminino
chamado “saburuko” (“meninas que servem”), que eram em sua maioria meninas
vagando cujas famílias haviam sido deslocadas nas lutas no fim do século VII.
Algumas “dessassaburukos” vendiam
serviços sexuais, enquanto outras com uma melhor educação ganhavam a vida
entretendo uma alta classe da sociedade em encontros sociais. Após a corte
imperial mudar a capital para Heian-kyō (Kyoto) em 794, no início do período
Heian, as condições que formam a cultura japonesa da gueixa começaram a surgir,
e depois se tornaram o lar uma elite política obcecada pela beleza e mistério
dessa cultura. Na cultura japonesa, a mulher ideal era uma mãe modesta e
gerente da casa. Para o prazer sexual e apego romântico, os homens procuravam
por cortesãs. No Japão, a condição comportamental de gueixa é simultaneamente cultural, simbólica e repleta de status, delicadeza e tradição. Ao longo dos séculos, esse contexto social foi desenvolvido pelo aperfeiçoamento da técnica dessas artes e pela estrutura rígida e polida necessária para se tornar uma gueixa e permanecer como tal.
Neste
sentido criaram-se os chamados “quarteirões do prazer” conhecidos como “yūkaku” construídos
no século XVI, que depois se tornaram bairros fora dos quais a prostituição seria
admitida como ilegal. Neles as “yujo” que significam “mulheres para brincar”
seriam classificadas e licenciadas. As “yujo” como as categorias mais elevadas
foram antecessoras da cultura das gueixas, chamadas “Oiran”, uma combinação de
atriz e prostituta, originalmente se apresentando em etapas definidas. Elas
realizavam danças eróticas, entre outros aspectos artísticos, e esta nova arte foi apelidada “kabuku”, que tem
como representação “ser selvagem e ultrajante”. As danças eram chamadas de “Kabuki,”
e esta arte deu início ao maravilhoso teatro kabuki. Daí estes quartos de
prazer rapidamente tornaram-se centros de entretenimento glamorosos, oferecendo
muito mais do que sexo. As cortesãs talentosas destes distritos entretinham
seus clientes, dançando, cantando e tocando música. Gradualmente, elas
tornaram-se especializadas na nova profissão. Na virada do século
XVIII as primeiras artistas encontradas nos “quartos de prazer”, chamadas de gueixa, eram
homens, entretendo seus afetivos clientes que esperavam para ver as cortesãs mais populares e
talentosas (“oiran”).
O
filme: “Memórias de uma gueixa” é baseado no romance homônimo escrito por
Arthur Golden, best-seller nos anos 2000. O livro narra a história de
Niita Sayuri, uma das mais populares gueixas do Japão nas décadas de 1930 e
1940. Trata-se da história de uma menina de 9 anos, Chiyo, filha de pescadores
vendida pelos próprios pais à “Niita okiya” (casa de gueixas), tradicional
em Tóquio em 1929. A princípio Chiyo é educada em igual com outra
menina, “Kabocha” (“abóbora”), no filme chamado de “Pumpkin”, para ambas
tornarem-se gueixas. Mas após uma tentativa frustrada de fuga da casa de
gueixas, Chiyo é retirada da escola de gueixas e passa a trabalhar como
empregada doméstica da okiya em troca de abrigo e comida. Além de ser tratado
de forma severa pela “okaasan” (mãe), modo pelo qual a gueixa mais velha
administra a okiya, a menina Chiyo fica à mercê das intrigas de Hatsumomo, a gueixa
mais experiente e popular da okiya. Bela, mas orgulhosa e amarga, Hatsumomo têm
como rival sua antiga “oneesan” (irmã mais velha), Mameha. Considerada a mais
refinada das gueixas do “hanamachi” (cidade de flores), comunidade das gueixas
que possuem registro oficial para trabalhar, Mameha é uma “geiko” (mulher das
artes) respeitada e independente por ter conseguido um danna (patrono), que lhe
deu vida luxuosa e livre das dívidas e obrigações que possuem e que constitui
motivo pelo qual Hatsumomo nutre enorme inveja do gozo de Mameha. Na
literatura de Arthur Golden tudo começa quando Sayuri ainda era uma criança e
se chamava Chiyo Sakamoto. Vivendo com os pais e a irmã Satsu, a menina vê sua
mãe a beira da morte quando seu pai começa a vender as filhas. Enquanto Satsu é
entregue para ser prostituta em Gion, a pequena Chiyo é levada para um okiya. É
a partir de então que a narrativa se torna encantadora, pela riqueza de
detalhes no cotidiano da existência e do processo de formação artística nesta
particular sociedade. A história social da pequena Chiyo para se tornar uma
gueixa é contada/narrada de uma maneira simples, repleta de beleza, mas demonstrando as
contradições sociais em torno de um sistema de hierarquia e poder, secularizado, articulado em torno dos
problemas enfrentados no começo dos treinamentos, nas primeiras festas e
ambientado com os primeiros suspiros masculinos.
