Florbela Espanca – Sobre Cinema, Incesto & Suicídio Egoísta.
Ubiracy de Souza Braga*
“Ser poeta
é ser mais alto, é ser maior”. Florbela Espanca
Florbela Espanca foi uma poetisa
portuguesa, autora de sonetos e contos na literatura de Portugal. Foi uma primeira
feminista de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte
teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencantamento estão aliados
ao desejo e a dor de ser feliz. Nasceu na vila de Viçosa, Alentejo Portugal, no
dia 8 de dezembro de 1894. Filha de Antónia da Conceição Lobo, que faleceu em
1908. Florbela é então educada pela madrasta Mariana e pelo pai, João Maria,
que só a reconheceu como filha depois de sua morte. Estudou no Liceu, em Évora,
concluindo o curso de Letras. Seu primeiro poema é escrito em 1903: “A Vida e a
Morte”. Atuou como jornalista na publicação “Modas & Bordados” e “Voz
Pública”, de Évora. Em 1913, casa-se com Alberto Moutinho, colega de escola. Conheceu
outros poetas e participou politicamente de um grupo de escritoras. Em 1917,
Florbela foi a primeira mulher a
ingressar no conservador curso de Direito da Universidade de Lisboa. Seus poemas foram quase todos escritos em sonetos, e três de suas obras tornaram-se reconhecidas. Florbela concluiu o curso de Letras, e frequentou Direito em Lisboa, casou-se três vezes. Tentou três vezes o suicídio. Era muito próxima de seu irmão mais novo que, após morrer, deixou-a em profunda depressão.
Metodologicamente
o panteísmo popularizou-se na modernidade
como teologia e filosofia baseada na obra de Bento de Espinosa, o tratado filosófico:
Ética, uma resposta à teoria que se tornou famosa na concepção de René Descartes
sobre a dualidade do corpo e do espírito. Durante muito tempo os filósofos ocidentais explicaram o ser humano como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). Espinosa, por exemplo, declarou que ambos eram a
mesma coisa, e este monismo terminou transformando
uma qualidade fundamental de sua filosofia. Ele usava a palavra “Deus” para
descrever e explicar a unidade de qualquer substância. Embora o panteísmo não
tivesse sido inventado durante seu tempo de vida, hoje Espinosa é considerado
um dos mais célebres defensores desta crença. O panteísta é aquele que acredita
e/ou tem a percepção da natureza e do Universo como divindade. O panteísta representa a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente, e imanente, ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Não
vê a Ciência de maneira diversa do ateu, não atribuindo a nenhuma divindade
fatos ,como a origem do universo, da vida e da espécie humana.
Deus,
através da representação do panteísmo
é todo o Universo. O seu templo é qualquer lugar e sua lei é a Naturwissenschaften, a lei natural. Todos
os templos autênticos envolvem um simbolismo cósmico. Neste sentido, é o
condicionamento do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da
presença real. É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo, no
sentido configurado de que o corpo é o templo do Espírito Santo. Algumas
tradições religiosas mais difundidas no Ocidente dedicam nomes específicos para
seus templos. Outras, como no caso da Igreja de Jesus Cristo, dão o nome de
Templo para referir-se ao conceito/categoria que tinha na Antiguidade, por
tratarem efetivamente de templos equivalentes no simbolismo arquitetônico e,
analogamente, no propósito da Antiguidade como o “Templo de Salomão”, ou, na
análise comparada Cuzco, que significa “umbigo do mundo”, situada no sudeste do
Vale de Huatanay ou Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes, denominada Vale Sagrado dos Incas, se prolonga por mais de 100 km, sendo seus extremos as cidades de Pisac e Machu Picchu, e numerosos povos, entre eles Ollantaytambo, e centros administrativos que testemunham sua milenar origem indígena. Se encontra a uma altura média de 2800 metros sobre o nível do mar, e apresenta condições excepcionais, tais como um clima benéfico (18º C de temperatura média anual), rica flora e fauna, terra fértil e inumeráveis riachos que, nascendo das cordilheiras nevadas que o rodeiam, se precipitam em cachoeiras por entre os bosques nativos mais altos do mundo (4200 metros de altitude), provendo-o de abundante água e alimentando o rio sagrado. Vale
uma digressão. É a capital do departamento de Cuzco e da província de Cuzco. A
cidade de Cuzco está situada a 3400 metros acima do nível do mar. Era o mais
importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, ou Império Inca.
