“Vejo o marajoara que habita uma terra onde a terra não para”. Cassiano Ricardo
O globo terrestre é composto de terra e mar. Apesar de haver em torno de 210 países espalhados pelos cinco continentes, nem todos eles ficam atrelado ao continente. Trata-se de grandes massas de terras que são separadas fisicamente pelos oceanos. A origem etimológica do nome (cf. Ginzburg, 1979) continente é derivada das palavras latinas continens e entis, que estando no particípio presente de continere, significa “conter, abranger”, verbo oriundo de “cum, con e tenere”, tendo como representação sociológica o significado de ter. Esta é a fonte do eruditismo em cinco línguas reais europeias: em língua portuguesa, espanhola e italiana, continente (século XV); em língua inglesa continent, (século XIV); o vocábulo inglês continent é uma palavra que foi tomada de empréstimo do vocábulo francês continent (século XII). Na acepção geograficamente que se considera na ciência, os substantivos das quatro línguas europeias têm o mesmo significado: em português, espanhol e italiano, continente (século XVI); em francês, continent (1532); em inglês, continent (1590); e em língua alemã Kontinent (entre os séculos XVI e XVII). O vocábulo português e espanhol continente foi documentado na história social entre os séculos XII e XIV, significado “gesto, atitude, parte”, cujo sentido é conjunto da produção daquilo que é a vivência. De acordo com a divisão do trabalho social, existem seis principais continentes no globo terrestre: América, Europa, África, Ásia, Oceania e a Antártida. Alguns territórios de nações se encontram em unidade, ou separadamente por água com formato de ilhas. Há 2 tipos de regiões existentes na extensão de um país: a de país arquipélago e a de país continental.
Os
países continentais em área de terra espaçosa têm uma área de água na fronteira
ao mar largo e fronteiras terrestres com inúmeros países. O país arquipélago
tem inúmeras ilhas, águas territoriais mais amplas, e muitas vezes sem
fronteiras terrestres com países vizinhos.
Uma identidade compartilhada se desenvolveu definida por uma cultura nacional,
diversidade étnica, pluralismo religioso dentro de uma população de maioria
muçulmana, e uma história de colonialismo, rebelião e golpes de Estado. O
conceito que os geógrafos usam para definir massa continental pode variar
segundo os critérios que adotam, podendo ser físicos, culturais, políticos ou
histórico-sociais. A definição física de maior disseminação considera a divisão
abstrata em sete continentes: África, América do Norte, América do Sul,
Antártida, Ásia, Europa e Oceania. Esse modelo é cultural como padrão em países
como China, Índia, Paquistão e em boa parte dos países de língua inglesa com
larga população, o que o faz ser reconhecido o padrão utilizado por mais de 45%
da população mundial. Ou seja, menos da metade (45,7%) da população mundial
agora vive em algum tipo de democracia, um declínio significativo em relação a
2020, quando o número era de 49,4%. Ainda menos (6,4%) residem em uma
“democracia plena” – categoria social que inclui apenas 21 dentre 167 países e
territórios analisados, depois que Chile e Espanha foram rebaixados para
“democracias imperfeitas”.
Mas, seguindo-se critérios tanto culturais como sociais e políticos, costumam-se considerar como continentes a Europa, a Ásia, a África, a América, a Antártida e a Oceania. O chamado Velho Mundo é constituído pelos mesmos três continentes que constituem a Eufrásia: Europa, Ásia e África. Essa classificação técnico-metodológica é baseada numa afirmação concreta de especialistas renomados de que as três massas terrestres se unem histórica e geograficamente: Ásia e Europa (Eurásia), cujos acidentes geográficos que ligam os continentes são o Cáucaso, o mar Cáspio e a cordilheira dos Urais, no momento em que a África e a Ásia são comunicadas per se pelo istmo do Suez que separa o mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando os continentes africano e Asiático, no qual foi construído o canal do Suez (cf. Rodrigues, 1982). Uma via navegável artificial a nível do mar localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez). Inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção, permite que navios viajem entre a Europa e a Ásia Meridional sem navegar em torno de África, como na Era dos Descobrimentos nos anos 1497-1500, reduzindo a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em cerca de 7 mil km.
A história registra que todas as motivações tanto sociológicas como psicológicas, propostas para fazer compreender as estruturas e gênese do simbolismo erram muitas vezes por uma secreta e estreita metafísica: umas porque querem reduzir o processo motivador a um sistema de elementos exteriores à consciência e exclusiva das pulsões, as outras porque se atêm exclusivamente a pulsões, ou, o que é pior, ao mecanismo redutor da censura e ao seu produto, o recalcamento. O que quer dizer que implicitamente se volta a um esquema explicativo e linear no qual se descreve, se conta a epopeia dos indo-europeus ou as metamorfoses da libido, voltando a cair nesse vício fundamental da psicologia geral que é acreditar que a explicação dá inteiramente conta de um fenômeno que por natureza escapa às normas da semiologia teórica. Para Durand (1997), parece que estudar in concreto o simbolismo imaginário será preciso enveredar resolutamente pela via da antropologia, dando a esta palavra o seu sentido pleno atual: o conjunto das ciências que estudam a espécie homo sapiens – sem se por limitações a priori e sem optar por uma ontologia psicológica que não passa de “espiritualismo camuflado”, ou “ontologia culturalista” que, geralmente, não é mais que “máscara da atitude sociologista”, ou dentre atitudes resolvendo-se em última análise num intelectualismo semiológico. Esse trajeto é reversível; porque o meio elementar é revelador da atitude adotada diante da dureza, da fluidez da queimadura. Qualquer gesto chama a sua matéria e procura o seu utensílio, e que toda matéria excluída, abstraída do cósmico, e utensílio ou instrumento é vestígio de um gesto passado.