O
livro Memórias de Uma Gueixa atraiu a atenção do genial Steven Spielberg, que
comprou os direitos autorais para a adaptação no cinema. O que a princípio foi
considerado “filme de arte” pelos distribuidores, tornou-se um sucesso
comercial sendo o quinto filme mais visto nos Estados Unidos em dezembro de
2005, um feito relevante, considerando que “As Crônicas de Nárnia” e “Harry
Potter e o Cálice de Fogo” estavam em cartaz na mesma época, sendo indicado em
várias categorias para o Globo de Ouro. Lançado no Japão, onde o título foi
trocado para “Sayuri”, o filme naturalmente não causou o mesmo impacto social que obteve comercialmente em geral no ocidente.
Foi objeto de inúmeras críticas vulgares, que concluíam que
“Memórias de uma gueixa” era um filme antropologicamente considerado “para inglês ver” (cf. Fry, 1982). Ou
seja, um filme caricatural que mais reflete uma imagem ocidentalizada e
distorcida do Japão e das gueixas, do que um período da história recente do
país. É a velha querela da transfiguração que não exclusiva deste caso.
A
adaptação do best-seller de Arthur
Golden, dirigida pelo norte-americano Rob Marshall, com as chinesas Ziyi Zhang
e Gong Li e a malasiana Michelle Yeoh nos papéis principais, conta a vida da
jovem Sayuri (Ziyi Zhang), menina de olhos azuis tirada do convívio dos pais na
vila de pescadores em que morava e levada para uma cidade grande, onde será
treinada para ser gueixa com a experiente Mameha (Michelle Yeoh) e terá de
enfrentar a rivalidade de Hatsumomo (Gong Li), ainda a profissional mais importante,
claramente demonstrando disciplina e sabedoria em função de sua longa carreira.
Ambas disputarão as condições e possiblidades de envolvimento amoroso com o
Executivo (Ken Watanabe), e Saiyuri se apaixonará por ele, contrariando as
regras únicas de formação das gueixas em diferentes artes. Pois são vocacionadas para o entretenimento de clientes geralmente notáveis ou poderosos, dentre aqueles convidados em banquetes, casas de chá ou outros locais que podem ser públicos ou privados, onde sejam requisitadas e que devem servir ao homem. Do ponto de vista da análise
comparada, no caso da produção fílmica de Isabel Allende: Casa dos Espíritos
trata-se de produção híbrida na qual “a latinidade se acha quase ausente”.
