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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Glória Maria – Primeira Repórter & Narradora Negra da TV Brasileira.

Fui a primeira a fazer matérias de aventura na televisão, a voar de asa-delta, a cobrir guerra”. Glória Maria

            Vila Isabel é um bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro. O bairro foi oficialmente fundado em 3 de janeiro de 1872, inspirado no “urbanismo parisiense”. Para urbanizá-lo e loteá-lo, Drummond organizou a Companhia Arquitetônica de Vila Isabel (1873), contratando o arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, discípulo de Grandjean de Montigny. É também reconhecido por ser um dos berços do samba no Brasil, localiza-se na subprefeitura da Grande Tijuca. É vizinho dos bairros de Grajaú, a Oeste; Maracanã, a Leste; Andaraí e Tijuca a Sul; e Engenho Novo, Sampaio, Riachuelo, Rocha e São Francisco Xavier, a Norte, pelos quais é separado pela Serra do Engenho Novo. Vila Isabel é sede da região administrativa de Vila Isabel, a mesma engloba os bairros de Vila Isabel, Andaraí, Grajaú e Maracanã. Seu índice de qualidade de vida, no ano 2000, era de 0,901, o 27º melhor do Rio de Janeiro, dentre 126 bairros avaliados, sendo considerado alto. As terras da fazenda eram cortadas por duas antigas estradas, a do Macaco e a de Cabuçu, que se tornaram, respectivamente, a Boulevard 28 de Setembro e a Rua Barão do Bom Retiro. O sistema de transporte de bondes a tração animal, provido pela Companhia Ferrocarril de Vila Isabel, empreendimento também criado por Drummond para explorá-lo (1873). Foi inaugurado em 1875, ligando o bairro ao Centro com a Companhia de Fiação e Tecidos Confiança Industrial, uma fábrica de tecidos localizada em Aldeia Campista, entre os bairros de Vila Isabel e do Andaraí, na Zona Norte do Rio de Janeiro, fundada em 1885.  

          Glória Maria Matta da Silva (1949-2023) revelou-se uma extraordinária jornalista, repórter e apresentadora de televisão na sociedade brasileira. Considerada um dos maiores símbolos do jornalismo brasileiro, foi a primeira repórter a realizar matérias jornalísticas ao vivo e a cores na televisão no Brasil. Glória Maria nasceu no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte da capital do Rio de Janeiro. Começou sua vida profissional como telefonista na extinta Telecomunicações do Rio de Janeiro (Telerj), a empresa operadora de telefonia do sistema Telebras no estado do Rio de Janeiro, antes do processo de privatização em julho de 1998. Graduada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na década de 1960 foi princesa do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. De acordo com Bira presidente, ela conseguiu seu primeiro emprego quando foi, junto com o bloco, apresentar-se no programa do Chacrinha, na Rede Globo de Relevisão. Após a apresentação, conseguiu um estágio na emissora, já que tinha concluído o curso superior. – “O Chacrinha pedia sempre para eu levar a rainha e a princesa do bloco ao programa. Lá, a Glória comentou que precisava fazer um estágio, e ele gostou dela”, recorda o carioca Bira. A antiga fábrica é um supermercado. O bairro tem nove prédios tombados pelo Patrimônio Histórico. 

No antigo Jardim Zoológico, o primeiro do Brasil, hoje denominado de “Recanto do Trovador”, o Barão de Drummond criou o famoso jogo do bicho. No início do século XX, historicamente o bairro tornou-se ponto de encontro de músicos e boêmios, como Noel Rosa, adquirindo, então, a fama de bairro boêmio. No meio da Boulevard 28 de Setembro, encontra-se a Igreja Matriz de Vila Isabel, a Basílica Nossa Senhora de Lourdes. A matriz recebeu o título de basílica menor, em 23 de maio de 1959, concedido pelo Papa João XXIII. Aos domingos, de manhã bem cedo, os sinos da Igreja de Santo Antônio, a segunda maior, repicam continuamente. Esse templo fica no alto do morro, acedido por uma longa escadaria. Os limites do bairro abrangem todo lado direito da Serra do Engenho Novo descendo a Rua São Francisco Xavier até a Av. Prof. Manoel de Abreu seguindo a Av. Engenheiro Otacílio Negrão de Lima, Av. Maxwell e Rua Barão de Mesquita até a Rua Barão do Bom Retiro e seguindo esta até o gargalo que separa o Maciço da Tijuca da Serra do Engenho Novo, na altura do Parque do Trovador. O Cacique de Ramos, culturalmente falando, quer dizer, é um dos mais reconhecidos e tradicionais blocos de carnaval do Rio de Janeiro. São entidades carnavalescas análogas que desfilam, do ponto de vista disciplinar, antes do carnaval e terminam após o carnaval do Estado do Rio de Janeiro, são divididos em: enredo, sujo, embalo e os clubes de frevo, entre outros.

           O indivíduo privatista é o mesmo que pensa ser justificada a existência do espaço público apenas na medida em que satisfaz os interesses dos indivíduos privados. O mesmo indivíduo que tolera, admite e recomenda a privatização da vida pública em que seus representantes aparentemente se constituam em modelos de probidade. Na esfera pública da cidadania comparativamente, não obstante, quase sempre confunde princípios políticos com metas econômicas e está disposto a abrir mão da aparente moralidade e pudor quando um representante demonstra ser um bom administrador. O mesmo que exige probidade moral e pública e desrespeita as regras mínimas da convivenciabilidade em nome da satisfação de interesses privados. A distorção entre o campo social e o político decorre da moderna concepção da sociedade, a qual encara a política como um espaço de regulação da esfera privada. Hannah Arendt (1906-1975) defendia um conceito de pluralismo no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. O que significa o juízo? Primeiramente, organização e subsunção do individual e particular ao geral e universal, procedendo-se então a uma avaliação ordenada com a aplicação de parâmetros pelos quais se identifica o concreto e de acordo com decisões. Por trás desses juízos há um prejulgamento, um preconceito social. O caso individual é julgado, não o próprio parâmetro, ou a questão de ele Ser ou não, uma medida adequada do objeto que está sendo medido.  Num dado momento, emitiu-se um juízo sobre o parâmetro, mas esse juízo foi adotado, tornando-se um meio para se emitirem juízos. 

Mas juízo pode significar algo totalmente diferente e sempre significa de fato quando nos confrontamos com algo que nunca vimos e para o que não temos nenhum parâmetro à disposição. Esse juízo que não conhece parâmetro só pode recorrer à evidência do que está sendo julgado, e seu único pré-requisito é a faculdade de julgar, o que tem muito mais a ver com a capacidade de discernir do que com a capacidade de organizar e subordinar. Tais juízos sem parâmetros nos são bastante familiares quando se trata de questões de estética e gosto, que, como observou Immanuel Kant, não se podem discutir, mas de que se pode, seguramente, discordar e concordar. Na vida cotidiana, como sabemos isso se verifica “em face de uma situação desconhecida, que fulano ou beltrano fez um juízo correto ou equivocado”.  Melhor dizendo, em toda crise histórica, são os preconceitos os primeiros a se esboroar e deixar de ser confiáveis, ipso facto, é essa pretensão de universalidade que distingue muito claramente ideologia de preconceito (sempre parcial por natureza). A ideologia afirma peremptoriamente que não devemos mais nos fiar em preconceitos - declarados como literalmente inapropriados. A falta de padrões no mundo moderno - a impossibilidade de formar novos juízos sobre o que aconteceu e o que acontece todos os dias com base em padrões sólidos, reconhecidos por todos, e de subsumir esses eventos a princípios gerais bem conhecidos, assim como a dificuldade estreitamente associada, de se proverem princípios de ação para o que deve acontecer agora - descrita como niilismo inerente à época, como desvalorização de valores, espécie de crepúsculo dos deuses, uma catástrofe na ordem moral do mundo.

Todas essas interpretações pressupõem tacitamente que só se pode esperar que os seres humanos tivessem juízos se tiverem parâmetros, que a faculdade de julgar não é, mais do que a habilidade de consignar casos individuais aos seus lugares corretos e adequados dentro de princípios gerais aplicáveis e sobre os quais estão todos de acordo. Escólio: Fazem parte da tabela do jogo 25 bichos, cada um correspondendo a quatro dezenas, somando 100 dezenas finais nos sorteios da loteria. O número do bicho é chamado de grupo. Para saber qual é o bicho (grupo), divide-se a dezena por 4 e se houver resto, aumenta-se 1 ao quociente. Ex.: 33 divididos por 4 é igual a 8, resta 1, logo o grupo do bicho é 9, que é “cobra”. O jogo do bicho foi criado pelo Barão João Batista Viana Drummond (1825-1897), carioca que viveu no final do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro. O barão de Drummond era um empresário reconhecido de grande prestígio na Corte, participava de vários empreendimentos e investimentos e era acionista da Cia Ferro Carril Vila Isabel. Quer dizer, o primeiro bairro planejado da cidade do Rio de Janeiro foi Vila Isabel. No projeto de criação do bairro estava previsto a instalação de um parque e de um jardim zoológico, jardim esse que mais tarde seria, não por acaso, o nascedouro do jogo de bicho. O Comendador Drummond, reconhecendo o projeto, solicitou, em 1884, permissão para instalar o jardim zoológico (cf. Magalhães, 2005; Bento, 2022). Em julho de 1888, houve a inauguração oficial do empreendimento que se tornou um sucesso.  Nesse mesmo ano, recebeu do Imperador Pedro II (1825-1891) o título nobiliárquico de Barão. Em 1890 com a segunda parte do projeto, ampliou as instalações do zoológico e criou um parque com plantas exóticas.

A situação financeira do zoológico, era difícil mesmo com a ajuda financeira recebida pela municipalidade, piorou com a criação do parque. O orçamento não era suficiente para cobrir as despesas com a alimentação dos animais e a manutenção do parque. O Barão tentou solucionar o problema cobrando dos visitantes, mas essa medida não foi bem aceita e provocou efeito contrário: os frequentadores do jardim zoológico desapareceram. O Barão recorreu à Intendência Municipal, visando obter licença para explorar jogos públicos lícitos nas dependências do zoológico, com a finalidade de trazer de volta o público visitante. A licença permitida “desde que não incluíssem os chamados jogos de azar, conforme estava previsto no Código Penal de 1890”. O mexicano Ismael Zevada, auxiliar do Barão, com o intuito de colaborar para a solução do problema mencionou o “jogo das flores” que existia em sua terra e que poderia ser adaptado para os “bichos”. A ideia foi analisada e posta em prática: foram pintados 25 quadros, cada quadro com um bicho, numerados a partir de 1. Antes de abrir o zoológico, o Barão escolhia um quadro e colocava-o em uma caixa que ficava estrategicamente a sua entrada. Em cada ingresso havia a figura de um dos vinte e cinco bichos. Às 15horas, a caixa era aberta e aqueles que tivessem no ingresso o bicho sorteado, eram os ganhadores de um prêmio em dinheiro. O primeiro sorteio ocorreu num domingo, em 3 de julho de 1892. O bicho sorteado foi o avestruz, uma espécie de ave não voadora, originária da África. Nessa ocasião publicista foram disponibilizados para o público consumidor, entre outros entretenimentos correlatos, porém, o jogo do bicho foi o que obteve na imprensa, um laissez faire e a própria reinauguração do zoológico.

