Ubiracy de Souza Braga
“Museologia: uma ciência aplicada, a ciência
do museu”. George Henri-Rivière
Por mais simples que seja a linguagem e clara a sua exposição,
sempre apresenta dificuldades específicas inevitáveis, porque dizem respeito à
natureza própria da teoria, mais
precisamente da produção do discurso teórico, e por isto produção. A
dificuldade própria da terminologias teórica consiste pois em que, por detrás
do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado
conceptual, que é sempre diferente do significado usual. Um bom exemplo, ocorre
quando o leitor pensa compreender imediatamente o que Marx quer dizer quando
emprega uma palavra tão corrente como a palavra trabalho. No entanto, é preciso um grande esforço para discernir,
por detrás da evidência familiar (ideológica) desta palavra, o conceito
marxista de trabalho, e mais ainda, para ver que a palavra trabalho pode
designar vários conceitos distintos: os conceitos de processo de trabalho, de
trabalho concreto, de trabalho abstrato, etc. Quando uma terminologia teórica é
boa, lembra Louis Althusser, no ensaio: Sobre
o Trabalho Teórico (1978), isto é, bem determinada
e bem referenciável, ela assume a
função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e
o significado teórico (conceptual)
das mesmas palavras. E a sua conjunção particular que produz significado novo,
definido que é o conceito teórico.
Não pode haver discurso teórico sem a produção destas expressões específicas,
que designam conceitos teóricos de determinada prática da teoria.
Isto quer dizer que a cultura, a sociedade e a comunicação
vem articular-se a uma estrutura de relações sociais. No escravagismo antigo, nada distingue, do ponto de vista do modo de produção (cf. Bartra, 1978), o
escravo do agricultor independente, proprietário privado individual. O que os
distingue é a relação com o trabalho. Se um se conduz como proprietário das
condições materiais da reprodução de sua existência, no outro caso é o mestre
que se conduz como proprietário das condições naturais da reprodução de sua
existência material do escravo. Pode-se fazer a mesma comparação e distinção entre o escravo moderno, do século
XIX, e o trabalhador agrícola no sistema técnico de trabalho, ao qual se
articulam relações sociais diferentes. A interligação dos processos de trabalho
é primeiramente de ordem técnica, na
medida em que está contida nos meios de trabalho e envolve imediatamente
trabalhadores em situações específicas de trabalho. Em seguida é de ordem social, basicamente quanto à escala e
quanto ao sentido de conjunto para satisfazer necessidades sociais. É,
finalmente, de ordem tecnológica, na
medida em que a produção, circulação, uso, dos produtos resultantes do processo
de trabalho interligados, representam o próprio sistema social no âmbito de
determinada cultura e/ou sociedade. Produzindo e consumindo determinados
produtos/mercadoria os homens primeiro tecnologicamente (cf. Leroi-Gourhan,
1984) produzem a sociedade e as relações nela existentes. Um sistema de
trabalho é uma estrutura onde o que
está em jogo é o trabalho e a reprodução da vida.
Do ponto de vista metodológico notou Norbert Elias (2011) que o conceito de civilização refere-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciários ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas também não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais. Acima de tudo, é grande a diferença entre a forma como ingleses e franceses empregam a palavra, por um lado, e os alemães, por outro. O conceito resume em uma única palavra seu orgulho pela importância de suas nações para o progresso do Ocidente e da humanidade.
Quando
no emprego que lhe é dado pelos alemães Zivilisation,
significa algo de fato útil, mas, apesar disso, apenas um valor de segunda
classe, compreendendo apenas a aparência externa dos seres humanos, a
superfície da existência humana. A palavra pela qual os alemães se interpretam,
que mais do que a qualquer outra expressa-lhes o sentimento de orgulho em suas próprias realizações e
no próprio ser, é Kultur, pois ão
inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem. O conceito
francês e inglês de civilização pode ser referir a fatos políticos ou
econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão Kultur alude basicamente a fatos
intelectuais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma
nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos,
econômicos e sociais, por outro lado. O conceitos francês e inglês de
civilização pode se referir a realizações, mas também a atitudes ou “comportamento”, pouco importando se realizaram alguma
coisa. No conceito alemão de Kultur,
em contraste, a referência a comportamento, o valor que a pessoa tem em virtude
de sua mera existência e conduta, sem absolutamente qualquer realização, é de
fato considerado muito secundário.
