Marco Archer – Desobediência Civil, Moralidade & Morte na Indonésia.
Ubiracy de Souza Braga*
“Quero ver se ele tem coragem de matar um americano”. Presidente Barack Obama
Marco Archer Cardoso Moreira trabalhava
como instrutor de voo livre e foi preso em agosto de 2003, quando tentou entrar
na Indonésia, pelo aeroporto de Jacarta, com 13,4 quilos de cocaína escondidos
em uma asa-delta desmontada em sete bagagens. Ele conseguiu fugir do aeroporto,
mas foi localizado após duas semanas, na ilha de Sumbawa. Marco Archer confessou
a posse de drogas. Disse que recebeu US$ 10 mil para transportar a cocaína da
cidade de Lima, no Peru, até Jacarta. No ano seguinte, ele foi condenado à
morte. Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff em encontro com o presidente
Yudhoyono, na 67ª Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, entregou nova carta
apelando para que o brasileiro não fosse punido com a pena de morte. Yudhoyono,
no entanto, não atendeu ao pedido. O presidente, Joko Widodo, que assumiu o cargo
em 2014, considerado ainda mais rígido em relação ao combate às drogas,
rejeitou novo pedido de clemência feito por telefone pela presidenta Dilma
Rousseff. Ele já havia adiantado que “negaria clemência às 64 pessoas
condenadas à morte no país por crimes relacionados com drogas”.
Marco
Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi fuzilado no dia 17 de janeiro de 2015,
depois de passar mais de uma década no chamado “corredor da morte” na Indonésia.
Condenado em 2004 por tráfico de drogas, o brasileiro teve negados os dois
pedidos de clemência a que tinha formalmente direito. Foi a primeira vez que um
brasileiro condenado à pena capital é executado no exterior. O padre Charles
Burrows não conseguiu dar a benção final para o brasileiro, que foi “condenado
à morte na Indonésia por tráfico de drogas”. Em entrevista ao australiano
“Fairfex Media”, que foi replicada pelo jornal “The Sydney Morning Herald”, o
padre disse ter sido impedido pelas autoridades do país a fazer o ritual de
passagem da extrema-unção no brasileiro executado. Charles Burrows, que atua na
Indonésia há mais de 40 anos, não conseguiu nem permissão para chegar à ilha onde
fica a prisão. - “Normalmente, há um momento em que o pastor ou padre vão para
consolá-los. Ninguém consolou o Marco”. Relatos de policiais afirmaram que o
brasileiro foi arrastado de sua cela, pedindo ajuda e chegou a defecar em suas
calças. - “Os guardas foram muito educados, mas o advogado não me deu a
autorização para entrar na ilha. Os representantes da embaixada brasileira
estavam muito indignados. Eles me disseram que ninguém entrou na prisão para
cuidar dele”.
Indonésia é um país localizado entre o Sudeste Asiático e a Austrália, sendo o maior arquipélago do mundo, composto pelas Ilhas de Sonda, a metade ocidental da Nova Guiné e compreendendo um total de 17. 508 ilhas. O arquipélago indonésio tem sido uma região de grande importância econômica para o comércio desde os séculos VI e VII, quando Srivijaya começou a comercializar com a China e com a Índia. Apesar de sua grande população e regiões densamente povoadas, a Indonésia tem vastas áreas desabitadas e é um dos países de maior biodiversidade do mundo. Desde os primeiros séculos da era cristã, governantes locais gradativamente absorveram modelos culturais, políticos e religiosos estrangeiros, reinos hindus e budistas floresceram. O lema nacional: “Bhinneka Tunggal Ika” (“Unidade na diversidade”) aparentemente articula a diversidade que há na histórica nação. A Indonésia é um país rico em recursos naturais, contrastando com sua população, que é em sua maioria de baixa renda.
A necessidade vitalista de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas com sendo ao ser-viço da relação social inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencional de comunicação. Ao antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton (1866–1923), os chineses, e tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos da monarquia Inca (1438-1533), que formavam um método mnemônico, extraordinário bem funmentado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para acontecimentos gerlamente felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações etnográficas dos mortos.
Na
segunda, pictórica, a comunicação tem como representação a imagem e se
transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas
gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados:
utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial.
Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos
com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na
representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto de
pensamento que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que
aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu
para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura
ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo
tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos
egípcios. A fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das
palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos “letras”, como unidade
fonética menor.
A
invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e
foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e
de maior inter-relação comercial com os outros povos. O alfabeto representou
uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural
em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio
marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A
comunicação sempre vem unida à existência da mudança social de mercadoria e à
busca incessante de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas
comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos
“canais informativos”, lentos e precários, mas que ainda assim abasteceram aos
homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo terrestre e do espaço
sideral da órbita dos planetas e dos astros das tentações dos outros
considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na
sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos
Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias que
penetravam seus produtos por intermediários antes de serem revendidos na Europa
medieval. Representava um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora
se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do
calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos.
O irreversível desmoronamento, na
história social do pensamento europeu, século após século, do que ainda restava
de escombros da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império
Romano do Ocidente (476), no século V, transformara o território europeu em
campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente -
visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e
eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a
denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência simbólica e física das
religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca
do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades
autônomas, com fortificações de árvores e espinheiros e habitações cercadas de
paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a
partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e administração
pública, centro do comércio e conhecimento científico, à maneira de Roma,
Atenas ou Alexandria clássica, inexistia na “paisagem” ocidental, como também
ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas
proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no
centro de uma região dominada por um certo príncipe.
A desobediência civil possui cunho
jurídico, mas no âmbito jurídico paradoxalmente não precisa de leis para
garanti-la. É uma forma de expressão interpretada como “direito de conquista”.
Também uma espécie de “direito de exceção” e, embora tenha base jurídica, não
necessita de leis para garanti-la, por ser um meio de assegurar outros direitos
do Homem. Representa o direito de “lutar” para garantir outros direitos civis básicos,
como os direitos naturais à vida e à liberdade. Sabemos que a sociedade não tem
como representação um sistema justo de cooperação social entre pessoas livres e
iguais. Marx já nos advertia. E mesmo numa sociedade bem ordenada pode haver
instituições políticas, econômicas e sociais injustas. Portanto de manter,
proteger ou conquistar direitos negados. A desobediência funciona como um aviso
prévio de protesto social não violento. É endereçado à justiça de uma
comunidade determinada, globalizada, no intuito de reverter situações de
caráter ideológico de injustiça
social. Comparativamente a desobediência civil está no mesmo patamar jurídico
do direito de greve para proteger os
direitos dos trabalhadores e o direito de revolução para resguardar o direito de
o povo exercer a sua soberania quando esta é ofendida. A rigor, a desobediência
civil é ilegal. No entanto, pode ser considerada como ato legítimo, na medida
em que se fundamenta no princípio da justiça. Se a lei não for um instrumento
de realização da justiça, o seu descumprimento é legítimo. Vale como legítima
defesa contra a arbitrariedade e a injustiça do Estado. O âmago da
desobediência reside na noção de liberdade. É no âmbito social, sintetizada
através cidadania, pela possibilidade de uso desse direito. E a cidadania não é apenas individual posto que o seu exercício remeta para o grupo
social.
Na
Roma antiga, o gênio representava o espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de
uma gens inteira. Um termo relacionado é genius loci, o espírito de um local
específico. Por contraste a força interior que move todas as criaturas viventes
é o animus. Um espírito específico ou daimon pode habitar uma imagem ou ícone,
dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são dotados de excepcional
brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis às limitações da
mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis, algumas vezes ambas
as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença de talento ou “gênio
excepcional” na primeira infância. Os termos prodígio e criança prodígio são
sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é
perigoso tomar como referência as pontuações em testes aplicados de QI quando
se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se
levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe
uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a
performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo
necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. A contribuição
histórica e cultura dos filósofos pré-socráticos à matemática, enquanto
ciência, não são discutíveis e em grande parte fruto de tradição bem
documentada.
