segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Salas de Cinema – Cinéfilos, Massificação & Estética do Desconforto.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*
 
O cinema é trabalho de equipe; o novo deve ser feito por equipes”. Alejo Carpentier  
                

A realidade é “tudo o que existe”. Em sentido mais livre, o termo inclui tudo o que é, seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência, arte ou qualquer outro sistema de análise. O real é tido como aquilo que existe fora ou dentro da mente. A ilusão quando existente é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode - ou não - ser existente e real também no mundo externo. O que não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado. Quanto ao externo - o fato de poder ser percebido só pela mente - torna-se sinônimo de interpretação da realidade, de uma aproximação com a verdade. A relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente apreende a realidade, está no cerne da questão da  representação sensível do objeto e da ideia do objeto como interpretação. A mente tranquila em meio à agitação e estímulos expostos na modernidade não é uma atividade social que pode parecer um luxo.

Marx só pôde se tornar Marx fundando uma teoria da história e uma filosofia da distinção histórica entre ideologia e ciência e que em última análise essa fundação se tenha consumado na dissipação do que se chama “mito religioso da leitura”.  Mas é possível afirmar que na cultura da história humana nosso presente corre o risco de aparecer um dia como que assinalado pela provação mais dramática e mais laboriosa possível. A descoberta e o aprendizado do sentido dos atos mais “simples” da existência: ver, escutar, falar, ler. Não é à psicologia que devemos estes conceitos perturbadores, mas a homens como Marx, Nietzsche e Freud. Depois de Freud é que começamos a suspeitar do quer-dizer o escutar, e, portanto o falar (e o calar) e o que quer-dizer do falar e do escutar revela, sob a inocência do falar e do escutar, a profundidade de uma fala inteiramente diversa, a fala do inconsciente. Freud refere-se aos aspectos que compõem um estado instintivo humano e que acaba por se tornar inibido em prol da convivência em comunidade. A inibição destes aspectos sociológicos que são instintivos, consiste numa privação de características que são inatas aos homens. Ipso facto, esta própria privação, acaba por consistir em determinados descontentamentos

Reconhecer a verdade é vê-la com os “olhos da alma”, ou, com os “olhos da inteligência” no sentido acadêmico. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja “mundo visível”, assim também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às ideias sua bondade (sua perfeição) para que haja “mundo inteligível”. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam da bondade (ou perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma. Como na treva não há visibilidade, na ignorância não há verdade. A e a do ponto de vista da representação simbólica são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as coisas: são privações de visão e privação de conhecimento.

A realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e verossimilhança. O problema da realidade é matéria presente em todas as ciências e, com particular importância, nas ciências que têm como objeto de estudo o próprio homem: a antropologia e todas as disciplinas de conhecimento humanista que nela estão implicadas: a filosofia, a psicologia, a semiologia e muitas outras, além das técnicas e das artes visuais. Na interpretação ou representação do real, enquanto verdade subjetiva ou crença, a realidade está sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinado, por ser um fato social, ato ou uma possibilidade, algo adquirido a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido. Dessa forma, a constituição das coisas e as nossas relações dependem de um intrincado contexto social, econômico e político, que ao longo da história existência humana cria a lente entre a aprendizagem e o desejo. Nesta medida o que vamos aceitar como realidade na interpretação da vida social? A realidade é construída pelo sujeito consciente; ela não é dada pronta para ser descoberta. 

