sábado, 25 de janeiro de 2020

Poder & Vigilância - Cinema & Dispositivos da Crítica Analítica.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga
 
      O poder possui uma eficácia produtiva, uma riqueza estratégica”. Michel Foucault


      
             
            No estudo da relação entre genealogia e poder, observava Michel Foucault que a primeira característica do que ocorria de forma nebulosa dizia respeito ao caráter local da crítica, uma espécie de produção teórica autônoma, não centralizada, isto é, que não tem necessidade, para estabelecer sua validade, da concordância de um sistema comum. Esta crítica local se efetuou através do que se poderia chamar de “retorno do saber”. Em um caso como no outro, no saber da erudição como naquele desqualificado, nestas duas formas de saber sepultado ou dominado, se tratava na realidade de saber histórico da luta. Nos domínios especializados da erudição como nos saberes desqualificados das pessoas jazia a memória dos combates, exatamente aquela que até então havia sido subordinada. Delineou-se o que se poderia chamar uma genealogia, ou, pesquisas genealógicas múltiplas: a redescoberta exata das lutas e memória bruta dos combates. E esta genealogia, como acoplamento do saber acadêmico e do saber das pessoas, só será possível se for eliminada a tirania dos colegiados (cf. Mitzman, 1976), com suas hierarquias e os privilégios de sua posição que permeia o discurso religioso/científico em saberes regionais.    
            Trata-se de ativar saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica unitária que pretenderia depurá-los, hierarquiza-los, ordená-los em nome de um conhecimento verdadeiro, em nome dos direitos de uma concepção de ciência detida por alguns. Trata-se da insurreição dos saberes não tanto contra os conteúdos, os métodos e os conceitos de uma ciência, mas de uma insurreição dos saberes antes de tudo contra os efeitos de poder centralizadores que estão ligados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado no interior da sociedade. Pouco importa que esta institucionalização do discurso científico se realize em uma universidade ou, de modo mais geral, em um aparelho político com todas as suas aferências, pois são os efeitos de poder próprios a um discurso considerado como científico que a genealogia deve combater, seja diante do processo de gentrificação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, objeto de pesquisa de pós-doutoramento em curso em análise comparada da degradação do Centro Poliesportivo da Universidade Estadual do Ceará. Não se trata de estudos de caso, mas com a pesquisa efetiva, torna-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico, unitário, formal e científico. Poderíamos lançar o desafio: - “Tentem colonizar-nos”.



       A burocracia moderna engendrou o intelectual específico nas universidades públicas, através das atividades regulares necessárias aos objetivos da estrutura governada burocraticamente, que por sua vez são distribuídas de forma fixa como deveres oficiais que contém uma orientação, mas podem mudar de forma e sentido. A autoridade de dar ordens necessárias à execução desses deveres oficiais se distribui de forma estável, sendo rigorosamente delimitada pelas normas relacionadas com os meios de trabalho e de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados à disposição dos funcionários ou autoridades. O princípio da autoridade hierárquica de cargo encontra-se em todas as organizações burocráticas. Não importa, para o caráter da burocracia, que sua autoridade seja compreendida como privada ou pública. É o que tenta demonstrar,  de forma hilária, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo em uma série de ensaios temáticos.
Quando o cargo está plenamente desenvolvido, a atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do funcionário, a despeito do fato de ser rigorosamente delimitado o tempo de permanência na repartição, que lhe é exigido. O desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis, mais ou menos exaustivas, e que podem ser apreendidas. O conhecimento dessas regras representa um aprendizado técnico especial, a que se submetem esses funcionários. Envolve jurisprudência, ou administração pública e privada. A redução do cargo a regras está profundamente arraigada à sua própria natureza. A teoria da moderna administração pública, sustenta que a autoridade para ordenar certos assuntos através decretos não dá à repartição o direito de regular o assunto através de normas expelidas em cada caso, mas na prática, converte-se em relações através dos privilégios individuais e concessão de favores, que domina de forma absoluta as relações entre indivíduos no âmbito do patrimonialismo.
A ocupação de um cargo é considerada uma profissionalização ou estágio, com a exigência de um treinamento rígido, que demanda toda a capacidade de trabalho durante um longo período de tempo e nos exames especiais que, em geral, são pré-requisitos para o emprego. A posição de um funcionário tem a natureza de um dever, sendo a lealdade dedicada a finalidades impessoais e funcionais. Sua posição social é assegurada pelas normas que se referem à hierarquia ocupada. A posse de diplomas educacionais está habitualmente ligada à qualificação técnica para o cargo. O tipo puro sociológico de funcionário burocrático é nomeado por uma autoridade superior. Mas uma autoridade eleita pelos governados não é como tal, uma figura exclusivamente burocrática. A nomeação independe dos estatutos legais, mas da forma pela qual funciona o sistema. Em todas as circunstâncias, a designação de funcionários por meio de uma eleição entre os governados modifica o rigor da subordinação hierárquica. O funcionário se prepara para uma carreira por concurso público, o que não impede que ocorra por determinado tempo a vigilância hierárquica para o cargo no serviço público. Foi esse tipo específico de poder que Michel Foucault chamou de “disciplina” ou “poder disciplinar”. 

