quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Karl Marx & Friedrich Engels - Abertura do Dogma na Teoria da História.

 As frases feitas acerca da consciência acabam, e o saber real passa a ocupar seu lugar”.  Marx & Engels (2011)

       Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Marx era notoriamente ateu. Com a emergência do pragmatismo no século XIX, ao longo da démarche da história, podemos verificar que crer ou não crer, é uma questão importantíssima para a pessoa do crente ou do descrente, e claro, menos importante para os grupos humanos que se formam e se transformam à luz de rituais e doutrinas. Na Antiguidade, entre letrados, o termo estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina. Os dogmas têm estas características porque os católicos romanos confiam que um dogma é uma verdade que está contida, implícita ou explicitamente, na imutável revelação divina ou que tem com ela uma conexão necessária. Para que estas verdades se tornem em dogmas, elas precisam ser propostas pela Igreja Católica diretamente à sua fé e à sua doutrina, através de uma definição solene e infalível e do posterior ensinamento destas pelo magistério ordinário da Igreja. Para que tal proclamação ou clarificação solene aconteça, são necessárias duas condições: a) o sentido deve estar suficientemente manifestado como uma autêntica verdade revelada por Deus; b) a verdade ou doutrina em causa deve ser proposta e definida pela Igreja como uma verdade revelada e uma parte integrante da fé católica.

         Mas, a definição dos dogmas no âmbito da formação social da história da Igreja não quer dizer que tais verdades só tardiamente tenham sido reveladas, mas que se tornaram mais claras e úteis somente para a Igreja na sua progressão na fé. A definição gradual dos dogmas não é contraditória com a crença católica de que a revelação divina é inalterável, definitiva e imutável desde a ascensão de Jesus. Em contrapartida, a práxis é o conceito central da filosofia de Marx, que está mais vivo nela. É a matriz da concepção original de história, uma concepção que, sendo materialista, reconhece o poder do sujeito de tomar iniciativas, fazer escolhas. Ipso facto, precisa de uma ética, como de valores que lhe permitam empenhar-se na transformação do mundo, na criação de um tipo melhor de sociedade pela qual valha a pena lutar. São os valores sociais e a credibilidade discursiva que nos fazem levantar da cama de madrugada para pensar melhor na vida. Karl Marx nasceu em Trier, que neste período histórico era o centro da região vinícola do vale do Mosela, no sudoeste da Renânia. Como centro da região agrícola, os êxitos e fracassos da cidade estavam estreitamente ligados à cultura da uva e extração da madeira. 

Vinhedos e bosques ocupavam as encostas do rio, e havia as florestas da região pobre de Hunsrück ao Sul e o Eifel ao Norte. Fundada como Áustria Treverorum nos anos de 16 a. C., e reivindicando o título de cidade mais antiga da Alemanha, Trier foi a capital da província romana da Gália Bélgica. Em dado momento o principal centro da Gália, a cidade romana deve ter abrigado uma população de até 80 mil habitantes. Depois de um declínio em importância administrativa no início da Idade Média, durante o século XII o arcebispo de Trier tornou-se príncipe-eleitor do Império, e a cidade desfrutou outro período de prosperidade durante os últimos tempos medievais. Mas em 1802, de acordo com as instâncias oficiais, a população de Trèves, como os ocupantes franceses a batizaram, era apenas de 8 846, e despencou para 7 887 com a retirada dos soldados e oficia franceses em 1814. Depois disso, a população voltou a crescer, e em 1819 totalizava 11 432 habitantes. O pai de Marx, Heinrich, nasceu em 1777 na contestada cidade fronteiriça de Saarlouis, tornando-se o terceiro filho de Meier Halevi Marx, o rabino da comunidade judaica da cidade. Em 1788, Meier Halevi mudou-se de residência para servir como rabino em Trier, onde permaneceu até a morte, em 1804. O irmão mais velho de Heinrich, Samuel, sucedeu ao pai e continuou no cargo até morrer, em 1827, enquanto Heinrich se tornou advogado. Bem sucedido na profissão, em 1832 obteve a posição Justizrat, o equivalente reconhecido como distinto jurista renano, Heinrich morreu em de maio de 1838.

          Heinrich Marx nasceu sob o nome de Herschel Mordechai, era filho de Marx Levy Mordechai (1743-1804) e Eva Lwow (1753-1823). O pai de Heinrich Marx era rabino de Tréveris, função que seu irmão mais velho viria a assumir.  Cursou Direito e formou-se como advogado em 1814, mas após a derrota de Napoleão em Waterloo (1815), a Renânia passou a ser controlada pelo conservador Reino da Prússia, a partir de uma destacada administração francesa. A Prússia era um Estado cristão que se afirmava sobre o direito divino dos reis, e as igrejas cristãs eram como responsáveis pela sua liderança política. Um decreto de 1812, imposto pela Prússia, afirmou que os judeus não poderiam ocupar cargos jurídicos ou do serviço público, e a execução da lei trouxe problemas para Heinrich Marx. Os colegas de Marx, incluindo o Presidente do Supremo Tribunal Provincial, o defendeu e procurou uma exceção para ele. Porém, o ministro prussiano da justiça rejeitou seu apelo. Em 1817 ou 1818, Marx converteu-se ao cristianismo luterano. Sua esposa e crianças foram batizadas em 1825 e 1824, respectivamente. Isaiah Berlin escreveu que Heinrich Marx acreditava “que o homem é por natureza bom e racional, e que tudo o que é necessário para garantir o triunfo dessas qualidades é a remoção de obstáculo artificiais pelo caminho. Eles vão desaparecendo, desaparecendo depressa, e o tempo rapidamente se aproxima quando as últimas cidadelas da reação, a Igreja Católica e a nobreza feudal, se derreterão diante da marcha irresistível da razão”. Heinrich tornou-se um patriota e monarquista que educou sua família como luteranos liberais. Heinrich educou seu filho em casa até os 12 anos de idade. 

Depois de terminar o liceu em Tréveris, Karl se matriculou na Universidade de Bonn em 1835, quando tinha 17 anos; pretendia estudar filosofia e literatura, mas seu pai insistiu que Direito era um curso mais prático para ele. Em Bonn, Karl juntou-se à sociedade da bebida Landsmannschaft der Treveraner e numa ocasião oportuna “serviu como seu presidente”. Por causa das notas baixas na universidade, seu pai o obrigou a transferir-se para a Universidade de Berlim, “academicamente mais comprometida com a educação”, onde Karl deixou os estudos jurídicos e passou a se dedicar mais aos estudos de filosofia e história. A mãe de Marx, Henriette Pressburg, nasceu em 1788 numa família judaica em Nimega, Holanda, onde era descrito como comerciante, cambista e coletor de fundos da loteria. Em 1814, ela casou com Heinrich, a quem provavelmente tinha sido apresentada por reconhecidos da família de Amsterdam. Deu a Heinrich nove filhos e morreu em 30 de novembro de 1863. Num momento entre 1816 e 1819, Heinrich foi batizado na Igreja cristã evangélica da Prússia. Os filhos também foram batizados por volta de 1824, seguidos por Henriette em 1825. 

O drama histórico dos dados biográficos era da Revolução Francesa, que resultou na tomada da Renânia pelos franceses, nas reformas do Império Napoleônico e, em 1815, na aquisição da Renânia pela Prússia, acontecimentos estes que testemunharam radicalmente o destino da família Marx. Heinrich não teria se tornado advogado, se não fosse pelos efeitos da Revolução. Jamais conseguiria licença para exercer a advocacia, se não fosse pelas inciativas educacionais, e não poderia ter continuado como advogado se não se adapta-se à política restritiva com relação aos judeus depois de 1815. Esses acontecimentos sociais e políticos de suma importância muito contribuíram para influenciar a concepção de mundo do jovem Karl Marx, suas relações com os pais e sua atitude geralmente perturbadora e negativa para com o passado judaico da família (cf. Marx, 1964). Antes de 1789, os pensadores mais simpáticos aos judeus tinham sido protestantes exilados na Holanda, como os que viviam em volta de Pierre Bayle e Jacques Basnage, ou livres pensadores na Inglaterra, que contribuíram para a formação do discurso filosófico sobre a tolerância, na modernidade como John Toland, que reivindicavam liberdade de crença e das religiões. 

Ele lembrou em 1961 que em seus primeiros anos escritor ele havia sido “o maior fracasso que um homem pode ser”. Disciplinado, ele afirmou ter escrito seis romances completos, 26 peças e cem contos antes de completar sua primeira venda, um conto pelo qual a American Magazine pagou US $ 165 em 1954. Em 1792-3, exércitos tomaram o sul da Renânia e estabeleceram uma república jacobina no eleitorado religioso de Mainz, conjunto ao de Trier; em 1794, tomaram toda a margem esquerda do Reno e ali permaneceram até a queda de Napoleão em 1815. A Renânia tornara-se parte da República francesa, e subsequentemente do 1º Império. A doutrina dos direitos universais tinha, portanto, que ser posta em prática ali. A situação da população judaica de 22 mil judeus na majoritariamente católica Renânia variava significativamente de um território para outro. Mudanças sociais e políticas muito mais dramáticas ocorreram na vida dos judeus da Renânia sob o domínio de Napoleão. Na década de 1790, os jacobinos tinham adotado, de modo geral, uma atitude exploradora para com a população local. Tinham fechado as quatro universidades da Renânia – Bonn, Colônia, Trier e Mainz – e rebocado tesouros artísticos para Paris. 

