sábado, 12 de novembro de 2016

Praia de Copacabana - Multidão, Lazer & Estratégia Coletiva.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

      “Copacabana princesinha do mar. Pelas manhãs tu és a vida a cantar”. Tom Jobim

            
Copacabana é um bairro nobre situado na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. É considerado um dos bairros mais famosos e prestigiados do Brasil e um dos mais conhecidos do mundo. Tem o apelido de “Princesinha do Mar” e “Coração da Zona Sul”. Faz divisa com os bairros nobres da Lagoa, Ipanema, Botafogo, Leme e Humaitá. A população de Copacabana é, em sua maior parte, das classes “média-alta” e média. Atualmente, o bairro tem a maior concentração populacional da Zona Sul carioca, tendo em torno de 150 mil habitantes em 2013. Também abriga a maior quantidade de idosos do município e um dos maiores do país, proporcionalmente falando, com 16,7% da população acima de sessenta anos. De fato, Copacabana é por vezes apontada como “o bairro com população mais idosa do país”. Copacabana atrai um grande contingente de turistas para seus mais de oitenta hotéis, que ficam especialmente cheios durante as épocas do ano-novo e do carnaval. No fim de ano, a tradicional queima de fogos na Praia de Copacabana internacionaliza uma multidão de pessoas. A orla é lugar de variados eventos nacionais e internacionais durante o ano.
A célebre exposição dos United Buddy Bears realizou-se de maio a fim de julho de 2014 nessa praia carioca, apesar de protestos da FIFA durante toda a Copa do Mundo de futebol. Os ursos puderam ser vistos no famoso calçadão de Copacabana, no bairro do Leme. Contou-se com a presença de mais de um milhão de visitantes. Fizeram parte da exposição mais de 140 esculturas de ursos, cada uma com mais de 2 metros de altura, realizadas por artistas de mais de 140 países, representando 140 nações do mundo. A arte de dar um golpe seja ele qual for econômico ou político, representa o senso de ocasião. Mediante procedimentos que psicanaliticamente Sigmund Freud precisa a respeito do chiste, combina elementos audaciosamente reunidos para insinuar o “insight” de uma coisa na linguagem de um lugar para atingir o destinatário. Contudo, sem lugar próprio, sem visão globalizante, cega e perspicaz, como se fica no corpo a corpo sem distância, comandada pelos acasos do tempo, a tática é determinada pela ausência de poder, assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder. A sua dialética poderá ser iluminada pela antiga arte da sofística, de fortificar ao máximo a posição do mais fraco. Mas destaca a relação de forças que está no princípio de uma criatividade intelectual tão tenaz como sutil, incansável, mobilizada à espera da ocasião.


Não devemos desprezar, portanto, estilo dialético de Freud quando menciona a expressão “psicologia das massas” em vez de “psicologia de grupo”. A distinção entre a psicologia de grupo e das massas ou coletiva, que inclusive faz parte da introdução do livro de 1921, é um tema ainda polêmico no âmbito da psicologia social. O psicanalista considera inadequadas as teorias fisiológicas para compreensão dos fenômenos hipnóticos, em todas as circunstâncias que este se manifesta. No sentido estrito ele se refere às condições patológicas, relações de poder nos tabus e rituais de grupos primitivos, tanto quanto ao comportamento da imitação nas multidões, relação entre amantes, relação entre pais e filhos, etc. A partir dos trabalhos propostos por Freud os psicanalistas estudam a influência e origem dos símbolos culturais, incluindo mitos, sonhos e rituais, comparando-os com os resultados da aplicação da técnica psicanalítica.
O contraste de Copacabana está no morro do Cantagalo-Pavão/Pavãozinho representando uma das 900 favelas do Rio de Janeiro. Fica na zona sul, a mais rica e turística da cidade, estende-se de Ipanema a Copacabana, mas é considerado um “bairro de lata”, com esgotos a céu aberto, casas precárias e fios de eletricidade emaranhados, descarnados e perigosos. Tem, no entanto, uma vista deslumbrante sobre a praia da “coisa mais linda” que o maestro António Carlos Jobim já viu passar. O inferno de Dante está bem à vista de todos os moradores e turistas. O Cantagalo pode estar aparentemente pacificado, representando uma “zona de compromisso”. São quilômetros de labirintos estreitos, lembrando as vielas da guerra de guerrilha da Algérie (cf. Vaïsse, 2012), aonde por vezes, nem chega a luz do sol. São centenas de barracas construídas em inclinação, numa base de terra e cimento. Têm portas de tamanho de crianças, mas vivem famílias lá dentro, em processo de pauperização, em espaços reduzidos e esconsos. As portas estão abertas e permitem ver o que lá se passa. Muitas casas têm jovens adolescentes cuidando de filhos bebés e a ver qualquer coisa do dia na televisão. Outras casinhas têm idosos demasiado fracos para saírem de casa.

As estratégias são ações que, graças ao postulado de um “lugar de poder”, elaboram lugares teóricos enquanto sistemas e discursos totalizantes, muitas vezes capazes de articular um conjunto de lugares físicos onde as forças se distribuem. Elas combinam esses tipos de lugar e visam dominá-los uns pelos outros. A tática é significativamente, como se diz, “a arte do fraco”. Mas especificamente, foi Carl von Clausewitz quem considerava fundamental que a guerra estivesse sempre submetida à política. Isso porque nenhuma guerra pode ser vencida sem a compreensão precisa, no âmbito da teoria, dos objetivos e da disponibilidade de meios¸ em primeiro lugar, ou sem o cálculo racional das capacidades e das oportunidades, assim como o estabelecimento dos limites éticos ao uso da força - sempre submetida aos objetivos políticos estabelecidos. Suas lições de tática e estratégia situam-se muito além dos exercícios militares propriamente ditos. Sua atualidade diz respeito comparativamente ao fato político para se constituírem, inclusive, numa profunda reflexão sobre a filosofia da guerra e da paz. Isto porque o modo pelo qual a tática, tem como expressão prática a verdadeira prestidigitação, que, portanto se introduz por surpresa numa ordem social determinada.  
Privilegiam, portanto, as relações espaciais. Ao menos procuram elas reduzir a esse tipo as relações temporais pela atribuição analítica de um “lugar próprio” a cada elemento particular e pela organização combinatória dos movimentos específicos a unidades ou a conjuntos de unidades. O modelo para isso foi antes o militar na acepção de Carl von Clausewitz que o científico. As táticas são procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo - às circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço, ás relações entre momentos sucessivos de um golpe, como na política, aos cruzamentos possíveis de durações e ritmos heterogêneos. As estratégias apontam para a resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo; as táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões de um poder. Os métodos praticados pela chamada “arte da guerra” cotidianamente, pode-se inferir que jamais se apresentam sob uma forma nítida, nem por isso – last but not least – que apostas feitas no lugar ou no tempo distinguem as maneiras estruturantes socialmente de entendimento no sentido de sentir, pensar e agir.   
O presente se entende cada vez mais como uma passagem para o novo. Ele vive na consciência da aceleração dos acontecimentos históricos e na expectativa da alteridade do futuro. O presente pereniza a ruptura com o passado como renovação contínua. O horizonte aberto ao futuro de expectativas referidas ao presente dirige também acesso ao passado. A história é concebida desde o fim do século XVIII como um processo mundialmente abrangente e gerador de problemas. Nele o tempo é considerado um recurso escasso para dominar os problemas que o passado nos lega, orientando-se ao futuro. Os passados exemplares, pelos quais o presente poderia se orientar irrefletidamente, se empalideceram. A modernidade não pode mais tomar de empréstimo seus critérios orientadores dos modelos oriundos de outras épocas. A modernidade se vê exclusivamente posta sobre si mesma – ela tem de extrair de si mesma sua normatividade. O presente autêntico é de agora em diante o lugar onde se entrelaçam a continuidade da tradição e a inovação com a desvalorização do passado. O exercício da autoridade está subordinado aos pontos de vista da utilidade. A sociedade que é organizada no interesse de todos os trabalhadores produtivos, reintegrou nela o Estado – em vez de apenas trocar de senhor, ela alterou a própria natureza da dominação preço que também determinou as lutas por sua orientação na segunda metade do século XIX chegando até quase os nossos dias.  
É neste sentido infundada a tese do despontar da pós-modernidade. Não é a estrutura do espírito do tempo, não é o modo do conflito acerca das possibilidades futuras de vida que se alteraram, não são as energias utópicas em geral que se retiraram da consciência histórica. Pelo contrário, chegou ao fim uma determinada utopia, que no passado se cristalizou em tono do potencial da sociedade do trabalho. Esta utopia perdeu hoje sua força de convencimento. As condições de vida humanamente dignas e emancipadas já não procedem mais, imediatamente, de um revolucionamento das condições de trabalho, portanto, da transformação do trabalho heterônomo em atividade autônoma. A reforma das relações de emprego mantém um valor posicional central também nesse projeto. Elas permanecem o ponto de referência não apenas para medidas de humanização de um trabalho ainda heterônomo, mas, sobretudo, para as operações compensatórias que devem amortecer os riscos básicos do trabalho assalariado. A compensação só funciona se o papel do assalariado em tempo integral torna-se a norma. Pelo ônus que continuam sempre associados a um status estofado do trabalho remunerado dependente, o cidadão, em seu papel de cliente das burocracias do Estado de bem-estar social, é compensado com pretensões jurídicas e, em seu papel de consumidor de bens em massa, com o poder de compra.