E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestra-lo. O que lhe interessa não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos homens, controla-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades. É um objetivo ao mesmo tempo econômico e político: aumento do efeito de seu trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos sociais de contrapoder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente. Portanto, aumentar a utilidade econômica e diminuir os inconvenientes, os perigos políticos; aumentar a força econômica e diminuir expressivamente a sua força política. Situemos as suas características básicas. Em primeiro lugar, a disciplina é um tipo de organização do espaço. É uma técnica de distribuição dos indivíduos através da inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório.
Isola em um espaço fechado, esquadrinhado, hierarquizado, capaz de desempenhar funções diferentes segundo o objetivo específico que deles se exige. Mas, como relações de poder disciplinar não necessitam de espaço fechado para se realizar, é essa sua característica menos importante. Em segundo lugar, e mais fundamentalmente, a disciplina é um controle do tempo. Isto é, ela estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir o máximo de rapidez e o máximo de eficácia. Em terceiro lugar, a vigilância é um dos seus principais instrumentos de controle. Não uma vigilância que reconhecidamente se exerce de modo fragmentar e descontínuo; mas que é ou precisa ser vista pelos indivíduos que a ela estão expostos como forma contínua, perpétua, permanente; que não tenha limites, penetre nos lugares mais recônditos, esteja presente em toda extensão do espaço. Olhar invisível que permite impregnar quem é vigiado de tal modo que este adquira de si mesmo a visão panóptica de quem o olha. A disciplina implica um registro contínuo de conhecimento. O olhar que observa para controlar não é o mesmo que transfere as informações para os pontos mais altos da hierarquia do poder? Seu objetivo econômico e político é tornar o homem útil e dócil.
A grande importância estratégica que as relações de poder disciplinar desempenham nas sociedades modernas depois do século XIX, vem justamente do fato delas não serem negativas. Mas positivas, quando tiramos desses termos qualquer juízo de valor moral ou político e pensarmos unicamente na tecnologia empregada. É então, que, segundo Foucault, surge uma das teses fundamentais da genealogia: “o poder é produtor de individualidade”. O indivíduo é uma produção do poder e do saber. Atuando sobre uma massa confusa, desordenada e desordeira, o esquadrinhamento disciplinar faz nascer uma multiplicidade ordenada no seio da qual o indivíduo emerge como alvo do poder. O nascimento da prisão em fins do século XVIII, não representou uma massificação com relação ao modo como anteriormente se era encarcerado. O nascimento do hospício não destruiu a especificidade da loucura. É o hospício, ao contrário, que produz o louco como doente mental. Um personagem individualizado a partir da instauração de relações disciplinares. E antes da constituição das ciências humanas, no século XIX, a organização das paróquias, a institucionalização do exame de consciência e da direção espiritual e a reorganização do sacramento da confissão, que aparecem como importantes dispositivos de individualização. Em suma, o poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, ele o fabrica. O indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, que é por ele anulado; é um de seus mais importes efeitos. 
O objetivo é neutralizar a ideia que faz da ciência um conhecimento em que o sujeito vence as limitações reais ou imaginárias de suas condições particulares de existência instalando-se na neutralidade objetiva do universal e da ideologia um conhecimento em que o sujeito tem sua relação com a verdade perturbada, obscurecida, velada pelas condições reais de existência. Todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito quanto os domínios do saber. A investigação do saber não deve remeter a um sujeito de conhecimento que seria a sua origem, mas a relações de poder que lhe constituem. Não há saber neutro. Todo saber é político. E isso não porque cai nas malhas do Estado, é apropriado por ele, que dele se serve como instrumento de dominação, descaracterizando seu núcleo essencial. Mas porque todo saber tem sua gênese em relações de poder. O fundamental da análise teórica é que saber e poder se implicam mutuamente; não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder.
Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber. É assim que o hospital não é apenas local de cura, mas também instrumento de produção, acúmulo e transmissão de saber. Do mesmo modo que a escola está na origem da pedagogia, a prisão da criminologia, o hospício da psiquiatria. Mas a relação ainda é mais intrínseca: é o saber enquanto tal que se encontra dotado estatutariamente, institucionalmente, de determinado poder. O saber funciona dotado de poder. E enquanto é saber tem poder. A configuração do que Foucault denomina de “intelectual específico” se desenvolveu na 2ª grande guerra, e talvez o físico atômico tenha sido quem fez a articulação entre intelectual universal e intelectual específico. É porque tinha uma relação direta e localizada com a instituição e o saber científico que o físico atômico intervinha; mas já que a ameaça atômica concernia todo o gênero humano e o destino do mundo, seu discurso podia ser ao mesmo tempo o discurso do universal.
Sob a proteção deste protesto que dizia respeito a todos, o cientista atômico desenvolveu uma posição específica na ordem do saber. E admite Foucault, pela primeira vez o intelectual foi perseguido pelo poder político, não mais em função do seu discurso geral, mas por causa do saber que detinha: é neste nível que ele se constituía como um perigo político. Mas o intelectual específico deriva de uma figura muito pobre e diversa do “jurista-notável”. O “cientista-perito”. O importante é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder. A verdade é deste mundo, produzida nele graças a múltiplas coerções que produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, seus tipos de discursos que faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados, sob nosso olhar, para a obtenção da verdade. Quem está de fora do poder, mas tem a capacidade analítica de interpretar o estatuto que delimita o seu campo de saber, percebe os efeitos de poder do que funciona como verdadeiro.  
É preciso repensar os problemas políticos dos intelectuais não mais em termos exclusivos da relação entre ciência e ideologia, mas sem abandoná-la, tendo em vista que a universidade pública é um domínio de casta, “a forma natural pela qual costumam socializarem-se as comunidades étnicas que creem no parentesco de sangue com os membros de comunidades exteriores e o relacionamento social. Essa situação de casta é parte do fenômeno de povos párias e se encontra em todo o mundo” (cf. Weber, 1982; pp. 449-470), a análise pode ser religada na medida em que a questão da profissionalização do intelectual, da divisão entre trabalho manual e intelectual, na esfera pública pode ser retomada. A verdade está circularmente ligada a sistemas de poder que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e a reproduzem. Ipso facto, o problema político essencial para o intelectual não é apenas criticar os conteúdos ideológicos que privilegiam grupos no sistema educacional que estariam ligados à ciência ou fazer com que sua prática científica seja acompanhada por métodos de inclusão democráticos. O que está em jogo num sistema de castas, que tomou o poder na universidade pública  nos últimos 20 anos, é se podemos constituir uma nova arena política da verdade. Mas não se trata de libertar a verdade do sistema de poder, mas de desvincular o poder da verdade das formas com as quais ele legitima suas formas de saber. A genealogia exige a minúcia do saber, evidenciando um grande número de materiais acumulados.
Na universidade estes materiais se esgueiram como sombras. Fazer a genealogia dos valores, da moral, do ascetismo, do conhecimento não será, portanto, partir em busca do que lhe é originário, mas ao contrário, se demorar nas meticulosidades e nos acasos dos projetos interrompidos pelos predecessores, prestar uma atenção escrupulosa à sua derrisória maldade; esperar vê-los surgir, máscaras enfim retiradas, com o rosto do outro, num trabalho de escavação incessante no campus, nos arquivos, sem deixar-lhes o tempo emascular o labirinto onde nenhuma verdade as manteve jamais sob a guarda. É preciso saber reconhecer os acontecimentos da história, seus abalos, suas surpresas, as vacilantes vitórias, as derrotas mal digeridas que dão conta dos atavismos e das hereditariedades. A história, com suas intensidades, seus desfalecimentos, seus furores secretos, suas grandes agitações febris como suas síncopes, é o próprio corpo do devir. É preciso ter um espírito metafísico para encontrar na alma a idealidade distinta. A pesquisa da proveniência não funda, muito pelo contrário: ela agita o que se percebia imóvel, ela fragmenta o que se pensava unido; ela mostra a heterogeneidade do que se imaginava em conformidade consigo mesmo. Façamos a análise genealógica dos reitores universitários em sua atenção “desinteressada”, em sua ligação à objetividade.
Longe de ser uma categoria de semelhança, tal origem permite ordenar, para coloca-las a parte, todas as marcas diferentes. O genealogista parte em busca do começo, esta marca quase apagada que não saberia enganar um olho, por pouco histórico que seja; a análise da proveniência permite dissocia o Eu e fazer pulular lugares e recantos de sua síntese vazia, entre acontecimentos aparentemente perdidos. A proveniência permite também reencontrar sob o aspecto único de um caráter ou de um conceito a proliferação dos acontecimentos através dos quais eles se formaram. Metodologicamente a genealogia não pretende recuar no tempo para restabelecer uma grande continuidade para além da dispersão do esquecimento; sua tarefa não é a de mostrar que o passado ainda está lá, bem vivo no presente, animando-o ainda em segredo, depois de ter imposto a todos os obstáculos do percurso uma forma delineada desde o início. Seguir o filão complexo da proveniência é, ao contrário, manter o que se passou na dispersão que lhe é própria: é demarcar os acidentes, os ínfimos desvios, os erros, as falhas na apreciação, os maus cálculos que deram nascimento ao que existe e tem valor para nós; é descobrir que na raiz daquilo que nós conhecemos e daquilo que nós somos – não existem a verdade e o ser, mas a exterioridade do acidente. Na universidade basta o que ficou da gestão passada para compreendermos o presente. Na vã política em geral e particularmente na gestão acadêmica o passado nos condena.
A cena pública da verdade é sempre a mesma em que repetem indefinidamente os dominadores e os dominados. Homens dominam outros homens e é assim que nasce a diferença de valores; classes dominam classes e é assim que nasce a ideia de liberdade, homens se apoderam de coisas das quais eles têm necessidade para viver, eles lhes impõem uma duração que elas não têm, ou eles as assimilam pela força – e é o nascimento da lógica. Nem a relação de dominação é mais uma relação, nem o lugar onde ela se exerce é um lugar. E é por isto precisamente que em cada momento da história a dominação se fixa em um ritual; ela impõe obrigações e direitos; ela constitui cuidadosos procedimentos. Ela estabelece marcas, grava lembranças e até nos corpos; ela se torna responsável pelas dívidas. Universo de regras que não é destinado a adoçar, mas ao contrário a satisfazer a violência. A regra é o prazer calculado da obstinação, é o sangue prometido. Ela permite reativar sem cessar o jogo da dominação; ela põe em cena uma violência meticulosamente repetida. A humanidade não progride lenta de combate em combate, ela instala cada uma de suas violências em um sistema de regras, e prossegue assim num processo ad infinitum de dominação em dominação.
É justamente a regra que permite que seja feita a violência à violência e que uma outra dominação possa dobrar aqueles que dominam. Em si mesmas as regras são vazias, violentas, não finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou aquilo; elas podem ser burladas ao sabor da vontade de uns e outros. O grande jogo da história será, segundo Foucault, de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para perverte-las, utilizá-las ao inverso e volta-las contra aqueles  que as tinham imposto; de quem, se introduzindo no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras. As diferenças emergenciais que se podem demarcar não são figuras sucessivas de uma mesma significação; são efeitos de substituição, reposição e deslocamento, conquistas disfarçadas, inversões sistemáticas. Se interpretar eras colocar lentamente em foco uma significação oculta na origem, apenas a metafísica poderia interpretar o devir da humanidade. Mas se interpretar é se apoderar por violência ou sub-repção, de um sistema de regras que não tem em si significado essencial, e lhe impor uma direção, dobrá-lo a uma nova vontade, fazê-lo entrar noutro jogo e submetê-lo a novas regras, então o devir da humanidade é uma série de interpretações. E a genealogia dever ser a sua história: história das morais (lei Maria da Penha), dos ideais (uma universidade de verdade), dos conceitos metafísicos, história do conceito de liberdade ou da vida ascética, como emergências de interpretações diferentes. Trata-se de fazê-las aparecer como acontecimentos reais no teatro dos procedimentos.
Mas a demagogia deve ser hipócrita. Na história social da universidade pública os edifícios que estão sendo construídos na entrada da Universidade Estadual do Ceará e mesmo do novo prédio da reitoria, esconde a perversidade com que foi tratado o Centro Poliesportivo da instituição, seguindo a tradição fascista na política brasileira de desconstrução do legado de gestão anterior. É um aspecto extremamente negativo, mas agora bisado pela gestão dos colegiados de curso que apoiam a corrupção nesta gestão. Mas a corrupção administrativa não para neste episódio. Há o envolvimento de pró-reitores da gestão (e negação) de documentos de afastamento de pesquisadores em projetos de pesquisa de pós-doutoramentos, mesmo os que ocorrem no mesmo estado na Universidade Federal do Ceará, deixando claro o assédio moral de “pareceristas”, enfim, da pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa da instituição. O genealogista sabe o que é necessário pensar desta história mascarada. Não que ele a rechace por espírito de seriedade; ele quer leva-la ao extremo: porque quer por em cena um grande carnaval (cf. DaMatta, 1981) do tempo em que as máscaras reapareçam incessantemente.   
Não queremos perder de vista que a disciplina é, antes de tudo, a análise do espaço. É a individualização pelo espaço, a inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório. A disciplina exerce seu controle, não sobre o resultado de uma ação, mas sobre seu desenvolvimento. No século XVII, nas oficinas de tipo corporativo, o que se exigia do companheiro ou do mestre era que fabricasse um produto com determinadas qualidades. A maneira de fabricá-lo dependia da transmissão de geração em geração. Do mesmo modo, se ensinava o soldado a lutar, a ser mais forte do que o adversário na luta individual da batalha. A partir do século XVIII, se desenvolve uma arte do corpo humano. Observa-se de que maneira os gestos são feitos, qual o mais eficaz, rápido e melhor ajustado. Nas oficinas aparece o famoso e sinistro personagem do contramestre, destinado não só a observar se o trabalho foi feito, mas como é feito, como pode ser mais rapidamente realizado e com gestos melhor adaptados. O famoso Regulamento da Infantaria Prussiana, que assegurou as vitórias de Frederico da Prússia, consiste em mecanismos de gestão disciplinar dos corpos.  
A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que o que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua “pirâmide de olhares”. Mas a disciplina implica um registro contínuo. Anotação do indivíduo e transferência da informação de baixo para cima, de modo que, no cume da pirâmide disciplinar escape a esse saber. No sistema clássico o exercício do poder era confuso, global e descontínuo, do soberano sobre grupos constituídos por famílias, cidades, paróquias, isto é, por unidades globais, e não um poder contínuo atuando sobre o indivíduo. A disciplina é o conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder vão ter por alvo e resultado os indivíduos em sua singularidade. O exame é a vigilância permanente, classificatória, que permite distribuir os indivíduos, julgá-los, medi-los, localizá-los e, por conseguinte, utilizá-los ao máximo. Através do exame, a individualidade torna-se um elemento de uso pertinente para o exercício do poder.
A invenção dessa nova anatomia política não deve ser entendida como uma descoberta súbita. Mas como uma multiplicidade de processos muitas vezes mínimos, de origens diferentes, de localizações esparsas, que se recordam, se repetem, ou se imitam, apoiam-se uns sobre os outros, distinguem-se segundo seu campo de aplicação, entram em convergência e esboçam aos poucos a fachada de um presunçoso método geral. Não se trata de fazer aqui a história das diversas instituições disciplinares no que podem ter cada uma de singular: 1) ambas, neste caso, são instituições públicas gerenciadas por uma casta no poder (cf. Weber, 1982; Dumont, 1992); 2) Existe uma série de exemplos de algumas das técnicas essenciais empregadas que, de uma a outra, se generalizaram mais facilmente. Pequenas astúcias dotadas de um grande poder de difusão, arranjos sutis, de aparência inocente, mas profundamente suspeitos, são dispositivos que obedecem a economias inconfessáveis, ou que procuram coerções sem grandeza (assédio moral), são eles, entretanto que levaram à mutação do regime punitivo contemporâneo; 3) Descrevê-los metodicamente, nominalmente, implicará a demora sobre o detalhe da corrupção do pensamento e a atenção às minúcias: sob as mínimas figuras, procurar não um sentido, mas uma precaução; recoloca-las não apenas na solidariedade de um funcionamento, mas na coerência de uma tática; 4) Astúcias, não tanto de grande razão que trabalha até durante o sono, no sentido freudiano, e dá coerência ao insignificante quando da atenta malevolência que de tudo alimenta. A disciplina é uma anatomia política do detalhe. O que nos interessa é a racionalização utilitária do detalhe na contabilidade moral e no controle político. A regra das localizações funcionais vai pouco a pouco codificar um espaço que a arquitetura deixava geralmente  livre e pronto para vários usos.
Lugares determinados se definem para satisfazer não só à necessidade de vigiar, de romper as comunicações perigosas, mas também de criar um espaço útil. Temos assim, um dispositivo que asfixia e quadricula; tem que realizar uma apropriação sobre toda essa mobilidade e esse formigar humano, decompondo a confusão da ilegalidade e do mal. Essa gente, através do impedimento de elementos intercambiáveis, conquistados a duras penas, quer através da vigilância e punição, da prevaricação e do ressentimento acadêmico, quer individualizar corpos por uma localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular numa série de relações. O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e a sua combinação num procedimento que lhe é específico. A vigilância se torna um operador decisivo, na medida em que é ao mesmo tempo uma peça interna no aparelho de produção e uma engrenagem especial do poder disciplinar.    
A arte de punir, no regime de poder disciplinar, não visa nem a expiação, nem mesmo exatamente a repressão. Põe em funcionamento cinco operações bem distintas: relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um conjunto, que é ao mesmo tempo campos de comparação, espaço de diferenciação e princípio de uma regra a seguir. Diferenciar os indivíduos em relação usn aos outros e em função dessa regra de conjunto – que se deve fazer funcionar como base mínima, como média a respeitar ou como o ótimo de que se deve chegar perto. Medir em termos quantitativos e hierarquizar em termos de valor as capacidades, o nível, a natureza humana dos indivíduos. Fazer funcionar, através dessa medida valorizadora negativamente, a coação de uma conformidade a realizar. E por último, traçar o limite que definirá a diferença em relação a todas as diferenças, a fronteira externa do “anormal”. A penalidade que atravessa todos os pontos e controla todos os instantes das instituições disciplinares compara, diferencia, hierarquiza, homogeniza, exclui. Em uma palavra, ela normaliza.  Bibliografia geral consultada.

DUMONT, Louis, Homo Hierarchicus. O Sistema de Castas e suas Implicações. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992; KEHL, Maria Rita, Ressentimento. São Paulo: Editor Casa do Psicólogo, 2007; FOUCAULT, Michel, Arqueologia do Saber. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1971; Idem, El Orden del Discurso. Barcelona: Ediciones Tusquets, 1973; Idem, Hermeneutica del Sujeto. Madrid: Ediciones de la Piqueta, 1987; Idem, Nietzsche, Marx, Freud. Buenos Aires: Ediciones Anagrama, 2010; Idem, Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; CHAUI, Marilena, “Carta Aberta de Chauí: Vigiar e Punir Foucault?”. In: https://outraspalavras.net/25/06/2015; WITTMANN, Douglas, A Indústria de Energia Elétrica no Brasil e o Desenvolvimento Sustentável: Uma Proposta para o Horizonte 2050 à Luz da Teoria dos Sistemas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Energia. Instituto de Energia e Ambiente. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; BACH, Augusto, Michel Foucault e a História Arqueológica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Metodologia das Ciências. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2016; RAGO, Margareth; GALLO, Sílvio, Michel Foucault e as Insurreições. É Inútil Revoltar-se. São Paulo: Editora Intermeios, 2017; FOUCAULT, Michel; BENEDETTI, Ivone Castilho, Malfazer, Dizer Verdadeiro. São Paulo: Editora WMF; Martins Fontes, 2018; PEREIRA, Karoline Machado Freire, Governamentalidade, Vigilância e Heterotopia na Sociedade Banóptica: Análise Discursiva de Propagandas de Condomínios Residenciais Fechados da Alphaville Urbanismo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Linguística. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2019; MELCHIOR, Stela Candioto, Vigilância Pós-Comercialização de Produtos para Saúde, Questões sobre Organização, Gestão e Implantação no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Tese de Doutorado. Programa de Pòs-Graduação em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2020;  entre  outros.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

As Telefonistas - Técnica, Beleza, Comunicação & Profissionalização.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

       O tom mais alto das cordas vocais femininas é mais compreensível”. Helmut Gold
 

       
      
            A telefonista é a profissional responsável por todo o sistema telefônico da empresa. Entre as atribuições mais comuns estão: receber e transferir ligações, efetuar chamadas telefônicas nacionais e internacionais, registrar informações, transmitir mensagens, localizar pessoas, e assim por diante. Operar equipamentos, atender, transferir, cadastrar e completar chamadas telefônicas. Auxiliar as pessoas, fornecendo informações e prestando serviços administrativos gerais. Operar equipamentos de telefonia, estabelecendo ligações internas e externas, recebendo e transferindo chamadas para o ramal solicitado. Anotar recados de visitantes ou de chamadas telefônicas e enviá-los para os funcionários. Saber agendar e fazer reuniões por telefone (conference calls). O atendente atua com atendimento ao cliente, recepciona, apresenta os produtos, realiza a organização de prateleiras, estocagem e organização do local. A recepcionista realiza o atendimento ao cliente, presta informações e recebe visitantes para encaminhamento aos funcionários da empresa para que obtenha eficácia simbólica.
As duas pregas vocais são um tecido musculoso, situadas no interior da laringe. O expulsar do ar por elas as fazem vibrar produzindo o som pelo qual nos comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem ou se relaxam pela ação dos músculos da laringe com isso modulando e modificando o som e permitindo todos os sons que produzimos enquanto falamos ou cantamos. Todo o ar inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas, estando relaxadas, não produzem qualquer som, pois o ar passa entre elas sem vibrar. Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia mensagens pelos nervos até os músculos que controlam as cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que fique apenas um espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os músculos do tórax empurram o ar para fora dos pulmões, isso produz a vibração das cordas vocais e consequentemente o som. O controle da altura do som se faz aumentando-se ou diminuindo-se a tensão das cordas vocais.A frequência natural da voz humana é determinada pelo comprimento das cordas vocais. Assim mulheres que têm as pregas mais curtas possuem voz mais aguda que os homens com pregas mais longas. 
É por esse mesmo motivo que as vozes das crianças são mais agudas do que as dos adultos. A mudança de voz costuma ocorrer na puberdade que é provocada pela modificação das pregas que de mais finas mudam para uma espessura mais grossa. Este fato é especialmente relevante nos indivíduos do sexo masculino. O comprimento e a espessura das cordas vocais determinam, tanto para o sexo masculino, como para o sexo feminino, a extensão vocal e o registro de alcance das notas produzidas vocalmente. A laringe e as pregas vocais não são os únicos órgãos responsáveis pela fonação. Os lábios, a língua, os dentes, o véu palatino e a boca corroboram também para a formação dos sons. As duas pregas vocais representam um tecido musculoso, situadas no interior da laringe. Quando ocorre um movimento de expulsão do ar por elas as fazem vibrar produzindo o som pelo qual nos comunicamos.  



As pregas são fibras elásticas que se distendem ou se relaxam pela ação dos músculos da laringe com isso modulando e modificando o som e permitindo todos os sons que produzimos enquanto falamos ou cantamos. Todo o ar inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas, estando relaxadas, não produzem qualquer som, pois o ar passa entre elas sem vibrar. Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia mensagens pelos nervos até os músculos que controlam as cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que fique apenas um espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os músculos do tórax empurram o ar para fora dos pulmões, este movimento interno produz a vibração das cordas vocais e consequentemente o som. O controle da altura do som se faz aumentando-se ou diminuindo-se a tensão das cordas vocais com a fala. Criado em 1835, o Código Morse representava tecnicamente a forma mais simples de se transmitir mensagens a longa distância quando a transmissão de voz ainda não era possível. O aparelho que transmitia e recebia tais códigos era chamado telégrafo.
Com a invenção social do aparelho de transmissão da voz em 1876, o inventor Alexander Graham Bell obteve um êxito sensacional do ponto de vista massivo. Trabalhadores queriam ter o chamado “telefone”, que já não eram mais possíveis ligações individuais entre cada aparelho. Necessitavam-se do aperfeiçoamento das centrais telefônicas para fazer a conexão correta. Quando a primeira central telefônica entrou em funcionamento em Connecticut, o quarto estado norte-americano mais densamente povoado do país. A principal fonte de renda de Connecticut é a prestação de serviços financeiros e imobiliários. A capital do estado é Hartford, reconhecida nacionalmente como Insurance City (“cidade seguradora”), por causa da grande quantidade de companhias de seguros que estão ali sediadas, eram trabalhadores do sexo masculino que faziam as conexões ao outro lado da linha. Mas, já no final do ano, todos eles foram substituídos por mulheres: surgia então a profissão de telefonista. Também na Alemanha, no ano de 1890, foram contratadas mulheres para o trabalho nas centrais telefônicas, o que se justificou na época da seguinte maneira: - “O tom mais alto das cordas vocais femininas é mais compreensível. Além disso, os clientes comportam-se de forma mais amigável ao ouvirem uma voz de mulher ao telefone”.     
Os irmãos Thomas e Daniel Connelly, juntamente com Thomas J. McTighe patentearam o primeiro sistema em que um usuário podia controlar um mecanismo de comutação à distância. O aparelho, bastante primitivo, baseava-se nos telégrafos ABC do físico inglês Wheatstone e nunca chegou a ser usado. A parte principal do sistema era uma roda dentada, semelhante às usadas em relógios, que movida por um eletroímã, percorria o espaço de um dente por vez. Quando o eletroímã recebia um pulso elétrico, atraía uma barra metálica que fazia a roda dentada girar um “espaço”, movendo um braço de metal que, transmitia os pulsos elétricos sucessivamente e estabelecia contato com as demais linhas. A primeira central telefônica do mundo foi inaugurada em 28 de janeiro de 1878 em New Haven, Connecticut, tendo sido iniciada com apenas oito assinantes. Em 1884, Ezra Gilliland, da empresa Bell, desenvolveu um sistema de comutação automática mais simples, porém semelhante ao dos irmãos Connely e McTighe que podia trabalhar com 15 linhas. Nesse sistema, que não chegou a ser usado, havia um contato metálico que pulava de uma posição quando o usuário apertava um botão, determinando o tipo de conexão que era estabelecida.  Um avanço realmente importante e surpreendente ocorreu em 1889 quando o agente funerário Almon Brown Strowger, da cidade de Kansas City, desenvolveu um sistema de comutação automático que realmente funcionava. 

Narra a história que Almond Strowger desconfiava que as telefonistas desviavam, propositalmente, as ligações destinadas a ele para um outro agente funerário, seu concorrente. Por isso, resolveu inventar um sistema que dispensasse o intermédio delas. Após vários estudos e tentativas, Strowger construiu, com a ajuda de um relojoeiro, um sistema que atenderia 100 linhas telefônicas, que foi patenteado em 1891. A invenção deu tão certo que no mesmo ano Strowger fundou a Automatic Electric Company para comercializá-la. A primeira central telefônica automática a usar o sistema de Strowger foi aberta em 1892 em La Porte, Indiana. Na década que seguiu, foram instaladas mais de 70 centrais destas nos Estados Unidos da América. Os primeiros telefones, no entanto, eram conectados a centrais manuais, operadas por telefonistas. O usuário tinha que girar uma manivela para gerar a “corrente de toque” e chamar a telefonista que atendia e, através da solicitação, comutava os pontos manualmente na central. Assim um assinante era conectado ao outro formando um processo de trabalho e de comunicação social.
As primeiras centrais automáticas que dispensavam o operador/telefonista para completar uma ligação eram de tipo eletromecânica, baseada em relés, conhecidas como passo-a-passo (“step-by-step”). Posteriormente elas foram substituídas pelas centrais do tipo barras-cruzadas (“crossbar”), que também eram eletromecânicas só que mais modernas tecnologicamente. Com o surgimento das centrais automáticas os telefones passaram a ser providos de “discos telefônicos” para envio da sinalização. Estes discos geravam a sinalização decádica, que consistia de uma série de pulsos de 1 a 10. A primeira central automática do Brasil foi inaugurada em 1922 na cidade de Porto Alegre que historicamente ocupava a posição econômica da terceira cidade das Américas, logo depois da Chicago sindicalista e Nova York. A segunda foi inaugurada três anos depois na cidade de Rio Grande. A terceira em 1928 em São Paulo e em 1929 ocorreu a vez do Rio de Janeiro inaugurar sua primeira central automática.
Na década de 1970 as centrais telefônicas passaram por um processo evolutivo da era analógica para a era digital de processamento por computador. Essa mudança ocorrida nos núcleos de processamento das centrais, através da troca de componentes eletromecânicos por processadores digitais estendeu-se aos outros componentes funcionais das centrais, dando origem às centrais do tipo central telefônica controlada por programa armazenado. As CPA`s representaram verdadeiros computadores para a função, e trabalham com um software interno para execução das operações inerentes: interligar (comutar) terminais, executar controle, teste e gerenciamento do hardware, serviços adicionais caracterizados pela identificação de chamadas, transferência de chamadas, ligações simultâneas, etc., aos clientes/usuários. Nessa época também começaram a ser utilizados os “telefones com teclas”, que facilitavam a discagem. Em 1973, no âmbito de um acordo entre a Universidade de São Paulo e a Telebrás, holding das operadoras brasileiras de telecomunicações, surgiu o embrião de uma central telefônica digital nacional, projetada para substituir as importações de centrais analógicas.
A ideia inicial era de se conseguir a formação de recursos humanos especializados e também chegar a um protótipo de uma central digital. Em 1980 chegou-se a um concentrador de chamadas que é testado em campo em uma operadora de telefonia com grande sucesso. Em 1981, com o objetivo de desenvolver uma plataforma de comutação para aplicações rurais, nascia o então denominado Trópico R, com uma capacidade inicial de quatro mil assinantes. Em 1984 na empresa Telecomunicações de Brasília (Telebrasília) era efetuado o primeiro teste experimental em campo de uma central digital com tecnologia brasileira. Naquela época os pesquisadores do Cpqd, um dos maiores centros de pesquisa & desenvolvimento em telecomunicações e TI (Tecnologia da Informação) da América Latina, localizado na cidade de Campinas, estado de São Paulo, atua na pesquisa, desenvolvimento e suporte de setores, tais como industrial, agrícola, telecomunicações, financeiro, energia elétrica, corporativo e administração pública, passavam por grandes momentos pois haviam atingido o seu objetivo. Mesmo hoje são poucos os países que possuem esta tecnologia de ponta.
           As centrais Trópicos possuem a característica de terem sido  desenvolvidas á base de módulos independentes. Cada módulo possui seu hardware e software independente, com isso trocam informações entre si. Em caso de falhas, as perdas são menores, pois somente um módulo por vez perde a sua funcionalidade. O diretor do Museu da Comunicação Social em Frankfurt, Helmut Gold, descreve assim o trabalho das primeiras telefonistas: - “No painel à frente da telefonista, havia uma tomada para cada aparelho telefônico instalado. Ela recebia o telefonema e perguntava a quem devia chamar. Ela podia conectar qualquer telefone, enfiando o pino na tomada correspondente. Feito isto, avisava a pessoa sobre a chamada e transferia a ligação”. As exigências para a aceitação no emprego eram uma boa formação escolar, fineza de trato e, se possível, conhecimento de idiomas estrangeiros. Além disso, as moças deviam ser jovens e de “boa família”. O seu treinamento era feito pela empresa dos correios e telégrafos, que detinha o monopólio da telefonia na Alemanha, desde os seus primórdios até meados dos anos 1990. Segundo Gold, o treinamento técnico não passava de uma explicação sobre o funcionamento dos respectivos aparelhos. Eram realizados comparativamente também uma série de testes, sendo os mais importantes os de dicção e locução.
          Curiosamente o estado civil feminino era controlado de maneira rigorosa. – “Uma das características especiais do trabalho era que se excluía a possibilidade de casamento. Isso tinha tradição desde os primórdios dos correios”. A questão estava ligada ao rigoroso conceito previdenciário de seu tempo. Se a mulher casasse, tivesse filhos e, posteriormente, ocorresse algo com o marido, então o Estado teria de sustentar toda a família, uma vez que a mulher era funcionária pública. Isto não condizia com os conceitos do serviço público, demonstrado uma forma autoritária de relações de classe.  Jovem e solteira, a senhorita de voz simpática – eternamente invisível do outro lado da linha telefônica – suscitou muita fantasia sexual entre os clientes do sexo masculino. Por ordem superior, as telefonistas reagiam a todas as propostas de caráter privado com a resposta-padrão: - “Está ocupado. Avisarei quando estiver livre”. Mas quando aparentemente se tratava de um pedido sério, as telefonistas reagiam de forma pessoal, afetivamente bem mais amigável. Neste sentido, entre elas ocorria o que “podia-se dizer que se pretendia falar com fulano de tal e não se sabia o número. A telefonista buscava o número e efetuava a ligação. As telefonistas tinham um grande relógio à frente e davam a informação”. Sua função é operar o processo de trabalho e comunicação de equipamentos de reprodução da voz humana, atender chamadas simultaneamente, transferir, cadastrar e completar chamadas telefônicas.

Comparativamente o diretor do Museu da Comunicação, sabia também quanto ganhavam as telefonistas: - “Era o mesmo que em outras profissões, como secretária ou estenotipista. A telefonista recebia um salário mais ou menos igual ao das outras colegas. Não era um salário com o qual se pudesse sustentar uma família e nem era o sentido dele. A remuneração deveria ser suficiente para sustentar as moças solteiras. E, para isto, era suficiente”. O emprego era cobiçado. No final do século XIX, só existiam algumas centenas de telefones nas grandes metrópoles alemãs. Mas o número aumentou rapidamente para dezenas de milhares. E a quantidade de telefonistas aumentou na mesma proporção. Em 1897, existiam cerca de 4 mil telefonistas na Alemanha. Dez anos depois, já eram mais de 16 mil. A era das telefonistas terminou com a invenção do telefone de discagem direta e ligação automática. A partir de 1966, as telefonistas  alemães passaram a cuidar exclusivamente de serviços especiais de auxílio à lista, o que representava do ponto de vista marxista a passagem da subsunção real do trabalho. A subsunção formal, a qual Marx se refere, é a primeira forma de subordinação do trabalho ao capital para valorização deste e que tem como pressuposto a separação do produtor direto e a sua transformação em trabalhador assalariado, condição esta que impõe a subordinação deste ao capitalista que se apropria desses meios, monopolizando e transformando-os em capital, em forças de coerção contra os trabalhadores.
          A forma de trabalho dentro da qual muitos indivíduos trabalham de modo planejado uns ao lado dos outros e em conjunto, no mesmo processo de produção ou em processos  de produção diferentes porém conexos chama-se cooperação. Assim como o poder ofensivo de um esquadrão de cavalaria ou o poder defensivo de um regimento de infantaria são essencialmente diferentes dos poderes ofensivos e defensivos de cada um dos cavaleiros ou soldados de infantaria tomados individualmente, também a soma total das forças mecânicas exercidas por trabalhadores isolados difere da força social gerada quando muitas mãos atuam simultaneamente na mesma operação indivisa, por exemplo, quando se trata de erguer um fardo pesado, girar uma manivela ou remover um obstáculo. Nesses casos, o efeito do trabalho combinado ou não poderia em absoluto ser produzido pelo trabalho isolado, ou poderia apenas em um período de tempo muito mais longo, ou em escala muito reduzida. Aqui não se trata somente do aumento  da força produtiva individual por meio da cooperação, mas da criação de uma força produtiva que tem de ser, por si mesma, uma força de massas. A razão disso está em que o homem é, por natureza, se não um animal político, como diz Aristóteles, em todo caso um animal social. As mãos do trabalhador coletivo transportam com mais rapidez o que fariam as duas mãos de cada trabalhador individual no mesmo espaço e menos tempo.
Nesse processo dá-se início à contradição essencial do sistema capitalista, a produção social da riqueza e apropriação privada. Tem-se a desigualdade social como uma das principais implicações da subordinação formal do trabalho ao capital nas relações sociais. A vida social deriva inexoravelmente de uma dupla fonte de experiências: a similitude das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo na modernidade individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes no meio do mesmo tipo de comportamento coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união. Esta divisão dá origem às regras que determinam  relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. Destes elementos técnicos e sociais da civilização, a ciência nada mais é que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. E para que as sociedades possam conviver nas condições de existência que lhes são dadas, é necessário que o campo da consciência se estenda e se esclareça. No caso de empresas com gestão de contas de telefonia esse cuidado deve ser ainda maior. Quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança social, porque não vê depressa o que é necessário mudar. Nem em que sentido é preciso mudar.
 Uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança risível. Eis porque é necessário que a inteligência guiada disciplinarmente pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Tais sentimentos são capazes de inspirar não apenas esses sacrifícios cotidianos, mas também atos de renúncia completa e de abnegação exclusiva. A sociedade aprende a ver os membros que a compõem como cooperadores que ela não pode dispensar e para com os quais tem deveres. Na realidade, a cooperação também tem sua moralidade intrínseca. Há apenas motivos para crer, que, em nossas sociedades, essa moralidade ainda não tem todo o desenvolvimento que lhes seria necessário. Daí resulta duas grandes correntes da vida social, que correspondem dois tipos de estrutura não menos diferentes. Dessas correntes, a que tem sua origem nas similitudes sociais corre a princípio só e sem rival. A mobilidade é dependente da estrutura de status e ocupações em uma dada sociedade. A ocupação da telefonista é mais uma profissão em extinção no processo de globalização da comunicação na sociedade.
     A extensão de diferentes posições sociais e a maneira pela qual elas são interdependentes e se relacionam fornecem a estrutura social global de tais posições. Estas dimensões diferentes de mobilidade social podem ser classificadas em termos de tipos de “capital” que contribuem para mudanças na mobilidade diferentes. Adicionando-se a isso as diferentes dimensões da estrutura econômica, as formas de prestígio e poder temos o potencial de complexidade de determinado sistema de estratificação social. Além disso, em que sociedade pode ser vista como variáveis independentes que podem explicar diferenças na mobilidade social, em diferentes tempos sociais e lugares, em diferentes sistemas de estratificação. Neste sentido é que compreendemos as variáveis que contribuem como intervenientes para a avaliação do rendimento, ou riqueza, e quando afetam o status, classe social e a desigualdade  no âmbito da mobilidade social. Estes incluem sexo ou gênero, raça ou etnia e idade. A divisão da sociedade em classes é consequência dos diferentes papéis que os grupos sociais têm no processo de produção, ocupado por cada classe que depende o nível de fortuna e de rendimento, o gênero de vida e numerosas características culturais das diferentes classes. Classe social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no processo de produção e que têm afinidades eletivas (românticas) tanto quanto políticas e ideológicas.

Bibliografia geral consultada.

MÖDERLER, Catrin, “1878: Surge a Profissão de Telefonista”. In: https://www.dw.com/pt-br/25/01/1878; CHAPOULIE, Jean-Michel, “Sur l`Analyse Sociologique des Groupes Professionnels”. In: Revue Française de Sociologie, nº XIV, 1973; pp. 86-114; MARX, Carlos, El Capital. Crítica de la Economia Política. Libro Primeiro. Buenos Aires: Editorial Cartago, 1973, cap. XIII - La Cooperación, pp. 321 e ss.; COELHO NETTO, José Teixeira, Semiótica, Informação e Comunicação. 5ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 1999; BOYER, Robert; FREYSSENET, Michel, Les Modèles Productifs. Paris: Éditions La Dècouverte, 2000; BARRETO, Fernanda Lima, O Sofrimento Psíquico e o Processo de Produção no Setor de Telefonia: Tentativa de Compreensão de uma Atividade com Caráter Patogênico. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2001; LIMA, Fabiana Batistucci de, Stress, Qualidade de Vida, Prazer e Sofrimento no Trabalho de Call Center. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Departamento de Psicologia. Campinas: Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2004; SUBTIL, Filipa, “Tecnologia, Economia e Política: O Telégrafo como Antecessor da Internet”. In: Estudos em Comunicação, nº 15 Esp. 25-40 Maio de 2014; BARAVIEIRA, Paula Belini, Aplicação de uma Rede Neural Artificial para a Avaliação da Rugosidade e Soprosidade Vocal. Tese de Doutorado em Bioengenharia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; SOUZA, Tatiele Pereira de, Trabalho, Profissionalização, Identidade e Relações de Gênero no Campo da Tecnologia da Informação. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Ciências Sociais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016; VECCHI, Fernando, Política, Judiciário e Mídia: A Divulgação das Interceptações Telefônicas entreLuiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dissertação de Mestrado.Programa de Pós-graduação em Ciências Criminais. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2018; ZAGANELLI, Bárbara Martins, A Divulgação Científica nos Telejornais Brasileiros e seus Impactos Sociais no Fortalecimento da Cidadania. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018;  RODRIGUES, Mauro Fonseca, Novo Conjunto de Indicadores de Desempenho Operacional para Redes Elétricas Inteligentes por Meio da Lógica Fuzzy. Tese de Doutorado. Programa de Pòs-Graduação em Engenharia Elétrica. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2020; entre outros.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Curva Turva do Itaperi - A Política no Campus Universitário da UECE.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

             “O simples guarda o enigma do que é grande e permanece”. Martin Heidegger


           
        A designação campus ou cidade universitária acabaram por definir o mesmo espaço com os mesmos objetivos praticados. Cidade Universitária era a aspiração inicial dos campi instalados no Brasil: uma pequena cidade, apartada daquelas que poderíamos chamar de regulares. Esse núcleo teria a capacidade de oferecer ensino, mas também de abrigar centros de pesquisa, acolher alunos e professores, oferecer, enfim, todos os serviços que qualquer cidade estruturada oferece. Os serviços que os campi brasileiros oferecem – mesmo um dos maiores, o da Universidade de São Paulo (USP) são restritos e insuficientes para os seus usuários. Serviços, como transportes públicos, só funcionam com regularidade nos dias úteis e outros comércios necessários à subsistência são raros e na maioria das vezes quase inexistentes. Os campi não são autossuficientes e por duas razões políticas: 1) Dependem  da governabilidade das cidades em que estão localizados; 2) Ipso facto, a cidade universitária politicamente não passa de uma aspiração administrativa que nem sempre se realizou.  Entendemos que Cidade Universitária é uma expressão que designa campi universitários que se caracterizam em grandes complexos arquitetônicos e também urbanísticos, sendo considerada a melhor forma de estruturação de uma Instituição de Ensino Superior (IES), pois devido ao grandioso espaço físico, toda estrutura: unidades acadêmicas, laboratórios, hospitais, campos experimentais, complexo desportivo, estacionamentos e congêneres têm condições de ser instalado em um único espaço, assim como há fácil circulação de todos os tipos de transporte, desde bicicletas até carretas.
        Campus é o conceito mais apropriado. Trata-se de um território fechado, com administração independente e que abriga espaços de ensino, aprendizagem e pesquisa (cf. Pereira, 2017). Reúnem alguns poucos serviços fundamentais tais como: refeitórios, lanchonetes, farmácias, fotocopiadora, papelaria e um conjunto de praticas sociais desportivas para o cotidiano da comunidade. O sonho da cidade universitária autônoma e independente do Estado, no Brasil, ainda é uma imaginária utopia. Por falta de verbas necessárias, este ideal vem sendo postergado e nem sempre concluído. A história social dos diferentes campi universitários, ressalvados alguns aspectos particulares, é muito semelhante. O Estado desapropria ou, às vezes, “ganha” uma determinada área, geralmente distante da cidade por ser menos onerosa. Solicita a contribuição de alguns profissionais para a elaboração de um plano e um projeto arquitetônico. Realiza solenidades, descerra placas e inicia as obras que, normalmente, intermitentes duram pouco tempo. As verbas terminam e a obra do campus permanece inconclusa. Nova administração, novas esperanças, verbas e equipe, geralmente composta por docentes aparentemente titulados: um novo plano é realizado, novas metas são definidas. Realiza-se o que a verba permite. Fim da verba, fim da equipe, do plano e quase sempre das obras.





          O trabalho do conhecimento nem sempre pode ser equilibrado e sereno: ele depende de aventuras espirituais apaixonadas e apaixonantes, capazes de proporcionar “iluminações profanas”, capazes de romper a relação imaginária individual (sonho) e coletiva (os ritos, os mitos, os símbolos), que de algum modo aprisiona a consciência a esmagadora supremacia da continuidade sobre a descontinuidade na compreensão do movimento real. Os indivíduos isolados pela competição desenfreada em seu trabalho, nas cidades, típica da modernidade, não dispõem mais de condições sociais para digerir experiências, á luz de uma sabedoria acumulada pela comunidade, como faz em sua historicidade; são bombardeados por choques que precisam ser assimilados. As velhas e por vezes boas narrativas que pressupunham um intercâmbio vivo entre os membros da coletividade, são substituídas pela miríade de informações circunstanciais de escassíssima durabilidade, superficiais, fugazes, efêmeras, algumas através do jogo sujo na luta pelo poder do cargos. Nessas condições sociais e políticas globais da reprodutibilidade técnica, da produção artística, estética e filosófica, ora com critérios utilitários por certo negativos que resultam na banalização. A história se apresenta a nós quase sempre como um desafio no tempo-de-agora. Lidando com a história, em geral partimos das urgências do presente. Para enfrentarmos os perigos que o tempo-de-agora está nos trazendo, precisamos estar atentos e fortes (sem temos tempo de temer a morte) para a captação dos sinais enviados do passado, pelos rebeldes e lutadores que nos precederam e que podem nos reanimar através das estratégias de saber-poder.
Sociologicamente essa categoria tempo-de-agora, proporciona entendermos ser imprescindível a exposição de algumas notas introdutórias sobre a sua crítica da modernidade, quando em contato com o marxismo, no famoso ensaio: Teses Sobre o Conceito de História, o último redigido pelo autor, em princípios de 1940, Benjamin, influenciado por seus estudos sobre o Romantismo, tentará compreender os efeitos da modernidade sobre a tradição, a experiência coletiva e o sentido da narração. Para a sétima gestão administrativa da Universidade Estadual do Ceará foram nomeados, em 24 de maio de 1996, o professor Dr. Manassés Claudino Fonteles no cargo de Reitor, e o professor MSc. Francisco de Assis Moura Araripe, que assumiu a Vice-Reitoria em 10 de junho de 1996,  nomeados pelo fabuloso governador  Tasso Ribeiro Jereissati (PMDB/PSDB). Reeleito para o terceiro mandato em 1998, tornou-se o segundo político a governar o Estado por três vezes em quase 110 anos de história republicana. Em 22 de maio de 2000, os professores Manassés Claudino Fonteles e Francisco de Assis Moura Araripe assumiram seu segundo reitorado. Em 06 de outubro de 2003 o professor Manassés Fonteles afastou-se e assumiu como reitor o professor Francisco de Assis Moura Araripe, terminando o mandato em 22 de maio de 2004, que comandou no período de 2008 a 2012, e foi concluída pelo atual reitor, professor Dr. José Jackson Coelho Sampaio.
          O nome Itaperi representa a sobrevivência etnológica Tupinambá (cf. Fernandes, 1970) de significado “pequena aldeia no meio da grande floresta”. O bairro é sinônimo de mudanças e crescimento urbano, tendo em torno de 23 mil habitantes, com uma área total de 2.456 km². Reclama atenção pelo mimetismo sociológico de algumas ruas com nomes (cf. Ginzburg; Poni, 1979) que remetem à alguns países tendo como exemplo: Rua Equador, Alemanha, Peru, Austrália, Suécia, entre outros. O Itaperi é ladeado pelos bairros: Maraponga, Parque Dois Irmãos, Serrinha, Parangaba, Passaré e Dendê.  O Itaperi é um dos 19 bairros que fazem parte da Regional IV de Fortaleza. Um bairro que antes oferecia de forma escassa os serviços básicos para a sociedade. Mas conta com bancos, casas lotéricas, Policlínica, Unidade de Pronto Atendimento, 24 horas, ininterruptas, em todos os dias da semana. Com equipe assistencial multiprofissional qualificada e compatível com as necessidades de atendimento de cada localidade, com poucos anos de funcionamento na localidade, escola municipal, creche e também a precária Universidade Estadual do Ceará. O bairro ainda dispõe do juizado especial, da 19ª Unidade do Juizado Especial Cível e Criminal da cidade de Fortaleza. A população é beneficiada pela beleza da lagoa que se encontra dentro da universidade, reconhecida pelos moradores como “Lagoa da UECE”.
O Restaurante Universitário (RU) é uma unidade acadêmica de assistência estudantil vinculada a Pró-Reitoria de Políticas Estudantis, tendo como escopo e atividade principal o atendimento à comunidade universitária. Promovendo a manutenção da saúde de seus clientes através do fornecimento de uma alimentação balanceada e diversificada, produzida dentro de um padrão de qualidade, preocupando-se com a diversidade de hábitos alimentares presentes no Ceará. O funcionamento do restaurante na universidade produz impactos sociais e acadêmicos de bem-estar social, ao possibilitar: a) Sobrevivência do estudante na Universidade, sobretudo daqueles oriundos de família de baixa renda (60,24 %) dos alunos da Universidade Estadual do Ceará (UECE) são historicamente de famílias pobres cuja renda econômica situa-se na faixa de menos de 1 a 3 salários mínimos, que dependem do restaurante como condição presencial na Universidade; b) contribui na diminuição dos índices de evasão escolar universitária; c) garantia de alimentação balanceada, de qualidade, em conformidade com parâmetros técnicos de alimentação saudável e das necessidades diárias de reposição alimentar por indivíduos;  d) fortalecimento da comunidade universitária ao funcionar como apoio a intercâmbios acadêmicos de estudantes em âmbitos local, estadual e nacional; e) o campus Itaperi é agregador de sociabilidades e elos da comunidade acadêmica; f) é, também, espaço de estágios e de formação curricular e profissional de estudantes de áreas de conhecimento afins como Nutrição, Educação Física,  Administração etc.; e, g) em suas finalidades de apoiar a permanência na Universidade, concorre, mediatamente, para a qualidade da formação acadêmica e profissional do estudante.
       Metodologicamente não por acaso, Walter Benjamin antevê na interpretação de Alöis Riegl a primeira evidência de que já havia a compreensão de que as profundas transformações em curso pela via da “reprodutibilidade técnica” da humanidade iriam alterar a sua correspondente forma de percepção e, desse modo, condicionaria uma teoria com novas explicações. Para compreender mais profundamente o movimento dialético do real, era preciso participar desse movimento, fazendo-o, e o desafio de fazer a história, de romper a má continuidade constituída pela tirania do “sempre-igual”, é um desafio tanto mais terrível quanto mais insidiosa é a ação corruptora da ideologia, no caso da universidade pública, sobre a nossa consciência. Para ele, o conceito deveria atuar como um mediador na relação entre as ideias e o erro da empiria. A leitura da obra de Riegl teria dado um impulso decisivo à elaboração do conceito de aura de Benjamin. Deve-se considerar que há entre estes dois autores condições s e possibilidades de aproximação e distanciamento. Os valores determinados por Riegl não correspondem aos que foram desenvolvidos por Benjamin. Muito menos os valores representados por Benjamin, em especial o valor de exposição, e mesmo aqueles que se referem a Riegl, com interesse destacado historicamente no “valor estético de antiguidade”.
O bairro é uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o espaço quantificado. Ipso facto, a contrapartida desse tipo de imposição é para o usuário a certeza de ser reconhecido e, portanto, considerado afetivamente por seus pares, e fundar assim em benefício próprio, uma relação de forças nas diversas trajetórias que percorre. O bairro é por definição, um domínio do ambiente social, pois constitui para o usuário uma parcela reconhecida do espaço urbano na qual positiva ou negativamente ele se sente reconhecido. Pode-se, apreender o bairro, sociologicamente falando, como esta porção do espaço público em que se insinua um “espaço privado particularizado”, pelo fato do uso cotidiano desse espaço social integrado. A fixidez do habitat dos usuários, o costume da vizinhança, os processos de reconhecimento que se estabelecem á coexistência em um mesmo território urbano, todos esses elementos práticos se nos oferecem como imensos campos de exploração em vista de compreender um pouco melhor esta grande desconhecida que é a nossa vida cotidiana acadêmica.
           O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário ordinário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. Diante do conjunto da cidade, atravancado por códigos que o usuário não domina, mas que deve assimilar para poder viver aí, em face de uma configuração dos lugares impostos pelo urbanismo, diante dos desníveis sociais internos ao espaço urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar de aconchego, itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que ele soube, por si mesmo, condicionar ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro representa uma noção dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer uma apropriação. A trivialidade desse processo partilhado, torna inaparente a sua complexidade enquanto prática e a sua urgência para satisfazer o desejo urbano dos usuários da cidade. O reitor da universidade vive em sua incubadora de maldade. Próximo da casta que o elegeu, para lembrarmos de Elias Canetti que afirma: - “Não consigo levar a sério as pessoas com orgulho de casta”, mal consegue discernir a doença de uma mangueira na calçada da Avenida Dr. Silas Munguba, por problemas fitossanitários, porém situada por dentro do gradil do campus.   
O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário ordinário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. Diante do conjunto da cidade, atravancado por códigos que o usuário não domina, mas que deve assimilar para poder viver aí, em face de uma configuração dos lugares impostos pelo urbanismo, diante dos desníveis sociais internos ao espaço urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar de aconchego, itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que ele soube, por si mesmo, impor ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro representa uma noção dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer uma apropriação. A trivialidade desse processo, partilhado por cidadãos, torna inaparente a sua complexidade cultural e a sua urgência para satisfazer o desejo urbano dos usuários da cidade.    
 Pelo fato concreto do seu uso habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização progressiva do espaço público. O bairro constitui o termo médio de uma dialética existencial entre o dentro e o fora. E é na tensão entre esses dois termos, um dentro e um fora, que vai aos poucos se tornando o prolongamento de um dentro, que se efetua a apropriação do espaço. Um bairro poder-se-ia dizer, é assim uma ampliação do habitáculo; pelo usuário, ele se resume à soma das trajetórias individuais inauguradas a partir do seu local conscrito na origem de sua habitação. Não é propriamente uma superfície urbana transparente para todos ou estatisticamente mensurável, mas antes as condições e possibilidades oferecidas a cada um de inscrever na cidade um sem-número de trajetórias cujo núcleo irredutível continua sendo sempre a esfera do privado.  Existe, além disso, a elucidação de uma analogia formal entre o bairro e a moradia: cada um deles tem, com os limites que lhe são próprios, a mais alta taxa de controle pessoal possível, pois tanto aqueles como esta são os únicos lugares vazios onde, de maneira diferente, se pode fazer aquilo que se quiser. O limite público/privado, que parece ser a estrutura fundadora do bairro para a prática de um usuário, não é apenas separação técnica da divisão do trabalho, mas dialeticamente constitui uma separação que une.
Na gestão anterior da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o professor Assis Araripe, inaugurou o Complexo Poliesportivo, com uma área de 24.417,74 m² com  investimentos no valor de R$ 5,10 milhões, recursos oriundos do governo do Estado e próprios da Universidade. Essa é uma das seis obras que o Reitor Assis Araripe entrega à comunidade acadêmica, quando se despede da Administração Superior da Uece, ao completar o período à frente da Reitoria. Professor Araripe canalizou muito de seus esforços para completar todas essas obras, em que está incluído o Ginásio Poliesportivo, que irá beneficiar o Curso de Educação Física, que comemora em 2012, dez anos de existência. Segundo o Reitor Assis Araripe, o Complexo é composto de Ginásio Poliesportivo, piscina olímpica com 50m x 25m, quadra oficial, duas quadras para treinamento, campo de futebol oficial, dois lances de arquibancada, pista de atletismo, vestiário feminino e masculino com adaptação para portador de deficiência física, Academias de Musculação e de Pilates, salas de dança, ginástica, lutas, Laboratórios e Coordenação do Curso contando com secretaria, salas do coordenador, de orientação de monografia, de reunião, dos professores e deposito de material. Com todos esses equipamentos, o Complexo Poliesportivo da Uece tinha como escopo oferecer os seguintes serviços: Academia Popular; Aula de Ginástica Aeróbica; Aula de Natação; Pilates; Escolinha de Futebol, Vôlei e Basquete, através de projetos de Extensão com a Comunidade.
A Administração Superior da Universidade Estadual do Ceará através do reitor professor Francisco de Assis Moura Araripe e do vice-reitor, professor Antonio de Oliveira Gomes Neto, inauguraram duas grandes obras sociais importantes para a comunidade acadêmica e circunvizinha à universidade. Por volta das 16h foi inaugurado o Complexo Poliesportivo da Universidade Estadual do Ceará no Campus do Itaperi, a obra que fica por trás da lagoa possui três quadras poliesportivas, sendo duas para treino e uma para competições oficiais, além de campo de futebol com dimensões oficiais com dois lances de arquibancadas, uma piscina olímpica e uma semiolímpica, academia de musculação e de pilates, vestiários e centro administrativo. A próxima etapa tinha como intenção compor a construção da pista de atletismo profissional, duas quadras de vôlei de areia e uma quadra de futebol de areia e no entorno do complexo a criação de uma concha acústica. Veja o vídeo de Eduardo Ellery, professor de Educação Física que estava no corpo de frente desta obra.
A qualidade de vida no trabalho é um tema recorrente que merece destaque pelo fato de se tratar de questões sociais (interesse) políticas (lutas pelo poder) e afetivas (honra e prestígio)  relacionadas diretamente com a maneira com que os indivíduos conduzem sua forma de vida. A qualidade de vida no trabalho pode ser definida como o conjunto das ações sociais dentro da empresa que envolve a implantação e manutenção de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho. Representa, portanto, como a gestão e a educação para o bem-estar no trabalho, com decisões e escolhas baseadas na cultura organizacional pluralista e democrática seguindo o estilo de vida dos diferentes segmentos ocupacionais. Apesar de ser uma linha de estudo recente e necessitar de detalhamento de situações concretas para melhor compreensão do tema, a qualidade de vida no ambiente de trabalho é praticamente ignorada na instituição, mas diversas concepções de teorias trouxeram à tona fatores pioneiros para o desenvolvimento da atividade administrativa, em função das condições adequadas de trabalho, incentivos e recompensas salariais oportunas, cuidados com a saúde do trabalhador etc.
O novo Restaurante Universitário (RU) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) foi inaugurado na presença de estudantes, pró-reitores, servidores e funcionários do governo do Estado do Ceará. A cerimônia se deu no ambiente de convivência do Novo RU, quando na ocasião falaram o pró-reitor de Políticas Estudantis, prof. Dr. João Carlos de Holanda Cardoso, que agradeceu o esforço do Departamento de Engenharia e da Sra. Zoraide, funcionária responsável pelo restaurante universitário. Após este momento, o reitor prof. Francisco de Assis Araripe falou sobre a obra e seus processos burocráticos como as licitações, o porte da obra e o comparativo do por que desta ocorrer de forma lenta se comparado a obras da Copa de 2014 quando indagado por um ativo estudante. O reitor também convidou os funcionários e novos contratados para o funcionamento do Restaurante Universitário a se posicionarem na cerimônia e ressaltou a importância dos estudantes na realização desta obra. Posteriormente, o ato simbólico de inauguração foi realizado pelo reitor Francisco de Assis Moura Araripe, Zoraide e pelo presidente do CADM-UECE, Henrique Cabral Moreira, representando a comunidade acadêmica quando convidado pela Administração Superior da Universidade Estadual do Ceará.  
A concepção sociológica de Axel Honneth problematiza a “invisibilidade” como uma patologia social caracterizada por formas intencionais de tornar pessoas invisíveis. De forma semelhante à interpretação da análise através da ideia de alienação/reificação, de Marx à Lukács, a invisibilidade também é tratada de um ponto de vista epistemológico e moral, a partir da teoria do reconhecimento. Um ato de reconhecimento pressupõe dois elementos: 1) uma identificação cognitiva de uma pessoa como dotada de propriedades particulares em uma situação particular, e: 2) a confirmação da cognição da existência da outra pessoa como dotada de características específicas, através de ações, gestos e expressões faciais positivas manifestados por quem a percebe. A invisibilidade, por outro lado, significa mais do que a negação desses dois elementos. Sintetizada em expressões como a de um “olhar através”, ela nega a existência do outro do ponto de vista perceptual, como se ele não estivesse presente no campo de observação da visão de quem olha. Vale lembrar na análise uma distinção muito sofisticada entre “invisibilidade” e “visibilidade”, de modo que, embora ambas as ideias sejam aparentemente espelhadas, elas conteriam em si mecanismos de funcionamento fundamentalmente diferentes.
A relação sociológica de entrada & saída, dentro & fora se imiscui dentre outras relações sociais como casa & trabalho, conhecido & desconhecido e assim por diante, mas representa sempre uma relação social entre uma pessoa e o mundo material e social, condicionado por uma dialética constitutiva da autoconsciência que vai haurir, nesse movimento de ir e vir, de mistura social e de recolhimento íntimo, a certeza de si mesma enquanto imediatamente social. Essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, por exemplo, Hegel descreve um momento que é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência da concepção de ciência: o objeto. O outro momento é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser. Trata-se assim da singularidade imediata de apreensão do objeto de pensamento.
         Na universidade o homem de certo modo habita e não habita. Se por habitar entende-se simplesmente uma residência. Quando se fala em habitar, representa-se costumeiramente um comportamento que o homem cumpre e realiza em meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos simplesmente, mas segundo Heidegger (2006), construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir (“bauen”) diz que “o homem é à medida que habita”. Mais que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. Em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, colere, cultura, e construir como edificar construções, aedificare – estão contidos no sentido próprio de bauen, de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma tão exclusiva e bela, “habitual”. Isto esclarece porque acontece um “construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo e edificação”. O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar? Apenas quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo.
Ambos são, no entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Ipso facto construir e pensar pertence ao habitar. Permanecem em seus limites. Quando aprendemos a pensar que tanto um como outro, provém da obra de longa experiência de um exercício incessante, crítico e independente de pensar. A cultura intelectual, portanto, em sentido próprio, refere-se a cada pessoa humana em particular e como um todo irredutível. Somos um ersatz: a cultura social é subsidiária da cultura intelectual, já que a sociedade existe para o homem e não o homem para a sociedade do trabalho. Embora seja esta uma condição indispensável para a realização daquele. Não há cultura intelectual liberta sem cultura social organizada, sem um Departamento de Comunicação e Artes, sem a criação de um curso de graduação e pós-graduação em Comunicação Social & Cinema, e, além disso, absorvendo a Prefeitura do campus e a Editora Universitária. A cultura intelectual representa a passagem do domínio e controle da informação da nossa individualidade total. Pela informação recebemos de fora e de bom grado, os elementos que vão permitir a eclosão de nossas possibilidades naturais. É a função da formação hermenêutica quando aglutinamos e assimilamos esses elementos exteriores, de tipo variado ou mesmo dialético, reduzindo-os a uma unidade irredutível e elaborando a nossa personalidade. Essa personalidade se projeta para fora no sentido da atividade de comunicação e de criação, que vai por sua vez fecundar a coletividade. 
Bibliografia geral consultada.

FERNANDES, Florestan, A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. 2ª edição. São Paulo: Livraria Pioneira Editora; Editora da Universidade de São Paulo, 1970; FOUCAULT, Michel, Ceci n`est pas un pipe. Paris: Éditions Fata Morgana, 1973; GINZBURG, Carlo; PONI, Carlo, “Il Nome e il Come: Scambi Ineguale e Mercato Storiografico. In: Quaderni Storici, n 40, 1979; OLIVEIRA, João Lúcio Farias de, Resistindo, Conciliando e Vivendo: O Quotidiano dos Moradores da Perferia de Fortaleza. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 1997; GERVAIS, Fernando; LOIOLA, Francisco Antonio, Cognição Situada e a Formação Prática para o Ensino. In: Educação em Debate. Fortaleza, nº 39, pp. 15-25, 2000; CAMPOS, Geórgia Cristina Roveda, Análise do Espaço Físico de um Campus Universitário sob a Perspectiva do Usuário. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003; KÜHL, Beatriz Mugayar, História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. In: Revista Centro de Preservação da Cultura, Volume 1,  1, pp. 16-40, 2006; MAFFESOLI, Michel, Homo Eroticus: Des Communios Émotionelles. Paris: Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS Éditions, 2012; SERPA, Fátima, “Uece Inaugura Centro Poliesportivo e Restaurante Universitário”. Disponível em: https://www.casacivil.ce.gov.br/2012/05/21/; COSTA, André Oliveira, Sujeito < > Cultura. Uma Relação com Efeitos de Transmissão. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação  em Educação. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014; LIMA, Marteana Ferreira de, A Alienação em Lukács: Fundamentos para o Entendimento do Complexo da Educação. Tese de Doutorado.  Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; GREGORI, Maria Filomena, Prazeres Perigosos: Erotismo, Gênero e Limites da Sexualidade. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2016; PEREIRA, Fúlvio Teixeira de Barros, Exporting Progress: Os Norte-Americanos e o Planejamento do Campus no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; ENGERROFF, Ana Martina Baron, A Sociologia do Ensino Médio: A Produção de Sentido para a Disciplina através dos Livros Didáticos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2017; entre outros.