Assim
o trajeto antropológico (cf. Durand, 1983; 2001) pode indistintamente
partir da cultura ou do natural psicológico, uma vez que o essencial da
representação e do símbolo está contido entre dois marcos reversíveis. Uma tal
posição antropológica, que não quer ignorar nada das motivações relacionais
contidas nas tramas sociópetas ou sociófogas do simbolismo, leva em conta as
instituições rituais, a tensão do simbolismo religioso, a poesia, a mitologia,
a iconografia ou psicologia implicando uma metodologia essencial para delimitar
os conteúdos de sentido desses trajetos que os símbolos constituem. É no
ambiente tecnológico humano que vamos encontrar um acordo entre os impactos
sociais dominantes e o seu prolongamento ou confirmação cultural. Em termos pavlovianos, poder-se-ia dizer que
ambiente humano é o primeiro condicionamento das dominantes sensório-motoras, ou,
em termos piagetianos, que o meio humano é o lugar da projeção dos esquemas de
imitação. Se, como pretende o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o que é da ordem
da natureza e tem por critérios a universalidade e a espontaneidade está
separado do que pertence à cultura, domínio da particularidade, da relatividade
e do constrangimento, não deixa de ser necessário que um acordo se
realize entre a natureza e a cultura, sob pena de ver o conteúdo cultural nunca
ser vivido. Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado
rica terminologia do imaginário: signos, imagens, símbolos, alegorias,
emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes),
ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social.
O
esquema representa uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a
factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O
esquema aparenta-se ao que Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama
“símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard chama de “símbolo motor”. Faz a
junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as
dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia
do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação.
A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve e os
esquemas é que estes últimos já não são apenas engramas teóricos, mas trajetos
encarnados em representações concretas mais precisas. Os gestos diferenciados
em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os
grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações
dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela
sinônimo de “origem primordial”, de “enagrama”, de “margem original”, de
“protótipo”.
Carl
Jung evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos
quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação
com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e
são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz
respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica
da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia
seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num
contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um
sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob
o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de
racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se
resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um
esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia
e que o símbolo engendrava o nome, concordamos com Durand que o
mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem viu Émile
Bréhier, a narrativa histórica e lendária.
Foi este princípio, que Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos os casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente. As leis naturais são verdades estatísticas, absolutamente válidas ante magnitudes macrofísicas, mas não microfísicas. Isto implica um princípio de explicação diferente do causal. Cabe a indagação se em termos muito gerais existem não somente uma possibilidade senão uma realidade de acontecimentos acausais. A acausalidade é esperável quando parece impensável a causalidade. Ante a casualidade só resulta viável a avaliação numérica ou o método estatístico. As agrupações ou séries de casualidades hão de ser consideradas casuais enquanto não se ultrapasse os limites de “observação da probabilidade”. A probabilidade é sempre um número decimal entre 0 e 1, ou uma porcentagem entre 0% e 100%. Se ultrapassado, implica-se um princípio acausal ou “conexão transversal de sentido” na compreensão do evento.
Segundo
Jung (2000), a hipótese de um inconsciente coletivo pertence àquele tipo de
conceito. Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de
conteúdos capazes de serem conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um
inconsciente na medida em que comprovarmos os seus conteúdos. Os conteúdos do
inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional,
que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do
inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. O conceito abstrato
de archetypus só se aplica indiretamente às représentations
collectives, na medida em que a análise possibilite designar apenas aqueles
conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração
consciente. Representam, hic et nunc, um dado anímico de observação imediato.
O arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada.
Especialmente em níveis altos dos ensinamentos secretos, aparecem sob uma forma
que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e
avalia. Sua manifestação imediata, como a encontramos em sonhos e visões, é
mais individual, incompreensível e ingênua do que nos mitos. O arquétipo
representa, em essência, um conteúdo inconsciente, que se modifica através de
sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a
consciência individual na qual ocorre determinada manifestação.
Nosso
intelecto realizou tremendas proezas enquanto desmoronava nossa morada
espiritual. Estamos profundamente convencidos de que apesar dos mais modernos e
potentes telescópios refletores construídos nos Estados Unidos da América, não
descobriremos nenhum empíreo nas mais longínquas nebulosas; sabemos também que
o nosso olhar errará desesperadamente através do vazio mortal dos espaços
incomensuráveis. As coisas não melhoram quando a física matemática nos revela o
mundo do infinitamente pequeno. Finalmente, desenterramos a sabedoria de todos
os tempos e povos, descobrindo que tudo o que há de mais caro e precioso já foi
dito na mais bela 1inguagem. Estendemos as mãos como crianças ávidas e, ao
apanhá-lo, pensamos possuí-lo. No entanto, o que possuímos não tem mais
validade e as mãos se cansam de reter, pois a riqueza está em toda a parte, até
onde o olhar alcança. Temos, seguramente, de percorrer o caminho da água, que
sempre tende a descer, se quisermos resgatar o tesouro, a preciosa herança do
Pai. No hino gnóstico à alma, o Filho é enviado pelos pais à procura da pérola
perdida que caíra da coroa real do Pai. Ela jaz no fundo de um poço, guardada
por um dragão, na terra dos egípcios - mundo de concupiscência e embriaguez com
todas as suas riquezas físicas e espirituais. O filho e herdeiro parte à
procura da joia, e se esquece de si mesmo e de sua tarefa na orgia dos prazeres
mundanos historicamente dos egípcios, até que uma carta do pai o lembra do seu
dever. Ele põe-se então a caminho em direção à água e mergulha na profundeza
sombria do poço, em cujo fundo encontra a pérola, para oferecê-la então à
suprema divindade.
