segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Museologia - Formação, História da Cultura & Comunicação Social.

Ubiracy de Souza Braga

            “Museologia: uma ciência aplicada, a ciência do museu”. George Henri-Rivière

           Por mais simples que seja a linguagem e clara a sua exposição, sempre apresenta dificuldades específicas inevitáveis, porque dizem respeito à natureza própria da teoria, mais precisamente da produção do discurso teórico, e por isto produção. A dificuldade própria da terminologias teórica consiste pois em que, por detrás do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual. Um bom exemplo, ocorre quando o leitor pensa compreender imediatamente o que Marx quer dizer quando emprega uma palavra tão corrente como a palavra trabalho. No entanto, é preciso um grande esforço para discernir, por detrás da evidência familiar (ideológica) desta palavra, o conceito marxista de trabalho, e mais ainda, para ver que a palavra trabalho pode designar vários conceitos distintos: os conceitos de processo de trabalho, de trabalho concreto, de trabalho abstrato, etc. Quando uma terminologia teórica é boa, lembra Louis Althusser, no ensaio: Sobre o Trabalho Teórico (1978), isto é, bem determinada e bem referenciável, ela assume a função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e o significado teórico (conceptual) das mesmas palavras. E a sua conjunção particular que produz significado novo, definido que é o conceito teórico. Não pode haver discurso teórico sem a produção destas expressões específicas, que designam conceitos teóricos de determinada prática da teoria.

            Isto quer dizer que a cultura, a sociedade e a comunicação vem articular-se a uma estrutura de relações sociais. No escravagismo antigo, nada distingue, do ponto de vista do modo de produção (cf. Bartra, 1978), o escravo do agricultor independente, proprietário privado individual. O que os distingue é a relação com o trabalho. Se um se conduz como proprietário das condições materiais da reprodução de sua existência, no outro caso é o mestre que se conduz como proprietário das condições naturais da reprodução de sua existência material do escravo. Pode-se fazer a mesma comparação e  distinção entre o escravo moderno, do século XIX, e o trabalhador agrícola no sistema técnico de trabalho, ao qual se articulam relações sociais diferentes. A interligação dos processos de trabalho é primeiramente de ordem técnica, na medida em que está contida nos meios de trabalho e envolve imediatamente trabalhadores em situações específicas de trabalho. Em seguida é de ordem social, basicamente quanto à escala e quanto ao sentido de conjunto para satisfazer necessidades sociais. É, finalmente, de ordem tecnológica, na medida em que a produção, circulação, uso, dos produtos resultantes do processo de trabalho interligados, representam o próprio sistema social no âmbito de determinada cultura e/ou sociedade. Produzindo e consumindo determinados produtos/mercadoria os homens primeiro tecnologicamente (cf. Leroi-Gourhan, 1984) produzem a sociedade e as relações nela existentes. Um sistema de trabalho é uma estrutura onde o que está em jogo é o  trabalho e a reprodução da vida.

            Do ponto de vista metodológico notou Norbert Elias (2011) que o conceito de civilização refere-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciários ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas também não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais. Acima de tudo, é grande a diferença entre a forma como ingleses e franceses empregam a palavra, por um lado, e os alemães, por outro. O conceito resume em uma única palavra seu orgulho pela importância de suas nações para o progresso do Ocidente e da humanidade.

                                                              

Quando no emprego que lhe é dado pelos alemães Zivilisation, significa algo de fato útil, mas, apesar disso, apenas um valor de segunda classe, compreendendo apenas a aparência externa dos seres humanos, a superfície da existência humana. A palavra pela qual os alemães se interpretam, que mais do que a qualquer outra expressa-lhes o sentimento de orgulho em suas próprias realizações e no próprio ser, é Kultur, pois ão inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem. O conceito francês e inglês de civilização pode ser referir a fatos políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão Kultur alude basicamente a fatos intelectuais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais, por outro lado. O conceitos francês e inglês de civilização pode se referir a realizações, mas também a atitudes ou “comportamento”, pouco importando se realizaram alguma coisa. No conceito alemão de Kultur, em contraste, a referência a comportamento, o valor que a pessoa tem em virtude de sua mera existência e conduta, sem absolutamente qualquer realização, é de fato considerado muito secundário.

