sábado, 26 de fevereiro de 2022

Cultura Nacional – Búfalos & Manejo Genético em Marajó, Brasil.

      

 Vejo o marajoara que habita uma terra onde a terra não para”. Cassiano Ricardo

            O globo terrestre é composto de terra e mar. Apesar de haver em torno de 210 países espalhados pelos cinco continentes, nem todos eles ficam atrelado ao continente. Trata-se de grandes massas de terras que são separadas fisicamente pelos oceanos. A origem etimológica do nome (cf. Ginzburg, 1979) continente é derivada das palavras latinas continens e entis, que estando no particípio presente de continere, significa “conter, abranger”, verbo oriundo de “cum, con e tenere”, tendo como representação sociológica o significado de ter. Esta é a fonte do eruditismo em cinco línguas reais europeias: em língua portuguesa, espanhola e italiana, continente (século XV); em língua inglesa continent, (século XIV); o vocábulo inglês continent é uma palavra que foi tomada de empréstimo do vocábulo francês continent (século XII). Na acepção geograficamente que se considera na ciência, os substantivos das quatro línguas europeias têm o mesmo significado: em português, espanhol e italiano, continente (século XVI); em francês, continent (1532); em inglês, continent (1590); e em língua alemã Kontinent (entre os séculos XVI e XVII). O vocábulo português e espanhol continente foi documentado na história social entre os séculos XII e XIV, significado “gesto, atitude, parte”, cujo sentido é conjunto da produção daquilo que é a vivência. De acordo com a divisão do trabalho social, existem seis principais continentes no globo terrestre: América, Europa, África, Ásia, Oceania e a Antártida. Alguns territórios de nações se encontram em unidade, ou separadamente por água com formato de ilhas. Há 2 tipos de regiões existentes na extensão de um país: a de país arquipélago e a de país continental.         

Os países continentais em área de terra espaçosa têm uma área de água na fronteira ao mar largo e fronteiras terrestres com inúmeros países. O país arquipélago tem inúmeras ilhas, águas territoriais mais amplas, e muitas vezes sem fronteiras terrestres com países   vizinhos. Uma identidade compartilhada se desenvolveu definida por uma cultura nacional, diversidade étnica, pluralismo religioso dentro de uma população de maioria muçulmana, e uma história de colonialismo, rebelião e golpes de Estado. O conceito que os geógrafos usam para definir massa continental pode variar segundo os critérios que adotam, podendo ser físicos, culturais, políticos ou histórico-sociais. A definição física de maior disseminação considera a divisão abstrata em sete continentes: África, América do Norte, América do Sul, Antártida, Ásia, Europa e Oceania. Esse modelo é cultural como padrão em países como China, Índia, Paquistão e em boa parte dos países de língua inglesa com larga população, o que o faz ser reconhecido o padrão utilizado por mais de 45% da população mundial. Ou seja, menos da metade (45,7%) da população mundial agora vive em algum tipo de democracia, um declínio significativo em relação a 2020, quando o número era de 49,4%. Ainda menos (6,4%) residem em uma “democracia plena” – categoria social que inclui apenas 21 dentre 167 países e territórios analisados, depois que Chile e Espanha foram rebaixados para “democracias imperfeitas”.

Mas, seguindo-se critérios tanto culturais como sociais e políticos, costumam-se considerar como continentes a Europa, a Ásia, a África, a América, a Antártida e a Oceania. O chamado Velho Mundo é constituído pelos mesmos três continentes que constituem a Eufrásia: Europa, Ásia e África. Essa classificação técnico-metodológica é baseada numa afirmação concreta de especialistas renomados de que as três massas terrestres se unem histórica e geograficamente: Ásia e Europa (Eurásia), cujos acidentes geográficos que ligam os continentes são o Cáucaso, o mar Cáspio e a cordilheira dos Urais, no momento em que a África e a Ásia são comunicadas per se pelo istmo do Suez que separa o mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando os continentes africano e Asiático, no qual foi construído o canal do Suez (cf. Rodrigues, 1982). Uma via navegável artificial a nível do mar localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez). Inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção, permite que navios viajem entre a Europa e a Ásia Meridional sem  navegar em torno de África, como na Era dos Descobrimentos nos anos 1497-1500, reduzindo a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em cerca de 7 mil km.        

A história registra que todas as motivações tanto sociológicas como psicológicas, propostas para fazer compreender as estruturas e gênese do simbolismo erram muitas vezes por uma secreta e estreita metafísica: umas porque querem reduzir o processo motivador a um sistema de elementos exteriores à consciência e exclusiva das pulsões, as outras porque se atêm exclusivamente a pulsões, ou, o que é pior, ao mecanismo redutor da censura e ao seu produto, o recalcamento. O que quer dizer que implicitamente se volta a um esquema explicativo e linear no qual se descreve, se conta a epopeia dos indo-europeus ou as metamorfoses da libido, voltando a cair nesse vício fundamental da psicologia geral que é acreditar que a explicação dá inteiramente conta de um fenômeno que por natureza escapa às normas da semiologia teórica.  Para Durand (1997), parece que estudar in concreto o simbolismo imaginário será preciso enveredar resolutamente pela via da antropologia, dando a esta palavra o seu sentido pleno atual: o conjunto das ciências que estudam a espécie homo sapiens – sem se por limitações a priori e sem optar por uma ontologia psicológica que não passa de “espiritualismo camuflado”, ou ontologia culturalista que, geralmente, não é mais que “máscara da atitude sociologista”, ou dentre atitudes resolvendo-se em última análise num intelectualismo semiológico.  Esse trajeto é reversível; porque o meio elementar é revelador da atitude adotada diante da dureza, da fluidez da queimadura. Qualquer gesto chama a sua matéria e procura o seu utensílio, e que toda matéria excluída, abstraída do cósmico, e utensílio ou instrumento é vestígio de um gesto passado.

Assim o trajeto antropológico (cf. Durand, 1983; 2001) pode indistintamente partir da cultura ou do natural psicológico, uma vez que o essencial da representação e do símbolo está contido entre dois marcos reversíveis. Uma tal posição antropológica, que não quer ignorar nada das motivações relacionais contidas nas tramas sociópetas ou sociófogas do simbolismo, leva em conta as instituições rituais, a tensão do simbolismo religioso, a poesia, a mitologia, a iconografia ou psicologia implicando uma metodologia essencial para delimitar os conteúdos de sentido desses trajetos que os símbolos constituem. É no ambiente tecnológico humano que vamos encontrar um acordo entre os impactos sociais dominantes e o seu prolongamento ou confirmação cultural.  Em termos pavlovianos, poder-se-ia dizer que ambiente humano é o primeiro condicionamento das dominantes sensório-motoras, ou, em termos piagetianos, que o meio humano é o lugar da projeção dos esquemas de imitação. Se, como pretende o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o que é da ordem da natureza e tem por critérios a universalidade e a espontaneidade está separado do que pertence à cultura, domínio da particularidade, da relatividade e do constrangimento, não deixa de ser necessário que um acordo se realize entre a natureza e a cultura, sob pena de ver o conteúdo cultural nunca ser vivido. Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social.

O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard chama de “símbolo motor”. Faz a junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve e os esquemas é que estes últimos já não são apenas engramas teóricos, mas trajetos encarnados em representações concretas mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de “origem primordial”, de “enagrama”, de “margem original”, de “protótipo”.

Carl Jung evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, concordamos com Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem viu Émile Bréhier, a narrativa histórica e lendária.  

Foi este princípio, que Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos os casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente. As leis naturais são verdades estatísticas, absolutamente válidas ante magnitudes macrofísicas, mas não microfísicas. Isto implica um princípio de explicação diferente do causal. Cabe a indagação se em termos muito gerais existem não somente uma possibilidade senão uma realidade de acontecimentos acausais. A acausalidade é esperável quando parece impensável a causalidade. Ante a casualidade só resulta viável a avaliação numérica ou o método estatístico. As agrupações ou séries de casualidades hão de ser consideradas casuais enquanto não se ultrapasse os limites de “observação da probabilidade”. A probabilidade é sempre um número decimal entre 0 e 1, ou uma porcentagem entre 0% e 100%. Se ultrapassado, implica-se um princípio acausal ou “conexão transversal de sentido” na compreensão do evento.                          

Segundo Jung (2000), a hipótese de um inconsciente coletivo pertence àquele tipo de conceito. Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos capazes de serem conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente na medida em que comprovarmos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. O conceito abstrato de archetypus só se aplica indiretamente às représentations collectives, na medida em que a análise possibilite designar apenas aqueles conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. Representam, hic et nunc, um dado anímico de observação imediato. O arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada. Especialmente em níveis altos dos ensinamentos secretos, aparecem sob uma forma que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e avalia. Sua manifestação imediata, como a encontramos em sonhos e visões, é mais individual, incompreensível e ingênua do que nos mitos. O arquétipo representa, em essência, um conteúdo inconsciente, que se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual ocorre determinada manifestação.

Nosso intelecto realizou tremendas proezas enquanto desmoronava nossa morada espiritual. Estamos profundamente convencidos de que apesar dos mais modernos e potentes telescópios refletores construídos nos Estados Unidos da América, não descobriremos nenhum empíreo nas mais longínquas nebulosas; sabemos também que o nosso olhar errará desesperadamente através do vazio mortal dos espaços incomensuráveis. As coisas não melhoram quando a física matemática nos revela o mundo do infinitamente pequeno. Finalmente, desenterramos a sabedoria de todos os tempos e povos, descobrindo que tudo o que há de mais caro e precioso já foi dito na mais bela 1inguagem. Estendemos as mãos como crianças ávidas e, ao apanhá-lo, pensamos possuí-lo. No entanto, o que possuímos não tem mais validade e as mãos se cansam de reter, pois a riqueza está em toda a parte, até onde o olhar alcança. Temos, seguramente, de percorrer o caminho da água, que sempre tende a descer, se quisermos resgatar o tesouro, a preciosa herança do Pai. No hino gnóstico à alma, o Filho é enviado pelos pais à procura da pérola perdida que caíra da coroa real do Pai. Ela jaz no fundo de um poço, guardada por um dragão, na terra dos egípcios - mundo de concupiscência e embriaguez com todas as suas riquezas físicas e espirituais. O filho e herdeiro parte à procura da joia, e se esquece de si mesmo e de sua tarefa na orgia dos prazeres mundanos historicamente dos egípcios, até que uma carta do pai o lembra do seu dever. Ele põe-se então a caminho em direção à água e mergulha na profundeza sombria do poço, em cujo fundo encontra a pérola, para oferecê-la então à suprema divindade.

O testemunho do sonho encontra uma violenta resistência por parte da mente consciente, que só reconhece o “espirito” como algo que se encontra no alto. O “espírito” parece “sempre vir de cima”, enquanto tudo o que é turvo e reprovável vem de baixo. Segundo esse modo de ver o espírito significa a máxima liberdade, um flutuar sobre os abismos, uma evasão do cárcere do mundo ctônico, por isso um refúgio para todos os pusilânimes que não querem “tornar-se” algo diverso. Mas a água é tangível e terrestre, também é o fluido do corpo dominado pelo instinto, sangue e fluxo de sangue, o odor do animal e a corporalidade cheia de paixão. O inconsciente é a psique que alcança, a partir da luz diurna de uma consciência espiritual, e moralmente lúcida, o sistema nervoso designado há muito tempo por “simpático”. Este não controla como o sistema cérebro espinal a percepção e a atividade muscular e através delas o ambiente; mantém, no entanto, o equilíbrio da vida sem os órgãos dos sentidos, através das vias misteriosas de excitação, que não só anunciam a natureza mais profunda de outra vida, mas também irradia sobre eia um efeito interno. Trata-se de um sistema extremamente coletivo: a base operativa de toda participation mystique, ao passo que a função cérebro-espinhal, do ponto de vista comparativamente, culmina na distinção diferenciada do Eu, e só apreende o superficial e exterior sempre por meio de sua relação com o espaço. O social capta tudo como “fora”, e o sistema simpático tudo vivência como “dentro”.

Os marajoaras tem como reminiscências a cultura do Marajó quando formaram uma sociedade que floresceu na Ilha, ou Rio Amazonas na Era pré-colombiana. O arqueólogo Charles Mann sugere datas compreendidas entre 400 e 1600 para a cultura. A atividade humana desde 1000 a.C. já tinha sido reportada nesses locais. A cultura parece ter persistido na era colonial. A cultura pré-colombiana do Marajó pode ter desenvolvido estratificação social e comportado população em torno de 100 000 pessoas. Pesquisas posteriores encontraram origem natural para grande parte das estruturas, contestando exigência demográfica e de complexidade de relações de trabalho. Trabalhos sofisticados em cerâmica, grandes pinturas elaboradas e desenhos com representações de plantas e animais representam a descoberta impressionante na área e forneceram a primeira evidência de uma sociedade complexa no Marajó. Evidências de construção de montículos (pequenas colinas artificiais) sugerem, ainda, uma área bem povoada. No entanto, a extensão do nível de complexidade e as interações sociais, se já não é um truísmo, de influências da cultura Marajoara são contestados. Trabalhando na década de 1950, Betty Meggers (1921-2012) sugere que a sociedade migrou da cordilheira dos Andes e se estabeleceu na ilha. Foi uma arqueóloga dos Estados Unidos da América, especializada em cultura pré-colombiana. Pesquisou arqueologia pré-histórica no Equador e no Brasil, principalmente nas regiões da Bacia Amazônica e do estuário, em especial na Ilha de Marajó, no Pará.

Betty Jane Meggers é filha de Edith Marie Raddant e William Meggers.  Entrou para a Universidade da Pensilvânia, graduando-se com título de bacharel em 1943, aos 22 anos, antes tendo trabalhado como voluntária no prestigiado Smithsonian Institution. Um ano após, obteve o título de mestre pela Universidade de Michigan e, em 1946, o seu Ph. D. pela Universidade de Colúmbia, com a dissertação: The Archaeological Sequence on Marajo Island, Brazil, with Special Reference to the Marajoara Culture (1952), demonstrando o grande interesse de pesquisa que desenvolvera pela arqueologia na América do Sul. Ainda na Universidade de Columbia, conheceu Clifford Evans, curador e arqueólogo, com quem se casou em 13 de setembro do mesmo ano em que obteve o título de doutora. Clifford mais que colega e marido, tornou-se um grande colaborador do seu trabalho, tendo viajado com ela várias vezes à América do Sul, em expedições arqueológicas. Nos anos de 1960, Betty Meggers, Clifford Evans e outros arqueólogos brasileiros criaram o Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) e o Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA). Foram responsáveis pela criação de geração histórica de arqueólogos no norte do Brasil.

No Novo Mundo são agrupados ambos os subcontinentes americanos que o istmo do Panamá une; e no Novíssimo Mundo (Oceania) são reunidas a grande ilha australiana, as ilhas da Tasmânia, Nova Zelândia, Nova Guiné, e os arquipélagos da Melanésia, Micronésia e Polinésia. O búfalo foi introduzido no Brasil no final do século XX, inicialmente na ilha de Marajó, no Pará, embora sua importância comercial como produtor de carne e leite no país é recente. Segundo estimativas estatísticas, o rebanho bubalino brasileiro é da ordem quantitativa de 3 milhões de cabeças, com o maior índice de crescimento dentre todos os animais domésticos. É o maior rebanho bubalino das Américas. O animal é o símbolo do Marajó (cf. Marques, 2015; Ferrão, 2016; Lucas, 2017) fornecendo tradição, carne, couro e leite. O leite que é transformado em queijo, receita centenária e diferenciada, motivos pelo qual ganham força nutritiva e comercial no estado do Pará. O queijo de búfala é feito de forma artesanal e é considerado um símbolo da ilha de Marajó. Os búfalos são animais utilizados para a produção de carne e leite destinados ao consumo humano. Possuem temperamento dócil. São rústicos do ponto de vista fisiognomonia, adaptando-se às mais variadas condições ambientais. Embora sejam representados 3 milhões de cabeças espalhadas em território nacional, isso representa apenas 1,4% do rebanho bovino, que possui 212 milhões de cabeças. Não queremos perder de vista que o Búfalo valioso da Índia vale mais de R$ 10 milhões, pesa mais de 1,5 toneladas, tem maças e cenouras em sua dieta e é regrado a whisky todo dia.           