Sala de cinema, ou simplesmente, o ambiente de um cinema é qualquer sala onde ocorrem projeções de filmes de cinema. Mas especialmente uma sala de espetáculos de caráter comercial construída e equipada para esta finalidade. Nas salas comerciais, cada espectador compra um bilhete para ter acesso ao filme a que irá assistir. Cinema representa a técnica e a arte de fixar e de reproduzir imagens que suscitam a interpretação de tempo e movimento, assim como a indústria cultural que reproduz estas imagens. As obras cinematográficas reconhecidas como filmes são produzidas através da gravação de imagens do mundo com câmeras adequadas. Ou na modernidade intrínseca ao cinema pela sua criação utilizando técnicas de animação ou efeitos visuais (cf. Canevacci, 2001). Os filmes, no cinema, são projetados em uma grande tela que fica diante do auditório, através de um projetor. Os filmes são assim constituídos por uma série ininterrupta formando um ciclo de projeção de imagens impressas em determinado suporte, alinhadas em sequência, chamadas tecnicamente de fotogramas.

Quando essas imagens são projetadas de forma rápida e sucessiva, o espectador, ou seja, o receptor no processo social e técnico comunicativo, tem a ilusão de observar movimento. A cintilação entre os fotogramas não é percebida devido a um efeito conhecido como “persistência da visão”. O olho humano retém uma imagem durante uma fração de segundo após a sua fonte ter saído do campo da visão. O espectador tem assim a ilusão de movimento, uma ilusão em relação à realidade em si, devido a um efeito psicológico chamado “movimento beta”. É uma relação social que reprodução a ilusão de percepção, descrita na pesquisa associativa por Wertheimer (2012). Segundo essa teoria, sobre estudos experimentais e visualização do movimento, onde duas ou mais imagens paradas, entre si surgem uma depois da outra, são aprendidas pelo cérebro como uma única imagem em movimento. A experiência clássica de demonstração do chamado fenômeno beta envolve um indivíduo, ou plateia, fixando uma tela onde são apresentadas duas imagens em sucessão. O cinema é um artefato cultural criado por determinadas culturas contemporâneas que nele se complexificam e que, por sua vez, as afetam mediante um processo de trabalho e comunicação. É uma arte poderosa de entretenimento para educar ou doutrinar. Pode tornar-se um método de persuasão e influenciar cidadãos. É a imagem animada através de processos mecânicos que confere a produção simbólica de comunicação universal.


Em uma sala de cinema, o espectador será conduzido a alterar completamente a concepção presente de tempo e espaço. Irá esquecer temporariamente seus problemas, preocupações, projetos, desejos e transporá sua alma para o universo mágico da “experiência cinema”, independente de qual seja a proposta estética e a estrutura narrativa do filme exibido, mesmo que seja um filme documentário. Todo filme é realizado com o propósito de absorver a atenção do espectador durante seu tempo de exibição. As mudanças tecnológicas sempre trazem novas possibilidades de se ter acesso a produtos audiovisuais, mas a sala de cinema conserva-se como o “templo de uma experiência” só vivenciada nesse local. Aparentemente não há nada de especial numa sala de cinema. Mas em verdade, tudo o que existe é minuciosamente estudado e calculado pragmaticamente para proporcionar conexão de sentido e experiência imediata ao espectador. O cinema serve para que se vivencie a experiência proposta pelo realizador da obra exibida. A sala de cinema é analogamente como um cubo fechado
Le Corbusier em sua obra “Por uma arquitetura” dizia que o cubo é uma das formas primárias que se revela à perfeição diante da luz. Conhecido por ter sido o criador da Unité d`Habitation, conceito sobre o qual começou a trabalhar na década de 1920. E em suas próprias palavras, era talvez o mais belo já que não aceitava ambiguidade. O cubo é um “espaço interior” cujo simbolismo e sentido metafórico são reforçados ao ser/representar um habitáculo minimalista, repetitivo e insensível. São os protagonistas os que têm que preencher esses “vazios” com suas próprias ideias e personalidades. Apesar de ser fortemente metafórico, também possui um forte lado físico. Sua forma, materiais e composição correspondem à arquitetura moderna e contemporânea. Massificado e repetitivo resulta agressivo para o ser humano que o habita. Portanto, na realidade expressa contradição presente em habitações apertadas e carentes de sentido estético e humanista destes dias. Poltronas desconfortáveis, sem espaço suficiente para locomoção, ausência de sinalização para distinguir degraus e saída, falta de barra de segurança ao longo da escada, difícil acesso para chegar e sair das salas de cinema no Brasil.
           É claro que os protagonistas não podem apreciar a beleza da estrutura em que habitam ou se dar conta da coincidência de que seu número coincide com o número de faces da forma que os contem. Não pode ter janelas ou qualquer outro elemento que permita a passagem de luz e som do exterior. Todas as suas ligações com o exterior devem ser feitas de forma a preservar seu interior de qualquer ruído e de luz, da mesma forma que deve preservar os demais ambientes em seu entorno do som dos filmes ali exibidos. Dada a grande diversidade de línguas existentes, é pela dublagem (dobragem) ou pelas legendas, que traduzem o diálogo noutras línguas, que os filmes se tornaram mundialmente populares. A experiência sonora diferenciada e a qualidade na repetição das imagens, está entre as maiores razões e advertências que fazem os espectadores deixarem suas casas para compartilhar publicamente a experiência mais ampla e real/imaginária de representação do produto filme em uma sala de cinema.

