terça-feira, 8 de novembro de 2016

Um Senhor Estagiário: Ensaio sobre Unidade de Geração.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; porque não ousamos empreendê-las”. Sêneca

         
          Estágio, do Latim medieval stagium, refere-se ao período preparatório e/ou passagem do ciclo vital. No sentido jurídico estabelece o período no qual o funcionário público das honras e da renda de sua prebenda. Mudou depois para estage, consolidando-se como étage, estada, permanência, período, residência, morada. No começo do século XIX, o francês já designaria stagiaire, que no fim do mesmo século passará ao idioma português como estagiário, designando um “estudante ou profissional que durante determinado tempo de observação é submetido a exames com o fim de auferir sua aptidão para o ofício ao qual se candidatou”. O francês stage cujo primeiro registro é de 1630, veio a designar “estada” que um cônego deve fazer durante certo tempo num local de sua igreja, antes de poder desfrutar certo período em que presta serviços com o fim de adaptar-se a novas funções ou a aprender novas habilidades em função de seu desempenho no âmbito profissional. O estágio pode ser obrigatório quando é pré-requisito no projeto pedagógico do curso para aprovação e obtenção do diploma, ou não obrigatório, quando se trata de atividade opcional acrescida à carga horária regular e obrigatória do processo disciplinar.
             O filme: Um Senhor Estagiário não é o representante típico das representações na filmografia de   Nancy Meyers, a diretora/roteirista dos sucessos de bilheteria de “Alguém Tem que Ceder” (2003), estrelado por Jack Nicholson e Diane Keaton como duas pessoas bem sucedidas de 60 e poucos e 50 e poucos anos, que encontram o amor um pelo outro mais tarde na vida, apesar de serem completamente opostos; “O Amor Não Tira Férias” (2006), uma comédia natalina que fala sobre mudanças de vidas por causa de novos ares, e Amanda Woods e Iris Simpkins são duas mulheres que vivem completamente distante uma da outra, na verdade, elas vivem em dois pontos completamente opostos da Terra. Mas as duas possuem algo em comum: estão cansadas da vida que levam e precisam desesperadamente mudar de ares, para poder se renovarem, ou “Simplesmente Complicado” (2009), estrelado por Meryl Streep como proprietária de uma padaria e mãe solteira de três filhos que começa um caso secreto com o ex-marido, interpretado por Alec Baldwin, apenas para encontrar-se atraída por outro homem: seu arquiteto Adam, interpretado por Steve Martin. Muito menos se baseia na fórmula que pretende criar situações cômicas e contraditórias: a) pelo contraste entre seus personagens; b) afetivamente com o público pelo amor/amizade que nasce desse relacionamento; e, c) tematizando o âmago do processo de trabalho. E muito menos se trata de um cinema aparentemente inofensivo, que ganha qualidade pela presença de grandes atores no elenco, inseridos em uma história real sobre conflitos de geração e de gêneros. Os dois atores carregam o filme, que segue o agradável desenvolvimento da amizade entre a magnata das compras online Jules e o seu adorável estagiário septuagenário Ben. O contexto social criado por Nancy Meyers articula bem personagens e situações repetitivas de trabalho. Os personagens não têm nenhuma questão realmente séria a ser resolvida se não se tratasse de um septuagenário.      
 

      
            As unidades de geração, no sentido Mannheimiano não desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo dado problema. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos de uma mesma conexão geracional lidam com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. A história das ciências humanas aparece nessa caracterização como se houvessem sido estudadas apenas as tabelas cronológicas históricas. Após essa simplificação, a dificuldade do problema parece residir apenas sobre este aspecto: encontrar o tempo médio no qual uma geração anterior é substituída por uma nova na vida pública e, sobretudo, encontrar o ponto de início natural no qual se procede a um corte na história, a partir do qual se deve começar a contar. A duração da geração é determinada de forma diversa a cada momento. Alguns fixam a duração do efeito de geração em 15 anos; considerando que 30 anos são os anos de formação, quando, normalmente, se inicia o processo individual criativo do indivíduo; aos 60 o ser humano deixa a vida pública.           
            Do ponto de vista teórico e metodológico, concordamos com a assertiva segundo a qual a instância ideológica há de ser percebida como lugar analítico das múltiplas projeções dos efeitos de reconhecimento e desconhecimento dos efeitos das diferentes instâncias. Portanto há de ser recortada nas suas conexões, seja com a instância política, seja com a instância econômica. Já que não é na realidade que vamos procurar a prova da autonomia das estruturas (teóricas), mas na estruturação da teoria que autoriza análises autônomas. Assim, estamos nos distanciando, para ficarmos num exemplo, daqueles que atribuem à ideologia um papel exclusivo na reprodução do trabalho. Temos que admitir, se nos propusermos a fazer ciência, que a ideologia só reproduz o reconhecimento da ordem, da organização e da divisão do trabalho. A configuração social das esferas de ação ocorre diferente da lógica dialética, “todos parciais”, sem prioridade de um “centro”. Em nível de análise do econômico opera-se a rejeição da “unicausalidade econômica” e das lutas sociais e políticas atribuindo-se as instâncias, então determinadas do discurso como o político e ideológico, o “peso” de instâncias dominantes sem ser determinantes operacionalmente.

