sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Bafo da Onça - Ciganos, Bairros & Blocos da Cidade Maravilhosa.

Ubiracy de Souza Braga* 
                                                   “Você é meu amigo ou amigo da onça?”. Márcio Bueno

      
Acredita-se que a origem da expressão bafo de onça vem do felino Panthera  onca, também conhecida por “onça-preta” espécie de mamífero carnívoro da família Felidae encontrada nas Américas, particularmente presente desde o México, passando pela América Central até a América do Sul, incluindo toda a bacia Amazônica, no Brasil. É um animal carnívoro que “se suja bastante na hora de comer a sua presa”. Por este motivo muitas vezes apresenta um cheiro de sangue repugnante, de tal modo que a sua presença é detectada de longe. Analogamente pessoas que possuem o hálito fétido passaram a ser chamadas de “bafo de onça”. No carnaval o Bafo de Onça é um dos mais reconhecidos blocos nascido no Rio de Janeiro e desfila na Av. Rio Branco. O “Bafo” foi fundado em 12 de dezembro de 1956, em um botequim do bairro do Catumbi. Foi um dos maiores blocos carnavalescos do Rio de Janeiro, quando esta cidade ainda era a capital do Brasil. Durante o carnaval, o fundador do Bafo de Onça, o carpinteiro e policial militar Sebastião Maria, formava o bloco do “eu sozinho”, e saía pelas ruas do bairro, fantasiado de onça. É sabido que o fundador do bloco bebia bastante, e por isso o seu hálito transformava-se em um verdadeiro “bafo de onça”.
Dentre seus fundadores consta Sebastião Maria, ex-policial e ex-carpinteiro reconhecido por Seu Tião Carpinteiro, que durante o carnaval desfilava fantasiado de onça-pintada, em uma espécie de bloco do “Eu Sozinho”.+. De acordo com o historiador Luiz Antonio Simas, a origem do Bloco Bafo da Onça data de 12 de dezembro de 1956, dentro de um boteco simples e popular de “quinta categoria”, no bairro do Catumbi, fundado pelo carpinteiro e policial. Pertinente dizer que Seu Tião Carpinteiro “tomava todas” a partir do dia de Santos Reis, data que marcava, para ele, as festas do Reinado de Momo, e só terminava na quarta-feira de cinzas. Devido a todo este tempo de bebedeira, o hálito exalado pelo Tião era um verdadeiro bafo-de-onça. No dia da fundação do bloco, o combinado era que todos os integrantes iriam sair bêbados, fantasiados de onça, em homenagem ao seu fundador e à sua exalação odorífera. É uma bela tradição carnavalesca brasileira. A cantora Claudia Leitte sobe ao trio elétrico do seu bloco Largadinho, em Salvador, fantasiada de onça.

O bairro se define como uma organização coletiva de trajetórias individuais. A organização da vida cotidiana se articula ao menos segundo dois registros: 1. Os comportamentos, cujo sistema se torna visível no espaço social da rua e que se traduz pelo vestuário, pela aplicação mais ou menos estrita dos códigos de cortesia, o ritmo de andar, o modo como se evita ou ao contrário se valoriza este ou aquele espaço público. 2. Os benefícios simbólicos que se espera obter pela maneira de “se portar” no espaço do bairro aparecem como o lugar onde se manifesta um “engajamento” social: uma arte de conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão ligados a você pelo fato concreto, mas essencial, da proximidade e da repetição. Existe uma regulação metodológica articulando um ao outro esses dois sistemas com o auxílio do conceito de conveniência, que surge no nível dos comportamentos, representando um compromisso pelo qual cada pessoa, renunciando à anarquia das pulsões individuais, contribui para a vida coletiva, retirando daí benefícios simbólicos necessariamente protelados. 