As
mais antigas evidências concretas sobre as atividades de um matemático
propriamente dito referem-se a Hipócrates de Quios. Nossos conhecimentos sobre
Hipócrates de Quios e outros matemáticos baseiam-se em fragmentos de suas obras
e em tradições conservadas nos séculos posteriores. O mais antigo tratado
matemático que chegou até nós é o Da Esfera Móvel, um estudo a respeito do
valor piramidal da esfera. Dos matemáticos posteriores restam-nos diversas
obras de valor desigual, dentre as quais se destaca Os Elementos, de Euclides,
cuja influência persiste analiticamente. O interesse pela história da
Matemática iniciou, também, na Grécia Antiga. Eudemo de Rodes um dos discípulos
de Aristóteles escreveu consecutivas histórias da aritmética, da geometria e da
astronomia, mas que infelizmente não foram conservadas. Durante o período
greco-romano o matemático Papo de Alexandria representa um relato etnográfico
sistemático da obra de seus predecessores, desde Euclides até Esporo de Niceia.
Há também extensas notas explicativas sobre vários temas matemáticos e valiosas
introduções aos diversos livros, nas quais Papo de Alexandria resume o tema
geral e os assuntos técnico-metodológicos a serem tratados. Notabilizou-se por
ser pai da filosofa Hipátia e por produzir em 390 uma versão mais elaborada da
obra Os Elementos de Euclides que sobreviveu aos dias atuais. Dentre suas obras
está uma que faz considerações sobre um eclipse solar em Alexandria. A
mobilidade social trouxe a Atenas Hipócrates de Quios, no século V a. C., o
primeiro autor de uma compilação de Elementos, em que parecem já figurar
investigações ligadas à resolução do problema de Delos sobre a duplicação do
cubo e à quadratura do círculo. Com a morte de Platão, seu discípulo, Têudio de
Magnésia, escreveu nova compilação dos manuscritos Elementos.
Para
que o gênio se manifeste num indivíduo, este indivíduo deve ter recebido como
herança a soma de poder cognitivo que excede em muito o que é necessário para o
serviço de uma vontade individual, segundo Arthur Schopenhauer, é este
excedente que, tornado livre, serve para constituir um objeto liberto de
vontade, um claro espelho do ser do mundo. A través disto se explica a
vivacidade que os homens de gênio desenvolvem por vezes até a turbulência: o
presente raramente lhes chega, visto que ele não enche, de modo nenhum, a sua
consciência; daí a sua inquietude sem tréguas; daí a sua tendência para
perseguir sem cessar objetos novos e dignos de estudo, para desejar enfim,
quase sempre sem sucesso, seres que se lhes assemelham, que estejam à sua
medida e que os possam compreender. O homem comum, plenamente farto e
satisfeito com a rotina atual, aí se absorve; em todo lado encontra seus
iguais; daí essa satisfação particular que experimenta no curso da vida e que o
gênio não conhece. - Quis-se ver na imaginação filosófica um elemento essencial
do gênio, o que é bastante legítimo; quis-se mesmo identificar os dois, mas
isso é um erro. O fato social e dinâmico é que, seja em que medida for, o certo
é o incerto e o incerto a estrada reta.
O
objeto ser/compreender do gênio, considerado como tal, são as ideias eternas,
as formas persistentes e essenciais do mundo e de todos os seus fenômenos. Onde
reina só a imaginação, ela empenha-se em construir castelos no ar a lisonjear o
egoísmo e o capricho pessoal, a enganá-los momentaneamente e a diverti-los; mas
neste caso, conhecemos sempre, para falar com propriedade, apenas as relações
das quimeras assim combinadas. Talvez ponha por escrito os sonhos da sua
imaginação: é daí que nos vêm esses romances ordinários, de todos os
gêneros, que fazem a alegria do grande público e das pessoas semelhantes aos
seus atores, visto que o leitor sonha que está no lugar do herói, e acha tal
representação bastante agradável. A
história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a
origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação
dos métodos matemáticos e aos registros etnográficos ou notações matemáticas do
passado. A matemática islâmica, por sua vez, desenvolveu e expandiu a
matemática conhecida destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre
matemática foram então traduzidos ao Latim, o que contribuiu com o
desenvolvimento da matemática na Europa medieval. Dos tempos antigos à Idade
Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente por séculos de
estagnação. Começando no Renascimento e a partir daí a revelação de novos
talentos e progressos técnicos da matemática, interagindo com as descobertas
científicas, realizados de forma crescente, continuando decerto sem paixão.