Nesta época foram abertos os chamados “bookmakers”, casas de apostas que vendiam “poules” (“pule”) das mais diversas apostas permitidas ou não, inclusive a do jogo do bicho, que passou a ter validade por quatro dias. Assim o apostador não precisava ir ao zoológico nem estar presente no momento do sorteio. Além dos bookmakers, o Barão espalhou pela cidade seus agentes para vender os bilhetes do bicho, sendo essa participação dos vendedores ambulantes importante para o sucesso do jogo entre os apostadores. Mesmo clandestino, sobrevive por mais de um século graças às relações entre bicheiros e apostadores. Geralmente, os postos de trabalho dos “apontadores” de jogo e seus “clientes” são pessoas da mesma vizinhança, que discutem juntos as apostas. O prêmio é pago em dia um requisito básico para manter a credibilidade do sorteio e os apontadores tradicionais sabem de memória o palpite de seus clientes. Alguns apostadores protegem os bicheiros da polícia, escondendo-os em suas casas quando passa a fiscalização cotidiana. Por causa da repressão, o resultado do bicho é divulgado de maneira disfarçada, para não chamar a atenção da polícia. Um dos costumes é anunciar os animais sorteados em classificados ou em rádios clandestinas. Em alguns bairros, para evitar que os apontadores sejam pegos com a prova do crime, os bicheiros pregam os resultados do sorteio em um lugar público. Cada apostador arranca uma folha com o bicho do dia e leva o seu “fruto” para casa. Para ser vendido nas ruas, o jogo do bicho passou por adaptações: a primeira vincula os bichos aos números, depois veio a divisão em grupos e dezenas. Em 1897, morre o Barão, mas o jogo continua.

Em 1899, a Lei 628 que instituiu a pena de 1 a 3 meses de prisão para os acusados da prática do jogo do bicho. A imprensa teve sua contribuição na legitimação do jogo do bicho. Nas primeiras décadas do século XX, jornais foram criados em função do jogo. Em 1903 “O Bicho”, o primeiro dedicado ao jogo, mais tarde surgiram o “Talismã” e o “Mascotte”. Em 1915, o senador Érico Coelho apresentou um projeto de lei para legitimação do jogo do bicho, mas não foi aprovado. Segundo Magalhães (2006), o poder público responsável pela Capital Federal, jamais conseguiu definir uma estratégia efetiva para combater os chamados “bicheiros” ou deixar claro por que algumas loterias eram permitidas e outras não. Em 1941, o jogo do bicho é incluído na lei de Contravenções Penais. Cavalcanti (1995) afirma que depois de 1946, com a cassação de todas as licenças concedidas para funcionamento de casas de jogo no Brasil, o jogo do bicho se expandiu muito mais, acompanhando o crescimento de áreas periféricas. O bicheiro era reconhecido pela honra à palavra empenhada, obtendo com isso a confiança e o respeito do apostador, que recebia ajuda pessoal e benfeitorias públicas em troca da sua lealdade. O jogo do bicho, passou a fazer parte do cotidiano, do folclore e da vida contumaz brasileira, já tendo sido motivo para discórdia e infelicidade; tristeza e alegria. Foi tema consagrado para letra de música, roteiro de filmes, novela e enredo de escolas de samba.

É tema para trabalhos acadêmicos, livros, artigos de revistas e manchetes de jornais. A sua história já foi várias vezes sufocada à margem da sociedade, mas continua presente na cultura popular. A loteria foi “batizada” de jogo - bilhetes começaram a ser vendidos não apenas no zoológico, mas em lojas pela cidade. O jogo do bicho é semelhante a uma loteria federal, mas com algumas diferenças: uma delas é que o jogador pode apostar qualquer valor, que muitas vezes é bem acima de suas possibilidades. Quanto maior o valor apostado em uma sequência numérica (milhar, centena, dezena, etc.), maior será o prêmio em caso de acerto. Com essa flexibilidade de apostas, o jogador é livre para escolher pelo menor valor possível o seu número da sorte nas dez mil chances disponíveis em cada sorteio. Exemplo: um apostador pode jogar apenas R$ 1,00 num milhar no primeiro prêmio, reconhecido como na “cabeça por ser a primeiro milhar no topo da lista de resultados”. A repressão do Estado não demorou e autoridades criminalizaram a atividade nos anos 1890, pelo bem da segurança pública. No carnaval de 2013 foram 492 a desfilar pela cidade, o que levou a prefeitura a estudar sua diminuição. A história dos blocos já foi narrada em livro, de autoria de Aydano André Motta, lançado em 2011 como: Blocos de Rua do Carnaval do Rio de Janeiro.

Blocos carnavalescos protagonizados nas ruas, interdisciplinares (trabalho) e multiculturais têm obtido força na história social e prestígio carioca, a ponto de blocos tradicionais ficarem passadistas. Os desfiles dos campeonatos de blocos de enredo são filiados à Federação dos Blocos e desfilam no sábado de carnaval, onde de 2011 a 2014 passaram a desfilar definitivamente como Escola de Samba, sem ter de desfilar como avaliação. Os blocos de embalo já tiveram desfile na tradicional Avenida Rio Branco, como sua pista de desfile, cujo itinerário desde 2016 foi substituído pela Avenida Graça Aranha. As outras pistas de desfiles são a Estrada Intendente Magalhães, no Campinho e a Rua Cardoso de Morais, no bairro de Bonsucesso. Os blocos de embalo em sua maioria costumam desfilar antes e depois do período carnavalesco na maior parte na Zona Sul e Centro da cidade. Além de outras regiões, sempre no mesmo local e hora, a critério da Riotur, que organiza junto com outros setores do poder público, o trajeto desses blocos de embalo, com dia e horário. A Riotur é a empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro, e tem como finalidade incrementar o desenvolvimento das atividades turísticas da cidade, através de estudos e programas específicos, além de promover eventos de atração turística e executar uma política comercial geradora de recursos. Através da empresa estatal Riotur, a cidade promove o extraordinário carnaval carioca e o réveillon.

          Bairro de tradição boêmia, em muitos bares antigos ainda persistem na região, atraindo muitos clientes. No Boulevard 28 de Setembro o já extinto Restaurante Petisco da Vila ajudou a manter essa fama. Aldir Blanc, Martinho da Vila, Neguinho da Beija-Flor, Jamelão e o cartunista Jaguar foram clientes do Petisco. Graças a esses e tantos outros fregueses o Petisco da Vila alcançou o posto de maior vendedor de chope do país, com média de 42.000 litros consumidos mensalmente. Outro bar badalado do bairro é o Carioca da Vila, bar requintado e irreverente, os pratos tem nomes que fazem referência ao bairro, enaltecendo o espírito bairrista dos moradores da Vila. A tradicional adega Vilas Boas, na esquina da Boulevard 28 de Setembro com a Rua Silva Pinto, tem a fama de melhor bolinho de bacalhau da Grande Tijuca. Na esquina das ruas Visconde de Abaeté e Torres Homem se encontra um dos polos gastronômicos do bairro, o “quadrilátero do álcool”, desafia a matemática, por ser uma esquina que possui quatro pontas e 5 bares. O mais tradicional era o Bar do Costa, um dos mais antigos do bairro (infelizmente falido há anos), no seu lugar surgiu o Bar Veja Bem. O Bar Vilarejo também é outra excelente opção, destaque para cozinha do bar que é excelente, com variedades de pratos e petiscos. A rua dos Artistas também conta com uma variedade comercialmente de bares, botequins e restaurantes, como uma filial do Bar do Adão, tradicionalmente transformou-se em um bar do vizinho bairro Grajaú, famoso por seus pasteis. Porem o mais tradicional dessa parte da Vila Isabel é o Restaurante Siri, com especialização em frutos do mar, o Siri atrai o público fã dessas iguarias.  

O bairro possui excelente comércio, sendo o principal eixo o Boulevard 28 de Setembro, onde se encontram agências dos principais bancos, lanchonetes, mercados e comércio de todo tipo. No bairro funciona também o Shopping Center Boulevard Rio, na esquina das ruas Barão de São Francisco e Teodoro da Silva. Além abrigar muitos bares e restaurantes ao longo do Boulevard 28 de Setembro, o bairro conta com várias unidades da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como a Faculdade de Ciências Médicas, a Faculdade de Enfermagem, o Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, a Faculdade de Odontologia e o Hospital Universitário Pedro Ernesto. O bairro também abriga a Basílica Nossa Senhora de Lourdes, a sede estadual da igreja Congregação Cristã no Brasil e a Sede Mundial do Racionalismo Cristão. O bairro contava com os clubes Vila Isabel Futebol Clube (1912), Confiança A.C. (1915), o Smart A.C. (1915), Sport C.A. (1912) e o Independência F.C. (1921). Hoje encontram-se a Associação Atlética Vila Isabel; e o Esporte Clube Maxwell. Além dos parques Jardim da Princesa, Largo Sete de Março, Praça Barão Drummond e Recanto do Trovador. Vila Isabel é famosa pela presença de inúmeros poetas e compositores que nasceram no bairro ou que nele foram revelados. O mais famoso é Noel Rosa, que nasceu no bairro em 11 de dezembro de 1910. No largo de entrada do Boulevard 28 de Setembro, existe uma estátua em tamanho natural do compositor em bronze, sentado numa mesa sendo atendido por um garçom. Na mesa, está escrita a letra da música de Noel “Conversa de botequim”. Podemos destacar Martinho da Vila, que adicionou o nome do bairro ao seu quando criou seu nome artístico. Jornalismo pode ser definido do ponto de vista sociológico, como a técnica de transmissão de informações sociais a um público cujos componentes não são reconhecidos. Esta particularidade diferencia o jornalismo das demais formas sociais de comunicação visual.

As fontes jornalísticas são pessoas, entidades e documentos primários que fornecem informações aos jornalistas, seja emitindo comentários e opiniões, verificando o rigor de dados obtidos ou aferindo a veracidade dos juízos de valor que lhes foram confiados. O termo jornalismo faz referência as formas possíveis de comunicação pública de notícias e seus comentários e interpretações. O tipo de jornalismo de ética duvidosa, ou contestável é chamado ideologicamente de “imprensa marrom”. Um princípio comum no jornalismo é o da objetividade, orientada pela investigação das informações, descrevendo características do objeto da notícia e não impressões ou comentários do sujeito que observa a participação social. No entanto, erroneamente diversos críticos têm refutado este princípio, alegando que, na prática, a objetividade do conhecimento não existe, pois, toda construção de texto é um discurso e uma narrativa influenciadas por ideologias, pela práxis e por outros valores subjetivos. A questão da “imparcialidade” é também central nas discussões sobre ética jornalística. Para este ponto de vista comunicativo não é difícil distinguir dados objetivos do chamado “jornalismo opinativo”, como se a interpretação jornalística fosse isenta da opinião pessoal daquele que investiga os conteúdos de sentido da informação. Jornalistas podem ser interpelados pelas formas ideológicas representadas pela distorção no cotidiano ou pela desinformação induzida na comunicação social. Mesmo sem cometer fraude deliberada, jornalistas podem dar um recorte embasado dos fatos sendo seletivos na apuração e na redação, em determinados aspectos em detrimento de outros, ou dando explicações parciais, tanto incompletas quanto tendenciosas. Isto é especialmente efetivo no jornalismo global, já que as fontes disponíveis nem sempre podem ser interpretadas. Distinto da ciência, os códigos de ética do jornalismo incluem, como valores e preceitos fundamentais, a “busca da verdade, a veracidade e a precisão das informações”.

Glória Maria Matta da Silva estreia como repórter, em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. O Elevado, também reconhecido como Viaduto Engenheiro Freyssinet, é uma via expressa no Rio de Janeiro. Tem 5,2 quilômetros de extensão. Liga o Túnel Rebouças ao início da Linha Vermelha. É considerado a “cicatriz” do Rio Comprido. Cobriu a posse do presidente norte-americano Jimmy Carter (1924-2024) em Washington e, no Brasil, durante a ditadura militar (1964-1984), entrevistou chefes de Estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999), aquele que disse: - “Não deixe aquela neguinha chegar perto de mim”.  E, ainda, cobriu e reportou o fim da Guerra das Malvinas, em 1982, como primeira mulher da Globo a fazer cobertura de guerra; a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998). Entrevistas com celebridades a colocaram frente a frente com o roqueiro britânico Mick Jagger, em 1984; com Freddie Mercury (1946-1991), vocalista da banda Queen, durante o Rock In Rio de 1985, com Michael Jackson (1958-2009), quando da gravação do clipe: They don’t care about us, no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, em 1996. O espírito livre, aventureiro a fez desafiar-se humanamente a ponto de pular de bungee jump a 233 metros de altura, em Macau, na China, para realizar uma reportagem Especial para o Globo Repórter; sobrevoar de helicóptero um vulcão, voar de asa delta, nadar com um urso polar e escalar a Cordilheira do Himalaia, onde fica o Monte Everest. 