Queremos dizer com isso que pela relação “saber comportar-se”, o usuário se obriga a respeitar para que seja possível a vida cotidiana. A contrapartida desse tipo social de imposição é para o usuário a certeza de ser reconhecido e, portanto, considerado afetivamente por seus pares, e fundar assim em benefício próprio uma relação de forças nas diversas trajetórias que percorre. O bairro é por definição, um domínio do ambiente social, pois constitui para o usuário uma parcela conhecida do espaço urbano na qual positiva ou negativamente ele se sente reconhecido. Pode-se, portanto apreender o bairro, simplificadamente, como esta porção do espaço público em geral em que se insinua um “espaço privado particularizado” pelo fato do uso quase cotidiano desse espaço social integrado. A fixidez do habitat dos usuários, o costume recíproco do fato da vizinhança, os processos de reconhecimento que se estabelecem graças à coexistência concreta em território urbano, esses elementos práticos se nos oferecem como imensos campos de exploração em vista de compreender um pouco melhor esta grande desconhecida que é a vida cotidiana.

O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário ordinário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. Diante do conjunto da cidade, atravancado por códigos que o usuário não domina, mas que deve assimilar para poder viver aí, em face de uma configuração dos lugares impostos pelo urbanismo, diante dos desníveis sociais internos ao espaço urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar de aconchego, itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que ele soube, por si mesmo, impor ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro é uma noção dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer uma apropriação. A trivialidade desse processo, partilhado por cidadãos, torna inaparente a sua complexidade enquanto prática cultural e a sua urgência para satisfazer o desejo urbano dos usuários da cidade.  


O bairro já contava com outros blocos e ranchos que também desfilavam por suas ruas e avenidas nos dias de carnaval. Segundo Hiram Araújo em seu livro: Carnaval Seis Milênios de História (2003), o bloco é considerado “bloco carnavalesco de empolgação”, estruturado no modelo de bloco simples, sem variações de fantasias, alegorias e enredos, divididos em grupos e séries, desfilando na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro e nos subúrbios tanto o de sua fundação e outros próximos. A música do bloco Bafo da Onça até hoje é muito ouvida e faz parte da história social e da tradição do carnaval brasileiro. Pena que do ponto de vista da reprodutibilidade técnica da arte não se credite valor aos seus compositores, que passaram para a história ainda como desconhecida. Segue abaixo, para deleite dos saudosistas e das novas gerações: -“Nessa onda que eu vou/Olha a onda iaiá/É o Bafo da Onça/Que acabou de chegar/Olha a rapaziada/Vem dizendo no pé/As cabrochas gingando, oba!/E como tem mulher/Vejam todos presentes/Olha a empolgação/Esse é o Bafo da Onça/Que eu trago guardado/No meu coração/É o bom, é o bom, é o bom”.
Historicamente a inserção social e econômica dos ciganos na cidade do Rio de Janeiro não dissolveu o estigma que os acompanha. Ainda eram conhecidos como ladrões e sedutores de escravos, por exemplo. A partir do século XX, com a expansão da malha urbana em outras direções, o bairro entrou em decadência. Na década de 1960, a construção do Túnel Santa Bárbara contribuiu para esse processo, transformando o bairro em um corredor de passagem, situação agravada nas décadas seguintes pelo processo de inchamento das comunidades de baixa renda que lhe são vizinhas. Este processo de comunicação foi estudado pelos antropólogos Arno Vogel e Marco Antonio da Silva Mello da Universidade Federal Fluminense e pelo urbanista Carlos Nelson Ferreira dos Santos no livro: “Quando a Rua Vira Casa”. O bairro do Catumbi abriga o importante e tradicional Cemitério de São Francisco de Paula, onde se encontram sepultados, os músicos Francisco Manuel da Silva, Chiquinha Gonzaga e Catulo da Paixão Cearense, além de titulares da história social do Segundo Reinado (1840-1889), como o Visconde de Itamaraty, Marquês de Olinda e o Visconde de Mauá.
Entre os anos de 1957 e 1959 o bloco elegeu três Rainhas do Carnaval. Estas desfilavam à frente do bloco como madrinhas. Com o lema “Decência, respeito e união”, na década de 1960, o bloco chegou a desfilar na Avenida Rio Branco com mais de 1500 componentes, número maior que muitas escolas do Grupo B naquele período. No início dos anos 1960 o bloco lançou pelo Selo Mocambo, em conjunto com a Fábrica de Discos Rozenblit, um Long Play (LP) com alguns de seus sambas-de-empolgação. Entre os compositores e cantores do disco, destacaram-se Joaquim Antero de Araújo (Mistura), Walter Terra (Jujuba) e Paulo F. de Lima, além, é claro, da figura emblemática e muito associada ao bloco, o cantor e compositor Osvaldo Nunes. No disco, foram incluídas as seguintes composições: “Virou bagunça”, de Osvaldo Nunes; “Amor, amor, amor” e “Canoa”, ambas de autoria de Jujuba; “Página perdida”, de Paulo F. de Lima e “Despedida”, “Saudação”, “Ilusão” e “Rainha do meu coração”, estas quatro últimas de autoria do compositor Mistura. Na década de 1970, Beth Carvalho lançou pela empresa fonográfica Tapecar o compact disk, um disco ótico digital de armazenamento de dados. O formato foi originalmente desenvolvido com o propósito de armazenar e tocar apenas músicas, mas posteriormente foi adaptado para o armazenamento de dados, o “Amor, amor”, sendo um dos sambas de maior sucesso. Nos ensaios e desfile do bloco, nas décadas de 1960 e 1970, participavam Sargentelli (1924-2002) e suas mulatas, João Roberto Kelly, pianista, compositor e produtor musical e Dominguinhos do Estácio também compositor e intérprete de samba-enredo carioca. 

