domingo, 23 de outubro de 2016

Marco Archer – Desobediência Civil, Moralidade & Morte na Indonésia.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*
Quero ver se ele tem coragem de matar um americano”. Presidente Barack Obama
 

           Marco Archer Cardoso Moreira trabalhava como instrutor de voo livre e foi preso em agosto de 2003, quando tentou entrar na Indonésia, pelo aeroporto de Jacarta, com 13,4 quilos de cocaína escondidos em uma asa-delta desmontada em sete bagagens. Ele conseguiu fugir do aeroporto, mas foi localizado após duas semanas, na ilha de Sumbawa. Marco Archer confessou a posse de drogas. Disse que recebeu US$ 10 mil para transportar a cocaína da cidade de Lima, no Peru, até Jacarta. No ano seguinte, ele foi condenado à morte. Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff em encontro com o presidente Yudhoyono, na 67ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, entregou nova carta apelando para que o brasileiro não fosse punido com a pena de morte. Yudhoyono, no entanto, não atendeu ao pedido. O  presidente, Joko Widodo, que assumiu o cargo em 2014, considerado ainda mais rígido em relação ao combate às drogas, rejeitou novo pedido de clemência feito por telefone pela presidenta Dilma Rousseff. Ele já havia adiantado que “negaria clemência às 64 pessoas condenadas à morte no país por crimes relacionados com drogas”.   
Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi fuzilado no dia 17 de janeiro de 2015, depois de passar mais de uma década no chamado “corredor da morte” na Indonésia. Condenado em 2004 por tráfico de drogas, o brasileiro teve negados os dois pedidos de clemência a que tinha formalmente direito. Foi a primeira vez que um brasileiro condenado à pena capital é executado no exterior. O padre Charles Burrows não conseguiu dar a benção final para o brasileiro, que foi “condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas”. Em entrevista ao australiano “Fairfex Media”, que foi replicada pelo jornal “The Sydney Morning Herald”, o padre disse ter sido impedido pelas autoridades do país a fazer o ritual de passagem da extrema-unção no brasileiro executado. Charles Burrows, que atua na Indonésia há mais de 40 anos, não conseguiu nem permissão para chegar à ilha onde fica a prisão. - “Normalmente, há um momento em que o pastor ou padre vão para consolá-los. Ninguém consolou o Marco”. Relatos de policiais afirmaram que o brasileiro foi arrastado de sua cela, pedindo ajuda e chegou a defecar em suas calças. - “Os guardas foram muito educados, mas o advogado não me deu a autorização para entrar na ilha. Os representantes da embaixada brasileira estavam muito indignados. Eles me disseram que ninguém entrou na prisão para cuidar dele”. 
         Indonésia é um país localizado entre o Sudeste Asiático e a Austrália, sendo o maior arquipélago do mundo, composto pelas Ilhas de Sonda, a metade ocidental da Nova Guiné e compreendendo um total de 17. 508 ilhas.  O arquipélago indonésio tem sido uma região de grande importância econômica para o comércio desde os séculos VI e VII, quando Srivijaya começou a comercializar com a China e com a Índia. Apesar de sua grande população e regiões densamente povoadas, a Indonésia tem vastas áreas desabitadas e é um dos países de maior biodiversidade do mundo. Desde os primeiros séculos da era cristã, governantes locais gradativamente absorveram modelos culturais, políticos e religiosos estrangeiros, reinos hindus e budistas floresceram. O lema nacional: “Bhinneka Tunggal Ika” (“Unidade na diversidade”) aparentemente articula a diversidade que há na histórica nação. A Indonésia é um país rico em recursos naturais, contrastando com sua população, que é em sua maioria de baixa renda.    
        A necessidade vitalista de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas com sendo ao ser-viço da relação social inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencional de comunicação. Ao antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton (1866–1923), os chineses, e tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos da monarquia Inca (1438-1533), que formavam um método mnemônico, extraordinário bem funmentado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para acontecimentos gerlamente felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações etnográficas dos mortos.   

Na segunda, pictórica, a comunicação tem como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto de pensamento que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos “letras”, como unidade fonética menor.

A invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com os outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A comunicação sempre vem unida à existência da mudança social de mercadoria e à busca incessante de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos “canais informativos”, lentos e precários, mas que ainda assim abasteceram aos homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo terrestre e do espaço sideral da órbita dos planetas e dos astros das tentações dos outros considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias que penetravam seus produtos por intermediários antes de serem revendidos na Europa medieval. Representava um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos.

         O irreversível desmoronamento, na história social do pensamento europeu, século após século, do que ainda restava de escombros da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do Ocidente (476), no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com fortificações de árvores e espinheiros e habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e administração pública, centro do comércio e conhecimento científico, à maneira de Roma, Atenas ou Alexandria clássica, inexistia na “paisagem” ocidental, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um certo príncipe.   

desobediência civil possui cunho jurídico, mas no âmbito jurídico paradoxalmente não precisa de leis para garanti-la. É uma forma de expressão interpretada como “direito de conquista”. Também uma espécie de “direito de exceção” e, embora tenha base jurídica, não necessita de leis para garanti-la, por ser um meio de assegurar outros direitos do Homem. Representa o direito de “lutar” para garantir outros direitos civis básicos, como os direitos naturais à vida e à liberdade. Sabemos que a sociedade não tem como representação um sistema justo de cooperação social entre pessoas livres e iguais. Marx já nos advertia. E mesmo numa sociedade bem ordenada pode haver instituições políticas, econômicas e sociais injustas. Portanto de manter, proteger ou conquistar direitos negados. A desobediência funciona como um aviso prévio de protesto social não violento. É endereçado à justiça de uma comunidade determinada, globalizada, no intuito de reverter situações de caráter ideológico de injustiça social. Comparativamente a desobediência civil está no mesmo patamar jurídico do direito de greve para proteger os direitos dos trabalhadores e o direito de revolução para resguardar o direito de o povo exercer a sua soberania quando esta é ofendida. A rigor, a desobediência civil é ilegal. No entanto, pode ser considerada como ato legítimo, na medida em que se fundamenta no princípio da justiça. Se a lei não for um instrumento de realização da justiça, o seu descumprimento é legítimo. Vale como legítima defesa contra a arbitrariedade e a injustiça do Estado. O âmago da desobediência reside na noção de liberdade. É no âmbito social, sintetizada através cidadania, pela possibilidade de uso desse direito. E a cidadania não é apenas individual posto que o seu exercício remeta para o grupo social. 

Na Roma antiga, o gênio representava o espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de uma gens inteira. Um termo relacionado é genius loci, o espírito de um local específico. Por contraste a força interior que move todas as criaturas viventes é o animus. Um espírito específico ou daimon pode habitar uma imagem ou ícone, dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são dotados de excepcional brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis às limitações da mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis, algumas vezes ambas as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença de talento ou “gênio excepcional” na primeira infância. Os termos prodígio e criança prodígio são sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é perigoso tomar como referência as pontuações em testes aplicados de QI quando se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. A contribuição histórica e cultura dos filósofos pré-socráticos à matemática, enquanto ciência, não são discutíveis e em grande parte fruto de tradição bem documentada.

As mais antigas evidências concretas sobre as atividades de um matemático propriamente dito referem-se a Hipócrates de Quios. Nossos conhecimentos sobre Hipócrates de Quios e outros matemáticos baseiam-se em fragmentos de suas obras e em tradições conservadas nos séculos posteriores. O mais antigo tratado matemático que chegou até nós é o Da Esfera Móvel, um estudo a respeito do valor piramidal da esfera. Dos matemáticos posteriores restam-nos diversas obras de valor desigual, dentre as quais se destaca Os Elementos, de Euclides, cuja influência persiste analiticamente. O interesse pela história da Matemática iniciou, também, na Grécia Antiga. Eudemo de Rodes um dos discípulos de Aristóteles escreveu consecutivas histórias da aritmética, da geometria e da astronomia, mas que infelizmente não foram conservadas. Durante o período greco-romano o matemático Papo de Alexandria representa um relato etnográfico sistemático da obra de seus predecessores, desde Euclides até Esporo de Niceia. Há também extensas notas explicativas sobre vários temas matemáticos e valiosas introduções aos diversos livros, nas quais Papo de Alexandria resume o tema geral e os assuntos técnico-metodológicos a serem tratados. Notabilizou-se por ser pai da filosofa Hipátia e por produzir em 390 uma versão mais elaborada da obra Os Elementos de Euclides que sobreviveu aos dias atuais. Dentre suas obras está uma que faz considerações sobre um eclipse solar em Alexandria. A mobilidade social trouxe a Atenas Hipócrates de Quios, no século V a. C., o primeiro autor de uma compilação de Elementos, em que parecem já figurar investigações ligadas à resolução do problema de Delos sobre a duplicação do cubo e à quadratura do círculo. Com a morte de Platão, seu discípulo, Têudio de Magnésia, escreveu nova compilação dos manuscritos Elementos.