Napoleão, diferentemente, estava decidido a cortejar a colaboração das elites. Aboliu o calendário revolucionário e apoiou costumes e feriados consensuais incluindo o Dia de São Napoleão, que passa a ocorrer em 2 de dezembro de 1804. De pouca paciência com as humanidades e os cursos tradicionais das universidades, era entusiasmado defensor das disciplinas de formação profissional. Fora as ciências aplicadas, ele se interessava particularmente em promover a jurisprudência como meio de apoiar seu recém-construído e definitivo código legal, o Código Napoleônico. Em 1801, basicamente para pacificar a área francesa ocidental da Vendeia, o coração da resistência monárquica e eclesiástica à república secular, Napoleão fez também uma concordata com o papa. Tendo removido as objeções católicas ao governo, ele tomou medidas subsequentes destinadas a estender uniformidade administrativa e outras confissões, principalmente a questão relativa aos protestantes e judeus. Sua justificativa era que “o povo precisa ter uma religião”, e “essa religião deve estar sob controle do governo”. “Minha política”, declarou ele, “é governar os homens como a maioria deseja ser governada. É dessa maneira, acredito, que se reconhece a soberania do povo. Se governasse um pouco de judeus, eu reconstruiria o Templo de Salomão”.  

Napoleão foi um estadista e líder militar francês que ganhou destaque durante a Revolução Francesa e liderou várias campanhas militares de sucesso durante as Guerras Revolucionárias Francesas. Foi imperador Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815 durante os Cem Dias. Politicamente dominou os assuntos europeus e globais por mais de uma década, enquanto liderava a França contra uma série de coalizões nas guerras napoleônicas. Ele é considerado um dos maiores comandantes da história e suas guerras e campanhas são estudadas em escolas militares em quase todo o mundo. O legado político e cultural de Napoleão perdurou como líder entre os mais célebres e controversos da história da humanidade. Nasceu na Córsega de uma família italiana relativamente modesta, da nobreza menor. Estava servindo como oficial de artilharia no exército francês quando a Revolução Francesa eclodiu em 1789. Ele rapidamente subiu nas fileiras dos militares, aproveitando as novas oportunidades revolucionárias tornando-se general aos 24 anos. O Diretório Francês acabou por lhe dar o comando do Exército da Itália depois que ele suprimiu a revolta dos 13 Vendémiaire, uma batalha travada entre forças republicanas francesas e manifestantes pró-monarquia nas ruas de Paris. 

A insurreição acabou sendo esmagada e levou a fama de um dos generais comandantes, Napoleão Bonaparte, do exército da república. Aos 26 anos, ele iniciou sua primeira campanha militar contra os austríacos e os monarcas italianos alinhados com os Habsburgos, sendo que venceu todas as batalhas e conquistou a Península Italiana em um ano, enquanto estabelecia “repúblicas irmãs” com apoio local e se tornando, por assim dizer, herói de guerra na França. Em 1798, ele liderou uma expedição militar ao Egito que serviu de trampolim para o poder político. Ele orquestrou um golpe em novembro de 1799 e se tornou o primeiro cônsul da República. Na primeira década do século XIX, o império francês sob comando de Napoleão se envolveu em uma série de conflitos bélicos com todas as grandes potências europeias, fabulando as Guerras Napoleônicas. Após uma sequência de vitórias, a França garantiu uma posição dominante na Europa continental, e Napoleão manteve a esfera de influência da França, através da formação de amplas alianças e a nomeação de amigos e familiares para governar os outros países europeus como dependentes da França. A Campanha da Rússia em 1812 marcou uma virada na sorte de Napoleão. Seu Grande Armée foi seriamente danificado na campanha e nunca se recuperou totalmente. 

Em 1813, a Sexta Coligação derrotou suas forças em Leipzig. Tem origem num antigo povoado eslavo de nome Lipsk. Foi fundada no século XII e rapidamente se desenvolveu, tornando-se um importante centro de comércio, dada a sua localização na intersecção de rotas comerciais importantes. No ano seguinte, a coligação invadiu a França, forçou Napoleão a abdicar e o exilou na ilha de Elba, na Toscana, Itália, que dista 20 km da costa da península itálica. Napoleão escapou de Elba em fevereiro de 1815 e politicamente assumiu o controle da França mais uma vez. Os Aliados responderam formando uma Sétima Coalizão que o derrotou na Batalha de Waterloo, em junho. Batalha de Waterloo foi um confronto militar ocorrido a 18 de junho de 1815 perto de Waterloo, na atual Bélgica, então parte integrante do Reino Unido dos Países Baixos. Um exército do Primeiro Império Francês, sob o comando do Imperador Napoleão com 72 000 homens, foi derrotado pelos exércitos da Sétima Coligação que incluíam uma força britânica liderada pelo Duque de Wellington, e uma força prussiana comandada por Gebhard Leberecht von Blücher com 118 000 homens. Este confronto marcou o fim dos Cem Dias e foi a última batalha de Napoleão; a sua derrota terminou seu governo como Imperador. Os britânicos o exilaram para a remota ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde Napoleão morreu seis anos depois, aos 51 anos.

Napoleão tinha uma antipatia instintiva dos judeus, em parte pela sua criação católica, em parte pela leitura de Voltaire. – “Os judeus são um povo vil”, “covarde, porém cruel”, escreveu em suas Memórias de Santa Helena. Mas ao mesmo tempo também estava decidido a aliviar a tensão endêmica sobre as novas províncias orientais do Império, em particular acelerando o processo de “regeneração” dos judeus. Apesar da sua antipatia, segundo Jones (2017), ele muito fez para regularizar a situação de cidadãos judeus e ampliar suas oportunidades profissionais. Em 9 de fevereiro de 1807, junto com o apoio de outros 71 rabinos e destacados judeus laicos, Samuel Marx, o rabino de Trier, irmão de Heinrich e tio de Karl Marx, foi convocado por Napoleão para “O Grande Sinédrio” em Paris. Uma reunião anterior de notáveis judeus tinha ouvido uma série de perguntas hostis destinadas a acelerar a sua assimilação, ressaltando as áreas nas quais a lei judaica era tida como incompatível com as leis da nação. Foram interrogados sobre sua atitude para com as ideias em torno do patriotismo, o casamento misto, a autoridade estatal e a prática da usura. Como resultado do Sinédrio, dois decretos reorganizaram a fé judaica em conformidade com políticas aprovadas pelo Estado. Os membros do rabinato tornaram-se servidores públicos de caráter similar comparado aos pastores protestantes e aos padres católicos, e a administração do credo judaico foi confiada a um Consistório Geral, semelhante ao que governa as comunidades protestantes. Mais inflamatório era potencialmente o terceiro decreto, reconhecido como décret infâme. Essa medida de corte ideológico dava continuidade à prática da tributação discriminatória, mas per se destinada a erradicar obstáculos à “regeneração” judaica, em especial a prática da usura.

O recente Consistório gostava de agir decididamente contra a usura. Um documento de 1810 declara que Samuel não tinha “perdido nenhuma oportunidade de alertar contra o espírito do fanatismo, tão contrário aos princípios da religião”; e declarava, ainda, que o Consistório denunciaria imediatamente às autoridades qualquer “israelita” que, em consequência da usura, fosse considerado “culpado de fraudar um não israelita. Deve ter sido também mais ou menos na mesma data que o pai de Marx começou sua carreira de advogado. Pelas novas exigências da administração civil, Heinrich – originalmente Herschel – passou a se chamar Henri. Ele foi registado ente os matriculados no curso de licenciatura em direito em Koblenz, com duração de três anos, e em 1814 – os anos de seu casamento – assinou, como testemunha do nascimento da sobrinha, “H. Marx, avoué”. Mas o tempo estava acabando    para Napoleão e seu novo império. Na desastrosa campanha russa de 1812, Napoleão perdeu 570 mil soldados. O exército russo continuou sua marcha para oeste, fortalecido pela deserção do contingente prussiano do Grande Exército. Os austríacos reincorporaram-se à coalizão aliada, e em outubro de 1813, na Batalha de Leipzig, o exército de Napoleão, com seus 200 mil soldados, foi derrotado pela coalização de 265 mil austríacos, prussianos, russo e suecos. O que restava do exército de Napoleão entrou em Mainz em novembro, mais de 18 mil foram vitimados pelo tifo. Em janeiro de 1814 a margem esquerda do Reno estava nas mãos dos aliados. A sorte da Renânia era uma questão entre as forças aliadas vitoriosas. 

O termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801 no livro de Destutt de Tracy, Eléments d`ldéologie. Juntamente com o médico Pierre-Jean-Georges Cabanis, De Gérando e Volney, De Tracy pretendia elaborar uma ciência da gênese das ideias, tratando-as como fenômenos naturais que exprimem a relação do corpo humano enquanto organismo com o ambiente. Elabora uma teoria sobre as faculdades sensíveis, responsáveis pela formação de todas as nossas ideias: querer (vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar (memória). Nesses termos os ideólogos franceses eram antiteológicos, antimetafísicos e antimonárquicos. Pertenciam ao partido liberal e esperavam que o progresso das ciências experimentais, baseadas exclusivamente na observação, na análise e síntese dos dados observados, pudesse levar a uma nova pedagogia e a uma nova moral. Contra a educação religiosa e metafísica, que permite assegurar o poder político de um monarca, De Tracy propõe o ensino das ciências físicas e químicas para “formar um bom espírito”, isto é, um espírito capaz de observar, decompor e recompor os fatos, sem se perder em vazias especulações. Cabanis pretende construir ciências morais dotadas de tanta certeza quanto as naturais, capazes de trazer a felicidade coletiva e de acabar com os dogmas, desde que a moralidade não seja separada da fisiologia do corpo humano. Nos Elementos de Ideologia, na parte dedicada ao estudo da vontade, De Tracy procura analisar os efeitos de nossas ações voluntárias e escreve, então, sobre economia, na medida em que os efeitos das ações voluntárias concernem à nossa aptidão para prover necessidades materiais. Procura saber como atuam, sobre o indivíduo e sobre a massa, o trabalho e as diferentes formas da sociedade, isto é, a família, a corporação. Suas considerações, na verdade, são glosas das análises do economista francês Jean-Baptiste Say, a respeito da troca, da produção social, do valor, da indústria, da distribuição do consumo e das riquezas.

