sábado, 14 de novembro de 2015

Aporética de Zorba, o Grego – 50 Anos Depois!


Ubiracy de Souza Braga*

                         O não existente é aquilo que não desejamos suficientemente”.  Níkos Kazantzákis
 
                 
A cultura da Grécia Antiga é a base sobre a qual se eleva acultura da civilização ocidental. Como sabemos, exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega antiga teve influência na linguagem, na política, no sistema educacional, na filosofia, na ciência, na tecnologia, na arte e na arquitetura moderna, particularmente durante a renascença da Europa ocidental e de resto durante os diversos reviverem neoclássicos dos séculos XVIII e XIX. Conceitos sociológicos como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de pleno desenvolvimento nos manuscritos dos gregos. Os historiadores e escritores políticos cujos trabalhos sobreviveram ao tempo eram, em sua maioria, atenienses ou pró-atenienses e todos conservadores. Por isso se conhece melhor a história de Atenas do que a história das outras cidades. Além disso, esses homens concentraram seus trabalhos em aspectos políticos, militares e diplomáticos, ignorando o que veio a se conhecer modernamente por áreas de conhecimento em história econômica e social. O homem é criação propiciada pelo processo real de transforemação da realidade e por uma formação ideal exagerada da faculdade da imaginação que faz a essência do homem criadora.
          Para que a espécie humana pudesse sobreviver, a psique precisou ser socializada e dar sentido a um mundo aparentemente sem-sentido natural-biológico. Ao criar as significações, institui-se a sociedade que é a origem de si mesma. Não se poderia pensar a humanidade fora do mundo de significações, ou a subjetividade, a partir do termo “para si”, das representações das instituições sociais. O “para si” é inferido a partir das instancias,  interdependentes, em que todas existem, mas nenhuma se mantém sem a outra, numa completa relação de atividade e reciprocidade representando a totalidade do sujeito. Enfim, Castoriadis admite que é impossível fazer filosofia sem uma ontologia, isto é,  sem uma interrogação sobre o ser, mas, ao contrário do que possa pensar aquele para quem ontologia soa como “palavra proibida”, sua reflexão é inteiramente articulada à questão política. Não sendo, pois, uma idealização, mas um pensamento radical sobre a possibilidade de uma sociedade na qual os homens tenham consciência de seu poder. Por sua vez, o imaginário radical enquanto imaginário social aparece como corrente do coletivo anônimo, traduzindo-se na sociedade e no que para o social-histórico é posição, criação e fazer ser. Duas dimensões não incomunicáveis nem estáticas, embora a dimensão de análise psíquica, a todo tempo, tenha a sua participação oculta na formação do que é próprio na criação.
   
                                        

Níkos Kazantzákis nasceu em 1883 em Heraklion, Creta, então sob o jugo do Império Otomano. Ele é o mais velho dos quatro filhos de Mikhalis Kazantzákis (1856-1932), comerciante e proprietário de terras, e Maria Christodoulaki (1862-1932). Durante a revolta cretense de 1897-1898, ele se refugiou com sua família na ilha de Naxos. Estudou francês e italiano na Escola Comercial Francesa de Sainte-Croix. De 1902 a 1906, estudou na Universidade de Atenas e obteve o Doutorado em Direito. Ele compôs suas primeiras obras e publicou seu primeiro romance: Le Lys et le Serpent. De 1907 a 1909, foi para Paris estudar filosofia e fez os cursos de Henri Bergson que se tornará um de seus mestres, ele retém a teoria do momento vital. Ele também descobriu o pensamento de Nietzsche, ao qual dedicou sua tese intitulada: Friedrich Nietzsche na Filosofia do Direito e da Cidade. Em 1910, de volta à Grécia, traduz obras de filosofia. No ano seguinte, ele se casou com Galatia Alexiou.  Em 1912, ele publicou ensaio sobre Bergson, depois se apresentou como voluntário no front durante as guerras dos Bálcãs.