O testemunho do sonho encontra uma violenta resistência por parte da mente consciente, que só reconhece o “espirito” como algo que se encontra no alto. O “espírito” parece “sempre vir de cima”, enquanto tudo o que é turvo e reprovável vem de baixo. Segundo esse modo de ver o espírito significa a máxima liberdade, um flutuar sobre os abismos, uma evasão do cárcere do mundo ctônico, por isso um refúgio para todos os pusilânimes que não querem “tornar-se” algo diverso. Mas a água é tangível e terrestre, também é o fluido do corpo dominado pelo instinto, sangue e fluxo de sangue, o odor do animal e a “corporalidade cheia de paixão”. O inconsciente é a psique que alcança, a partir da luz diurna de uma consciência espiritual, e moralmente lúcida, o sistema nervoso designado há muito tempo por “simpático”. Este não controla como o sistema cérebro espinal a percepção e a atividade muscular e através delas o ambiente; mantém, no entanto, o equilíbrio da vida sem os órgãos dos sentidos, através das vias misteriosas de excitação, que não só anunciam a natureza mais profunda de outra vida, mas também irradia sobre eia um efeito interno. Trata-se de um sistema extremamente coletivo: a base operativa de toda participation mystique, ao passo que a função cérebro-espinhal, do ponto de vista comparativamente, culmina na distinção diferenciada do Eu, e só apreende o superficial e exterior sempre por meio de sua relação com o espaço. O social capta tudo como “fora”, e o sistema simpático tudo vivência como “dentro”.
Os marajoaras tem como reminiscências a cultura do Marajó quando
formaram uma sociedade que floresceu na Ilha, ou Rio Amazonas na Era
pré-colombiana. O arqueólogo Charles Mann sugere datas
compreendidas entre 400 e 1600 para a cultura. A atividade humana desde 1000
a.C. já tinha sido reportada nesses locais. A cultura parece ter persistido na
era colonial. A cultura pré-colombiana do Marajó pode ter desenvolvido
estratificação social e comportado população em torno de 100 000 pessoas.
Pesquisas posteriores encontraram origem natural para grande parte das
estruturas, contestando exigência demográfica e de complexidade de relações de
trabalho. Trabalhos sofisticados em cerâmica, grandes pinturas elaboradas e
desenhos com representações de plantas e animais representam a descoberta impressionante
na área e forneceram a primeira evidência de uma sociedade complexa no
Marajó. Evidências de construção de montículos (pequenas colinas artificiais)
sugerem, ainda, uma área bem povoada. No entanto, a extensão do nível de
complexidade e as interações sociais, se já não é um truísmo, de influências da
cultura Marajoara são contestados. Trabalhando na década de 1950, Betty Meggers
(1921-2012) sugere que a sociedade migrou da cordilheira dos Andes e se
estabeleceu na ilha. Foi uma arqueóloga dos Estados Unidos da América,
especializada em cultura pré-colombiana. Pesquisou arqueologia pré-histórica no
Equador e no Brasil, principalmente nas regiões da Bacia Amazônica e do
estuário, em especial na Ilha de Marajó, no Pará.
Betty Jane Meggers é filha de
Edith Marie Raddant e William Meggers. Entrou
para a Universidade da Pensilvânia, graduando-se com título de bacharel em
1943, aos 22 anos, antes tendo trabalhado como voluntária no prestigiado
Smithsonian Institution. Um ano após, obteve o título de mestre pela
Universidade de Michigan e, em 1946, o seu Ph. D. pela Universidade de
Colúmbia, com a dissertação: The Archaeological Sequence on Marajo Island,
Brazil, with Special Reference to the Marajoara Culture (1952),
demonstrando o grande interesse de pesquisa que desenvolvera pela arqueologia
na América do Sul. Ainda na Universidade de Columbia, conheceu Clifford Evans,
curador e arqueólogo, com quem se casou em 13 de setembro do mesmo ano em que
obteve o título de doutora. Clifford mais que colega e marido, tornou-se um
grande colaborador do seu trabalho, tendo viajado com ela várias vezes à
América do Sul, em expedições arqueológicas. Nos anos de 1960, Betty Meggers,
Clifford Evans e outros arqueólogos brasileiros criaram o Projeto Nacional
de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) e o Projeto Nacional de Pesquisas
Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA). Foram responsáveis pela
criação de geração histórica de arqueólogos no norte do Brasil.
No Novo Mundo são agrupados ambos os subcontinentes americanos que o istmo do Panamá une; e no Novíssimo Mundo (Oceania) são reunidas a grande ilha australiana, as ilhas da Tasmânia, Nova Zelândia, Nova Guiné, e os arquipélagos da Melanésia, Micronésia e Polinésia. O búfalo foi introduzido no Brasil no final do século XX, inicialmente na ilha de Marajó, no Pará, embora sua importância comercial como produtor de carne e leite no país é recente. Segundo estimativas estatísticas, o rebanho bubalino brasileiro é da ordem quantitativa de 3 milhões de cabeças, com o maior índice de crescimento dentre todos os animais domésticos. É o maior rebanho bubalino das Américas. O animal é o símbolo do Marajó (cf. Marques, 2015; Ferrão, 2016; Lucas, 2017) fornecendo tradição, carne, couro e leite. O leite que é transformado em queijo, receita centenária e diferenciada, motivos pelo qual ganham força nutritiva e comercial no estado do Pará. O queijo de búfala é feito de forma artesanal e é considerado um símbolo da ilha de Marajó. Os búfalos são animais utilizados para a produção de carne e leite destinados ao consumo humano. Possuem temperamento dócil. São rústicos do ponto de vista fisiognomonia, adaptando-se às mais variadas condições ambientais. Embora sejam representados 3 milhões de cabeças espalhadas em território nacional, isso representa apenas 1,4% do rebanho bovino, que possui 212 milhões de cabeças. Não queremos perder de vista que o Búfalo valioso da Índia vale mais de R$ 10 milhões, pesa mais de 1,5 toneladas, tem maças e cenouras em sua dieta e é regrado a whisky todo dia.