O revestimento acústico das paredes é um ponto crucial na qualidade das salas de cinema. Normalmente, as salas de cinema contam com pelo menos uma entrada principal e duas saídas de emergência. Dessa forma, torna-se também muito maior o cuidado com essas áreas que, naturalmente, seriam de perda de som. As portas desses locais são fabricadas em painéis metálicos dobrados, preenchidos com materiais acústicos de alta densidade. No assoalho reside um dos segredos da qualidade acústica das melhores salas de cinema. Em geral o revestimento em carpete, além de absorver os impactos apressados, desajeitados e confusos causados pela circulação das pessoas, atua como um ótimo isolante acústico e térmico no ambiente. Aparentemente  constituído através da lógica globalizada de mercado competitivo. É individualista e, pequeno burguês, na falta de melhor expressão, onde o espectador perde suas qualidades para se transformar em outro tipo de cliente dos shoppings centers, objeto estudado e classificado nos seus hábitos da vida cotidiana e sobre seus interesses de consumo.
Contudo, se o conhecimento do “cliente” é que fornece os filtros necessários para as diretrizes de desempenho da sala de cinema, isto é, quais filmes podem ser agendados para determinado cinema, situado num shopping específico, dentro de uma área delimitada do espaço urbano, a arquitetura e design é quem determinam geometricamente a dimensão do lugar e espaço de consumo. A ascensão desta realidade aguçou uma nova geração de pesquisadores que se debruçaram sobre questões novas, mas negligenciadas, como o mercado exibidor, e outras sintonizadas com os interesses mercadológicos, administrativos e organizacionais em torno dos espaços reproduzidos com os multiplex de várias salas no mesmo espaço, e estruturais e o seu contrário, a sobrevivência dos assim chamados “cinemas de arte” em Belo Horizonte, São Paulo, Salvador etc. Nesse quadro, os estudos de público também foram alvo de atenção, em estudos de Psicologia, que procuram entender, por meio de pesquisas de campo, como um cinema fideliza a relação comunicativa com o seu público, fazendo com que ele sempre volte para novas sessões de filmes e baldes de pipoca.
A situação que a Associação Proteste encontrou nas salas de exibição é preocupante. A Associação visitou em torno de 40 salas com o objetivo de avaliar a higiene, o conforto e a segurança delas. Os resultados foram falhas graves de segurança, desconforto, manutenção e limpeza. Os acessos e saídas também foram observados para verificar a sinalização luminosa e se as passagens são desobstruídas. A situação mais grave foi encontrada no Botafogo Artplex, no Rio de Janeiro, e no Center Lapa e no Sala de Arte Cine XIV, em Salvador. As três salas não tem porta com barras antipânico. No cinema carioca a vinheta inicial do filme informou que a sala possuía esse equipamento, mas não tem. No Cine Vivo, na capital baiana, não havia extintor de incêndio. O do lado de fora ainda estava escondido sob uma escada. A falta de sinalização que indique a saída de emergência e a proibição de fumar é outro grave problema recorrente. A Associação constatou falta de higiene e manutenção das salas e despreparo dos funcionários. Os problemas variam entre cidades; não é possível responsabilizar. Mas é preciso mais fiscalização, ou consulta, para evitar os problemas encontrados.