O sentido alemão de Kultur encontra sua expressão mais clara derivado no adjetivo Kulturell, que descreve o caráter e valor de determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco. O conceito inerente a Kulturell, porèm não pode ser traduzido exatamente para o francês e o inglês. A palavra kultiviert (cultivado) aproxima-se muito do conceito ocidental de civilização. Até certo ponto, representa a forma mais alta de ser civilizado: até mesmo pessoas e famílias que nada realizaram de kulturell pode ser kultiviert. Tal como a palavra “civilizado”, kultiviert refere-se primariamente à forma da conduta ou comportamento da pessoa. Descreve a qualidade social das pessoas, suas habitações, suas maneiras, sua fala, suas roupas, ao contrário de kulturell, que não alude diretamente às próprias pessoas, mas exclusivamente a realizações humanas peculiares. Há outra diferença entre os dois conceitos estreitamente vinculada a isto. “Civilização” descreve um processo  ou, pelo menos, seu resultado. Diz respeito a algo que está em movimento constante,  movendo-se incessantemente “para a frente”.

O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos humanos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a individualidade de um povo. O conceito Kultur delimita. Até certo ponto, o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos: enfatiza o que é comum a todos os seres humanos ou – na opinião dos que o possuem – deveria sê-lo. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional foram plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas. Em contraste, o conceito alemão de Kultur dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Em virtude disto, o conceito adquiriu em pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito. 

A necessidade de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas ao serviço da relação inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencional de comunicação. Ao antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton, os chineses, e inclusive tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos, no tempo da monarquia Inca, que formavam um método mnemônico, fundado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para comemorar acontecimentos felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações dos mortos das tribos.  

Na segunda, pictórica, a comunicação tem como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A última, fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos letras, como unidade fonética menor.

A invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A comunicação sempre vem unida à existência da mudança de mercadoria e á busca de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos canais informativos, lentos e precários, que abasteceram aos homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo e das tentações dos outros considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias passavam por intermediários antes de serem revendidos na Europa medieval. Era um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos.

O irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com fortificações feitas de árvores e espinheiros e habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração, centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, Atenas ou Alexandria na Antiguidade clássica, virtualmente inexistia na paisagem ocidental desse período.

Havia historicamente burgos descendentes dos centros logo fundados pelos conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (Istambul), capital do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes, abastado comércio e porto movimentado. Há cerca de mil anos, amplas extensões do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência, da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários historicamente constituídos na Europa, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte de açúcar dos europeus de então. Comparativamente, vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo.

Museologia tem como representação o conhecimento apreendido na relação dos homens com objetos socialmente relevantes, num dado contexto histórico e sociológico. Entre pioneirismo dos museólogos distingue-se em essência duas escolas: A Escola da Museologia, que precisa o estatuto científico da arte, e a escola dos Estudos de Museus (Museum Studies), que aborda os museus como produção técnica. A tradição científica desenvolve-se pragmaticamente na década de 1970 entre museólogos do Leste europeu, França e América Latina, majoritariamente dominada pelos impérios coloniais europeus Espanhol e Português e Central, compreendendo os Estados soberanos ístmicos e antilhanos mais as dependências situadas no mar do Caribe, incluído Canadá, Estados Unidos da América, México e Brasil através de experiências singulares de intervenção  encontrando acolhimento organizacional do International Council of Museums. Na tradição normativa dos Estudos de Museus a preocupação científica com a proposição das teorias sociais que consideram a autonomia relativa do objeto, incorporando a multireferencialidade metodológica das ciências humanas: sociologia, antropologia e sociais: arqueologia, comunicação social e os estudos per se das ciências da natureza.  

O Museu institucionalmente se dedica à gestão, pesquisa e comunicação social em suas diversas formas, dentro ou fora de museus, no âmbito da divisão internacional do trabalho, visando promover a cultura, a educação e as representações da sociedade. A museologia, particularmente do ponto de vista tecnológico, trata desde as técnicas de restauração, conservação, acondicionamento e documentação do acervo à preparação de mostras, exposições e as próprias ações culturais. O museólogo trabalha com as ciências da informação, melhor dizendo,  um processo mediante o qual as ciências e o processo de comunicação tem sido incorporadas pari pasu como meio de trabalho para transmitir os conteúdos de forma eficiente e a própria manipulação, estudo e catalogação dos objetos passando praticamente a uma condição técnica essencial aos museus, assim como a inclusão de tecnologia que durante tempos ficou restrita a parques de diversão, os trens para percorrer réplicas de minas e cavernas, dinossauros, etc.


Origina-se em seu sentido histórico e genético no mouseion grego, destinado às musas que na mitologia grega representavam as nove filhas de Zeus com Mnemósine, a divindade da memória. Compunha uma mistura de templo e instituição de pesquisa, na dinâmica do saber filosófico, onde a mente privilegiada repousava. O pensamento profundo e criativo, liberto do problemas pessoais e aflições cotidianas, poderia se dedicar às artes e às ciências. As obras expostas no mouseion existiam mais em função de apetecer as divindades que serem contempladas pelo homem. Ao lado do mouseion encontravam-se “lugares praticados” denominados thesaurus, onde se abrigavam ex-votos  trazidos em devoção às divindades. O museu teve na Grécia Antiga a sua origem. Quando seus núcleos foram construídos para abrigar os “tesouros dos templos”, devido o acúmulo de ex-votos. Eles poderiam ser analisados pelos sacerdotes, que realizavam a triagem, a classificação, o controle e a segurança desses objetos. Em  Roma aparenta o que ocorreu na Grécia Antiga, porém não exclusivamente nos templos.           

Os objetos eram depositados nos fóruns, jardins, banhos públicos e nos teatros. As famílias também adquiriam e conservavam em suas casas quadros e estátuas que resultavam em valiosas coleções. Em Alexandria, durante o século II a. C., o termo mouseion foi utilizado pela primeira vez para denominar “um espaço destinado ao saber enciclopédico”. Os objetos artísticos e as obras de arte eram recolhidas em templos, santuários e tumbas. O local representava um espaço para a discussão e o ensinamento do saber nos campos da religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina, zoologia, geografia e demais áreas do conhecimento que se tinham em seu tempo, configurando-se, numa compilação entre as áreas do conhecimento. Durante a Idade Média as igrejas e catedrais se converteram em autênticos museus, onde se depositavam manuscritos, estátuas, joias e relíquias sagradas. Cada igreja, representando valor de culto e valor de exposição, segundo Walter Benjamin (1966), representando objetos, que configuram verdadeiras coleções empregando os objetos com uma intenção pedagógica e um caráter moral. É durante esse período que a Igreja financia artistas para a confecção de obras de arte e que configuram e irradiam-se em grandes obras-primas da humanidade.

Historicamente no Renascimento surgiram coleções privadas denominadas por coleções reais e principescas – como forma de demonstração de requinte e símbolo de poder econômico das famílias principescas, servindo como verdadeiro metabolismo social das rivalidades entre elas. O colecionismo tornou-se moda em diversos países de grande parte da Europa. Mas foi durante o longo período de irradiação do Renascimento que o conceito de museu começou a mudar. Entre os séculos XV e XVI surgiram os chamados “gabinetes de curiosidades”, onde eram expostas coleções de objetos curiosos, estranhos e exóticos. Sua organização social poderia ser vista como confusa e aparentar ser um amontoado de objetos, sem lógica organizacional, mas é apenas provisório enquanto não nascia uma lógica padrão ou uma lógica comum estabelecida, existia uma lógica pessoal do dono do gabinete. Alguns autores erram em afirmar que os gabinetes de curiosidades se transformaram em museus. São antecessores aos museus, pois tinham uma característica única e não possuíam os mesmos objetivos que os museus possuem. Eram situados em espaços pequenos, de propriedade privada. No fim do século XIX é que um museu, o Museu de História Natural de Londres, onde conviveram por razões diversas, tanto  Marx & Engels, quanto Charles Darwin, exibiu seus objetos ordenados cientificamente, graças à classificação teórica de Carlos Lineu.

Marx escreveu seu famoso livro: O Capital, na sala de leitura da Biblioteca Britânica. Em 1844, conheceu, em Paris, Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima durante mais de 40 anos. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicando-se em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados. Ao mesmo tempo em que, na França, estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em Colônia, primeiro jornal diário francamente socialista. Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e do fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi para Paris e daí expulso para Londres, onde fixou residência. Em Londres, dedicou-se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo frequentador assíduo da sala de leituras do British Museum. Escrevia artigos para jornais norte-americanos, sobre política latin-maericana, mas sua situação material esteve sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels, que vivia em Manchester feliz e em boas condições financeiras.

A British Library é a Biblioteca Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo. Atualmente, o seu acervo possui aproximadamente 150 milhões de itens e a cada ano incorporam-se à coleção cerca de três milhões de itens novos. A Biblioteca Britânica contém, além de livros, mapas, jornais, partituras, patentes, manuscritos, selos, dentre outros materiais. Todos estão dispostos sobre 625 km de prateleiras que crescem 12 km a cada ano. O espaço físico para a leitura possui capacidade para mil e duzentos leitores. Entre as coleções especiais da Biblioteca Britânica, consta o caderno de anotações de Leonardo da Vinci, material de 300 a. C. aos jornais atuais, a Carta Magna, a gravação do discurso experimental do líder negro Nelson Mandela, cerca de 50 milhões de patentes, 310 mil volumes de manuscritos, de Jane Austen a James Joyce, de Händel aos Beatles, e aproximadamente mais de 260 mil títulos de jornais e mais de quatro milhões de mapas. A biblioteca disponibiliza informações para estudantes, pesquisadores de ciências específicas e para executivos no Reino Unido e ao redor do mundo. A cada ano aproximadamente seis milhões de buscas são geradas pelo catálogo online e mais de 100 milhões de itens são fornecidos aos leitores de todo o mundo.

A palavra laboratório origina-se do latim através da junção das palavras labor (trabalho) e orare (orar) misturando aspectos da oralidade e experimentação. A importância do laboratório na pesquisa social baseia-se no exercício de suas atividades repetitivas em condições ambientais controladas e normatizadas, de modo a assegurar que não ocorram influências ideológico-culturais que alterem o resultado da pesquisa, de modo a garantir que o experimento seja repetível em outro laboratório e obtenha o mesmo resultado. Um exemplo paradigmático de laboratório surge com a biblioteca do Museu Britânico, nos tempos de Marx, ao contrário de um centro de ideias e artes criativas como Paris, ou mesmo Berlim, era em Londres a capital da ciência. Sua rotunda, sala de leitura circular nos dias de hoje, uma sala de exposição na qual os turistas conhecem a cadeira preferida de Marx, logo viria a se tornar o “lar de Marx” fora de sua casa. A Dean Street, onde a família de Marx morou, juntamente com a empregada, Lenchen, de 1850 a 1856, ficava no coração do Soho. Numa Londres que se tornara a capital política e administrativa do mais importante império colonialista de além-mar que existiu no mundo ocidental durante os três primeiros quartos do século XIX, Londres era também o centro nevrálgico do capitalismo transnacional globalizado.

Foi o maior império em extensão de terras descontínuas do globo, composto por domínios, colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou administrados pelo Reino Unido. Originou-se com as violentas conquistas das colônias ultramarinas (cf. Marx & Engels, 2008) e entrepostas estabelecidas pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total da Terra. Como resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado, globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios invadidos e colonizados. Representou um período histórico de colapso dos impérios da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mogol. Testemunhou hic et nunc o poderoso crescimento da influência geopolítica dos impérios Britânico, Russo, Alemão, Japonês e Norte-Americano, estimulando conflitos militares e avanços técnico-científicos de exploração capitalista do trabalho. O Império Britânico foi o maior império na história da humanidade, chegando a dominar quase 1/4 do planeta. O território que foi apelidado de “o império no qual o Sol nunca se põe”.