São classificados na sub-família Bovidae, gênero Bubalis, sendo divididos em dois grupos principais: o Bubalus bubalis com 2n=50 cromossomos, também reconhecido como “water buffalo”, e o Bubalus bubalis var. kerebau com 2n=48 cromossomos, denominado búfalo do pântano (“swamp buffalo”). Convém lembrar que o búfalo doméstico nada tem a ver, comparativamente com o chamado bisão norte-americano e menos ainda com o africano, sendo estas espécies selvagens e agressivas.  O búfalo-americano (Bison bison) é uma espécie de bisão (bisonte) que habita a América do Norte. Pastam nas pradarias, em grandes manadas, migrando para o sul durante o inverno, e já foi extremamente abundante. Antes da colonização europeia da América, eram caçados pelos nativos americanos, mas os colonizadores quase os exterminaram. Tornou-se quase extinta por uma “combinação de caça comercial e abate” no século XIX e introdução de doenças de bovinos provenientes de gado doméstico, e fez um ressurgimento em grande parte restrita a poucos parques e reservas nacionais. Sua escala histórica mais ou menos formado um triângulo entre o Grande Lago do Urso no extremo noroeste do Canadá, ao sul de estados mexicanos de Durango e Nuevo León, e no leste da costa atlântica dos Estados Unidos de Nova Iorque para a Geórgia e algumas partes da Flórida. 

O termo búfalo às vezes é considerado um equívoco no emprego para este animal, pois é apenas distantemente relacionado com qualquer um dos dois originais búfalos, o Búfalo-asiático e o Búfalo-africano. No entanto, “bison” é uma palavra grega que significa boi como animal, enquanto o “buffalo” originou-se com os caçadores de peles franceses que chamaram estes enormes animais de bœufs, o que significa “boi ou boi castrado” dois nomes, “bison” e “buffalo”, têm um significado similar. Embora o nome Bison possa ser considerado mais correto cientificamente/culturalmente, como resultado de uso normal do nome Buffalo também é considerada correta e está listada em muitos dicionários como um nome aceitável para Buffalo ou bisão americano. Em referência a esse animal, o termo Buffalo, data para 1635 no uso de classificação norte-americano quando o termo foi registrado pela primeira vez para o mamífero americano. Tem uma história mais longa do que o termo “bison” registrado pela primeira vez em 1774. O bisão-americano está intimamente relacionado com o wisent ou bisão-europeu.

Apesar de serem superficialmente similares, etnograficamente o bisão-americano e europeu apresentam uma série de diferenças físicas e comportamentais. Bisão adulto americano é um pouco mais pesado, em média, devido à sua menor rangy forma, e têm pernas mais curtas, o que os tornam ligeiramente mais curtos na altura dos ombros. bisão-americano tendem a pastar mais, e caminhar menos do que seus primos europeus, devido aos seus pescoços serem definidos de forma diferente. Comparado com o nariz do bisão-americano, que da espécie Europeia é definido mais à frente do que a testa quando o gargalo se encontra numa posição neutra. O corpo do bisão-americano é mais peludo, embora a sua cauda tenha menos cabelo do que a do bisão-europeu. Os chifres do bisão-europeu apontam para a frente fora do plano de rosto, tornando-se mais aptos a lutar com os chifres da mesma maneira como o gado doméstico, ao contrário do bisão-americano, que favorece a alimentação. Os bisões-americanos são mais facilmente domesticados que seus primos europeus e aptos a produzir mais como o gado doméstico.

            No Brasil, são comuns as raças Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao. Os animais da raça Mediterrâneo têm origem italiana, dupla aptidão tanto para carne e como para leite, apresentam porte médio e são medianamente compactos. A raça Murrah, indiana, apresenta animais com conformação média e compacta, cabeças leves e chifres curtos, espiralados enrodilhando-se em anéis na altura do crânio. Jafarabadi, também indiana, é a raça menos compacta e de maior porte que existe no mundo contemporâneo, com chifres mais longos e de espessura menor, com uma curvatura longa e harmônica. A raça Carabao é a única adaptada às regiões pantanosas, concentrada fisicamente na ilha de Marajó, no Pará; originária do norte das Filipinas, pelagem clara, cabeça triangular, chifres grandes e pontiagudos, voltados para cima, porte médio e dupla aptidão. Os bubalinos podem ser criados em diversas condições técnicas e geográficas climáticas, vezes apresentando-se como opção para o aproveitamento da propriedade que bovinos não se adaptam. A preferência por regiões alagadas/pantanosas é peculiar. Ocorre porque possuem menor número de glândulas sudoríparas em relação aos bovinos. Sua pele escura apresenta uma espessa camada de epiderme, fazendo com que eles sejam ecologicamente, por assim dizer, menos eficientes na termorregulação corpórea.

Eles procuram a água para se refrescarem e se protegerem do ataque de insetos e parasitos. Por serem pouco seletivos quanto à ingestão de vegetais e subprodutos, os bubalinos transformam um volumoso de baixo teor nutritivo em componentes necessários para seu metabolismo energético, transformando-os em carne, leite e trabalho. Do ponto de vista reprodutivo os bubalinos se assemelham aos bovinos, entretanto apresentam características inerentes à espécie, tendo como exemplo algumas particularidades do ciclo estral da búfala e a possibilidade de sazonalidade reprodutiva, variável de acordo com a região. Diversas biotecnias reprodutivas podem ser utilizadas com o intuito de aumentar os níveis de produtividade dos rebanhos, como por exemplo a inseminação artificial e a transferência de embriões. Embora os búfalos sejam mais resistentes a enfermidades que os bovinos, estas duas espécies são acometidas basicamente pelas mesmas doenças. As criações extensivas de búfalos podem apresentar alta mortalidade de bezerros devido à infecção chamada Toxocara vitulorum. Outros parasitas gastrointestinais podem causar prejuízos à criação.

A incidência de brucelose é comum aos animais em várias regiões. A tuberculose também é um problema clínico em algumas áreas regionais, especialmente devido à coabitação com a espécie bovina. A Leptospirose pode acometer os bubalinos, pois os microrganismos sobrevivem/adaptam-se melhor em regiões úmidas, que são as preferidas pelos búfalos. Outras enfermidades têm sido identificadas, pelos especialistas clínicos dentre elas as tripanossomíases, filarioses, sarnas e piolhos (Haematopinus tuberculatus). Várias publicações em diferentes países no mundo globalizado têm destacado a excelente performance do búfalo como produtor de carne, sendo que esta possui menos gordura saturada, colesterol e calorias e maior conteúdo de proteína nobre quando comparada a outras carnes produzidas pelas diferentes espécies domésticas. O leite de búfala, por sua vez, é apreciado em quase todo o mundo. Apresenta coloração branco opaca e pH entre 6,43 e 6,80. Em relação ao leite bovino, possui micelas de caseína maiores, coagula muito mais rápido e seus produtos derivados tendem a ser de modo um pouco mais duros, secos e quebradiços. O couro dos búfalos é mais espesso, pesado, poroso e flexível que o do bovino, sendo por isso muito utilizado para a fabricação de derivados de courearia fina. Em muitas localidades do mundo, principalmente no imenso continente da Ásia, os búfalos são a fonte principal de força motriz para trabalho nas áreas rurais. É considerado como imprescindível nas culturas de arroz, coco, dendê e na agricultura familiar, sendo ainda utilizado na comunicação agrária para transporte e para puxar carroças e arar o solo.

O comentário ou epígrafe na abertura do artigo é do jornalista e ensaísta Cassiano Ricardo. Representante do modernismo de tendências nacionalistas (cf. Guiberneau, 1997), esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta constituído por Menotti del Picchia (1892-1988), Plínio Salgado (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974) foi o fundador do grupo da Bandeira, reação franca de cunho socialdemocrata a estes grupos de ensaístas tendo sua obra se transformado permanentemente, em estrito acordo com as tendências desenvolvimentistas coroadas dos anos de 1950 e participação no movimento da poesia concreta. Cassiano formou-se em Direito no Rio de Janeiro, em 1917. Durante a conturbada década dos tenentistas, os “verde-amarelos” formaram a vertente conservadora do movimento modernista. Para eles, o ingresso na modernidade implicava o rompimento radical com toda herança cultural europeia. Em São Paulo, trabalhou como jornalista em diversas publicações, e chegou a fundar alguns jornais. Aproximou-se de Menotti Del Picchia e Plínio Salgado, durante a Semana de Arte Moderna, também chamada de forma sutil de Semana de 22, ocorrida em São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade.          

O governador de São Paulo Washington Luís (1869-1957) apoiou o movimento social, especialmente por meio de René Thiollier (1882-1968), que solicitou patrocínio para trazer os artistas do Rio de Janeiro: Plínio Salgado e Menotti Del Picchia, membros de seu partido, o Partido Republicano Paulista (PRP). Sociologicamente os movimentos sociais podem ser definidos como grupos formados com o objetivo de promover mudanças sociais e políticas. Mas de forma geral, globalizada, os movimentos sociais desejam mudanças contra a exclusão e de direitos civis sofridas por alguns grupos. Em cada dia da semana foi condicionado a um aspecto cultural: pintura, escultura, poesia, literatura e música. O evento deu início ao modernismo no Brasil e tornando-se referência cultural do século XX. Em 1924 Cassiano Ricardo fundou A Novíssima. Em 1928 publicou Martim Cererê, uma experiência modernista “primitivista-nacionalista” na linha mitológica de Macunaíma, de Mário de Andrade, e Cobra Norato, de Raul Bopp. Afastando-se das ideias protofascistas de Plínio Salgado, Cassiano Ricardo funda com Menotti del Picchia o grupo da Bandeira, em 1937. Neste ano ainda foi eleito para a cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL), o segundo modernista aceito na instituição, o primeiro Guilherme de Almeida, a primazia de poder recebê-lo.

Do ponto de vista político o Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado em 18 de abril de 1873, durante a Convenção de Itu, considerado o primeiro movimento republicano moderno no Brasil. Foi realizada na residência de Carlos Vasconcelos de Almeida Prado, com a presença do deputado Prudente de Moraes e representantes republicanos das classes tanto conservadora quanto liberal de várias cidades paulistas. Na convenção, foi aprovada a criação de uma assembleia de representantes republicanos que se reuniria em São Paulo. Uma comissão designaria os negócios do partido. Participaram de todo 133 convencionais, sendo 78 cafeicultores e 55 de outras profissões, a representar os republicanos de várias cidades paulistas. Grosso modo temos apoiadores a cidade de Itu, em número de 31 membros, da cidade de Jundiaí, com 9 membros, da cidade de Campinas, com 14 membros, São Paulo, 12 membros, Bragança, 4 membros, Mogi Mirim, 2 membros, Piracicaba, 5 membros, Botucatu, 4 membros, Iveté, 1 membro, Porto Feliz, 13 membros, Capivari, 14 membros, Sorocaba, 5 membros, Indaiatuba, 9 membros, Itatiba, 1 membro, Montemor, 1 membro, Jaú, 1 membro, Rio de Janeiro, 2 membros, enfim las but not least, alguns ilustres participantes: Américo Brasiliense de Almeida de Melo, Bernardino de Campos Júnior, Américo de Campos e Manoel Moraes Barros.     

Seus adeptos eram chamados de “perrepistas”. O PRP foi predominante no estado de São Paulo durante a República Velha. À nível federal, aliou-se na maioria dos casos, ao Partido Republicano Mineiro (PRM) nas eleições e na alternância no poder, por meio da chamada “política do café com leite”. Durante seu período em atividade, o partido elegeu quatro presidentes da república: Campos Salles (1898), Rodrigues Alves (1902 e 1918), Washington Luís (1922) e Júlio Prestes (1930). O PRP foi extinto em 2 de dezembro de 1937, com o acirramento do golpe de Estado Novo. Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo, e durante os anos de 1953-54 foi chefe do Escritório Comercial em Paris, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes. Seu órgão oficial o Correio Paulistano no Segundo Reinado (1840-1889), pertenceu ao Partido Conservador, e foi “empastelado” quando da vitória da chamada Revolução de 1930, porém voltou a circular, encerrando suas atividades na década de 1960.

Outros jornais, apoiadores do PRP, também foram empastelados em 1930, entre eles: A Plateia, A Gazeta e a Folha da Manhã, a atual Folha de S. Paulo. Seus quadros compunham-se de profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiros etc.), as chamadas classes liberais e por proprietários rurais paulistas, cafeicultores, as chamadas classe ociosas, segundo a terminologia de Thorstein Veblen, partidárias da imigração de mão de obra europeia para a ocupação do trabalho agrícola nas lavouras de café e, também, partidários da abolição dos escravos. Quase toda a cúpula do PRP, se dizia próceres, eram membros da maçonaria. Eram tradicionais os encontros dos próceres do Partido Republicano na central do Correio Paulistano. Seu primeiro jornal foi A Província de S. Paulo, em seguida O Estado de S. Paulo, fundado, em 1875, pelos republicanos históricos, entre eles, o prócer Campos Sales. O objetivo primordial do PRP era implantar uma federação republicana, inspirados no federalismo norte-americano de descentralização administrativa, o que seria utópico durante o período imperial.                

O Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado com o propósito de refletir os objetivos de uma sociedade em ascendência econômica e percebeu, portanto, que, para consolidar o seu domínio, era indispensável substituir um sistema de relações em estado de irremediável desmoronamento. Campos Sales, Glicério e Albuquerque Lins filiaram-se, em dezembro de 1887, à Associação Libertadora, fundada naquele ano pelo conselheiro Antônio Prado, que tinha por finalidade a abolição gradual da escravatura, estabelecendo-se o ano de 1890 como limite para se alcançar a libertação total. Campos Sales fez um discurso, salientando que o prazo solicitado era longo e não compareceu mais às reuniões seguintes. A 24 de maio de 1888, já extinto no país o trabalho servil, o PRP realizou sua segunda convenção na capital de São Paulo. Campos Sales presidiu esse conclave, que teve Bernardino de Campos como secretário. Os convencionais publicaram novo manifesto, no qual a direção partidária era investida de todos os poderes para “coordenar esforços” em favor da imediata derrubada do trono, pedindo a todos os correligionários “mais vigor, mais animação e mais entusiasmo” nessa campanha.

Quanto ao significativo problema escravo, o manifesto garantia que o partido “nunca foi contrário ao movimento emancipador da raça escrava”. Entretanto, o partido foi criado para fazer a República e liquidar com o regime monárquico. Qualquer outra bandeira, que perturbasse a busca daquele propósito essencial, não deveria ser conduzida como se fosse uma determinação prioritária. Ao contrário da agremiação de Júlio de Castilhos no Rio Grande do Sul e de Quintino Bocaiúva na capital do Império, o PRP não olhava com aprovação o apelo ao elemento militar para interferir na remoção de um impasse institucional, que era a permanência do trono. Entretanto, uma vez concretizada a revolução de 15 de novembro, admitiu o PRP que não seria viável opor-se à teimosia positivista, que insistia na entrega do Governo Provisório à chefia do marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891), como meio de recompensar o velho marechal pela decisão que tomara de estender sua aversão ao gabinete Ouro Preto à deposição do imperador. A agremiação paulista não perdeu a oportunidade de capturar no novo ministério posições que indicavam afinidades mais íntimas com a sociedade que representava.       

Com essa disposição Campos Sales assumiu a decisiva pasta da Justiça, que detinha o controle dos mecanismos de ação política do governo, enquanto Francisco Glicério, após a curta gestão de Demétrio Ribeiro, tomou posse no Ministério da Agricultura, ao qual estavam vinculados todos os negócios relativos ao plantio e exportação das safras cafeeiras. A princípio, Campos Sales dedicou-se às reformas mais superficiais que a República se propunha a executar, como por exemplo a supressão do catolicismo como religião oficial, obtendo a secularização dos cemitérios, a organização do registro civil para óbitos e casamentos e a adaptação dos hábitos administrativos centralizadores das províncias aos esquemas autonomistas do regime federativo. A atuação do ministro da Justiça voltou-se para a instrumentalização legal da repressão da atividade contestadora, sob a alegação de que “era preciso conter as possibilidades do revanchismo monarquista”. Entre essas medidas, que por certo não se identificavam com a vocação liberal do novo regime, figuravam os decretos nº 85-A, de 23 de dezembro de 1889, e nº 295, de 29 de março de 1890, feitos para punir truques de “todos aqueles que derem origem a falsas notícias e boatos alarmantes dentro ou fora do país ou concorrerem pela imprensa, por telegrama ou qualquer outro modo de pô-los em circulação”. O Decreto nº 295, feito para preservar o governo “da injúria e dos ataques pessoais que visavam ao desprestígio da autoridade e tinham por fim levantar contra ela a desconfiança para favorecer a execução de planos subversivos”, era na verdade o preâmbulo de uma nova Lei de Imprensa, antecipando-se à institucionalização da censura, que seria a tônica dos governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. O PRP seria, em seguida, a primeira vítima do arbítrio por ele mesmo justificado. Eleita a Constituinte em 15 de novembro de 1890, tão logo iniciavam-se os trabalhos de elaboração da Carta, Deodoro começou a manifestar-se irritado com o Legislativo, ao qual se referia com reiterados desapreços, especialmente quando o Congresso passou a discutir o capítulo alusivo aos crimes de responsabilidade do Poder Executivo.