São classificados na sub-família Bovidae, gênero Bubalis, sendo divididos em dois grupos principais: o Bubalus bubalis com 2n=50 cromossomos, também reconhecido como “water buffalo”, e o Bubalus bubalis var. kerebau com 2n=48 cromossomos, denominado búfalo do pântano (“swamp buffalo”). Convém lembrar que o búfalo doméstico nada tem a ver, comparativamente com o chamado bisão norte-americano e menos ainda com o africano, sendo estas espécies selvagens e agressivas. O búfalo-americano (Bison bison) é uma espécie de bisão (bisonte) que habita a América do Norte. Pastam nas pradarias, em grandes manadas, migrando para o sul durante o inverno, e já foi extremamente abundante. Antes da colonização europeia da América, eram caçados pelos nativos americanos, mas os colonizadores quase os exterminaram. Tornou-se quase extinta por uma “combinação de caça comercial e abate” no século XIX e introdução de doenças de bovinos provenientes de gado doméstico, e fez um ressurgimento em grande parte restrita a poucos parques e reservas nacionais. Sua escala histórica mais ou menos formado um triângulo entre o Grande Lago do Urso no extremo Noroeste do Canadá, ao Sul de estados mexicanos de Durango e Nuevo León, e no Leste da costa atlântica dos Estados Unidos da América de Nova Iorque para a Geórgia e algumas partes da Flórida.
O termo búfalo às vezes é considerado um equívoco no emprego para este animal, pois é apenas distantemente relacionado com qualquer um dos dois originais búfalos, o Búfalo-asiático e o Búfalo-africano. No entanto, “bison” é uma palavra grega que significa boi como animal, enquanto o “buffalo” originou-se com os caçadores de peles franceses que chamaram estes enormes animais de bœufs, o que significa “boi” ou “boi castrado” dois nomes, “bison” e “buffalo”, têm um significado similar. Embora o nome Bison possa ser considerado mais correto cientificamente/culturalmente, como resultado de uso normal do nome Buffalo também é considerada correta e está listada em muitos dicionários como um nome aceitável para Buffalo ou bisão americano. Em referência a esse animal, o termo Buffalo, data para 1635 no uso de classificação norte-americano quando o termo foi registrado pela primeira vez para o mamífero americano. Tem uma história genética e socialmente mais longa do que o termo “bison” registrado pela primeira vez em 1774. O bisão-americano está intimamente relacionado com o wisent ou bisão-europeu.
Apesar
de serem superficialmente similares, etnograficamente o bisão-americano e
europeu apresentam uma série de diferenças físicas e comportamentais.
Bisão adulto americano é um pouco mais pesado, em média, devido à sua menor rangy
forma, e têm pernas mais curtas, o que os tornam ligeiramente mais curtos
na altura dos ombros. bisão-americano tendem a pastar mais, e caminhar menos do
que seus primos europeus, devido aos seus pescoços serem definidos de forma
diferente. Comparado com o nariz do bisão-americano, que da espécie Europeia é
definido mais à frente do que a testa quando o gargalo se encontra numa posição
neutra. O corpo do bisão-americano é mais peludo, embora a sua cauda tenha menos
cabelo do que a do bisão-europeu. Os chifres do bisão-europeu apontam para a
frente fora do plano de rosto, tornando-se mais aptos a lutar com os chifres da
mesma maneira como o gado doméstico, ao contrário do bisão-americano, que
favorece a alimentação. Os bisões-americanos são mais facilmente domesticados
que seus primos europeus e aptos a produzir mais como o gado
doméstico.
No Brasil, são comuns as raças
Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao. Os animais da raça Mediterrâneo têm
origem italiana, dupla aptidão tanto para carne e como para leite, apresentam
porte médio e são medianamente compactos. A raça Murrah, indiana, apresenta
animais com conformação média e compacta, cabeças leves e chifres curtos,
espiralados enrodilhando-se em anéis na altura do crânio. A raça Jafarabadi, também
indiana, é uma raça menos compacta e de maior porte que existe no mundo
contemporâneo, com chifres mais longos e de espessura menor, com uma curvatura
longa e harmônica. A raça Carabao é a única adaptada às regiões pantanosas,
concentrada fisicamente na ilha de Marajó, no Pará; originária do Norte das
Filipinas, pelagem clara, cabeça triangular, chifres grandes e pontiagudos,
voltados para cima, porte médio e dupla aptidão. Os bubalinos podem ser criados
em diversas condições técnicas e geográficas climáticas, vezes apresentando-se
como opção socialmente para o aproveitamento da propriedade que bovinos não se
adaptam. A preferência por regiões alagadas ou mesmo as pantanosas são per se peculiares. Ocorre porque possuem menor número de glândulas sudoríparas, comparativamente, em relação aos
bovinos.
Eles procuram a água para
se refrescarem e se protegerem do ataque de insetos e parasitos. Por serem
pouco seletivos quanto à ingestão de vegetais e subprodutos, os bubalinos
transformam um volumoso de baixo teor nutritivo em componentes necessários para
seu metabolismo energético, transformando-os em carne, leite e trabalho. Do
ponto de vista reprodutivo os bubalinos se assemelham aos bovinos, entretanto
apresentam características inerentes à espécie, tendo como exemplo algumas
particularidades do ciclo estral da búfala e a possibilidade de sazonalidade
reprodutiva, variável de acordo com a região. Diversas biotecnias reprodutivas
podem ser utilizadas com o intuito de aumentar os níveis de produtividade dos
rebanhos, como por exemplo a inseminação artificial e a transferência de
embriões. Embora os búfalos sejam mais resistentes a enfermidades comparativamente que os
bovinos, estas duas espécies são acometidas basicamente pelas idênticas doenças.