 
Tai chi chuan: vencer a dureza através da suavidade (“Yi Rou Ke Gang”).        
              A arte marcial Tai Chi Chuan serve a propósitos bem definidos dentro das empresas, colaborando para que as pessoas de todos os setores possam conquistar os requisitos de adaptação e ocupem suas posições, quaisquer que sejam elas, de maneira agradável, colaborativa e participativa. Essa arte milenar ajuda os funcionários a se conscientizarem sobre seu valor pessoal e, ao mesmo tempo, a servir a empresa. O Tai Chi Chuan representa um método que conduz o aprendiz, em primeiro lugar, a tomar consciência de si mesmo, de seu corpo e de seus limites. De forma gradativa, o praticante também aprende a superar suas dificuldades, sem correr riscos corporais ou psicológicos. A ênfase colocada em movimentos suaves, contínuos e circulares permite que o aluno se exercite sem estresse, conheça seu corpo, aprenda a respirar e se manter no centro o tempo todo. A marcialidade do tai chi chuan se fundamenta na capacidade de se sentir os movimentos e o centro de gravidade do oponente. O objetivo primário do praticante de tai chi chuan é afetar o centro de gravidade do oponente logo que ocorre o contato físico. Tal sensibilidade em detectar o centro de gravidade do oponente é adquirida pelo praticante de tai chi chuan após milhares de horas de práticaː inicialmente, práticas yin que são lentas, meditativas, de baixo impacto e repetitivas, e posteriormente práticas progressivamente mais yang, por serem realistas, ativas, rápidas e de alto impacto. O tai chi chuan trabalha em curtas, médias e longas distâncias, e posteriormente em todas as distâncias intermediárias a estas. Empurrões e golpes com a mão aberta são mais utilizados do que praticamente os socos, e os chutes que visam geralmente às pernas e ao tronco inferior, mas nunca acima do quadril.   
                  A trama nos apresenta a Ben Whittaker um viúvo de 70 anos que simplesmente não consegue lidar com sua tediosa aposentadoria. Encorajado a tentar algo novo, ele entra para o programa de estágio de uma empresa de internet especializada em vendas de roupas, chefiada pela Jules Ostin, empresária, mãe, e esposa profissionalmente dedicada, mas que vê sua vida ficar cada vez mais ocupada e relativamente estressante no trabalho com o envolvimento e crescimento da empresa. Depois que conhece o viúvo Ben Whittaker, estagiário de seu negócio, as coisas mudam em função do carisma, tranquilidade e satisfação social e humana no trabalho e como isso é transferido socialmente para todos à sua volta.  Enfim, não se envolver com esse enredo temático é difícil, é quase que simultânea a conexão de sentido numa cadeia de trabalho da primeira até a última cena. Na sociedade contemporânea encontram-se diversos tipos de arranjos familiares, distanciando-se do modelo urbano, burguês, cristão, o que conduz a reflexão que não é possível mais considerar apenas um modelo familiar existente. Ocorreram inúmeras transformações entre os pais, entre as formas de concepção de amar, o crescimentos das indústrias, a entrada prá valer da mulher no mercado de trabalho e assim por diante. Mas a família não encontra-se enfraquecida, ela apenas vem deixando de ser um único modelo para transformar-se em outros modelos de organização familiares.             
                 Não dá para pensar na atual sociedade, sem refletir sobre a geração de septuagenários,  pois são eles que nos demonstram que a vida é contínua, cíclica e que não podemos desanimar diante das agruras do sujeito que nos quer testar no dia a dia, pois colocam seu amor-próprio acima de tudo, pois já passaram por tantas adversidades que não têm medo do amor, como as gerações mais novas que sofrem e chegam ao fundo do poço ao sofrerem uma perda ou decepção amorosa. Essas gerações lotam os espaços públicos e privados: as academias, os parques, as ciclovias realizando atividades físicas para manterem seu bem-estar social e coletivo. É uma geração que gosta de viajar, conhecer lugares novos, compartilhar, ter aventuras, estudar, dançar, frequentar salões de beleza, fazer compras, comer fora, enfim, viver e aproveitar tudo o que há de melhor. O lazer e a vaidade quase sempre fazem parte de suas vidas. As rugas não as aniquilam e nem as envergonham porque são encaradas como parte do processo social e histórico de amadurecimento. São que gerações não se preocupam com a luta pela vida estável; prezam por coisas que lhes dão prazer e o trabalho exerce papel fundamental neste processo, porque parar é algo que está fora de cogitação para elas. 