Os ministros do Governo Provisório, todos eles oriundos da propaganda, ficaram alarmados quando Deodoro pretendeu prerrogativas constitucionais de dissolução do Congresso e tentou impor garantias de juros para beneficiar seu amigo Trajano de Morais, interessado na construção do porto das Torres, no Rio Grande do Sul, recusando em seguida proposta dos seus ministros no sentido de que o tratado de fronteiras com a Argentina, envolvendo o território das Missões, fosse antes apreciado pelos constituintes. No debate desses assuntos, Glicério teve mais desempenho do que Campos Sales (1841-1913). Achava mesmo que, se o projeto de Torres era tão urgente, conforme sustentava Deodoro, o governo deveria tomar a responsabilidade de seu patrocínio. A posição de Campos Sales, pela sua notável experiência política, consistia especialmente em evitar a ruptura do poder civil com a área militar. Mas admitia, por outro lado, que a permanência dos chefes da propaganda no ministério vinha-se tornando insuportável. O ministro da Justiça encontrou uma solução hábil e razoavelmente conciliadora. Como aproximava a promulgação da Constituição, os membros do governo deixariam as pastas que ocupavam para Deodoro ter liberdade na composição do ministério, tendo em vista a nova situação política criada em decorrência da efetiva democratização do regime.

Na economia vebleniana, vale lembrar, instituições representam hábitos, rotinas de conduta bastante arraigadas num determinado momento histórico. A existência de classe social que se abstêm do trabalho produtivo, identificada por ele e chamada classe ociosa, representa uma instituição. Ipso facto, a economia vebleniana é chamada de “institucionalista” em razão da ênfase que o autor de situa sobre o que ele denominou de instituições, como ação do hábito, presente na economia o negócio não é exatamente de quem cuida pessoalmente dele: a financeirização da riqueza, na representação da produtividade através de papéis e a emulação, que talvez sejam os mais importantes indícios contidos no livro The Theory of the Leisure Class (1899), que diz respeito ao hábito dos indivíduos de se compararem uns com os outros, invejosamente, melhor dizendo, o desejo das pessoas de serem reconhecidas como melhores que os outros indivíduos. Entendemos que o que há de mais importante é que Veblen dedicou-se mais à formação da chamada classe ociosa e às suas derivações e consequências para a realidade socioeconômica, em especial no que tange aos hábitos de vida e de consumo.

O institucionalista assinalava que aquilo entendido pela filosofia de Marx como “consciência de classe” era a representação de um hábito de pensar, um costume que os indivíduos teriam acerca dos interesses como classe. Eles poderiam muito bem compreender coletivamente que a função social do sistema capitalista não lhes era benéficos, todavia, também seria possível compreenderem sua natureza segundo outros hábitos de pensar. Veblen chegou a concluir nesse quadro lógico de pensamento, que a propriedade privada seria a causa principal da insatisfação dos menos abastados. Pois o que tem sido observado no capitalismo de Fin de Siècle era uma valorização dos indivíduos de acordo com uma escala na qual a posse de bens era a unidade de medida fundamental. Thorstein Veblen trouxe à baila sua insistência na especificidade histórica, dizendo que tal propensão, tomada como inerente ao homem pelos neoclássicos, era saldo do condicionamento que as instituições provocam sobre as inclinações latentes dos seres humanos. O que exigia era aquilo que ele buscava em sua formulação teórica: recusar a tese da natureza humana hedonista investigando as determinações mais essenciais do comportamento humano. Investigar mais a fundo as inclinações humanas e os hábitos resultantes da interação, o que representa para Veblen investido de propensões versus ambiente histórico conquanto o mister máximo da ciência econômica.

Outra importante reivindicação dos republicanos era o retorno dos impostos arrecadados pela união à província (depois estados) de origem. O PRP viveu, na oposição, de sua fundação, em 1873, até a Proclamação da República. Voltou, após a Revolução de 1930, a ser um partido de oposição. Permanecendo, o PRP, na oposição, de 1930, até sua extinção, com o advento do Estado Novo, em 1937 que iria viger até 1945. Melhor ele começou em 1873 (18 de abril) e terminou em 1937 (2 de dezembro). Sua obra literária passa por diversos momentos; inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a epopeia bandeirante, detendo-se, em seguida, em temas mais intimistas, cotidianos, ou mais próximos da realidade observável. A partir da década de 1950, com as tendências que têm sido chamadas per se por alguns críticos analíticos de “segunda vanguarda”, aproximando-se do grupo concretista das revistas Noigandres e Invenção, mostra claramente o seu espírito, desde sempre, vanguardista. Em Jeremias sem-chorar, de 1964, Cassiano Ricardo demonstra sua capacidade de reinventar-se, produzindo poemas ditos tipográficos e no âmbito das comunicações visuais (cf. Canevacci, 2001), utilizando-se das possibilidades espaciais da escrita, sem perder de vista suas próprias características. Nas palavras do escritor: - situa-se o poeta numa linha geral de vanguarda, na problemática da poesia de hoje, mas as suas soluções são nitidamente pessoais.

Ancestralmente, a ilha era a Marinatambal dos indígenas, e com o colonialista foi denominada Ilha Grande de Joannes. A ilha do Marajó, entre os anos de 400 e 1300, era ocupada por cerca de 40 mil habitantes, residentes em casas de chão batido sobre palafitas de terra, em uma sociedade de linhagem materna. Desde a infância, as marajoaras desenvolviam a arte de modelagem da argila, produção da cerâmica marajoara e o cultivo e manejo da mandioca. No início da adolescência, as marajoaras tinham os corpos pintados e usavam uma tanga de cerâmica decorada com traços referentes aos genitais. Em 23 de dezembro de 1665, o rei Dom Afonso VI de Portugal outorga a António de Sousa Macedo, seu secretário de Estado, a donataria da Capitania da Ilha Grande de Joanes, constituída pelo território da atual Ilha de Marajó. Em 1754, a coroa portuguesa compra as terras da capitania e reverte sua administração ao Estado do Grão-Pará e Maranhão. Com uma área de 40.100 km², é a maior ilha costeira do Brasil e a maior ilha fluviomarítima do planeta. É banhada ao mesmo tempo tanto por águas fluviais quanto por oceânicas, mas também pelo rio Amazonas a oeste e noroeste, pelo oceano Atlântico ao norte e nordeste e pelo rio Pará a leste, sudeste e sul. É um curso de água e imenso complexo estuarino que funciona como canal-paraná entre os rios Amazonas, Tocantins, Campina Grande, ou baía de Portel e a baía do Marajó, além de outros inúmeros rios menores.

A classificação climática dada à região, conforme Köppen, é do tipo Ami, cujo regime pluviométrico anual define uma estação seca, porém com total pluviométrico suficiente para manter este período, não caracterizando a presença de um déficit hídrico na região. A subdivisão climática da região, segundo a classificação bioclimática da Amazônia de Bagnoul e Gaussen, caracteriza-a como sub-região eutermaxérica que compreende clima equatorial com temperatura média do mês mais frio superior a 20 ºC e temperatura média anual de 26ºC. A precipitação anual é sempre maior que 2 000 milímetros. As estações são inexistentes ou pouco acentuadas. A amplitude térmica é muito fraca e os dias têm a mesma duração das noites. A umidade relativa do ar é alta (> 80%), com ausência total de período seco. Nesta região, predomina o centro de massa de ar equatorial e surgem, também, bolsões de ar na foz do rio Amazonas. Outro destaque da ilha: é o lugar de maior rebanho de búfalos do Brasil com cerca de 600 mil cabeças. Um programa de inovação tecnológica pretende intensificar a pecuária paraense e transformar o Estado no primeiro produtor e exportador de genética superior de bubalinos do Brasil. O Programa de Melhoramento Genético de Búfalos com Inovação para o Estado do Pará é resultado de convênio entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

O Promebull vai utilizar sêmen importado da Índia e da Itália, países que já possuem a base genética de búfalos domésticos, para introduzir genética superior no rebanho paraense e elevar a qualidade dos animais. A Sedap vai financiar a importação de sêmen e a inseminação de búfalas para pequenos produtores e, desta forma, facilitar a importação pelos grandes criadores. O Promebull foi iniciado na ilha do Marajó, há três anos, com utilização de sêmen nacional, e agora será levado para o restante do Estado, começando pelas regiões do Baixo Amazonas, nordeste e sudeste. “Optamos por fazer genética e não importar, mas para isso é preciso atitude e dinamismo por parte dos criadores, para fazer o Pará produzir com eficiência e modernização, aproveitando o imenso potencial pecuário do Estado”, alertou o pesquisador da Embrapa, Ribamar Marques, responsável pelo programa. A elevação da qualidade do rebanho bubalino paraense, o maior do país, com mais de 600 mil cabeças (60% do rebanho brasileiro), vai viabilizar futuramente um Teste Progênie (TP) para a formação de sumários ou catálogos de reprodutores e matrizes geneticamente superiores produzidos no Estado.

Poderá transformar-se na consolidação do Pará como produtor e exportador de genética, fortalecendo a cadeia produtiva do búfalo, com agregação de valor à carne e ao leite. O programa será voltado especialmente à pecuária bubalina familiar leiteira e inclui a capacitação com base na Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), para viabilizar as práticas e processos inovadores de manejo animal. O presidente da Cooperativa de produtores de Leite do Marajó, Emanuel Lopes, foi um dos que adotaram a técnica de reprodução artificial na ilha. Ele vendeu os dois touros que tinha e hoje das nove vacas inseminadas, cinco já estão prenhas. - “Espero aumentar a produção diária de 30 litros para 100 litros de leite nos próximos três anos”. O secretário adjunto da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Afif Jawabri, destacou o apoio da iniciativa privada ao trabalho de melhoramento do rebanho e com isso “agregar valor com a produção familiar de queijos”. Adriano Venturieri afirmou que “essa ação diminui o abismo que separa o Marajó do restante do Estado e representa um novo momento para a bubalinocultura paraense”. Para Carlos Xavier, a diferença decorre do objetivo de “aprofundar a pesquisa é fundamental para o sucesso do programa e para aproveitar as oportunidades do mercado”. O Promebull insere-se no programa do Pará 2030, como a inclusão social, sustentabilidade e integração em todo o Estado. - “O setor pecuário rende ao país uma receita de 5 bilhões de reais, 40% são da pecuária diferenciada do Pará. Podemos aumentar essa participação, basta conduzir a tecnologia para o lugar certo”, concluiu o pesquisador Ribamar Marques.

Bibliografia geral consultada.

MEGGERS, Betty Jane, A Reconstrução da Pré-História Amazônica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974; FALESI, Italo Cláudio, Ecossistema da Pastagem Cultivada na Amazônia Brasileira. Belém: Embrapa, 1976; CARDOSO, Fernando Henrique; MULLER, Geraldo, Amazônia: Expansão do Capitalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1978; GINZBURG, Carlo e PONI, Carlo, “Il Nome e il Come: Scambi Ineguale e Mercato Storiografico”. In: Quaderni Storici, n˚ 40, 1979; MARQUES, José Ribamar Felipe, Avaliação Genética Quantitativa de Algumas Características do Desempenho Produtivo de Grupos Genéticos de Búfalos. Tese de Doutorado em Ciências Biológicas (Genética). Botucatu (SP): Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 1991; DURAND, Gilbert, As Estruturas Antropológicas do Imaginário. Introdução à Arquetipologia Geral. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; GUIBERNAU, Montserrat, Nacionalismos - O Estado Nacional e o Nacionalismo no Século XX. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1997; JUNG, Carl, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 2ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2000; CANEVACCI, Massimo, Antropologia della Comunicazione Visuale. Roma: Edizionne Meltemi, 2001; FRANK, Mary Ann, To Save the Wild Bison: Life and the Edge in Yellowstone. Oklahoma: University Oklahoma Press, 2005; ARAGÓN, Luis Eduardo Introdução ao Estudo da Migração Internacional na Amazônia. In: Contexto Internacional, vol. 33, 1, janeiro/junho, 2011; COELHO, Anna Carolina de Abreu, Barão de Marajó: Um Intelectual e Político entre Amazônia e a Europa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Belém: Universidade Federal do Pará, 2015; MARQUES, Larissa Coelho, Características Fenotípicas e Manejo Genético de Búfalos (Bubalus bubalis) Leiteiro: Ranqueamento de Reprodutores. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da Amazônia Oriental. Belém: Universidade Federal do Pará, 2015; FERRÃO, Euzalina da Silva, Vaqueiros, Compadres, Criadores de Gado e Transformações nos Campos do Marajó: Relações Sociais em Mudança. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Belém: Universidade Federal do Pará, 2016; Artigo: “Búfalo Mais Caro do Mundo Vale R$ 44,8 Milhões na África do Sul”. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/2016/02/16; LUCAS, Monteiro de Araújo, Representações Marajoaras em Relatos de Viajantes: Natureza, Etnicidade e Modos de Vida no Século XIX. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Belém: Universidade Federal do Pará, 2017; COSTA, José Raimundo Dantas da, O Boi Bumbá de Parintins: A Evolução da Toada numa Perspectiva dos Ecossistemas de Comunicação. Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação. Faculdade de Informação e Comunicação. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2020; entre outros. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Richard Nixon - Política, Natureza Abstrata & Escândalo Watergate.

 

Richard Nixon se despediu do cargo mais visado da Terra com um sorriso”. Heron Domingues    


            Heron de Lima Domingues (1924-1974) foi um jornalista e radialista brasileiro. Deixou sua marca na comunicação social e política global quando foi o primeiro apresentador de televisão, com seu ingresso em 1961 na TV Tupi do Rio de Janeiro. Em tom “alarmista”, como efeito social da notícia, o radialista foi o primeiro a noticiar vários fatos históricos em seus 33 anos de carreira: o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima em 1945, o suicídio de Getúlio Vargas, o inventor do trabalhismo Brasileiro, em 1954, a morte da cantora Carmen Miranda em 1955, a renúncia do presidente da República Jânio Quadros em 1961 e a chegada do Homem à Lua em 1969 com a globalização da comunicação social. Aos 16 anos tentou a carreira de cantor participando de Concurso de Calouros na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, no dia 7 de dezembro de 1941, dia escolhido pelos japoneses para bombardear Pearl Harbour, Havaí nos Estados Unidos da América. Na ausência do locutor da rádio, foi “lançado às pressas aos microfones e deu a notícia em primeira mão”. Não participou do concurso, mas saiu da rádio muito bem empregado. Em 1944, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar na pioneira Rádio Nacional, no programa Repórter Esso (cf. Klöckner, 2011), transmitia a informação “como se estivesse numa trincheira”.

            O Seu Repórter Esso representou um noticiário histórico do rádio e da televisão brasileira seguindo a programação norte-americana chamada de Your Esso Reporter. O programa de cinco minutos foi ao ar desde 1935, quatro vezes ao dia em estações de rádio nas cidades dos Estados Unidos onde a empresa Esso operava. O programa também teve uma versão televisionada, sendo exibido na National Broadcasting Company (NBC) em 1947 e na Columbia Broadcasting System (CBS) de julho a setembro de 1951. O “formato” de notícias foi exportado para países da América Latina, como a Argentina, o Brasil, o Chile, a Colômbia e Venezuela. As notícias foram fornecidas pela United Press International (UPI) agência de notícias fundada em 1907. A empresa iniciou sua rede de comunicação social com sua sede em Boca Raton, no estado da Flórida. Funcionou com a Associated Press, a Reuters e a Agência France-Presse, as quatro principais agências de notícias do mundo até a década de 1990.