Em Antropologia se atribui a fundação de Cuzco ao Inca Manco Capac no século XI
ou XII. As paredes de granito do palácio inca ainda estão lá, bem como
monumentos como o Korikancha, ou Templo do Sol. Com do império, em
1532, Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade. A
maioria dos edifícios incas foi destruída a mando do imperialista
espanhol, com apoio de igrejas cristãs. Centros do mundo
encontraram-se na Índia, em Angkor (Java), representações do monte Meru, a um
só tempo, o eixo e o centro do mundo. Todos são representações na vida. A
maioria dos edifícios construídos depois da conquista é de influência espanhola
com uma mistura de arquitetura inca, inclusive a igreja de Santa Clara e San
Blas. São justapostos edifícios sobre as volumosas paredes de pedra construídas
arquitetonicamente em função da sabedoria pelos incas. Autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa índole, Florbela Espanca antes de tudo é poetisa.
É à sua poesia quase sempre
em forma de soneto que deve a fama e o reconhecimento. A temática abordada é
principalmente amorosa. Portanto, o que preocupa mais a autora são o amor e os
ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade,
sedução, desejo e morte. A sua obra abrange também poemas de sentido
patriótico, inclusive alguns em que é visível o seu patriotismo local: o soneto
“No meu Alentejo” é uma glorificação da terra natal da autora. Somente duas
antologias, o Livro de Mágoas (1919) e Livro de Sóror Saudade (1923), foram
publicadas em vida. Mas, Charneca em Flor (1931), Juvenília
(1931) e Reliquiae (1934) foram publicadas após o seu falecimento. A obra poética de
Florbela foi reunida por Guido Battelli num volume chamado Sonetos Completos,
publicado pela primeira vez em 1934. Em quatro décadas tinham saído 23 edições do livro (1978).
As peças anteriores às primeiras publicações da poetisa foram reconstituídas
por Mária Lúcia Dal Farra, que em 1994, editou o texto de Trocando Olhares. A
prosa de Florbela exprime-se através do conto, em que domina a figura do irmão
da poetisa, de um diário, que antecede a sua morte, e em várias cartas: algumas
de natureza familiar, outras tratam de questões relacionadas com a sua produção
literária, quer num sentido interrogativo quanto à sua qualidade, quer quanto a
aspetos mais práticos, como a sua publicação. Outras sobressaem
qualidades que nem sempre estão presentes na restante produção em prosa -
naturalidade e simplicidade.
“Minha alma de sonhar-te, anda perdida/Meus
olhos andam cegos de te ver/Não és sequer a razão do meu viver/Pois que tu és
já toda minha vida/Não vejo nada assim, enlouquecida,/Passo no mundo meu amor a
ler/O misterioso livro do teu ser,/A mesma história tantas vezes lida/Tudo no
mundo é frágil, tudo passa.../Quando me dizem isso toda a graça/Tua boca divina
fala em mim/E olhos postos em ti, digo de rastros: Podem voar mundos, morrer
astros/Que tu és como um Deus, princípio e fim/Eu já te falei de tudo, mas tudo
isto é pouco/diante do que sinto (Florbela Espanca).
A
importância de Florbela Espanca para a poesia portuguesa e para a démarche do
papel da mulher em Portugal em pleno início do século XX é extraordinária.
Poetisa de vida curta, plena e sofrida, Florbela Espanca teve sua imagem
ressignificada pelo tipo de ideologia política que tomaria fortemente Portugal
após o início da década de 1930, com a ascensão de Antônio de Oliveira Salazar
(1889-1970) ao poder. O Salazarismo representa uma ideologia política. É uma
das denominações aplicadas ao “Estado Novo” português (1933-1974), regime
político que pôs fim ao liberalismo em Portugal e inaugurou um período histórico
de 41 anos de poder com aspectos fascistas, autocrata e corporativista, nos 35
anos sob seu comando. Baseado no integralismo lusitano, bem como no fascismo
italiano e na doutrina social da Igreja, o salazarismo se constituiu como um
regime peculiar de interpelação do indivíduo constituindo-o em sujeito na
história que se aproximava do modus operandi do caudilhismo de Getúlio Vargas
e/ou de Juan Perón, na Argentina. Representou um regime autoritário e
corporativista de Estado vigorandodurante 41 anos ininterruptos, desde a aprovação da Constituição de 1933
até sua queda pela Revolução de 25 de Abril de 1974. O
primeiro sistema penal da humanidade, diria Foucault, surge enlaçado com o
tabu. A condenação cerimonial provinda do tabu, muitas vezes está eivada de tal
brutalidade que se reveste de um caráter de selvageria e irracionalidade.
