sábado, 15 de outubro de 2016

Florbela Espanca – Sobre Cinema, Incesto & Suicídio Egoísta.

                                                                                      Ubiracy de Souza Braga*

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior”. Florbela Espanca
 
   
            Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos na literatura de Portugal. Foi uma primeira feminista de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencantamento estão aliados ao desejo e a dor de ser feliz. Nasceu na vila de Viçosa, Alentejo Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894. Filha de Antónia da Conceição Lobo, que faleceu em 1908. Florbela é então educada pela madrasta Mariana e pelo pai, João Maria, que só a reconheceu como filha depois de sua morte. Estudou no Liceu, em Évora, concluindo o curso de Letras. Seu primeiro poema é escrito em 1903: “A Vida e a Morte”. Atuou como jornalista na publicação “Modas & Bordados” e “Voz Pública”, de Évora. Em 1913, casa-se com Alberto Moutinho, colega de escola. Conheceu outros poetas e participou politicamente de um grupo de escritoras. Em 1917, Florbela foi a primeira mulher a ingressar no conservador curso de Direito da Universidade de Lisboa. Seus poemas foram quase todos escritos em sonetos, e três de suas obras tornaram-se reconhecidas. Florbela concluiu o curso de Letras, e frequentou Direito em Lisboa, casou-se três vezes. Tentou três vezes o suicídio. Era muito próxima de seu irmão mais novo que, após morrer, deixou-a em profunda depressão.
Metodologicamente o panteísmo popularizou-se na modernidade como teologia e filosofia baseada na obra de Bento de Espinosa, o tratado filosófico: Ética, uma resposta à teoria que se tornou famosa na concepção de René Descartes sobre a dualidade do corpo e do espírito. Durante muito tempo os filósofos ocidentais explicaram o ser humano como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). Espinosa, por exemplo, declarou que ambos eram a mesma coisa, e este monismo terminou transformando uma qualidade fundamental de sua filosofia. Ele usava a palavra “Deus” para descrever e explicar a unidade de qualquer substância. Embora o panteísmo não tivesse sido inventado durante seu tempo de vida, hoje Espinosa é considerado um dos mais célebres defensores desta crença. O panteísta é aquele que acredita e/ou tem a percepção da natureza e do Universo como divindade. O panteísta  representa a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente, e imanente, ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Não vê a Ciência de maneira diversa do ateu, não atribuindo a nenhuma divindade fatos ,como a origem do universo, da vida e da espécie humana.  

                         
Deus, através da representação do panteísmo é todo o Universo. O seu templo é qualquer lugar e sua lei é a Naturwissenschaften, a lei natural. Todos os templos autênticos envolvem um simbolismo cósmico. Neste sentido, é o condicionamento do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da presença real. É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo, no sentido configurado de que o corpo é o templo do Espírito Santo. Algumas tradições religiosas mais difundidas no Ocidente dedicam nomes específicos para seus templos. Outras, como no caso da Igreja de Jesus Cristo, dão o nome de Templo para referir-se ao conceito/categoria que tinha na Antiguidade, por tratarem efetivamente de templos equivalentes no simbolismo arquitetônico e, analogamente, no propósito da Antiguidade como o “Templo de Salomão”, ou, na análise comparada Cuzco, que significa “umbigo do mundo”, situada no sudeste do Vale de Huatanay ou Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes, denominada Vale Sagrado dos Incas, se prolonga por mais de 100 km, sendo seus extremos as cidades de Pisac e Machu Picchu, e numerosos povos, entre eles Ollantaytambo, e centros administrativos que testemunham sua milenar origem indígena.
          Se encontra a uma altura média de 2800 metros sobre o nível do mar, e apresenta condições excepcionais, tais como um clima benéfico (18º C de temperatura média anual), rica flora e fauna, terra fértil e inumeráveis riachos que, nascendo das cordilheiras nevadas que o rodeiam, se precipitam em cachoeiras por entre os bosques nativos mais altos do mundo (4200 metros de altitude), provendo-o de abundante água e alimentando o rio sagrado. Vale uma digressão. É a capital do departamento de Cuzco e da província de Cuzco. A cidade de Cuzco está situada a 3400 metros acima do nível do mar. Era o mais importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, ou Império Inca. Em Antropologia se atribui a fundação de Cuzco ao Inca Manco Capac no século XI ou XII. As paredes de granito do palácio inca ainda estão lá, bem como monumentos como o Korikancha, ou Templo do Sol. Com do império, em 1532, Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade. A maioria dos edifícios incas foi destruída a mando do imperialista espanhol, com apoio de igrejas cristãs. Centros do mundo encontraram-se na Índia, em Angkor (Java), representações do monte Meru, a um só tempo, o eixo e o centro do mundo. Todos são representações na vida. A maioria dos edifícios construídos depois da conquista é de influência espanhola com uma mistura de arquitetura inca, inclusive a igreja de Santa Clara e San Blas. São justapostos edifícios sobre as volumosas paredes de pedra construídas arquitetonicamente em função da sabedoria pelos incas.  Autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa índole, Florbela Espanca antes de tudo é poetisa.     