A paixão pelo trabalho, segundo Lisa Andrade, no artigo intitulado: “Gloriosa Glória, a Primeira Jornalista” (s. d.) a levou a todos os nossos seis grandes continentes: África, Ásia, Europa, Oceania, América e Antártida, construindo uma coleção com mais de dez passaportes preenchidos, com carimbos de mais de 160 países. Assim Glória Maria define sua profissão e a carreira vivida, enraizada na Rede Globo de televisão, a emissora onde ganhou notoriedade como repórter e âncora dos noticiários Hoje, Jornal das Sete, Bom Dia Rio e RJTV. Mas a vida de Glória Maria Matta da Silva não começa na tela da TV. Esta mulher negra vitoriosa, pioneira, vem à luz em 15 de agosto de 1949, saída do ventre de Edna Alves Matta, enquanto o alfaiate Cosme Braga da Silva, aguardava ansioso as notícias sobre seu bebê. A infância foi no bairro Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. E, na escola – estudava em colégio público – já se destacava nos concursos de redação e sabia falar inglês, francês e latim. A vida profissional se inicia aos 16 anos: telefonista na Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel). Com o salário ajudava nas despesas de casa e pagava a mensalidade do curso de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Eram os anos 1960. A diversão? Samba. Glória Maria foi princesa do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. E desta condição de realeza do Carnaval nasce sua história com a Globo. No programa do Chacrinha, com membros do bloco, ela pediu um emprego e conseguiu. Ingressa na emissora em 1970, trabalhando como radioescuta, como estagiária – quer dizer, sem salário – segue estudando para a profissão e como telefonista com os estudos, até ser efetivada na rede de TV carioca.

Em 1971, do ponto de vista tecnológico Glória Maria se torna a primeira repórter negra da TV brasileira e o seu primeiro desafio é cobrir o desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no bairro Rio comprido, no Rio de Janeiro. Na época, os jornalistas não apareciam em vídeo. O que se via eram as imagens e a voz do repórter ou apresentador. Sua matéria de estréia em vídeo acontece em 1974 e é realizada no Hotel das Palmeiras, onde a Seleção Brasileira estava concentrada para os jogos da Copa do Mundo. Glória Maria é também a primeira repórter – e negra – a entrar ao vivo e a cores na televisão, direto da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, para o Jornal Nacional, e a primeira a realizar a primeira transmissão em High Definition (HD), é de imagens com “alta definição”. É da televisão brasileira, lá em 2007. Depois de, em 1984, antecipar, com exclusividade para o Jornal Nacional (RJ) parte do juramento olímpico do velocista Carl Lewis – então campeão mundial dos 100m rasos, antes mesmo da solenidade de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, no estádio Los Angeles Memorial Coliseum, na Califórnia (EUA), é ela quem dá um salto dialético na carreira! Em 1986, entra para a equipe do Fantástico, seu rosto passsa a ser reconhecido e as experiências se tornam eletrizantes e estelares: Madonna, Leonardo Di Caprio, Nicole Kidman, Deserto do Saara, os caminhos de Jesus de Israel ao Egito, Lapônia, no Norte da Finlândia.

Ao lado do jornalista Pedro Bial, em 1998, Glória assume o comando do Programa de Domingo. Anos depois, em 2003, faz uma entrevista exclusiva com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), após a sua posse. Em 2004, Zeca Camargo e Guilherme Azevedo iniciaram uma jornada ao redor do planeta, com um roteiro pré-determinado pelos próprios telespectadores do programa FantásticoEm 2006, produz quadros de destaque durante uma viagem ao lado do escritor Paulo Coelho, na Rússia. Depois de quase dez anos de programa Fantástico, Glória Maria pede um tempo, se afasta das telas por dois anos, durante os quais descansa, se dedica a projetos pessoais e trabalhos voluntários na Índia e na Nigéria. Neste período, também, decide ser mãe e adota as irmãs Maria e Laura, em 2009. De volta em 2010, assina um novo contrato como repórter especial do programa Globo Repórter. Fora da TV, como eterna repórter, gosta de conversar bem próximo das pessoas, mas prefere manter sua vida pessoal longe dos holofotes e das redes sociais. De sua vida amorosa, se sabe de oito anos ao lado do engenheiro austríaco Hans Bernhard e seis anos com o francês Eric Auguin. Em 2008 teve um breve caso de relacionamento com o estudante de psicologia Bernardo Langlott e se casou, em segredo, com o produtor musical Carlos Araújo – mas cada um viveu em seu apartamento durante os quatro anos de relacionamento. Sua idade é outro mistério plausível, segundo Liza Andrade – ela diz que não revelar a idade é uma forma de não envelhecer mais cedo. E, para ajudar no rejuvenescimento, se exercita regularmente, faz jejuns e toma até cinco mil cápsulas de remédios naturais por semana. Em 2019, submeteu-se a cirurgia para retirar um tumor cerebral maligno. Passados alguns meses, declarou, em entrevista, que ainda prosseguia o tratamento do câncer. E, em janeiro de 2020, teve de ser internada devido a uma infecção pulmonar. Vivemos um tempo de visibilidade negra nas mídias, de quase celebração – não fosse o racismo evidene e sempre presente no nosso cotidiano -, mas Glória Maria vem de outro século, em que a presença negra no telejornalismo era quase solitária e sua posição simplesmente feminina e direta na tela da TV era ativismo.

No Brasil, a primeira transmissão televisiva deu-se em 28 de setembro de 1948, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. O responsável pela transmissão foi o técnico em eletrônica, o leopoldinense Olavo Bastos Freire. A experiência pioneira aconteceu da sacada do prédio onde seria mais tarde a Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa). Olavo ficou com uma câmera e uma antena. As imagens captadas da Avenida Rio Branco foram transmitidas em uma TV de três polegadas, instalada na Getúlio Vargas, onde funcionava a antiga Casa do Rádio. A tecnologia completa foi trazida para o Brasil por Assis Chateaubriand e foi inaugurada em 18 de setembro de 1950, quase dois anos depois da experiência pioneira de Olavo Bastos Freire (1915-2005). Naquela data, Chateaubriand fundou o primeiro canal televisivo no país, a TV Tupi. Na época, entretanto, o alto custo do aparelho televisor, que era importado, restringia o seu acesso às classes mais abastadas. O primeiro televisor montado no Brasil foi pela Sociedade Eletromercantil Paulista em 1951. Em 1977, a SEMP formaria uma joint-venture com a empresa Toshiba, passando a nova empresa a se chamar Semp Toshiba. A massificação de produção-consumo do aparelho aconteceu com a instalação de fábricas de televisores na Zona Franca de Manaus (AM) com a chegada da multinacional Sharp (1971) e outras empresas nacionais como a Gradiente, atraídas pelos incentivos fiscais. Em 2006, cerca de 12 milhões de televisores com cinescópio foram produzidos no Polo Industrial de Manaus (AM). Tendo em vista que o Brasil foi a sede da Copa do Mundo da Federação Intenacional de Futebol (FIFA) de 2014 e Jogos Olímpicos de Verão de 2016, a perspectiva é que, em 2014, o país seja estatisticamente o terceiro maior mercado mundial de televisores.

Na sociedade contemporânea, as notícias correm o mundo em tempo real através dos mais avançados meios tecnológicos. A expressão jornalismo em tempo real é uma figura de linguagem utilizada para associar a proximidade da instantaneidade com que a informação que é transmitida, do momento em que ocorre o fato a ser noticiado ao momento em que chega aos receptores, sejam eles leitores, telespectadores ou a opinião de público ouvinte. Para que exista, é necessário que haja concomitância da percepção sociológica dos fatos ao momento em que eles acontecem. Em suma, é nível máximo de prontidão, como “cão de guarda” como se referem os norte-americanos no jornalismo relativa à transmissão, processamento e/ou uso das informações. O tempo real é relativo à sua velocidade, que está associada ao instrumento de transmissão, nunca contendo matematicamente a suposição considerada como sendo exatamente real, devido ao tempo gasto com o processamento e a finalização do processo de trabalho e comunicação de difusão da informação. A rede global internet rompeu com a imprensa clássica ao ponto de centenas de jornais terem desaparecido após muitos anos de grande sucesso jornalístico e de empresa econômica. Em Portugal desde 2012 não há um jornal, diário ou semanário, economicamente viável, as despesas estão acima das receitas, o mesmo está ocorrendo com os custos das televisões e das rádios, com algumas poucas exceções. Nos massmídia global, o passado deixou de ter futuro, de modo definitivo. 

A maior contribuição de Karl Marx ao jornalismo per se foi sua inabalável profissão de fé na “liberdade de imprensa”, mais de uma vez registrado nas páginas do New York Tribune. Nos tempos de Marx, ainda não havia grandes monopólios de mídias, enquanto comunicação social e política massiva, sendo o jornal impresso uma das poucas fontes de informação e difusão de um conjunto de práticas e saberes sociais. A variedade de publicações, nas mais diversas correntes ideológicas era tão grande, que Marx habilmente pode utilizar o jornalismo, como forma de expressão política, porque existiam outras vozes ligada à origem do trabalhismo inglês para lhes fazer contrapontos. O próprio New York Tribune, fundado por Horace Greeley em 1841. Entre 1842 e 1866, o jornal adotou o nome New-York Daily Tribune, visceralmente abolicionista e vagamente socialista utópico, do qual Karl Marx (1818-1883) & Friedrich Engels (1829-1895) eram colaboradores assíduos, enviando àquele jornal, entre 1851 e 1862, mais de quinhentos (500) artigos, pôs a nu as diversas mazelas vitorianas, com destaque para as exorbitâncias do colonialismo britânico na Índia e na China, inclusive tendo repercussão política no continente latino-americano.

O culto socialmente da indiferença de classe social representa o hábito de estupidez de uma sociedade que perdeu o sentido de comunidade. O consumo é o leitmotiv do progresso que faz da cidade um lugar passageiro. Onde tudo pode ser destruído e reconstruído a qualquer momento, onde as histórias são substituídas por outras sem perspectiva de futuro. A forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a simultaneidade e o encontro aparente não podem desaparecer. A cidade é fora de dúvida a maior vitrine, onde os episódios cotidianos da existência material são vividos e observados na indiferença da reprodução do capital. A ocupação divertida do urbano, por uma população sonhadora movida pelo acaso de viver o imprevisível, é descartada pela cidade contemporânea. A cidade é o palco da reprodução do “capital cultural” dominante, onde tudo se descobre ou se reinventa, e se apaga na mesma velocidade. Tudo é vivido na condição de espetáculo como se a vida urbana fosse um conjunto de cenas de teatro. A favela é fruto da falta de observação e de reconhecimento social e político de que o operário existe na construção civil irradiada pela visão de Chico Buarque. Ele é um ator social, construtor social e sua realidade não é virtual. O Brasil lento e demagógico demora a reconhecer a imprensa, historicamente, por causa da censura e da proibição de tipografias na Colônia, impostas pela Coroa Portuguesa. A falta de uma imprensa própria forçosamente limitava o desenvolvimento político e culturalmente, pois os livros e periódicos importados atingiam apenas uma pequena, talvez ínfima parcela de letrados na cidade do Rio de Janeiro neste período.

Mas em contrapartida é espantoso que nos poucos anos que mediaram entre o início e o fim da “Impressão Régia”, notícias tenham sido publicadas. A própria heterogeneidade dos títulos revela curiosidade intelectual, e a nervura de interesses os mais diversos: romances, estudos históricos, poesia, teatro, crítica literária, astronomia, medicina, religião, saúde pública, e outras, tudo isso formando um emaranhamento de assuntos, de seleção difícil de discernir, mas sempre possível. O que é certo é que a Impressão Régia não se limitou à divulgação de apenas atos oficiais, como nos governos republicanos. Sua existência abriu caminho para numerosas edições, para o surgimento de editoras e tipografias, e criação de um mercado de livros que antes praticamente não existia. A única obra significativa de referência específica sobre a “Impressão Régia”, que existia até agora, era o trabalho de Alfredo do Valle Cabral, publicado nos Annales da Biblioteca Nacional, em 1831. É um clássico, mas contém falhas e incorreções, e o velho sonho de Rubens Borba de Moraes (1899-1986) sempre foi completa-lo, suprindo-lhe as deficiências e descrevendo os muitos títulos que lhe faltavam. Cuja existência só foi revelada pelas exaustivas pesquisas realizadas por ele e por Ana Maria de Almeida Camargo (1945-2023), promovida pela “Vitae”, pela Edusp – Editora da Universidade de São Paulo, pela livraria Kosmos e projeto gráfico de Diana Mindlin.

Em 1848, jornais de Nova York se unem comercialmente para formar a agência “Associated Press”, durante a guerra dos Estados Unidos da América contra o México. O principal motivo da associação devido à guerra era contenção de custos entre as edições dos periódicos. Em 1851 o alemão Paul Julius Reuter (1816-1899) funda a agência “Reuters”. No mesmo ano é fundado o “The New York Times”, o principal jornal de Nova Iorque e atualmente um dos mais importantes nos Estados Unidos, para não falarmos em sua influência no mundo ocidental. A “United Press International” é criada em 1892, sendo pioneira no processo de globalização da cultura, política e informação. A agência alemã “Transocean” é fundada em 1915 para cobrir os eventos sociais e políticos da 1ª grande guerra na Europa (1914-1918), a weltanschauung da Tríplice Aliança. Em 1949, três agências alemãs se unem e formam a extraordinária Deutsche Presse-Agentur (DPA). Discordamos das teses aceitas de que o impacto de choque cultural é componente do desenvolvimento bem-sucedido da sensibilidade intercultural e da competência bicultural, entendido também como “aculturação”, que ocorre fenomenologicamente quando duas culturas distintas ou parecidas, são absorvidas uma pela outra, formando uma nova cultura diferente. Além disso, aculturação pode ser também a absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura terá aspectos da cultura inicialmente e da cultura assim absorvida.

A tese “Fatores socioculturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil” foi editada em livro, pelas editoras Vozes, em Petrópolis, Rio de Janeiro, no mesmo ano da defesa, com o nome de Sociologia da Imprensa Brasileira. Não foi o primeiro livro do autor, que antes dele já publicara outros quatro trabalhos dedicados ao universo da Comunicação, entre eles, Comunicação Social: Teoria e Pesquisa (1970) e Estudos de Jornalismo Comparado (1972). Ao referir à sua trajetória de pesquisa, o prof. Marques de Melo (1943-2018), destaca sua tese de doutoramento, ao referir-se a ela como a “primeira evidência que demonstrei academicamente”, ao propor que “o Brasil ingressou de modo tardio na civilização jornalística não por maldade dos nossos colonizadores, como defende a história oficial, mas em decorrência da nossa formação sociocultural, que reprimiu as demandas nacionais pela informação impressa, retardando desta maneira a produção de jornais e revistas”, resumiu o professor numa entrevista. A pesquisa é amparada, segundo o prefácio de Luiz Beltrão de Andrade Lima, por “uma construção metódica e consciente, em que não se aceitam os dogmas ou proposições que, submetidas, não possam resistir aos assaltos e impactos da dúvida que a observação e a experimentação, o raciocínio e as hipóteses, os dados, os fatos e os princípios, suscitam, a fim de possibilitar o surgimento da verdade e do rigor científico”.

Um exemplo extraordinário é o que ocorre com a cultura romana que logo por ser similar à grega torna-se uma cultura denominada greco-romana ou a chamada “interpenetração cultural”. Vale lembrar que o pernambucano José Marques de Melo obteve o título de doutor em Comunicação com a tese: “Fatores socioculturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil”, defendida, em 26 de fevereiro de 1973, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O trabalho, que teve a orientação do Prof. Dr. Rolando Morel Pinto, representou a singularidade de ter sido a 1ª tese de doutorado defendida e aprovada no Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes quando se propõe a abordagem através das representações do jornalismo e da imprensa. Inverter papéis” na sociedade racista dá certo? - Gabriela Moura ... Naquela conjuntura as teses eram defendidas em regime de doutorado direto, dentro do modelo europeu que ainda prevalecia nas universidades brasileiras. Os pesquisadores que defenderam suas teses nesse modelo foram os primeiros orientadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Escola de Comunicações e Artes nessa área - nos parâmetros prevalecentes. Vale lembrar que o primeiro doutor da Escola de Comunicação e Artes com tese em Jornalismo, seria um orientando do Prof. Dr. Marques de Melo, o também professor da Escola de Comunicação e Artes Carlos Eduardo Lins da Silva, que defendeu seu doutorado, intitulado: Muito Além do Jardim Botânico: um estudo sobre a audiência do Jornal Nacional da Globo entre trabalhadores (1984), representando uma brilhante análise de como um dos programas da TV de maior audiência do país é visto, comparativamente, em duas comunidades de trabalhadores, uma em São Paulo, outra no Nordeste. Uma análise, também, da chamada indústria cultural  e do telejornalismo em nosso país.

Bibliografia Geral Consultada.

CAMARGO, Zeca, A Fantástica Volta Ao Mundo. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2004; MAGALHÃES, Felipe Santos, Ganhou, Leva, Só Vale o Que Está Escrito: Experiência de Bicheiros na Cidade do Rio de Janeiro: 1890-1960. Tese de Doutorado. Departamento de História. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005; BOUNANNO, Milly, L’Etat della Télévisione. Esperienze e Teorie. Roma: Edizione Laterza, 2006; MIRANDA, Júlia, Imaginários Sociais em Movimento: Oralidade e Escrita em Contextos Multiculturais / Júlia Miranda, Ismael Pordeus, François Laplantine (Orgs.), Lyon, França: Universidade de Lyon 2 - Fortaleza, Brasil: Universidade Federal do Ceará - Campinas, Brasil: Pontes Editores, 2006;  FREITAS, Eduardo Luiz Viveiros, Política e Internet: 4 Jornalistas (Blogueiros) em Novos Tempos. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010; AMORIM, Paulo Henrique, O Quarto Poder: Uma Outra História. 1ª edição. São Paulo: Editora Hedra, 2015; MELO, Seane Alves, Discursos e Práticas: Um Estudo do Jornalismo Investigativo no Brasil. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, 2015; WILLIAMS, Raymond, Televisão: Tecnologia e Forma Cultural. São Paulo; Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2016; SOUZA, André Barcellos Carlos de, Televisão e (Des)razão. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2017; HORA, Caroline, Além de Glória Maria: A Representatividade da Mulher Negra no Telejornalismo Brasileiro Atual. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2018; GONZALEZ, Lélia, Por um Feminismo Afro-latino-americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2020; SILVA, Glória Maria Matta, Roda Viva. [Entrevista concedida a] Cláudia Lima. Roda Viva, TV Cultura, 14 mar. 2022; BENTO, Cida, O Pacto da Branquitude. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2022; Artigo: “Glória Maria: nosso diamante do jornalismo foi para casa”. In: https://jornalistas.org.br/2023/02/02/; FABBRI JÚNIOR, Duílio, Glória Maria: Glória Maria Matta da Silva. Campinas: Editora Mostarda, 2024; GALLO, Elisiele Máximo da Silva, Mulheres Negras no Jornalismo: Uma Análise do Grupo Herdeiras de Glória Maria. Monografia de Graduação em Jornalismo. Brasília: Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, 2024; entre outros.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Ilha de Paquetá (RJ)– História, Charretes Elétricas & Economia do Mar.

“O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara.  Pareceu-lhe uma boca banguela”. Caetano Veloso

O corpo percorre a história social da ciência e da filosofia. De Platão a Bergson, passando por René Descartes, Baruch Espinosa, Maurice Merleau-Ponty, Sigmund Freud, Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Max Weber e Michel Foucault, a definição de corpo demonstra um puzzle. Quase todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes, que define o corpo como uma substância extensa em oposição à substância pensante. Podemos perceber que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Isto quer dizer que através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer na constituição do sujeito moral. O ponto de chegada dessa elaboração é na e pela soberania do indivíduo sobre si mesmo na vida social.

O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento técnico de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação social que no mesmo mecanismo o torna tanto uma prática política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada em torno de seus elementos, assim como de seus gestos, e sobretudo de vigilância de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela associa intermitentemente o poder do corpo; faz dele uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte, por outro lado a energia, a potencialidade que poderia resultar disso, e dela a relação de sujeição estrita. 

Se a exploração econômica separa a força bruta e o produto social do trabalho, a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo definitivamente entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo situa-se como preocupação geral de mobilidade social, que perpassa a estratificação de classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso clínico difuso que se refere tanto a questão estética, quanto a preocupação alimentar com a saúde. Nas sociedades contemporâneas há uma crescente apropriação do corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados pelo processo de massificação da propaganda/consumo na esfera econômmica da globalização, desde o desenvolvimento econômico dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. As fábricas de imagens estéticas do vencedor no cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso. Ipso facto, nos leva a pensar que a imagem da eterna “fonte de juventude”, associada ao corpo perfeito idealmene, ao sucesso na educação, no trabalho e na vida amorosa atravessa as etnias e classes sociais de maneiras diferentes em diversos estilos de vida. “Live and let die” uma expressão inglesa que significa “viva e deixe morrer”. É o título original de uma música escrita por Linda Louise Eastman e Paul McCartney, que foi eternizada por eles e pelos Guns N` Roses. A letra da música fala sobre a mudança social de perspectiva diante da vida em comunidades e das suas adversidades.

           Para compreendermos a relação entre mito e música, em que Claude Lévi-Strauss (1908-2009) desenvolve na parte inicial de Le Cru et le Cuit (1964)  e também na parte final de L’Homme Nu (1971), na verdade, só ocorre quando o pensamento mitológico passou para segundo plano no pensamento ocidental da Renascença e do século XVIII, em que começaram a aparecer as primeiras novelas, em vez de histórias ainda elaboradas segundo o modelo da mitologia. Foi precisamente por essa conjuntura que testemunhamos o aparecimento dos grandes estilos musicais, característicos do século XVII e, principalmente, dos séculos XVIII e XIX. Mais do que isso, o tema que deu origem à maior parte dos mal-entendidos, seja no mundo do trabalho de língua inglesa, mas também no mundo da política em França, comparada, representado na ideia de que não havia uma única relação, mas dois tipos de relação – uma de similaridade e outra de contiguidade, possível para compreender um mito como uma sequência contínua. Fundamento da verdade não é, então, o mundo “material empírico”, mas o “mundo do pensamento”, que apreende a estrutura inteligível do real de análise. O espírito humano é compreendido como coextensivo ao mundo dos seres viventes em que as leis da lógica exprimem as leis que estruturam a realidade da vida humana propriamente dita.  

             Uma praia representa uma formação geológica composta por partículas soltas de mineral ou rocha na forma de areia, cascalho, seixo ou calhaus ao longo da margem de um corpo de água de rio, mar ou oceano, seja uma costa ou praia fluvial. Também é reconhecida como a chamada “fralda do mar” ou pancada do mar. As praias arenosas oceânicas sofrem influências das marés e das ondas. Nestas praias, podem distinguir-se as seguintes zonas descritas: zona de arrebentação - é a parte da praia onde as ondas se quebram. Uma onda quebra-se quando seu ponto mais alto se choca com a areia, já próximo à costa. Isso ocorre graças à diminuição de sua velocidade, gerada pela refração e pela difração, fenômeno ondulatório relacionado à capacidade das ondas de contornar obstáculos. Se houver bancos de areia afastados da praia podem ocorrer outras zonas de arrebentação sobre estes. Zona de varrido representa a parte da praia varrida pelas ondas periodicamente. Está entre os limites máximo e o mínimo da excursão das ondas sobre a praia. Após esta zona, pode ocorrer uma parte onde se acumulam sedimentos - a berma. Devido às marés e às tempestades e ressacas, esta parte da praia pode avançar e regredir. As praias oceânicas costumam ser divididas da seguinte maneira: rasas. São planas e têm areia fina, firme e geralmente escura. As ondas quebram longe da faixa de areia e a profundidade vai aumentando, gradualmente, conforme vai se afastando mar adentro.

Este tipo sociológico de praia é mais comum no Estado de São Paulo, com algumas notáveis exceções como a de Maresias. De tombo. São inclinadas e têm areia grossa e clara. A profundidade aumenta abruptamente entre a faixa de areia e a água, e as ondas quebram muito próximas das praias de areia. Costumam ser as preferidas para a prática de esportes náuticos como o surfe. No Brasil, esse tipo de praia é mais comum no Estado do Rio de Janeiro. As praias fluviais sofrem a influências das cheias dos rios e dos sedimentos trazidos por eles. Estas praias podem “desaparecer” durante as cheias. No período da estiagem, podem se tornar bem extensas. São muito comuns na Amazônia brasileira, em função da variedade de rios extensos e largos, formando grandes faixas de areia, como é o caso da Praia da Ponta Negra, urbana do município de Manaus, capital do estado do Amazonas. Localizada às margens do rio Negro, é um dos principais cartões-postais da cidade. Possui orla praticamente toda urbanizada, quadras para prática de esporte e um anfiteatro, onde são realizadas apresentações musicais, espetáculos teatrais e outras atrações, tornando-a um dos principais pontos turísticos da capital amazonense. Particularmente adequadas para práticas piscatórias, as praias são locais de ócio (cf. De Masi, 2003) e lazer para atividades recreativas relacionadas a prática desportiva de banhos de mar e banhos sol, práticas relacionadas ao surf e práticas relacionadas à natação, devido à facilidade e risco relativo baixo de acesso ao mar, sendo, geralmente, locais de grande importância cultural, gastronômica e turística.  

Esta questão eclodiu racionalmente ao homem em 500 anos quando a civilização do ferro se estendeu geograficamente da Espanha à Índia e, socialmente, dos aristocratas à classe média. Quando a Grécia, livre de incômodas heranças imperiais e aberta ao comércio marítimo, apresentou-se como candidata à hegemonia do mundo tendo como marca a matriz do pensamento ocidental, estavam prontas todas as condições afetivas para o grande salto dialético, tanto no campo político e cultural como tecnológico. Atenas soube escolher as primeiras duas oportunidades e renunciou à terceira, de modo que ainda hoje permanece misterioso o motivo pelo qual idade de Péricles conseguiu produzir a democracia e a arte, mas “não soube descobrir nem o motor a explosão nem a energia elétrica”. Os tráficos marítimos garantiram o abastecimento das cidades com as matérias-primas necessárias. Comercializavam suas produções artesanais e artísticas, geradas em série comercial por centenas de pequenas empresas familiares. Desde cinco ou seis funcionários até uma centena, que se mantinham graças às trocas simbólicas comerciais, à excelência dos produtos e custo de mão-de-obra escrava.  

A virtude da política, “a audácia disciplinada”, segundo De Masi (2003: 151) e o equilíbrio das criações clássicas podem derivar tão-somente de uma condição de equilibrado bem-estar e de cultura sem alienação. Quando os grupos estão livres do poder da opressão; quando os cargos são independentes do berço e baseados na competência e no sorteio; quando todo cidadão tem direitos civis e deveres iguais ao participar das assembleias citadinas; quando o tempo dedicado à gestão da coisa pública é retribuído como qualquer outro emprego responsável; quando o welfare garante a redistribuição do excedente aos pobres; quando o Estado garante aos seus cidadãos teatros, templos, escolas, praças, chafarizes e obras de arte; quando a agricultura, a indústria e o comércio são colocados no mesmo plano e potencializam-se reciprocamente; quando os melhores talentos e os maiores investimentos são dedicados à beleza e à verdade, aí então pode-se concluir, justamente, que a democracia é completa e funcional. Atenas fez mais, seus frutos continuam como matriz ocidental sendo surpreendentes. A filosofia, a matemática, a teoria musical, as ciências naturais e a medicina – é desvinculada da questão antropocêntrica da religião e da magia – a ética, a política, a história, a geografia, a psicologia, a anatomia, a botânica, a zoologia, a física e a biologia fizeram mais progressos teóricos, abstratos, nesses 100 anos que nos milhares de séculos precedentes. Quanto às artes, da arquitetura, à música, da escultura à pintura e à poesia, o tamanho da dívida que a humanidade conserva em relação à Grécia.

A supremacia do trabalho não admite discussões. Caso se trabalhe, e só caso se trabalhe, tem-se direito ao salário, ao respeito social e à segurança de uma assistência médica, assim como de uma aposentadoria. O trabalho é uma categoria libertadora, gratificante, honrosa e santificadora. Quem conhece um ofício e tem vontade de trabalhar não ficará nunca sozinho, nem escravo, nem triste, nem ficará à mercê de tentações ou dos usuários, ganhará o paraíso na terra e um lugar no paraíso celeste. O trabalho é a realização de uma criação por meios da obra do homem, é dever social, expiação, legítimo orgulho, autorrealização, fonte apreciável de ganho. O trabalho nos faz humanos, cidadãos, sociáveis, produtores e consumidores que de modo geral nos legitima a desejar e a obter alguma admiração na vida. Quando falamos de trabalho entendemos toda a atividade remunerada, seja ela manual, física, intelectual, autônoma ou dependente. Uma atividade que, quanto mais onívora e veloz, mais é apreciada, se exercida pelo homem, ela exige a precedência absoluta sobre qualquer outra atividade: o amor, a família, a distração, o lazer, as práticas religiosas, a formação e a saúde. Um bom trabalhador irá se vangloriar de não ter 1 minuto de trégua ou 1 só dia de férias, de ficar no escritório horas, de levar trabalho para casa, e ser localizável e disponível 24 horas, durante os santos dias do ano. Na sociedade pós-industrial, uma instituição, um grupo ou indivíduo é criativo quanto mais consegue projetar na política, na economia, na ciência e na arte. É preciso, portanto, esclarecer como ocorre essa projeção.

         A descoberta é limitada por alguns vínculos: o mundo material a ser descoberto é circunscrito pela sua própria natureza; todo e cada problema natural admite uma única solução excelente e um só procedimento eficiente para alcança-la. Pode haver assimetria entre os homens e o tempo deles. Nem todos tiveram a sorte de Stendhal (1783-1842) ou de Proust (1871-1922): espelhos fiéis da época que os produziu, sincronizados emocional e racionalmente com os fatos acerca do que escreviam. Outros, como Bacon (1561-1626) ou Beethoven (1770-1827), foram precursores de ideias e de técnicas; às vezes uma infelicidade para si, mas uma fortuna para os seus póstumos. Outros ainda, mesmo com sucesso e muitas vezes até com gênio, prolongaram um estilo de vida, ou paradigmas intelectuais que já haviam atingido a plenitude antes mesmo de seus nascimentos. Assimetrias desse gênero podem se verificar sobretudo nas fases históricas de alternância entre civilizações, quando não progride uma única ciência ou uma única forma de arte. Mas desloca-se a própria interseção entre as artes ou as ciências, fazendo com que o homem realize um salto dialético de qualidade. A palavra tutela tem origem no Latim, do verbo tuere que significa proteger, vigiar, defender alguém (cf. Ahmed, 2018). Este instituto remonta à Roma na Antiguidade, que na história social nomeava disciplinarmente um tutor ao menor impúbere, quando órfão.        

O globo terrestre é composto de terra e mar. Trata-se de grandes massas de terras que são separadas pelos oceanos. A origem etimológica do nome (cf. Ginzburg, 1979) continente é derivada das palavras latinas continens e entis, que estando no particípio presente de continere, significa “conter, abranger”, verbo oriundo de “cum, con e tenere”, tendo como representação sociológica o significado de ter. Esta é a fonte do eruditismo em cinco línguas reais europeias: em língua portuguesa, espanhola e italiana, continente (século XV); em língua inglesa continent (século XIV); o vocábulo inglês continent é uma palavra que foi tomada de empréstimo do vocábulo francês continent (século XII). Os substantivos das quatro   línguas europeias têm o mesmo significado: em português, espanhol e italiano, continente (século XVI); em francês, continent (1532); em inglês, continent (1590); e em alemão Kontinent entre os séculos XVI e XVII. O vocábulo português e espanhol continente foi documentado na história entre os séculos XII e XIV, significado “gesto, atitude, parte”, cujo sentido é conjunto da produção daquilo que é a vivência. Existem seis principais continentes no globo terrestre: América, Europa, África, Ásia, Oceania e a Antártida. Alguns territórios de nações se encontram em unidade, ou separadamente por água com formato de ilhas. Há dois tipos de regiões existentes na extensão de um país, a de arquipélago e continental.   

Os países continentais em área de terra espaçosa têm uma área de água na fronteira ao mar largo e fronteiras terrestres com inúmeros países. O país arquipélago tem inúmeras ilhas, águas territoriais mais amplas, e muitas vezes sem fronteiras terrestres com países   vizinhos. Uma identidade compartilhada se desenvolveu definida por uma cultura nacional, diversidade étnica, pluralismo religioso dentro de uma população de maioria muçulmana, e uma história de colonialismo, rebelião e golpes de Estado. O conceito que os geógrafos usam para definir massa continental pode variar segundo os critérios que adotam, podendo ser físicos, culturais, políticos ou histórico-sociais. A definição fisicamente de maior disseminação considera a divisão abstrata do globo terrestre em sete continentes, a saber: África, América do Norte, América do Sul, Antártida, Ásia, Europa e Oceania. Esse modelo é cultural como padrão em países como China, Índia, Paquistão e em boa parte dos países de língua inglesa com larga população, o que o faz ser reconhecido o padrão utilizado por mais de 45% da população mundial. Ou seja, menos da metade (45,7%) da população mundial agora vive em algum tipo de democracia, um declínio significativo em relação a 2020, quando o número era de 49,4%. Ainda menos (6,4%) residem em uma “democracia plena” – categoria social que inclui apenas 21 dentre 167 países e territórios analisados, depois que Chile e Espanha foram rebaixados para “democracias imperfeitas”.

Mas, seguindo-se critérios tanto culturais como sociais e políticos, costumam-se considerar como continentes a Europa, a Ásia, a África, a América, a Antártida e a Oceania. O chamado Velho Mundo é constituído pelos mesmos três continentes que constituem a Eufrásia: Europa, Ásia e África. Essa classificação técnico-metodológica é baseada numa afirmação concreta de especialistas renomados de que as três massas terrestres se unem histórica e geograficamente: Ásia e Europa (Eurásia), cujos acidentes geográficos que ligam os continentes são o Cáucaso, o mar Cáspio e a cordilheira dos Urais, no momento em que a África e a Ásia são comunicadas per se pelo istmo do Suez que separa o mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando os continentes africano e Asiático, no qual foi construído o canal do Suez (cf. Rodrigues, 1982). Uma via navegável artificial a nível do mar localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez). Inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção, permite que navios viajem entre a Europa e a Ásia Meridional sem navegar em torno de África, como na Era dos Descobrimentos nos anos 1497-1500, reduzindo a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em 7 mil km.  

Lucas Tolentino Coelho de Lima nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1997, popularmente reconhecido como Lucas Paquetá, é um futebolista brasileiro que atua como meio-campista. Atualmente joga pelo West Ham e pela Seleção Brasileira. Revelado pelo Flamengo, no ano de 2018 foi um dos escolhidos para fazer parte da lista de 12 suplentes chamados pelo técnico da Seleção Brasileira, Tite, para a disputa da Copa do Mundo de 2018, sendo o mais novo dentre os 35 convocados. No mesmo ano, atuando pelo clube rubro-negro, recebeu o Troféu Bola de Prata da  Entertainment and Sports Programming Network (ESPN), é uma família associada de canais de TV por assinatura dos Estados Unidos dedicada à transmissão e produção de programas esportivos 24 horas por dia, o Troféu Mesa Redonda, da TV Gazeta, e o Prêmio Craque do Brasileirão, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do site GloboEsporte.com, ambos como melhor meia do Campeonato Brasileiro daquele ano. Após o rápido estouro e as boas atuações no time titular do Clube de Regatas Flamengo, passou a ser considerado uma das maiores promessas do futebol brasileiro. O meia tem o apelido de Paquetá devido ao bairro originalmente onde nasceu, situado na Ilha de Paquetá, objeto de nossa interpretação sociológica. Cria das divisões de base do Flamengo, Paquetá chegou ao clube com 8 anos de idade. Paquetá, porém, teve seu futuro na Gávea ameaçado quando pulou para a categoria seguinte. Franzino e com apenas 1,53 metros aos 15 anos, tinha técnica para o jogo de futebol, mas “não conseguia ganhar no corpo de seus adversários”. Por isso, precisou fazer um treinamento físico a parte, que lhe fez crescer 27 centímetros em três anos. Algo confirmado pelo diretor de futebol da base rubro-negra, Carlos Noval.     

Com boas atuações com a camisa do Flamengo, principalmente, na reta final do Campeonato Brasileiro, Paquetá começou a ser especulado no futebol italiano, tendo Milan e Juventus como os principais interessados em sua contratação, também foi especulado Barcelona e no Paris Saint-Germain, onde haviam conversas adiantadas para sua aquisição. No dia 10 de outubro, o Milan atravessou as negociações com o time francês e fechou a contratação do meia pelas próximas cinco temporadas, por cerca de 35 milhões de euros. Lucas Paquetá foi vendido ao Milan por 35 milhões de euros, mais bônus por premiação. O Flamengo receberá 70% do valor, montante que detém dos direitos econômicos do camisa 11 – ou seja, cerca de 25 milhões de euros. Os outros 30% são divididos entre o jogador e a Brazil Soccer, empresa que faz a gestão de carreira. Se apresentou ao clube rossonero em janeiro de 2019, após o fim da temporada brasileiro, Paquetá escolheu vestir a camisa 39, justificando por ter sido seu primeiro número quando subiu ao profissional do Flamengo em 2016. “Milan”. Quando um clube com esta história me chamou eu fiquei muito feliz. Eles me presentearam com um importante projeto e com profissionais importantes. Conversei com a família e decidimos que o Milan era o lugar certo para mim”. Paquetá marcou seu primeiro gol pelo Milan em sua sétima partida pelo clube, no dia 10 de fevereiro, em um jogo contra o Cagliari, no San Siro, jogo em que seu time venceu por 3 a 0. Em sua comemoração, Paquetá homenageou vítimas do Incêndio no Ninho do Urubu, CT do Flamengo. 

Após a passagem apagada pelo Milan, Paquetá foi anunciado como novo reforço do Lyon no dia 30 de setembro de 2020, assinando até 2025. Marcou seu primeiro gol pelo clube no dia 23 de dezembro, na vitória por 3–0 sobre o Nantes, na 17ª rodada da Ligue 1. No dia 6 de janeiro de 2021, deu uma assistência para Memphis Depay abrir o placar na vitória por 3 a 2 sobre o Lens, em jogo válido pela 18° rodada da Ligue 1. Paquetá marcou seu segundo gol na vitória por 1 a 0 sobre o Dijon, na 23ª rodada da Ligue 1. Seu terceiro e quarto gol saíram de forma seguida: na derrota por 2 a 1 contra o Montepellier no dia 13 de fevereiro, e na vitória de 3 a 2 sobre o Brest no dia 19 de fevereiro, válidos pela 25ª e 26ª rodada da Ligue 1, respectivamente. No dia 28 de fevereiro, em partida válida pela 27ª rodada da Ligue 1, deu uma assistência para Karl Toko Ekambi fazer 1 a 0 contra o Olympique de Marseille. Porém, aos 44 minutos do primeiro tempo, um pênalti foi marcado após uma bola chutada por Pape Gueye pegar na mão de Paquetá, que foi advertido com cartão amarelo. O atacante polonês Arkadiusz Milik converteu para o Marseille. Já no segundo tempo, aos 70 minutos, Paquetá acabou sendo expulso ao dar uma entrada dura em Dimitri Payet, deixando o Lyon com um a menos faltando 20 minutos para o fim do jogo, mas o jogo acabou em 1 a 1.

Em 3 de abril, fez o gol de empate no 1 a 1 contra o Lens, válido pela 31ª rodada da Ligue 1, aos 36 minutos do segundo tempo, salvando o Lyon da derrota. No jogo seguinte, em dia 8 de abril, Lucas teve mais uma excelente atuação, marcando o primeiro gol e dando assistência para o gol de Depay, em partida contra o Red Star, válida pelas oitavas de final da Copa da França. Porém, o Lyon cedeu o empate, com o jogo terminando com o placar de 2 a 2, ocasionando uma disputa de pênaltis. Após estar empatando também a disputa de pênalti, coube a Lucas bater o quinto e decisivo, terminando com a vitória do Lyon por 5 a 4 nos pênaltis, classificando-se para as quartas de final. No jogo seguinte em 11 de abril, teve mais uma excelente atuação na vitória do Lyon sobre o Angers SCO por 3 a 0, marcando o segundo gol e dando uma assistência para Depay marcar o terceiro. No jogo seguinte, contribuiu com mais uma assistência, servindo Depay no primeiro gol do Lyon na vitória por 2 a 1 sobre o Nantes, na 33ª rodada da Liga Francesa. Marcou também na goleada de 4 a 1 sobre o Lorient, na 36ª rodada da Ligue 1. No jogo seguinte, Lucas teve mais boa atuação, ao marcar dois gols e dar uma assistência na goleada por 5 a 2 sobre o Nîmes, válida pela penúltima rodada da Ligue 1.  Após uma temporada de destaque pelo Lyon, Paquetá foi selecionado para a seleção da Ligue 1 de 2020–21. Após a saída de Memphis Depay para o Barcelona, Paquetá, que antes era o camisa 12, passou a ser o camisa 10 do Lyon. Fez o gol do Lyon na derrota por 2 a 1 para o Paris Saint-Germain na 6ª rodada da Ligue 1, em 19 de setembro. Em 22 de setembro, fez um dos gols da vitória de 3 a 1 sobre o Troyec na 7ª rodada da Ligue 1, chegando a 4 gols e se tornando um dos artilheiros da competição, tendo seu nome cantado pela torcida do Lyon. No dia 29 de agosto de 2022, ocorre a transferência de Lucas Paquetá para o West Ham no valor de 60 milhões de euros. Jogador mais caro da história dos Hammers, o meia brasileiro recebeu a camisa 11.

Estreou pelos Hammers no dia 31 de agosto, no empate de 1 a 1 contra o Tottenham, válido pela Premier League. Mesmo tendo começado no banco de reservas e entrado aos 22 minutos do segundo tempo, Paquetá recebeu elogios do técnico David Moyes. O meia teve boa atuação no dia 9 de outubro, contra o Fulham, em jogo realizado no Estádio Olímpico de Londres. Paquetá deu uma assistência para o italiano Gianluca Scamacca marcar o segundo gol da partida, e o West Ham venceu de virada por 3 a 1.[61] Marcou seu primeiro gol pelo clube no dia 4 de janeiro de 2023, no empate em 2 a 2 contra o Leeds United, fora de casa, em um duelo válido pela 19ª rodada da Premier League. Na comemoração, Paquetá homenageou o craque Pelé, falecido em dezembro. Em sua primeira temporada na Inglaterra, o brasileiro teve dificuldades em sua adaptação ao futebol inglês e o West Ham precisou brigar contra o rebaixamento. Ele também não conseguia marcar gols ou garantir assistências com regularidade. No entanto, o meia cresceu com o time e ofereceu seus lampejos na fase decisiva da Liga Conferência Europa da União das Associações Europeias de Futebol. Assim, o jogador teve boa atuação no dia 7 de junho, na final da competição contra a Fiorentina, dando uma assistência para Jarrod Bowen marcar o gol do título aos 44 minutos do segundo tempo. Com a vitória por 2 a 1 na Fortuna Arena, em Praga, o West Ham levantou seu primeiro troféu em 43 anos.

A história registra que todas as motivações tanto sociológicas como psicológicas, propostas para fazer compreender as estruturas e gênese do simbolismo erram muitas vezes por uma secreta e estreita metafísica: umas porque querem reduzir o processo motivador a um sistema de elementos exteriores à consciência e exclusiva das pulsões, as outras porque se atêm exclusivamente a pulsões, ou, o que é pior, ao mecanismo redutor da censura e ao seu produto, o recalcamento. O que quer dizer que implicitamente se volta a um esquema explicativo e linear no qual se descreve, se conta a epopeia dos indo-europeus ou as metamorfoses da libido, voltando a cair nesse vício fundamental da psicologia geral que é acreditar que a explicação dá inteiramente conta de um fenômeno que por natureza escapa às normas da semiologia teórica.  Parece que estudar in concreto o simbolismo será preciso enveredar resolutamente pela via da antropologia, dando a esta palavra o seu sentido pleno atualmente: o conjunto das ciências que estudam a espécie homo sapiens – sem se por limitações a priori e sem optar por uma ontologia psicológica que não passa de “espiritualismo camuflado”, ou “ontologia culturalista” que, geralmente, não é mais que “máscara da atitude sociologista”, ou dentre atitudes resolvendo-se em última análise num intelectualismo semiológico.  Esse trajeto é reversível; porque o meio elementar é revelador da atitude adotada diante da dureza, da fluidez da queimadura. Qualquer gesto chama a sua matéria e procura o seu utensílio, e que toda matéria excluída, abstraída do cósmico, e utensílio ou instrumento é vestígio de um gesto passado.

Assim o trajeto antropológico (cf. Durand, 1997) pode indistintamente partir da cultura ou do natural psicológico, uma vez que o essencial da representação e do símbolo está contido entre dois marcos reversíveis. Uma tal posição antropológica, que não quer ignorar nada das motivações relacionais contidas nas tramas sociópetas ou sociófogas do simbolismo, leva em conta as instituições rituais, a tensão do simbolismo religioso, a poesia, a mitologia, a iconografia ou psicologia implicando uma metodologia essencial para delimitar os conteúdos de sentido desses trajetos que os símbolos constituem. É no ambiente tecnológico humano que vamos encontrar um acordo entre os impactos sociais dominantes e o seu prolongamento ou confirmação cultural.  Em termos pavlovianos, poder-se-ia dizer que ambiente humano é o primeiro condicionamento das dominantes sensório-motoras, ou, em termos piagetianos, que o meio humano é o lugar da projeção dos esquemas de imitação. Se, como pretende o antropólogo Lévi-Strauss, o que é da ordem da natureza e tem por critérios a universalidade e a espontaneidade está separado do que pertence à cultura, isto é, domínio da particularidade, da relatividade e do constrangimento, não deixa de ser necessário que um acordo se realize entre a natureza e a cultura, sob pena de ver o conteúdo cultural nunca ser vivido. Autores notaram a extrema confusão que reina na terminologia do imaginário: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os símbolos).

Profissões, despojadas de suas roupagens próprias, são funções técnicas e sociais especializadas que as pessoas desempenham em resposta a necessidades especializadas de outras; são, ao menos em sua forma mais desenvolvida, segundo Norbert Elias, conjuntos especializados de relações humanas. Para ele, o estudo da gênese de uma profissão, portanto, não é simplesmente a apreciação de um certo número de indivíduos que tenham sido os primeiros a desempenhar certas funções para outros e a desenvolver certas relações, mas sim a análise de tais funções e relações. Todas as profissões, ocupações, ou qualquer que seja o nome que tenham, são, de uma forma peculiar, independentes, não das pessoas, mas daquelas pessoas em particular pelas quais elas são representadas em uma época determinada. Elas continuam existindo depois que esses seus representantes morrem. Como as línguas, pressupõem a existência de um grupo social. Descobertas científicas, invenções técnicas e sociais e o surgimento de novas necessidades humanas e de meios especializados para satisfazê-las são indubitavelmente fatores sociais que contribuem para o desenvolvimento de uma nova profissão. O processo social como tal nível abstrato de análise social, a gênese e o desenvolvimento de uma profissão ou de qualquer outra ocupação social, é mais que a soma total de atos individuais, pois tem em sua constituição seu modelo próprio de origem e significado.

A profissão naval tomou forma em um tempo em que a Marinha era uma frota de embarcações a vela. Em muitos sentidos, portanto, o treinamento, as tarefas e padrões dos oficiais eram diferentes dos padrões de nossa época. Diz-se que o comando de um navio de um navio moderno, com seus equipamentos técnicos elaborados, requer uma mente cientificamente treinada. O comando de um navio a vela requeria a mente de um artesão. Apenas algumas pessoas iniciadas em tenra idade na vida do mar poderiam esperar dominar essa técnica. “Recrutá-los jovens” era um reconhecido lema da antiga Marinha. Era norma que um jovem começasse sua futura carreira de oficial naval aos 9 ou 10 anos diretamente a bordo. Muitas pessoas experientes achavam que poderia ser tarde demais, caso se começasse a ir a bordo somente aos 14 anos, não apenas porque quem o fizesse teria que se acostumar ao balanço do mar e superar o enjoo o mais rapidamente possível, mas também por que a arte de amarrar e dar nós em cordas, a maneira correta de subir ao mastro – seguramente o ovém, isto é, ovém de avante e ovém de ré, para servir de apoio aos mastros e mastaréus de um navio, e não a enfechadura – e várias outras operações mais complicadas somente poderiam ser aprendidas com uma prática longa e exaustiva.

Outra possibilidade que podemos levantar é o papel do farol na narrativa. Um farol ou, “faro”, representa uma estrutura elevada verticalmente, habitualmente uma torre, equipada com um potente “aparelho ótico” dotado de extraordinárias fontes de luz e espelhos refletores, cujo facho é visível a longas distâncias. São instalados junto ao mar, na costa ou em ilhas próximas, tendo o objetivo de orientar os navios durante a noite. Utilizados desde a Antiguidade, quando eram acesas fogueiras ou grandes luzes de azeite de oliveira ou de óleo de baleia, os faróis foram concebidos para avisar os navegadores a proximidade da terra, ou de porções de terra que irrompam pelo mar adentro. As fontes de alimentação da luz foram melhorando, tendo sido o azeite substituído pelo petróleo e pelo gás, e posteriormente pela invenção da eletricidade. Paralelamente, foram inventados vários aparelhos óticos, com espelhos, refletores e lentes, montados em mecanismos de rotação, não só para melhorar o alcance da luz, como para proporcionar os períodos de presença de luz e muito provavelmente de obscuridade, que permitiam distinguir um farol de outro. Este arquétipo arquitetônico de torre marítima de construções ganhou características temporais e histórico-sociais, sendo dotados de características distintas analogamente de zonas para zonas. 

Talvez, o farol represente um estado de consciência absoluta. O estado mental que o local oferece com a perspectiva de imobilização, é mais do que o protagonista pode suportar, pois ele já está entregue a uma profunda perda de sua sensibilidade. Há teorias envolvendo o mito de Prometeu, já que Winslow e o deus grego foram castigados por contemplar o que não deviam. O primeiro, caiu das escadas e teve o corpo comido por gaivotas. O segundo caso, foi condenado por Zeus a ter o fígado eternamente dilacerado por águias. O filme contempla simultaneamente os dois aspectos, sendo predomina uma espécie de reação vingativa, antiecológica quando o personagem enfurecido bate a ave numa pedra até ela desfalecer brutalmente. Os instrumentos ópticos são equipamentos auxiliares construídos para auxiliar a visualização do que seria muito difícil ou quase impossível de enxergar sem eles. As peças fundamentais que compõem a maioria dos instrumentos são representadas pelos espelhos e lentes. Os diversos instrumentos estão intimamente ligados às nossas vidas. Através de recursos relativamente simples foram capazes de revolucionar a humanidade, seja propiciando prazer e conforto ou mesmo, ajudando aos homens na busca de suas origens ou de um aprimoramento científico. 

O esquema representa uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard chama de “símbolo motor”. Faz a junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve e os esquemas é que estes últimos já não são apenas engramas teóricos, mas trajetos encarnados em representações concretas mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de “origem primordial”, de “enagrama”, de “margem original”, de “protótipo”.

Jung evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, concordamos com Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem viu Émile Bréhier, a narrativa histórica e lendária. 

Foi este princípio psicológico, que Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos os casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente. As leis naturais são verdades estatísticas, absolutamente válidas ante magnitudes microfísicas, mas não microfísicas. Isto implica um princípio de explicação diferente do causal. Cabe a indagação se em termos muito gerais existem não somente uma possibilidade senão uma realidade de acontecimentos acausais. A acausalidade é esperável quando parece impensável a causalidade. Ante a casualidade só resulta viável a avaliação numérica ou o método estatístico. As agrupações ou séries de casualidades hão de ser consideradas casuais enquanto não se ultrapasse os limites de “observação da probabilidade”. A probabilidade é sempre um número decimal entre 0 e 1, ou uma porcentagem entre 0% e 100%. Se ultrapassado, implica-se um princípio acausal ou “conexão transversal de sentido” na compreensão do evento.                         

Segundo Jung (2000), a hipótese de um inconsciente coletivo pertence àquele tipo de conceito. Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos capazes de serem conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente na medida em que comprovarmos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. O conceito abstrato de archetypus só se aplica indiretamente às “représentations collectives”, na medida em que a análise possibilite designar apenas aqueles conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. Representam, hic et nunc, um dado anímico de observação imediato. O arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada. Especialmente em níveis altos dos ensinamentos secretos, aparecem sob uma forma que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e avalia. Sua manifestação imediata, como a encontramos em sonhos e visões, é mais individual, incompreensível e ingênua do que nos mitos. O arquétipo simbolicamente representa, em essência, um conteúdo inconsciente, que se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual e coletiva na qual ocorre determinada manifestação.

A Ilha de Paquetá localiza-se no interior Nordeste da Baía de Guanabara, no bairro de Paquetá, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. A principal forma de acesso à ilha é através da utilização das barcas que partem da Praça XV, situada no bairro do Centro, na Zona Central da cidade. Além de estar localizada na Rua Primeiro de Março, a praça integra a Orla Conde, um passeio público que margeia a Baía de Guanabara. Na esfera política a Orla Prefeito Luiz Paulo Conde, popularmente reconhecida como Orla Conde ou Boulevard Olímpico, é um calçadão situado na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro, às margens da Baía de Guanabara. Com cerca de 3,5 km de extensão e 287 mil m² de área, estende-se pelos seguintes bairros: Centro, Gamboa e Saúde. A orla foi inaugurada entre 2015 e 2017, ocupando a área que antes ficava sob o Elevado da Perimetral, além de substituir parte da Avenida Rodrigues Alves. Sua abertura pôs fim a 252 anos de acesso autoritário restrito do passeio público, em um trecho da orla a militares do 1º Distrito Naval. Há também uma linha de embarcações de pequeno porte ligando a Ilha de Paquetá à Ilha de Itaóca, no município de São Gonçalo. Em outubro de 2021 foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística os resultados do censo populacional realizado na ilha. Foi a primeira localidade brasileira a ser recenseada depois do Censo de 2010, dando início ao Censo de 2022. A população residente aferida foi de 3 612 habitantes, distribuídos em 1,216 km², sendo sua densidade de 2 970,4 hab./km².

            No dia 3 de abril de 2016, um trecho de 600 metros e 23.627 m² de área que contorna o 1º Distrito Naval foi aberto, permitindo a circulação livre, antes restrita a militares, entre a Praça Mauá e a Praça Barão de Ladário. A criação do passeio foi possível após um acordo celebrado entre a prefeitura do Rio de Janeiro e o comando do 1º Distrito Naval. O trecho ganhou um mobiliário urbano e um paisagismo diferenciado do resto da orla, de modo que é possível encontrar exemplares de pata-de-vaca, ipê amarelo, pau-brasil e pitanga em seus jardins. O trajeto também conta com uma passagem de madeira em forma de bumerangue de 70 metros sob a ponte que dá acesso à Ilha das Cobras. Atualmente, a ilha abriga o complexo do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, o Hospital Central da Marinha, o Centro de Perícias Médicas da Marinha, o Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, o Presídio da Marinha, o Serviço de Documentação da Marinha e Diretorias Especializadas de Intendência, sob a responsabilidade da Marinha de Guerra do Brasil. Abriga também a Empresa Gerencial de Projetos Navais. O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, situado na Ilha das Cobras e principal centro de manutenção da Marinha, e o Mosteiro de São Bento, um dos principais monumentos de arte colonial, podem ser contemplados por quem contorna o 1º Distrito Naval. O Museu do Amanhã também ganha destaque neste trecho da orla.

           Etnograficamente até o início do regime republicano, situavam-se nas imediações da Praça XV: a Capela Imperial, atualmente Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé; a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo; e o Convento do Carmo, prédio da antiga Academia de Comércio, hoje parte de uma das unidades privadas da Universidade Candido Mendes. Por essa razão, a região foi palco per se de acontecimentos sociais e de solenidades políticas significativas para a história do Brasil, como casamentos, batizados, aclamações, coroações e enterros. Quando a rainha dona Maria I faleceu, em 1816, o então Largo do Paço foi o local onde ocorreu o funeral real. Com os cariocas vestidos de preto, o corpo saiu solenemente do paço em direção ao Convento da Ajuda, local onde foi depositado. Dias depois, aconteceram, na praça e em outros pontos da cidade, as cerimônias protocolares da morte de um reinante, a única vez que foram executadas em todo o continente latino-americano. No dia 18 de março de 1870, a câmara da cidade deu ao logradouro a denominação Praça de Dom Pedro II. Porém, com a Proclamação da República do Brasil, ocorrida em 15 de novembro de 1889, o nome foi trocado para a denominação atualmente em homenagem à data da proclamação. No final do século XIX, os contornos e limites da Praça XV eram oficialmente descritos, da seguinte forma topográfica: “pela Rua Dom Manoel, Praça das Marinhas, ruas do Mercado, 1º de Março, 7 de Setembro e da Misericórdia”.

       Quando foi feita, em 1878, a nova numeração dos prédios da cidade por ordem da Câmara Municipal, o serviço começou justamente no logradouro, sendo que o Paço Imperial recebeu o número sete. No mesmo ano, os prédios da Secretaria de Agricultura, da Agência Nacional de Colonização e da Estação Praça XV já existiam nas imediações da praça. Em 1888, foi em frente ao Paço Imperial onde ocorreram tardiamente algumas comemorações pela assinatura da Lei Áurea. No entanto, em 1889, o paço foi o local de onde partiu a família imperial para o exílio após a Proclamação da República do Brasil. O prédio foi transformado posteriormente em repartição dos Correios e Telégrafos após passar por uma série de reformas que o descaracterizaram. Hoje, inteiramente restaurado, o Paço Imperial é um centro cultural, contando com livrarias, restaurantes e espaços para exposições. No dia 12 de novembro de 1894, foi solenemente inaugurado o panteão do General Osório. Encimado por sua estátua equestre, fundida com o bronze dos canhões apreendidos durante massacre beligerante chamado “Guerra do Paraguai”, Manuel Luís Osório (1808-1879) foi um dos líderes do conflito bélico ocorrido na década de 1860 e, contemporaneamente, é o patrono da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro. No entanto, no final do século XX, “os restos mortais do herói foram levados do panteão para o município de Osório, localizado no Rio Grande do Sul, estado onde nasceu”. Na praça, até o fim do século XIX, atracavam a maior parte dos navios de passageiros que chegavam ao Rio de Janeiro, sendo que a região era considerada o “cartão” de visitas da cidade.

Atribui-se ao cosmógrafo francês André Thevet (1516-1592), muito citado e integrante da expedição de Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571), a (des)coberta da ilha pelos europeus, ainda em 1555, quando da fundação da chamada França Antártica,  uma colônia francesa estabelecida na região da Baía do Rio de Janeiro, como era então conhecida a Baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro, no século XVI, com o apoio dos Tamoios, a população nativa da Guanabara, existindo de 1555 a 1570, quando os últimos remanescentes da aliança franco-tamoia foram derrotadas na Batalha do Cabo Frio. É um confronto no período colonial entre tropas constituídas por portugueses e índios contra franceses e Tamoios no litoral Leste da Capitania do Rio de Janeiro. Em 1575, após um domínio de cerca de vinte anos, o então governador da capitania do Rio de Janeiro, Antônio Salema, reuniu, na região da Baía da Guanabara e nas capitanias de São Vicente e de São Tomé, um exército de portugueses apoiado por uma tropa de índios catequizados, com o objetivo de exterminar o controle franco-tamoio no litoral leste da capitania. Os militares e os indígenas seguiram por tanto por terra quanto pelo mar com o objetivo liquidar o último bastião da Confederação dos Tamoios e acabar com o domínio francês que já durava vinte anos em Cabo Frio. O início desses conflitos aconteceu na região reconhecida como Tamoios. Após o cerco e a rendição da fortaleza franco-tamoia, dois franceses, um inglês e o pajé tupinambá foram enforcados, cerca de quinhentos guerreiros assassinados e, em torno de 1 500 índios pela força bruta escravizados.

As tropas vencedoras entraram pelo sertão, queimando aldeias, matando mais de mil índios e aprisionando outros tantos. Os sobreviventes refugiaram-se na Serra do Mar. A baixada litorânea, de Macaé até Saquarema, devido ao massacre, transformou-se em um verdadeiro deserto humano, esporadicamente servindo de passagem para os índios Goitacazes que atravessavam aquelas terras à procura de caça e pesca. Após o abandono das terras pelos portugueses, estes estabeleceram um bloqueio naval de certa forma eficiente com base na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Entretanto, entre 1576 e 1615, com a instauração da União Ibérica, com Portugal se subordinando à Espanha, o porto de Araruama voltou a ser frequentado por navios franceses, ingleses e neerlandeses em busca de pau-brasil, tornando-se também a base da pirataria contra embarcações lusas que procuravam dobrar o cabo. A ilha de Paquetá era habitada pelos índios Tamoios, também chamados Tupinambás, os quais se aliaram aos franceses contra os colonizadores portugueses. Na ilha, houve importante batalha da guerra entre tupinambás e franceses, de um lado, e portugueses e índios temiminós, de outro. Na batalha, morreu o grande líder tupinambá Guaixará. No contexto da campanha para a expulsão definitiva dos franceses pelas forças portuguesas comandadas por Estácio de Sá e da fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565, nesse mesmo ano a ilha de Paquetá foi doada, sob a forma especificamene de duas sesmarias, a dois dos capitães portugueses: a parte Norte da ilha, atualmente bairro do Campo, coube a Inácio de Bulhões, e a parte Sul, atualmente bairro da Ponte, a Fernão Valdez.

Morador da ilha de Paquetá e coordenador da Casa de Artes, José Lavrador diz que quando desce da barca não sente mais “o cheiro de Paquetá”. Ele se refere aos cavalos que puxavam as charretes, que ficavam estacionadas na praça em frente à estação das barcas. No lugar delas, hoje estão modernos carros elétricos, como os usados em campos de golfe. Na ilha de Paquetá, eles ganharam o apelido de “charretes elétricas”. Cinco meses depois da substituição dos cavalos, Paquetá se adaptou à mudança. Charreteiros, turistas e até parte da população, que foi contrária à troca, estão satisfeitos com o novo transporte. Alguns problemas do passado, no entanto, persistem. A prefeitura ainda não cumpriu a promessa de construir um estacionamento para os carrinhos no lugar da antiga cocheira. E o turismo na Ilha, em baixa, ainda não garante boa receita para os charreteiros. - Acho que a charrete elétrica é uma grande melhoria para Paquetá. Os cavalos eram forçados a trabalhar o dia inteiro, ficavam exaustos. Não vejo nenhum prejuízo para o turista — diz o carioca Marcio Belmonte, que levou os amigos Norberto Cortez, porto riquenho, e Jessie Cortez, brasileira radicada nos Estados Unidos para passear na ilha.

         A carruagem é um meio de transporte de tração animal. Tem quatro ou duas rodas, geralmente com suspensão. Pode ser aberta ou fechada e inicialmente foi um veículo que a nobreza e realeza europeia utilizavam para se apresentar em público. As carruagens teriam surgido no século XIII a.C., com uso militar. Foram usadas na Roma Antiga, no século I a.C., embora o veículo de transporte habitual fosse a liteira, que continuou a ser usada nos séculos seguintes. No século XVI, as carruagens voltaram a ser utilizadas, inicialmente limitadas às classes mais altas da sociedade, em especial monarcas. No século XVII as suspensões melhoraram e por conseguinte as carruagens também. Eram mais rápidas, leves e variadas. Os construtores começaram a competir entre si para fazer a melhor carruagem. Estes juntavam carpinteiros, pintores, entalhadores, douradores, envernizadores e vidraceiros que juntos faziam não só carruagens cerimoniais, como também carruagens para passeios. Existiram construtores de carruagens que tentaram, cada um à sua maneira, inovar e melhorar as carruagens. No início do século XX, as carruagens quase deixaram praticamente de existir com o aparecimento dos automóveis.

Apesar da boa adaptação das charretes elétricas em Paquetá, antigos problemas ainda incomodam os charreteiros. Um deles foi também um dos motivos para as supostas acusações de maus-tratos: a cocheira, em péssimo estado de conservação, com esgoto correndo “a céu aberto” entre as baias dos animais. No espaço, a prefeitura prometeu construir um estacionamento para os carrinhos, mas, até agora, tudo continua da mesma forma. O esgoto das casas vizinhas continua correndo por uma canaleta dentro da cocheira e caindo direto na Praia dos Frades. Enquanto isso, os carros ficam guardados à noite na sede da Administração Regional da ilha. Mesmo agradando, a charrete elétrica, sozinha, não foi capaz de atrair os turistas, necessários para movimentar a economia do lugar. - Houve Copa do Mundo e Olimpíada no Rio, mas ninguém fez nada pra incentivar o turismo em Paquetá. O movimento continua fraco, seja com cavalos ou não. Tenho feito no máximo dois passeios com turistas por dia. É muito pouco. São 17 carros elétricos. Não tem turista para todo mundo — diz Ubirajara de Araújo, o Bira, de 64 anos, que trabalha há 45 como charreteiro na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.

Para sobreviver e competir com os ecotáxis — triciclos elétricos que funcionam na ilha há alguns anos - os charreteiros passaram a fazer também o serviço de lotada. Além dos passeios turísticos, pelos quais cobram R$ 100, pela utilidade de uso de 50 minutos e R$ 70 pela utilidade de uso de 30 minutos, eles passaram a transportar pessoas de um ponto a outro por R$ 5. A única condição é que seja um grupo de no mínimo três passageiros. Se for apenas um, terá que pagar R$ 15. A prefeitura informou que o projeto para reforma da cocheira está em fase de finalização. E que assim que for concluído será anunciada a data para o início da obra. - Acho que a charrete elétrica é uma grande melhoria para Paquetá. Os cavalos eram forçados a trabalhar o dia inteiro, ficavam exaustos. Não vejo nenhum prejuízo para o turista - diz o carioca Marcio Belmonte, que levou os amigos Norberto Cortez, porto riquenho, e Jessie Cortez, brasileira radicada nos Estados Unidos da América, para passear na ilha. Em maio, de acordo com a imprensa carioca, a prefeitura deu a cada um dos 17 proprietários de charretes um carrinho elétrico e ainda se comprometeu com a manutenção do equipamento por três anos. - Sinto falta dos cavalos, mas antes eu tinha que acordar de madrugada para alimentar, dar banho e tratar dos animais. Além disso, tinha que pagar comida e veterinário. No fim do mês, não sobrava dinheiro para mim — diz o diretor da Associação de Charreteiros, que ainda mantém o nome de Charretur, “mesmo após a mudança no transporte”. Carroça é um meio de transporte e de comunicação socialmente que antecede o advento dos veículos a vapor.

            Paquetá geograficamente é o único bairro-ilha do município do Rio de Janeiro. Com área de 1,2 km² e perímetro de 8 Km, a ilha tem 40 ruas, 12 praças, 2 parques e 11 praias. Está localizada no fundo da Baía da Guanabara, a 18km da Praça XV, no Centro do Rio, e seu acesso é realizado exclusivamente pelo mar. As barcas de passageiros são o único meio de transporte até o continente, e uma balsa de carga faz a travessia de caminhões de abastecimento e serviços essenciais. Habitada por cerca de 4.500 moradores, estima-se que pelo menos a metade dos domicílios existentes seja de veranistas que visitam Paquetá regularmente. Com um mercado de trabalho restrito aos serviços básicos e às atividades turísticas, parte dos ilhéus trabalha no continente. A ilha na esfera política representou, não por acaso, um dos primeiros casos de tombamento histórico, no Brasil, em 1986. Mas somente em 1999 Paquetá passou a ter suas particularidades culturais e históricas reconhecidas e protegidas, quando foi transformada em Área de Preservação do Ambiente Cultural. Com ruas de saibro, a circulação de veículos motorizados é restrita aos serviços básicos. O transporte na ilha é realizado por bicicletas e ecotáxis: bicicletas elétricas com dois lugares de passageiro, e, desde 2016, por uma frota de 17 carrinhos elétricos concessionados em substituição às charretes. Queremos dizer com isso que desde o século XIX, quando eram promovidos recitais na sala de concertos que existia na Fazenda de São Roque, a ilha continua sendo cenário de grandes encontros e lugar de inspiração para a criação artística e literária. É extensa a lista de pintores, músicos e escritores que estiveram ligados à Paquetá, seja como moradores ou como frequentadores assíduos, apaixonados pelo lugar.

Bibliografia Geral Consultada.

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