O interior da sala deve garantir, além do conforto ergonômico do espectador e a qualidade técnica de exibição, a segurança do público. Para atender a esse quesito, a sala deve ser dotada de saídas de emergência amplas, com portas com trava antipânico; luz de emergência no auditório e na cabine; sinalização das entradas e saídas; detectores de fumaça e extintores de incêndio de fácil acesso; corredores de circulação entre as cadeiras e as paredes; corrimãos nos degraus ou rampas e o espaço destinado a cadeiras de rodas. A qualidade técnica de uma sala de projeção determina sua adaptação à função a qual se destina: a projeção de obras audiovisuais. A especificidade da sala de projeção tem relação direta com as características da mídia cinematográfica, a forma como ela registra e reproduz os sons e as imagens e com os aspectos relacionados à percepção visual e auditiva humanas. Esta especificidade se manifesta através de diversos aspectos, cujas características essenciais são definidas por normas técnicas e recomendações de entidades e organizações ligadas à cultura. A norma técnica mais importante sobre o assunto é a “NBR12237 - Projetos e Instalações de Salas de Projeção Cinematográfica”, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
         A ergonomia representa a qualidade contendora da adaptação de um dispositivo concreto a seu operador e à tarefa que ele realiza no tempo de trabalho socialmente necessário. A usabilidade se revela quando os usuários empregam o sistema para alcançar seus objetivos em um determinado contexto de operação. Por outro lado, um problema de ergonomia é identificado quando um aspecto da interface está em desacordo com as características dos usuários e da maneira pela qual ele realiza sua tarefa. A engenharia de fatores humanos continua a ser aplicado na aeronáutica, envelhecimento, transporte, ambiente nuclear, cuidados de saúde, tecnologia da informação, projeto de produtos (design industrial), ambientes virtuais e outros. Kim Vicente, professor de ergonomia da Universidade de Toronto, afirma que o extraordinário acidente ocorrido na usina nuclear de Chernobyl pode ser atribuído ao fato sociológico de os projetistas da instalação não prestarem suficiente atenção aos fatores humanos. – “Os operadores eram treinados, mas a complexidade do reator e dos painéis de controle ultrapassava sua habilidade de perceber o que eles estavam vendo, durando o prelúdio do desastre”. Assuntos de ergonomia aparecem em sistemas e diversos produtos de consumo. 