É à sua poesia quase sempre em forma de soneto que deve a fama e o reconhecimento. A temática abordada é principalmente amorosa. Portanto, o que preocupa mais a autora são o amor e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. A sua obra abrange também poemas de sentido patriótico, inclusive alguns em que é visível o seu patriotismo local: o soneto “No meu Alentejo” é uma glorificação da terra natal da autora. Somente duas antologias, o Livro de Mágoas (1919) e Livro de Sóror Saudade (1923), foram publicadas em vida. Mas, Charneca em Flor (1931), Juvenília (1931) e Reliquiae (1934) foram publicadas após o seu falecimento. A obra poética de Florbela foi reunida por Guido Battelli num volume chamado Sonetos Completos, publicado pela primeira vez em 1934. Em quatro décadas tinham saído 23 edições do livro (1978). As peças anteriores às primeiras publicações da poetisa foram reconstituídas por Mária Lúcia Dal Farra, que em 1994, editou o texto de Trocando Olhares. A prosa de Florbela exprime-se através do conto, em que domina a figura do irmão da poetisa, de um diário, que antecede a sua morte, e em várias cartas: algumas de natureza familiar, outras tratam de questões relacionadas com a sua produção literária, quer num sentido interrogativo quanto à sua qualidade, quer quanto a aspetos mais práticos, como a sua publicação. Outras sobressaem qualidades que nem sempre estão presentes na restante produção em prosa - naturalidade e simplicidade.  
Minha alma de sonhar-te, anda perdida/Meus olhos andam cegos de te ver/Não és sequer a razão do meu viver/Pois que tu és já toda minha vida/Não vejo nada assim, enlouquecida,/Passo no mundo meu amor a ler/O misterioso livro do teu ser,/A mesma história tantas vezes lida/Tudo no mundo é frágil, tudo passa.../Quando me dizem isso toda a graça/Tua boca divina fala em mim/E olhos postos em ti, digo de rastros: Podem voar mundos, morrer astros/Que tu és como um Deus, princípio e fim/Eu já te falei de tudo, mas tudo isto é pouco/diante do que sinto (Florbela Espanca). 
A importância de Florbela Espanca para a poesia portuguesa e para a démarche do papel da mulher em Portugal em pleno início do século XX é extraordinária. Poetisa de vida curta, plena e sofrida, Florbela Espanca teve sua imagem ressignificada pelo tipo de ideologia política que tomaria fortemente Portugal após o início da década de 1930, com a ascensão de Antônio de Oliveira Salazar (1889-1970) ao poder. O Salazarismo representa uma ideologia política. É uma das denominações aplicadas ao “Estado Novo” português (1933-1974), regime político que pôs fim ao liberalismo em Portugal e inaugurou um período histórico de 41 anos de poder com aspectos fascistas, autocrata e corporativista, nos 35 anos sob seu comando. Baseado no integralismo lusitano, bem como no fascismo italiano e na doutrina social da Igreja, o salazarismo se constituiu como um regime peculiar de interpelação do indivíduo constituindo-o em sujeito na história que se aproximava do modus operandi do caudilhismo de Getúlio Vargas e/ou de Juan Perón, na Argentina. Representou um regime autoritário e corporativista de Estado vigorando  durante 41 anos ininterruptos, desde a aprovação da Constituição de 1933 até sua queda pela Revolução de 25 de Abril de 1974.
        O primeiro sistema penal da humanidade, diria Foucault, surge enlaçado com o tabu. A condenação cerimonial provinda do tabu, muitas vezes está eivada de tal brutalidade que se reveste de um caráter de selvageria e irracionalidade. Contudo, para Freud, determinados tabus, nos parecem racionais, pois tendem a impor abstenções e privações, e ainda, faz-se necessário compreender que os deuses e os demônios temidos pelo homem são criações das forças psíquicas do mesmo. Deste modo, a psicanálise estuda o conteúdo do inconsciente contido na “construção” cultural do tabu, traduzido para a análise do homem contemporâneo e a conservação do tabu através das instituições pessoas e relações. O homem cria para si mesmo “proibições-tabus” que as observa tão rigorosamente como o selvagem às restrições de sua tribo ou de sua organização social. Os tabus são proibições antiquíssimas impostas desde o exterior a uma geração de homens que, quiçá inculcadas por gerações anteriores passadas, por culturas e herança psíquica. As proibições de tabu, mais antigas e importantes, aparecem nas leis fundamentais do totemismo. Freud insiste na  hipótese de que estes devem ser os desejos e os prazeres mais antigos do homem.
     A dialética surge quando sentimos os desejos inconscientes como impulsos conscientes. Para Freud a proibição do incesto está determinada pela cultura e pela vida psíquica. Esta relação direciona suas investigações, imputando ao necessário estudo da vida psíquica dos povos selvagens e “semisselvagens”, sendo uma fase anterior, mas que se conserva no processo de desenvolvimento humano. Assim sendo, estabelece do ponto de vista da análise comparada um parâmetro entre a psicologia dos povos primitivos tal como a etnografia nos demonstra e a psicologia do neurótico, tal como surge nas investigações psicanalíticas, descobrindo entre ambas numerosos nexos comuns. Freud pesquisa os povos aborígines australianos, São povos que impõem a mais rigorosa interdição às relações sexuais incestuosas. Suas regras e normas se estabeleciam através do sistema totêmico, que divide sua sociedade em clãs, e cada clã tem seu totem. Este totem pode ser um animal comestível, ora inofensivo, ora perigoso, temido e, mais raramente pode vir a ser uma planta ou uma força natural como a chuva ou a água que se acha em relação particular com o grupo. O totem no âmbito etnográfico  tem representação num antepassado do grupo/clã e seu espírito protetor, o seu benfeitor.