            O programa foi criado para reproduzir a propaganda da guerra norte-americana direcionada ao povo brasileiro. Iniciou sua atividade no dia 28 de agosto 1941 apoiado pelo presidente Getúlio Vargas (1882-1954) e sob a orientação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Como castilhista, Getúlio compreende a vida pública como missão. Foi um dos primeiros sintomas da globalização das comunicações: o pacote cultural-ideológico dos Estados Unidos da América incluía em suas várias edições diárias, uma síntese noticiosa de cinco minutos rigidamente cronometrados, a primeira de caráter global, transmitido em 14 países do continente americano por 59 estações de rádio, constituindo-se na ampla rede radiofônica mundial. O Repórter Esso se especializou em divulgar principalmente notícias ligadas ao modo de vida americana da época, conhecida como American way of life. Os informes do United Press International traziam aos ouvintes a evolução das guerras globais travadas pelos Estados Unidos em todas as partes do planeta. Realizou ampla cobertura da Guerra da Coreia em 1950. O programa dava ênfase às notícias de autoridades, notáveis, estrelas e astros de cinema e feitos científicos norte-americanos. Sabemos que o Repórter Esso não informava notícias da Europa, da Ásia e da África caso não houvesse interesses norte-americanos envolvidos. Noticiou com exclusividade o suicídio de Vargas em 1954, pois a empresa  patrocinadora tinha amplo trânsito no Palácio do Catete. Em 1957, informou a explosão da Bomba de Hidrogênio. Em 1959 que Fidel Castro vencera a Revolução Cubana “reforçando o avanço do perigo comunista na América Latina”.

            Durante a história social e política, Jerusalém foi destruída pelo menos duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada e recapturada outras 44 vezes. A parte mais antiga da cidade foi estabelecida no IV milénio a. C. Em 1538, muralhas foram construídas em torno da cidade sob o regime de Solimão, o Magnífico. Sob seu reinado a Marinha Otomana dominava do Mar Mediterrâneo até o Mar Vermelho, passando pelo Golfo Pérsico. Atualmente aqueles muros definem a Cidade Antiga, que é dividida em quatro bairros - armênio, cristão, judeu e muçulmano - desde o início do século XIX.  Nas décadas de 1840 e 1850, os poderes internacionais iniciaram um “cabo de guerra” na Palestina, uma vez que tentaram ampliar sua proteção ao longo do país para as minorias religiosas, uma luta realizada principalmente através de representantes consulares em Jerusalém. Logo em 1845 foi liberada a compra de propriedades para estrangeiros, em seguida, ingleses e russos começaram a comprar terrenos e imóveis para ajudar na conversão da população local, como por exemplo; albergues, casas e sede para instalar representação civil. Demograficamente a população em 1845 era de 16 410 habitantes, desses, 7 120 judeus, 5 000 muçulmanos, 3 390 cristãos, 800 soldados turcos e 100 europeus. Os peregrinos cristãos sob o domínio dos otomanos, dobraram a população na Páscoa. A Cidade Antiga se tornou  Patrimônio da Humanidade em 1981. Mas em 1982 na lista de patrimônios em perigo. A Jerusalém  cresceu além dos limites da Cidade Antiga.

Ipso facto, foi o primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil que “não se limitava apenas a ler as notícias recortadas dos jornais”. As matérias jornalísticas eram enviadas por uma agência internacional de notícias sob o controle dos Estados Unidos da América. O repórter Esso era patrocinado por uma empresa estadunidense chamada Standard Oil Company of Brazil, reconhecida como Esso do Brasil. Os locutores que fizeram maior sucesso como protagonistas foram: em São Paulo, Benedito Ruy Rezende e Dalmácio Jordão, que narrou o noticiário de 1950 até seu final, Kalil Filho, Gontijo Teodoro, Luís Jatobá e Heron Domingues. Os slogans mais famosos eram programados com as seguintes teses da comunicação social: 1. O Primeiro a Dar as Últimas e, 2. Testemunha Ocular da História. O programa trouxe ao radiojornalismo a informação por ele divulgada não apenas como notícia, mas constituída também, em texto dirigido, propaganda político-ideológica, produzindo e construindo conteúdo de sentido e com alvo certo: o governo e determinados segmentos estratificados da sociedade brasileira. Acampado no estúdio da carioca Rádio Nacional, Heron Domingues, o Repórter Esso, aguardava sôfrego pelo telegrama que confirmaria o fim da 2ª guerra mundial, em 1945. Deveria fazer jus ao apelido a ele atribuído, “o primeiro a dar as últimas”. Após passar Natal, Ano-Novo e Páscoa em alerta, os colegas insistiam para que ele fosse descansar em casa. Aceitou o conselho a contragosto e, para sua decepção, soube do fim do armistício, pela emissora concorrente. Para consolo, sua credibilidade ressoou: - “Se o Repórter Esso ainda não deu, não deve ser verdade”, comentava-se pelo País. Só depois que empostou sua inconfundível voz é que a notícia ganhou veracidade.

Não obstante, a 2ª guerra acabou depois que o Repórter Esso noticiou, a célebre frase de um jornal que exprime a importância e credibilidade que o Repórter Esso conquistou. A primeira transmissão ocorreu na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1941, iniciando a cobertura do Brasil na guerra. Antes da estreia oficial, o programa havia ido ao ar experimentalmente na Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Na televisão, o noticiário, inicialmente com o nome de O Seu Repórter Esso, foi apresentado de 10 de abril de 1952 até 31 de dezembro de 1970 na TV Tupi. Sobre o Repórter Esso, Heron Domingues relatou: - Trabalhei no Repórter Esso de 1944 a 1962, sem um dia de folga. Levantava-me às 6h45min e voltava para casa à 1h30min da madrugada. Nos períodos críticos, dormia na rádio, que tinha uma cama na redação. Para se ter uma ideia da época conturbada em que vivíamos, no período em que fui locutor do Esso, houve no Brasil dez presidentes da república. Durante a guerra, dormia na Rádio Nacional com um fone no ouvido ligado a UPI. Sempre que havia uma notícia importante, eles me despertavam, eu mesmo colocava a emissora no ar e transmitia a notícia.

Para o fim da guerra, preparamos uma audição especial do Repórter Esso, em que a notícia seria fundida com o repicar de sinos. Com medo de me emocionar muito diante do microfone, gravei o início da transmissão: - “Atenção! Atenção! Acabou a guerra”. Trabalhou na TV Rio, onde apresentou o Telejornal Pirelli, ao lado de Léo Batista e na Rede Globo, onde apresentou o Jornal da Noite e o Jornal Internacional de 1971 até 1974. Em 9 de agosto de 1974, Domingues apresentou uma edição do Jornal Internacional a respeito do impeachment do presidente norte-americano Richard Nixon. Antes do fato político, ele havia pedido a Armando Nogueira um “adiantamento” de suas férias para dar a informação ao vivo. Elogiado por seu desempenho ao vivo, foi jantar com amigos.  Repousando em casa, faleceu vítima de um infarto enquanto dormia. Ele era casado com a jornalista Jacira Domingues: - “Heron era um perfeccionista da informação e do texto. A vida dele era para a notícia”, disse esposa.

Pelo princípio, penetramos na vida. Por que um governo não é uma forma pura. É uma forma de existência concreta de uma sociedade de homens. Para que os homens submetidos a um tipo particular de governo lhe sejam justa e duravelmente submetidos, não basta a simples imposição de uma forma política, é preciso ainda uma disposição dos homens para essa forma específica. É preciso, diz Montesquieu, uma paixão específica. Por necessidade, cada forma de governo implica a sua paixão própria. A república quer a virtude, a monarquia, a honra, o despotismo, o temor. Se o princípio do governo é a sua mola, o que o leva a agir, significa que ele é, enquanto vida do governo, a sua condição de existência. A república não pode, perdoe-nos o leitor a expressão, andar só a virtude. Mas sem virtude a república cai, como a monarquia cai sem honra e o despotismo sem temor. A virtude do cidadão é a totalidade de sua vida submetida ao bem público: esta paixão, dominante no Estado, equivale, num homem, ao domínio de todas as suas paixões. Pelo princípio é a vida concreta dos homens, pública e privada que entra no governo. O princípio está, portanto, no ponto de encontro da natureza do governo (forma política) e a da vida real dos homens. O princípio é o concreto abstrato que é a natureza. Só a unidade, a totalidade de ambos é real. A totalidade, que era uma ideia, torna-se uma hipótese científica destinada a analisar e a interpretar os fatos sociais. Torna-se a categoria fundamental que permite pensar não a irrealidade de um Estado ideal, mas a diversidade concreta possibilitada pela constituição pragmática da história humana. A história deixa de ser espaço infinito onde são atiradas as inúmeras obras da fantasia e acaso, de lugar praticado que faz esmorecer a vontade de conhecimento.

Na história o tema filosófico do “cativeiro da razão”, expresso através da alegoria da caverna é tão antigo quando a formação do pensamento humano. Ele surgiu quando os primeiros filósofos se deram conta das ilusões provocadas pelas interferências constituída pelo afeto, e das ilusões provocadas pelos sentidos, sempre falíveis, ou pela razão, sempre   as sofísticas intencionais ou involuntárias. O que é novo, segundo Rouanet (1990), e pode ser datado do período moderno, é a tentativa de situar no mundo social, mediado pelas relações, a fonte das ilusões da consciência. Essa tentativa nasceu em circunstâncias paradoxais. Tema conspícuo em torno da falsa consciência, concebido como incapacidade “cognitiva condicionada”, é constituído no século XIX, por um pensamento que o desloca (ilusão), no mesmo instante em que o condensa (alusão). É um objeto cuja inteligibilidade está alhures, lugar vazio cujo verdadeiro lugar “está em outro lugar”. A falsa consciência é o produto exclusivo das relações sociais. E qualquer tentativa de buscar nela própria as leis do seu funcionamento, abstraindo dessas relações, já é em si uma falsa consciência da filosofia de Hegel, que a define ainda-não-consciência do Espírito, dos jovens hegelianos que combatem no pensamento os grilhões imaginários, deixando intactos os grilhões reais.

            Fato da consciência, ela não pode ser tratada no plano da consciência: tendo em vista que é um objeto ausente, espaço em branco que só pode ser preenchido por algo que não está nele. O espaço pleno é o das estruturas sociais: espaço extraterritorial, externo à problemática da consciência, mas ao qual se atribui o privilégio de revelar a verdade do que está situado fora dos seus limites. Pode-se perguntar se uma estratégia de libertação que consiste em ignorar a existência do objeto a ser libertado é das mais lúcidas. Falsa consciência como epifenômeno da base material, falsa consciência como forma de percepção própria a cada suporte (Träger) do processo social global, falsa consciência como o produto de uma “pedagogia” exercida pelos efeitos dos Aparelhos de Estado – em todos os casos, a análise se concentra num mais além da consciência, a história, a economia, as relações de produção, a instância ideológica. Em todos os casos, o nível de investigação são soa fatores objetivos, palpavelmente materiais, solo tranquilizador em que é fácil proteger-se das mistificações idealistas. Nesse campo, tudo pode ser investigado, e tudo foi investigado – exceto a falsa consciência – a consciência em que se refratam esses fatores. Ela foi tabuizada, pela razão que leva o primitivo a traçar um círculo no chão, e a proibir-se de atravessa-lo, neste caso representa o medo animista dos demônios. Esse medo não era totalmente infundado. 

           Era de fato importante precaver-se contra a tese de que “a consciência determina a existência”, defendendo a tese oposta de que a existência determina a consciência. Mas ao proclamar o primado da consciência, a ideologia produziu um efeito social inesperado, que foi a ocultação da problemática da consciência. Ocultação sui generis, cuja técnica é expor à luz do dia a realidade que se pretende dissimular, estimulando a questão tópica da “razão cativa” que irá exemplificar no conto de Allan Poe, The Purloined Letter (1884), o que a polícia parisiense procura em vão na casa do personagem influente: uma carta politicamente comprometedora, que teria sido roubada pelo próprio dono da residência. A polícia procura clandestinamente, o documento roubado, e obviamente nada encontra. Em desespero de causa, o chefe de Polícia pede o auxílio de C. Auguste Dupin, precursor de todos os detetives da literatura policial, que encontra a carta. E explica ao chefe de polícia que ela não estava em nenhum esconderijo, mas à vista. E nisto consiste, justamente, a astúcia. A carta era totalmente visível, e seu ocultamento consistia em sua visibilidade.

             Richard Nixon foi o único presidente dos Estados Unidos a renunciar.  Divide com George W. Bush o status de governante mais impopular na história do país. Algo de semelhante se passou com o tema da consciência. Nele, a ideologia mente duas vezes, dizendo a mesma frase: a primeira quando mente, e a segunda quando diz a verdade. Ela mente quando diz que a consciência determina a existência – é a mentira idealista, que os profissionais da desmistificação são plenamente competentes para desmascarar. E mente, como o segundo judeu, ao dizer a verdade, ainda que de um modo deformado: ela aponta com clareza para a importância intrínseca da consciência, mas o faz de uma forma estridente que os especialistas da suspeita não acreditam no que ela afirma, e vão procurar a verdade não em Cracóvia, onde de fato está, mas em Lanberg. A primeira mentira usa a técnica semelhante à que Sigmund Freud chama de Verschiebung, deslocamento – desviar a atenção de um tema conflitivo (as condições de existência) para um campo visto como não-problemático (a consciência). E a segunda usa uma técnica nova, que poderíamos chamar Verblendung, ou ofuscação – a cegueira induzida por uma luz demasiado intensa. Pela primeira mentira, destinada ao “pensamento ingênuo”, a ideologia escamoteia as condições de existência; pela segunda, destinada ao pensamento crítico, ela escamoteia aquilo mesmo que ela proclama – as estruturas da consciência, impedindo que elas sejam tematizadas em sua vinculação com as condições de existência.

            O Complexo Watergate é um robusto conglomerado de escritórios e apartamentos localizado em Washington. Tornou-se famoso após o assalto que levou ao escândalo político reconhecido Caso Watergate (1972), culminando com a renúncia do Presidente Richard Nixon. Todo o complexo foi designado como um edifício no Registro Nacional de Lugares Históricos em 12 de outubro de 2005. Seu objetivo é ajudar aos proprietários e às associações, como o National Trust for Historic Preservation, que deve coordenar, definir e proteger os sítios históricos dos Estados Unidos. Watergate situa-se na parte Noroeste de Washington, D.C., no bairro de Foggy Bottom. Está limitado ao norte pela Virginia Avenue, à leste pela New Hampshire Avenue, ao sul pela F Street, e à oeste pela Rock Creek and Potomac Parkway. Adjacente ao complexo está o Kennedy Center e a embaixada da Arábia Saudita. A estação do metrô de Washington mais próxima é a Foggy Bottom-GWU. Foi construído pela companhia Società Generale Immobiliare, a maior empresa imobiliária e de construção civil da Itália. Foi fundada em Turim em 1862, mas anos depois se mudou para Roma com a unificação da Itália e da Alemanha, em 1871. O grande objetivo era expulsar os austríacos do Norte e estabelecer um estado italiano coeso. Depois da mudança, a empresa se interessou pela terra pastoral de Roma e acabou comprando parte dela. Com a aquisição de 10 acres que constituíam uma parte do extinto Canal de Chesapeake e Ohio, no início da década de 1960 por 10 milhões de dólares. O extraordinário conjunto arquitetônico Watergate foi inaugurado na América em 1967.     

A National Security Agency (NSA) representa a agência de segurança dos Estados   Unidos da América, criada em 4 de novembro de 1952, permetez vous voulez com funções políticas relacionadas à “inteligência de sinais”, incluindo interceptação e criptoanálise. Também é um órgão estadunidense dedicado a proteger as comunicações sociais norte-americanas. A agência é extremamente atuante como parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Durante determinado tempo após sua criação era tão secreta que o governo tergiversava; negava sua existência. Em 1982, após vários anos de pesquisas e coleta de informações, o jornalista James Bamford, reconhecido por escrever sobre os órgãos de Inteligência americanos, especialista na história da NSA e no sistema global de vigilância contido no livro The Puzzle Palace: Inside America`s Most Secret Intelligence Organization (2009) no qual revelou fontes e documentou pela primeira vez a existência da Agência de Segurança Nacional. As atividades da agência e mesmo a existência da agência foram negadas ideológica e sistematicamente pelo governo norte-americano. Na época do globalismo planetário crescentemente dinamizado pelas tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas, a política se desterritorializa. Realiza-se na esfera da mídia, compreendendo marketing, o videoclipe, o predomínio da imagem, da multimídia, do espetáculo audiovisual. É um mundo sistêmico de Auguste Comte.