       Carlos Drummond de Andrade (RJ). 
A alavanca para a satisfação do antagonismo de classe continua a ser, portanto, a neutralização do potencial do conflito inscrito no status do trabalhador assalariado.  Há trinta anos, se alguém ouvisse a expressão “arrastão” no Brasil, certamente a associaria à pesca com rede nas cidades litorâneas, em que o termo corresponde ao ato de puxá-la do mar para a areia, arrastando os peixes ali capturados. Portanto, não se refere mais ao Decreto-Lei n° 794, de 19 de outubro de 1938 do presidente da República Getúlio Vargas, no período estadonovista de golpe de Estado, como ocorre presentemente: impedindo à utilização de redes de “arrastão de praia”, na pesca litorânea ou na interior e nas proximidades das embocaduras dos rios; ou com a utilização de redes “traineiras” a menos de 200 metros das margens, nas baías ou enseadas. Há quinze anos, talvez já a associasse às ações de grupos - quase sempre de adolescentes - que corriam pela praia praticando furtos contra banhistas no Rio de Janeiro. O significado do vocábulo é muito mais assustador “em si”, além do medo, associado à violência grave.
No contexto contemporâneo da segurança pública, “arrastão” passou a designar sociologicamente a ação coletiva de criminosos, que agem em bando ou mesmo apenas em dupla, que atacam vítimas em locais com concentração de pessoas, como praias, sem restrição, cujas consequências não raro descambam para agressões físicas e mesmo assassinatos. Não há dúvida de que o alastramento dos arrastões está associado à crescente onda geral de criminalidade que vem se registrando no país. Arrastão é uma tática de roubo coletivo urbano ocorrido primeiramente na década de 1980 na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas analogamente se a tática sem lugar próprio, sem visão globalizante, cega e perspicaz como se fica no corpo a corpo sem distância, comandada pelos acasos do tempo, a tática é determinada pela ausência de poder, assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder. Arrastão pode significar um ato coletivo em que todos estão motivados por um ideal. Portanto, o uso do termo “estratégia” é igualmente limitado. Nas justifica-se pelo fato de que as práticas dão uma resposta adequada às conjunturas. O ponto de partida da análise refere-se ao caso mais famoso de arrastão ocorrido exatamente em 18 de outubro de 1992 na praia de Ipanema de repercussão internacional. Posteriormente, a tática foi presenciada noutras regiões do Brasil. Consiste no roubo coletivo de dinheiro, telefone, relógios, anéis, bolsas e mesmo de roupas dos transeuntes por um grupo de pessoas. O grupo pode ou não estar organizado, dependendo da espontaneidade do roubo. Arrastão, apesar de não ser um termo técnico de segurança, é aplicado aos casos de roubo em série.

Bibliografia geral consultada.

DELIGNY, Fernand, Les Vagabonds efficacies. Paris: Éditions Maspéro, 1970; HOBSBAWM, Eric, I Banditi. Il Banditismo Sociale nell`Età Moderna. Roma: Einaudi Editore, 1971; PERLMAN, Janice, The Myth of Marginality: Urban Poverty and Politics in Rio de Janeiro. University of Califórnia Press, 1976; NASCIMENTO, Abdias do, O Negro Revoltado. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1982; LUZ, Marco Aurélio, Cultura Negra e Ideologia do Recalque. Rio de Janeiro: Editor Achiamé, 1983; PARKER, Richard Guy, Bodies, Pleasures and Passions: Sexual Culture in Contemporary Brazil. Boston: Beacon Press, 1991; SCHIPPER, Ivy, Metrópole do Rio de Janeiro: Os Arrastões e a Cena Pública. Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1997; FERNANDES, Flávia Ferreira, A Praia de Copacabana: Uma reflexão sobre Algumas das Estratégias de Construção e Manutenção da Imagem de um Espaço de Consumo e Lazer na Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007; MISSE, Michel, Malandros, Marginais e Vagabundos & A Acumulação Social da Violência no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro, 1999; Idem, “Le Movimento. Les Rapports Complexes entre Trafic, Police et Favelas à Rio de Janeiro”. In: Déviance et Société, Volume 32, 2008; HUGUININ, Fernanda Pacheco da Silva, As Praias de Ipanema: Liminaridade e Proxemia à Beira Mar. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Departamento de Antropologia. Brasília: Universidade de Brasília, 2011; O`DONNELI, Julia Galli, Um Rio Atlântico. Culturas Urbanas e Estilos de Vida na Invenção de Copacabana. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011; VAÏSSE, Maurice, Militaires et Guérilla dans la Guerre d`Algérie. Bruxelles: André Versaille Éditeur, 2012; VALLE, Cid Prado, Rocambole de Carne a Copacabana. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Litteris, 2013; HABERMAS, Jürgen, A Nova Obscuridade. Pequenos escritos políticos V. 1ª edição. São Paulo: Editora Unesp, 2015; entre outros.

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