          Para a análise de Freud  a proibição do incesto está determinada e revela-se de forma biunívoca pela cultura e pela vida psíquica. Esta relação direciona suas investigações, imputando ao necessário estudo da vida psíquica dos povos selvagens e semisselvagens, sendo uma fase anterior, mas que se conserva no processo de desenvolvimento humano. Assim sendo, estabelece uma comparação entre a psicologia dos povos primitivos tal como a etnografia nos mostra e a psicologia do neurótico, tal como surge nas investigações psicanalíticas, descobrindo entre ambas numerosos nexos comuns. Freud pesquisa os povos aborígines australianos, São povos que impõem a mais rigorosa interdição às relações sexuais incestuosas. Suas regras e normas se estabeleciam através do sistema totêmico, que divide sua sociedade em clãs, e cada clã tem seu totem. Este totem pode ser um animal comestível, ora inofensivo, ora perigoso, e, mais raramente pode ser uma planta ou uma força natural como a chuva ou a água que se acha em relação particular com o grupo. O totem é  um antepassado do grupo/clã e seu espírito protetor, o seu benfeitor.
              O salazarismo é doutrinário politicamente, mas sociologicamente é positivista e normativo. Enquanto ideologia política caracterizou-se, pelo seu teor nacionalista, tradicionalista, corporativista, autoritário, antidemocrático, colonialista, anticomunista e antiparlamentarista. Apesar de existirem um Parlamento e uma Assembleia Nacional, era o Presidente do Conselho de Ministros quem centralizava os poderes: executivo e legislativo. Vale ressaltar também a aproximação do Estado Novo com a Igreja Católica colonialista, bem como do esforço do Estado português também colonialista em manter suas empresas do Ultramar. Suas fraquezas pessoais foram aumentadas e alguns comportamentos reinterpretados para mostrar às  lusitana que tipo de mulher as portuguesas salazaristas não deveriam ser. É nessa encruzilhada que o filme de Vicente Alves do Ó, Perdidamente Florbela (2012), faz um recorte, extemporâneo da vida de Florbela Espanca. No cinema existem coisas que podem fugir daquilo que o gênero exige. Ipso facto, no caso de Florbela, à exceção da infância, não há indicação, estética ou narrativa da escritora.
              Historicamente há dois tipos de causas extrasociais às quais se pode atribuir a priori uma influência sobre a taxa de suicídios: as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do meio físico. Poderia ocorrer que, na constituição individual ou pelo menos, na constituição de uma classe importante de indivíduos, houvesse uma propensão, de intensidade variável conforme os países, que arrastasse diretamente o homem ao suicídio; por outro lado, o clima, a temperatura, etc., poderiam pela maneira como agem sobre o organismo, ter diretamente os mesmos efeitos. As hipóteses originais, em todo caso, sustentadas por Émile Durkheim e validadas para os dias atuais com a incidência recorrente e típica de suicídios é que grande número de mortes voluntárias não entram em nenhuma dessas categorias; tendo motivos que não deixam de ter fundamento na realidade.
               Não se pode, portanto, sem fazer mau uso das palavras, considerar todo suicida um “louco”. Mas de todos os suicídios o que pode parecer mais difícil de discernir do que se observam nos homens são os de espírito melancólico; pois, com muita frequência, o homem normal que se mata também se encontra num estado de abatimento e de depressão, exatamente como o alienado. Mas sempre há entre eles a diferença essencial de que o estado do primeiro e o ato resultante dele não deixam de ter causa social objetiva, ao passo que, no segundo, não têm nenhuma relação com as circunstâncias exteriores. Para Durkheim, nas situações de degredo, como ocorre nas prisões e nos regimentos há um estado coletivo que inclina os soldados e os detentos ao suicídio diretamente quanto o pode fazer a mais violenta das neuroses. O exemplo é a causa ocasional que faz manifestar-se o impulso; mas não é aquele que o cria, e, se o impulso não existisse, o exemplo seria inofensivo. Uma observação pode servir de corolário a essa conclusão. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos Trabalhadores que a declarar que jamais se suicidaria. -  “A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de novo”. Não por acaso o ex-presidente passou 580 dias na prisão do TRF-4, nomeados pelo Presidente da República após aprovação do Senado Federal.
               É evidente que o filme se passa em meses distintos, provável do final de 1926 a final de 1927. As cenas e os momentos históricos vão surgindo na tela para quem é familiarizado com o tema, o que fica evidente sobre o teor dramático, o conteúdo e a essência da oba que compreende o período de “bloqueio criativo” da poetisa. Apesar de estar pautado na sugestão visual, o enredo pende mais para um efetivo incesto, em elipse, o que é praticamente a afirmação central da ideologia nazi- salazarista sobre Florbela Espanca. Isto é importante na medida de apropriação real das condições e possibilidades do incesto alardeado em Portugal até a era machista de Marcelo Caetano. Pretende-se denegrir a imagem da poetisa e não o tabu na vida da escritora portuguesa já que o cineasta não se mostra tão livre de pensamento. Não seria interessante que ele trabalhasse de verdade essa questão, embora não o vejamos na tela? Florbela Espanca suicidou-se (cf. Durkheim, 2011) com o uso de barbitúricos, no dia de seu aniversário, em Matozinhos, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1930, às vésperas da publicação da obra prima Charneca em Flor, que só foi publicada em janeiro de 1931. Trata-se, sem dúvida, do livro em que Florbela que melhor consegue condensar as suas vivências, passando-as à poesia como nunca o fizera antes. É em Charneca em Flor que melhor se define a sua sensibilidade. Considerado como o seu livro mais sincero, é nele que Florbela retrata a fase mais difícil e pessoal da sua vivência como poetisa, e presta homenagem à sua terra natal.
  Contudo, segundo biógrafos como Agustina Bessa Luís ou Maria Alexandrina, não existiu, na realidade qualquer tipo de relacionamento incestuoso entre Florbela e o irmão Apeles. O fato de ser como irmã que Florbela se entrega mais profundamente, deve-se, no fundo, a Florbela ter tentado ser, mais do que uma irmã e confidente, “uma Mãe para Apeles”. Apeles nasce a 10 de março de 1897, sendo também filho de Antônia da Conceição Lobo, a mãe de Florbela que o pai novamente procurou para ter outro filho. Só que, ao contrário de Florbela, este vive com a Mãe até aos quatro anos, quando esta vai para Évora e o pequeno passa a viver com os Espanca. Pouco depois, Antônia falece, e Florbela sente-se obrigada a preencher o lugar desta e a proteger o pequeno Apeles. Maria Alexandrina, em “A Vida Ignorada de Florbela Espanca”, critica duramente esta ideia, falando de um amor tão raro que “mais tarde criaturas sem alma tentam enegrecer”. Foi uma extraordinária poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal. Foi uma das primeiras feministas de Portugal. Sua poesia é reconhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz, guardadas as proporções em relação à formação de Adelaide Cabete (1867-1935), médica, identificada como uma das precursoras do feminismo português; Maria Veleda (1871-1955), professora; e Maria Antónia Palla (1933-), jornalista feminista pioneira na imprensa diária na década de 1950.
   Denomina-se como literatura portuguesa toda produção literária escrita em língua portuguesa por escritores portugueses. Por literatura lusófona, compreende-se toda produção em língua portuguesa de diferentes países de cultura lusófona, entre eles o Brasil. Literatura brasileira e literatura portuguesa estabelecem uma enorme relação dialógica, visto que as primeiras manifestações de nossa literatura ocorreram durante o período colonial. Para compreender a literatura brasileira, sua história e origens, é imprescindível reconhecer as origens da literatura portuguesa, que influenciou e ainda influencia nossa produção literária. Com origens no século XII teve seus primeiros registros em galego-português, haja vista a integração cultural e linguística entre Portugal e Galícia, região na península Ibérica que posteriormente passou a pertencer ao território colonialista espanhol. A princípios do século XX surgiu o grupo da Renascença Portuguesa, em torno da revista A Águia, e ao redor do qual se integrava o movimento reconhecido como Saudosismo, nostálgico e de caráter subjetivo, e cujo máximo representante fora o poeta Teixeira de Pascoaes.
               No entanto, o grande poeta de começos do século é Fernando Pessoa, quem não atingiu um grande sucesso em vida, mas que depois de sua morte tem passado a ser considerado a par de Camões como o melhor poeta português de todos os tempos. Sua obra poética baseia-se na invenção de diferentes vozes poéticas ou heterónimos: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis ou Bernardo Soares, entre outros, a cada um deles com uma personalidade e um estilo poético próprios. Outro poeta desta época, que compartilhou páginas com Pessoa na revista modernista Orpheu foi Mário de Sá-Carneiro, poeta que se suicidou em Paris em 1916. José Régio sobressaiu como poeta e dramaturgo. A princípios dos anos 1970, em plena ditadura, publicaram-se uma série de obras em prosa e em verso de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa que publicaram uma grande polêmica, devido ao seu conteúdo erótico e feminista; sua publicação foi proibida, e só puderam reimprimir-se depois da queda da ditadura. Outra poetisa destacada desta época foi Sophia de Mello Breyner Andresen, autora de uma obra poética. Nos últimos anos do século 20 e do 21, a literatura portuguesa em prosa tem demonstrado uma grande vitalidade, graças a escritores como António Lobo Antunes e o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, autor das novelas Ensaio sobre a Cegueira, O Evangelho segundo Jesus Cristo ou A Caverna, mas que não trataremos agora.

 Bibliografia geral consultada. 

SIMONIS, Yvan, Claude Lévi-Strauss ou la Passion de l`inceste - Introduction au Structuralisme. Paris: Editeur Aubier-Montaigne, 1968; VELLEJO, Mauro, “El Incesto: Desde la Psiquiatría del Siglo XIX a Sigmund Freud y Karl Abraham. Genealogía de un Concepto, Avatares de una Problematización”. In: Revista Investigaciones en Psicología. Buenos Aires, 2008, Año 13, nº 3, pp. 87-107; SOARES, Marly Catarina, O Místico e o Erótico na Poesia de Florbela Espanca. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Literatura. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2008; AGAMBEN, Giorgio, Nudità. Roma: Editora Nottetempo, 2009; BOMFIM, Renata Oliveira, Vozes Femininas: A Polifonia Arquetípica em Florbela Espanca. Dissertação de Mestrado em Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2009; FARIAS, Priscilla Freitas, Terra de Charneca Erma e de Saudade: A Construção Simbólica do Alentejo Português na Obra de Florbela Espanca (1916-1930). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2009; ALBERONI, Francesco, Lições de Amor: Duzentas Respostas sobre Amor, Sexo e Paixão. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010; DURKHEIM, Émile, O Suicídio: Estudo de Sociologia. 2ª edição. São Paulo; Editora WMF Martins Fontes, 2011; BATAILLE, Georges, O Erotismo. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015; SILVA, Manuella Nogueira da, A Presença Poética da Morte em Dizeres Íntimos, Angústia e à Morte, de Florbela Espanca. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Porto Velho: Fundação Universidade Federal de Rondônia, 2014; NASCIMENTO, Michelle Vasconcelos Oliveira do, Os Desdobramentos do Feminino na Poesia de Florbela Espanca. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015; XAVIER, Iracema Goor, O Amor e a Presença do Corpo de Florbela Espanca. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016;  entre outros.

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