Indagado por um repórter sobre o porquê de um diretor dinamarquês filmando um
livro sul-americano numa produção alemã, usar a língua inglesa, Bille August
justifica: - o filme está orçado em 25 milhões de dólares e ninguém no mundo
financiaria esta cifra para um filme espanhol. Acrescenta que Hamlet é uma
história dinamarquesa e foi filmado em inglês. Pondera ainda o premiado
diretor: - Quem assistiria a “O Último Imperador” se fosse rodado em chinês? O
diretor bem que se interessou por penetrar num universo sulamericano de amores
proibidos, vingança, misticismo, opressores e oprimidos e de golpes militares,
entretanto, o filme ao que parece, não contém o “sabor latino” do livro. Esta
circunstância levou alguns integrantes de origem hispânica, residentes nos
Estados Unidos, a organizarem um protesto contra a ausência de profissionais
étnicos no elenco técnico e artístico de La Casa de los Espíritus (cf. Allende,
2017). Eles pediram à considerável parcela latina de 39 milhões de pessoas do
público norte-americano que não assistissem ao filme. De acordo dados do Census
Bureau (2005), os latino-americanos residentes representavam
em torno 13,4% da população do país, constituindo o segundo grupo étnico. Quando o filme foi divulgado simultaneamente no Brasil e nos
Estados Unidos da América, a crítica especializada considerou a parte técnica de primeira
qualidade: o desenho de produção, o guarda-roupa, a fotografia e a música. Igualmente, sem
a família, base de tudo na vida, e sem ter a quem recorrer ou aonde ir, a
pequena Chiyo mal sentia qualquer motivação em continuar viva. Para passar o
resto de seus dias como escrava doméstica de pessoas que procuravam ignorar sua
existência. Um dia, ao parar numa das pontes sobre o rio na cidade, um senhor
acompanhado por duas outras gueixas interrompeu seu caminho para conversar um
pouco com a desalentada Chiyo, que o deixou impressionado por seus incomuns
olhos azul. Após comprar um cartão de sorteio para a menina, o homem simpático chamado
de Shachō, representando um presidente de empresa, chamado no filme de
“Chairman” pelas gueixas se vai. Nas fantasias de uma criança, Chiyo
apaixona-se pelo Presidente (“Chairman”) com aquele simples
encontro casual, ou o amor da sua vida, você pode achá-lo num lugar que faz desse amor platônico sua razão de viver. Decidida a
reencontrá-lo, ela decide fazer o que pudesse ser possível para tornar-se uma gueixa como as
belas moças que o acompanhavam.
Para
os chineses, culturalmente com razão, foi absurdo ver “filhas da terra”
interpretando “prostitutas japonesas”, incidente diplomático que reavivou
memórias desagradáveis da relação entre os dois países durante a 2ª guerra
sino-japonesa (1937-1945), quando milhares de chinesas teriam sido estupradas por soldados japoneses (cf.
Vigarello, 1998). A ultraconservadora Pequim ameaçou proibir a exibição do
filme em território nacional. Para Iwasaki (2002), ex-gueixa que foi a
principal inspiração para o livro de Arthur Golden, a revolta se deu em forma
de um processo que ela move contra o autor e o diretor, por ter sua “privacidade
desrespeitada”. Ela não gostou de ver divulgada a prática da “mizuage”, referida
à venda da virgindade da jovem gueixa no mercado a quem der o lance econômico
mais alto, fato que teria contado “off the records”. Arthur Golden retrata em
sua concepção o “mizuage” como um acordo financeiro em que a virgindade de uma
menina é vendida a um patrono do “mizuage” que Desde 1959, tornou-se o equivalente a comemoração de debutante . Mineko Iwasaki, uma das gueixas que Golden reconheceu durante as tomadas de gravação do filme Memórias deumaGueixa, o mizuage é descrito em sua autobiografia como sendo rito de passagem ou uma festa de iniciação.