Contudo, para Freud, determinados tabus, nos parecem racionais, pois tendem a
impor abstenções e privações, e ainda, faz-se necessário compreender que os
deuses e os demônios temidos pelo homem são criações das forças psíquicas do
mesmo. Deste modo, a psicanálise estuda o conteúdo do inconsciente contido na
“construção” cultural do tabu, traduzido para a análise do homem contemporâneo
e a conservação do tabu através das instituições pessoas e relações. O homem
cria para si mesmo “proibições-tabus” que as observa tão rigorosamente como o
selvagem às restrições de sua tribo ou de sua organização social. Os tabus são proibições antiquíssimas
impostas desde o exterior a uma geração de homens que, quiçá inculcadas por
gerações anteriores passadas, por culturas e herança psíquica. As proibições de
tabu, mais antigas e importantes, aparecem nas leis
fundamentais do totemismo. Freud insiste nahipótese de que estes devem ser os desejos e os prazeres mais antigos do
homem. A dialética surge quando sentimos os desejos inconscientes como
impulsos conscientes. Para Freud a
proibição do incesto está determinada pela cultura e pela vida psíquica. Esta
relação direciona suas investigações, imputando ao necessário estudo da vida
psíquica dos povos selvagens e “semisselvagens”, sendo uma fase anterior, mas
que se conserva no processo de desenvolvimento humano. Assim sendo, estabelece
do ponto de vista da análise comparada um parâmetro entre a psicologia dos povos primitivos tal como a etnografia
nos demonstra e a psicologia do neurótico, tal como surge nas investigações
psicanalíticas, descobrindo entre ambas numerosos nexos comuns. Freud pesquisa
os povos aborígines australianos, São povos que impõem a mais rigorosa
interdição às relações sexuais incestuosas. Suas regras e normas se
estabeleciam através do sistema totêmico, que divide sua sociedade em clãs, e
cada clã tem seu totem. Este totem pode ser um animal comestível, ora
inofensivo, ora perigoso, temido e, mais raramente pode vir a ser uma planta ou
uma força natural como a chuva ou a água que se acha em relação particular com
o grupo. O totem no âmbito etnográfico tem representação num antepassado do
grupo/clã e seu espírito protetor, o seu benfeitor.
Para
a análise de Freud a proibição do incesto está
determinada e revela-se de forma biunívoca pela cultura e pela vida psíquica. Esta relação direciona suas
investigações, imputando ao necessário estudo da vida psíquica dos povos
selvagens e semisselvagens, sendo uma fase anterior, mas que se conserva no
processo de desenvolvimento humano. Assim sendo, estabelece uma comparação
entre a psicologia dos povos primitivos tal como a etnografia nos mostra e a
psicologia do neurótico, tal como surge nas investigações psicanalíticas,
descobrindo entre ambas numerosos nexos comuns. Freud pesquisa os povos
aborígines australianos, São povos que impõem a mais rigorosa interdição às
relações sexuais incestuosas. Suas regras e normas se estabeleciam através do
sistema totêmico, que divide sua sociedade em clãs, e cada clã tem seu totem.
Este totem pode ser um animal comestível, ora inofensivo, ora perigoso, e, mais raramente pode ser uma planta ou uma força natural como a chuva
ou a água que se acha em relação particular com o grupo. O totem éum antepassado do grupo/clã e seu espírito
protetor, o seu benfeitor. O salazarismo é doutrinário politicamente, mas sociologicamente é positivista e normativo. Enquanto ideologia política
caracterizou-se, pelo seu teor nacionalista, tradicionalista, corporativista,
autoritário, antidemocrático, colonialista, anticomunista e
antiparlamentarista. Apesar de existirem um Parlamento e uma Assembleia
Nacional, era o Presidente do Conselho de Ministros quem centralizava os
poderes: executivo e legislativo. Vale ressaltar também a aproximação do Estado
Novo com a Igreja Católica colonialista, bem como do esforço do Estado
português também colonialista em manter suas empresas do Ultramar. Suas
fraquezas pessoais foram aumentadas e alguns comportamentos reinterpretados
para mostrar às lusitana que tipo de mulher as portuguesas
salazaristas não deveriam ser. É nessa encruzilhada que o filme de Vicente
Alves do Ó, Perdidamente Florbela (2012), faz um recorte, extemporâneo da
vida de Florbela Espanca. No cinema existem coisas que podem fugir daquilo que
o gênero exige. Ipsofacto, no caso de Florbela, à exceção da infância, não há
indicação, estética ou narrativa da escritora.
Historicamente
há dois tipos de causas extrasociais às quais se pode atribuir a priori uma
influência sobre a taxa de suicídios: as disposições orgânico-psíquicas e a
natureza do meio físico. Poderia ocorrer que, na constituição individual ou
pelo menos, na constituição de uma classe importante de indivíduos, houvesse
uma propensão, de intensidade variável conforme os países, que arrastasse
diretamente o homem ao suicídio; por outro lado, o clima, a temperatura, etc.,
poderiam pela maneira como agem sobre o organismo, ter diretamente os mesmos
efeitos. As hipóteses originais, em todo caso, sustentadas por Émile Durkheim e validadas para os dias atuais com a incidência recorrente e típica de suicídios é que grande número de mortes voluntárias
não entram em nenhuma dessas categorias;
tendo motivos que não deixam de ter fundamento na realidade. Não
se pode, portanto, sem fazer mau uso das palavras, considerar todo suicida um
“louco”. Mas de todos os suicídios o que pode parecer mais difícil de discernir
do que se observam nos homens são os de espírito melancólico; pois, com muita
frequência, o homem normal que se mata também se encontra num estado de
abatimento e de depressão, exatamente como o alienado. Mas sempre há entre eles
a diferença essencial de que o estado do primeiro e o ato resultante dele não
deixam de ter causa social objetiva, ao passo que, no segundo, não têm nenhuma relação
com as circunstâncias exteriores. Para Durkheim, nas situações de degredo, como
ocorre nas prisões e nos regimentos há um estado coletivo que inclina os
soldados e os detentos ao suicídio diretamente quanto o pode fazer a mais
violenta das neuroses. O exemplo é a causa ocasional que faz manifestar-se o
impulso; mas não é aquele que o cria, e, se o impulso não existisse, o exemplo
seria inofensivo. Uma observação pode servir de corolário a essa conclusão. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos Trabalhadores que a declarar que jamais se suicidaria. - “A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de novo”. Não por acaso o ex-presidente passou 580 dias na prisão do TRF-4, nomeados pelo Presidente da República após aprovação do Senado Federal.
É evidente que o filme se passa em meses distintos, provável do final de
1926 a final de 1927. As cenas e os momentos históricos vão surgindo na tela para
quem é familiarizado com o tema, o que fica evidente sobre o teor dramático, o
conteúdo e a essência da oba que compreende o período de “bloqueio criativo” da
poetisa. Apesar de estar pautado na sugestão visual, o enredo pende mais para
um efetivo incesto, em elipse, o que é praticamente a afirmação central da
ideologia nazi- salazarista sobre Florbela Espanca. Isto é importante na medida
de apropriação real das condições e possibilidades do incesto alardeado em
Portugal até a era machista de Marcelo Caetano. Pretende-se denegrir a imagem da
poetisa e não o tabu na vida da escritora portuguesa já que o cineasta não se
mostra tão livre de pensamento. Não seria interessante que ele trabalhasse de
verdade essa questão, embora não o vejamos na tela? Florbela Espanca
suicidou-se (cf. Durkheim, 2011) com o uso de barbitúricos, no dia de seu aniversário, em
Matozinhos, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1930, às vésperas da publicação
da obra prima Charneca em Flor, que só foi publicada em janeiro de 1931. Trata-se, sem dúvida, do livro em que Florbela que melhor consegue condensar as suas vivências, passando-as à poesia como nunca o fizera antes. É em Charneca em Flor que melhor se define a sua sensibilidade. Considerado como o seu livro mais sincero, é nele que Florbela retrata a fase mais difícil e pessoal da sua vivência como poetisa, e presta homenagem à sua terra natal.
Contudo,
segundo biógrafos como Agustina Bessa Luís ou Maria Alexandrina, não existiu,
na realidade qualquer tipo de relacionamento incestuoso entre Florbela e o
irmão Apeles. O fato de ser como irmã que Florbela se entrega mais
profundamente, deve-se, no fundo, a Florbela ter tentado ser, mais do que uma
irmã e confidente, “uma Mãe para Apeles”. Apeles nasce a 10 de março de 1897,
sendo também filho de Antônia da Conceição Lobo, a mãe de Florbela que o pai
novamente procurou para ter outro filho. Só que, ao contrário de Florbela, este
vive com a Mãe até aos quatro anos, quando esta vai para Évora e o pequeno
passa a viver com os Espanca. Pouco depois, Antônia falece, e Florbela sente-se
obrigada a preencher o lugar desta e a proteger o pequeno Apeles. Maria
Alexandrina, em “A Vida Ignorada de Florbela Espanca”, critica duramente esta
ideia, falando de um amor tão raro que “mais tarde criaturas sem alma
tentam enegrecer”. Foi uma extraordinária poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal. Foi uma das primeiras feministas de Portugal. Sua poesia é reconhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz, guardadas as proporções em relação à formação de Adelaide Cabete (1867-1935), médica, identificada como uma das precursoras do feminismo português; Maria Veleda (1871-1955), professora; e Maria Antónia Palla (1933-), jornalista feminista pioneira na imprensa diária na década de 1950.