Em 1914, conhece o poeta Ángelos Sikelianós com quem peregrina durante dois anos (nomeadamente ao Monte Athos) e que o infunde com uma forte consciência nacionalista. Em 1917, conheceu Georges Zorbas, posteriormente ícone do romance Alexis Zorba, e trabalhou com ele numa mina de lenhite na região grega de Mani. No ano seguinte, ele viaja e reside na Suíça. Nomeado Secretário-Geral do Ministério da Assistência Pública em 1919, foi responsável pelo repatriamento da população grega do Cáucaso após a Revolução Russa de 1917. Tendo renunciado ao cargo, viajou para a Alemanha, Creta, Áustria e Itália entre 1921 e 1924. Conheceu Éleni Samiou em Atenas e iniciou sua Odisséia, sua grande obra poética de 33.333 versos de dezessete sílabas. De 1925 a 1928, permaneceu na URSS com o escritor romeno de língua francesa Panaït Istrati, então na Palestina Obrigatória, Espanha, Itália, Chipre, Egito e Sudão. Ele conhece Pandelís Prevelákis, amigo mais querido, e também o escritor soviético Maxim Gorky. De 1929 a 1936, ele viajou para a Tchecoslováquia, França, Aegina, Espanha (durante a guerra), China e Japão. Ele escreve roteiros de filmes e diários de viagem. Em 1937 ele construiu uma casa em Aegina. No ano seguinte, publicou sua Odisseia, em sua sétima versão, e foi para a Grã-Bretanha. Durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), ele reside na ilha de Aegina, onde se dedica a escrever sua obra-prima para o cinema contempoorâneo Alexis Zorba

No final do conflito social, casou-se pela segunda vez com Éleni Samiou, fez parte do governo e criou um partido político: o Sindicato Socialista dos Trabalhadores. Em 1946, ele fez viagens oficiais à Grã-Bretanha e à França. Nesse mesmo ano, o romance Alexis Zorba foi publicado e teve grande sucesso. No ano seguinte, foi nomeado Conselheiro de Literatura da UNESCO, mas renunciou ao cargo em 1948 e mudou-se para Antibes, na França. Ele viajou para a Espanha durante o ano de 1950 e foi agraciado com o Prêmio Internacional da Paz. Ele então começou a escrever seu romance A Última Tentação, que terminou no ano seguinte. Por dois anos (1951-1952), ele ficou na Itália, Áustria, Holanda, mas em 1953, foi hospitalizado em Paris por uma doença no olho direito. Ao mesmo tempo, a Igreja da Grécia o atacou por seu último trabalho e, em 1954, A Última Tentação foi colocada na lista negra do Papa. Vítima de leucemia, Kazantzakis é tratado na Alemanha, em Freiburg im Breisgau. Em 1955, ele partiu para a Itália e Suíça e conheceu o Dr. Albert Schweitzer (1875-1965) na Alsácia. No ano seguinte, ele foi tratado novamente nas cidades de Freiburg e Viena antes de ir para a Eslovênia. Em 1957, viajou para a China e o Japão, onde adoeceu. Ele foi tratado clinicamente em Copenhague e depois novamente em Freiburg, onde, após a gripe asiática, morreu em 26 de outubro. 

Ele será repatriado para Heraklion, onde será enterrado em5 de novembro nas muralhas da cidade, devido à proibição do clero do seu sepultamento no cemitério. Em seu túmulo está inscrito o epitáfio de seu ensaio Ascetismo: “Não espero nada, não tenho medo de nada, sou livre”. Pensador influenciado por Nietzsche e Bergson, cujos ensinamentos seguiu em Paris, também foi tentado pelo marxismo e se interessou pelo budismo. “Ele perseguiu uma busca tateante que o fez abandonar o cristianismo em favor do budismo, depois do marxismo-leninismo, antes de trazê-lo de volta a Jesus sob a égide de São Francisco”. Embora sua obra seja marcada por um anticlericalismo real, permanece o fato de que sua relação com a religião cristã deixou fortes traços em seu pensamento: um gosto pronunciado pelo ascetismo, um poderoso dualismo entre corpo e mente, a ideia de caráter redentor do sofrimento. Assim a leitura da vida dos santos, que ele deu à sua mãe quando criança, deixou uma marca duradoura nele. Mas antes de tudo, é o modelo de Cristo, e mais particularmente a imagem de Cristo ascendendo ao Gólgota, que atravessa a sua obra como eixo fundador. Embora libertado da religião, como é inequivocamente evidenciado por seu famoso “Não espero nada, nada temo, sou livre”, Kazantzákis permanecerá o herdeiro deste “Cristo ideal” que também se funde, para sublinhá-lo, com aquele emprestado da cultura guerreira de uma Creta feroz ainda sob o jugo turco em seus anos de infância.