Para tratarmos do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo existencialismo, incluindo Sören Kierkegaard e Martin Heidegger. Sofreu influências, também em certa medida associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção incluíram a “desconstrução” e as diversas áreas que começam com o prefixo “pós”, como o “pós-estruturalismo”, o “pós-marxismo” e o “pós-feminismo”. É também utilizado para designar a familiaridade por artistas e criadores ocidentais de elementos, descrições ou imitações culturalmente conotadas com as culturas ditas orientais. Popularizado como um campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a partir do colonialismo do século XIX, o orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo humano vulgarizado pela designação “mundo árabe” e mesmo a África, em alguns casos. 

O orientalismo ratificou a hipótese colonialista da inferioridade racial e cultural de todas as civilizações não europeias. O seu objetivo, não assumido, foi à busca da justificação do processo de dominação imperialista através do discurso de redenção dos povos ditos primitivos, inferiores e subdesenvolvidos” que tem origem na esfera da antropologia colonialista. Durante este século as técnicas de exposição foram incorporando os avanços da comunicação social e da ciência da informação, havendo posteriormente museus que fazem uso de multimídia, com a utilização de tecnologias com suporte digital para criar, manipular, armazenar e pesquisar conteúdos. No Brasil, o Museu da Língua Portuguesa usa recursos como projeção de imagens para transmitir a informação sobre seu acervo, e objeto, a própria língua portuguesa. Os gabinetes de curiosidades, ou, Os quartos das maravilhas designam os lugares em que durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos século XVI e século XVII, se colecionavam uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos dos três ramos da biologia. Em geral os gabinetes de curiosidades eram uma exposição de curiosidades e achados procedentes de novas explorações ou instrumentos tecnicamente avançados, como foi o caso análogo da coleção do czar Pedro, o Grande, em outros casos eram amostras de quadros e pinturas, sendo este o caso do arquiduque Leopoldo Guillermo, podendo ser considerados como os precursores dos atuais museus de arte. Apareceram durante o Renascimento na Europa. Os gabinetes de curiosidades são os antecessores diretos dos museus.

Tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna embora refletissem a opinião popular do tempo: não era raro encontrar sangue de dragão secado ou esqueletos de animais míticos. A edição de catálogos, geralmente ilustrados, permitia acessar e difundir o conteúdo para os cientistas da época. Os gabinetes de curiosidades desapareceram durante os séculos XVIII e XIX, sendo substituídos por instituições oficiais e coleções privadas. Os objetos considerados mais interessantes foram transferidos para museus de artes e de história natural que começaram a ser fundados. Tiveram grande importância no estudo precoce de certas disciplinas de biologia ao criar coleções de fósseis, conchas e insetos.  O redescobrimento das culturas clássicas grega e romana, do ponto de vista da análise comparada se configuraram numa nova dimensão ao colecionismo de objetos de arte. Importantes coleções foram as dos poderosos Médici, uma pródiga família de nobreza italiana, que financiava a sequência de importantes obras de arte e a formação teórica e prática de artistas. 

Museu Nacional - Rio de Janeiro.

O colecionismo representa um conjunto de práticas e saberes sociais em que as pessoas individual e coletivamente, através dos símbolos têm o hábito de guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria, técnica e social em função de interesses pessoais. No mundo globalizado milhões de colecionadores organizam diversas coleções de objetos e atividades que pode trazer para o colecionador, em especial do ponto de vista geracional, decorrendo o desenvolvimento dos sensos de classificação e organização, de interação social e socialização com outros colecionadores, do poder de barganha em especial de negociação, bem como o aumento do repertório cultural acerca do objeto determinado colecionado. Dentre os principais coleções, algumas recebem nomes específicos. Tais nomes referem-se, em princípio, ao estudo dos itens aos quais se referem, e num processo de ampliação de sentido o termo passou a designar também o ato de colecionar tais itens. Isso se deve ao fato de que a maior parte desses estudiosos também acabava por colecionar seus objetos de estudo.