Bloco Carnavalesco Bafo da Onça e suas mulatas com premiação em 1975.
O nome Catumbi é derivado do termo tupi ka´á-t-übi, que significa “a folha azul”. Significa tanto o nome de uma dança quanto o nome de um “jogo de azar”. A sorte de ganhar ou perder não depende da habilidade do jogador, mas exclusivamente de uma contingência natural baseada numa realidade produzida chamada de probabilidades matemáticas. A essência do jogo de azar é a tomada de decisão sob condições de risco, conhecendo-se o regulamento. É um dos bairros mais antigos da cidade. Historicamente constituía-se em um vale úmido e sombreado por onde corria um rio nascido nas alturas do Morro de Santa Teresa, rio este que era aproveitado para irrigação das lavouras de cana-de-açúcar. Este rio se chama “papa couve” e ganhou este nome, pois quando o mesmo transbordava arrastava as plantações de couve que havia em suas margens. Hoje, o mesmo rio canalizado e passa por dentro do Cemitério do Catumbi onde pode ser visto. As plantações deram lugar a sobrados ainda à época colonial portuguesa e, estudadas por em fins do século XIX, a região constituía-se em um arrabalde elegante de sobrados de classe média alta, como referido nas obras do escritor Machado de Assis e do antropólogo Gilberto Freyre (1980). A partir do século XIX, ciganos começaram a se instalar no bairro, transformando-o num reduto dessa comunidade até os dias atuais.
A historicidade do povo cigano ou rom (homens) é ainda hoje objeto de controvérsia na historiografia (cf. Liégeois, 1988; Fazito, 2000). A capacidade para cruzar fronteiras ou para aliar-se em determinadas ocasiões com a população autóctone realizando trabalhos imprescindíveis, faz que os ciganos de toda Europa resistam à assimilação e conservarem as suas próprias características étnicas relativamente intactos na atualidade. Em primeiro lugar, a cultura cigana é fundamentalmente ágrafa e despreocupada por sua história social, mas não de sua cultura, de maneira que não foram conservados por escrito sua procedência. Sua história foi estudada por outros, com frequência através de um cariz fortemente etnocêntrico. Os primeiros movimentos migratórios datam do século X, de sorte que muita informação historiográfica se perdeu. É importante assinalar também que os primeiros grupos de ciganos chegados a Europa ocidental idealizavam acerca de suas origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em parte como estratégia de proteção frente a uma população em que eram considerados “minorias,” em parte como posta em cena de seus espetáculos e atividades. Outro dilema que se deve ter em conta é que a inserção na comunidade cigana é uma questão disputada. Não existe uma delimitação clara dentro da própria comunidade (nem fora dela) acerca de quem é cigano e quem não o é. As principais fontes etnográficas são os testemunhos e as análises linguísticas e sobretudo em torno da genética populacional. 
O termo em português cigano, assim como o espanhol gitano, e em inglês gypsy é uma corruptela de egípcio, aplicado a esse povo pela crença errônea de que seriam provenientes do Egito. No século XVIII, o estudo da língua romani, própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito similar ao panjabi o ao hindi ocidental. Isso demonstrou que a origem do povo rom está no noroeste do subcontinente Indiano, na zona em que atualmente fica a fronteira entre os estados modernos de Índia e Paquistão. Esse descobrimento linguístico acabou sendo também respaldado por estudos genéticos. É provável que os ciganos originaram-se de uma casta inferior do noroeste da Índia, que, por causas desconhecidas foi obrigada a abandonar o país no primeiro milênio d. C. A procedência dos roma foi objeto de todo tipo de fantasias e/ou idealizações. Foram considerados descendentes de Caim, ou relacionados com a estirpe de Cam. Algumas tradições os identificam com magos caldeus da Síria, ou com uma tribo de Israel fugida do Egito faraônico. Uma antiga lenda balcânica os faz forjadores dos pregos da cruz de Cristo, motivo pelo qual teriam sido condenados a “errar pelo mundo”, como ocorre no Oriente Médio historicamente naquele período.
Enfim, durante praticamente todo o século XIX e parte do XX, ciganos calom do bairro do Catumbi ocuparam posições bem definidas no Judiciário da cidade do Rio de Janeiro. Observando as árvores genealógicas do grupo, surpreende o fato de quase todos os seus membros ocuparem a função de oficial de justiça, desde a época em que ele era conhecido como “meirinho”. Pode-se dizer que, entre os calom, o ofício se transformou mesmo em objeto de transmissão hereditária. Podem ser identificadas linhas de descendência nas quais toda uma geração de filhos e netos trabalham no métier. Os calom do Catumbi traçam sua descendência a partir das famílias que chegaram ao Brasil deportadas de Portugal, no fim do século XVIII, e, em menor número, daquelas que vieram acompanhando a comitiva de D. João VI, em 1808. Foi estabelecido um arranjo familiar marcado por intensas relações de parentesco e circunscrito ao bairro do Catumbi, no Rio de Janeiro, onde estão desde a primeira metade do século XIX.  
Em 1976 foi lançado um Long Play do qual participaram dois dos mais importantes intérpretes do bloco Bafo da Onça: a cantora e compositora Marly, também conhecida pelo pseudônimo “Marly, a Onça que Canta” e Osvaldo Nunes, também compositor do maior sucesso do grupo, o samba-empolgação: “Oba”. Outro compositor importante do bloco foi Walter Dionizio, autor de vários sambas-empolgação, dentre os quais “Marly chegou para cantar”, em parceria com “Marly, A Onça Que Canta”, e interpretado pela cantora no disco de 1976 e pouco tempo depois gravado por Elizeth Cardoso. Segundo Araújo (2003), os blocos carnavalescos ainda “seguram” o carnaval, ainda que reduzidos de 300 para 60, no ano de 1997 e pouco mais de 20, dois anos depois. O bloco sofreu um esvaziamento desde a urbanização do bairro do Catumbi, principalmente com a construção do “Elevado 31 de Março” e da abertura do túnel Santa Bárbara, que liga a Zona Norte à Zona Sul do Rio de Janeiro, dividiram o bairro, demolindo casarões centenários e removendo quadras inteiras de moradores de famílias tradicionais, que mantinham como referência cultural os diversos blocos de empolgação, dentre os quais o próprio “Bafo da Onça”.
Em seu livro Blocos, o jornalista João Pimentel relembra a importância do grupo formado por Tião Maria, que inspirou a criação de outras agremiações: - “Talvez por estar localizado em uma região central da cidade, o Bafo da Onça reunia a Zona Norte e a Zona Sul, mas tinha sua base vital na animada população do bairro”. Em 2003 o bloco desfilou juntamente com o “Bloco Cacique de Ramos” e o “Bloco Boêmio de Irajá”, como hors concours na Avenida Rio Branco. Entre esses blocos e ranchos destacavam-se: “Rancho Carnavalesco União dos Caçadores” (campeão de vários carnavais); “Rancho Carnavalesco Unidos do Cunha”; “Rancho Carnavalesco Inocentes do Catumbi”; “Bloco Carnavalesco Astória Futebol Clube”, tricampeão de “Banho    Fantasia” na orla da praia de Copacabana e o “Bloco Carnavalesco Vai Quem Quer”, que apesar de pertencer ao bairro do Flamengo, portanto nas proximidades do Centro,  também desfilava nas ruas do Catumbi. No ano de 2011 a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro contabilizou estatisticamente 420 blocos inscritos para desfile nas ruas do centro da cidade e avenidas e ruas da Zona Sul (praias), dentre os quais o próprio Bafo da Onça, e do subúrbio carioca o Boêmio de Irajá, do subúrbio da Leopoldina o Cacique de Ramos, integrando-se como os mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro.     
Enfim, a morte de Juma, a onça que participou de uma cerimônia com a tocha olímpica em Manaus em 2014, revela o drama social brasileiro e a questão da consciência ambiental de uma espécie ameaçada de extinção e gera questionamentos de ordem administrativa sobre a manutenção preventiva de animais selvagens em centros do Exército na Amazônia. Após percorrer 39 km pelas ruas de Manaus, a passagem da Tocha Olímpica tem seu ápice no Anfiteatro da Ponta Negra, na Zona Oeste. No complexo ocorre a Celebração da Cidade, com shows musicais e o acendimento da Pira Olímpica, que permanece com a chama diante do público por meia hora. A onça Juma foi abatida com um tiro de pistola no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) logo após ser exibida no evento. Como outra onça, apelidada de Simba, ela havia sido “acorrentada” e apresentada ao público durante a cerimônia. O Exército mantém várias onças em cativeiro na Amazônia. Os felinos, como animais de outras espécies, costumam ser adotados pelo órgão ao serem encontrados em cativeiro em poder de caçadores. Muitas onças como Juma, se tornam mascotes dos batalhões e passam por sessões de treinamento. Em Manaus, os felinos domesticados por preparadores nesse domínio, são frequentes em desfiles militares, embora a prática seja condenada por biólogos e veterinários.

                                   
Em 2014, durante gravação de um documentário em Manaus, militares do CIGS mostraram Juma, a mascote do centro, à BBC Brasil. O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com a designação histórica e ideológica Centro Coronel Jorge Teixeira, é uma organização militar do Exército Brasileiro sediada na cidade de Manaus destinada a qualificar militares líderes de pequenas frações, como guerreiros da selva, combatentes aptos a cumprir missões de natureza militar nas áreas mais inóspitas da Floresta Amazônica brasileira bem como em ambientes da mesma natureza. Sua designação histórica é uma homenagem ao precursor do Centro, que se tornaria seu primeiro comandante, reconhecido como Teixeirão. Explicaram que a onça havia sido resgatada com ferimentos após sua mãe ter sido morta. Foi levada para o Centro de Instrução e ali cresceu sob os cuidados profissionais de tratadores de animais.  Neste contexto, a onça é o antagonista que interfere no objetivo do protagonista. Esse sujeito se expõe ao contato com aquilo que lhe oferece perigo, neste caso a onça - o feminino. Esta por sua vez se apresenta como contrária ao indivíduo, contrária à sociedade que lhe é inerente, pois ela é a ausência de parentesco, é aquele elemento que lhe oferece perigo diretamente. O destino trágico de Juma chama a atenção mundial para a situação cada vez mais precária da espécie, listada como ameaçada no Brasil pelo IBAMA em 2003.
É um animal que exige extensas áreas preservadas para sua sobrevivência, caçando espécies como capivaras e mesmo jacarés. Contudo, ela vem sendo ameaçada pelo desmatamento, não apenas na área de abrangência da Amazônia Legal, pois transcende o Pantanal mato-grossense e o Cerrado, pela pressão política e usurária de latifundiários para a expansão agropecuária num país de dimensão continental. Em nota enviada ao site da agência local de notícias “Amazônia Real”, o Comando Militar da Amazônia (CMA) diz que, após a solenidade olímpica na segunda-feira, Juma escapou dentro do zoológico do centro do Exército. O órgão afirma que um grupo de veterinários e militares tentou recapturá-la com tranquilizantes, mas que, mesmo atingido, o animal avançou sobre um soldado. – “Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer”. Segundo o site “Amazônia Real”, dois militares seguravam a corrente presa a Juma durante todo o evento. Muitas pessoas naturalmente tiraram fotos com a onça na cerimônia. Ela teria fugido após a exibição, quando os militares que tentavam colocá-la na caminhonete, e por falta de habilidade, a tenham deixado escapar. Mas não se trata de uma redução sociológica, a saber: falta de habilidade e de conhecimento. Um trabalhador qualificado segue o próprio bom senso, a própria habilidade e a própria sabedoria. 
Bibliografia geral consultada.

MENDÉS, Jane Catule, La Ville Merveilleuse: Rio de Janeiro: Poèmes. Paris: Editeur E. Sansort, 1913; MAUSS, Marcel, “Uma Categoria do Espírito Humano a Noção de Pessoa, a Noção do Eu”. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU; EDUSP, volume I. 1974; LIÉGEOIS, Jean-Paul, Los Gitanos. México: Fondo de Cultura Econômica, 1988; SANDRONI, Carlos, “La Samba à Rio de Janeiro et le Paradigme de l`Estácio”. In: Cahiers de Musiques Tradicionalles, (10) 1997; pp. 153-168; BAKHTIN, Mikhail, A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: O Contexto de François Rabelais. São Paulo/Brasília: Editora Hucitec/Editora Universidade de Brasília, 1999; FAZITO, Dimitri, Transnacionalismo e Etnicidade: Romanesthán, Nação Cigana Imaginada. Dissertação de Mestrado. Departamento de Sociologia e Antropologia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2000; ARAÚJO, Hiram, Carnaval Seis Milênios de História. Rio de Janeiro: Editora Gryphus, 2003; ARAÚJO, Fernando, A Hora dos Direitos dos Animais. Coimbra: Editor Almedina, 2003; REGAN, Tom, Jaulas Vazias. Porto Alegre: Editor Lugano, 2005; BOSCAINO JR., Alberto, O Apito no Samba: Os Diferentes Matizes no Samba-Enredo da Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Música Brasileira. Programa de Pós-Graduação em Música. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; GOMES, Rodrigo, Samba no Feminino: Transformações das Relações de Gênero no Samba Carioca nas Três Primeiras Décadas do Século XX. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2011; GREGORY, Jonathan Alexander Araújo, Os Carnavais do Monobloco: Um Estudo Etnomusicológico sobre Blocos e Oficinas de Percussão no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Música. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012;  HERTZMAN, Mark, Making Samba: A New History of Race and Music in Brazil. Carolina do Norte: Duke University Press, 2013; SILVA, Thiago Rocha Ferreira da, Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua. A Construção de uma Cidadania da Festas no Carnaval de Rua do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; SANTOS, Luiz Gustavo de Lacerda, À Sombra da Globalização: Um Estudo sobre o Carnaval de Rua do Rio de Janeiro através das Páginas do Jornal O Globo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014; SAPIA, Jorge Edgardo, Carnaval de Rua no Rio de Janeiro: Afetos e Participação Política. In: pragMATIZES - Revista Lutino Americana de Estudos de Cultura. Ano 6, nº 11, semestre, abril 2016 a set. 2016; PLATONOW, Vladimir, Blocos Tradicionais Reclamam de Abandono pela Prefeitura do Rio. In: Agenciabrasil.ebc.com.br/2016/02entre outros.  

3 comentários:

  1. Nasci na rua Dr. Agra, 61, Catumbi, em 1935. Vivi no bairro durante 30 anos. O rio Papa-couves, onde brincávamos, pegávamos peixinhos e éramos sugados pelas sanguessugas, não passa por dentro do cemitério. Ainda pode ser visto no Educandário na Dr. Agra no local onde mergulha sob a calçada dessa rua.

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    1. Prezado Paulo César,
      Infelizmente só vimos a sua mensagem alguns anos depois da publicação do artigo. Foi um grande prazer saber que V. Sa. fora um folião de bairro tão marcante, na história social do Rio de Janeiro e ainda, pelo fato de ter lido esse nosso artigo sobre o bairro!

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  2. Tenho livro registrado, mas não editado, sob o título "Catumbi, Um crime contra a cidade". Tenho fotos interesantes, inclusive sobre o papa-couve. pcflucchetti@gmail.com

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