A
verdadeira história, diz ela, está representada na sua biografia Geisha of Gion - The
Memoir of Mineko Iwasaki. – “Fui
fiel ao que ela me disse”, afirmou o escritor Golden, cujo livro vendeu 4
milhões de exemplares. – “O fato é que agora todos querem ganhar um pouco de
dinheiro com a publicidade em torno do filme”. Outros japoneses reclamaram da
falta de compreensão dos ocidentais sobre a profissão. Gueixas, disseram críticos
cinematográficos japoneses, não se vestiam da maneira demonstrada no filme nem
dançavam assim. Além disso, usavam uma camada espessa de pó branco no rosto,
que foi abrandada por motivos comerciais por Marshall. – “Seria um absurdo
esconder da plateia os belos rostos das atrizes e suas inflexões”, retrucou o norte-americano
que infelizmente não compreendeu o sentido histórico da beleza contida no termo estético, sobretudo cultural personificado
na expressão “Kabuki, máscara”! em busca dos repertórios que representem o significado presente da consciência, da memória e da cultura na prática, onde performances do kabuki mais bem sucedidas foram e são plenamente realizadas. A história do personagem kabuki começou em 1603, quando Okuni, uma miko do santuário Izumo Taisha, passou a executar um novo estilo de dança dramática em Kyoto. Atrizes representavam papéis tanto masculinos quanto femininos em encenações cómicas sobre a vida cotidiana. O estilo conquistou popularidade instantânea; Okuni foi inclusive convidada para se apresentar na Corte Imperial. O Japão estava sob o controlo do Shogunato Tokugawa, liderado por Tokugawa Ieyasu. No despertar de tal sucesso, trupes rivais formaram-se rapidamente e o kabuki nasceu como uma dança dramática de conjunto executada por mulheres, numa composição muito diferente da sua representação moderna. Muito do seu apelo advinha das sensuais e sugestivas performances realizadas; um grande número de atrizes estavam comummente dispostas à prostituição; e os membros masculinos da audiência podiam requerer livremente os serviços destas mulheres. O kabuki tornou-se uma forma comum de entretenimento no estilo de vida Ukiyo, em distritos como Yoshiwara - uma zona de meretrício em Edo. Estas práticas urbanas e todo o mal que dele advinha, especialmente pela variedade de classes sociais que se misturavam em performances de kabuki, não passou despercebido ao shogunato.
A
“maiko” usa um pó branco que cobre o rosto, pescoço e peito, com duas ou três
áreas sem estar brancas, caricaturando uma forma de W ou V, deixados na nuca, para
acentuar uma área tradicionalmente erótica (cf. Bataille, 1957), e uma linha de pele nua em todo o
couro cabeludo, o que cria a ilusão de uma máscara (cf. Leloup, 1998). Suas bochechas são
acentuadas de pó rosa escuro, e os olhos são pintados de acordo com a idade: vermelho
para as mais jovens e vai mudando de preto com a mistura de cores. Como
descrição deste processo, começa-se com a aplicação bintsuke-abura para o
rosto e a região superior do peito, aplicando a maquiagem em toda esta área (cf. Masuda, 2003).
Esta cera não só ajudará a aderir à pele, mas também irá impedir que a
maquiagem caísse em seu quimono, o que seria um erro muito ruim. Logo, irá
misturar o pó branco com água para fazer a massa, que é o que dá o aspecto mais
visual da sua maquiagem. Este pó foi feito originalmente com chumbo, mas hoje é
feito a partir de cosmético moderno, livre de chumbo e muito mais seguro. Enfim,
durante a divulgação do filme: Memórias de uma gueixa, a imprensa ocidental
deu ênfase às atrizes Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh, mas pouco se falou
de Ken Watanabe (o Presidente), Kōji Yakusho (Nobu), Youki Kudoh (Abóbora),
Kaori Momoi (Gueixa-mãe), e de Suzuka Ohgo (Chiyo, Sayuri criança). Em geral as análises e reportagens são eivadas de um fatalismo comercial pessimista desconcertante. Manchetes e expressões tais como fracasso pessoal ou da democracia, representam uma lacuna
que o site Cultura Japonesa preencheu em tempo e espaço com uma análise crítica e de riqueza
discritiva.
Bibliografia
geral consultada.
FRY, Peter, Para Inglês Ver: Identidade e Política na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1982; BATAILLE,
Georges, L`Erotisme. Paris: Éditions Minuit,
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Jean-Yves, O Corpo e Seus Símbolos. Uma Antropologia
Essencial. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1998; IWASAKI,
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Washington Square Press, 2002; pp. 206-210; MASUDA, Sayo, Autobiography of a Geisha (translation Gayle Rowley). New York: Columbia
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Companhia das Letras, 2007; IRWIN, Robert, Pelo Amor ao Saber: Os Orientalistas e seus Inimigos. São
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________________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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