A ergonomia aplica-se notadamente ao desenvolvimento de ferramentas de ações sistematizadas em virtude da política de qualidade e a critérios de averiguação de sua aplicação, como na assimilação da cultura do bem fazer por bem estar-social e compreender, nas chamadas auditorias ou análises de qualificação, mapeamentos de processos. E assim atinge aos segmentos diversos quando margeia a confiança aos métodos de interpretação e a introdução de novos aplicativos, artefatos de gerenciamento de pessoas inerentes ou inseridas a um grupo social. Os sistemas de qualidade em disseminação, volta-se a racionalizar o homem ao sistema e a interface da pessoa com o método próprio. A ergonomia tem importância especial na análise de acidentes, tendo sido utilizada no processo de investigação das causas do acidente da Usina Nuclear em Three Mile Island na Pensilvânia, Estados Unidos da América, conforme apresentado no Relatório Report of the President`s Commission on the Accident at Three Mile Island, publicado em 1979. No Brasil, as condições ergonômicas de trabalho são regulamentadas pela Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), que também predispõe sobre a “utilização de materiais e mobiliário de ergonomia, condições ambientais, jornada de trabalho, pausas, folgas e normas de produção”.

    A própria concepção arqueológica de André Leroi-Gourhan sugere a “libération de la main”,  condensa essa gama de interesses culturais que se ramificam em várias áreas de conhecimento científicas. Interessa-se pela fabricação de utensílios, pelo simbolismo expresso na arte paleolítica, pela origem da escrita, pela anatomia comparada, pelo comportamento animal, pelo esqueleto humano. Durante 40 anos, mais de uma centena de artigos e vários livros foram dedicados a esta ou aquela parte de sua extensa obra. O símbolo não sendo já de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só dimensão. As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das motivações simbólicas. A classificação social dos grandes símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos abstratos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário individual (sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) cai-se rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão.   

Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos para os devaneios imaginários. De fato, as classificações mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso incluindo arquétipos, atos, trabalhos artísticos, eventos, ou fenómenos naturais, por uma religião ou da imaginação de modo geral literária. A arqueologia é amostral, porque se dedica ao estudo dos vestígios arqueológicos, mas também trabalha com a totalidade da história do local onde usa como motor outras ciências auxiliares como a geologia, história, arquitetura, história de arte, entre outras ciências e áreas de conhecimento. Tanto escolhem normas classificativas a uma ordem de motivação cosmológica e astral, na qual são as grandes sequências das estações, dos meteoros e dos astros que servem de indutores à fabulação, tanto são os elementos de uma física primitiva e sumária que, pelas suas qualidades sensoriais, polarizam os campos de força que se constituem no continuum homogêneo do imaginário social; tanto, se suspeita que são os dados técnicos do microgrupo in statu nascendi ou de grupos que se estendem aos confins linguísticos que fornecem quadros primordiais para os símbolos.

Quer a imaginação individual (sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos)  estreitamente motivada seja pela particularidade da língua, seja pelas funções sociais normativas, se modele na história do pensamento humano sobre matrizes sociológicas e antropológicas, quer pelos seus genes raciais, embora ramos do conhecimento científico comparado como a antropologia, história ou etnologia utilizem-se do conceito de etnia para descreverem a composição de povos societários e grupos Identitários ou culturais,  intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos simbólicos, distribuindo seja as mentalidades imaginárias, sejam os rituais religiosos. Mas, querem ainda, com uma matriz antropológica evolucionista, se tente estabelecer uma hierarquia das grandes formas simbólicas em seu ersatz, compreendido na apreensão do universo mental, os modos de sentir, o âmbito mais espontâneo das representações coletivas e, no limite o inconsciente coletivo de Carl Jung.

Segundo Jung (2000), a hipótese de um inconsciente coletivo pertence àquele tipo de conceito. Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos capazes de ser conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente na medida em que comprovarmos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. O conceito de archetypus só se aplica indiretamente às représentations collectives, na medida em que designar apenas aqueles conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. Representam, hic et nunc, um dado anímico imediato. Como tal, o arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada. Especialmente em níveis mais altos dos ensinamentos secretos, aparecem sob uma forma que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e avalia. Sua manifestação imediata, como a encontramos em sonhos e visões, é mais individual, incompreensível e ingênua do que nos mitos. O arquétipo representa, em essência, um conteúdo inconsciente, que se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta.

Nosso intelecto realizou tremendas proezas enquanto desmoronava nossa morada espiritual. Estamos profundamente convencidos de que apesar dos mais modernos e potentes telescópios refletores construídos nos Estados Unidos da América, não descobriremos nenhum empíreo nas mais longínquas nebulosas; sabemos também que o nosso olhar errará desesperadamente através do vazio mortal dos espaços incomensuráveis. As coisas não melhoram quando a física matemática nos revela o mundo do infinitamente pequeno. Finalmente, desenterramos a sabedoria de todos os tempos e povos, descobrindo que tudo o que há de mais caro e precioso já foi dito na mais bela linguagem. Estendemos as mãos como crianças ávidas e, ao apanhá-lo, pensamos possuí-lo. No entanto, o que possuímos não tem mais validade e as mãos se cansam de reter, pois a riqueza está em toda a parte, até onde o olhar alcança. Temos, seguramente, de percorrer o caminho da água, que sempre tende a descer, se quisermos resgatar o tesouro, a preciosa herança do Pai. No hino gnóstico à alma, o Filho é enviado pelos pais à procura da pérola perdida que caíra da coroa real do Pai. Ela jaz no fundo de um poço, guardada por um dragão, na terra dos egípcios - mundo de concupiscência e embriaguez com todas as suas riquezas físicas e espirituais. O filho e herdeiro parte à procura da jóia, e se esquece de si mesmo e de sua tarefa na orgia dos prazeres mundanos dos egípcios, até que uma carta do pai o lembra do seu dever. Ele põe-se então a caminho em direção à água e mergulha na profundeza sombria do poço, em cujo fundo encontra a pérola, para oferecê-la então à suprema divindade.

 O testemunho do sonho encontra uma violenta resistência por parte da mente consciente, que só reconhece o “espirito” como algo que se encontra no alto. O “espírito” parece “sempre vir de cima”, enquanto tudo o que é turvo e reprovável vem de baixo. Segundo esse modo de ver o espírito significa a máxima liberdade, um flutuar sobre os abismos, uma evasão do cárcere do mundo ctônico, por isso um refúgio para todos os pusilânimes que não querem “tornar-se” algo diverso. Mas a água é tangível e terrestre, também é o fluido do corpo dominado pelo instinto, sangue e fluxo de sangue, o odor do animal e a corporalidade cheia de paixão. O inconsciente é a psique que alcança, a partir da luz diurna de uma consciência espiritual, e moralmente lúcida, o sistema nervoso designado há muito tempo por “simpático”. Este não controla como o sistema cérebro espinal a percepção e a atividade muscular e através delas o ambiente; mantém, no entanto, o equilíbrio da vida sem os órgãos dos sentidos, através das vias misteriosas de excitação, que não só anunciam a natureza mais profunda de outra vida, mas também irradia sobre eia um efeito interno. Trata-se de um sistema extremamente coletivo: a base operativa de toda participation mystique, ao passo que a função cérebro-espinhal culmina na distinção diferenciada do Eu, e só apreende o superficial e exterior por meio de sua relação com o espaço. Esta função social capta tudo como “fora”, ao passo que o sistema simpático tudo vivência como “dentro”.

A atual redação da Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia foi estabelecida pela Portaria nº 3.751, de 23 de novembro de 1990. O Ministério do Trabalho e Emprego, no ano de 2000, realizou treinamentos para auditores-fiscais do trabalho com especialização em Saúde e Segurança no Trabalho em todo o País, analisando a aplicação desta Norma pela fiscalização. Nesses cursos, verificou-se uma ampla diversidade de interpretação, o que representa um obstáculo à efetiva implantação da Norma. A elaboração deste Manual, reunindo a experiência prática de 10 anos de fiscalização, tem como objetivo subsidiar a atuação dos auditores-fiscais do trabalho e dos profissionais de Segurança e Saúde do Trabalhador nas atividades. A publicação contou com a colaboração da Comissão Nacional de Ergonomia, composta pelos técnicos Mário Gawryszewski, Claudio Cezar Peres, Rosemary Dutra Leão, Lívia Santos Arueira, Lys Esther Rocha, Paulo Antônio Barros Oliveira, Carlos Alberto Diniz Silva e Maria de Lourdes Moure. A Norma Regulamentadora nº 17 é comentada caracterizando o que se espera em cada enunciado e definindo os principais aspectos a serem considerados na elaboração de uma análise ergonômica do trabalho, ressaltando que a realização desta análise tem como objetivo principal a modificação das situações de trabalho. É necessária a participação dos trabalhadores no processo de elaboração da análise ergonômica do trabalho e na definição e implantação da efetiva adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. A acústica ambiental tem por função garantir que o som reproduzido na sala seja ouvido com boa qualidade pelos espectadores. 

Ela é assegurada, principalmente, pelo nível sonoro reproduzido pelo filme, pela correta distribuição das caixas acústicas no interior do auditório e pela obtenção de um tempo de reverberação adequado. O tempo de reverberação é, simplificando, o tempo social que o som permanece em um ambiente depois de ser emitido. Quanto maior a duração do som no ambiente, maior o tempo de reverberação. Cada tipo de atividade tem um tempo de reverberação que lhe é mais adequado. As atividades audiovisuais dependem da inteligibilidade da palavra para compreensão das mensagens. Utilizam vários canais sonoros distintos que necessitam de um tempo e movimento perceptível de reverberação mais baixo do utilizado, por exemplo, em salas de música.
Como é comum que uma sessão de cinema dure por várias horas, o espectador só conseguirá assisti-la durante este tempo se a ele forem garantidas condições mínimas de conforto. É importante que o ângulo com o qual o espectador movimenta sua cabeça para visualizar a tela, tanto no sentido horizontal quanto no sentido vertical, não seja excessivo, de modo a evitar desconforto postural. Outro aspecto importante é garantir um espaçamento mínimo entre as fileiras de poltronas, para que o espectador possa se instalar confortavelmente e ter acesso ao seu assento com facilidade. Por isso, o espaçamento mínimo entre fileiras consecutivas de poltronas, medido de encosto de uma fileira até o encosto da próxima, ou anterior, deve ser em torno de 1,00m. Além dos aspectos ergonômicos definidos através de normas técnicas, vale lembrar como ocorre no caso da terapia, que o item mais importante para garantia do conforto físico e visual do espectador é o tipo de poltrona utilizada. 
Bibliografia geral consultada.     

JUNG, Carl, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 2ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2000; CANEVACCI, Massimo, Antropologia della Comunicazione Visuale. Roma: Edizione Meltemi, 2001; BISTAFA, Sylvio Reynaldo, Acústica Aplicada ao Controle do Ruído. 1ª edição. São Paulo: Editor Edgard Blucher, 2006; BOLIS, Ivan, Analisi Ergonomica in Ambiente Ospedaleiro. Studio del caso HU-USP. Milano: Editor Istituto Politecnico di Milano, 2007; FEHSE, Felipe Bentancur, Impacto de Ruídos Ambientais Desagradáveis sobre as Emoções e o Comportamento do Consumidor. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Escola de Administração. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009; BARRA, Douglas Rene, Sala de Cinema: Da Comunicação à Experiência. Dissertação de Mestrado em Design. São Leopoldo: Universidade Vale dos Sinos, 2011; CAPUTO, Erich Ferreira, A Evolução das Salas de Cinema na Cidade de São Paulo: Um Estudo das Mudanças na Forma Organizacional. Dissertação de Mestrado em Administração de Empresas. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011; TAMANINI, Carlos Augusto de Melo, Reconstrução Acústica das Salas de Cinema Projetadas pelo Arquiteto Rino Levi. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2011; SOUZA, Éder Cristiano, Cinema e Educação Histórica: Jovens e sua Relação com a História em Filmes. Tese de Doutorado em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2014; TANAKA, Elder Kôei Itikawa, Inimigos Públicos em Hollywood: Estratégias de Contenção e Ruptura em Dois Filmes de Gângster dos Anos 1930-1940. Tese de Doutorado. Departamento de Letras Modernas. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2015; NIQUETTI, Ricardo, Deleuze e Velhice: Uma Política de Encontro. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015; entre outros.

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