O nome do pensador francês Auguste Comte (1798-1857) está indissociavelmente ligado ao positivismo, corrente filosófica disciplinar que ele fundamentou com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano. Seu caráter e que tem grande influência no Brasil e na pesquisa acadêmica. O filósofo reacionário viveu a contradição histórica francesa em que se alternavam regimes despóticos e revoluções sociais. A turbulência levou não só a um descontentamento geral com a política como a uma crise dos valores tradicionais. Comte procurou dar uma resposta a esse estado, pela combinação de elementos da obra de pensadores anteriores a ele e também de alguns contemporâneos, resultando num corpo teórico-ideológico que chamou de positivismo. O papel do positivismo se adere a vários outros níveis do conhecimento, que relacionados objetivam a real intenção da doutrina política. Melhor dizendo: que justificam os meios que são tratados os fatores sociais, políticos e econômicos que necessariamente conservam princípios categóricos e permanentes. Mediados pelos pensamentos típicos da teoria conservadora ou de um modo de pensar progressivamente as reformas da humanidade de acordo com ideais da ordem & progresso. É uma corrente de pensamento que está contaminada na ordem do dia, mas que surgiu na França do século XIX, como contraponto ao racionalismo abstrato do liberalismo. Seus idealizadores são o fundador da sociologia Auguste Comte & John Stuart Mill, considerado por muitos como o filósofo de língua inglesa mais influente do século XIX. É reconhecido principalmente pelos seus trabalhos nos campos da filosofia política, ética, economia política e lógica, além de influenciar inúmeros pensadores e áreas do conhecimento. Defendeu o utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho, Jeremy Bentham. Além disso, é um dos mais proeminentes e reconhecidos defensores do liberalismo político, sendo seus livros fontes de discussão e inspiração sobre as liberdades individuais ainda nos tempos atuais. Mill chegou a ser membro do Parlamento Britânico, eleito em 1865, tendo defendido os direitos das mulheres, chegando a apresentar uma petição para estender o sufrágio às mulheres.

Auguste Comte nasceu em Montpellier no dia 19 de janeiro de 1798, como filho de família pequeno-burguesa, católica e monarquista. Antes da idade legal, foi admitido na Escola Politécnica de Paris, de onde foi expulso mais tarde devido às suas ideias aparentemente ultrademocráticas, retornando para ela como examinador de Admissão. Em 1825 casou-se com Caroline Massin (1802-1877), uma costureira francesa, separando-se dela dezessete anos depois. Três anos após a sua separação, em 1845, conheceu Clotilde de Vaux (1815-1846), uma escritora francesa, com quem manteve um forte relacionamento amoroso, embora platônico. Ela tornou-se a sua musa inspiradora, mas morreu no ano seguinte. A ascensão apoteótica de Clotilde de Vaux à condição de Virgem-Mãe intercessora entre os homens e a humanidade divinizada, concretizando a figura perfeita da humanidade, demonstra-nos não apenas a paixão de Auguste Comte, mas a ideia de rebeldia contra Deus. Com a perda considerou-se um messias com objetivo de regenerar a humanidade. Em 1847, proclama a “religião da humanidade” propondo um trajeto que será percorrido pelo ser humano, de preocupações externas à realidade, coroando a si mesmo quando do ponto de vista associa humanidade, ciência, síntese e fé, a essência sociológica do pensamento comtiano.

O pensador é antes de tudo o sociólogo da unidade humana e social, da unidade da história humana. Leva a sua concepção da unidade até o ponto em que se coloca a aporia, situando a dificuldade em encontrar e fundamentar, como seu contemporâneo Marx, para quem Raymond Aron afirma: - Uma qualidade na obra de Marx, é que ela pode ser explicada em cinco minutos, cinco horas, cinco anos ou meio século, na verdade, a questão da diversidade na sociedade capitalista, pois o pensador alemão admite que “padecemos não apenas por causa dos vivos, mas também por causa dos mortos. Le mort saisit le vif!”. Como só há um tipo social de sociedade absolutamente válido, toda a humanidade deverá, segundo a filosofia positivista, chegar a esse tipo antropocêntrico de sociedade, mas para tanto representando as três formas pelas quais a tese da unidade humana é afirmada, explicada e justificada por suas três obras principais. A primeira, redigida entre 1820 e 1826, é a dos Opuscules, de abril de 1820; Prospectus, de abril de 1822; Considérations, 1825-1826. A segunda, pelas lições do Cours de Philosophie positive, 1830-1842; a terceira, pelo Système de Politique positive ou Traité de Sociologie instituant la religion de l`humanité, publicado de 1851 a 1854.  O positivismo é uma relação social e política estabelecendo um sistema, mas simultaneamente, uma doutrina sociológica e política. Surgiu como desenvolvimento histórico do Iluminismo.

Em linhas gerais ele propõe um método positivo à existência humana com valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a metafísica. O positivismo comtiano associa uma interpretação metódica positiva das ciências; uma classificação do conhecimento a uma ética humana radical, desenvolvida na segunda fase da carreira de métodos científicos válidos. O progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços científicos. É no terceiro estado que se realiza o verdadeiro espírito científico (ou positivo), que se atém à observação dos fatos, à racionalização sobre eles, e à busca de suas leis, relações invariáveis. O que será como prognóstico do futuro é justificado conforme aquilo que os filósofos do passado teriam chamado a “natureza humana”, como aquilo que Comte chama simplesmente de “realização da ordem humana e social”.

Na terceira etapa de seu pensamento, ele a justifica, por uma teoria da natureza humana e social, essa unidade da história humana. Em outras palavras, a concepção comtista da unidade humana assume três formas, nos três momentos principais da sua carreira: a) a sociedade que se desenvolve no Ocidente é exemplar, e será seguida como modelo por toda a humanidade; b) a história da humanidade é a história do espírito enquanto devenir do pensamento positivo, ou enquanto aprendizado do positivismo pelo conjunto da humanidade; c) a história da humanidade é o desenvolvimento da natureza humana. Esses três temas, que não se contradizem, estão de certa forma presentes em todos os momentos do ersatz comtiano, embora com ênfase desigual, representando três interpretações possíveis do tema da unidade da espécie humana. Ele deduz a convicção de que o pensamento teológico pertencia ao passado, talvez sob a influência de Friedrich Nietzsche que “Deus estava morto”. A ciência comandaria daquele momento em diante a inteligência dos homens modernos. Com a teologia desapareceria a estrutural feudal e a organização monárquica. Os cientistas e os industriais dominariam a sociedade de nosso tempo. O pensador acredita que a reforma social tem como condição humana a reforma intelectual. Para ele a revolução ou violência não permitem reorganizar uma sociedade em crise. Para essa reorganização “seria preciso a criação de uma política positiva”.

Richard Milhous Nixon (1913-1994) fora eleito presidente dos Estados Unidos da América em 1968, pelo partido Republicano, sucedendo a Lyndon Johnson (1908-1973), tornando-se o terceiro presidente dos Estados Unidos a ter de lidar com a Guerra do Vietnã entre 1959 e 1975. A guerra foi motivada por questões ideológicas entre os dois governos vietnamitas e contou com a participação direta dos Estados Unidos. Johnson é um dos quatro norte-americanos que ocuparam a hierarquia dos quatro cargos federais mais elevados por eleição: cargo de representante, senador, vice-presidente e presidente. Membro do Partido Democrata do Texas, faz dele uma das mais antigas agremiações políticas ainda em atividade do mundo. Johnson fez parte da Câmara dos Representantes (entre 1937-1949) e do Senado (entre 1949-1961). Após ter perdido a indicação para presidente em 1960, ele recebeu a oferta de John F. Kennedy para ser running mate, uma pessoa que concorre para um cargo político subordinado a outro numa eleição conjunta, como na eleição de 1960. Voltou a candidatar-se em 1972, tendo opositor o senador democrata George McGovern (1922-2012), com uma bela vitória, ganhando em 49 estados. McGovern venceu em 1: Massachusetts, além do Distrito de Columbia.

Complexo Watergate e espionagem
promovida pelo governo Nixon (1969-1974).

O caso Watergate representou o escândalo político de natureza abstrata ocorrido em meados de 1972 nos Estados Unidos da América. Trata-se da trama bem arquitetada com suas repercussões negativas a Richard Nixon que se iniciaram quando um grupo de cinco homens foram presos, no dia 17 de junho de 1972, tentando “invadir o escritório que sediava o Partido Democrata em Washington”. O escritório ficava em um complexo hotel que se chama Watergate. O guarda Frank Willis fazia ronda pelos corredores onde ficavam os escritórios e percebeu uma fita que impedia que a porta fosse trancada. Ele a retirou e seguiu sua ronda, mas quando retornou ao corredor, percebeu que a fita estava novamente colocada. Na primeira vez, ele não desconfiou do que se tratava. Mas, na segunda vez, sem o saber acionou a polícia que logo chegou ao local e encontrou cinco homens invadindo o escritório do Partido Democrata. Esses homens continham ferramentas para montagem de escutas telefônicas e uma certa quantia em dinheiro. Eles eram Frank Sturgis, Virgilio Gonzalez, Bernard Barker, James McCord e Eugenio Martínez. As investigações culminaram com a renúncia, em agosto de 1974 do presidente Richard Nixon do Partido Republicano.   

No Editorial do jornal Folha de S. Paulo, intitulado: Nixon Renunciou, de 9 de agosto de 1974, temos a seguinte notícia: - Talvez a mais errada história de um “self-made-man” que os roteiristas de Hollywood pudessem ter imaginado, chega a seu fim, sem o clássico happy end, com a renúncia de Richard Nixon, um “duro”, não acostumado a aceitar a derrota. Vítima dessa alucinada ânsia de “subir na vida” seja a que preço for, Nixon desmorona agora, colhido pela própria maquinaria, de cujo manejo ele era um mestre. O escândalo de Watergate, não acaba apenas com presidente Nixon. O humilde advogado californiano, filho de modesta família de agricultores que o educou dentro dos severos padrões estabelecidos pelos Quakers. E além disso, que conseguiu chegar ao mais importante cargo político. A tragédia de Nixon representa o fim da curva ascendente para a criação chamada de mito American way of life, que sociologicamente representa a expressão aplicada a um estilo de vida que funcionaria per se como referência de autoimagem urbana, para a maioria dos habitantes dos Estados Unidos da América.

Seria uma modalidade e comportamento dominante enquanto expressão do ethos nacionalista desenvolvido a partir do século XVIII, cuja base é a crença nos direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade, como direitos inalienáveis de todos americanos, nos termos da Declaração de Independência. Pode-se relacionar o American way com o American Dream. Tinha como características primordiais o nacionalismo, o liberalismo, o consumismo e a valorização do poder aquisitivo. Difundiam o conceito de “uma vida feliz de conquistas, no qual a liberdade define esse estilo de vida norte-americano”. Era uma felicidade obtida através dos meios materiais que serviam como fuga para esquecer as mazelas das duas guerras mundiais.  Esse estilo de vida, american way of life, só foi possível devido a superioridade tecnológica dos norte-americanos, do arsenal de guerra que conseguiram desenvolver e do poder do exército. Conseguiram desenvolver métodos de trabalho e de produção em massa e consequentemente o consumo intenso com crédito acessível, os quais faziam com que o norte-americano aproveitasse para fazer as trocas de bens, muitas vezes desnecessariamente, mas como estímulo ao consumo.

Os Estados Unidos venderam a imagem da felicidade pelo consumismo, em que comprar, gastar e ter tempo livre disponível nas atividades de lazer em família são o centro de realização na vida. Passaram a enxergar a televisão como item indispensável, onde eram divulgados padrões comportamentais, estéticos e de uma vida social equilibrada. Os automóveis tornaram-se objeto de desejo com o barateamento realizado pelo empresário Henry Ford (1863-1947). Difundiram também a ideia de self made man, homem que faz sozinho, ou seja, aquele homem que deixava a pobreza através do seu trabalho se tornando um empresário rico e bem sucedido. Durante a Guerra Fria a expressão era muito utilizada pela mídia para mostrar as diferenças da qualidade de vida entre as populações dos blocos capitalista e socialista. A cultura popular abraçava a ideia de que qualquer indivíduo, independente das circunstâncias de vida no passado, poderia melhorar a qualidade de sua vida no futuro através de determinação, do trabalho árduo e da habilidade social. A expressão novamente se tornou presente, graças à crença difundida tanto por George W. Bush pai quanto por Bush filho de que o estilo de vida americano não pode ser ameaçado e nem negociado. 

O pai utilizou o American way em 1992 como argumento para recusar propostas de diminuição das taxas de gás carbônico, afirmando que o American way “não pode ser negociável”. Bush filho utilizou-se da expressão para convencer os americanos a apoiá-lo na “instauração da democracia” no Afeganistão e no Iraque, defendendo que o American way “não pode ser ameaçado por outras nações”. O American way é uma ideologia política poderosa. Do ponto de vista da análise, Richard Nixon é expoente típico originário das classes médias protestantes norte-americanas. Toda a sua vida ou grande parte dela demonstrou o impulso, a dureza, a imaginação livre e também as “falhas sentimentais” que fizeram dessas camadas de agricultores, pequenos comerciantes e proprietários, uma das forças motrizes no desenvolvimento da “grande sociedade” norte-americana. Richard Nixon, é oriundo de família de trabalhadores agricultores e com muita frequência costumava vangloriar-se das dificuldades que teve para “subir na vida” norte-americana, como acontece nas nações jovens empoderadas, a “aristocracia” é julgada menos pelas “origens” da linhagem do que pelo êxito conseguido. Richard Nixon, em uma palavra era um “ganhador” e, portanto, um “eleito dos deuses”, possuidor do que talvez considerava a sua maior virtude: a de negar-se a sentir-se como um homem derrotado. Muitas opiniões públicas o levou a ser abstratamente “demolido” pelo Escândalo Watergate.

Para o que nos interessa na literatura crítica o descobrimento do Watergate tornou-se um caso sociológico paradigmático de corrupção política. No total, cerca de 69 pessoas foram indiciadas para inquérito, com 48 delas condenadas pela justiça norte-americana, sendo a maioria membros oficiais do governo. Johnson ascendeu à presidência após o assassinato de John Kennedy em 22 de novembro de 1963, completando o mandato de Kennedy e oportunamente eleito por conta própria com uma grande margem na eleição de 1964. Johnson recebeu grande apoio dos Democratas e, enquanto presidente, foi responsável por criar a legislação da “Grande Sociedade”, que incluía leis que confirmavam os direitos civis, radiodifusão pública, Medicare, Medicaid, proteção ambiental, auxílio a educação e sua “Guerra a Pobreza”. Ele era reconhecido por sua personalidade autoritária e o chamado “tratamento Johnson”, visto na “coerção de políticos poderosos para avançar legislações”. Durante os primeiros anos de sua presidência, a economia cresceu e milhares de americanos saíram “linha da pobreza”, especialmente por causa dos seus projetos de estímulo econômicos e sociais. No plano da política Johnson adotou uma política externa voltada com o anticomunismo. O envolvimento do país na guerra do Vietnã na década de 1960 foi tema polêmico que ajudou a dividir ainda mais a coalizão democrata.

A Lei de acesso à informação dos Estados Unidos, reconhecida Freedom of Information Act (FOIA), foi publicada em 4 de julho de 1966 pelo presidente Lyndon Johnson para garantir aos cidadãos o direito de acesso aos registros do governo federal americano. 4th of July, foi oficialmente declarado um feriado nacional em 1941. É neste dia que todos americanos comemoram a independência dos Estados Unidos com fogos de artifícios, desfiles e parques e ruas lotados. Uma das mais antigas em vigor pelo mundo, a FOIA é considerada referência para legislações em outros países. O democrata Lyndon Johnson assumiu a presidência dos Estados Unidos após o assassinato de John Kennedy, em 22 de novembro de 1963, e foi reeleito para o cargo em 1964. Seu mandato ficou conhecido pela legislação da “Great Society”, que incluía leis que confirmavam direitos civis, como o do acesso à informação, leis de radiodifusão pública, proteção ambiental, acesso à saúde, auxílio à educação, entre outros. O projeto de lei assinado pelo presidente é fruto do esforço de vários legisladores, principalmente John Emerson Moss (1915-1977), do partido Democrata na Califórnia, que foi um dos importantes representantes e responsáveis pelas investigações, relatórios e audiências sobre a política de informação do governo norte-americano de uma década antes, em 1955. O FOIA substituiu a Seção 3 da Lei de Procedimentos Administrativos, tecnicamente que “regulamenta o tratamento de informações no governo norte-americano. A lei de acesso americana entrou em vigor um ano da publicação, em 1965, e garante que qualquer pessoa ou organização, incluindo cidadãos não americanos, possam acessar dados do governo dos Estados Unidos da América “por meio de um pedido de informação”.

Entre piadas e risadas, Clinton e Bush
deixam 
riva(l)idade
 de lado.

Após a Resolução do Golfo de Tonkin em 1964, o presidente Johnson enviou maior número de tropas para o Vietnã, mas isso não foi capaz de afastar a Frente Nacional para a Libertação do Vietname, do Vietname do Sul, resultando num crescente atoleiro que, em 1968, gerou uma grande campanha popular contra a guerra no país e mesmo no resto do mundo. Com crescentes perdas humanas e noticiários noturnos veiculando imagens perturbadoras do Vietnã, o custoso engajamento militar no Vietnã tornou-se crescentemente impopular, afastando, do partido, muitos dos jovens eleitores que os democratas haviam atraído no começo da década. Os protestos nesse ano, junto com os assassinatos de Martin Luther King Jr. que se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos de 1955 até seu assassinato em 1968. Luther King é amplamente reconhecido pela luta dos direitos políticos através da não-violência e desobediência civil, inspirado por suas crenças cristãs e o ativismo não-violento de Mahatma Gandhi  e do candidato democrata à presidência Robert F. Kennedy, irmão mais novo de John Kennedy, chegaram a seu clímax, em meio ao tumulto dentro e fora do salão de convenções, escolhendo o vice-presidente Hubert Humphrey como candidato democrata à presidência, numa série de eventos que marcou o declínio da ampla coalizão do partido. O candidato republicano à presidência, Richard Nixon, se aproveitou na política da “confusão democrata” e se elegeu presidente nesse mesmo ano.

O propósito dos invasores era obter diversas informações com base na cópia dos documentos armazenados no escritório democrata, além de que desejavam consertar uma escuta que estava instalada em um dos telefones de lá. Sim, essa não havia sido a primeira invasão do grupo no escritório democrata. Em 28 de maio de 1972, eles já haviam invadido o local e não foram identificados. Em 17 de junho de 1972, a sede do Partido Democrata foi invadida “por homens que queriam plantar escutas telefônicas no local”. O caso chamou a atenção de dois jornalistas que trabalhavam para o The Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward. Devido a seu trabalho em Watergate, Bernstein recebeu muitos prêmios; seu trabalho ajudou o Post a ganhar em 1973 um prêmio Pulitzer por serviço público. Bernstein deixou o Post em 1976. Trabalhou como correspondente sênior para a rede ABC, ensinou na Universidade de Nova York, e contribuiu para a revista Time. Foi vivido por Dustin Hoffman no filme Todos os Homens do Presidente, de 1976. No filme Dick (1999) é interpretado por Bruce McCulloch. Eles iniciaram a investigação do caso, e isso contribuiu para que a invasão em Watergate ganhasse mais repercussão. Muitas das informações obtidas por eles eram confirmadas por uma fonte misteriosa reconhecida como Garganta Profunda. A investigação levou à descoberta de que Bernard Barker, um dos presos durante a invasão, tinha recebido um depósito de 25 mil dólares do Commitee for the Re-Election of the President (Creep).

Os dois repórteres do The Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, que investigaram o caso, se tornaram “lendas do jornalismo norte-americano”, não só pelo trabalho que lhes deu prêmios como também pela adaptação de Hollywood para seu livro sobre Watergate, Todos os Homens do Presidente. O filme estreou em 1976 com a atuação estelar de Robert Redford e Dustin Hoffman e, apesar de o final já ser conhecido, foi “descrito como a história detetivesca mais cativante de todos os tempos”. Sem dúvida trata-se do filme mais visto sobre o escândalo, mas, como escreve a seguir o professor W. Joseph Campbell, da Universidade Americana em Washington, serviu para impulsionar e cimentar vários mitos sobre a mídia e Watergate. Investigar o caso com a magnitude e da complexidade de Watergate requereu esforços coletivos de fiscais especiais, juízes federais, todos os níveis do Congresso, a Suprema Corte, assim como o Departamento de Justiça e o FBI. Ainda assim, é muito provável que Nixon teria sobrevivido ao escândalo se não fossem as gravações realizadas em segredo no Salão Oval da Casa Branca. Quando ordenado pela Corte Suprema, Nixon entregou as gravações nas quais aprovava um plano para distrair a investigação do FBI sobre o roubo.

O caso Watergate começou como uma notícia saída de um registro policial. Notícias do momento chave do escândalo - o roubo frustrado de 17 de junho de 1972, à sede do Comitê Democrata Nacional no complexo de Watergate em Washington D.C.- começaram a circular nas primeiras horas. O parágrafo inicial da primeira página do Post sobre o roubo deixou claro que os detalhes vinham dos investigadores da polícia. Lia-se o seguinte: - “Cinco homens, um dos quais que afirma ser empregado da Agência Central de Inteligência (CIA), foram presos às 2:30 a.m., ontem, no que as autoridades descrevem como um plano elaborado para colocar microfones secretos na sede do Comitê Democrata Nacional”. O Post tampouco revelou os elementos cruciais do crescente escândalo, como o sistema secreto de gravações de Nixon. A existência das fitas da Casa Branca foi revelada em 1973 ao comitê de do Senado. Edward Jay Epstein sublinhou em seu ensaio de 1974, as reportagens sobre Watergate eram  derivadas e se sustentavam nas gravações dos investigadores federais sobre o escândalo.

Entretanto, na dinâmica da vida real, Garganta Profunda falava periodicamente com Woodward à medida em que se desenvolvia o escândalo. Mas nunca aconselhou Woodward como é costume admitir em casos de roubos de grande soma a “seguir o rastro do dinheiro”. Os repórteres Wodward e Bernstein já estavam fazendo isso: umas de suas reportagens mais importantes descreveu como os fundos doados à campanha para reeleger Nixon haviam sido usados para o roubo em Watergate. Mas o esclarecimento do escândalo foi muito mais complicado que seguir a pista do dinheiro. Nixon renunciou não porque malversou fundos doados a sua campanha de 1972, mas sim por obstruir o curso da Justiça. Além do mais, “Garganta Profunda” teve sua identidade revelada em 2005 como W. Mark Felt, o antigo segundo homem mais importante do FBI. No entanto, Felt não foi nenhum herói. Aliás, Felt foi condenado em 1980 por delitos graves relacionados a violações que autorizou nas investigações que realizava o FBI sobre a organização radical Weather Underground. Mas Felt nunca cumpriu a pena. Recebeu um indulto em 1981 do então presidente Ronald Reagan. A investigação conduzida pelos jornalistas do The Washington Post revelou que o candidato Richard Nixon possuía um “caixa dois” de campanha, isto é, dinheiro sujo não declarado, usado para financiar as supostas operações de espionagem. No caso da previsível invasão do escritório Watergate, o objetivo era obter informação dos democratas para usá-las contra eles na eleição de 1972.

Na cena final do filme, Garganta Profunda manifesta a Woodward que a vida de ambos os jornalistas “corre perigo”. A advertência, que injetou suspense ao ritmo algumas vezes lento do filme, também foi mencionada no livro de mesmo título. No entanto, ficou claro que era um falso alarme. Woodward, Bernstein e os editores do Post tomaram precauções por um tempo para evitar a interceptação eletrônica de suas atividades. Mas Woodward descreveu em O Somem Secreto, seu livro de 2005 sobre “Garganta Profunda”, que essas medidas começaram a parecer mais “melodramáticas e desnecessárias. Nunca encontramos evidência de telefones grampeados ou de que alguma de nossas vidas estivesse em perigo”. Em outra ocasião, Woodward disse que a “pressão mais sinistra” que ele e Bernstein sentiram durante Watergate “foi escutar repetidamente” a Casa Branca de Nixon à medida que se aprofundava a questão do escândalo.

É um mito “subsidiário atrativo” o de que as aventuras de Woodward e Bernstein, como dramatizadas por Redford e Hoffman, fizeram o jornalismo “parecer elegante e sedutor”. Tão sedutor que supostamente multidões de estudantes invadiram as escolas de jornalismo. É um mito que ainda sobrevive, apesar de ser completamente repudiado pela pesquisa séria. Um destes estudos, financiado pela fundação midiática Freedom Forum, indicou em 1995 que o “crescimento da educação jornalística” foi o resultado “não de eventos específicos como Watergate, mas em grande parte pelo interesse que as mulheres expressaram pela disciplina, que compareciam em números sem precedentes às universidades”. O estudo concluiu inequivocamente que os “estudantes não se lançaram às aulas nas universidades porque queriam seguir os passos de Woodward e Bernstein - ou de Robert Redford e Dustin Hoffman”. Uma pesquisa similar, publicada em 1988, declarou: - “Se afirma muito frequentemente e equivocadamente que as investigações de Woodward e Bernstein apresentaram modelos para estudantes e levaram a explosão nas matrículas em escolas de jornalismo”. Descobriu-se  que o número de matrículas dobrou entre 1967 e 1972, ano do roubo em Watergate.

O escândalo do Watergate revelou inúmeros abusos de poder por Richard Nixon e seus funcionários, bem como a existência de um “esquadrão de truques sujos” que foi responsável pela sabotagem política, a criação de um fundo de emboscada da campanha associado ao Comitê de Nixon para se reeleger e a tentativa de encobrimento do próprio escândalo Watergate. O vice-presidente então empossado, Gerald Ford, emitiu um perdão polêmico por Nixon um mês depois, em 08 de setembro de 1974, que o impediu de ser processado por qualquer crime que ele tenha cometido enquanto presidente. Ele assumiu a presidência quando Nixon renunciou em 1974. Ford tentou se eleger para um mandato completo em 1976, mas falhou. Em um dos seus atos mais controversos, Ford concedeu um “perdão presidencial” a Richard Nixon por seu papel no Caso Watergate. Durante a presidência de Ford, a política externa foi caracterizada em termos processuais pelo aumento do papel que o Congresso começou a desempenhar e pela correspondente contenção dos poderes do presidente. Nas primárias do Partido Republicano em 1976, Ford derrotou o governador da Califórnia Ronald Reagan pela nomeação. Ele acabou sendo derrotado na eleição presidencial de 1976 para o democrata Jimmy Carter. Historiadores e cientistas políticos o avaliam como um presidente ruim. Após deixar a presidência, permaneceu ativo dentro do Partido Republicano. Suas opiniões moderadas sobre várias questões sociais o colocaram cada vez mais em conflito com os membros mais conservadores do partido na década de 1990 e início dos anos 2000. Na aposentadoria, Ford deixou de lado a inimizade que sentia por Carter após a eleição de 1976 e os dois desenvolveram uma estreita amizade. Depois ser acometido por uma série de problemas de saúde, ele faleceu em casa, em 26 de dezembro de 2006.

Esse era mais um indício na superfície que ligava o comitê da campanha de Nixon com o escândalo. Com o tempo, descobriu-se que o Creep tinha um fundo secreto usado para financiar ações de espionagem, como essa de Watergate. Em 1972, ele ganhou novamente a eleição, desta vez contra o democrata George McGovern, o qual, como Robert Kennedy, conseguira atrair os jovens contrários à guerra e os partidários da contracultura, mas ao contrário deste, não fora capaz de atrair os trabalhadores brancos, tradicionais eleitores dos democratas. O segundo mandato de Nixon foi abalado pelo caso Watergate, que o forçou a renunciar em 1974. Ele foi sucedido pelo vice-presidente Gerald Ford. O caso Watergate deu, aos democratas, uma oportunidade de se recuperar, e seu candidato Jimmy Carter ganhou a eleição em 1976. A religião nos Estados Unidos é caracterizada por uma diversidade grande de crenças e práticas religiosas. Com o apoio inicial dos eleitores evangélicos do Sul, Carter pode reunir as diferentes facções do partido, mas a questão econômica da inflação e a crise política que assolava os reféns norte-americanos ocorrido no Irã em 1979-1980, contribuíra para a vitória do republicano Ronald Reagan, em 1980, que prenunciou o predomínio republicano nos anos seguintes.

As razões para a mudança na política externa dos Estados Unidos da América, que o levaram de aliado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na 2ª guerra mundial para a política da chamada Guerra Fria, estão ligadas à crise política internacional criada pelo papel central da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na vitória contra o nazismo, o surgimento de diversos países socialistas no leste europeu e do grande prestígio que gozavam tanto a URSS, quanto seu principal dirigente e comandante do Exército Vermelho durante a guerra, Josef Stalin. O único país socialista existente até o final da guerra, arcara com a maior parte do esforço de guerra. Enfrentou durante a maior parte do tempo sozinha as forças nazistas, virou a guerra na histórica Batalha de Stalingrado ocorrida entre agosto de 1942 a fevereiro de 1943, liberou diversos países da Europa do leste e tomou Berlim, destruindo o III Reich nazista, quando a Alemanha foi transformada em um Estado totalitário que controlava quase todos os aspectos da vida. A Alemanha nazista deixou de existir após as forças aliadas derrotarem os alemães em maio de 1945, encerrando a 2ª guerra mundial em parte na Europa.         

Ele convocou a participação norte-americana na Guerra do Vietnã, indo de 17 mil soldados na região em 1963 para 550 mil no início de 1968, “aumentando as fatalidades e diminuindo as chances de paz”. O envolvimento externo gerou vários movimentos anti-guerra principalmente em universidades do país. Revoltas começaram a ocorrer em várias regiões e a criminalidade nas grandes cidades urbanas aumentou em 1965, e seus oponentes passaram a exigir medidas de lei e ordem. O Partido Democrata dividiu-se em várias facções e, após não ter se saído bem na convenção de Nova Hampshire em 1968, Johnson “não conseguiu a indicação para tentar a reeleição, tendo que desistir da corrida presidencial em 1968”. O Republicano Richard Nixon acabou por sucedê-lo. Após deixar a presidência, ele voltou para sua cidade natal, Stonewall, morrendo em 22 de janeiro de 1973. O legado político da presidência divide opiniões. Historiadores argumentam que seu governo marcou o pico do liberalismo americano após a chamada “Era do New Deal”.

Em seus primeiros 100 dias de ativismo o New Deal programou reformas setoriais na economia para criar as condições para a formação de poupança interna e recuperar a rentabilidade dos investimentos. Foram criadas medidas de política econômica para recuperar o sistema financeiro, com o Emergency Banking Act, um ato aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos em março de 1933, na tentativa de estabilizar o sistema bancário para regular a produção agrícola, com o Agricultural Adjustment Act, e para evitar a perda da hipoteca das casas próprias, com o Home Owners’ Refinancing Act.  No setor industrial, a principal medida ocorreu com a redução da jornada do trabalho. Percebendo que o fator básico que gerou a crise econômica havia sido a superprodução, Henry Ford estabeleceu o emprego da jornada de oito horas. Além disso, foi responsável por uma importantíssima inovação técnica: a criação da linha de montagem. Essa inovação permitiu a redução dos custos e, sobretudo, aumento da produtividade, isto é, o rendimento do trabalho e dos demais agentes da produção. A aplicação das técnicas fordistas de exploração nas indústrias de bens de consumo promoveu queda de preços tido com o New Deal, como primordial para a recuperação da economia norte-americana.

O impacto político do New Deal foi evidente nos Estados Unidos da América e é creditado, por analistas, como um dos fatores para a ascensão do Partido Democrata, dominando as legislaturas estaduais e nacionais até a década de 1960. Os Republicanos, conservadores, apesar de se opor a este plano de estabilidade entre capital e trabalho, não o modificaram uma vez no poder. O político Eisenhower, eleito em 1953, na verdade, expandiram algumas das políticas públicas de Roosevelt, especialmente aquelas voltadas para a seguridade social. Durante o New Deal, de fato, a economia norte-americana se fortaleceu e cresceu, mas os problemas internos como a pobreza e a desigualdade prosseguiam. Analistas políticos afirmam que foi com a 2ª guerra mundial que reergueu a economia nacional, puxando como carro a produção industrial e o desenvolvimento.  Assistência aos pobres, desempregados e a expansão da seguridade social para idosos também foi bem aceita pela classe trabalhadora. O governo impôs uma nova política fiscal, que segundo analistas, beneficiou o sistema financeiro e incentivou os investidores, salvando Wall Street. Havia interferência governamental na economia, um crescimento do socialismo de Estado, em detrimento do financismo (cf. Hilferding, 2011) tornando os Estados Unidos uma grande potência.  

Ela nasceu nos Estados Unidos na virada do século XIX-XX como alternativa às escolas que a precederam baseadas nas doutrinas clássica, marxista, historicista alemã e neoclássica. O que pode ser destacado na concepção institucionalista de Veblen é a proposição da abordagem evolucionária da economia, fruto da influência do trabalho inovador do cientista Charles Darwin (1809-1882), mas também de Herbert Spencer (1820-1903), como aluno de pós-graduação de filosofia na Universidade John Hopkins. Não tendo se adaptado bem aos estudos nesta instituição, e possuindo uma carta de recomendação de John Bates Clark (1847-1938), o economista neoclássico americano e Thorstein Veblen foi para Yale University, onde obteve seu doutoramento em filosofia em 1884. Nessa Universidade Thorstein Veblen (1857-1929) estudado por nós noutro lugar, trabalhou sob a supervisão de William Graham Sumner (1840-1910), por mais paradoxal que isso possa aparentemente vir a parecer. Também nesta majestosa época ele teve a oportunidade de assistir às palestras do antropólogo inglês Herbert Spencer (1820-1903), durante festejada visita aos Estados Unidos da América em 1882.

Lyndon Johnson é bem avaliado por muitos estudiosos e historiadores da política devido as políticas públicas e a assinatura de diversas leis, incluindo direitos civis, controle de armas e plano de previdência social. Apesar dos avanços internos, muitos o desqualificam como um bom presidente devido ao fiasco da guerra contra o Vietnã. Atualmente, a base eleitoral e política do Partido Democrata é composta basicamente por progressistas e centristas, com uma pequena parcela de democratas conservadores. Cerca de 16 Democratas serviram como Presidente: o primeiro Andrew Jackson, que exerceu o cargo de 1829 a 1837, e o último Joe Biden, que assumiu em 2021. Após as eleições de 2020 - mutatis mutandis - os Democratas são o principal partido no governo dos Estados Unidos, obtendo maioria no Senado e na Câmara dos Representantes, mas retendo menos governadores (23/50) e legislaturas estaduais (18/50) do que os Republicanos; porém se conservam como a principal força política nas maiores cidades do país: Boston, Chicago, Los Angeles, Filadélfia, Nova Iorque, São Francisco, Seattle e Washington, D.C.

O Federal Bureau of Investigation (FBI) é uma unidade de polícia política do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, servindo a dupla função tanto como uma polícia de investigação quanto serviço de inteligência interno de contrainteligência. Seu quartel-general no J. Edgar Hoover Building está localizado em Washington, D. C. Cinquenta e seis escritórios locais estão localizados nas principais cidades de todo o país, bem como também em mais de 400 agências residentes em cidades menores, e mais de 50 escritórios internacionais estão localizadas em embaixadas norte-americanas ao redor do mundo. Na ficção Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca (2017), com direção e roteiro de Peter Landesman e elenco com Liam Neeson, Diane Lane, Marton Csokas, o segundo homem mais poderoso do FBI, Mark Felt (Liam Neeson) acredita que irá assumir a liderança da organização após a morte de Hoover, mas é negado pela Casa Branca. Incomodado com a intromissão da presidência em sua área de trabalho, ele desobedece às ordens engajando-se na investigação do escândalo de Watergate.

Ipso facto se torna o principal informante da imprensa, o Deep throat que deu “dados aos jornalistas do Washington Post que desmascararam o plano do presidente Richard Nixon”. O codinome foi inspirado no filme Deep Throat de 1972, escrito e dirigido por Gerard Damiano e estrelado por Linda Lovelace. A identidade do informante só foi revelada em 2005, quando W. Mark Felt, vice-diretor do FBI na década de 1970, escreveu artigo na Vanity Fair narrando sua história. Em análise comparada em All the President`s Men (1976), Hal Holbrook interpreta o informante. Também foi usado por outros informantes na ficção, como no seriado Arquivo X, exibido originalmente entre 10 de setembro de 1993 e 19 de maio de 2002, no canal norte-americano Fox e também com o jogo eletrônico Metal Gear Solid de ação-aventura dirigido e escrito por Hideo Kojima. Também publicado pela empresa Konami em 1998 para PlayStation, para Windows desenvolvida pela Digital Dialect e pela Microsoft Game Studios.

Em 17 de junho de 1972, Sturgis, Virgilio González, Eugenio Martínez, Bernard Barker e James W. McCord Jr. foram presos enquanto instalavam dispositivos de escuta nos escritórios de campanha do Partido Democrata nacional localizados no complexo de escritórios de Watergate em Washington. O número de telefone de Hunt foi encontrado nos livros de endereços dos assaltantes. Repórteres conseguiram vincular a invasão à Casa Branca. Os ladrões haviam feito uma entrada bem-sucedida no mesmo local várias semanas antes, mas voltaram para consertar um dispositivo com defeito e fotografar mais documentos. Bob Woodward, que trabalhava para o Washington Post foi informado por uma fonte (“Garganta Profunda”) que era empregada pelo governo que assessores do presidente Richard Nixon “haviam pago os ladrões para obter informações sobre seus oponentes políticos”. Sturgis foi retratado em All the President`s Men (1976) que restabelece os eventos do escândalo de Watergate, de Ron Hale.

Em janeiro de 1973, Frank Sturgis, E. Howard Hunt, Virgílio Gonzalez, Eugenio Martinez, Bernard Barker, G. Gordon Liddy e James W. McCord foram condenados por “conspiração, roubo e escutas telefônicas”. Sturgis foi condenado em 1973 com Max Gonzalez e Jerry Buchanan em um tribunal federal em Miami (73-597-CR-CA) por “transportar carros roubados no Texas para o México”. Isso levou o Diretor Regional Interino da Drug Enforcement Administration (DEA), David W. Costa, a enviar uma carta ao juiz Carl Clyde Atkins (1914-1999) em 10 de março de 1975, indicando que Sturgis havia cooperado secretamente com a DEA. Sturgis cumpriu 14 meses na prisão federal de segurança mínima em Eglin, Flórida, uma cidade região censo-designada, e uma base aérea com o mesmo nome localizada no estado americano de Flórida, no Condado de Okaloosa. Sturgis deixa o prédio do tribunal federal de Miami algemado depois de ser condenado em 1973 por “levar carros roubados no Texas para o México”. Depois de sair da prisão, Frank Sturgis serviu como informante da polícia de Miami e continuou fornecendo informações secretas sobre as atividades políticas anti-Castro, no caso da transformação radical socialista de Cuba. O artigo de St. George foi publicado na revista True em agosto de 1974. Sturgis afirma que os ladrões de Watergate foram instruídos a encontrar um documento específico nos escritórios do Partido Democrata.

Liam Neeson interpreta Richard Nixon.

É neste sentido que procede nas comunidades humanas, uma força-tarefa do Órgão para o Controle/Combate das Drogas (DEA) está se aproximando das entregas do cartel para Chicago. As tensões dentro do cartel surgem quando um tenente sedento de poder assassina o chefe e, subsequentemente, exige que Earl seja mantido sob maior controle. No meio de um grande processo de carregamento de cocaína, Earl descobre que Mary está gravemente doente. Depois que Ginny tem uma conversa séria com ele, ele adia a entrega da droga para fazer as pazes com Mary antes de sua morte, o que provoca a ira do cartel. Ele retoma a entrega quando o DEA e o cartel se aproximam dele. Earl é espancado e ameaçado pelos executores do cartel, mas eles cedem depois de saber da morte de sua ex-mulher. Enquanto ele se dirige em direção ao ponto de entrega, ele é preso pelos agentes de Controle ou Combate das Drogas. Quando Earl se declara culpado de todas as acusações e é mandado para a prisão, sua família lhe demonstra seu apoio. Na prisão, ele retorna a sua horticultura. Leo Sharp ficou desanimado com os problemas financeiros com seu negócio de flores e posteriormente foi abordado por trabalhadores mexicanos em sua fazenda em Michigan, que o solicitaram para transportar narcóticos para o Cartel de Drogas de Sinaloa, no México. O sucesso de Sharp em evitar a detecção de policiais, por mais de dez anos enquanto transportava milhares de libras de cocaína, o catapultou para a lenda urbana entre os traficantes de drogas que sabiam de suas façanhas. Sharp usou uma picape Lincoln Mark LT para transportar entre 100 e 300 kg (220 e 660 lb) de cocaína por vez da fronteira sul dos Estados Unidos até Detroit, Michigan.

No livro Narcotráfico - Um Jogo de Poder nas Américas (1996), José Arbex Jr. procura compreender as questões sociais e políticas das drogas dentro de um contexto amplo, a questão do narcotráfico dentro de um grande jogo de poder. O narcotráfico forma um império de 500 bilhões de dólares anuais, corrompe os poderes constituídos, políticos e policiais e compra a indústria e o comércio de países inteiros. Os consumidores são homens e mulheres de todas as idades e profissões, de todas as classes sociais. As máfias ao redor do narcotráfico formam “Estados dentro do Estado”, com suas leis e exército. O narcotráfico e a criminalidade a este associado ameaçam as sociedades, as economias e as instituições democráticas certamente ao colocar em perigo os valores éticos sobre os quais sociedades consumidoras estas se baseiam, no sentido merceológico e, na esfera econômica e esfera política constituem obstáculos importantes ao desenvolvimento humano sustentável e ao desenvolvimento econômico. A criminalidade economicamente organizada, inclusive a vinculada ao processo de trabalho do narcotráfico, é um problema transfronteiriço e transnacional que se desenvolve compulsoriamente no continente e que requer uma cooperação maior e mais eficiente entre todos os Estados das Américas. O consumo e a produção de drogas ilegais acarretam custos sociais enormes e que as diversas formas de violência ligadas ao seu caráter ilegal atentam contra a segurança da população como um todo. A distribuição, dizia Marx, determina a proporção de produtos que cabem ao indivíduo na divisão do trabalho; a troca determina os produtos que cada indivíduo reclama como parte que lhe designa pela distribuição. Produção, distribuição, troca, consumo formam o silogismo modelo; a produção constitui o geral, a distribuição e a troca, o particular, o consumo, o singular para o qual tende o conjunto.

Este era um “memorando secreto do governo Castro” que incluía detalhes das ações secretas da CIA. Sturgis disse “que o governo Castro suspeitava que a CIA não contou toda a verdade sobre essas operações nem mesmo aos líderes políticos americanos”. Em resposta à repetida fanfarronice de Sturgis à mídia, a CIA emitiu uma declaração pública em 30 de maio de 1975, indicando que ele nunca esteve conectado com eles “de forma alguma”. Em uma entrevista com o repórter do New York Daily News Paul Meskil (1923-2005) em 20 de junho de 1975, Sturgis declarou: - “Eu era um espião. Eu estava envolvido em planos de assassinato e conspirações para derrubar vários governos estrangeiros, incluindo Cuba, Panamá, Guatemala, República Dominicana, e Haiti. Contrabandeei armas e homens para Cuba para Castro e contra Castro. Invadi arquivos de inteligência. Roubei e fotografei documentos secretos. É isso que os espiões fazem”. Sturgis foi negado a um pedido de perdão pelo presidente Jimmy Carter. Sturgis tem sido alvo de várias alegações sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy. Ele também admitiu que outros indivíduos estavam envolvidos no assassinato de Kennedy.

A Comissão Rockefeller relatou em 1975 que eles investigaram a alegação de que Hunt e Sturgis, em nome da Central, participaram do assassinato de Kennedy. O Relatório Final dessa comissão de inquérito afirmou que as testemunhas que testemunharam que os “abandonados” tinham uma semelhança com Hunt ou Sturgis “não demonstraram ter qualquer qualificação em identificação com foto além daquela possuída por um leigo médio”. Seu relatório também afirmou que o agente do FBI Lyndal Leroy Shaneyfelt (1915-2014), “um especialista nacionalmente reconhecido em fotoidentificação e fotoanálise” do Laboratório Fotográfico do FBI, concluiu a partir da comparação de fotos que nenhum dos homens era Hunt ou Sturgis. Em 1979, o Comitê Seleto de Assassinatos da Câmara informou que antropólogos forenses analisaram e compararam novamente as fotografias dos “vagabundos” com as de Hunt e Sturgis, bem como com fotografias de Thomas Vallee, Daniel Carswell e Fred Lee Chrisman. De acordo com o comitê, apenas Chrisman se parecia com qualquer um dos “vagabundos”, mas determinou que ele não deveria estar em Dealey Plaza no dia do assassinato. Em 1992, a jornalista Mary La Fontaine descobriu os registros de prisão de 22 de novembro de 1963 que o Departamento de Polícia de Dallas havia divulgado em 1989, que nomeava os três homens como Gus W. Abrams, Harold Doyle e John F. Gedney. Conforme os Relatórios de Prisão, os três foram “retirados de um vagão nos pátios da ferrovia logo após o presidente Kennedy ser baleado”, detidos como “prisioneiros investigativos”, descritos como desempregados e de passagem por Dallas, quando foram liberados quatro dias depois da detenção.

Em 1976, Frank Sturgis afirmou que foi designado para investigar qualquer possível papel real que exilados cubanos possam ter desempenhado no assassinato de Kennedy. Ele afirmou que sua investigação revelou que dez semanas antes do assassinato, Jack Ruby se encontrou com Fidel Castro em Havana, Cuba, para discutir “a remoção do presidente” a fim de neutralizar a ameaça de invasão pelos Estados Unidos. De acordo com Sturgis, outros participantes da reunião incluíram Raúl Castro, Che Guevara, Ramiro Valdés e uma mulher argentina que provável ser acredita uma agente russa da Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti (KGB). Ele disse que Ruby também fez várias viagens a Havana nos meses anteriores ao assassinato, a fim de conseguir acordos em que armas seriam vendidas a Cuba e em que drogas ilegais de Cuba seriam contrabandeadas para os Estados Unidos. Sturgis também afirmou que Lee Harvey Oswald estava envolvido na conspiração e que outros governos estavam na conspiração ou sabiam da conspiração. Mas que a investigação não revelou exilados cubanos estavam envolvidos no assassinato.  

Frank Sturgis se recusou a identificar especificamente as fontes primárias de suas informações, mas observou que ele disse que elas incluíam membros do “submundo cubano anti-Castro”. Ele alegou ainda que seus associados envolvidos na inteligência confirmaram independentemente seu relatório. De acordo com Sturgis, seu relatório foi feito no início de 1964 e que foi entregue a “certas agências de inteligência americanas, incluindo o Comitê de Segurança Interna do Senado”. Ele disse que não sabia se tinha sido encaminhado à Comissão Warren que foi estabelecida em 29 de novembro de 1963 pelo presidente dos Estados Unidos Lyndon B. Johnson para investigar o assassinato do presidente John F. Kennedy. Da mesma forma, Sturgis disse que as informações sobre os relatórios de 1964 foram fornecidas ao Relatório Rockefeller, bem como o subcomitê de inteligência do Comitê da Igreja, presidido por Richard Schweiker (1926-2015), mas que ele não sabia se eles receberam os relatórios reais. Sturgis afirmou que estava revelando que fez os relatórios para refutar “o elemento de esquerda no país” que alegou que a Central estava envolvida no assassinato de John Kennedy. O irmão de Jack Ruby, Earl, respondeu às alegações como “estranhas”, “ridículas” e “absolutamente falsas”.