Deve
ser suprassumida como essa unidade imediata do indivíduo com seu gênero e com o
mundo em geral; é preciso que o indivíduo progrida a ponto de se contrapor ao
universal, como a Coisa assente-para-si, pronto e subsistente; e de
apreender-se em sua autonomia. Essa autonomia, essa oposição, primeiro se
apresenta em uma figura tão unilateral quanto, na criança, a unidade do
subjetivo e do objetivo. O jovem desagrega a ideia efetivada no mundo, de modo
a atribuir-se a si mesmo a determinação do substancial: o verdadeiro e o bem; e
atribui ao mundo, pelo contrário, a determinação do contingente, do acidental.
Não se pode ficar nessa oposição não-verdadeira: o jovem deve, antes, elevar-se
acima da dela à inteligência de que, ao contrário, deve-se considerar o mundo
como o substancial, e o indivíduo, inversamente, só como um acidente; e que,
portanto, o homem só pode encontrar sua ativação e contentamento essenciais no
mundo que se lhe contrapõe firmemente, que segue seu curso com autonomia; e
que, por esse motivo, deve conseguir a aptidão necessária para a Coisa. Chagado
a esse ponto de vista, o jovem tornou-se homem. Pronto em si mesmo, o homem
considera também a ordem ética do mundo não como a ser produzida só por ele,
mas como uma ordem pronta, no essencial. Assim ele é ativo pela Coisa, não
contra ela; assim se mantém elevado, acima da subjetividade unilateral do
jovem, no ponto de vista da espiritualidade objetiva. A velhice, ao contrário,
é o retorno ao desinteresse pela Coisa; o ancião habituou-se a viver dentro da
Coisa, e por causa dessa unidade que faz perder a oposição em relação à Coisa
renuncia à atividade de interesse por ela.
É
bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua
verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para Hegel, é ainda
só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela
a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da
independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade,
como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como
individualidade pensante, captar o mundo vivo como um sistema de pensamento;
então teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir,
um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é
bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com
isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a
consciência, a não ser o conceito que é a essência. Porém, aqui o conceito
enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem
conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência,
quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é
conceito determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito
possui nele.
Esta
unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução.
É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do
desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da
razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o
entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas
diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito.
Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na
existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com
graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa
representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o
em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo
que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora
o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama
“o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito
chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu
objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. O
desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso,
ao mesmo tempo, um desafogo.
No
que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à
disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio
bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo
de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o
verdadeiro, o objetivo, e não faz deles seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente
autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a
vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua
vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser
aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à
sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de
filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só
para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser
ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se
deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora
produção e desenvolvimento do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos,
pois, de um lado dizer que o homem só produz o que já existe. É necessário que
um progresso individual seja efetuado. Mas o progredir no mundo só ocorrer nas
massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas. A consciência moral não pode renunciar à felicidade.
O
repórter Renan Antunes de Oliveira entrevistou Marco Archer em 2005, numa
prisão na Indonésia. Conforme seu relato etnográfico o carioca Marco Archer
Cardoso Moreira viveu 17 anos em Ipanema, 25 traficando drogas pelo mundo e 11
em cadeias da Indonésia, até morrer fuzilado, aos 53, por sentença da Justiça
deste país muçulmano. Durante quatro dias de entrevista em Tangerang, em 2005,
ele se abriu para mim: - “Sou traficante, traficante e traficante, só
traficante”. Demonstrou até uma ponta de orgulho: “Nunca tive um emprego
diferente na vida”. Contou que tomou “todo tipo de droga que existe”. Naquela
hora estava desafiante, parecia acreditar que conseguiria reverter a sentença
de morte. Marco sabia as regras do país quando foi preso no aeroporto da capital
Jakarta, em 2003, com 13,4 quilos de cocaína escondidos dentro dos tubos de sua
asa delta. Ele morou na ilha Indonésia de Bali por 15 anos, fato social que comprova etnograficamente que falava bem a língua
bahasa (cf. Paauwl, 2014) e “sentiu que a parada seria dura”. Tanto sabia que
fugiu do flagrante! Mas acabou sendo recapturado 15 dias depois, quando tentava
escapar para a capital do Timor do Leste.
Foi processado, condenado, se disse arrependido.
Pediu clemência através dos presidentes da República Lula, Dilma, Anistia
Internacional e até do papa latino-americano Francisco, embora sem sucesso. O
fuzilamento como punição (cf. Foucault, 1975) para crimes é apoiado
ideologicamente por quase 70% da população. Na
mídia brasileira, maviosa, Marco Archer foi apresentado como “um garoto
carioca”, apesar dos 42 anos no momento da prisão, ou “instrutor de asa delta”,
neste caso um hobby transformado na
profissão que se diz, ele nunca exerceu. Para Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, o
outro brasileiro condenado por tráfico, que espera fuzilamento para fevereiro,
companheiro de cela dele em Tangerang: - “Marco teve uma vida que merece ser
filmada”. Rodrigo Gularte ofereceu um “roteiro” sobre o amigo à cineasta
curitibana Laurinha Dalcanale, exaltando: - “Ele fez coisas extraordinárias,
incríveis”. O repórter pediu um exemplo: - “Viajou pelo mundo todo, teve um
monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos melhores restaurantes,
tudo só no glamour, nunca usou uma
arma, o cara é demais”. Para amigos que trabalharam para soltá-lo,
o que ocorreu teria sido “apenas um erro” do qual ele estaria arrependido.
A
malandragem é descrita no imaginário individual e coletivo brasileiro como uma “ferramenta
de justiça individual”. Perante a força das instituições necessariamente
opressoras, o indivíduo “malandro” é o curupira
que só faz gol de calcanhar e sai comemorando com um “Moonwalk”. Tal como o “jeitinho”,
é um recurso de esperteza, utilizado por indivíduos de pouca influência social,
ou socialmente desfavorecidos. Isso não impede a malandragem de ser igualmente
utilizada por indivíduos mais bem posicionados socialmente. Através da
malandragem, obtêm-se vantagens ilícitas em jogos de azar, nos negócios e na
vida social e política em sua totalidade. Pode-se considerar “malandro” o
patrão que “dá um jeito” de não pagar os funcionários tal como deveria; o “jogador”
que manipula as cartas e leva para si toda uma rodada de apostas. O político
que manipula as contas públicas e possibilita um golpe de Estado em 2016.
Na
versão mais nobre, seria a tentativa desesperada de obter dinheiro para pagar
uma conta de hospital pendurada em Cingapura - Marco estaria preocupado em não
deixar o nome “sujo” naquele país. A conta derivou de uma longa temporada no hospital
depois de um acidente com a sua asa delta. Ter sobrevivido deu a ele, segundo
os amigos, um incrível sentimento de invulnerabilidade. Ele jamais se livrou
das sequelas. Cheio de pinos nas pernas andava com dificuldade, o que não o
impediu de fugir espetacularmente no aeroporto quando os policiais descobriram
cocaína em sua asa delta. Arriscou tudo ali. Um alerta de bomba reforçara a
vigilância no aeroporto. Ele chegou a pensar em largar no aeroporto a cocaína
que transportava e ir embora, mas decidiu correr o risco. Com sua ficha
corrida, a campanha pela sua liberdade nunca decolou das redes sociais. A mãe
dele, dona Carolina, conseguiu o apoio inicial de Fernando Gabeira, na Câmara
Federal, com voto contra do deputado fascista
Jair Bolsonaro. O Itamaraty, a presidência, se mexeu quando câmeras de TV foram
ligadas. Aparentemente confiante, ele deixava transparecer que tudo seria
inútil, porque falava sempre no passado, em tom resignado: - “Não posso me
queixar da vida que levei”.
Na
chegada, com certeza ele viu no aeroporto indonésio um enorme cartaz avisando:
“Hukuman berta bagi pembana narkotik”,
a política nacional de punir severamente o narcotráfico. O assessor
internacional de Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, disse que o fuzilamento
deixa “uma sombra” nas relações bilaterais, mas não há bilateralidade na
concepção deles. A mãe de Marco Archer, dona Carolina, funcionária pública
estadual no Rio, se empenhou enquanto deu para livrar seu filho da enrascada,
até morrer de câncer, em 2010. As visitas dela em Tangerang eram uma festa para
o staff da prisão, pra quem dava
dinheiro e presentes, na tentativa de aliviar a barra para o filho. Com este
empurrão da mamãe Marco levou vantagem em Tangerang, nos primeiros anos, até
ser transferido para outras cadeias para execução. - Eu o vi sendo atendido por
presos pobres que serviam de garçons, pedicuros, faxineiros. Sua cela tinha TV,
vídeo, som, ventilador, bonsais e, melhor ainda, portas abertas para um jardim
onde ele mantinha peixes num laguinho. Quando ia lá, dona Carola dormia na cama
do filho.
Marco
Archer bebia cerveja geladinha fornecida por chefões locais que estavam noutro
pavilhão. Namorava uma bonita presa reconhecida por Dragão de Komodo. Como ela
vinha da ala feminina, os dois usavam a sala do comandante para se encontrar. A
malandragem carioca ajudou enquanto ele teve dinheiro. Ele fazia sua parte
esbanjando bom humor. Por todos os relatos de diplomatas, familiares e
jornalistas que o viram na cadeia de tempos em tempos, Marco, apelidado “Curumim”
em Ipanema, sempre se mostrou para cima. E mantinha a forma malhando muito. Nos
últimos anos teve várias mordomias, como celular e até acesso à internet, onde postou algumas cenas. Um clip dele circulou nos últimos dias -
sempre sereno, dizendo-se arrependido, pedindo a segunda chance: - “Acho que
não mereço ser fuzilado”. Marco Archer chegou ao último dia de vida com boa aparência,
pelo menos conforme as imagens comerciais exibidas no Jornal Hoje, da rede Globo de Televisão (cf. Foucault,
1975).
Contraditoriamente
perdido quase todos os dentes em sua temporada na prisão, como relatou a
jornalista e escritora australiana. No Facebook,
ela disse guardar boas recordações de Marco Archer, e criticou a barbárie do
fuzilamento. Numa gravação por telefone, ele ainda dava conselhos aos mais
jovens, avisando que “drogas só podem levar à morte ou à prisão”. Sua voz estava
firme, mesmo faltando apenas 120 minutos pra enfrentar o pelotão de fuzilamento
- a se confirmar, deixou esta vida com o bom humor intacto, resignado. Ele
pediu uma garrafa de Chivas Regal na última refeição e que uma tia teria lhe levado
um pote de doce-de-leite. O arrependimento manifestado nas últimas horas pode
ser o reflexo de 11 anos encarcerado. Para mim, afirma o repórter, o homem só
disse que estava arrependido de uma única coisa: de ter embalado mal a droga,
permitindo a descoberta pela polícia no aeroporto. – “Tava tudo pronto pra ser
a viagem da minha vida”, começou, ao relatar seu infortúnio. Foi assim: no
desembarque em Jakarta, meteu o equipamento no compartimento de raios-X.
A
asa dele tinha cinco tubos, três de alumínio e dois de carbono. Este é mais
rijo e impermeável aos raios: - “Meu mundo caiu por causa de um guardinha
desgraçado”, reclamou. – “O cara perguntou 'por que a foto do tubo saía preta'?
Eu respondi que era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete, bateu no
alumínio, fez tim tim, bateu no carbono, fez tom tom”. O som revelou que o tubo
estava carregado, encerrando a bem-sucedida carreira de 25 anos no
narcotráfico. Marco ainda conseguiu dar um drible nos guardas. Enquanto eles
buscavam as ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto, pegou um
prosaico táxi e sumiu. Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago
indonésio passou sua última noite em liberdade num barraco de pescador, em
Lombok, a poucas braçadas de mar da liberdade. Acordou cercado por vários
policiais, de armas apontadas. Suplicou em bahasa
que tivessem misericórdia dele. Enfrentou pela última vez a mesma
polícia, mas desta vez o pessoal estava cumprindo ordens de atirar para matar. Foi
o fim do Curumim. Bibliografia geral consultada.
LEROI-GOURHAM,
André, Le Geste et la Parole.Paris: Albin Michel Editeur, 1964-65; GEERTZ, Clifford, Agricultural Involution. The Process of Ecological Change in Indonesia.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político
(UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de
Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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