Denomina-se como literatura portuguesa toda produção literária escrita em língua portuguesa por escritores portugueses. Por literatura lusófona, compreende-se toda produção em língua portuguesa de diferentes países de cultura lusófona, entre eles o Brasil. Literatura brasileira e literatura portuguesa estabelecem uma enorme relação dialógica, visto que as primeiras manifestações de nossa literatura ocorreram durante o período colonial. Para compreender a literatura brasileira, sua história e origens, é imprescindível reconhecer as origens da literatura portuguesa, que influenciou e ainda influencia nossa produção literária. Com origens no século XII teve seus primeiros registros em galego-português, haja vista a integração cultural e linguística entre Portugal e Galícia, região na península Ibérica que posteriormente passou a pertencer ao território colonialista espanhol. A princípios do século XX surgiu o grupo da Renascença Portuguesa, em torno da revista A Águia, e ao redor do qual se integrava o movimento reconhecido como Saudosismo, nostálgico e de caráter subjetivo, e cujo máximo representante fora o poeta Teixeira de Pascoaes.
No entanto, o grande poeta de começos do século é Fernando Pessoa, quem não atingiu um grande sucesso em vida, mas que depois de sua morte tem passado a ser considerado a par de Camões como o melhor poeta português de todos os tempos. Sua obra poética baseia-se na invenção de diferentes vozes poéticas ou heterónimos: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis ou Bernardo Soares, entre outros, a cada um deles com uma personalidade e um estilo poético próprios. Outro poeta desta época, que compartilhou páginas com Pessoa na revista modernista Orpheu foi Mário de Sá-Carneiro, poeta que se suicidou em Paris em 1916. José Régio sobressaiu como poeta e dramaturgo. A princípios dos anos 1970, em plena ditadura, publicaram-se uma série de obras em prosa e em verso de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa que publicaram uma grande polêmica, devido ao seu conteúdo erótico e feminista; sua publicação foi proibida, e só puderam reimprimir-se depois da queda da ditadura. Outra poetisa destacada desta época foi Sophia de Mello Breyner Andresen, autora de uma obra poética. Nos últimos anos do século 20 e do 21, a literatura portuguesa em prosa tem demonstrado uma grande vitalidade, graças a escritores como António Lobo Antunes e o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, autor das novelas Ensaio sobre a Cegueira, O Evangelho segundo Jesus Cristo ou A Caverna, mas que não trataremos agora.
Bibliografia geral consultada.
SIMONIS, Yvan, Claude Lévi-Strauss ou la Passion de l`inceste - Introduction au Structuralisme. Paris: Editeur Aubier-Montaigne, 1968; VELLEJO,
Mauro, “El Incesto: Desde la Psiquiatría del Siglo XIX a Sigmund Freud y Karl
Abraham. Genealogía de un Concepto, Avatares de una Problematización”. In: Revista
Investigaciones en Psicología. Buenos Aires, 2008, Año 13, nº 3, pp. 87-107;
SOARES, Marly Catarina, O Místico e o Erótico na Poesia de Florbela Espanca.
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Literatura. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, 2008; AGAMBEN, Giorgio, Nudità. Roma: Editora Nottetempo, 2009; BOMFIM, Renata Oliveira, Vozes
Femininas: A Polifonia Arquetípica em Florbela Espanca. Dissertação de
Mestrado em Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras. Vitória: Universidade
Federal do Espírito Santo, 2009; FARIAS, Priscilla Freitas, Terra de
Charneca Erma e de Saudade: A Construção Simbólica do Alentejo Português na
Obra de Florbela Espanca (1916-1930). Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Letras. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2009; ALBERONI, Francesco, Lições de Amor: Duzentas Respostas sobre Amor, Sexo e Paixão. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010; DURKHEIM, Émile, O Suicídio: Estudo de Sociologia. 2ª edição. São Paulo;
Editora WMF Martins Fontes, 2011; BATAILLE, Georges, O Erotismo. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015; SILVA, Manuella Nogueira da, A Presença
Poética da Morte em Dizeres Íntimos, Angústia e à Morte, de Florbela Espanca.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Porto
Velho: Fundação Universidade Federal de Rondônia, 2014; NASCIMENTO, Michelle Vasconcelos Oliveira do, Os
Desdobramentos do Feminino na Poesia de Florbela Espanca. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2015; XAVIER, Iracema Goor, O Amor e a Presença do Corpo de Florbela Espanca.
Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e
Crítica Literária. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2016; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário