sábado, 28 de novembro de 2015

Giordano Bruno - Inquisição, Metafísica & Tribunal Eclesiástico.

                                   Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

                “Foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam queimado vivo”. Luigi Firpo

                     
Giordano Bruno notável frade dominicano italiano nasceu em Nola, Reino de Nápoles em 1548 e foi queimado vivo em Roma, no Campo de Fiori, em 17 de fevereiro de 1600.  Foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana, reconhecida na história política da religião como “Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício”, sob a acusação errônea de heresia ao defender erros teológicos no âmbito da história social da filosofia e o conhecimento da Terra como centro do universo. Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino, seu nome de batismo era Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade. No Seminário, estuda o expoente da filosofia escolástica, Santo Tomás de Aquino que foi fortemente influenciado por Aristóteles e Averróis. Giordano Bruno os interpreta analiticamente como arquétipos da doutrina Católica obtendo seu doutorado em Teologia.  

Giordano Bruno foi um frade, filósofo e escritor da ordem dos dominicanos. Viveu entre 1548 e 1600, quando foi condenado pela Santa Inquisição. Conheça alguns aspectos curiosos sobre sua vida, obra e ideias. Giordano Bruno foi um monge italiano da Ordem Dominicana, na qual ingressou aos 15 anos de idade. Também conhecida como Ordem dos Pregadores, a Ordem dos Dominicanos foi fundada na França por São Domingos de Gusmão. Chamava-se Felippo Bruno, mas mudou o nome para Giordano na ocasião em que recebeu o hábito de frei dominicano. Giordano foi um grande estudioso da filosofia aristotélica, criada pelo filósofo grego Aristóteles, e escolástica, fundada por Tomás de Aquino (por sinal, estudou no mesmo convento em que Aquino viveu). Formou-se em teologia, mas abandonou o hábito pouco tempo depois. Chegou a adotar o Calvinismo, no qual permaneceu durante pouco tempo. Costumava negar qualquer tipo de imagem religiosa que não fosse o crucifixo. Adotou ideias consideradas excêntricas pela Igreja Católica, entre elas a de que os homens não possuíam capacidade para entender o conceito de Deus, que a tudo abrangia e estava em todo lugar. Deus seria uma espécie de inteligência cósmica que sustentava a vida, não um velho barbudo centrado num trono celestial e preocupado com picuinhas da vida humana.

Acreditava que todos os seres possuíam uma alma que não se perde após a morte, mas transforma-se. Defendeu com convicção a ideia de que a verdade deve prevalecer sobre as crenças. Dizia também que “a verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria”. Ao contrário de outros estudiosos da época, Bruno abraçou o heliocentrismo defendido pelo astrônomo Nicolau Copérnico. Mais do que isso, ele acreditava ser o universo infinito e salpicado de estrelas com sistemas solares próprios. Giordano Bruno percorreu quase toda a Europa dando aulas e divulgando suas teorias. Passou por cidades como Praga, Frankfurt, Toulouse, Paris, Gênova e Londres, onde viveu sob proteção do embaixador francês. Foi durante a passagem pela Alemanha, onde lecionou em diversas cidades, que escreveu sua principal obra: Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias. O julgamento de Bruno durou sete anos, durante os quais ele permaneceu no cárcere do Santo Ofício. Negou qualquer interesse particular em questões teológicas, mas em momento algum abandonou sua filosofia. Esse foi o maior obstáculo para Bruno: a Inquisição queria que ele abdicasse completamente de todas as suas ideias. Ao ouvir a sentença, Bruno teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. Na morte pela Inquisição a vítima não morre queimada. Morre antes pela falta de oxigênio em torno de si, que as chamas consomem.

                            

        Morre por queimar os pulmões pelo pouco ar, incandescente, à sua volta. Morre, sobretudo por asfixia, antes mesmo de ter seu corpo cremado. Giordano foi morto com um pedaço de pau amarrado na sua boa para evitar que falasse, para evitar que os insultasse antes de morrer. Morreu calado, mas suas idéias sobre o Universo Infinito, sobre os sistemas solares mais do que nunca vem sendo provadas, admitidas e comprovadas, pois a verdade é filha do tempo e não da autoridade. Talvez ele recordasse naquele instante derradeiro às palavras que certa vez escrevera num momento de profunda melancolia: “Vejam”, prognosticou ele, “o que acontece a este cidadão servidor do mundo que tem como o seu pai o Sol e a sua mãe a Terra, vejam como o mundo que ele ama acima de tudo o condena, o persegue e o fará desaparecer”. Assassinado aos 52 anos tornou-se mártir mas não apenas do livre-pensamento pós-renascentista. Ele enfrentou como homme de lettres a radicalização propugnada pela contrarreforma da Igreja Católica. São muitas as influências apontadas que Giordano Bruno teria sofrido durante o período de sua formação. É especialmente atraído pelas novas correntes de pensamento, entre as quais as obras de Platão e Hermes Trismegistus, ambos muito difundidos na Itália ao início do Renascimento. 
Quanto aos métodos de memorização, foi muito influenciado pelo pensamento de Raimundo Lúlio, de Maiorca, místico catalão e poeta autor de um manual da cavalaria, “Ars Magna” e “Liber de Ascensu et Descensu Intellectus” descrevendo estágios do desenvolvimento intelectual no entendimento na compreensão de todos os seres através do método da sua arte. Outra influência sobre Bruno, versando o mesmo campo, supõe-se que foi a de Giovanni Battista Della Porta, um erudito napolitano que publicou um livro importante sobre mágica natural. Nessa área, porém, talvez a influência predominante sobre Giordano Bruno tenha sido a da antiga religião egípcia do culto ao deus Toth, escriba dos deuses, inventor da escrita e patrono de todas as artes e ciências, e identificado com o deus grego Hermes Trismegisto pelos neoplatônicos. Além das obras de Platão e também a Hermética, que representa o conjunto dos segredos revelados por Hermes-Toth que constituem as ciências ocultas e astrologia a nível popular, e certos postulados de filosofia e teologia a nível erudito, - introduzidos em Florença por Marsilio Ficino ao final do século anterior. Suas ideias avançadas para seu tempo em que compreernde o Universo como um sistema em permanente transformação, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia autoritária da Igreja católica. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália. Iniciou-se, então, o período de peregrinação e solidão de sua vida fantástica como um ilustre pensador. 
Em Gênova ainda em 1579, aparentemente, adotou o sistema Calvinista – a fé em torno da qual giraram as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII dos países capitalistas altamente desenvolvidos – Países Baixos, Inglaterra e França. Os julgamentos sobre a importância de um fenômeno histórico podem ser, por um lado, de valor ou fé, isto é, quando elas se referem ao que, por si só, é interessante ou ao que, por si só, é duradouramente “valido em si”. Por outro lado, podem referir-se à sua influência como o fator causal sobre o processo histórico. Bruno já sabia de seu destino. Nos proêmios do “Despacho da Besta Triunfante” e “Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos”, declarara-se consciente ser “odiado e censurado, perseguido e assassinado”. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições eclesiásticas. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464). Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. 
Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias, viveu como um fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo. Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriotra Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças enquanto estratégias políticas e religiosas que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.

       No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e idéias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
     O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
      Giordano Bruno não percebeu o estado de espírito conspiratório do aluno. E neste caso, iria pagar muito caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas, é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, Mocenigo, covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, hoje perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo inquisitório, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições cujas mediações complexas habitavam as instituições. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464).

         Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias extraordinárias, viveu como um pensador assediado e fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido perremptoriamente pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo.
       Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriota Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.
                No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e ideias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
        O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
       Giordano Bruno, porém, não percebeu o estado de espírito conspiratório do ex-aluno. E neste caso, iria pagar caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas , é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, João Mocenigo, 
covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, infelizmente posteriormente perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte, abjura, “declarando estar arrependido de todos os erros que porventura tivesse cometido e pronto para reorientar toda sua vida”. Nesse ponto nevrálgico, o processo poderia ter-se encerrado com a absolvição, mas o papa não o permitiu e fez com que o processo passasse ao tribunal do Santo Ofício em Roma. Em janeiro de 1593, Bruno é entregue às autoridades romanas e encarcerado durante sete anos, ao fim dos quais é condenado à morte na fogueira, juntamente com suas obras consideradas heréticas. No dia 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno é executado friamente no Campos das Flores. Giordano Bruno interpretado por Gian Maria Volonté, 1973.  O que negaria mais tarde, ao ser julgado mais uma vez sendo agora em Veneza.

Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e também expulso de Gênova. Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris), Suíça e Inglaterra. Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, quando  frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney que ao regressar a Inglaterra em 1575, Sidney conheceu Penelope Devereaux, a futura Penelope Blount, que, apesar de ser muito jovem, inspirou o seu mais famoso soneto, Astrophel and Stella. No seu país, Sidney ocupou-se com a política e com as artes. Após uma discussão com Edward de Vere, Philip ausentou-se do mundo político. Durante essa ausência, escreveu Arcadia. Anteriormente, Sidney teria conhecido Edmund Spenser, a quem dedicou Shepheardes Calendar. Sidney regressou à política e aos tribunais em 1581 e foi ordenado cavaleiro em 1583. Nese mesmo ano, casou-se com Frances Walsingham. No ano seguinte, conheceu Giordano Bruno, que dedicou dois livros a Philip.
        Em 1585, Bruno retornou a Paris, seguindo para a rota de Marburgo, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde publicou vários de seus manuscritos e aquela que é considerada sua principal obra: “Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias”. Em Helmstedt, na Alemanha, Giordano sofre sua terceira excomunhão - agora da Igreja Luterana.  Aos cinquenta e dois anos - vestindo uma túnica de condenado, amarrado a uma estaca e com a língua atravessada por um prego e presa a uma estrutura de metal - Giordano Bruno, um dos maiores pensadores da história da Humanidade, agoniza sob as chamas de uma fogueira, na Praça das Flores, no centro de Roma, no dia 17 de fevereiro de 1600. Giordano Bruno é um símbolo vivo de liberdade e de autonomia de pensamento crítico.O filme Giordano Bruno (1973), de Giuliano Montaldo, se inicia justamente nesse de politização de sua imagem. Bruno já é reconhecido em grande parte da Europa e se hospeda na casa de Mocenigo, em Veneza. Os dois se desentendem e Bruno é denunciado aos inquisidores
    Nessa conjuntura é realizado ojulgamento, interrompido pela Santa Inquisição Romana, que exigia a extradição do prisioneiro a Roma. No filme, alguns traços históricos são relevantes e dentre eles, a análise comparativa destaca as diferenças entre a República de Veneza e Roma, centro do poder papal. A autoridade do papa era reconhecida por todos os reinos católicos, mas controlava administrativamente apenas o centro da península itálica como fazem os reitores de universidades contemporâneas. Quando o senado veneziano vota em favor da extradição de Giordano Bruno, fica evidenciada, esta questão da perda da autonomia de Veneza, que no século XVI, já em decadência, a denunciava a ponto de o senado decidir conforme fosse mais conveniente para suas relações políticas com uma clara formação de dependência com a Santa Sé. Nesse ponto, o filme como o calor do fogo, refaz bem o contexto histórico e político e demonstra que Bruno morreu não só por suas ideias reformistas, mas também como valor de troca pelo sacrifício burocrático de Veneza.   
       Vale lembrar que na Feira do Livro de Frankfurt de 1590, uma dupla de livreiros a serviço do nobre veneziano Giovanni Mocenigo o teria convidado a ir a Veneza ensinar Mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, na qual era um perito. Pouco depois de sua volta, desentendeu-se com Mocenigo, que o trancou num quarto e chamou os agentes da Inquisição. Encarcerado na prisão de San Castello no dia 26 de maio de 1592, seu julgamento começou em Veneza, foi transferido para Roma em 1593 e chegou à fase final na primavera europeia de 1599. Durante os sete anos do processo romano, Bruno negou qualquer interesse particular em questões teológicas e reafirmou o caráter filosófico de suas especulações como estratégia política. Essa defesa pública não satisfez aos inquisidores que exigiram uma retratação incondicional de suas teorias. Como se mantivesse irredutível foi condenado devido à sua doutrina teológica segundo a qual Jesus Cristo representava a figura de “um mágico de habilidade incomum, que o Espírito Santo era a alma do mundo e que o demônio seria salvo um dia”.
     Nove dias após a sentença, na madrugada do dia 17 de fevereiro de 1600, uma quinta-feira, Giordano Bruno seria impiedosamente levado à fogueira no Campo dei Fiori, animado tanto de dia pelo seu mercado, quanto à noite por seus restaurantes e terraços é uma das zonas mais autênticas de Roma. Acerca dos derradeiros momentos da vida do Nolano, o filme de Montaldo busca retratar um Bruno aparentemente delirante, que esbravejava palavras desconexas através do cansaço de seu corpo quase imóvel durante o processo de tortura sobre seu próprio fim. Essas palavras levaram seus algozes a providenciar uma espécie de mordaça que contava com um prego em sua extremidade, para que, com a língua furada, Bruno não proferisse heresias. Confirmando esse fato, uma testemunha ocular, o gramático e filólogo da época Gaspare Schopp, escreve uma carta ao jurista Corrado Ritterhausen, contando-lhe que, quando Bruno estava sendo levado para fogueira, “próximo à morte, foi-lhe mostrada uma imagem do Salvador crucificado, a qual foi rejeitada com vulto desdenhoso”.  
julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de´ Fiori, Roma. Em 21 de maio de 1592, a Igreja consegue aprisionar Giordano Bruno, a partir de uma denúncia de João Mocenigo e apodera-se também de suas últimas obras: De predicamenti di Dio (“Sobre os atributos de Deus”) e Libretto di congiurazioni (“Pequeno livro de conjurações”). Antes de ser denunciado ao Santo Ofício, pretendia entregar ao Papa a obra Le sette arti liberali e inventive (“As sete artes liberais e inventivas”). Luigi Firpo, afirmou sobre a morte do Nolano, que ao chegar à fatídica madrugada de 17 de fevereiro, Bruno, então conduzido ao Campo dei Fiori, “foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam”, e acabou “queimado vivo”, consciente de seu fim como “mártir, e de boa mente, pois que sua alma subiria junto àquele fumo”, para ir conjugar-se com a alma do universo. Sabe-se que Bruno possuía uma visão bastante ampliada e não temerosa da morte. Sobre isso, afirmou certa vez que, “se analisarmos o ser com profundidade, na substância em que somos imutáveis, saberemos que a morte não existe, não só para nós, mas também para qualquer substância; no entanto, nada diminui substancialmente, mas tudo, no infinito espaço, altera sua aparência”. Ao ouvir sua sentença, a 8 de fevereiro de 1600, teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. 
Contudo, a Congregação do Santo Ofício, presidida pelo papa Clemente 8 (1592–1605), ainda concedeu ao “herege impertinente e pertinaz” (“injuriosum retines haereticus et pertinax”) oito dias de clemência para um eventual arrependimento. A capitulação de Giordano Bruno teve um efeito propagandístico num ano da graça como o de 1600. Mas ele preferiu enfrentar a pena de morte a abjurar suas extraordinárias ideias. Seus trabalhos foram publicados no Índex em agosto de 1603 e só foram liberados pela censura do Vaticano em 1948. Giordano Bruno prestou uma contribuição intelectual decisiva para acabar de vez com a Idade Média. Morto aos 52 anos tornou-se um mártir do livre pensamento. Foi vítima da intolerância religiosa típica da chamada Contrarreforma, a batalha travada pela Igreja Católica contra a Igreja Reformada. O martírio de Bruno (1600), seguido do julgamento de Galileu Galilei (1616), abriu um fosso profundo entre a ciência como modernidade e a religião como verdade.
Bibliografia geral consultada.

FIRPO, Luigi, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LX, 1948, pp. 542-597; Idem, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LXI, 1949, pp. 5-59; SALVESTRINI, Virgilio, Bibliografia di Giordano Bruno. Firenze: Editor Sansoni, 1959; MICHEL, Paul Henry, La Cosmologie de Giordano Bruno. Paris: Herman Editeur, 1962; MONDOLFO, Rodolfo, Figuras e Ideas de la Filosofia del Renacimiento. Barcelona: Icaria Editorial, 1980; GEREMEK, Bronislaw, A Piedade e à Forca. História da Miséria e da Caridade na Europa. Lisboa: Editor Terramar, 1986; YATES, Frances, Giordano Bruno e a Tradição Hermética. São Paulo: Editora Cultrix, 1986; GONÇALVES, Iria, Imagens do Mundo Medieval. Lisboa: Livros Horizonte, 1988; SANTOS, Patrícia Lessa, No Caldeirão dos Bruxos: A Filosofia Herética de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade de Campinas, 1997; BRUNO, Giordano, “De L`Infinito, Universo e Mondi”. In: Opere Italiane. Torino: Unione Tipografico; Editrice Torinese LIbrarie, 2007; pp. 7-167; BARACAT FILHO, Antônio Abdala, O Infinito Segundo Giordano Bruno. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2009; ATROCH, Tiago José Cavalcanti, A Visão do Cosmo no Tratado da Magia de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado em História. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2012; PINTO, Anibal, O Infinito: Ideias, Transformações e as Considerações de Giordano Bruno. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Departamento de História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012; LOPES, Ideusa Celestino, A Cosmologia Bruniana como um Pressuposto para uma Reforma Moral. Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2013; Entrevista: Reabilite Giordano Bruno: O Pedido de Frei Betto ao Papa. In:  http://www.ihu.unisinos.br/14/04/2014; RIBEIRO, Rodrigo Petrônio, Mesons: Ontologia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; entre outros.

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