Destas duas contribuições, Kazantzákis trará sua própria fonte: uma ética poderosa na qual as palavras lutam, “ascensão”, rejeição de esperanças, busca por uma certa imortalidade através da elaboração de um super-homem que será encarnado no Ulisses de sua Odisseia, um épico poético de 33.333 versos que ele considerou ser seu Obra. Mas Kazantzákis também era um homem de ação. Jornalista enviado como correspondente em várias regiões do mundo, especialmente durante a Guerra Civil Espanhola para o diário Kathimeriní, também exerceu funções oficiais na Grécia em várias ocasiões, nomeadamente organizando o repatriamento de centenas de milhares de refugiados micrasiatos aos seguintes a Revolução Russa de 1917 e o desmantelamento do Império Otomano em 1922 e uma breve passagem pelo governo após a 2ª guerra mundial. Observe que seus romances, reconhecidos dos leitores franceses, representam apenas uma pequena parte da produção literária desse prolífico autor que soube explorar quase todos os gêneros possíveis literários. Níkos Kazantzákis era tanto um homem de ação quanto um estudioso. - “Homem verdadeiro é aquele que resiste, que luta e não tem medo de dizer Não, nem mesmo a Deus”. Este foi o motor de sua vida. Sua busca por autenticidade e verdade o levou ao redor do mundo em terrenos escorregadios: Guerra dos Balcãs, Guerra Civil Espanhola, Rússia e China em revolução. Ele foi de doutrina em doutrina, defendendo causas que tocaram seu coração. 

Do ponto de vista histórico e literário “Zorba, o Grego”, também é reconhecido como “Life and Adventures of Alexis Zorbás”, é uma forma mais livre para o romance de autoria de Nikos Kazantzákis publicado pela primeira vez em 1946, na Grécia, e depois na versão inglesa em Londres em 1952. Tem como personagem principal um homem fictício chamado Alexis Zorba, inspirado no trabalhador mineiro George Zorbás que viveu entre 1867 a 1942. É considerado o mais importante escritor grego do século XX, ipso facto escolheu sua Creta natal para ambientar o romance. Mas os acontecimentos reais que lhe inspiraram Zorbás deram-se na Messênia, no sul do Peloponeso, para onde foi, assim como o narrador do livro, explorar uma mina por volta de 1917. Foi aí que reconheceu o macedônio Yióryis Zorbás, que se tornou seu amigo e um dos personagens mais importantes da literatura moderna. A literatura em grego não apenas foi produzida em uma área muito mais extensa como também seus autores nem sempre tinham o grego como língua materna. A mudança social marca a passagem para a ideia de pós-modernismo. É produto da crise em níveis da sociedade, que inclui economia,  cultura e o ambiente.
O declínio do papel do Estado promove uma organização da sociedade mais horizontalizada. Esse período do chamado de capitalismo tardio é ladeado por profundas transformações políticas, culturais e comportamentais em todo o mundo ocidental. Nesse contexto histórico e político, o circuito artístico internacional de cinema é deslocado da Europa para ser representado pela produção norte-americana. A crise da arte nesse período está circunscrita na passagem dos anos 1960 para a reestruturação dos anos 1970, quando ocorre uma ruptura definitiva e drástica com o cânone da escultura e um esgarçamento dos conceitos de todas as categorias artísticas. Muitos dos elementos da velha tradição estão refletidos na literatura grega moderna, inclusive nas obras de dois ganhadores do Nobel: Odysseus Elytis e Giórgos Seféris. O filme foi rodado na ilha grega de Creta. Lugares específicos incluem a cidade de Chania, a região de Apocórona, nomeadamente na península de Drápano, e a península de Acrotíri. A famosa cena onde o personagem interpretado por Quinn dança o Sirtaki na praia do vilarejo de Stavros. Em verdade é uma dança popular de origem grega, que foi criada em 1964 no filme Zorba, o grego. Não é uma dança tradicional, mas uma bela mistura de ritmos lentos e rápidos da dança foclórica grega hasapiko e a música é chamada de Zorba`s dance.
           Vale lembrar que Electra é a personagem principal de uma peça homônima de Sófocles e de outra por Eurípides, além da paródia de Ésquilo. Ao longo de sua carreira como poeta e dramaturgo, Eurípedes escreveu cerca de 90 peças de teatro, 19 dos quais sobreviveram através de manuscritos. Dos três mais famosos dramaturgos trágicos para sair da Grécia antiga-os outros são Ésquilo e Sófocles-Eurípides foi o último e talvez o mais influente. Como todos os grandes dramaturgos de seu tempo, Euripides competiu nos festivais dramáticos atenienses anual realizada em honra do deus Dionísio.Amargurada e impulsiva, Electra, levada mais pela fúria do que pela maldade, induziu seu irmão Orestes a assassinar sua mãe, vingando a morte de seu pai, arquitetado por Clitemnestra. Esse seria um ato dos quais ambos se arrependeriam, pois, antes de sua morte, a rainha havia dito que amava os filhos, e que a tratava mal para que Egisto, seu amante e também inimigo e assassino de Agamêmnon, não desconfiasse de seus sentimentos pela filha, e, assim, não fizesse mal a esta. A princesa não se deixando levar pela compaixão, a mata sangrentamente. Mais tarde, Electra desposa Pílades, amigo de Orestes e seu primo, o filho primogênito do rei Estrófio. O termo “complexo de Electra” é usado na psicanálise como a contrapartida feminina do “complexo de Édipo”, para designar conceitualmente o desejo da filha pelo pai. O termo foi proposto por  Carl Jung, embora Freud, tenha usado o “complexo de Édipo” em ambos os casos, sem fazer distinção.                       
O romance também teve uma adaptação para a Broadway chamada Zorba, sob a direção de Harold Prince, tendo estreado no dia 16 de novembro de 1968, no Teatro Imperial, com o total de 305 apresentações e doze pré-visualizações. A peça recebeu a coreografia de Ron Field e o elenco incluía Herschel Bernardi, Maria Kamilova, Carmen Alvarez, John Cunningham e Lorraine Serabian, obtendo diversos prêmios, entre as quais o Tony Award na categoria de Melhor Coreografia.  Nos anos 1970, a peça fez uma turnê pelos Estados Unidos e mais tarde ocorreu um revival sob a direção do próprio cineasta  Michael Cacoyannis, coreografada por Graciela Daniele, com estreia em 16 de outubro de 1983, no Teatro Broadway, com 362 apresentações e 14 pré-visualizações, contando com Anthony Quinn e Lila Kedrova e as presenças dos atores Robert Westenberg, Debbie Shapiro e Rob Marshall. Em 1999, um curta-metragem foi realizado na Escócia, com o título de Billy and Zorba, mas que neste caso, mítico, narrava o aparecimento de um homem que acreditava ser “Zorba, o Grego”. Iain De Caestecker nasceu em Glasgow na Escócia. Ele tem uma irmã gêmea e é um denter seus quatro irmãos, seus pais são médicos. Sua mãe, Dra. Linda De Caestecker, é Diretora de Saúde Pública (DPH) do NHS Greater Glasgow and Clyde, o maior conselho de saúde pública da Escócia.
Ela trabalhou como obstetra e ginecologista, em diferentes partes do Reino Unido e na África Ocidental. Ela é professora honorária da Universidade de Glasgow. De Caestecker foi para Hillhead Primary School e completou com sucesso um HND em Atuação e Performance no Langside College. O original de 1964 é referenciado no filme My Big Fat Greek Wedding, um filme independente de comédia romântica de 2002 dirigido por Joel Zwick e escrito por Nia Vardalos, que também protagoniza o filme como Fotoula Toula Portokalos, uma mulher greco-americana de classe média que se apaixona por um homem não-grego branco anglo-saxão protestante de classe média alta Ian Miller. My Big Fat Greek Wedding começou como uma peça autobiográfica escrita e estrelada por Vardalos, apresentada por seis semanas no Hudson Backstage Theater em Los Angeles no verão de 1997.Vardalos mais tarde afirmou que ela só escreveu a peça para obter um agente melhor. A peça foi baseada na própria família de Vardalos em Winnipeg no Canadá e em sua experiência de se casar com um homem não-grego (ator Ian Gomez). A peça era popular, e foi vendida pagando do próprio bolso um anúncio no jornal, em parte devido à também comercialização de Vardalos através de igrejas ortodoxas gregas na área. Um número de executivos de Hollywood e celebridades viram a peça, incluindo a atriz Rita Wilson, que é de origem grega; Wilson convenceu seu marido, o ator Tom Hanks, a vê-lo também. É uma comédia romântica de Joel Zwick de 2002, apresentado pela CBS em 2003, intitulada: My Big Fat Greek Life, bisado na comédia My Life in Ruins de 2009.
    Falecido em 25 de julho de 2011, aos 89 anos, o diretor Michael Cacoyannis foi um dos maiores nomes do cinema grego entre as décadas de 1960 e 1970. Nascido na ilha de Chipre estudou Direito na Inglaterra, onde trabalhou na BBC. De volta à Grécia, alcançou o maior sucesso de sua carreira com o clássico Zorba, O Grego (1965), mas ficou marcado positivamente por sua espetacular trilogia troiana, formada pelos filmes adaptados das peças clássicas de Eurípides (cf. Souza Junior, 2015): Electra, A Vingadora (1961), As Troianas (1971) e Iphigenia (1977). Os três longas-metragens têm como background a Guerra de Tróia,  um grande conflito bélico entre os Aqueus das cidade-estados da Grécia e Troia, ocorrido entre 1 300 a.C. e 1 200 a.C. e, em primeiro plano, o sofrimento humano causado pelas mudanças políticas. Electra demonstra como o abuso do poder não sai impune e a revolução sangrenta subsequente; em As Troianas, os vitoriosos sacrificam parentes inocentes de seus inimigos; e, em Iphigenia, quem escolhe a guerra deve pagar pelo seu preço desgraçadamente - a morte de crianças. Quantos inocentes podem ainda ser sacrificados?   Escrito em primeira pessoa, o texto surge com a narrativa de um diário do jovem escritor sobre o tempo despendido ao lado de Zorbás.      
          
As proezas vividas por Zorbás são contadas por ele mesmo. Mas, enquanto debate alguma questão com o narrador, a quem tenta demonstrar que é possível viver a vida de maneira menos enfadonha. Entremeando questionamentos filosóficos sobre a existência com as histórias vividas por Zorbás, o narrador trata do que não poderia ser mais humano: a passagem do tempo e a angústia de não conseguir de fato viver. O filme representa um clássico sobre as relações humanas e sociais: sobre a miséria e a glória de um homem, o fracasso e a amizade, os obstáculos para que se possa obter uma vida feliz. Enfim, a necessidade de enfrentar os problemas do dia a dia para poder viver uma vida de verdade. O tema Sirtaki, de Mikis Theodorakis, tornou-se popular como canção e dança especialmente em festas. Na Grécia, o ator é felicitado gloriosamente pelo seu desempenho estético como o “bobo” da cidade.                 
Também real é o amigo Stavridákis, que no começo do livro é o homem que caracteriza o narrador como “roedor de papéis”, levando-o a mudarem o rumo de sua vida. Stavridákis foi diplomata de carreira e junto com Kazantzákis, ministro da Previdência e Assistência Social da Grécia e Yióryis Zorbás repatriaram 150.000 gregos estabelecidos no Cáucaso, onde eram perseguidos pelos revolucionários russos na segunda década do século passado. Questões políticas e certa crítica ao nacionalismo perpassam a história. Zorbás, por exemplo, diz que pela pátria matou, roubou, incendiou aldeias. - “Afinal, eu criei juízo, agora olho para os homens e digo: - Esse é um bom homem, aquele é mau’. Não interessa se é búlgaro ou grego, para mim dá no mesmo”.  Questões políticas também são citadas historicamente como o autor ter perdido o Nobel de Literatura para Albert Camus, em 1957. Há a suspeita real de que a diplomacia grega tenha interferido para que ele fosse preterido anacronicamente do ponto de vista do ativismo comunista.
Autor de dezenas de livros que incluem ensaios filosóficos e guias de viagens, além de traduções para o idioma grego de títulos como a “Divina Comédia”, de Dante, e “Fausto”, de Goethe, Kazantzákis construiu um personagem que se tornou maior do que pretendeu. Levado ao cinema em 1964 pelo diretor Mihalis Kakogiannis, Zorbás, o Grego tornou-se universal. O personagem ganha corpo na excelente interpretação de Anthony Quinn, de Lila Kedrova, no papel de Madame Hortense, a velha prostituta francesa que se apaixona por Zorbás, o filme tem o poder de traduzir perfeitamente a desenvoltura corporal de Zorbás tendo como cenário a ilha grega de Creta. Lugares específicos incluem a cidade de Chania, a região de Apocórona, nomeadamente na península de Drápano, e a península de Acrotíri. A famosa cena em que Anthony Quinn dança o Sirtaki ocorre na praia do vilarejo de Stavros.  Curiosamente, o filme não foi nominado para o Óscar de melhor ator coadjuvante com Sotiris Moustakas, aparentemente devido à sua participação no elenco considerada pelos críticos como curta demais, como se a interpretação artística revelasse tempo/movimento.
A Grécia, em grego: Ελλ?δα, oficialmente República Helênica, é um país europeu localizado na parte meridional dos Bálcãs e confina a norte com a República da Macedônia, com a Bulgária, e com a Albânia, a leste com a Turquia, quer em fronteira terrestre, quer com fronteira marítima no mar Egeu, a sul com o mar Mediterrâneo e a oeste com o mar Jônico, pelo qual tem ligação com a Itália. Localizada no sudeste da Europa, junto de Ásia e África, a Grécia é o berço de nascimento da democracia, da filosofia ocidental, da dialética, dos Jogos Olímpicos, da Literatura ocidental e da historiografia, bem como da ciência política, e dos mais importantes princípios matemáticos. E, além disso, o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo os gêneros drama, tragédia e comédia. A Grécia é desenvolvida de forma plena, embora economicamente condicionada pelas políticas ocidentais desenvolvimentistas desde a fenomenologia de Hegel de 1807 e os debates políticos de Marx de 1867.
Basil representa um escritor Greco-britânico que cresceu na Inglaterra e passa por uma crise de criatividade e parte para Creta, terra natal de seu pai. Enquanto espera para embarcar no navio que o levará à ilha, cuja saída está atrasada por causa do mau tempo, oportunamente conhece Zorba, um grego simples e entusiasmado. Com vários apelidos, segundo ele próprio conta que um deles é “Epidemia”, pois espalharia o caos onde passa. Zorba simpatiza com Basil e pede que ele o acompanhe na viagem, como seu intérprete e talvez cozinheiro. Basil pretende reabrir a mina de linhito de seu pai. Zorba conta a experiência com mineração e Basil concorda com sua companhia. A mina necessita de reparos, mas Zorba convence um grupo de monges que permita remover um pouco da madeira da floresta deles, que fica em uma montanha próxima e inventa um meio de transportá-la para a mina. Quando Zorba e seu patrão retornam à cidade, a velha prostituta ajuda o inglês a superar sua timidez. Assim, ele toma coragem e vai visitar a viúva e os dois acabam fazendo amor.
              Mas rumores começam a percorrer a ilha após o escritor ter sido visto entrando na casa dela e um dos muitos admiradores da viúva é tomado pelo desespero e em seguida se suicida. Em virtude deste acontecimento, os aldeões começam a apedrejá-la e o escritor, testemunhando tudo aquilo, manda chamar Zorba. Quando ela está prestes para ser esfaqueada, Zorba chega e interfere, fazendo o agressor soltar a arma, mas quando tudo parecia contornado ela, em um momento de descuido, é apunhalada pelo pai do jovem que se matara. Sentindo que a prostituta estava prestes a morrer, Zorba bondosamente concorda em se casar com ela e enquanto trabalha na mina fica sabendo que a saúde dela piorou. Ele volta rápido e ela morre em seus braços mas, apesar das mortes, o trabalho não pode parar e a vida continua com todo seu esplendor, não importando o que aconteça. Zorba é um cântico à liberdade do grego, consciente de sua historicidade diante do mundo que vê na existência terrena, uma dimensão do mundano e transitório  arquétipo de seu único esteio antes da aniquilação.   
Bibliografia geral consultada.
KAZANTZAKIS, Níkos, Testamento para El Greco. Tradução de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1975; POULANTZAS, Nicos, A Crise das Ditaduras - Portugal, Grécia e Espanha. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1976; CASTORIADIS, Cornelius, L`Institution Imaginaire de la Société. Paris: Éditions Du Seuil, 1975; Idem, “From Marx to Aristotle, from Aristotle to Us”. In: Social Research 45 (1978); Idem, L`Enigma del Soggetto: L`Immaginario e Le Istituzioni. Itália: Edizione Dédalo, 1998; CANDIDO, Antonio et al, A Personagem de Ficção. 7ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 1985; MORIN, Edgar, Le Cinema ou l`Homme Imaginaire. Paris: Éditions Minuit, 1978; BOBBIO, Norberto, Il Futuro della Democrazia. 1ª edizione. Itália: Einaudi Editore, 2005; BRETTHAUER, Lars; GALLAS, Alexander; KANNANKULAM, John & STÜTZLE, Ingo (eds.), Poulantzas lesen: Zur Aktualität Marxistischer Staatstheorie. Hamburg: VSA-Verlag Editor, 2006; MOTTA, Luiz Eduardo, “Nicos Poulantzas, 30 anos depois”. Disponível em: Rev. Sociol. Polit. Vol.17 n° 33. Curitiba, Jun. 2009; PIRES, Francisco Murari, “Machiavel et Thucydide: le(s) Regard(s) de l’Histoire et les Figurations de l’Historien”. Disponível em: Action Politique et Histoire: Le narrateur homme d’action. Sous la direction de Marie-Rose Guelfucci. Disponível em: Cahiers des Études Anciennes, 47 (2010): 271-289; BERNARDES, Cartolina Donega, A Odisseia de Nikos Kazantzakis: Epopeia Moderna do Heroísmo Trágico. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. São José do Rio Preto: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2010; Artigo: “Nos Embalos de Zorbás, o Grego”. Disponível em: http://veja.abril.com.br/24/07/2011; KAZANTZAKIS, Nikos, Vida e Proeza de Alexis Zorbás. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Grua, 2011; JAEGER, Werner, Paidéia: A Formação do Homem Grego. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011; FERREIRA, Evandson Paiva, Filosofia, Democracia e Autonomia: O Pensamento de Cornelius Castoriadis e a Formação Humana.  Tese de Doutorado em Ciências Humanas. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2012; SOUSA JUNIOR, Waldir Moreira de, As Fenícias de Eurípedes: Estudo e Tradução. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e Vernáculas. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2015; entre outros.   
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).               

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