Para que o gênio se manifeste num indivíduo, este indivíduo deve ter recebido como herança a soma de poder cognitivo que excede em muito o que é necessário para o serviço de uma vontade individual, segundo Arthur Schopenhauer, é este excedente que, tornado livre, serve para constituir um objeto liberto de vontade, um claro espelho do ser do mundo. A través disto se explica a vivacidade que os homens de gênio desenvolvem por vezes até a turbulência: o presente raramente lhes chega, visto que ele não enche, de modo nenhum, a sua consciência; daí a sua inquietude sem tréguas; daí a sua tendência para perseguir sem cessar objetos novos e dignos de estudo, para desejar enfim, quase sempre sem sucesso, seres que se lhes assemelham, que estejam à sua medida e que os possam compreender. O homem comum, plenamente farto e satisfeito com a rotina atual, aí se absorve; em todo lado encontra seus iguais; daí essa satisfação particular que experimenta no curso da vida e que o gênio não conhece. - Quis-se ver na imaginação filosófica um elemento essencial do gênio, o que é bastante legítimo; quis-se mesmo identificar os dois, mas isso é um erro. O fato social e dinâmico é que, seja em que medida for, o certo é o incerto e o incerto a estrada reta.

O objeto ser/compreender do gênio, considerado como tal, são as ideias eternas, as formas persistentes e essenciais do mundo e de todos os seus fenômenos. Onde reina só a imaginação, ela empenha-se em construir castelos no ar a lisonjear o egoísmo e o capricho pessoal, a enganá-los momentaneamente e a diverti-los; mas neste caso, conhecemos sempre, para falar com propriedade, apenas as relações das quimeras assim combinadas. Talvez ponha por escrito os sonhos da sua imaginação: é daí que nos vêm esses romances ordinários, de todos os gêneros, que fazem a alegria do grande público e das pessoas semelhantes aos seus atores, visto que o leitor sonha que está no lugar do herói, e acha tal representação bastante agradável.  A história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação dos métodos matemáticos e aos registros etnográficos ou notações matemáticas do passado. A matemática islâmica, por sua vez, desenvolveu e expandiu a matemática conhecida destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre matemática foram então traduzidos ao Latim, o que contribuiu com o desenvolvimento da matemática na Europa medieval. Dos tempos antigos à Idade Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente por séculos de estagnação. Começando no Renascimento e a partir daí a revelação de novos talentos e progressos técnicos da matemática, interagindo com as descobertas científicas, realizados de forma crescente, continuando decerto sem paixão.

Deve ser suprassumida como essa unidade imediata do indivíduo com seu gênero e com o mundo em geral; é preciso que o indivíduo progrida a ponto de se contrapor ao universal, como a Coisa assente-para-si, pronto e subsistente; e de apreender-se em sua autonomia. Essa autonomia, essa oposição, primeiro se apresenta em uma figura tão unilateral quanto, na criança, a unidade do subjetivo e do objetivo. O jovem desagrega a ideia efetivada no mundo, de modo a atribuir-se a si mesmo a determinação do substancial: o verdadeiro e o bem; e atribui ao mundo, pelo contrário, a determinação do contingente, do acidental. Não se pode ficar nessa oposição não-verdadeira: o jovem deve, antes, elevar-se acima da dela à inteligência de que, ao contrário, deve-se considerar o mundo como o substancial, e o indivíduo, inversamente, só como um acidente; e que, portanto, o homem só pode encontrar sua ativação e contentamento essenciais no mundo que se lhe contrapõe firmemente, que segue seu curso com autonomia; e que, por esse motivo, deve conseguir a aptidão necessária para a Coisa. Chagado a esse ponto de vista, o jovem tornou-se homem. Pronto em si mesmo, o homem considera também a ordem ética do mundo não como a ser produzida só por ele, mas como uma ordem pronta, no essencial. Assim ele é ativo pela Coisa, não contra ela; assim se mantém elevado, acima da subjetividade unilateral do jovem, no ponto de vista da espiritualidade objetiva. A velhice, ao contrário, é o retorno ao desinteresse pela Coisa; o ancião habituou-se a viver dentro da Coisa, e por causa dessa unidade que faz perder a oposição em relação à Coisa renuncia à atividade de interesse por ela.

É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um sistema de pensamento; então teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. Porém, aqui o conceito enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele. 

Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. O desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.

No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles  seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção e desenvolvimento do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, pois, de um lado dizer que o homem só produz o que já existe. É necessário que um progresso individual seja efetuado. Mas o progredir no mundo só ocorrer nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas. A consciência moral não pode renunciar à felicidade.

O repórter Renan Antunes de Oliveira entrevistou Marco Archer em 2005, numa prisão na Indonésia. Conforme seu relato etnográfico o carioca Marco Archer Cardoso Moreira viveu 17 anos em Ipanema, 25 traficando drogas pelo mundo e 11 em cadeias da Indonésia, até morrer fuzilado, aos 53, por sentença da Justiça deste país muçulmano. Durante quatro dias de entrevista em Tangerang, em 2005, ele se abriu para mim: - “Sou traficante, traficante e traficante, só traficante”. Demonstrou até uma ponta de orgulho: “Nunca tive um emprego diferente na vida”. Contou que tomou “todo tipo de droga que existe”. Naquela hora estava desafiante, parecia acreditar que conseguiria reverter a sentença de morte. Marco sabia as regras do país quando foi preso no aeroporto da capital Jakarta, em 2003, com 13,4 quilos de cocaína escondidos dentro dos tubos de sua asa delta. Ele morou na ilha Indonésia de Bali por 15 anos, fato social que comprova etnograficamente que falava bem a língua bahasa (cf. Paauwl, 2014) e sentiu que a parada seria dura. Tanto sabia que fugiu do flagrante! Mas acabou sendo recapturado 15 dias depois, quando tentava escapar para a capital do Timor do Leste.

  Foi processado, condenado, se disse arrependido. Pediu clemência através dos presidentes da República Lula, Dilma, Anistia Internacional e até do papa latino-americano Francisco, embora sem sucesso. O fuzilamento como punição (cf. Foucault, 1975) para crimes é apoiado ideologicamente por quase 70% da população. Na mídia brasileira, maviosa, Marco Archer foi apresentado como “um garoto carioca”, apesar dos 42 anos no momento da prisão, ou “instrutor de asa delta”, neste caso um hobby transformado na profissão que se diz, ele nunca exerceu. Para Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, o outro brasileiro condenado por tráfico, que espera fuzilamento para fevereiro, companheiro de cela dele em Tangerang: - “Marco teve uma vida que merece ser filmada”. Rodrigo Gularte ofereceu um “roteiro” sobre o amigo à cineasta curitibana Laurinha Dalcanale, exaltando: - “Ele fez coisas extraordinárias, incríveis”. O repórter pediu um exemplo: - “Viajou pelo mundo todo, teve um monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos melhores restaurantes, tudo só no glamour, nunca usou uma arma, o cara é demais”. Para amigos que trabalharam para soltá-lo, o que ocorreu teria sido “apenas um erro” do qual ele estaria arrependido.
A malandragem é descrita no imaginário individual e coletivo brasileiro como uma “ferramenta de justiça individual”. Perante a força das instituições necessariamente opressoras, o indivíduo “malandro” é o curupira que só faz gol de calcanhar e sai comemorando com um “Moonwalk”. Tal como o “jeitinho”, é um recurso de esperteza, utilizado por indivíduos de pouca influência social, ou socialmente desfavorecidos. Isso não impede a malandragem de ser igualmente utilizada por indivíduos mais bem posicionados socialmente. Através da malandragem, obtêm-se vantagens ilícitas em jogos de azar, nos negócios e na vida social e política em sua totalidade. Pode-se considerar “malandro” o patrão que “dá um jeito” de não pagar os funcionários tal como deveria; o “jogador” que manipula as cartas e leva para si toda uma rodada de apostas. O político que manipula as contas públicas e possibilita um golpe de Estado em 2016.  
Na versão mais nobre, seria a tentativa desesperada de obter dinheiro para pagar uma conta de hospital pendurada em Cingapura - Marco estaria preocupado em não deixar o nome “sujo” naquele país. A conta derivou de uma longa temporada no hospital depois de um acidente com a sua asa delta. Ter sobrevivido deu a ele, segundo os amigos, um incrível sentimento de invulnerabilidade. Ele jamais se livrou das sequelas. Cheio de pinos nas pernas andava com dificuldade, o que não o impediu de fugir espetacularmente no aeroporto quando os policiais descobriram cocaína em sua asa delta. Arriscou tudo ali. Um alerta de bomba reforçara a vigilância no aeroporto. Ele chegou a pensar em largar no aeroporto a cocaína que transportava e ir embora, mas decidiu correr o risco. Com sua ficha corrida, a campanha pela sua liberdade nunca decolou das redes sociais. A mãe dele, dona Carolina, conseguiu o apoio inicial de Fernando Gabeira, na Câmara Federal, com voto contra do deputado fascista Jair Bolsonaro. O Itamaraty, a presidência, se mexeu quando câmeras de TV foram ligadas. Aparentemente confiante, ele deixava transparecer que tudo seria inútil, porque falava sempre no passado, em tom resignado: - “Não posso me queixar da vida que levei”.
Na chegada, com certeza ele viu no aeroporto indonésio um enorme cartaz avisando: “Hukuman berta bagi pembana narkotik”, a política nacional de punir severamente o narcotráfico. O assessor internacional de Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, disse que o fuzilamento deixa “uma sombra” nas relações bilaterais, mas não há bilateralidade na concepção deles. A mãe de Marco Archer, dona Carolina, funcionária pública estadual no Rio, se empenhou enquanto deu para livrar seu filho da enrascada, até morrer de câncer, em 2010. As visitas dela em Tangerang eram uma festa para o staff da prisão, pra quem dava dinheiro e presentes, na tentativa de aliviar a barra para o filho. Com este empurrão da mamãe Marco levou vantagem em Tangerang, nos primeiros anos, até ser transferido para outras cadeias para execução. - Eu o vi sendo atendido por presos pobres que serviam de garçons, pedicuros, faxineiros. Sua cela tinha TV, vídeo, som, ventilador, bonsais e, melhor ainda, portas abertas para um jardim onde ele mantinha peixes num laguinho. Quando ia lá, dona Carola dormia na cama do filho.

Marco Archer bebia cerveja geladinha fornecida por chefões locais que estavam noutro pavilhão. Namorava uma bonita presa reconhecida por Dragão de Komodo. Como ela vinha da ala feminina, os dois usavam a sala do comandante para se encontrar. A malandragem carioca ajudou enquanto ele teve dinheiro. Ele fazia sua parte esbanjando bom humor. Por todos os relatos de diplomatas, familiares e jornalistas que o viram na cadeia de tempos em tempos, Marco, apelidado “Curumim” em Ipanema, sempre se mostrou para cima. E mantinha a forma malhando muito. Nos últimos anos teve várias mordomias, como celular e até acesso à internet, onde postou algumas cenas. Um clip dele circulou nos últimos dias - sempre sereno, dizendo-se arrependido, pedindo a segunda chance: - “Acho que não mereço ser fuzilado”. Marco Archer chegou ao último dia de vida com boa aparência, pelo menos conforme as imagens comerciais exibidas no Jornal Hoje, da rede Globo de Televisão (cf. Foucault, 1975).
Contraditoriamente perdido quase todos os dentes em sua temporada na prisão, como relatou a jornalista e escritora australiana. No Facebook, ela disse guardar boas recordações de Marco Archer, e criticou a barbárie do fuzilamento. Numa gravação por telefone, ele ainda dava conselhos aos mais jovens, avisando que “drogas só podem levar à morte ou à prisão”. Sua voz estava firme, mesmo faltando apenas 120 minutos pra enfrentar o pelotão de fuzilamento - a se confirmar, deixou esta vida com o bom humor intacto, resignado. Ele pediu uma garrafa de Chivas Regal na última refeição e que uma tia teria lhe levado um pote de doce-de-leite. O arrependimento manifestado nas últimas horas pode ser o reflexo de 11 anos encarcerado. Para mim, afirma o repórter, o homem só disse que estava arrependido de uma única coisa: de ter embalado mal a droga, permitindo a descoberta pela polícia no aeroporto. – “Tava tudo pronto pra ser a viagem da minha vida”, começou, ao relatar seu infortúnio. Foi assim: no desembarque em Jakarta, meteu o equipamento no compartimento de raios-X.
A asa dele tinha cinco tubos, três de alumínio e dois de carbono. Este é mais rijo e impermeável aos raios: - “Meu mundo caiu por causa de um guardinha desgraçado”, reclamou. – “O cara perguntou 'por que a foto do tubo saía preta'? Eu respondi que era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete, bateu no alumínio, fez tim tim, bateu no carbono, fez tom tom”. O som revelou que o tubo estava carregado, encerrando a bem-sucedida carreira de 25 anos no narcotráfico. Marco ainda conseguiu dar um drible nos guardas. Enquanto eles buscavam as ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto, pegou um prosaico táxi e sumiu. Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago indonésio passou sua última noite em liberdade num barraco de pescador, em Lombok, a poucas braçadas de mar da liberdade. Acordou cercado por vários policiais, de armas apontadas. Suplicou em bahasa que tivessem misericórdia dele. Enfrentou pela última vez a mesma polícia, mas desta vez o pessoal estava cumprindo ordens de atirar para matar. Foi o fim do Curumim.  
Bibliografia geral consultada.
LEROI-GOURHAM, André, Le Geste et la Parole. Paris: Albin Michel Editeur, 1964-65; GEERTZ, Clifford, Agricultural Involution. The Process of Ecological Change in Indonesia. Berkeley: University of California Press, 1969; FOUCAULT, Michel, Surveiller et Punir. Paris: Éditions Gallimard, 1975;  BARTOLI, Marc, L`Intensité du Travail. Thèse pour le Doctorat d`État en Sciences Économiques. Grenoble: Université des Sciences Sociales de Grenoble, 1980; GINZBURG, Carlo, “Spie – Radici di un Paradigma Indiziario”.  In: Miti, Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; ARBEX JÚNIOR, José, Islã - Um Enigma de nossa Época. São Paulo: Editora Moderna, 1996; DELEUZE, Gilles, Crítica e Clínica. São Paulo: Editora 34, 1997; CERTEAU, Michel de, L`Invenzione del Quotidiano. Roma: Edizioni Lavoro, 2000; ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon, Relações Internacionais Contemporâneas. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2005; VICKERS, Adrian, A History of Modern Indonésia. Londres: Editor Cambridge University Press, 2005; KAFKA, Franz, Il Processo. Firenze: Editore Giunti, 2006; GABEIRA, Fernando, A Maconha. São Paulo: Editor Publifolha, 2008; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; WEISS, Raquel Andrade, Émile Durkheim e a Fundamentação Social da Moralidade. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; WIRATRAMAN, Herlambang Perdana, Komnas Ham and ‘Zero Commitment’, for Human Rights in Indonesia? [Comentários à Tese de Doutorado de Ken Setiawan, no Arquivo com o Autor], 2014; PAAUW, Scott, One Land, One Nation, One Language: An Analysis of Indonesia`s National Language Polic.  New York: University of Rochester Working Papers in the Language Sciences. (5.1): 2-16; 2014; BASTOS, Marcelo Lessa, “Indonésia e Brasil: duas visões absurdamente distintas sobre o tráfico de drogas”. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/01/2015; Artigo: “Corpo de Marco Archer é Cremado na Indonésia após Execução”. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/2015/01/18; HABERMAS, JürgenDesobediência Civil - A Pedra de Toque do Estado Democrático de Direito. In: A Nova Obscuridade: Pequenos Escritos Políticos1ª edição. São Paulo: Editora Unesp, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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