O
sentido alemão de Kultur encontra sua
expressão mais clara derivado no adjetivo Kulturell,
que descreve o caráter e valor de determinados produtos humanos, e não o valor
intrínseco. O conceito inerente a Kulturell,
porèm não pode ser traduzido exatamente para o francês e o inglês. A palavra kultiviert (cultivado) aproxima-se muito
do conceito ocidental de civilização. Até certo ponto, representa a forma mais
alta de ser civilizado: até mesmo pessoas e famílias que nada realizaram de kulturell pode ser kultiviert. Tal como a palavra “civilizado”, kultiviert refere-se primariamente à forma da conduta ou
comportamento da pessoa. Descreve a qualidade social das pessoas, suas
habitações, suas maneiras, sua fala, suas roupas, ao contrário de kulturell, que não alude diretamente às
próprias pessoas, mas exclusivamente a realizações humanas peculiares. Há outra
diferença entre os dois conceitos estreitamente vinculada a isto. “Civilização”
descreve um processo ou, pelo menos, seu resultado. Diz respeito a
algo que está em movimento constante, movendo-se incessantemente “para a frente”.
O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos humanos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a individualidade de um povo. O conceito Kultur delimita. Até certo ponto, o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos: enfatiza o que é comum a todos os seres humanos ou – na opinião dos que o possuem – deveria sê-lo. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional foram plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas. Em contraste, o conceito alemão de Kultur dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Em virtude disto, o conceito adquiriu em pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito.
A
necessidade de comunicar-se sempre
foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a
escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de
espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o
receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da
codificação de signos e fonemas ao serviço da relação inter-humana: mnemônica,
pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados
ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema
convencional de comunicação. Ao antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton, os
chineses, e inclusive tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o
quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos
peruanos, no tempo da monarquia Inca, que formavam um método mnemônico, fundado
nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de
cordas atadas para comemorar acontecimentos felizes, para servir como
instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações dos mortos das
tribos.
Na
segunda, pictórica, a comunicação tem
como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a
relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e
também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados
para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica,
resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta
fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa
progressiva separação da estrutura do objeto que tenciona comunicar e a
modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na
escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos,
tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas
ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação
foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A última, fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos letras, como unidade fonética menor.
A
invenção do alfabeto foi o ponto
máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles
povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com
outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo
tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade
criadores das primeiras rotas de
comércio marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de
comunicação. A comunicação sempre vem unida à existência da mudança de
mercadoria e á busca de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas
comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos
canais informativos, lentos e precários, que abasteceram aos homens de um
conhecimento aproximado dos limites do mundo e das tentações dos outros
considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na
sociedade.
O
irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da
civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do
Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha
onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings,
bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos
que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de
“bárbaros”. Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a
ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os
proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com
fortificações feitas de árvores e espinheiros e habitações cercadas de
paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a
partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração,
centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, Atenas ou Alexandria
na Antiguidade clássica, virtualmente inexistia na paisagem ocidental desse
período.
Havia
historicamente burgos descendentes dos centros logo fundados pelos
conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de
almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale
fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um
príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (Istambul), capital
do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes,
abastado comércio e porto movimentado. Há cerca de mil anos, amplas extensões
do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho
e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam
gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência,
da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava
igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a
guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e
pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais,
como os animais selvagens, e terrores imaginários historicamente constituídos
na Europa, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a
mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte de açúcar dos europeus
de então. Comparativamente, vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha
tons de pesadelo.
