Bafo da Onça - Ciganos, Bairros & Blocos da Cidade Maravilhosa.
Ubiracy de Souza Braga*
“Você é meu amigo ou amigo da onça?”.
Márcio Bueno
Acredita-se
que a origem da expressão bafo de onça vem do felino Panthera onca, também conhecida por “onça-preta”
espécie de mamífero carnívoro da família Felidae
encontrada nas Américas, particularmente presente desde o México, passando pela
América Central até a América do Sul, incluindo toda a bacia Amazônica, no
Brasil. É um animal carnívoro que “se suja bastante na hora de comer a sua
presa”. Por este motivo muitas vezes apresenta um cheiro de sangue repugnante,
de tal modo que a sua presença é detectada de longe. Analogamente pessoas que
possuem o hálito fétido passaram a ser chamadas de “bafo de onça”. No carnaval
o Bafo de Onça é um dos mais reconhecidos blocos nascido no Rio de Janeiro e
desfila na Av. Rio Branco. O “Bafo” foi fundado em 12 de dezembro de 1956, em
um botequim do bairro do Catumbi. Foi um dos maiores blocos carnavalescos do
Rio de Janeiro, quando esta cidade ainda era a capital do Brasil. Durante o
carnaval, o fundador do Bafo de Onça, o carpinteiro e policial militar
Sebastião Maria, formava o bloco do “eu sozinho”, e saía pelas ruas do bairro,
fantasiado de onça. É sabido que o fundador do bloco bebia bastante, e por isso
o seu hálito transformava-se em um verdadeiro “bafo de onça”.
Dentre
seus fundadores consta Sebastião Maria, ex-policial e ex-carpinteiro reconhecido
por Seu Tião Carpinteiro, que durante o carnaval desfilava fantasiado de
onça-pintada, em uma espécie de bloco do “Eu Sozinho”.+. De acordo com o
historiador Luiz Antonio Simas, a origem do Bloco Bafo da Onça data de 12 de
dezembro de 1956, dentro de um boteco simples e popular de “quinta categoria”, no bairro
do Catumbi, fundado pelo carpinteiro e policial. Pertinente dizer que Seu Tião
Carpinteiro “tomava todas” a partir do dia de Santos Reis, data que marcava,
para ele, as festas do Reinado de Momo, e só terminava na quarta-feira de
cinzas. Devido a todo este tempo de bebedeira, o hálito exalado pelo Tião era
um verdadeiro bafo-de-onça. No dia da fundação do bloco, o combinado era que
todos os integrantes iriam sair bêbados, fantasiados de onça, em homenagem ao
seu fundador e à sua exalação odorífera. É uma bela tradição carnavalesca brasileira. A cantora Claudia Leitte sobe ao trio elétrico do seu bloco Largadinho, em Salvador, fantasiada de onça.
O
bairro se define como uma organização coletiva de trajetórias individuais. A
organização da vida cotidiana se articula ao menos segundo dois registros: 1.
Os comportamentos, cujo sistema se torna visível no espaço social da rua e que
se traduz pelo vestuário, pela aplicação mais ou menos estrita dos códigos de
cortesia, o ritmo de andar, o modo como se evita ou ao contrário se valoriza
este ou aquele espaço público. 2. Os benefícios simbólicos que se espera obter
pela maneira de “se portar” no espaço do bairro aparecem como o lugar onde se
manifesta um “engajamento” social: uma arte de conviver com parceiros
(vizinhos, comerciantes) que estão ligados a você pelo fato concreto, mas
essencial, da proximidade e da repetição. Existe uma regulação metodológica articulando um
ao outro esses dois sistemas com o auxílio do conceito de conveniência, que
surge no nível dos comportamentos, representando um compromisso pelo qual cada
pessoa, renunciando à anarquia das pulsões individuais, contribui para a vida
coletiva, retirando daí benefícios simbólicos necessariamente protelados.
Queremos dizer com isso que pela
relação “saber comportar-se”, o usuário se obriga a respeitar para que seja
possível a vida cotidiana. A
contrapartida desse tipo social de imposição é para o usuário a certeza de ser
reconhecido e, portanto, considerado afetivamente por seus pares, e fundar
assim em benefício próprio uma relação de forças nas diversas trajetórias que
percorre. O bairro é por definição, um domínio do ambiente social, pois
constitui para o usuário uma parcela conhecida do espaço urbano na qual
positiva ou negativamente ele se sente reconhecido. Pode-se, portanto apreender
o bairro, simplificadamente, como esta porção do espaço público em geral em que
se insinua um “espaço privado particularizado” pelo fato do uso quase cotidiano
desse espaço social integrado. A fixidez do habitat dos usuários, o
costume recíproco do fato da vizinhança, os processos de reconhecimento que se
estabelecem graças à coexistência concreta em território urbano, esses elementos práticos se nos oferecem como imensos campos de exploração em
vista de compreender um pouco melhor esta grande desconhecida que é a vida cotidiana.
O
bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para
um usuário ordinário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa.
Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o
espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão
de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com
a residência. Diante do conjunto da cidade, atravancado por códigos que o
usuário não domina, mas que deve assimilar para poder viver aí, em face de uma
configuração dos lugares impostos pelo urbanismo, diante dos desníveis sociais
internos ao espaço urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar
de aconchego, itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que
ele soube, por si mesmo, impor ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro é
uma noção dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo
mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer
uma apropriação. A trivialidade desse processo, partilhado por cidadãos, torna
inaparente a sua complexidade enquanto prática cultural e a sua urgência para
satisfazer o desejo urbano dos usuários da cidade.
O
bairro já contava com outros blocos e ranchos que também desfilavam por suas
ruas e avenidas nos dias de carnaval. Segundo Hiram Araújo em seu livro: Carnaval
Seis Milênios de História (2003), o bloco é considerado “bloco carnavalesco de empolgação”,
estruturado no modelo de bloco simples, sem variações de fantasias, alegorias e
enredos, divididos em grupos e séries, desfilando na Avenida Rio Branco, no
Centro do Rio de Janeiro e nos subúrbios tanto o de sua fundação e outros
próximos. A música do bloco Bafo da Onça até hoje é muito ouvida e faz parte da
história social e da tradição do carnaval brasileiro. Pena que do ponto de vista da reprodutibilidade técnica da arte não se credite valor aos
seus compositores, que passaram para a história ainda como desconhecida. Segue
abaixo, para deleite dos saudosistas e das novas gerações: -“Nessa onda que eu
vou/Olha a onda iaiá/É o Bafo da Onça/Que acabou de chegar/Olha a rapaziada/Vem
dizendo no pé/As cabrochas gingando, oba!/E como tem mulher/Vejam todos
presentes/Olha a empolgação/Esse é o Bafo da Onça/Que eu trago guardado/No meu
coração/É o bom, é o bom, é o bom”.
Historicamente
a inserção social e econômica dos ciganos na cidade do Rio de Janeiro não
dissolveu o estigma que os acompanha. Ainda eram conhecidos como ladrões e
sedutores de escravos, por exemplo. A partir do século XX, com a expansão da
malha urbana em outras direções, o bairro entrou em decadência. Na década de
1960, a construção do Túnel Santa Bárbara contribuiu para esse processo,
transformando o bairro em um corredor de passagem, situação agravada nas
décadas seguintes pelo processo de inchamento das comunidades de baixa renda
que lhe são vizinhas. Este processo de comunicação foi estudado pelos
antropólogos Arno Vogel e Marco Antonio da Silva Mello da Universidade Federal Fluminense e pelo urbanista Carlos
Nelson Ferreira dos Santos no livro: “Quando a Rua Vira Casa”. O bairro do
Catumbi abriga o importante e tradicional Cemitério de São Francisco de Paula, onde se encontram
sepultados, os músicos Francisco Manuel da Silva, Chiquinha Gonzaga e Catulo da
Paixão Cearense, além de titulares da história social do Segundo Reinado (1840-1889), como
o Visconde de Itamaraty, Marquês de Olinda e o Visconde de Mauá.
Entre
os anos de 1957 e 1959 o bloco elegeu três Rainhas do Carnaval. Estas
desfilavam à frente do bloco como madrinhas. Com o lema “Decência, respeito e
união”, na década de 1960, o bloco chegou a desfilar na Avenida Rio Branco com
mais de 1500 componentes, número maior que muitas escolas do Grupo B naquele período.
No início dos anos 1960 o bloco lançou pelo Selo
Mocambo, em conjunto com a Fábrica de Discos Rozenblit, um LongPlay (LP) com alguns de
seus sambas-de-empolgação. Entre os compositores e cantores do disco,
destacaram-se Joaquim Antero de Araújo (Mistura), Walter Terra (Jujuba) e Paulo
F. de Lima, além, é claro, da figura emblemática e muito associada ao bloco, o cantor
e compositor Osvaldo Nunes. No disco, foram incluídas as seguintes composições:
“Virou bagunça”, de Osvaldo Nunes; “Amor, amor, amor” e “Canoa”, ambas de
autoria de Jujuba; “Página perdida”, de Paulo F. de Lima e “Despedida”, “Saudação”,
“Ilusão” e “Rainha do meu coração”, estas quatro últimas de autoria do compositor
Mistura. Na década de 1970, Beth Carvalho lançou pela empresa fonográfica Tapecar o compact disk, um disco ótico digital de armazenamento de dados. O formato foi originalmente desenvolvido com o propósito de armazenar e tocar apenas músicas, mas posteriormente foi adaptado para o armazenamento de dados, o “Amor,
amor”, sendo um dos sambas de maior sucesso. Nos ensaios e desfile do bloco,
nas décadas de 1960 e 1970, participavam Sargentelli (1924-2002) e suas mulatas, João
Roberto Kelly, pianista, compositor e produtor musical e Dominguinhos do Estácio também compositor e intérprete de samba-enredo carioca.
Bloco Carnavalesco Bafo da Onça e suas mulatas com premiação em 1975.
O
nome Catumbi é derivado do termo tupi ka´á-t-übi, que significa “a folha
azul”. Significa tanto o nome de uma dança quanto o nome de um “jogo de azar”.
A sorte de ganhar ou perder não depende da habilidade do jogador, mas exclusivamente de uma contingência natural baseada numa realidade produzida chamada de probabilidades matemáticas. A essência do jogo de azar é a tomada de decisão sob condições de risco, conhecendo-se o regulamento. É um dos bairros mais antigos da cidade. Historicamente constituía-se em um
vale úmido e sombreado por onde corria um rio nascido nas alturas do Morro de
Santa Teresa, rio este que era aproveitado para irrigação das lavouras de cana-de-açúcar.
Este rio se chama “papa couve” e ganhou este nome, pois quando o mesmo
transbordava arrastava as plantações de couve que havia em suas margens. Hoje,
o mesmo rio canalizado e passa por dentro do Cemitério do Catumbi onde pode ser
visto. As plantações deram lugar a sobrados ainda à época colonial portuguesa
e, estudadas por em fins do século XIX, a região constituía-se em um arrabalde elegante de
sobrados de classe média alta, como referido nas obras do escritor Machado de
Assis e do antropólogo Gilberto Freyre (1980). A partir do século XIX, ciganos começaram a se instalar no bairro,
transformando-o num reduto dessa comunidade até os dias atuais.
A
historicidade do povo cigano ou rom (homens) é ainda hoje objeto de
controvérsia na historiografia (cf. Liégeois, 1988; Fazito, 2000). A capacidade para cruzar fronteiras ou para
aliar-se em determinadas ocasiões com a população autóctone realizando
trabalhos imprescindíveis, faz que os ciganos de toda Europa resistam à
assimilação e conservarem as suas próprias características étnicas relativamente intactos na atualidade. Em primeiro lugar, a cultura cigana é
fundamentalmente ágrafa e despreocupada por sua história social, mas não de sua
cultura, de maneira que não foram conservados por escrito sua procedência. Sua
história foi estudada por outros, com frequência através de um cariz fortemente
etnocêntrico. Os primeiros movimentos migratórios datam do século X, de sorte
que muita informação historiográfica se perdeu. É importante assinalar também
que os primeiros grupos de ciganos chegados a Europa ocidental idealizavam
acerca de suas origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em
parte como estratégia de proteção frente a uma população em que eram considerados
“minorias,” em parte como posta em cena de seus espetáculos e atividades. Outro
dilema que se deve ter em conta é que a inserção na comunidade cigana é uma
questão disputada. Não existe uma delimitação clara dentro da própria
comunidade (nem fora dela) acerca de quem é cigano e quem não o é. As
principais fontes etnográficas são os testemunhos e as análises linguísticas e sobretudo em torno da genética populacional.
O
termo em português cigano, assim como o espanhol gitano, e em inglês
gypsy é uma corruptela de egípcio, aplicado a esse povo pela crença errônea
de que seriam provenientes do Egito. No século XVIII, o estudo da língua romani,
própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito
similar ao panjabi o ao hindi ocidental. Isso demonstrou que a origem do
povo rom está no noroeste do subcontinente Indiano, na zona em que atualmente
fica a fronteira entre os estados modernos de Índia e Paquistão. Esse
descobrimento linguístico acabou sendo também respaldado por estudos genéticos.
É provável que os ciganos originaram-se de uma casta inferior do noroeste da
Índia, que, por causas desconhecidas foi obrigada a abandonar o país no
primeiro milênio d. C. A procedência dos roma foi objeto de todo tipo de
fantasias e/ou idealizações. Foram considerados descendentes de Caim, ou
relacionados com a estirpe de Cam. Algumas tradições os identificam com magos
caldeus da Síria, ou com uma tribo de Israel fugida do Egito faraônico. Uma
antiga lenda balcânica os faz forjadores dos pregos da cruz de Cristo, motivo
pelo qual teriam sido condenados a “errar pelo mundo”, como ocorre no Oriente
Médio historicamente naquele período.
Enfim,
durante praticamente todo o século XIX e parte do XX, ciganos calom do bairro
do Catumbi ocuparam posições bem definidas no Judiciário da cidade do Rio de Janeiro.
Observando as árvores genealógicas do grupo, surpreende o fato de quase todos
os seus membros ocuparem a função de oficial de justiça, desde a época em que
ele era conhecido como “meirinho”. Pode-se dizer que, entre os calom, o ofício
se transformou mesmo em objeto de transmissão hereditária. Podem ser
identificadas linhas de descendência nas quais toda uma geração de filhos e
netos trabalham no métier. Os calom
do Catumbi traçam sua descendência a partir das famílias que chegaram ao Brasil
deportadas de Portugal, no fim do século XVIII, e, em menor número, daquelas
que vieram acompanhando a comitiva de D. João VI, em 1808. Foi estabelecido um
arranjo familiar marcado por intensas relações de parentesco e circunscrito ao
bairro do Catumbi, no Rio de Janeiro, onde estão desde a primeira metade do
século XIX.
Em
1976 foi lançado um LongPlay do qual participaram dois dos mais
importantes intérpretes do bloco Bafo da Onça: a cantora e compositora Marly,
também conhecida pelo pseudônimo “Marly, a Onça que Canta” e Osvaldo Nunes,
também compositor do maior sucesso do grupo, o samba-empolgação: “Oba”. Outro
compositor importante do bloco foi Walter Dionizio, autor de vários sambas-empolgação,
dentre os quais “Marly chegou para cantar”, em parceria com “Marly, A Onça Que
Canta”, e interpretado pela cantora no disco de 1976 e pouco tempo depois
gravado por Elizeth Cardoso. Segundo Araújo (2003), os blocos carnavalescos
ainda “seguram” o carnaval, ainda que reduzidos de 300 para 60, no ano de 1997
e pouco mais de 20, dois anos depois. O bloco sofreu um esvaziamento desde a
urbanização do bairro do Catumbi, principalmente com a construção do “Elevado
31 de Março” e da abertura do túnel Santa Bárbara, que liga a Zona Norte à Zona Sul do Rio de Janeiro, dividiram o bairro,
demolindo casarões centenários e removendo quadras inteiras de moradores de
famílias tradicionais, que mantinham como referência cultural os diversos
blocos de empolgação, dentre os quais o próprio “Bafo da Onça”.
Em
seu livro Blocos, o jornalista João Pimentel relembra a importância do grupo
formado por Tião Maria, que inspirou a criação de outras agremiações: - “Talvez
por estar localizado em uma região central da cidade, o Bafo da Onça reunia a
Zona Norte e a Zona Sul, mas tinha sua base vital na animada população do
bairro”. Em 2003 o bloco desfilou juntamente com o “Bloco Cacique de Ramos” e o
“Bloco Boêmio de Irajá”, como hors concours na Avenida Rio Branco. Entre
esses blocos e ranchos destacavam-se: “Rancho Carnavalesco União dos Caçadores”
(campeão de vários carnavais); “Rancho Carnavalesco Unidos do Cunha”; “Rancho
Carnavalesco Inocentes do Catumbi”; “Bloco Carnavalesco Astória Futebol Clube”,
tricampeão de “Banho Fantasia” na orla da praia de Copacabana e o “Bloco
Carnavalesco Vai Quem Quer”, que apesar de pertencer ao bairro do Flamengo, portanto
nas proximidades do Centro, também
desfilava nas ruas do Catumbi. No ano de 2011 a Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro contabilizou estatisticamente 420 blocos inscritos para desfile nas
ruas do centro da cidade e avenidas e ruas da Zona Sul (praias), dentre os
quais o próprio Bafo da Onça, e do subúrbio carioca o Boêmio de Irajá, do subúrbio
da Leopoldina o Cacique de Ramos, integrando-se como os mais tradicionais da
cidade do Rio de Janeiro.
Enfim,
a morte de Juma, a onça que participou de uma cerimônia com a tocha olímpica em
Manaus em 2014, revela o drama social brasileiro e a questão da consciência ambiental de
uma espécie ameaçada de extinção e gera questionamentos de ordem administrativa
sobre a manutençãopreventivadeanimaisselvagens em centros do Exército na
Amazônia. Após percorrer 39 km pelas ruas de Manaus, a passagem da Tocha Olímpica
tem seu ápice no Anfiteatro da Ponta Negra, na Zona Oeste. No complexo ocorre
a Celebração da Cidade, com shows musicais e o acendimento da Pira Olímpica,
que permanece com a chama diante do público por meia hora. A onça Juma foi abatida com um tiro de pistola no Centro de
Instrução de Guerra na Selva (CIGS) logo após ser exibida no evento.
Como outra onça, apelidada de Simba,
ela havia sido “acorrentada” e apresentada ao público durante a cerimônia. O
Exército mantém várias onças em cativeiro na Amazônia. Os felinos, como animais
de outras espécies, costumam ser adotados pelo órgão ao serem encontrados em
cativeiro em poder de caçadores. Muitas onças como Juma, se tornam mascotes dos
batalhões e passam por sessões de treinamento. Em Manaus, os felinos domesticados por preparadores nesse domínio, são
frequentes em desfiles militares, embora a prática seja condenada por biólogos e
veterinários.
Em
2014, durante gravação de um documentário em Manaus, militares do CIGS
mostraram Juma, a mascote do centro, à BBC Brasil. O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com a designação histórica e ideológica Centro Coronel Jorge Teixeira, é uma organização militar do Exército Brasileiro sediada na cidade de Manaus destinada a qualificar militares líderes de pequenas frações, como guerreiros da selva, combatentes aptos a cumprir missões de natureza militar nas áreas mais inóspitas da Floresta Amazônica brasileira bem como em ambientes da mesma natureza. Sua designação histórica é uma homenagem ao precursor do Centro, que se tornaria seu primeiro comandante, reconhecido como Teixeirão. Explicaram que a onça havia
sido resgatada com ferimentos após sua mãe ter sido morta. Foi levada para o Centro
de Instrução e ali cresceu sob os cuidados profissionais de tratadores de
animais. Neste contexto, a onça é o
antagonista que interfere no objetivo do protagonista. Esse sujeito se expõe ao
contato com aquilo que lhe oferece perigo, neste caso a onça - o feminino. Esta
por sua vez se apresenta como contrária ao indivíduo, contrária à sociedade que
lhe é inerente, pois ela é a ausência de parentesco, é aquele elemento que lhe
oferece perigo diretamente. O destino trágico de Juma chama a atenção mundial para
a situação cada vez mais precária da espécie, listada como ameaçada no Brasil
pelo IBAMA em 2003.
É
um animal que exige extensas áreas preservadas para sua sobrevivência, caçando
espécies como capivaras e mesmo jacarés. Contudo, ela vem sendo ameaçada pelo
desmatamento, não apenas na área de abrangência da AmazôniaLegal, pois transcende o Pantanal mato-grossense e
o Cerrado, pela pressão política e usurária de latifundiários para a expansão
agropecuária num país de dimensão continental. Em nota enviada ao site da agência local de notícias “Amazônia
Real”, o Comando Militar da Amazônia (CMA) diz que, após a solenidade olímpica
na segunda-feira, Juma escapou dentro do zoológico do centro do Exército. O
órgão afirma que um grupo de veterinários e militares tentou recapturá-la com
tranquilizantes, mas que, mesmo atingido, o animal avançou sobre um soldado. –
“Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do
militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal,
que veio a falecer”. Segundo o site “Amazônia
Real”, dois militares seguravam a corrente presa a Juma durante todo o evento.
Muitas pessoas naturalmente tiraram fotos com a onça na cerimônia. Ela teria fugido após a
exibição, quando os militares que tentavam colocá-la na caminhonete, e por falta de habilidade, a tenham deixado escapar. Mas não se trata de uma redução sociológica, a saber: falta de habilidade e de conhecimento. Um trabalhador qualificado segue o próprio bom senso, a própria habilidade e a própria sabedoria.
Bibliografia
geral consultada.
MENDÉS, Jane Catule, La Ville Merveilleuse: Rio de Janeiro: Poèmes.
Paris: Editeur E. Sansort, 1913; MAUSS, Marcel, “Uma Categoria do Espírito Humano
a Noção de Pessoa, a Noção do Eu”. In: Sociologia e Antropologia. São
Paulo: EPU; EDUSP, volume I. 1974; LIÉGEOIS,
Jean-Paul, Los Gitanos. México: Fondo
de Cultura Econômica, 1988; SANDRONI, Carlos, “La Samba à Rio de Janeiro et le Paradigme de l`Estácio”.
In: Cahiers de Musiques Tradicionalles, (10) 1997; pp. 153-168; BAKHTIN, Mikhail, A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: O Contexto de
François Rabelais. São Paulo/Brasília: Editora Hucitec/Editora Universidade
de Brasília, 1999; FAZITO, Dimitri, Transnacionalismo
e Etnicidade: Romanesthán, Nação Cigana Imaginada. Dissertação de Mestrado.
Departamento de Sociologia e Antropologia. Belo Horizonte: Universidade Federal
de Minas Gerais, 2000; ARAÚJO, Hiram, Carnaval
Seis Milênios de História. Rio de Janeiro: Editora Gryphus, 2003; ARAÚJO,
Fernando, A Hora dos Direitos dos Animais.
Coimbra: Editor Almedina, 2003; REGAN, Tom, Jaulas
Vazias. Porto Alegre: Editor Lugano, 2005; BOSCAINO JR., Alberto, O Apito no Samba: Os Diferentes Matizes no
Samba-Enredo da Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Música
Brasileira. Programa de Pós-Graduação em Música. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2006; GOMES, Rodrigo, Samba no Feminino: Transformações das Relações de Gênero no Samba Carioca nas Três Primeiras Décadas do Século XX. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2011; GREGORY, Jonathan Alexander Araújo, Os Carnavais do Monobloco: Um Estudo Etnomusicológico sobre Blocos e Oficinas de Percussão no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Música. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012; HERTZMAN, Mark, Making Samba: A New History
of Race and Music in Brazil. Carolina do Norte: Duke University Press, 2013; SILVA, Thiago Rocha Ferreira da, “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua”. A Construção de uma Cidadania da Festas no Carnaval de Rua do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; SANTOS, Luiz Gustavo de Lacerda, À Sombra da Globalização: Um Estudo sobre o Carnaval de Rua do Rio de Janeiro através das Páginas do Jornal O Globo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014; SAPIA, Jorge Edgardo, “Carnaval de Rua no Rio de Janeiro: Afetos e Participação Política”. In: pragMATIZES - Revista Lutino Americana de Estudos de Cultura. Ano 6, nº 11, semestre, abril 2016 a set. 2016; PLATONOW, Vladimir, “Blocos Tradicionais Reclamam de Abandono pela Prefeitura do Rio”. In: Agenciabrasil.ebc.com.br/2016/02; entre outros.
Nasci na rua Dr. Agra, 61, Catumbi, em 1935. Vivi no bairro durante 30 anos. O rio Papa-couves, onde brincávamos, pegávamos peixinhos e éramos sugados pelas sanguessugas, não passa por dentro do cemitério. Ainda pode ser visto no Educandário na Dr. Agra no local onde mergulha sob a calçada dessa rua.
Prezado Paulo César, Infelizmente só vimos a sua mensagem alguns anos depois da publicação do artigo. Foi um grande prazer saber que V. Sa. fora um folião de bairro tão marcante, na história social do Rio de Janeiro e ainda, pelo fato de ter lido esse nosso artigo sobre o bairro!
Tenho livro registrado, mas não editado, sob o título "Catumbi, Um crime contra a cidade". Tenho fotos interesantes, inclusive sobre o papa-couve. pcflucchetti@gmail.com
Nasci na rua Dr. Agra, 61, Catumbi, em 1935. Vivi no bairro durante 30 anos. O rio Papa-couves, onde brincávamos, pegávamos peixinhos e éramos sugados pelas sanguessugas, não passa por dentro do cemitério. Ainda pode ser visto no Educandário na Dr. Agra no local onde mergulha sob a calçada dessa rua.
ResponderExcluirPrezado Paulo César,
ExcluirInfelizmente só vimos a sua mensagem alguns anos depois da publicação do artigo. Foi um grande prazer saber que V. Sa. fora um folião de bairro tão marcante, na história social do Rio de Janeiro e ainda, pelo fato de ter lido esse nosso artigo sobre o bairro!
Tenho livro registrado, mas não editado, sob o título "Catumbi, Um crime contra a cidade". Tenho fotos interesantes, inclusive sobre o papa-couve. pcflucchetti@gmail.com
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