No texto Influências do Moral sobre o Físico, Cabanis procura determinar a influência do cérebro sobre o resto do organismo, no quadro puramente fisiológico. O ideólogo francês partilha do otimismo naturalista e materialista do século XVIII, acreditando que a Natureza tem, em si, as condições necessárias e suficientes para o progresso e que só graças a ela nossas inclinações e nossa inteligência adquirem uma direção e um sentido. Os ideólogos foram partidários de Napoleão e apoiaram o golpe de 18 Brumário, pois o julgava um liberal continuador dos ideais da Revolução Francesa. Enquanto Cônsul, Napoleão nomeou vários dos ideólogos como senadores ou tribunos. Todavia, logo se decepcionaram com Bonaparte, vendo nele o restaurador do Antigo Regime. Opõe-se às leis referentes à segurança do Estado e são por isso excluídos do Tribunado e sua Academia é fechada. Os decretos napoleônicos para a fundação da nova Universidade Francesa dão plenos poderes aos inimigos dos ideólogos, que passam, então, para o partido da oposição. O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de Napoleão que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da história”. Bonaparte invertia a imagem que os ideólogos tinham de si mesmos: eles, que se consideravam materialistas, realistas e antimetafísicos, foram chamados de “tenebrosos metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e às lições da história. O curioso, segundo Marilena Chauí, no ensaio: O que é Ideologia (2017), é que se a acusação de Bonaparte é infundada com relação aos ideólogos franceses, não o seria se se dirigisse aos ideólogos alemães, criticados por Marx. Ou seja, Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele que inverte as relações entre as ideias e o real. Assim, a ideologia, que inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias calcadas sobre o próprio real, passa a designar, dar por diante, um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua relação real com o real.

Entrementes, na década de 1820, Heinrich Marx parece ter prosperado. Após sua nomeação para o Tribunal de Apelação de Trier em 1818, ele redigiu outro relatório sobre a usura em 1821 e se tornou advogado público. Era, evidentemente, bem visto pelos colegas. A imponente casa perto da Porta Nigra adquirida em 1819 foi comprada de um colega jurista, e os padrinhos dos seus filhos eram, quase sempre, advogados em Trier. Edgar von Westphalen dizia que ele era um dos melhores advogados e um dos homens mais nobres da Renânia. E Heinrich não perdeu contato com a comunidade judaica. A família Marx continuou a compartilhar a propriedade de um vinhedo em Mertesdorf com o dr. Lion Bernkastel, destacado membro do Consistório, e a procurar sua assistência em assuntos médicos até os anos 1830. A família mantinha relação de amizade com a viúva do rabino Samuel Marx. Economicamente a  crise dos viticultores prosseguiu nas décadas de 1830-1840, até chegar a um ponto em que sua miséria só podia ser comparada ao caso contemporâneo, internacionalmente notório, dos tecelões salesianos. O outro pilar da região, para a economia, era a floresta, e durante a primeira metade do século XIX houve um aumento da demanda por madeira, especialmente das forjas de ferro de Eifel e dos tanoeiros do mercado de vinho. Pobres camponeses do planalto se beneficiaram dessa demanda vendendo a madeira que coletavam no chão das florestas. A consolidação dos direitos de propriedade durante o período de domínio napoleônico e pelos Estados Provinciais nas décadas de 1820-30 ameaçaram os meios de subsistência ao contestar o direito natural de poder coletar árvores mortas.         

 Grande Fome, que atingiu a Ucrânia em1932-33,
 reconhecida como Holodomor.

Outro sinal da ansiedade dos governantes prussianos foi que no Ginásio de Tier que  Karl Marx frequentou de 1830 a 1835, juntamente com o diretor, Johan Hugo Wyttenbach, acentuadamente um conservador, Vitus Loers, foi nomeado e incumbido da vigilância política da escola. Wyttenbach era professor de história, além de diretor. Homem culto e progressista, certa vez saudara a Queda da Bastilha como a aurora da liberdade, e suas crenças religiosas foram influenciadas por Kant. Heinrich lembrou ao filho. Quando ele chegou ao fim do seu período no ginásio, que mandasse alguns versos agradecidos a Wyttenbach – “eu disse a ele que você lhe tem a maior devoção”. Mas também lhe informou que tinha sido convidado para um almoço oferecido por Loers, “que ficou ressentido porque você não lhe fez uma visita de despedida”. Heinrich tinha contado uma mentira para desculpar o desrespeito do filho”. Um judeu que tinha ingressado na Igreja cristã evangélica - que representava a confissão oficial da monarquia prussiana – em terra de católicos não pode de maneira alguma, ser considerado típico. Mas Heinrich Marx compartilhava muitos valores e condutas dos liberais renanos. Mesmo em assuntos religiosos, pelo menos até que o conflito em torno dos casamentos se intensificasse subitamente no final da década de 1830, havia uma sobreposição muito mais consensual de atitudes na elite renana – fosse católica, protestante ou judaica – do que as divisões confessionais sugerem. Os pontos e consenso eram políticos. Incluíam a determinação de não destruir os benefícios de 20 anos de cominação francesa, com o Código Civil, o sistema de júri e a abolição da aristocracia feudal. Essas mudanças tinham sido acompanhadas pela aversão ao jacobinismo e ao autoritarismo burocrático de Napoleão.

Havia também uma antipatia e uma desconfiança generalizada contra o militarismo da Prússia, um ressentimento com a política econômica prussiana, tida como favorável às províncias orientais, e um desejo de um governo parlamentar moderado, prometido pelo rei ainda em 1815. Para a geração de Heinrich, os anos decisivos tinham sido de 1789 a 1791 – a promessa de uma assembleia representativa, igualdade perante a lei, abolição dos Estados, direitos do homem –, e para os judeus especialmente o ano de 1791 e a conquista de uma emancipação incondicional. Eram essas as demandas que inspiravam os novos líderes renanos, que ganharam renome na década de 1830 – Hansemann, Mevissen e Camphausen – e que lideraram os ministérios liberais em Berlim e Frankfurt em 1848. Em 1830, quando Karl Marx tinha doze anos, depois de quinze anos de severa repressão, voltou-se a falar em revolução, quando outra geração assistiu de novo à ruína de um rei Bourbon em Paris. Regimes parlamentares foram estabelecidos na França e na Bélgica, e o direito ao voto foi reformado na Grã-Bretanha. Mas em toda a Europa havia uma pressão radical para impulsionar mais as reformas, e desavenças começaram a surgir entre liberais e radicais, monarquistas constitucionais e republicanos, bonapartistas, nacionalistas e democratas. Na França e na Grã-Bretanha, diferenças se tornavam públicas e explícitas quase que de ocorrência imediata.

Mas na Alemanha, para o que nos interessa onde as condições continuavam repressivas, divergências dentro do Bewegungspartei permaneciam implícitas e em surdina. Quando o partido em movimento é chamado na ciência política, um tipo de partido independente, ao contrário de outros tipos de partido (como o “partido pega-tudo”), é definido de maneira diferente. Via de regra, porém, as definições científicas do partido no movimento têm um enfoque particular nos movimentos sociais em comum. Dez anos depois, porém, em face da recusa da monarquia prussiana a fazer qualquer concessão à causa da reforma, essas divisões políticas se tornaram tão explícitas e polarizadas quanto em outras partes. Foi nessa conjuntura que Karl Marx com 24 anos de idade, surgiu como um dos mais distintos expoentes de uma nova forma de interpretação do real e peculiarmente alemã forma de radicalismo, muito diferente das cautelosas esperanças de seu pai. O que há de novo e precisa ser explicado refere-se as circunstâncias da família, a condição crítica da religião e da filosofia alemã e, acima de tudo as precisas ambições de teoria e método de análise e intelectuais do próprio Marx, para formar uma postura tão singular na história continental e de resto no mundo ocidental. Foi na primavera de 1845 que os jovens pensadores de filosofia e literatura Karl Marx e Friedrich Engels decidiram escrever juntos A Ideologia Alemã. Começaram a fazê-lo em setembro do mesmo ano, após terem se conhecido pesquisando na Biblioteca de Londres, terminando-a, praticamente no verão de 1846; na parte atinente ao conceito abstrato de Ludwig Feuerbach, o trabalho adentrou a metade do final do ano de 1846, sem que a tivessem concluída a obra.             

         O Holodomor tem como real significado “matar pela fome”, mas é também reconhecido como a Fome-Terror e por vezes referido como a Grande Fome, foi uma fome na Ucrânia Soviética de 1932 a 1933 que causou a morte de milhões de ucranianos. O termo Holodomor enfatiza os aspectos artificiais e intencionais da fome, tais como a rejeição da ajuda externa, o confisco de todos os alimentos domésticos e a restrição do movimento populacional. Como parte da mais vasta fome soviética de 1932-33 que afetou as principais áreas produtoras de cereais do país, milhões de habitantes da Ucrânia, a maioria dos quais eram ucranianos de etnia ucraniana, morreram de fome numa catástrofe sem precedentes na história social da Ucrânia em tempo de paz. A última grande fome a atingir a União Soviética começou em julho de 1946, atingiu seu auge em fevereiro-agosto de 1947 e depois diminuiu rapidamente em intensidade, embora ainda houvesse algumas mortes por fome em 1948. A situação atingiu a maioria das regiões produtoras de grãos do país: Ucrânia, Moldávia e partes da Rússia central. As condições sociais foram causadas pela seca, cujos efeitos específicos foram exacerbados pela devastação causada pela 2ª guerra mundial (1940-45). A safra de grãos em 1946 totalizou 39,6 milhões de toneladas de apenas 40% da produção de 1940. Com a guerra, houve diminuição significativa no número de homens rurais, recuando para os níveis históricos de 1931. Houve uma escassez de máquinas agrícolas e cavalos.

O governo soviético, com suas reservas de grãos, forneceu alívio para as áreas rurais e apelou para as Nações Unidas em busca de ajuda. A assistência também veio dos ucranianos, principalmente da diáspora rutena e dos russos do leste da Ucrânia e da América do Norte, que minimizaram a mortalidade. O economista Michael Ellman afirma que o Estado poderia ter alimentado todos aqueles que morreram de fome. Ele argumenta que se as políticas do regime soviético tivessem sido diferentes, talvez não houvesse nenhuma fome ou uma muito menor. Ellman afirma que a fome resultou em uma estimativa de 1 a 1,5 milhões de vidas perdidas, além das perdas secundárias da população devido à redução da fertilidade. O economista Steven Rosefielde afirma que o governo soviético era responsável pelas condições. Robert Service argumenta que Stalin pensou, em primeira instância, que quaisquer relatos de dificuldades rurais eram o resultado de camponeses enganando as autoridades urbanas para que os favorecessem. Durante a crise, a URSS continuou a exportar grãos, com a maioria indo para a zona soviética da Alemanha ocupada, Polônia, Hungria e Tchecoslováquia para consolidar o novo Bloco Oriental. 

Em parte, como resultado dessa fome, ao contrário de países da Europa e da América, a União Soviética não passou por um baby boom do pós-guerra. Impulsionado pela fome de 1946-47, o chamado “Grande Plano para a Transformação da Natureza” consistiu da série de projetos ambiciosos em melhoria do cultivo da terra. Desde 2006, o Holodomor é reconhecido pela Ucrânia e outros 15 países como “um genocídio do povo ucraniano levado a cabo pelo governo soviético”. As estimativas iniciais do número de mortos por estudiosos e funcionários do governo variaram muito. De acordo com estimativas mais elevadas, até 12 milhões de ucranianos étnicos terão perecido em resultado da fome. Uma declaração conjunta Organização das Nações Unidas (ONU), assinada por 25 países em 2003, declarou que 7-10 milhões pereceram. Desde então, a investigação reduziu as estimativas para entre 3,3 e 7,5 milhões. Segundo as conclusões do Tribunal de Recurso de Kiev em 2010, as perdas populacionais demográficas devidas à fome ascenderam a 10 milhões, com 3,9 milhões de mortes por fome direta, e mais 6,1 milhões de déficits de natalidade. Se o Holodomor foi genocídio é ainda objeto de debate acadêmico, tal como as causas da fome e da intencionalidade das mortes. Alguns estudiosos acreditam que a fome foi planejada por Joseph Stalin para eliminar um movimento social e político de Independência ucraniano.

Metodologicamente considera-se habitualmente que o interesse social de Marx pelos problemas econômicos, enquanto distintos no nível de análise dos problemas filosóficos e dos historiográficos, teve início com a investigação dos camponeses das Mosela, à qual ele se dedicou entre 1840 e 1843, quando dirigia a Rheinische Zeitung. Um estudo sério das obras dos economistas, em particular, Smith, Ricardo, James Mill, McCuldoch e Say, começou no período da estadia de paris, depois da transferência de Marx para a capital francesa, ocorrida em 1843; um estudo que prosseguiu mais intensamente no longo exílio londrino, uma vez concluídos os episódios revolucionários hic et nunc no continente europeu nos anos de 1848. Os anos 1850 foram os anos da miséria de Marx, vividos nos apertados cômodos do Soho, os anos das frequentes visitas às casas de penhor e da dependência econômica da generosidade do amigo Friedrich Engels: foi o período no qual Marx utilizou a sala de leitura do British Museum para os profundos e amplos estudos que iriam encontrar seu coroamento, vinte anos depois na majestosa obra O Capital. Fruto daquele período de intenso estudo e pesquisa foram os volumosos manuscritos, que cobrem cerca de sete cadernos, aos quais se deu o nome de Grundrisse der Kritik der Politischen Oekonomie (Rohentwurf) e que só foram publicados em 1939-1941. Em troca, em 1859, oito anos antes da publicação do Livro I de O Capital, foi publicado um trabalho menos volumoso, intitulado Zur Kritik der Politischen Oekonomie, onde Marx expõe traços do método de análise. Essa obra introdutória foi chamada de “prólogo” da Magnum opus de Marx: seu corte teórico é predominante metodológico; no Livro I da grande obra, ela começa com uma análise da mercadoria, já distinguindo método de exposição de método de análise

Todavia, se o livro A Sagrada Família, comparativamente, é a primeira obra em que Marx e Engels trabalham juntos, na pesquisa sobre a “ideologia dominante”, nela a autoria de análise dos textos ainda é claramente dividida, ao contrário do que acontece em A Ideologia Alemã. Pronta a obra, vários editores acabaram por recusar sua impressão porque tinham, todo eles, contatos, ou simpatizavam com algum dos seus representantes das tendências analisadas criticamente pelos bravos pensadores através da explicitação da abertura do dogma que emerge na origem da ideologia. A postura de Marx a respeito é interessante, pois o filósofo diz ter abandonado o manuscrito tanto mais prazerosamente “à crítica roedora dos ratos” por ter atingido junto com Engels, um fim mais importante: ver claro dentro de si mesmos.  E os autores de fato morreriam sem ver a volumosa obra ser publicada. Apenas o capítulo IV do 2° volume seria publicado na revista Westphalisches Dampfboot, em agosto e setembro de 1847. A Ideologia Alemã foi publicada em 1932, assim como as “Teses sobre Feuerbach”, embora Engels as tenha publicado antes, mas num texto, segundo Konder (2010), que continha palavras diferentes de Marx. 

Em sua feição presente e definitiva seria publicada apenas em 1932, tendo sido descoberta pelo historiador russo David Riazanov do Instituto Marx-Engels de Moscou. Os Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 também foram publicados em 1932. E os Grundrisse foram publicados em 1939, porém só circularam amplamente para leitura em 1945. David Borisovich Goldendach, reconhecido como Riazanov nasceu em 10 de março de 1870 em Odessa e morreu em 21 de janeiro de 1938. Victor Serge, que era seu amigo, descreve-o assim: “traços fortes, corpulento, barba e bigode espessos, olhar observador, testa olímpica, temperamento tempestuoso, expressões irônicas”. Aos 15 anos, uniu-se aos populistas russos do jornal Narodnaia Volia e foi logo preso. Ele passou cinco anos, isto é, sua adolescência, na prisão. Foram anos de intenso estudo de economia e história marxistas: a paixão pelo estudo e pela leitura foi um elemento constante, regularmente de sua extraordinária vida. Várias testemunhas lembram-se dele como constantemente mergulhado em alguma leitura a qualquer hora do dia. Ele foi libertado, mas logo foi novamente preso e condenado a quatro anos de prisão por ter organizado um círculo marxista em Odessa. Em 1900, Riazanov é a cabeça do grupo marxista Borba (Luta). Este é um ano que marcará sua vida para sempre. 

Ele foi para Berlim, para ter acesso ao depósito onde o SPD - a seção alemã da Segunda Internacional - conservava os manuscritos de Marx e Engels. O historiador Riazanov fica espantado ao ver a desordem na qual textos de tal importância histórica e social eram conservados. Fica sabendo que parte do material está na casa de Eduard Bernstein, que é o executor testamentário de Friedrich Engels e que, justamente naqueles anos, estava envolvido em controversa revisão reformista do marxismo. Riazanov descobre com horror que as bibliotecas pessoais de Marx e Engels não foram preservadas: centenas de livros com anotações dos fundadores do marxismo foram perdidos. Voltando para a Rússia, no II Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), ocorrido entre 30 de julho e 23 de agosto de 1903 que ficou famoso pela cisão que se consumou entre bolcheviques e mencheviques, não toma partido por nenhuma das duas frações e no Congresso, seu pequeno grupo, Borba, participa com apenas um voto consultivo. Em 1905, vamos encontrá-lo em São Petersburgo, envolvido na primeira experiência fundamental da Revolução Russa, sendo um dos fundadores do sindicato dos trabalhadores ferroviários.

Após a derrota, ele está entre os condenados à deportação. Depois de cumprir sua pena, viaja pela Europa, onde alimenta aquela vontade insaciável pelos textos de Marx e Engels, que seria a constante ao longo de toda sua vida. Na Alemanha, tem acesso aos arquivos do SPD e inicia um estudo aprofundado sobre a Primeira Internacional, sobre a qual passará a ser o principal especialista. O nascimento do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) ocorreu numa época em que  os trabalhadores, sem direitos garantidos, começaram a se rebelar contra o patriarcado dos empresários. Ele torna-se amigo de Karl Kautsky e Eduard Bernstein, que eram os principais teóricos da socialdemocracia e foram os mais próximos colaboradores de Engels na última fase de sua vida, depois da morte de Marx em 1883. Ele também conhece August Bebel, o líder do SPD, que lhe garante o livre acesso ao arquivo do partido. Entre os novos amigos, Riazanov conta, naqueles anos, também com Paul Lafargue e sua esposa Laura, filha de Marx, que lhe fornecem vários textos da família. Nos arquivos do SPD e nos da família de Marx, onde ele mergulha com entusiasmo, Riazanov encontra importantes documentos inéditos. Kautsky, em 1910, notando a seriedade do pesquisador, confia-lhe a tarefa de reconstruir a correspondência de Marx e Engels com uma edição científica. Em 1911, Riazanov descobre as diferentes versões da importante carta para a populista Vera Zasulich, na qual Marx se pronuncia sobre o futuro da revolução russa. Tem a possibilidade de constatar que Bernstein e Mehring tinham, até então, publicado a correspondência de Marx e Engels usando muitas vezes a tesoura ou mesmo alterando expressões que eles julgavam muito fortes contra outros dirigentes.

O Instituto Marx-Engels-Lenin, estabelecido em Moscou em1919 como o Instituto Marx–Engels, era uma biblioteca e instituto de arquivamento Soviético anexado à Academia Comunista. O instituto foi posteriormente anexado ao Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética e serviu como centro de pesquisa e editora de obras oficialmente publicadas da doutrina marxista. O Instituto Marx-Engels reuniu manuscritos não publicados de Karl Marx, Frederick Engels, V.I. Lenin, e outros importantes teóricos marxistas, além de coletar livros, panfletos e periódicos relacionados aos movimentos socialistas e trabalhistas organizados. Por volta de 1930, as instalações da empresa incluíam mais de 400.000 livros e periódicos e mais de 55.000 documentos originais e de fotocópias apenas de Marx e Engels, tornando-se uma das maiores e mais ricas propriedades de material socialista do mundo. Em fevereiro de 1931, o diretor do Instituto Marx-Engels (MEGA), David Riazanov e outros funcionários foram expurgados por razões político-ideológicas. Em novembro do mesmo ano, o Instituto Marx-Engels foi fundido com o maior e menos erudito Instituto Lenin, fundado em 1923 para formar o Instituto Marx-Engels-Lenin. O instituto era a autoridade coordenadora para a organização sistemática de documentos lançados nas obras em vários volumes Marx-Engels-Gesamtausgabe (Textos Completos de Marx-Engels), a Lenin Polnoe sobranie sochineniia (Obras Completas Coletadas), I.V. Stalin Sochineniia (Trabalhos) e numerosas outras publicações oficiais. O instituto foi oficialmente encerrado em novembro de 1991, em função da guerra de movimento da reestruturação, com a maior parte de suas obras agora pertencendo a uma organização sucessora, o Arquivo estatal russo de história sócio-política (RGASPI).

Os expurgos realizados por Josef Stalin foram o grande exemplo do terror promovido por seu regime, ao longo de quase três décadas de comando. Os expurgos visavam realizar uma revolução cultural na União Soviética, buscando eliminar elementos não-marxistas de postos de comando; também visavam eliminar a oposição no interior do partido. Essa “limpeza” destinou-se tanto às pessoas que eram vinculadas ao partido quanto às que não eram. Houve expurgos realizados contra a intelligentsia soviética, isto é, a elite intelectual que exercia postos de comando e que não pertencia ao proletariado (classe operária), houve-os também na sociedade, no campo, no partido etc. Os expurgados eram, em geral, enviados para as gulags, campos de trabalho forçado construídos em locais remotos, como a Sibéria, ou eram executados rapidamente em pelotões de fuzilamento. O resultado disso em longo prazo foi um saldo de mortos que ultrapassa facilmente a casa dos milhões. Existe um debate intenso entre os historiadores acerca das motivações. A explicação mais aceita é a que sugere que as ações de Stalin de perseguir e expurgar cidadãos eram uma forma de destruir qualquer tentativa de oposição contra o seu regime. Outros profissionais, no entanto, sugerem que os expurgos realizados no interior do partido eram uma tentativa dele de acabar com a burocratização do Estado soviético. A partir de 1936, foi iniciada a fase mais radical dos expurgos e conhecida como Grande Expurgo, apesar dos historiadores considerarem que o ponto de partida para essa fase tenha sido a execução de Serguei Kirov, em dezembro de 1934. Isso aconteceu por suposto, porque Stalin via em Kirov um rival em potencial.

Stalin envolveu-se diretamente nos expurgos, pois, conforme pontua Lewis Siegelbaum, ele preparou algumas listas com nomes de pessoas que deveriam ser expurgadas, estabeleceu metas de expurgos para diferentes locais da União Soviética e assinou e autorizou milhares de sentenças de execução. O historiador Eric Hobsbawm (1995) também sugere que os expurgos da década de 1930 iniciaram-se quando Stalin percebeu que inúmeros membros do partido começaram a opor-se à forma radical pela qual o líder soviético governava o país. Os dados do alcance dos expurgos dão uma dimensão do tamanho do terror que se espalhou na União Soviética. Hobsbawm fala que até cinco milhões de pessoas foram presas, a mando do regime, entre 1934 e 1939, e que de 1827 delegados do partido em 1934, somente 37 deles estavam vivos em 1939. Já Lewis Siegelbaum fala em, pelo menos, 680 mil execuções somente entre 1936 e 1939, e Hobsbawm afirma que o saldo total do número de vítimas do stalinismo é de, no mínimo, 10 milhões de mortos, embora ele admita que essa estimativa é conservadora.  O stalinismo foi um regime pessoal, ou seja, construído de acordo com os interesses e objetivos do líder. A morte de Stalin, naturalmente, colocaria fim a essa forma de governo no território soviético, embora algumas das suas práticas tenham sido mantidas nos outros governos procedentes. Os últimos anos do comando de Stalin coincidiram com o período de maior popularidade desse regime, motivado, claro, pelo sucesso do país na guerra. O culto a Stalin era extremamente popular em todo o país e manifestava-se intensamente nas artes, por exemplo. Mesmo assim, Stalin continuava paranoico a respeito de pessoas conspirando contra seu governo e, por isso, continuou com os expurgos e acabou voltando-se contra pessoas que o apoiavam havia décadas, como Lavrenti Beria, um dos grandes nomes da polícia secreta e responsável por inúmeras execuções nas décadas de 1940 e 1950. Em 5 de março de 1953, faleceu Stalin, vítima de um derrame cerebral, e seu funeral foi acompanhado por milhares de pessoas. Depois de sua morte, a União Soviética passou a ser governada por Nikita Kruschev (1894-1971), que realizou a desestalinização por meio da denúncia de todos os crimes cometidos pelo Estado durante os anos do regime totalitário stalinista.

O Instituto incluiu uma equipe acadêmica que se dedicava à pesquisa de temas históricos e atuais de interesse do regime. O instituto incluiu seções dedicadas à história da Primeira e Segunda Internacionais, a história da Alemanha, a história da França, a história da Grã-Bretanha, a história dos Estados Unidos, a história dos países do sul da Europa e a história das relações internacionais. Também foram incluídas seções que trabalham em filosofia, economia, ciência política e a história do socialismo em países eslavos. A principal orientação de pesquisa da instalação foi para a história, em vez de outras ciências sociais. Em 1930, dos 109 empregados do Instituto Marx-Engels, 87 eram historiadores. Enquanto trabalhava sob os olhos atentos do Partido Comunista, o Instituto Marx-Engels não era um instituto de um só partido em sua década de formação, com apenas 39 de seus funcionários membros do Partido Comunista em 1930. Durante sua primeira década, o instituto publicou uma série de livros de artistas como: Georg Plekhanov, Karl Kautsky, Franz Mehring, Friedrich Hegel, David Ricardo, e Adam Smith bem como as obras antecipadas em vários volumes de Marx e Engels. O instituto publicou duas revistas acadêmicas regulares, Arkhiv Karla Marksa i Friderikha Engel`sa (Arquivo de Marx e Engels) e Letopis` marksizma (Crônica marxista).

Comenta criticamente em um ensaio que seria de se esperar que os quatro volumes desta correspondência fossem publicados levando em conta critérios científicos. Ao contrário, a edição pela qual Bernstein e Mehring são responsáveis está abaixo de qualquer crítica. A partir das inúmeras passagens que os editores eliminaram da correspondência, sem mesmo informar. Não há uma carta que estas mãos profanadoras não tenham tentado modificar. As expressões fortes de Marx e Engels foram adocicadas ou mesmo suprimidas do texto”. Sua fama de historiador, arquivista e de filólogo profundo da obra de Marx difundiu-se. Colaborou na revista dirigida por Kautsky, Neue Zeit. Lenin convidou-o, em 1911, para ministrar cursos na escola para militantes em Longjumeau, que fundou na periferia de Paris e dirigia em conjunto com Nadia Krupskaia e Inessa Armand. Ali, Riazanov deu cursos de história do socialismo francês. Em 1915, Riazanov esteve entre aqueles que participaram da Conferência de Zimmerwald. Durante a guerra, vive em Paris, onde escreve em vários jornais socialdemocratas e conhece Trotsky, com quem publica o jornal Pravda. Com a eclosão da revolução, Riazanov retorna à Rússia, vindo da Suíça, e junta-se ao grupo Mezharaionka (Interdistritais), do qual participam também Ioffe, Lunacharsky, Antonov-Ovseenko, Urickij e, especialmente, Leon Trotsky. Com a nova orientação de Lenin para o partido (com as Teses de Abril), são superadas as diferenças entre ele e Trotsky sobre o caráter da revolução russa. Os Interdistritais, liderados por Trotsky, unem-se, em julho de 1917, ao Partido Bolchevique. Os dirigentes provenientes da organização dos Interdistritais assumem papéis importantes: Riazanov é um dos 14 bolcheviques (entre eles estão Lenin, Trotsky, etc.) que fazem parte da maioria do presidium do Soviet no II Congresso, quando foi proclamada a conquista do poder.

Depois de entrar no Partido Bolchevique, Riazanov toma posições diferentes das de Trotsky: enquanto Trotsky torna-se de fato o colaborador mais próximo de Lenin e, com ele, a liderança da revolução, Riazanov aproxima-se das posições da direita do partido, liderada por Kamenev e Zinoviev. Junto com eles, toma uma posição contrária à insurreição e, após a conquista do poder, é a favor de uma hipótese de governo de coalizão entre bolcheviques, mencheviques e socialistas-revolucionários. Nos primeiros meses após a tomada do poder, Riazanov atua como presidente dos sindicatos de Petrogrado (ex-São Petersburgo) e é um dos principais responsáveis pelo Comissariado da Educação. Em 1920, é um dos delegados russos para o Segundo Congresso da Internacional Comunista. As pesquisas que Riazanov tinha começado muitos anos antes encontram um novo apoio no Estado soviético recém-nascido. Ele retorna à Alemanha, onde, apesar da deriva reformista dos dois antigos colaboradores de Engels, tinha mantido uma boa relação pessoal com Kautsky e Bernstein. Este último, após resistência, decide entregar a Riazanov o manuscrito completo de Die Deutsche Ideologie. Este é, na verdade, o título póstumo pelo qual é reconhecido o manuscrito sem título elaborado por Marx e Engels e que os dois tinham deixado à “crítica roedora dos ratos”. Riazanov, imediatamente, compreende que se trata de uma obra fundamental, até então em grande parte desconhecida. Lenin, conhecia o primeiro capítulo, publicado por Engels em 1888 e depois traduzido para o russo por Plekhanov. É um livro em que a concepção materialista da história encontra a sua primeira sistematização teórica.

Riazanov começa um trabalho de cunho científico do texto e publica inicialmente alguns trechos e, depois, uma parte mais consistente em 1926. O texto completo seria finalmente publicado em 1932, com base no trabalho preparatório realizado por ele. Lenin, que se dirigia regularmente a Riazanov quando necessitava de sugestões para seus estudos sobre o marxismo, considerando-o o mais profundo conhecedor de Marx, escreveu-lhe, em uma carta datada de 2 de fevereiro de 1921: - “Podemos reunir as obras completas de Marx e Engels? É uma tarefa realizável?”. Lenin está convencido da importância desse trabalho e da necessidade de empregar para isso os recursos do Estado revolucionário. Também sabe quem é a pessoa certa para esta tarefa. Por isso, propôs em janeiro de 1921 ao Comitê Central a fundação do Instituto Marx-Engels e que a direção fosse confiada a David Riazanov. Como lembraria Trotsky, Lenin tinha um grande respeito por Riazanov, e considerava que seu ponto forte fosse o imenso conhecimento da obra de Marx, enquanto o seu ponto fraco eram as posições políticas frequentemente críticas pela direita ao bolchevismo. A principal finalidade do Instituto que foi instalado na antiga residência do príncipe Vasilij Aleksandrovič Dolgorukov, em Moscou, era reunir e publicar as obras completas de Marx e Engels, primeiro na língua original, em alemão, e depois em russo. Trata-se de ser reconhecida como a extraordinária publicação Mega (Marx-Engels Gesamtausgabe), ou as Obras Completas de Kar Marx e Friedrich Engels.

O Instituto Lenin começou como projeto de “arquivamento independente”, estabelecido pelo Comitê Central do Partido Comunista da Rússia em 1923 para coletar manuscritos com vistas à publicação de uma edição acadêmica das obras coletadas de Lenin. Este trabalho foi realizado através da publicação de um periódico denso chamado Leninskii sbornik (Miscelânea de Lenin), cerca de 25 edições às quais foram publicados entre 1924 e 1933. A programação do Instituto Lênin foi ampliada em 1924 pelo 13º Congresso do Partido Comunista Russo para incluir o “estudo e disseminação do leninismo entre as grandes massas dentro e fora do partido” —uma área ampliada que tornava obsoleta a estrutura anteriormente existente da Comissão sobre a História da Revolução de Outubro e a História do Partido Comunista (Istpart). Em 1928 Istpart foi dissolvido, tendo suas funções totalmente absorvidas pelo Instituto Lenin. O Instituto Lênin era uma entidade um pouco maior que o Instituto Marx-Engels, com uma equipe de 158 pessoas em 1929, mas não compartilhava a reputação de bolsista imparcial da antiga biblioteca de pesquisa e do centro de estudos acadêmicos. O Instituto Lênin foi dirigido por Lev Kamenev, seguido de Ivan Skvortsov-Stepanov e, após sua morte em 1928, por Maximilian Savelev. Em fevereiro de 1931 como parte do Julgamento Menchevique, o economista Isaak Rubin - um ex-funcionário do Instituto Marx-Engels - implicou o chefe do instituto David Riazanov como parte da conspiração, com Riazanov acusado de ter escondido documentos mencheviques nas instalações. Embora os estudiosos modernos considerem a acusação no julgamento de fevereiro extremamente duvidosa, Riazanov foi preso e enviado para o exílio fora de Moscou. 

Um expurgo dos funcionários do Instituto Marx-Engels considerado ideologicamente suspeito se seguiu. Em novembro de 1931, no pico dos expurgos ideológicos do Instituto Marx-Engels, essa entidade fundiu-se com o maior Instituto Lenin para formar o Instituto Marx-Engels-Lenine. O Instituto Marx-Engels-Lenin foi posteriormente renomeado várias vezes. Em 1952, a ligação formal da instituição ao Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética foi formalmente notada com o apelido expandido de Instituto Marx-Engels-Lenin do Comite Central do Partido Comunista da União Soivética. O nome do falecido líder soviético I.V. Stalin foi adicionado em 1956, com o instituto se tornando o Instituto Marx-Engels-Lenin-Stalin do CC CPSU. Isto permaneceu no local até o início da desestalinização após o Discurso Secreto de Nikita Khrushchev em 1956. Neste ponto, o nome mudou para Instituto do Marxismo-Leninismo do CC CPSU. Este nome permaneceu inalterado por quase 35 anos, quando a turbulência na URSS trouxe uma mudança de nome para Instituto da Teoria e História do Socialismo do CC CPSU. O instituto deixou formalmente de existir em novembro de 1991, após a queda da União Soviética, com a biblioteca e os arquivos do instituto transferidos para o controle de uma nova entidade chamada Instituto Independente da Rússia para Problemas Sociais e Nacionais. O Arquivo do Partido Central do IML foi colocado sob o controle do Ministério da Cultura da Rússia e, finalmente, emergiu como o Arquivo Estatal Russo de História Sócio-Política.

Mas o Instituto não se limita a este trabalho gigantesco, dificultado pelo Estado em que o SPD alemão abandonara os manuscritos econômicos e filosóficos de Marx & Engels. São também abertos vários departamentos do Instituto que se especializam na coleta de materiais sobre a história do socialismo, sobre a filosofia, sobre a história de diferentes países. Nos primeiros anos, o Instituto trabalha em completa liberdade: Lenin está ciente da necessidade de proteger a independência de uma pesquisa histórica que seja verdadeiramente científica. Riazanov escolhe, entre seus colaboradores, também estudiosos de origem menchevique ou de outras correntes não bolcheviques, fato que se tornará uma acusação contra ele apenas alguns anos depois, quando a burocracia stalinista eliminava qualquer vestígio do leninismo autêntico. Com o total apoio do governo bolchevique e com o envolvimento direto de Lenin, a biblioteca do Instituto recolhe livros e manuscritos de toda a Europa. Em 1925, já tem 15.000 volumes que se tornariam, em poucos anos, quase meio milhão. Na coleção da biblioteca constam as coleções completas de jornais nos quais Marx e Engels escreveram; textos da Primeira Internacional; materiais sobre a história do movimento operário em cada país. Uma grande área é dedicada ao “socialismo francês”, isto é, a uma das três fontes laborais do marxismo. Riazanov consegue recuperar os jornais da Grande Revolução Francesa: toda série de L’Ami du peuple (o jornal de Marat), do Père Duchesne (o jornal de Hebert). Adquire para o Instituto manuscritos e cartas de François Noël Babeuf, Auguste Blanqui, textos da Comuna de 1793 e de 1871. Fundamentalmente estabelece relações com estudiosos do marxismo ao redor do mundo e na sua escola forma-se uma nova geração de historiadores e estudiosos do marxismo.

Das duas revistas russas, inicia-se também uma edição alemã. Sob a direção de Riazanov, o Instituto é responsável pela publicação das obras de Karl Kautsky, de Rosa Luxemburgo e de Antonio Labriola. Mas a tarefa central do Instituto é, precisamente, a publicação da Mega, a edição completa das obras dos dois principais fundadores do marxismo, em uma colaboração com o Instituto de Sociologia de Frankfurt e o SPD. No plano original estavam previstos 42 volumes: 17 volumes de obras filosóficas, econômicas, históricas e políticas; 13 dedicadas apenas ao Capital, incluindo os trechos inéditos; 10 volumes de cartas e 2 volumes de índices. Na verdade, apenas 12 volumes seriam publicados em alemão (pois a atividade foi interrompida pelos nazistas) e 28 volumes na edição em russo, que se interrompe em 1946 (e neste caso, a interrupção é causada pelos stalinistas que decapitaram a direção do Instituto). A República Democrática Alemã (RDA) retomaria depois as publicações, imprimindo, de 1956 a 1968, a MEW (Marx Engels Werke) em 41 volumes, e que se torna um modelo para edições em outros idiomas. Nos anos setenta, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a RDA iniciam uma nova Mega, reconhecida como Mega 2, que previa 114 volumes, mas o trabalho é repetidamente interrompido por acontecimentos sociais e políticos e, finalmente, pelo colapso da ideologia política assentada no stalinismo .

A obra foi retomada em 1998 e continua tendo publicado cerca da metade dos livros previstos. Sem Riazanov e suas pesquisas historiográficas sobre o Instituto, sem a sua dedicação incansável, tudo isso não teria sido possível. Isso por si só torna Riazanov uma figura indispensável para os revolucionários. Mas, ao seu trabalho de pesquisa sobre textos de outros, devem ser adicionados vários textos seus de grande importância, que deveriam ser republicados porque desapareceram das livrarias. Lembramos, entre outros: Marx e Engels, um importante curso de marxismo para os militantes operários, realizado em 1922, editado em 1923); Notas para o Manifesto (um estudo aprofundado do Manifesto de 1848, muito apreciado por Lenin); estudos sobre a Primeira Internacional (em italiano existe uma edição de 1995) e, inúmeros artigos e ensaios de história, dos quais apenas uma pequena parte pode ser encontrada, em vários idiomas, no site marxists.org. Riazanov planejava escrever uma biografia de Marx, que também retificasse as muitas imprecisões e as avaliações politicas infundadas contidas na obra de Franz Mehring. Infelizmente, ele nunca encontrou tempo para realizar este projeto.

            De acordo com Marcelo Backes (2007), que traduz A Ideologia Alemã, prefacia, organiza dados e os corrige através de notas, mormente A Sagrada Família (2011) foi no exílio em Paris, que Marx e Engels puderam constatar mais de perto – pela distância, pela comparação – o que significava a ideologia alemã em toda a sua abrangência. Tanto que os conservadores e opositores de qualquer proposta revolucionária e do próprio comunismo científico logo alegaram que havia um “processo de decomposição do hegelianismo”, do qual Marx teria sido a “vítima”, talvez, mais importante. Metodologicamente os autores começam delimitando rigorosamente seu tema - a ideologia - e acabam denunciando, a balela da profundidade alemã que olhava “de cima para baixo” o que chamava de “superficialismo francês”. Em seguida desmascaram um a um os representantes da “ideologia” alemã, a começar por Feuerbach. Mesmo a filosofia de Moses Hess, a quem tem sido creditada grande influência sobre Marx por alguns pensadores reacionários, é chamada de “indeterminada e mística”. Max Stirner, que concedeu ao idealismo seu “individualismo mais extremo”, merece a crítica mais alongada e madura. A Bíblia com seus testamentos, o Dom Quixote com seus dois livros e “O Livro” de Max Stirner com suas duas partes dão trela a incontáveis metáforas; sempre ácidas. Max Stirner passa a ser São Sancho e os dois livros de seu livro representam os novos Novo e Antigo Testamento. E Franz Szeliga é o Dom Quixote deste novo Sancho Pança. O romance de Miguel de Cervantes e seus ingredientes, talvez irradiando o vir-a-ser do “fantástico”, proporcionam metáforas e inversões grandiosas sem seu sarcasmo, porque a filosofia dos ideólogos alemães é muitas vezes a inversão da literatura, e segundo Backes, mais tola do que as tolices criticadas na obra cervantina. Até Camões é citado para desancar a filosofia do “único” de Max Stirner.

            De fato Marx e Engels defendem parcialmente Lorenz Stein em oposição a Karl Grün, dizendo que aquele pelo menos tentou apresentar o nexo social entre a literatura socialista e o desenvolvimento real da sociedade francesa, Grün, ao contrário, descaracteriza o socialismo utópico francês, adornando-o com seus rompantes pseudopoéticos, tornando-o vazio onde ele ainda alcançava a ordem social. Além disso, Grün é desmascarado como mero plagiário e mau plagiário, na medida em que muda o texto copiado e erra ao fazê-lo, diz Stein. Na crítica a Georg Kuhlmann, derradeiro entre os ideólogos alemães analisados, aflora todo o pendor revolucionário de A Ideologia Alemã. Depois de uma citação do autor em que este condena o fato de o comunismo negar privilégios de qualquer ordem a quem quer que seja, sob a pena de condenar, perseguir e pendurar os privilégios ao patíbulo, Marx e Engels são lacônicos: “Às vezes, até que Kuhlmann profetiza bem acertadamente”. Na crítica à ideologia alemã, Marx e Engels chegam e elaborar teses linguísticas quando dizem: “O carnaval na linguagem apenas faz sentido quando é expressão inconsciente ou consciente de um carnaval real”. 

Ou ainda quando dizer: - A linguagem é tão velha quanto a consciência: a linguagem é a consciência prática, a consciência real, que existe também para os outros homens e que, portanto, começa a existir também para mim; e a linguagem nasce, assim como a consciência, da necessidade, da carência de intercâmbio com os demais homens. E logo os autores voltam à denúncia das frases feitas do idealismo, para as construções “confusas e crespas” de Karl Grün e para o nefelibatismo desbundado de Max Stirner. E essas são apenas algumas das facetas de uma crítica abrangente e completa que culmina na seguinte crítica analítica: - “Para o idealista, todo o movimento disposto a mudar o mundo tem sua existência apenas na cabeça de um eleito e o destino do mundo depende do fato de essa única cabeça”. E é contra essa “ideia” que Marx e Engels levantam suas armas. Em suma, A Ideologia Alemã combate o primado da ilusão metafísica sobre a realidade física, do mundo das ideias sobre o mundo concreto. Ela postula a unidade entre a teoria e a práxis e trabalha no sentido de dar caráter mundano – isto é, terreno – à filosofia, e não apenas caráter filosófico ao mundo. Trata-se uma crítica radical.

            Retomemos a questão do dogma na origem da ideologia. Em primeiro lugar a crítica alemã até em seus mais novos esforços não abandonou o terreno da filosofia. Bem longe de investigar seus pressupostos gerais-filosóficos, o conjunto de suas perguntas inclusive cresceu sobre o chão de um único e determinado sistema filosófico, o hegeliano. Não apenas em suas respostas, segundo Marx (2007), já nas próprias perguntas jazia uma mistificação. Essa dependência de Hegel é o motivo pelo qual nenhum desses novos críticos sequer tentou uma crítica abrangente do sistema hegeliano, por mais que todos eles afirmem ter superado Hegel. Suas polêmicas contra Hegel e as polêmicas de uns contra os outros limitam-se ao fato de cada um deles extrair um lado do sistema hegeliano e voltar esse lado contra o sistema inteiro quanto contra os lados extraídos e analisados pelos outros. No começo eram extraídas categorias hegelianas puras e não falsificadas, como substância e autoconsciência, mais tarde essas categorias foram profanadas por nomes mais mundanos, como gênero (Gattung), o Único (Einzige), o homem etc. Toda crítica filosófica alemã de Strauß a Stirner se limita à crítica das noções religiosas. Partiu-se da religião real e da teologia factual. O que seria consciência religiosa, noção religiosa, foi identificado de maneira diferente, consistindo no fato de subsumir também as noções metafísicas, políticas, jurídicas, morais e outras, que eram pretensamente dominantes, sob a esfera das noções religiosas ou teológicas; e da mesma forma esclarecer a consciência política, jurídica e moral como consciência religiosa ou teológica e o homem político, jurídico, moral em última instância representa “o homem”, com sentido religioso.

O império da religião foi estabelecido na condição de pressuposto. Cada relação social reinante foi esclarecida como sendo uma relação da religião e transformada em culto, culto do direito, culto do Estado e assim por diante. Por todos os lugares o que havia era o dogma e a crença no dogma religioso. Para Marx, os hegelianos antigos compreenderam tudo, contanto que tivesse sido atribuído a uma categoria lógica hegeliana. Criticaram tudo, ao lhe imputar noções religiosas ou esclarecê-lo como sendo teológico. Concordam com os antigos hegelianos no que diz respeito à crença no império da religião, dos conceitos, do caráter universal no mundo vigente. Só que alguns combateram o império como se fosse uma usurpação que os outros festejavam como legítima. Uma vez que nesses jovens hegelianos as noções, pensamentos, conceitos e de maneira geral os produtos da consciência por eles mesmos autonomizada são tidos como autênticos grilhões dos homens, assim também se compreende que os jovens hegelianos só têm a lutar exclusivamente contra essas ilusões da consciência. Uma vez que, segundo sua fantasia, as relações sociais entre os homens, todo o seu fazer e haver, seus grilhões e barreiras são produtos de sua consciência, assim, consequentemente, os jovens hegelianos estabelecem seu postulado moral de trocar sua consciência presente pela consciência humana, crítica ou egoísta, decerto, e através dessa condição poder eliminar suas barreiras. Essa exigência de mudar a consciência acaba na exigência de interpretar o vigente de outra maneira, de reconhece-lo por meio de uma outra interpretação. Os jovens ideólogos hegelianos são, apesar de suas frases feitas pretensamente “abaladoras do mundo”, os maiores conservadores. Os mais jovens acharam a expressão certa para a sua atividade, quando afirmam que lutam apenas contra “frases feitas”. Eles esquecem que eles também não fazem mais do que simplesmente opor frases feitas a essas frases feitas, e que não combatem, de maneira nenhuma, o mundo real vigente ao combater apenas as frases feitas desse mundo.

Os únicos resultados aos quais essa crítica filosófica pode chegar foram alguns esclarecimentos histórico-religiosos acerca do cristianismo; todas as suas demais afirmativas são apenas enfeites acrescidos de sua pretensão de ter fornecido descobertas de importância histórica mundial com os esclarecimentos insignificantes que ofereceram. A nenhum desses filósofos ocorreu a ideia de perguntar acerca da relação existente entre a filosofia alemã e a realidade alemã, da relação da crítica que fazem com seu próprio ambiente material. Ipso facto, Marx adverte-nos: os pressupostos com os quais começamos não são dogmas arbitrários, não são nem dogmas, são pressupostos reais, dos quis se pode abstrair apenas na imaginação. Eles são os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto as encontradas quanto as produzidas através de sua própria ação. Esses pressupostos são constatáveis, portanto, através de um caminho puramente empírico. O primeiro pressuposto de toda a história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro ato histórico desses indivíduos, através do qual se diferenciam dos animais, não é o fato de eles pensarem, mas sim o de eles começarem a produzir seus víveres. O primeiro fato situacional a ser constatado é, portanto, a organização corporal desses indivíduos e sua relação com o restante da natureza, resultante dessa mesma organização. Mas essas condições implicam não apenas a organização original e naturalística dos homens, em particular as diferenças entre as raças, mas também o seu desenvolvimento ou seu não-desenvolvimento sucessivo até os dias de hoje. Toda a historiografia tem de começar a partir desses fundamentos naturais e sua modificação através da ação dos homens no decorrer da história. Pode-se diferenciar os homens dos animais através da consciência, através da religião, através do que se quiser. Eles começam a se diferenciar dos animais quando produzem seus víveres condicionado pela sua organização corporal. Ao passo que produzem seus víveres produzem indiretamente sua vida material. 

O modo através do qual os homens produzem seus víveres depende, em primeira mão, da própria constituição dos víveres encontrados na natureza e daqueles a serem produzidos. Esse modo da produção não deve ser observado apenas sob o ponto de vista que faz dele a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele é, muito antes, uma forma determinada de expressar sua vida, uma forma de vida determinada do mesmo. Assim como os indivíduos expressam sua vida, assim eles também são. O que eles são, coincide com sua produção, tanto com o que eles produzem, quanto como eles o produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção. Essa produção passa a ocorrer apenas com o aumento da população.  É ela que volta a pressupor um intercâmbio entre os indivíduos. A forma desse intercâmbio é mais uma vez condicionada pela produção. As relações entre diferentes nações dependem de como cada uma delas desenvolveu suas forças de produção, a divisão do trabalho e o intercâmbio interno. Essa sentença é reconhecida e aceita de maneira geral. A divisão do trabalho no interior de uma nova nação leva, no princípio, à divisão do trabalho industrial e comercial do trabalho agrícola, e com isso à divisão entre cidade e campo e à oposição entre o interesse de ambos. Ao mesmo tempo se desenvolvem sempre, através da divisão de trabalho no interior desses diferentes setores, diferentes seções entre os indivíduos atuando em conjunto em um determinado trabalho. 

Os diferentes estágios de desenvolvimento da divisão de trabalho são, da mesma maneira, diferentes formas de propriedade; o estágio da divisão do trabalho em cada uma das fases determina também as relações dos indivíduos uns com os outros no que diz respeito ao material, ao instrumento e ao processo de trabalho. A produção das ideias, das representações, da consciência é, ao princípio, entrelaçada sem mediações com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, a linguagem da vida real. A formação das ideias, o pensar, a circulação espiritual entre os homens ainda se apresentam nesse caso como emanação direta de seu comportamento material. Vale o mesmo para a produção espiritual, conforme esta se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo. Os homens são os produtores de suas representações, ideias e assim por diante, mas apenas os homens reais e ativos, conforme são condicionados através de um desenvolvimento determinado de suas forças de produção e pela circulação corresponde às mesmas, até chegar a suas formações mais diferentes. A consciência (Bewusstsein) não pode ser jamais algo diferente do que “o ser consciente” (bewusstes Sein), e o ser dos homens é um bom processo de vida real. Se em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem invertidos como em uma câmara escura, este fenômeno provém igualmente de seu processo histórico de vida, assim como a inversão dos objetos ao se projetarem sobre a retina provém de seu processo diretamente físico. Daí a tese materialista: “bem ao contrário do que acontece com a filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui se sobe da terra para o céu”. Isto porque, metodologicamente, diz Marx, “não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam, ou engendram mentalmente, tampouco do homem dito, pensado, imaginado ou engendrado mentalmente para daí chegar ao homem em carne e osso”; isto é, parte-se dos homens realmente ativos e de seu processo de vida real para daí chegar ao desenvolvimento do que Marx entende por “reflexos ideológicos e aos ecos desse processo de vida”. Também as formações nebulosas que se condensam no cérebro dos homens são sublimações necessárias de seu processo material de vida, processo empiricamente registrável e ligado a condições materiais. 

A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia e as formas de consciência que a elas possam corresponder não continuam mantendo, assim, por mais tempo, a aparência de sua própria autonomia. Elas não têm história, elas não têm um desenvolvimento próprio delas, mas os homens que desenvolvem sua produção material e sua circulação material também, ao trocar esta realidade, seu pensamento e os produtos de seu pensamento. A tese materialista de Marx é apresentada na Ideologia Alemã: - Não é a consciência quem determina a vida, mas a vida que determina a consciência. E retomada no prefácio do ensaio de 1857, Contribuição à Crítica da Economia Política. – O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o ser social que, inversamente, determina a sua consciência.  Já no primeiro ponto de vista, parte-se da consciência como se esta fosse um indivíduo vivo; a partir do segundo ponto de vista, que é o correspondente à vida real, parte-se do mesmo indivíduo real e vivo e se considera a consciência como sendo somente sua consciência. Ali onde termina a especulação na vida real, começa a ciência, portanto, a representação da ação prática, do processo prático de desenvolvimento dos homens. Frases feitas como produto da consciência e o saber sobre o real, nem sempre ocupam um lugar concreto na existência.   

Bibliografia geral consultada.

MARX, Karl, La Questione Ebraica. Roma: Editori Riuniti, 1964; GORZ, André, Le Socialisme Diffícile. Paris: Éditions Du Seuil, 1967; MAcLELLAN, David, Marx y los Jovens Hegelianos. Barcelona: Editor Martinez Roca, 1969; MARIE, Jean-Jacques, “David Riazanov, Le Dissident Rouge”. In: Cahiers du Mouvement Ouvrier, nº 3. Paris: Centre d`Etudes et de Recherches sur les Mouvements Trotskyste et Révolutionnaires Internationaux (CERMTRI), 1988; SALEM, Jean, “Marx et l’atomisme ancien: la Dissertation de 1841”. In: Annali Della Scuola Normale Superiore Di Pisa. Classe Di Lettere e Filosofia, vol. 25, n° 4, 1995; COTRIM, Ivan, Karl Marx: A Determinação Ontogenética Originária do Valor. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica do São Paulo, 2008;  CHASIN, José, Marx: Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica. São Paulo: Boitempo Editorial, 2009; SILVA, Romero Júnior Venâncio, A Crítica da Religião em Marx: 1840-1846. Tese de Doutorado. Recife: Programa de Pós-Graduação Interinstitucional em Filosofia das Universidades Federais de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, 2010; CERQUEIRA, Hugo Eduardo da Gama, “David Riazanov e a Edição das Obras de Marx e Engels”. In: Revista Economia. Brasília (DF), vol.11, nº 1, pp.199-215, jan./abr. 2010; MARX, Karl & ENGELS, Friedrich, A Sagrada Família: Ou a Crítica da Crítica Crítica contra Bruno Bauer e Consortes. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003; Idem, A Ideologia Alemã...Tradução, Organização e Notas de Marcelo Backes. 1ª edição revista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011; SERGE, Victor, Memorie di un Rivoluzionario. Itália: Massari Editore, 2011; JONES, Gareth Stedman, Karl Marx. Grandeza e Ilusão. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2017; CHAUÍ, Marilena, O que é Ideologia. Rio de Janeiro: Editora Brasiliense (coleção Primeiros Passos), 2017; OLIVEIRA, Heitor Coelho Franca de, Marx na Transição: sobre a Relação entre Teoria e Práxis n`A Ideologia Alemã. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; MACHADO, Gustavo, Marx e a História: Das Particularidades Nacionais à Universalidade da Revolução Socialista. São Paulo: Editor Sundermann, 2018; SILVA, Vladmir Luís da, A Sombra de Friedrich Engels: Pela Reabilitação do Pensamento de Karl Marx. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Guarulhos: Universidade Federal de São Paulo, 2019; MANZANO, Sofia Padua, Desigualdade e Ideologia: A Nova Missa em Latim. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2021;  entre outros. 

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