Ao afirmar que a existência do colecionador é uma tensão dialética entre os polos da ordem e da desordem, Benjamin adianta sua visão sobre esse processo de reunião, catalogação e arquivo de livros, que é a sua própria coleção: o colecionador, e seus objetos, estão sempre no umbral entre a desordem que é adquirir livros novos e a ordem (ou a tentativa) que é arquivá-los em uma estante. Se, por um lado, há a perspectiva de que a catalogação é a única forma de estabelecer qualquer tipo de coerência em uma biblioteca, por outro, há a sensação de que ela nunca está totalmente organizada, haja vista que são inúmeras as informações que povoam de sombras cada exemplar: nome do autor, ano de publicação, ano da escrita, ano de aquisição, e outras categorias. A discussão de Benjamin (cf. Krüger, 2014: 74) sobre fragmentos habita o plano do metafórico, pois toda ela é forjada sobre as bases das alegorias com que pretende explicar os conceitos de unidade, de conjunto, de parte, de todo. A primeira e mais recorrente figura utilizada é a das estrelas em contraponto à ideia de constelação,  o enlace, a rede imaginária que dá sentido de coletividade às muitas individualidades e ao isolamento de cada astro. Em paralelo, o autor estabelece a mesma noção de unidade menor e de coletivo ao resgatar os conceitos de ideias e coisas, no plano da filosofia.

Museologia e Museus têm caminhos entrelaçados, responsabilidades recíprocas e funcionalidade pragmática do ponto de vista da divisão do trabalho. A Museologia, enquanto disciplina, pode colaborar com a sociedade contemporânea na identificação de suas referências culturais, na visualização de procedimentos preservacionistas que as transformem em herança patrimonial e na implementação de processos comunicacionais que contribuam com a educação formal. O Museu, por sua vez, corresponde ao modelo institucional vocacionado à construção e à administração da memória, a partir de estudo, tratamento, guarda e extroversão dos indicadores culturais, materiais e imateriais (referências, fragmentos, expressões, vestígios, objetos, coleções, acervos), mediante o cumprimento de três funções básicas: científica, educativa e social (Léon, 1978). Se a consolidação epistemológica dessa disciplina depende, em grande parte, de sua experimentação nos museus, estas instituições necessitam, em contrapartida, de orientação filosófica e conceitual, derivada dos paradigmas que alimentam a discussão em torno da Museologia. Neste sentido, o refinamento dos caminhos entre os mitos, os ritos e os símbolos, além da utopia reside na conciliação entre o desenvolvimento, que na fenomenologia de Hegel tem como significado “vir a ser aquilo que se é”, na formulação ideal-típica dos museus e suas conquistas do pensamento museológico.

Bibliografia geral consultada.

HOLANDA, Cristina Rodrigues, Museu Histórico do Ceará: A Memória dos Objetos na Construção da História (1932-1942). Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2005; DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria, Gestão de Museus e o Desafio do Método na Diversidade: Diagnóstico Museológico e Planejamento. Tese de Doutorado em Museologia. Porto: Universidade Lusófona de Tecnologias e Humanidades, 2012; SILVA, Maurício Candido da, Musealização da Natureza: Exposições em Museus de História Natural como Representação Cultural. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; ZURITA, Priscila, Iluminação como Ferramenta de Comunicação dos Museus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. Centro de Ciências Humanas e Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2014; REMELGADO, Ana Patrícia Soares Lapa, Estratégias de Comunicação em Museus. Instrumentos de Gestão em Instituições Museológicas. Tese de Doutoramento em Museologia. Faculdade de Letras. Porto: Universidade do Porto, 2014; ISOLAN, Fiorela Bugatti, A Formação em Museologia nas Universidades Brasileiras: Reflexões sobre o Ensino da Gestão e do Planejamento sob a Ótica da Museologia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia. Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; RAFAEL, Maurício, Políticas Públicas para o Campo Museal: Um Estudo sobre o Programa de Capacitação Museológica do Sistema Estadual de Museus de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; GOMES, Alexandre Oliveira, Museus Indígenas, Mobilizações Étnicas e Cosmopolíticas da Memória: Um Estudo Antropológico. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Departamento de Antropologia e Museologia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2019; JORGE DE MELLO, Diogo, Festas de Encantarias: As Religiões Afrodiaspóricas e Afroamazônicas, um Olhar Fratrimonial em Museologia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2020; entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário