quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Marcelo Crivella - Vocação Política & Racismo Religioso no Brasil.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*
Quem está com Deus luta contra o diabo e seus demônios”. Marcelo Crivella 
                            
                                        
 São muitas as representações dos nomes, as características e os poderes atribuídos ao Diabo, caricaturado como o “príncipe das trevas” na cultura de tradição ocidental. Na verdade, o Diabo é nada mais do que o resultado da fusão de muitas crenças de diversas entidades e de diferentes culturas. Aparece na Bíblia Sagrada como sendo a serpente. Tal referência só aparece a partir do Primeiro Livro de Reis, remontando época posterior ao exílio da Babilônia que seduziu Eva e Adão no paraíso, levando-os a comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mormente quando da agonia de Cristo no deserto, o Diabo aparece “tentando-o, oferecendo-lhe o mundo como recompensa para que Jesus abandone o plano de Deus para sua vida”. Da mitologia grega, ele é herdeiro direto de Hades, o Deus do mundo dos mortos, local para onde as almas dos condenados eram enviadas, após pagarem ao barqueiro Caronte; para entrar na morada de Hades era preciso passar por Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os portais do Tártaro.

O tridente ele herdou de Netuno, o Deus dos mares; os pés de bode eram de Pã. A aparência hedionda de Lúcifer só veio se concretizar a partir do fim do Império Romano (476 d. c.), quando a Igreja Católica passou a ocupar o vazio de poder deixado pela queda de Roma. Isso tudo veio se prestar perfeitamente para dar consistência para o projeto de poder de uma igreja que ambicionava reerguer o Antigo Império Romano e unificar a fé e as crenças por todo o mundo. Pode-se mesmo dizer que o Demônio seria uma espécie de oposto antagonista de Cristo; o seu inverso; a encarnação da maldade e da vilania. Dante Alighieri escreve A Divina Comédia, livro em que a alma do poeta percorre os Céus e os infernos. A crença em Deus era alimentada pelo temor nas forças das trevas; o Diabo passou a ser visto em Hereges, dissidentes de fé diversa, no que é relacional com bruxas, cientistas, judeus, neste caso, por receberem a culpa da prisão e condenação de Cristo. E por negarem que este seria o Messias anunciado no velho testamento, os judeus sempre foram perseguidos e associados ao Diabo e, mais tarde, ciganos.

Acreditava-se que desde o “início da criação” dos tempos o mundo testemunhava esta luta eterna entre Deus e o Diabo pelas almas dos humanos. Esta luta eterna entre Deus e o Diabo surge a partir da lenda da rebelião de anjos contra a autoridade de Deus-pai, quando Lúcifer, o anjo decaído, lidera uma legião de anjos, arcanjos e querubins numa tentativa frustrada de literalmente “tomar o poder no Paraíso”. Derrotado por Deus e pelos anjos e arcanjos que lhe permaneceram fiéis, Lúcifer teria sido banido por Deus para todo o sempre para morar no submundo dos infernos, local sombrio e terrível. Teria sido neste momento que Deus teria punido seu “Anjo de Luz”, tendo em vista que este é o significado da palavra Lúcifer; deformando seu corpo e seu rosto, tornando-o uma criatura abominável e repugnante. Mas antes o Arcanjo Lúcifer, segundo esta crença, era um rapaz belíssimo. Diz a lenda que quando Deus estava lançando Lúcifer aos infernos este teria dito: - É melhor reinar no inferno do que servir no paraíso! 
Marcelo Crivella é um político carioca, escritor e religioso pentecostal brasileiro. Ocupa o cargo de bispo (licenciado) da denominação neopentecostal Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), da qual é o principal representante no campo político-ideológico. Atualmente é Senador da República pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB) representando o estado do Rio de Janeiro. É um partido político brasileiro em organização recente desde 2003. O registro definitivo foi emitido em 25 de agosto de 2005. É presidido por Marcos Antônio Pereira desde dia 9 de maio de 2011. Até o início de 2006, o partido chamava-se Partido Municipalista Renovador (PMR),  fundado por partidários do vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, então presidente honorário do Partido Liberal, anteriormente reconhecido como Partido da República (PR), é um partido político brasileiro de direita fundado e registrado oficialmente em 2006. Atualmente detém a 3ª maior bancada na câmara dos deputados, atrás apenas do Partido Social Liberal (PSL) e do Partido dos Trabalhadores (PT). Como membro do chamado Centrão, o partido é base de apoio do governo do presidente Jair Bolsonaro, como também foi dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Com a crise política no Brasil e consequentemente tendo como resultado o golpe de Estado de 2016, o Partido Republicano Brasileiro deixa a base aliada e passa a se tornar um partido independente. 

A bancada do Partido Republicano Brasileiro (PRB) na Câmara ganhou três parlamentares, na quarta-feira (9), com as filiações dos deputados Lincoln Portela (MG), Lindomar Garçon (RO) e Silas Câmara (AM), durante evento no gabinete da Liderança do PRB. A legenda passa a contar agora com 21 deputados federais. O líder do PRB, deputado Márcio Marinho (BA), e o presidente nacional do partido, Marcos Pereira, destacaram a importância de receber deputados experientes. “É um prenúncio do que podemos fazer. São parlamentares experientes e estamos abertos para conversar. Sabemos respeitar os deputados e as peculiaridades de cada região”, ressaltou Marinho. - “Já vínhamos conversando com o Silas Câmara há muito tempo. O Lindomar Garçon era para ter sido eleito pelo PRB em 2014, mas só está vindo agora, por circunstâncias da política. Lincoln Portela, no quinto mandato, vinha sendo convidado a vir para o PRB desde 2011, mas também trouxe o filho Leonardo, deputado estadual em Minas, para o PRB”.

O senador Marcelo Crivella (RJ) elogiou a qualidade política dos novos integrantes do PRB. - “Tenho visto mudanças de partido por interesses diversos. Aqui a mudança é ideológica, o que engrandece o PRB”. O deputado Lindomar Garçon explicou que já vinha querendo há algum tempo se filiar ao Partido Republicano Brasileiro e comentou a dificuldade de votar determinadas matérias na Câmara em função das questões regionais. Ex-líder da bancada, o deputado Celso Russomanno (SP) explicou que há espaço para divergências na legenda: - “O nosso partido é diferente, pois sabemos entender os companheiros. Tanto comigo, quanto com o Márcio Marinho, quem tem dificuldade para votar alguma matéria nos fala e nós sempre entendemos”.   Silas Câmara disse estar muito feliz com a filiação ao PRB: - “Conheço como funcionam a Casa e os partidos políticos, e nada me dá mais prazer do que saber que estou numa legenda que respeita princípios que eu valorizo. Todos temos uma visão estratégica e crítica sobre o Brasil atual, mas, sabemos que o PRB sempre terá um comportamento racional para discernir o certo do errado”. Lincoln Portela também expressou a satisfação de entrar no PRB e destacou sua ligação com o senador Crivella: - “Estou muito alegre de poder voltar para casa. Para mim, é o que vale”. A filiação dos novos parlamentares contou com uma apresentação do deputado Sérgio Reis (PRB-SP), que cantou a música “Menino da Porteira”.

Marcelo Crivella foi eleito senador em 2002, com cerca 3,2 milhões de votos. Em 2010 foi o primeiro senador reeleito no estado do Rio de Janeiro em 24 anos. Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno da eleição municipal de 2016, em disputa com Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), fundado em 2004. Eleito com “folga” prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) pode ser a grande aposta evangélica para a presidência da República. No “Painel”, da Folha de S. Paulo de terça-feira (1°11/2016), uma candidatura de Crivella nacionalmente funcionaria como uma espécie de “test drive”. - “Chegará o momento em que o Brasil terá um presidente evangélico. É natural”, diz o bispo Robson Rodovalho, presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil. Ele coordena as candidaturas pentecostais e neopentecostais pelo território nacional. A ideia político-ideológica aludida naquela conjuntura era a de chegar à representação de um rebanho em torno de 150 parlamentares evangélicos em 2018. Crivella obteve 59,37% dos votos contra 40,63% do opositor Marcelo Freixo, professor e político brasileiro, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e atualmente deputado federal pelo Rio de Janeiro. Pelo mesmo estado foi deputado estadual por três mandatos consecutivos e presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). 


Ideologia fascista e viés etnocêntrico.

            Marcelo Ribeiro Freixo é professor e político brasileiro, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro, tendo sido o deputado mais votado do Brasil, em 2014. Ganhou notoriedade nacional quando presidiu a CPI das milícias no Rio de Janeiro, sendo inclusive, homenageado no filme: “Tropa de Elite”, do diretor José Padilha. É o atual presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ. Freixo foi colunista na Folha de S. Paulo, até julho de 2016, onde escreveu periodicamente textos de opinião sobre a conjuntura política, econômica e as questões sociais no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo. Também é membro da Fundação Lauro Campos, uma instituição “think tank” sem fins lucrativos, criada pelo PSOL, com o objetivo de ensejar um pensamento crítico comprometido com os valores humanistas do socialismo e da liberdade democrática e que busca promover discussões temáticas sobre o país e a América Latina. Foi candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pela coligação “Mudar é Possível” e teve como vice-prefeita na chapa a advogada e professora da UFRJ Luciana Boiteux, ficando em segundo lugar, no segundo turno, perdendo para Marcelo Crivella do PRB.     
            Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) de 1986 a 2005, Marcelo Freixo vem se posicionando no campo da esquerda política e contra a aproximação do partido a setores populistas e liberais. Em setembro de 2005, filiou-se ao recém-criado Partido Socialismo e Liberdade, pelo qual foi eleito deputado estadual para a ALERJ, em 2006, por ter sido o mais votado do partido, com 13.547 votos. Freixo foi militante do Partido dos Trabalhadores (PT) por duas décadas, num movimento que ajudou a construir, participando das articulações políticas, defendendo as causas sociais e direitos humanos, porém ainda não era filiado de início. Encorajado principalmente por Chico Alencar, ele atende aos pedidos de amigos e ingressa oficialmente na sigla, registrando-se em 1985. No Partido dos Trabalhadores que Marcelo Freixo obteve formação para caracterizar seu perfil político e uma estrutura consolidada em aspectos que o levava a conquistar os seus objetivos.

Em março de 2009, assumiu a presidência da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa. O deputado atua ainda, como membro da Comissão de Cultura e como suplente da Comissão de Educação. Além disso, é vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, que apura crimes de que são acusados conselheiros e técnicos do Tribunal de Contas, assim como um deputado estadual e prefeitos do estado.  Marcelo Freixo foi presidente da importante Comissão Parlamentar de Inquérito das Milícias, que visa a investigar a ligação de parlamentares com grupos paramilitares de extermínio no Rio de Janeiro. Passou 15 dias de exílio na Europa por conta de ameaças de morte. Em 2008, protocolou pedido de cassação de mandato do então deputado Álvaro Lins, que acabou cassado no dia 12 de agosto. Nas eleições de 2010, foi reeleito deputado estadual, pelo mesmo partido, com 177 253 votos e por isso, foi o 2º deputado mais votado do estado, perdendo apenas para Wagner Montes com 528 628 votos. Janira Rocha (RJ) foi eleita ajudada pela votação de Marcelo Freixo.  
É fantasmagórica a hipocrisia bispo Marcelo Crivella ao afirmar que o trabalho dos líderes religiosos africanos “se tornou um grande negócio na África, porque é motivado pelo maldito amor ao dinheiro”. A Igreja Universal é uma empresa que tem como representação econômica um negócio tão lucrativo com o dinheiro gerado por ela que o bispo Macedo construiu a Record, Crivella comprou seu luxuoso apartamento na Península da Barra, construindo templos faraônicos no valor de centenas de milhões de reais, como o “Templo de Salomão” em São Paulo e outros do mesmo tipo econômico de lucro estão planejados em Brasília e Curitiba. Cinicamente, após a divulgação do conteúdo de seu livro Crivella enviou ao jornal “O Globo” uma nota pedindo desculpas pelos erros em relação em que ele vivia “num ambiente de guerras, superstição e feitiçaria”. Talvez essa frase seja suficiente para demonstrar o quão é político o seu pedido de desculpas que e seu preconceito e/ou racismo em relação às crenças dos povos com quem conviveu e se demonstra intacto. O prefeito eleito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB) se pronunciou após ter sua vitória confirmada contra o candidato do PSOL, Marcelo Freixo. 
Em uma das bases eleitorais em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, Crivella falou com a imprensa sobre algumas ideias religiosas e agradeceu os votos dos seus eleitores. O candidato do PRB também rebateu as denúncias que surgiram durante a campanha no segundo turno. – “Vencemos uma onda enorme de preconceito por parte de uma mídia facciosa”. Em um dos momentos mais críticos, quando foram reveladas passagens do seu livro: “Evangelizando a África”, o prefeito eleito fez pesadas adjetivações sobre os católicos e outras religiões, apresentadas como “diabólicas”, além de afirmar que os homossexuais são um “terrível mal” e tem uma “conduta maligna”. No seu discurso, Crivella fez questão de agradecer o apoio das religiões em que ele criticou no livro. – “Quero agradecer a toda a igreja católica e também os eleitores umbandistas, kardecistas e até mesmo ateus”. O candidato do PRB diz que não vai ter uma “memória de vingança” e que o ambiente de eleição acaba hoje. – “O processo eleitoral termina aqui. Nós não temos memórias para calúnia e infâmia”, disse. “Nós vamos concentrar todas as nossas energias na nossa missão que é cuidar das pessoas do Rio de Janeiro”.
Foram dez anos em que o bispo racista Crivella - depois licenciado para sua carreira política – esteve na África para aumentar os negócios da “multinacional da fé”, a Igreja Universal do Reino de Deus. As práticas racistas, machistas e “LGBT fóbicas” que são profundamente atreladas a Igrejas como tem sido mentor intelectual, estão em cada página de seu livro como resultado desse período etnográfico.  Editado primeiro em inglês, com o título: “Mutis, Sangomas and Nyangas: Tradition or Witchcraft?” e simultaneamente pela editora da Universal, a publicação é um grande incitador de ódio exatamente contra as religiões de tribos africanas, os negros, os homossexuais e cristãos de outras vertentes religiosas. Ideologias como os “espíritos imundos” e “doutrinas demoníacas” são utilizados ideologicamente como conceitos e categorias para falar de religiões. Calúnias políticas são propagadas contra as crenças e costumes dos povos seculares africanos, como as “as tradições africanas permitem toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças de colo”.

As seitas de orientação cristã usam as noções de “pecado” e “santificação” como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. Vale lembrar que a saída do grupo pode acarretar diversos efeitos tanto sociais como psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de autoculpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil, sociologicamente, porque ela exerce controle sobre toda a vida individual (os sonhos) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) dos indivíduos associados a ela. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos. Embora o termo seja frequentemente usado apenas às organizações religiosas ou políticas, estende-se também à adesão a grupos militantes minoritários em tensão com a sociedade ampla.
Na publicação em inglês, em 1999, e em português no Brasil em 2002, Crivella diz que a Igreja Católica e outras religiões cristãs “pregam doutrinas demoníacas”. Ele afirma que a Igreja Católica “tem pregado para seus inocentes seguidores a adoração aos ídolos e a veneração a Maria como sendo uma deusa protetora”. Sobre as igrejas de matrizes africanas, Marcelo Crivella diz que abrigam “espíritos imundos” e que praticam o sacrifício de crianças. Em uma passagem diz que “as tradições africanas permitem toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças de colo”. Segundo a reportagem, práticas naturais de pertencimento de rituais como o sacrifício de animais são classificadas no livro como ritual satânico que “deve ser evitado”. A reportagem do periódico carioca registra que na introdução da edição brasileira, os sacerdotes africanos são considerados “feiticeiros e bruxos, conhecidos no Brasil como pais, mães e filhos-de-santo”.
Ele afirma que no hinduísmo, o sacrifício de crianças é feito como forma de obtenção de riquezas. Crivella responsabiliza demônios por condutas como vícios, adultério e opção pela homossexualidade. Segundo a reportagem, no livro, Crivella diz que gays não devem ser tratados com descriminação, mas diz que são vítimas desse terrível mal, vivendo sem paz e numa condição lamentável pelo ser humano. Ele afirma que esses "espíritos" podem ser transmitidos para gerações seguintes. – “O pai viciado e adúltero provavelmente passará o mesmo espírito para o seu filho”. – “E quando ele morre, o espírito se manifesta no seu filho que prontamente negligencia sua esposa e seus filhos para prosseguir nessa conduta maligna”. As posições racistas expressas na reportagem foram criticadas pelo seu adversário comunista na disputa à Prefeitura do Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), nas redes sociais e durante evento de campanha. Como fascista anticomunista “Crivella revela em seu livro quem é o verdadeiro candidato à prefeitura do Rio de Janeiro”.
Nem os budistas e os hinduístas são poupados. Em mais uma demonstração de racismo, o oriente é denominado como o “mundo amarelo”, e se afirma que nele “os espíritos imundos vêm disfarçados de forças e energias da natureza”. Em relação a Índia é denominada como “mundo vermelho”. Outros preconceitos são divulgados, como de que matam crianças em rituais religiosos. Os rituais variam, mas a ênfase é sempre no derramamento de sangue seguido da ingestão do sangue quente de uma criança inocente. “Cortar a parte de cima de um crânio é o método requerido”. Também sobre as religiões africanas se afirma que praticam o sacrifício ritual de crianças em cerimônias religiosas. É espantosa a sacanagem de Marcelo Crivella ao afirmar que o trabalho dos líderes religiosos africanos “se tornou um grande negócio na África, porque é motivado pelo maldito amor ao dinheiro”. A Igreja Universal é um negócio tão lucrativo que com o dinheiro gerado por ela Macedo construiu a Rede Record, Crivella comprou seu luxuoso apartamento na Península da Barra, e foram construídos templos faraônicos no valor de centenas de milhões de reais, como o “Templo de Salomão” em São Paulo e outros do mesmo tipo estão planejados em Brasília e Curitiba.    
Em primeiro lugar, a “conversão maximalista”, adotada pelo pentecostalismo clássico, conta com o controle e coesão do grupo para encaminhar o evangélico converso para um “novo mundo de crenças e disposições” que exigem o rompimento com todos os seus antigos referenciais, inclusive familiares. A conversão minimalista, por sua vez, tem maior autonomia e responsabilidade para articular as crenças, a cosmologia e os mitos pentecostais, com a trajetória anterior do converso. Seguindo uma tendência crescente no meio neopentecostal atual, segundo Mafra (2000), o dualismo na reinterpretação da trajetória de vida pós-conversão do fiel nem sempre implica uma ressocialização completa e negação das qualidades pessoais conhecidas. Isto nos remete para a maior flexibilidade dos movimentos pentecostais nas últimas décadas, incorporando, cada vez com maior facilidade, as referências e diferenças pessoais como recursos internos. Ser crente, afirma Novaes (2001), não significa romper com a família e a vizinhança. A conversão exige uma transformação individual, com uma substituição de uma fonte de sentido por outra, mas exige um trabalho lento de reconstituição de referente da memória do passado e do presente da pessoa.         
Em segundo lugar, o neopentecostalismo ou “terceira onda” do pentecostalismo é um “movimento sectário”, dissidente do evangelicalismo que congrega denominações oriundas do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais (batistas, metodistas, etc.). Surgiram sessenta anos após o movimento pentecostal do início do século XX, em 1906. Em alguns lugares são chamados de carismáticos, exceto no Brasil, onde essa nomenclatura é reservada quase exclusivamente para um movimento dentro da Igreja Católica chamado: “Renovação Carismática Católica”, mas vem sendo resgatado por pentecostais e neopentecostais no país, p. ex., a “paróquia” Capela Carismática (Manaus), que faz parte da Igreja de Deus Pentecostal do Brasil.
A maior e mais representativa igreja dessas correntes ideológicas vendo sendo representada pela a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), seguida pela Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo, a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Igreja Apostólica Fonte da Vida, o Ministério Nova Jerusalém, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, de Valnice Milhomens Coelho, ministra evangélica, fundadora e presidente do Ministério Palavra da Fé e da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (INSEJEC), atualmente sediada em Brasília, o Ministério Internacional da Restauração, Sara Nossa Terra Comunidade Cristã Paz e Vida e igrejas dissidentes que fazem parte ou se aproximam do Protestantismo Apostólico, que aceitam apóstolos, bispos e pastores ou missionários presidentes que norteiam o rumo de formação de suas igrejas no país e pelo mundo ocidental. Trata-se de um evangelismo massivo, pois boa parte delas possui ou se utilizam de mídias sociais como TVs, rádios, jornais, editoras ou literaturas próprias e portais ou sites no âmbito da rede mundial de computadores.
A INSEJEC tem trabalhos em Moçambique, Angola, Portugal, Suíça, Espanha, Alemanha, França, Médio Oriente, e no Japão. Em 6 de novembro de 2009 recebeu o título de Cidadã Honorária de Brasília, em sessão solene pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, realizada no Templo Sede da INSEJEC, em Vicente Pires, Brasília. Valnice é autora de diversos livros, como Personalidades Restauradas. É solteira, pois optou pelo celibato. Atualmente reside em Brasília. Atuou nas Eleições 2010, apoiando a presidenciável Marina Silva, do Partido Verde (PV). Em Julho de 2013, Valnice  Milhomens juntamente com diversos pastores e líderes evangélicos tiveram um encontro com a presidente Dilma Rousseff em Brasília. Em maio de 2014, participou da caravana da banda cristã “Diante do Trono”, que ocorreu na cidade de Jerusalém em Israel, onde houve a gravação do 17° álbum da banda, intitulado “Tetelestai”. Em verdade o grupo musical Diante do Trono gravou o seu primeiro álbum fora do Brasil, intitulado Tetelestai, gravado em Israel. Por conta do atraso no lançamento do álbum Tu Reinas, atrasou-se também em um ano o lançamento de Tetelestai, sendo este último lançado em junho de 2015. Com isso, o ano de 2015 foi o primeiro na história social do Diante do Trono a não ter uma gravação ocorrida ao vivo de álbum da série de álbuns principais do grupo.

Marcelo Crivella consorciado com seu tio enriqueceu explorando a fé de milhões de pobres brasileiros. Tirando dinheiro com seus dízimos, sem pagar imposto de renda já que todas as igrejas como indústria cultural não deveriam ser isentas no país. Tem atuado como grandes difusores da intolerância, do preconceito e do racismo, reforçando a perseguição político-ideológica que as religiões etnográficas de matriz africana sofrem historicamente no Brasil, a mal dita “lgbtfobia” bate recordes de preconceitos e de assassinato e violência cultural no país. A proibição do aborto que mata milhares de mulheres forçadas aos precários e perigosos abortos clandestinos e que muitas vezes são levadas à gravidez indesejada porque não há, praticamente educação sexual nas escolas pelo papel das bancadas evangélicas apoiado pelo golpe de Estado no Brasil em 2016. Não basta uma declaração de aparentes boas intenções de querer um Estado laico como faz o comunista Freixo para deixar seu oponente com a pecha de “religioso fanático”. Nenhum religioso é mais fanático no Brasil. É canalha, bandido ou ladrão. Será preciso rever a dialética hegeliana para esta questão tópica de engodo na relação religiosa?  Marcelo Crivella afirma que há quinze anos como Senador é “intransigente defensor da tolerância, da liberdade, da dignidade da pessoa humana”. Desse respeito do PRB pode ser visto com sua unânime aprovação à PEC 241, que congela gastos com saúde, educação e direitos sociais por 20 anos. Ele encerra  a nota reafirmando como, em sua carreira política, quem manda é “deus”: - “Erros cometidos no passado, há muito corrigidos pela maturidade do presente, só confirmam o que disse antes: sou candidato a prefeito, não a perfeito. Perfeito só Deus!". 
Valnice Milhomens Coelho foi “a primeira líder evangélica mulher a usar a televisão como instrumento de evangelização”. Em 1989, após uma série de seminários realizados em São Paulo, um pastor e empresário fez-lhe a proposta de colocar a filmagem dos seminários na TV por três meses. Assim, entrou na televisão no dia 24 de junho de 1989, com o programa “A Palavra da Fé”. Converteu-se ao protestantismo aos 15 anos de idade. Ao ser chamada para o ministério, ingressou no “Seminário de Educadoras Cristãs”, em Recife, recebendo o grau de bacharel em Assistência Social e Educação Religiosa. Em janeiro de 1971, foi enviada como a primeira missionária da Convenção Batista Brasileira à África, passando 13 anos como missionária em Moçambique e dois anos na África do Sul. Retorna ao Brasil dizendo ter um comando específico de Deus, em 1986: Tenho um ministério para ti no Brasil. Treina-me um exército! Em 5 de dezembro de 1987, nasce em Recife,  o Ministério “Palavra da Fé”, uma organização interdenominacional presidida por Valnice Milhomens.

Bibliografia geral consultada.

MARCHI, Euclides, A Igreja e a Questão Social. O Discurso e Práxis do Catolicismo Social no Brasil (1850 -1915). Tese de Doutorado em História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1989; CARNEIRO, Aparecida Sueli, A Construção do Outro como Não-ser Fundamento do Ser. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005; CANGUILHEM, Georges, Lo Normal y lo Patológico8ª edición. Siglo Veintiuno de Espanha Editores, 2005; ROMERO, Mariana Taube, “Agora Eu Faço a Diferença”: Projeto Amar (PA) e Christian Metal Force (CMF) Experiências Religiosas e Vivências do Mundo entre Grupos de Jovens da Igreja Renascer em Cristo em Florianópolis. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina, 2005; CONRADO, Flávio Cesar dos Santos, Religião e Cultura Cívica - Um Estudo sobre Modalidades, Oposições e Complementaridades Presentes nas Ações Sociais Evangélicas no Brasil. Tese de Doutorado em Antropologia. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; BRAGA, Danilo Fiani, Pentecostalismo e Política: Uma Geografia Eleitoral dos Políticos Ligados à Igreja Universal do Reino de Deus no Município do Rio de Janeiro – 2000 a 2006. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008; ZOPPEI, Emerson, A Educação não Escolar no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; MACHARETE, Filipe Ribeiro, Os Evangélicos da IADJN e PIB-SG e a Política. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História Social do Território. São Gonçalo: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; NEVES, Ernesto, “Marcelo Crivella Suspende Agenda após Repercussão Negativa de Livro que Ataca Religiões e Homossexuais”. Disponível em: http://www.veja.abril.com.br/10/2016; PARDAL, Fernando, “A Evangelização de Crivella: Mentiras, Racismo e Intolerância”. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/17/10/2016; entre outros. 

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