Museologia
tem como representação o conhecimento apreendido na relação dos homens com
objetos socialmente relevantes, num dado contexto histórico e sociológico. Entre
pioneirismo dos museólogos distingue-se em essência duas escolas: A Escola da Museologia,
que precisa o estatuto científico da
arte, e a escola dos Estudos de Museus (Museum
Studies), que aborda os museus como produção técnica. A tradição científica
desenvolve-se pragmaticamente na década de 1970 entre museólogos do Leste
europeu, França e América Latina, majoritariamente dominada pelos impérios
coloniais europeus Espanhol e Português e Central, compreendendo os Estados
soberanos ístmicos e antilhanos mais as dependências situadas no mar do Caribe,
incluído Canadá, Estados Unidos da América, México e Brasil através de
experiências singulares de intervenção encontrando acolhimento organizacional do International Council of Museums. Na
tradição normativa dos Estudos de Museus a preocupação científica com a proposição
das teorias sociais que consideram a autonomia relativa do objeto, incorporando
a multireferencialidade metodológica das ciências humanas: sociologia,
antropologia e sociais: arqueologia, comunicação social e os estudos per se das ciências da natureza.
O Museu institucionalmente se dedica à gestão, pesquisa e comunicação social em suas diversas formas, dentro ou fora de museus, no âmbito da divisão internacional do trabalho, visando promover a cultura, a educação e as representações da sociedade. A museologia, particularmente do ponto de vista tecnológico, trata desde as técnicas de restauração, conservação, acondicionamento e documentação do acervo à preparação de mostras, exposições e as próprias ações culturais. O museólogo trabalha com as ciências da informação, melhor dizendo, um processo mediante o qual as ciências e o processo de comunicação tem sido incorporadas pari pasu como meio de trabalho para transmitir os conteúdos de forma eficiente e a própria manipulação, estudo e catalogação dos objetos passando praticamente a uma condição técnica essencial aos museus, assim como a inclusão de tecnologia que durante tempos ficou restrita a parques de diversão, os trens para percorrer réplicas de minas e cavernas, dinossauros, etc.
Origina-se em seu sentido histórico e genético no mouseion grego, destinado às musas que na mitologia grega representavam as nove filhas de Zeus com Mnemósine, a divindade da memória. Compunha uma mistura de templo e instituição de pesquisa, na dinâmica do saber filosófico, onde a mente privilegiada repousava. O pensamento profundo e criativo, liberto do problemas pessoais e aflições cotidianas, poderia se dedicar às artes e às ciências. As obras expostas no mouseion existiam mais em função de apetecer as divindades que serem contempladas pelo homem. Ao lado do mouseion encontravam-se “lugares praticados” denominados thesaurus, onde se abrigavam ex-votos trazidos em devoção às divindades. O museu teve na Grécia Antiga a sua origem. Quando seus núcleos foram construídos para abrigar os “tesouros dos templos”, devido o acúmulo de ex-votos. Eles poderiam ser analisados pelos sacerdotes, que realizavam a triagem, a classificação, o controle e a segurança desses objetos. Em Roma aparenta o que ocorreu na Grécia Antiga, porém não exclusivamente nos templos.
Os objetos eram depositados nos fóruns, jardins, banhos públicos e nos teatros. As famílias também adquiriam e conservavam em suas casas quadros e estátuas que resultavam em valiosas coleções. Em Alexandria, durante o século II a. C., o termo mouseion foi utilizado pela primeira vez para denominar “um espaço destinado ao saber enciclopédico”. Os objetos artísticos e as obras de arte eram recolhidas em templos, santuários e tumbas. O local representava um espaço para a discussão e o ensinamento do saber nos campos da religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina, zoologia, geografia e demais áreas do conhecimento que se tinham em seu tempo, configurando-se, numa compilação entre as áreas do conhecimento. Durante a Idade Média as igrejas e catedrais se converteram em autênticos museus, onde se depositavam manuscritos, estátuas, joias e relíquias sagradas. Cada igreja, representando valor de culto e valor de exposição, segundo Walter Benjamin (1966), representando objetos, que configuram verdadeiras coleções empregando os objetos com uma intenção pedagógica e um caráter moral. É durante esse período que a Igreja financia artistas para a confecção de obras de arte e que configuram e irradiam-se em grandes obras-primas da humanidade.