Em entrevista de televisão de 1977 conduzida por Bill O`Reilly, Sturgis indicou que Alexander Butterfield, serviu como vice-assistente do presidente Richard Nixon de 1969 a 1973. Ele revelou a existência do sistema de gravação da Casa Branca em 13 de julho de 1973, durante a investigação do Watergate, mas não teve outro envolvimento no escândalo. Mas em suas relações mantinha notáveis “associações” com funcionários da CIA, associando-se à posição tomada por L. Fletcher Prouty, que havia feito manchetes em todo o país com “sua alegação de que Butterfield estava operando em nome da CIA”. Em setembro de 1977, Marita Lorenz disse a Paul Meskil do New York Daily News que ela conheceu Oswald no outono de 1963 em um esconderijo da Operação 40 na seção Little Havana de Miami. De acordo com Lorenz, ela o encontrou novamente antes do assassinato de Kennedy em 1963 na casa de Orlando Bosch, com Sturgis, Pedro Luís Díaz Lanz e outros dois cubanos presentes. Ela disse que os homens estudaram os mapas das ruas de Dallas e que ela suspeitava que eles estavam planejando invadir um arsenal. Lorenz afirmou que ela se juntou aos homens que viajavam para Dallas em dois carros e carregavam “rifles e miras”, mas voou de volta para Miami no dia seguinte à chegada.

Reconhecida em Cuba como La Batalla de Girón foi uma tentativa frustrada de invadir a costa sudoeste de Cuba empreendida em abril de 1961 por um grupo paramilitar de exilados cubanos. O grupo fora treinado e dirigido pela Central Intelligence Agency (CIA), uma agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos responsável por investigar e fornecer informações de segurança nacional para o Presidente e para o seu gabinete, com apoio das Forças Armadas dos Estados Unidos da América (EUA). O objetivo da operação técnico e político era derrubar o vitorioso governo socialista de Fidel Castro. O plano diabólico foi lançado em abril de 1961, menos de três meses depois de John F. Kennedy ter assumido a Presidência dos Estados Unidos. A arriscada ação terminou em fracasso. As forças armadas cubanas, treinadas e equipadas pelas nações do Bloco do Leste, derrotaram os combatentes do exílio em três dias e a maior parte dos agressores se rendeu. O ataque à Baía dos Porcos fazia parte da chamada Operação Mangusto (1961), que tinha como objetivo derrubar o recém-formado governo comunista e assassinar o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro. Depois de três dias de combates, os invasores foram vencidos e Fidel declarou “vitória sobre o imperialismo americano”. A Operação Mongoose, ou ainda, Projeto Cuba foi o nome dado por John Kennedy, no dia 4 de novembro de 1961, durante uma reunião do Special Group Augmented (SGA), a uma operação secreta do governo norte-americano. A Operação Mongoose tinha como objetivo subverter e sabotar o governo de Cuba. Robert F. Kennedy, que ocupava o cargo de Attorney General (Procurador-Geral), decidiu nomear o General Edward Lansdale, membro do comitê presidencial de assistência militar para chefiar essa operação.

Fidel Castro (1926-2016) esperava um ataque direto à ilha, tendo sido alertado por Ernesto Rafael Guevara de la Serna, reconhecido como Che Guevara (1928-1967), que presenciara um ataque semelhante durante o golpe ocorrido na Guatemala. Com a invasão iminente, Fidel Castro anunciou em discurso no dia 16 de abril de 1961, pela primeira vez, o caráter socialista da revolução e, no dia seguinte, teve início o ataque à ilha, na Praia de Girón, localizada na Baía dos Porcos. Através da CIA, o governo estadunidense treinou 1 297 exilados cubanos, a maioria deles baseados em Miami, para destituir o governo de Fidel Castro. Como o planejado apoio da Força Aérea Americana fora vetado pelo presidente Kennedy, temendo envolver o governo dos Estados Unidos de forma institucional e aberta, a operação foi lançada com pouco apoio logístico dos Estados Unidos e fracassou. Fidel Castro, temendo uma nova invasão norte-americana, decidiu apoiar a ideia política da União Soviética de instalar mísseis nucleares no seu país, “o que precipitou em uma nova crise na região, desta vez com proporções bem maiores”. A Crise do Mísseis, ocorrida em outubro de 1962, foi um incidente diplomático entre Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, por causa da instalação de mísseis em Cuba. O evento é o considerado o momento mais tenso e crítico da Guerra Fria quando “o mundo teve chances reais de sucumbir a uma guerra nuclear”.

Em resposta às alegações dela, Sturgis disse que não se lembrava de ter conhecido Oswald e reiterou suas negações anteriores de estar envolvido em uma conspiração para matar Kennedy. Em 31 de outubro de 1977, Sturgis foi preso no apartamento de Marita Lorenz depois que disse à polícia que Sturgis a ameaçou na tentativa de forçá-la a mudar seu depoimento para investigadores federais. Em uma entrevista com Steve Dunleavy do jornal New York Post logo depois que ele pagou fiança, Sturgis disse acreditar que agentes comunistas pressionaram Marita Lorenz “a fazer as acusações contra ele”. A estátua do mito clássico da Medusa em frente ao tribunal criminal de Nova York tem um simbolismo reparador. Mais tarde naquela semana, no Tribunal Criminal de Manhattan, as acusações contra Sturgis foram retiradas depois que o promotor disse ao juiz que seu escritório não encontrou evidências de coerção ou assédio moral. Recapitulando a série de eventos, Timothy Crouse do The Village Voice descreveu Sturgis e Lorenz como “duas das fontes mais notoriamente não confiáveis na América”. Após a morte de Hunt em 2007, John Hunt e David Hunt revelaram que seu pai havia registrado várias alegações sobre ele e outros estarem envolvidos em uma conspiração para assassinar John F. Kennedy.

Na edição de 5 de abril de 2007 da revista Rolling Stone, John Hunt detalhou vários indivíduos implicados por seu pai, incluindo Sturgis, bem como Cord Meyer, David Sánchez Morales, David Atlee Phillips, William Harvey e um assassino. Ele denominou “montanha gramada atirador francês” que muitos presumem ser Lucien Sarti (1937-1972) foi um traficante de drogas francês. Em 1948, Sarti fundou o grupo Piedra Fuerte com os colegas corsos Auguste Ricord e François Chiappe, que contrabandeavam ópio no Triângulo Dourado. é uma das duas principais áreas produtoras de ópio e metanfetamina da Ásia. É uma região com cerca de 367.000 milhas quadradas (950.000 km²) que se sobrepõe às montanhas de quatro países do Sudeste Asiático: Myanmar,  Vietnã, Laos e Tailândia. Juntamente com o Afeganistão no Crescente Dourado, tem sido uma das mais extensas áreas produtoras de ópio da Ásia e do mundo desde 1920. A maior parte da heroína do mundo vinha do Triângulo Dourado até o início do século XXI, quando o Afeganistão se tornou o maior produtor. O Triângulo designa a confluência do rio Ruak e do rio Mekong, uma vez que o termo vem sendo apropriado pela indústria turística tailandesa para descrever a tríplice fronteira perto da Tailândia, Laos e Myanmar.

François Chiappe era conhecido por fazer parte da Organização Armée Secrète, um grupo terrorista paramilitar dissidente francês que realizou assassinatos e atentados a bomba, incluindo a tentativa de assassinato de Charles de Gaulle em 1962. Em 19 de abril de 1968, Sarti foi preso junto com Ricord e Chiappe para interrogatório sobre o roubo de uma agência do Banco Central da Argentina. Os três foram libertados por falta de provas.  Em abril de 1972, Sarti foi morto a tiros na Cidade do México durante uma batida em uma rede de tráfico de drogas pela polícia federal mexicana.  Um detetive do Rio de Janeiro foi posteriormente suspenso da força policial após ser acusado de aceitar um suborno para libertar Sarti e Helena Ferreira, sua namorada, da prisão no início de 1972. Em janeiro 1975, quatro cidadãos franceses acusados ​​de fornecer heroína a Sarti estavam entre um grupo de 19 indiciados por um grande júri federal no Brooklyn. Os dois filhos alegaram que seu pai cortou as informações de suas memórias, American Spy: My Secret History in the CIA, Watergate and Beyond (2007), para evitar possíveis acusações de perjúrio. A viúva de Hunt e outros filhos, os dois filhos tiraram vantagem da perda de lucidez de Hunt treinando-o e explorando-o para obter ganhos financeiros. O Los Angeles Times afirmou que examinou os materiais oferecidos pelos filhos para apoiar a história e os considerou “inconclusivos”. Sturgis também está ligado ao assassinato, em 4 de dezembro de 1980, do primeiro-ministro português Francisco de Sá Carneiro e outras 6 pessoas a bordo de um avião Cessna, no que ficou reconhecido como o caso Camarate.

Ele foi nomeado por dois de seus supostos cúmplices, Fernando Farinha Simões e José Esteves, em uma confissão escrita, como a pessoa que apertou o botão do detonador para ativar a bomba no avião. Em 1979, Sturgis viajou para Angola para ajudar os rebeldes que lutavam contra o governo comunista, que era apoiado por Cuba e pela União Soviética, e para ensinar guerra de guerrilha. Em 1981 ele foi para Honduras para treinar os Contras apoiados pelos EUA que estavam lutando contra o governo sandinista da Nicarágua, que era apoiado por Cuba e pela União Soviética; o Exército de El Salvador; e os esquadrões da morte de Honduras. Ele fez uma segunda viagem a Angola e treinou rebeldes no mato angolano para Holden Roberto, dirigente nacionalista e líder de um movimento considerado terrorista durante a Guerra Colonial portuguesa. Iniciou a sua atividade política em 1954 com a fundação da União dos Povos do Norte de Angola, mais tarde designada UPA. Ele interagiu com o terrorista venezuelano Carlos, conhecido como o Chacal. Em 1989 visitou Yasser Arafat (1929-2004) em Túnis. A cidade atual foi construída enquanto estava sob o controle político-administrativo do governo francês (1881-1956) e, quando o país se tornou independente, Tunes passou a ser sua capital.

Arafat compartilhou elementos de seu plano de paz, e Sturgis foi interrogado pela Central Intelligence Agency (CIA) em seu retorno. Em obituário publicado em 5 de dezembro de 1993, o The New York Times citou o advogado de Sturgis, Ellis Rubin, dizendo que morreu de câncer uma semana depois de ter sido internado em hospital de veteranos em Miami, cinco dias antes de completar 69 anos. Foi relatado que os médicos diagnosticaram câncer de pulmão que se espalhou para os rins e que ele deixou uma esposa, Jan, e uma filha chamada Autumn. Ele frequentou a Universidade do Cairo, onde se formou como engenheiro civil. Nos seus tempos de estudante, aderiu à Irmandade Muçulmana e à associação de estudantes, da qual foi presidente entre 1952 e 1956. Ainda durante a sua estadia no Cairo, Arafat desenvolveu uma relação próxima com Haj Amin Al-Husseini, reconhecido como o Mufti de Jerusalém. Em 1956 ele serviu ao exército obrigatório egípcio durante a Crise do Suez. No Congresso Nacional Palestiniano, no Cairo, em 3 de fevereiro de 1969, Arafat foi nomeado líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Como líder era muito requisitado pela mídia global para entrevistas. Numa delas, para a jornalista da CNN Christiane Amanpour, uma jornalista e apresentadora de televisão britânico-iraniana ele perdeu o controle e deixou a cena, chateado com as perguntas da jornalista. Esse fato rendeu manchetes no mundo todo.

Enfim, Rose-Ackerman destaca também que a prática da burocracia do governo federal se concentrava basicamente na alfândega e nos correios, ambos marcados por diversos casos de corrupção. Segundo os analistas, a mobilização popular e o papel da imprensa, com os chamados muckrackers, “jornalistas investigativos” da época que tentavam expor os escândalos de corrupção, foram cruciais para mudar essa situação. - “Havia um movimento de cidadãos muito ativo, o Movimento Progressista, organizado por pessoas que estavam tentando fazer com que o governo se tornasse mais limpo e honesto”. A primeira agência reguladora de grandes corporações nos Estados Unidos da América surgiu em 1887. O assassino Charles Julius Guiteau (1841-1882), cometeu o crime após ter pedidos de emprego negados pelo presidente. - “(O vice-presidente) Chester Arthur substituiu Garfield e o “escândalo envolvendo o assassinato forneceu um certo incentivo para mudanças. Além disso, havia alegações de que o próprio Arthur estaria envolvido em corrupção, então ele se tornou um apoiador da reforma”. Richard Schneirov observa que, a partir do final dos anos 1880, consolidou-se também uma nova percepção de que na vida não eram apenas “homens maus” (políticos) que causavam a corrupção, e sim grandes empresas, o que levou a esforços para maior regulação.

Em 1887, em resposta a diversos escândalos envolvendo a construção civil de ferrovias, incluindo os casos de pagamento de propinas, foi criada a Interstate Commerce Commission (ICC), agência responsável pela regulamentação de ferrovias. Ampliada a partir de 1906 para abranger outros setores, a ICC foi a primeira agência a monitorar grandes corporações nos EUA. Seguiram-se várias outras medidas para regular o setor bancário, o mercado de capitais, alimentos, medicamentos, em um movimento que se estendeu por décadas. Apesar dos avanços, os Estados Unidos não eliminaram totalmente o problema, e ainda registram eventuais casos de corrupção. - “Os americanos não sentem que a sociedade resolveu completamente o problema da corrupção”. No Estado de Illinois, onde vivo, afirma, “dois dos últimos quatro governadores, George Ryan e Rod Blagojevich, acabaram na prisão por casos de corrupção e um congressista da cidade em que vivo, chamado Aaron Schock, renunciou no mês passado, em meio a um escândalo envolvendo financiamento de campanha e gastos particulares extravagantes”, ressalta inda. - “Nenhum país superou totalmente o problema. O que se vê é uma mudança de variedades mais visíveis e nocivas para outras menos visíveis”, complementa Johnston.

O ex-governador de Illinois Rod Blagojevich foi afastado do cargo em 2009 e posteriormente preso após envolvimento em escândalo de corrupção. Segundo analistas, entre os principais desafios atuais está o financiamento de campanhas políticas. Apesar de a Suprema Corte ter legalizado em 2010 contribuições sem limites de empresas e indivíduos por meio dos chamados Super PACs formados por comitês de ação política que não são ligados oficialmente a nenhum candidato ou partido, mas podem arrecadar fundos e fazer campanhas a favor ou contra candidatos ou causas), a decisão é polêmica. - “Só porque houve uma decisão legal não quer dizer que a população vá mudar sua definição do que é apropriado”, diz Rose-Ackerman. “(A decisão) não é relacionada diretamente com corrupção, mas é sobre a influência do dinheiro na política, o que é uma questão mais ampla que simplesmente propinas ou corrupção”. Ao comparar a situação dos Estados Unidos com o Brasil, Johnston lembra que, nos Estados Unidos, o combate à corrupção levou mais de um século para surtir efeito. Ele vê avanços no Brasil. - “Nós fizemos progressos contra a corrupção, mas levou 150 anos”. Acho que no Brasil há razão para otimismo. O problema agora já não pode mais ser varrido para baixo do tapete.  

No Índice de Percepção da Corrupção de dezembro de 2014, divulgado pela Transparência Internacional, os Estados Unidos da América (EUA) apareceram na 17ª posição entre 175 países, ao lado de Irlanda, Hong Kong e Barbados. O Brasil situou-se em 69º lugar, ao lado de Bulgária, Grécia, Itália, Romênia, Senegal e Suazilândia. A falta de um funcionalismo público profissional favorecia a prática de apadrinhamento político tanto no nível federal quanto nos Estados e municípios americanos. - “Você não precisava fazer um concurso. Apenas se dirigia ao chefe do departamento, ao prefeito, governador, presidente dos EUA, e pedia um emprego”, disse à BBC Brasil o historiador Richard Schneirov, professor da Indiana States University.  A especialista em corrupção Susan Rose-Ackerman, professora de Direito e Ciências Políticas da Universidade de Yale, relembra que grandes projetos de infraestrutura, como a construção de ferrovias e portos, estavam em andamento e podiam ser vulneráveis à corrupção. Vítimas ou vilãs? Escândalos levantam debate sobre corrupção nas empresas. A instituição integra a Ivy League que reúne as oito universidades de mais prestígio e se localiza na cidade de New Haven, no estado de Conneticut na região nordeste dos Estados Unidos. Passaram pela universidade cinco ex-presidentes norte-americanos, dentre eles George Bush pai e filho, e Bill Clinton, além de dezenas de líderes mundiais e mais de 60 ganhadores do prêmio Nobel.

Bibliografia geral consultada.

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