As criações extensivas de búfalos podem apresentar alta mortalidade de
bezerros devido à infecção chamada Toxocara vitulorum. Outros parasitas
gastrointestinais podem causar prejuízos à criação.
A
incidência de brucelose é comum aos animais em várias regiões. A
tuberculose também é um problema clínico em algumas áreas regionais,
especialmente devido à coabitação com a espécie bovina. A Leptospirose pode
acometer os bubalinos, pois os microrganismos sobrevivem ou adaptam-se melhor em
regiões úmidas, que são as preferidas pelos búfalos. Outras enfermidades têm
sido identificadas, pelos especialistas clínicos dentre elas as
tripanossomíases, filarioses, sarnas e piolhos (Haematopinus tuberculatus).
Várias publicações em diferentes países no mundo globalizado têm destacado a
excelente performance do búfalo como produtor de carne, sendo que esta
possui menos gordura saturada, colesterol e calorias e maior conteúdo de
proteína nobre quando comparada a outras carnes produzidas pelas diferentes
espécies domésticas. O leite de búfala, por sua vez, é apreciado em quase todo
o mundo. Apresenta coloração branco opaca e pH entre 6,43 e 6,80. Em relação ao
leite bovino, possui micelas de caseína maiores, coagula muito mais rápido e
seus produtos derivados tendem a ser de modo um pouco mais duros, secos e
quebradiços. O couro dos búfalos é mais espesso, pesado, poroso e flexível que
o do bovino, sendo por isso muito utilizado para a fabricação de derivados de courearia
fina. Em muitas localidades do mundo, principalmente no imenso continente da Ásia,
os búfalos são a fonte principal de força motriz para o processo de trabalho nas áreas
rurais. É considerado como imprescindível nas culturas de arroz, coco, dendê e
na agricultura familiar, sendo ainda utilizado na comunicação socialmente agrária para
transporte e para puxar carroças e arar o solo.
O comentário ou epígrafe utilizado na abertura do artigo é do jornalista e ensaísta Cassiano Ricardo (1895-1974). Representante do modernismo de tendências nacionalistas (cf. Guiberneau, 1997), esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta constituído por Menotti del Picchia (1892-1988), Plínio Salgado (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974) foi o fundador do grupo da Bandeira, reação franca de cunho socialdemocrata a estes grupos de ensaístas tendo sua obra se transformado permanentemente, em estrito acordo com as tendências desenvolvimentistas coroadas dos anos de 1950 e participação no movimento da poesia concreta. Cassiano formou-se em Direito no Rio de Janeiro, em 1917. Durante a conturbada década dos tenentistas, os “verde-amarelos” formaram a vertente conservadora do movimento modernista. Para eles, o ingresso na modernidade implicava o rompimento radical com toda herança culturalmente europeia. Em São Paulo, trabalhou como jornalista em diversas publicações, e chegou a fundar alguns jornais. Aproximou-se de Menotti Del Picchia (1898-1988) e Plínio Salgado (1895-1975), durante a Semana de Arte Moderna, também chamada de forma sutil de Semana de 22, ocorrida em São Paulo, nos dias 13 e 17 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade.
O
governador de São Paulo Washington Luís (1869-1957) apoiou o movimento
social, especialmente por meio de René Thiollier (1882-1968), que solicitou
patrocínio para trazer os artistas do Rio de Janeiro: Plínio Salgado e Menotti
Del Picchia, membros de seu partido, o Partido Republicano Paulista (PRP). Sociologicamente
os movimentos sociais podem ser definidos como grupos formados com o objetivo
de promover mudanças sociais e políticas. Mas de forma geral, globalizada, os
movimentos sociais desejam mudanças contra a exclusão e de direitos civis sofridas
por alguns grupos. Em cada dia da semana foi condicionado a um aspecto
cultural: pintura, escultura, poesia, literatura e música. O evento deu início ao
modernismo no Brasil e tornando-se referência cultural do século XX. Em 1924 Cassiano
Ricardo fundou A Novíssima. Em 1928 publicou Martim Cererê, uma experiência
modernista “primitivista-nacionalista” na linha mitológica de Macunaíma,
de Mário de Andrade, e Cobra Norato, de Raul Bopp. Afastando-se das
ideias protofascistas de Plínio Salgado, Cassiano Ricardo funda com Menotti del
Picchia o grupo da Bandeira, em 1937. Neste ano ainda foi eleito para a cadeira
nº 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL), o segundo modernista
aceito na instituição, o primeiro Guilherme de Almeida, a primazia de poder recebê-lo.
Do
ponto de vista político o Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado em 18
de abril de 1873, durante a Convenção de Itu, considerado o primeiro movimento
republicano moderno no Brasil. Foi realizada na residência de Carlos
Vasconcelos de Almeida Prado, com a presença do deputado Prudente de Moraes e
representantes republicanos das classes tanto conservadora quanto liberal de
várias cidades paulistas. Na convenção, foi aprovada a criação de uma
assembleia de representantes republicanos que se reuniria em São Paulo. Uma
comissão designaria os negócios do partido. Participaram de todo 133
convencionais, sendo 78 cafeicultores e 55 de outras profissões, a representar
os republicanos de várias cidades paulistas. Grosso modo temos apoiadores a
cidade de Itu, em número de 31 membros, da cidade de Jundiaí, com 9 membros, da
cidade de Campinas, com 14 membros, São Paulo, 12 membros, Bragança, 4 membros,
Mogi Mirim, 2 membros, Piracicaba, 5 membros, Botucatu, 4 membros, Iveté, 1
membro, Porto Feliz, 13 membros, Capivari, 14 membros, Sorocaba, 5 membros,
Indaiatuba, 9 membros, Itatiba, 1 membro, Montemor, 1 membro, Jaú, 1 membro,
Rio de Janeiro, 2 membros, enfim las but not least, alguns ilustres
participantes: Américo Brasiliense de Almeida de Melo, Bernardino de Campos
Júnior, Américo de Campos e Manoel Moraes Barros.
Seus adeptos eram chamados de “perrepistas”. O PRP foi predominante no estado de São Paulo durante a República Velha. À nível federal, aliou-se na maioria dos casos, ao Partido Republicano Mineiro (PRM) nas eleições e na alternância no poder, por meio da chamada “política do café com leite”. Durante seu período em atividade, o partido elegeu quatro presidentes da república: Campos Salles (1898), Rodrigues Alves (1902 e 1918), Washington Luís (1922) e Júlio Prestes (1930). O PRP foi extinto em 2 de dezembro de 1937, com o acirramento do golpe de Estado Novo. Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo, e durante os anos de 1953-54 foi chefe do Escritório Comercial em Paris, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes. Seu órgão oficial o Correio Paulistano no Segundo Reinado (1840-1889), pertenceu ao Partido Conservador, e foi “empastelado” quando da vitória da chamada Revolução de 1930, porém voltou a circular, encerrando suas atividades na década de 1960.
Outros
jornais, apoiadores do PRP, também foram empastelados em 1930, entre eles: A
Plateia, A Gazeta e a Folha da Manhã, a atual Folha de S.
Paulo. Seus quadros compunham-se de profissionais liberais (advogados,
médicos, engenheiros etc.), as chamadas classes liberais e por proprietários
rurais paulistas, cafeicultores, as chamadas classe ociosas, segundo a
terminologia de Thorstein Veblen, partidárias da imigração de mão de obra
europeia para a ocupação do trabalho agrícola nas lavouras de café e, também,
partidários da abolição dos escravos. Quase toda a cúpula do PRP, se dizia próceres,
eram membros da maçonaria. Eram tradicionais os encontros dos próceres do Partido
Republicano na central do Correio Paulistano. Seu primeiro jornal foi A
Província de S. Paulo, em seguida O Estado de S. Paulo, fundado, em
1875, pelos republicanos históricos, entre eles, o prócer Campos Sales. O
objetivo primordial do PRP era implantar uma federação
republicana, inspirados no federalismo norte-americano de descentralização
administrativa, o que seria utópico durante o período imperial.
O
Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado com o propósito de refletir os
objetivos de uma sociedade em ascendência econômica e percebeu, portanto, que,
para consolidar o seu domínio, era indispensável substituir um sistema de
relações em estado de irremediável desmoronamento. Campos Sales, Glicério e
Albuquerque Lins filiaram-se, em dezembro de 1887, à Associação Libertadora,
fundada naquele ano pelo conselheiro Antônio Prado, que tinha por finalidade a
abolição gradual da escravatura, estabelecendo-se o ano de 1890 como limite
para se alcançar a libertação total. Campos Sales fez um discurso, salientando
que o prazo solicitado era longo e não compareceu mais às reuniões seguintes. A
24 de maio de 1888, já extinto no país o trabalho servil, o PRP realizou sua
segunda convenção na capital de São Paulo. Campos Sales presidiu esse conclave,
que teve Bernardino de Campos como secretário. Os convencionais publicaram novo
manifesto, no qual a direção partidária era investida de todos os poderes para
“coordenar esforços” em favor da imediata derrubada do trono, pedindo a todos
os correligionários “mais vigor, mais animação e mais entusiasmo” nessa
campanha.
Quanto ao significativo problema escravo, o manifesto garantia que o partido “nunca foi contrário ao movimento emancipador da raça escrava”. Entretanto, o partido foi criado para fazer a República e liquidar com o regime monárquico. Qualquer outra bandeira, que perturbasse a busca daquele propósito essencial, não deveria ser conduzida como se fosse uma determinação prioritária. Ao contrário da agremiação de Júlio de Castilhos no Rio Grande do Sul e de Quintino Bocaiúva na capital do Império, o PRP não olhava com aprovação o apelo ao elemento militar para interferir na remoção de um impasse institucional, que era a permanência do trono. Entretanto, uma vez concretizada a revolução de 15 de novembro, admitiu o PRP que não seria viável opor-se à teimosia positivista, que insistia na entrega do Governo Provisório à chefia do marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891), como meio de recompensar o velho marechal pela decisão que tomara de estender sua aversão ao gabinete Ouro Preto à deposição do imperador. A agremiação paulista não perdeu a oportunidade de capturar no novo ministério posições que indicavam afinidades mais íntimas com a sociedade que representava.
Com essa disposição Campos Sales assumiu a decisiva pasta da Justiça, que detinha o controle dos mecanismos de ação política do governo, enquanto Francisco Glicério, após a curta gestão de Demétrio Ribeiro, tomou posse no Ministério da Agricultura, ao qual estavam vinculados todos os negócios relativos ao plantio e exportação das safras cafeeiras. A princípio, Campos Sales dedicou-se às reformas mais superficiais que a República se propunha a executar, como por exemplo a supressão do catolicismo como religião oficial, obtendo a secularização dos cemitérios, a organização do registro civil para óbitos e casamentos e a adaptação dos hábitos administrativos centralizadores das províncias aos esquemas autonomistas do regime federativo. A atuação do ministro da Justiça voltou-se para a instrumentalização legal da repressão da atividade contestadora, sob a alegação de que “era preciso conter as possibilidades do revanchismo monarquista”. Entre essas medidas, que por certo não se identificavam com a vocação liberal do novo regime, figuravam os decretos nº 85-A, de 23 de dezembro de 1889, e nº 295, de 29 de março de 1890, feitos para punir truques de “todos aqueles que derem origem a falsas notícias e boatos alarmantes dentro ou fora do país ou concorrerem pela imprensa, por telegrama ou qualquer outro modo de pô-los em circulação”. O Decreto nº 295, feito para preservar o governo “da injúria e dos ataques pessoais que visavam ao desprestígio da autoridade e tinham por fim levantar contra ela a desconfiança para favorecer a execução de planos subversivos”, era na verdade o preâmbulo de uma nova Lei de Imprensa, antecipando-se à institucionalização da censura, que seria a tônica dos governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. O PRP seria, em seguida, a primeira vítima do arbítrio por ele mesmo justificado. Eleita a Constituinte em 15 de novembro de 1890, tão logo iniciavam-se os trabalhos de elaboração da Carta, Deodoro começou a manifestar-se irritado com o Legislativo, ao qual se referia com reiterados desapreços, especialmente quando o Congresso passou a discutir o capítulo alusivo aos crimes de responsabilidade do Poder Executivo.
Os
ministros do Governo Provisório, todos eles oriundos da propaganda, ficaram
alarmados quando Deodoro pretendeu prerrogativas constitucionais de dissolução
do Congresso e tentou impor garantias de juros para beneficiar seu amigo
Trajano de Morais, interessado na construção do porto das Torres, no Rio Grande
do Sul, recusando em seguida proposta dos seus ministros no sentido de que o
tratado de fronteiras com a Argentina, envolvendo o território das Missões,
fosse antes apreciado pelos constituintes. No debate desses assuntos, Glicério
teve mais desempenho do que Campos Sales (1841-1913). Achava mesmo que, se o projeto de
Torres era tão urgente, conforme sustentava Deodoro, o governo deveria tomar a
responsabilidade de seu patrocínio. A posição de Campos Sales, pela sua notável
experiência política, consistia especialmente em evitar a ruptura do poder
civil com a área militar. Mas admitia, por outro lado, que a permanência dos
chefes da propaganda no ministério vinha-se tornando insuportável. O ministro
da Justiça encontrou uma solução hábil e razoavelmente conciliadora. Como aproximava a promulgação da Constituição, os membros do governo
deixariam as pastas que ocupavam para Deodoro ter liberdade na composição do ministério, tendo em vista a nova situação política criada em
decorrência da efetiva democratização do regime.
Na
economia vebleniana, vale lembrar, instituições representam hábitos, rotinas de
conduta bastante arraigadas num determinado momento histórico. A existência de
classe social que se abstêm do trabalho produtivo, identificada por ele e
chamada classe ociosa, representa uma instituição. Ipso facto, a
economia vebleniana é chamada de “institucionalista” em razão da ênfase que o
autor de situa sobre o que ele denominou de instituições, como ação do hábito,
presente na economia o negócio não é exatamente de quem cuida pessoalmente
dele: a financeirização da riqueza, na representação da produtividade através de papéis e a emulação, que talvez sejam os mais
importantes indícios contidos no livro The Theory of the Leisure Class
(1899), que diz respeito ao hábito dos indivíduos de se compararem uns com os
outros, invejosamente, melhor dizendo, o desejo das pessoas de serem
reconhecidas como melhores que os outros indivíduos. Entendemos que o que há de
mais importante é que Veblen dedicou-se mais à formação da chamada classe
ociosa e às suas derivações e consequências para a realidade socioeconômica, em
especial no que tange aos hábitos de vida e de consumo.
O
institucionalista assinalava que aquilo entendido pela filosofia de Marx como “consciência de
classe” era a representação de um hábito de pensar, um costume que os
indivíduos teriam acerca dos interesses como
classe. Eles poderiam muito bem compreender coletivamente que a função social do
sistema capitalista não lhes era benéficos, todavia, também
seria possível compreenderem sua natureza segundo outros hábitos de pensar.
Veblen chegou a concluir nesse quadro lógico de pensamento, que a propriedade
privada seria a causa principal da insatisfação dos menos abastados. Pois o que tem sido observado no capitalismo de Fin de Siècle era uma valorização dos
indivíduos de acordo com uma escala na qual a posse de bens era a unidade de
medida fundamental. Thorstein Veblen trouxe à baila sua insistência na
especificidade histórica, dizendo que tal propensão, tomada como inerente ao
homem pelos neoclássicos, era saldo do condicionamento que as instituições
provocam sobre as inclinações latentes dos seres humanos. O que exigia era
aquilo que ele buscava em sua formulação teórica: recusar a tese da
natureza humana hedonista investigando as determinações mais essenciais do
comportamento humano. Investigar mais a fundo as inclinações humanas e os
hábitos resultantes da interação, o que representa para Veblen investido
de propensões versus ambiente histórico conquanto o mister máximo da
ciência econômica.
Outra
importante reivindicação dos republicanos era o retorno dos impostos
arrecadados pela união à província (depois estados) de origem. O PRP viveu, na
oposição, de sua fundação, em 1873, até a Proclamação da República. Voltou,
após a Revolução de 1930, a ser um partido de oposição. Permanecendo, o PRP, na
oposição, de 1930, até sua extinção, com o advento do Estado Novo, em 1937 que
iria viger até 1945. Melhor ele começou em 1873 (18 de abril) e terminou em
1937 (2 de dezembro). Sua obra literária passa por diversos momentos;
inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase
modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a
epopeia bandeirante, detendo-se, em seguida, em temas mais intimistas,
cotidianos, ou mais próximos da realidade observável. A partir da década de
1950, com as tendências que têm sido chamadas per se por alguns críticos
analíticos de “segunda vanguarda”, aproximando-se do grupo concretista das
revistas Noigandres e Invenção, mostra claramente o seu espírito,
desde sempre, vanguardista. Em Jeremias sem-chorar, de 1964, Cassiano
Ricardo demonstra sua capacidade de reinventar-se, produzindo poemas ditos tipográficos
e no âmbito das comunicações visuais (cf. Canevacci, 2001), utilizando-se das
possibilidades espaciais da escrita, sem perder de vista suas próprias
características. Nas palavras do escritor: - situa-se o poeta numa linha geral
de vanguarda, na problemática da poesia de hoje, mas as suas soluções são
nitidamente pessoais.
Ancestralmente,
a ilha era a Marinatambal dos indígenas, e com o colonialista foi denominada Ilha Grande de Joannes. A ilha do Marajó, entre os
anos de 400 e 1300, era ocupada por cerca de 40 mil habitantes, residentes em
casas de chão batido sobre palafitas de terra, em uma sociedade de linhagem
materna. Desde a infância, as marajoaras desenvolviam a arte de modelagem da
argila, produção da cerâmica marajoara e o cultivo e manejo da mandioca. No
início da adolescência, as marajoaras tinham os corpos pintados e usavam uma
tanga de cerâmica decorada com traços referentes aos genitais. Em 23 de
dezembro de 1665, o rei Dom Afonso VI de Portugal outorga a António de Sousa
Macedo, seu secretário de Estado, a donataria da Capitania da Ilha Grande de Joanes,
constituída pelo território da atual Ilha de Marajó. Em 1754, a coroa
portuguesa compra as terras da capitania e reverte sua administração ao Estado
do Grão-Pará e Maranhão. Com uma área de 40.100 km², é a maior ilha costeira do
Brasil e a maior ilha fluviomarítima do planeta. É banhada ao mesmo tempo tanto
por águas fluviais quanto por oceânicas, mas também pelo rio Amazonas a
oeste e noroeste, pelo oceano Atlântico ao norte e nordeste e pelo rio Pará a
leste, sudeste e sul. É
A
classificação climática dada à região, conforme Köppen, é do tipo Ami, cujo
regime pluviométrico anual define uma estação seca, porém com total
pluviométrico suficiente para manter este período, não caracterizando a
presença de um déficit hídrico na região. A subdivisão climática da região,
segundo a classificação bioclimática da Amazônia de Bagnoul e Gaussen,
caracteriza-a como sub-região eutermaxérica que compreende clima equatorial com
temperatura média do mês mais frio superior a 20 ºC e temperatura média anual
de 26ºC. A precipitação anual é sempre maior que 2 000 milímetros. As estações
são inexistentes ou pouco acentuadas. A amplitude térmica é muito fraca e os
dias têm a mesma duração das noites. A umidade relativa do ar é alta (>
80%), com ausência total de período seco. Nesta região, predomina o centro de
massa de ar equatorial e surgem, também, bolsões de ar na foz do rio Amazonas. Outro
destaque da ilha: é o lugar de maior rebanho de búfalos do Brasil com cerca de
600 mil cabeças. Um programa de inovação tecnológica pretende intensificar a
pecuária paraense e transformar o Estado no primeiro produtor e exportador de
genética superior de bubalinos do Brasil. O Programa de Melhoramento Genético
de Búfalos com Inovação para o Estado do Pará é resultado de convênio entre a
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca e a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
O
Promebull vai utilizar sêmen importado da Índia e da Itália, países que já
possuem a base genética de búfalos domésticos, para introduzir genética
superior no rebanho paraense e elevar a qualidade dos animais. A Sedap vai
financiar a importação de sêmen e a inseminação de búfalas para pequenos
produtores e, desta forma, facilitar a importação pelos grandes criadores. O Promebull
foi iniciado na ilha do Marajó, há três anos, com utilização de sêmen nacional,
e agora será levado para o restante do Estado, começando pelas regiões do Baixo
Amazonas, nordeste e sudeste. “Optamos por fazer genética e não importar, mas
para isso é preciso atitude e dinamismo por parte dos criadores, para fazer o
Pará produzir com eficiência e modernização, aproveitando o imenso potencial
pecuário do Estado”, alertou o pesquisador da Embrapa, Ribamar Marques,
responsável pelo programa. A elevação da qualidade do rebanho bubalino
paraense, o maior do país, com mais de 600 mil cabeças (60% do rebanho
brasileiro), vai viabilizar futuramente um Teste Progênie (TP) para a
formação de sumários ou catálogos de reprodutores e matrizes geneticamente
superiores produzidos no Estado.
Poderá
transformar-se na consolidação do Pará como produtor e exportador de genética,
fortalecendo a cadeia produtiva do búfalo, com agregação de valor à carne e ao
leite. O programa será voltado especialmente à pecuária bubalina familiar
leiteira e inclui a capacitação com base na Inseminação Artificial por Tempo
Fixo (IATF), para viabilizar as práticas e processos inovadores de manejo
animal. O presidente da Cooperativa de produtores de Leite do Marajó, Emanuel
Lopes, foi um dos que adotaram a técnica de reprodução artificial na ilha. Ele
vendeu os dois touros que tinha e hoje das nove vacas inseminadas, cinco já
estão prenhas. - “Espero aumentar a produção diária de 30 litros para 100
litros de leite nos próximos três anos”. O secretário adjunto da Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Afif Jawabri,
destacou o apoio da iniciativa privada ao trabalho de melhoramento do rebanho e
com isso “agregar valor com a produção familiar de queijos”. Adriano Venturieri
afirmou que “essa ação diminui o abismo que separa o Marajó do restante do
Estado e representa um novo momento para a bubalinocultura paraense”. Para
Carlos Xavier, a diferença decorre do objetivo de “aprofundar a pesquisa é
fundamental para o sucesso do programa e para aproveitar as oportunidades do
mercado”. O Promebull insere-se no programa do Pará
2030, como a inclusão social, sustentabilidade e integração em todo o Estado. -
“O setor pecuário rende ao país uma receita de 5 bilhões de reais, 40% são da
pecuária diferenciada do Pará. Podemos aumentar essa participação, basta
conduzir a tecnologia para o lugar certo”, concluiu o pesquisador Ribamar
Marques.
Bibliografia
geral consultada.
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