Historicamente
no Renascimento surgiram coleções privadas denominadas por coleções reais e
principescas – como forma de demonstração de requinte e símbolo de poder
econômico das famílias principescas, servindo como verdadeiro metabolismo social das rivalidades entre
elas. O colecionismo tornou-se moda
em diversos países de grande parte da Europa. Mas foi durante o longo período de
irradiação do Renascimento que o conceito de museu começou a mudar. Entre os
séculos XV e XVI surgiram os chamados “gabinetes de curiosidades”, onde eram
expostas coleções de objetos curiosos, estranhos e exóticos. Sua organização social
poderia ser vista como confusa e aparentar ser um amontoado de objetos, sem
lógica organizacional, mas é apenas provisório enquanto não nascia uma lógica
padrão ou uma lógica comum estabelecida, existia uma lógica pessoal do dono do gabinete. Alguns
autores erram em afirmar que os gabinetes
de curiosidades se transformaram em museus. São antecessores aos museus, pois
tinham uma característica única e não possuíam os mesmos objetivos que os
museus possuem. Eram situados em espaços pequenos, de propriedade privada. No
fim do século XIX é que um museu, o Museu
de História Natural de Londres, onde conviveram por razões diversas, tanto Marx & Engels, quanto Charles Darwin, exibiu
seus objetos ordenados cientificamente, graças à classificação teórica de Carlos
Lineu.
Marx
escreveu seu famoso livro: O Capital,
na sala de leitura da Biblioteca Britânica. Em 1844, conheceu, em Paris,
Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima durante mais de 40 anos. Foi, no
ano seguinte, expulso da França, radicando-se em Bruxelas e participando de
organizações clandestinas de operários e exilados. Ao mesmo tempo em que, na
França, estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels
publicaram o folheto O Manifesto
Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria
chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em Colônia, primeiro
jornal diário francamente socialista. Depois da derrota de todos os movimentos
revolucionários na Europa e do fechamento do jornal, cujos redatores foram
denunciados e processados, Marx foi para Paris e daí expulso para Londres, onde
fixou residência. Em Londres, dedicou-se a vastos estudos econômicos e
históricos, sendo frequentador assíduo da sala de leituras do British Museum. Escrevia artigos para
jornais norte-americanos, sobre política latin-maericana, mas sua situação
material esteve sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels,
que vivia em Manchester feliz e em boas condições financeiras.
A
British Library é a Biblioteca
Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo. Atualmente, o seu acervo
possui aproximadamente 150 milhões de itens e a cada ano incorporam-se à
coleção cerca de três milhões de itens novos. A Biblioteca Britânica contém,
além de livros, mapas, jornais, partituras, patentes, manuscritos, selos,
dentre outros materiais. Todos estão dispostos sobre 625 km de prateleiras que
crescem 12 km a cada ano. O espaço físico para a leitura possui capacidade para
mil e duzentos leitores. Entre as coleções especiais da Biblioteca Britânica,
consta o caderno de anotações de Leonardo da Vinci, material de 300 a. C. aos
jornais atuais, a Carta Magna, a gravação do discurso experimental do líder
negro Nelson Mandela, cerca de 50 milhões de patentes, 310 mil volumes de
manuscritos, de Jane Austen a James Joyce, de Händel aos Beatles, e
aproximadamente mais de 260 mil títulos de jornais e mais de quatro milhões de
mapas. A biblioteca disponibiliza informações para estudantes, pesquisadores de
ciências específicas e para executivos no Reino Unido e ao redor do mundo. A
cada ano aproximadamente seis milhões de buscas são geradas pelo catálogo online e mais de 100 milhões de itens
são fornecidos aos leitores de todo o mundo.
A palavra laboratório origina-se do latim através da junção das palavras labor (trabalho) e orare (orar) misturando aspectos da oralidade e experimentação. A importância do laboratório na pesquisa social baseia-se no exercício de suas atividades repetitivas em condições ambientais controladas e normatizadas, de modo a assegurar que não ocorram influências ideológico-culturais que alterem o resultado da pesquisa, de modo a garantir que o experimento seja repetível em outro laboratório e obtenha o mesmo resultado. Um exemplo paradigmático de laboratório surge com a biblioteca do Museu Britânico, nos tempos de Marx, ao contrário de um centro de ideias e artes criativas como Paris, ou mesmo Berlim, era em Londres a capital da ciência. Sua rotunda, sala de leitura circular nos dias de hoje, uma sala de exposição na qual os turistas conhecem a cadeira preferida de Marx, logo viria a se tornar o “lar de Marx” fora de sua casa. A Dean Street, onde a família de Marx morou, juntamente com a empregada, Lenchen, de 1850 a 1856, ficava no coração do Soho. Numa Londres que se tornara a capital política e administrativa do mais importante império colonialista de além-mar que existiu no mundo ocidental durante os três primeiros quartos do século XIX, Londres era também o centro nevrálgico do capitalismo transnacional globalizado.
Foi
o maior império em extensão de terras descontínuas do globo, composto por
domínios, colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou
administrados pelo Reino Unido. Originou-se com as violentas conquistas das
colônias ultramarinas (cf. Marx & Engels, 2008) e entrepostas estabelecidas
pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu
auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a
principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458
milhões de pessoas, ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu
mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total da Terra. Como
resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado,
globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se
põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor
do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus
numerosos territórios invadidos e colonizados. Representou um período histórico
de colapso dos impérios da Espanha, China, França, Sacro Império
Romano-Germânico e Mogol. Testemunhou hic
et nunc o poderoso crescimento da influência geopolítica dos impérios
Britânico, Russo, Alemão, Japonês e Norte-Americano, estimulando conflitos
militares e avanços técnico-científicos de exploração capitalista do trabalho. O
Império Britânico foi o maior império na história da humanidade, chegando a
dominar quase 1/4 do planeta. O território que foi apelidado de “o
império no qual o Sol nunca se põe”.
Para tratarmos do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo existencialismo, incluindo Sören Kierkegaard e Martin Heidegger. Sofreu influências, também em certa medida associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção incluíram a “desconstrução” e as diversas áreas que começam com o prefixo “pós”, como o “pós-estruturalismo”, o “pós-marxismo” e o “pós-feminismo”. É também utilizado para designar a familiaridade por artistas e criadores ocidentais de elementos, descrições ou imitações culturalmente conotadas com as culturas ditas orientais. Popularizado como um campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a partir do colonialismo do século XIX, o orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo humano vulgarizado pela designação “mundo árabe” e mesmo a África, em alguns casos.
O orientalismo ratificou a hipótese colonialista da inferioridade racial e cultural de todas as civilizações não europeias. O seu objetivo, não assumido, foi à busca da justificação do processo de dominação imperialista através do discurso de redenção dos povos ditos primitivos, inferiores e subdesenvolvidos” que tem origem na esfera da antropologia colonialista. Durante este século as técnicas de exposição foram incorporando os avanços da comunicação social e da ciência da informação, havendo posteriormente museus que fazem uso de multimídia, com a utilização de tecnologias com suporte digital para criar, manipular, armazenar e pesquisar conteúdos. No Brasil, o Museu da Língua Portuguesa usa recursos como projeção de imagens para transmitir a informação sobre seu acervo, e objeto, a própria língua portuguesa. Os gabinetes de curiosidades, ou, Os quartos das maravilhas designam os lugares em que durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos século XVI e século XVII, se colecionavam uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos dos três ramos da biologia. Em geral os gabinetes de curiosidades eram uma exposição de curiosidades e achados procedentes de novas explorações ou instrumentos tecnicamente avançados, como foi o caso análogo da coleção do czar Pedro, o Grande, em outros casos eram amostras de quadros e pinturas, sendo este o caso do arquiduque Leopoldo Guillermo, podendo ser considerados como os precursores dos atuais museus de arte. Apareceram durante o Renascimento na Europa. Os gabinetes de curiosidades são os antecessores diretos dos museus.
Tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna embora refletissem a opinião popular do tempo: não era raro encontrar sangue de dragão secado ou esqueletos de animais míticos. A edição de catálogos, geralmente ilustrados, permitia acessar e difundir o conteúdo para os cientistas da época. Os gabinetes de curiosidades desapareceram durante os séculos XVIII e XIX, sendo substituídos por instituições oficiais e coleções privadas. Os objetos considerados mais interessantes foram transferidos para museus de artes e de história natural que começaram a ser fundados. Tiveram grande importância no estudo precoce de certas disciplinas de biologia ao criar coleções de fósseis, conchas e insetos. O redescobrimento das culturas clássicas grega e romana, do ponto de vista da análise comparada se configuraram numa nova dimensão ao colecionismo de objetos de arte. Importantes coleções foram as dos poderosos Médici, uma pródiga família de nobreza italiana, que financiava a sequência de importantes obras de arte e a formação teórica e prática de artistas.
Museu Nacional - Rio de Janeiro. |
O
colecionismo representa um conjunto de práticas e saberes sociais em que as
pessoas individual e coletivamente, através dos símbolos têm o hábito de
guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria, técnica
e social em função de interesses pessoais. No mundo globalizado milhões de
colecionadores organizam diversas coleções de objetos e atividades que pode
trazer para o colecionador, em especial do ponto de vista geracional, decorrendo
o desenvolvimento dos sensos de classificação e organização, de interação social
e socialização com outros colecionadores, do poder de barganha em especial de
negociação, bem como o aumento do repertório cultural acerca do objeto determinado
colecionado. Dentre os principais coleções, algumas recebem nomes específicos.
Tais nomes referem-se, em princípio, ao estudo dos itens aos quais se referem,
e num processo de ampliação de sentido o termo passou a designar também o ato
de colecionar tais itens. Isso se deve ao fato de que a maior parte desses
estudiosos também acabava por colecionar seus objetos de estudo.
Ao
afirmar que a existência do colecionador é uma tensão dialética entre os polos da ordem e da desordem, Benjamin adianta
sua visão sobre esse processo de reunião, catalogação e arquivo de livros, que
é a sua própria coleção: o colecionador, e seus objetos, estão sempre no umbral
entre a desordem que é adquirir livros novos e a ordem (ou a tentativa) que é
arquivá-los em uma estante. Se, por um lado, há a perspectiva de que a catalogação
é a única forma de estabelecer qualquer tipo de coerência em uma biblioteca,
por outro, há a sensação de que ela nunca está totalmente organizada, haja
vista que são inúmeras as informações que povoam de sombras cada exemplar: nome
do autor, ano de publicação, ano da escrita, ano de aquisição, e outras
categorias. A discussão de Benjamin (cf. Krüger, 2014: 74) sobre fragmentos habita
o plano do metafórico, pois toda ela é forjada sobre as bases das alegorias com
que pretende explicar os conceitos de unidade, de conjunto, de parte, de todo.
A primeira e mais recorrente figura utilizada é a das estrelas em contraponto à
ideia de constelação, o enlace, a rede imaginária
que dá sentido de coletividade às muitas individualidades e ao isolamento de
cada astro. Em paralelo, o autor estabelece a mesma noção de unidade menor e de
coletivo ao resgatar os conceitos de ideias e coisas, no plano da filosofia.
Museologia
e Museus têm caminhos entrelaçados, responsabilidades recíprocas e funcionalidade
pragmática do ponto de vista da divisão do trabalho. A Museologia, enquanto
disciplina, pode colaborar com a sociedade contemporânea na identificação de
suas referências culturais, na visualização de procedimentos preservacionistas
que as transformem em herança patrimonial e na implementação de processos
comunicacionais que contribuam com a educação formal. O Museu, por sua vez, corresponde
ao modelo institucional vocacionado à construção e à administração da memória,
a partir de estudo, tratamento, guarda e extroversão dos indicadores culturais,
materiais e imateriais (referências, fragmentos, expressões, vestígios,
objetos, coleções, acervos), mediante o cumprimento de três funções básicas:
científica, educativa e social (Léon, 1978). Se a consolidação epistemológica
dessa disciplina depende, em grande parte, de sua experimentação nos museus,
estas instituições necessitam, em contrapartida, de orientação filosófica e
conceitual, derivada dos paradigmas que alimentam a discussão em torno da
Museologia. Neste sentido, o refinamento dos caminhos entre os mitos, os ritos
e os símbolos, além da utopia reside na conciliação entre o desenvolvimento, que na fenomenologia de
Hegel tem como significado “vir a ser aquilo que se é”, na formulação ideal-típica dos museus e suas
conquistas do pensamento museológico.
Bibliografia
geral consultada.
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