                 A saída dos antigos portadores de cultura também é positiva na medida em que suscita a memória ou a recordação social, tão importante quanto o esquecimento daquilo que deixou de ser significativo ou necessário. Em relação à memória, por um lado, como modelos conscientes, orientadores das ações sociais e condutas coletivas dos indivíduos em sociedade; por outro, de forma inconscientemente comprimida, como uma espécie de ferramenta condensadora de todas essas experiências, perceptíveis nas reações trazidas à tona através da recordação dessas experiências, como por exemplo, a questão tópica da sentimentalidade. Essa segunda modalidade de memória das vivências passadas remete a um aspecto importante da concepção sobre gerações de Mannheim, que ressalta o conhecimento implícito acumulado, elaborando assim uma definição não biológica da velhice comparativamente e, sobretudo, das diferenças entre as velhas e novas gerações. Alguém é velho principalmente pelo fato de viver em um contexto de experiências específicas, auto-adquiridas e pré-formativas, através das quais cada nova experiência é, até certo ponto, classificada de antemão quanto à sua forma e localização espacial. Em contraposição, as forças configuradoras estão se constituindo, as intenções primárias e a impressão de novas situações ainda precisam ser processadas.
             O que define a posição geracional não é um “estoque” de experiências comuns acumuladas de fato por um grupo de indivíduos, mas a possibilidade ou potencialidade de adquiri-las. Não basta participar potencialmente de uma comunidade constituída em torno de experiências comuns. É preciso estabelecer um vínculo afetivo de participação em uma prática coletiva, seja ela concreta e/ou virtual. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações coletivas dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo meio social. Em outras palavras, a unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Uma unidade de geração se caracteriza pelas intenções primárias documentadas nas ações e expressões desses grupos. Essas intenções primárias ou tendências formativas só poderão ser analisadas a partir de um grupo concreto porque foram constituídas nesse contexto. As intenções primárias não se reduzem ao grupo e aos atores sociais. Ipso facto, não se reduzem ao status de membros de um grupo concreto. Mas envolvidos em um processo de constituição de gerações.
            Enfim, essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, filosoficamente falando ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto de trabalho de atualização de Hegel à análise marxista concreta, como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser. Dessa forma, a consciência é consciência do objeto (trabalho)  e por identificar este objeto como um elemento extrínseco torna-se “consciência de si mesmo”. A consciência do que é verdadeiro é consciência do seu saber da verdade, pois o que estabelece a comparação é a própria relação posta pela consciência. Enfim, queremos dizer com isso que o posto de trabalho refere-se ao lugar ocupado por uma pessoa em uma empresa, instituição ou entidade qualquer, que desenvolva algum tipo de atividade ou emprego para poder reproduzir a vida através do pagamento e poder receber um salário.
Bibliografia geral consultada. 
FORACCHI, Marialice Mencarini, A Juventude na Sociedade Moderna. São Paulo: Editora Pioneira, 1972; BRAGA, Ubiracy de Souza, A Importância do Estágio para a Profissionalização. Vencedor do Concurso Nacional de Monografias. Categoria Estudante: Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense; Centro de Integração Empresa Escola, 1984; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones Sociológicas (REIS), n° 62, pp. 193-242; 1993; DEJOURS, Christophe, O Corpo entre a Biologia e a Psicanálise. São Paulo: Editora Artes Médicas, 1988; AROEIRA, Kalline Pereira, O Estágio como Prática Dialética e Colaborativa: A Produção de Saberes por Futuros Professores. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009; MARTINS, Lusinilda Carla Pinto, Estágio Supervisionado: Prática Simbólica e Experiência Inaugural da Docência. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista, 2010; WELLER, Wivian, “A Atualidade do Conceito de Gerações de Karl Mannheim”. In: Soc. Estado. Vol. 25 n° 2. Brasília, maio/agosto de 2010; MENEGHINI, Carla, É um país maravilhoso, diz Anne Hathaway, sobre visita ao Brasil. In: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/03/22LIMA, Ricardo Antônio Fidelis de, De Ira de Sêneca: Tradução, Introdução e Notas. Dissertação de Mestrado. Departamento de Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; MACIEL, Emanoela Moreira, Aprendizagens Docentes de Professores Supervisores de Estágio: Desvendando Horizontes Formativos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências da Educação Professor Mariano da Silva Neto. Teresina: Universidade Federal do Piauí, 2015; GIRÃO, Luiz Felipe Araújo Pontes, Competição por Informações, Ciclo de Vida e Custo de Capital no Brasil. Tese de Doutorado. Programa Multi-Institucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis. Brasília: Universidade de Brasília: João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba; Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016; entre outros.

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