terça-feira, 31 de março de 2020

Colégios de Aplicação - Escolas Públicas & Descentralizadas.


Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo”. Friedrich Nietzsche

         
            Um Colégio de Aplicação representa um tipo de escola, uma instituição de ensino fundamental e/ou de Ensino Médio, mantido e gerido por uma Instituição de nível superior, a universidade, e dedicado a aplicar as práticas pedagógicas nela desenvolvidas. Por ser ligado a uma universidade, um colégio de aplicação serve de campo de experimentação para inovações em didática e gestão escolar. Sua função social é integrar a relação teoria e prática na formação de alunos e professores. Universidades utilizam os colégios de aplicação como local de testes de hipóteses das pedagogias, bem como local de estágio profissional para os formandos das universidades. Os colégios de aplicação têm a função de pôr em prática inovações que sejam estudadas e pesquisadas no campo da Educação como área de conhecimento. Como parte integrante de universidades, os colégios de aplicação têm a função de disciplinar o tempo para o exercício das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Universidades públicas manietadas por reconhecido esprit de corps, por aquela capacidade inventada dos membros de um grupo fechado de manter a crença em uma instituição ou objetivo, diante de oposição ou dificuldades, não vislumbram nem por acidente constituir um Colégio de Aplicação.
             A tendência é conselheira quando temos de um lado, um quadro de pensamento que vai se formando e, de outro, que não se mistura, não amadurece no plano das ideias, pois encontra dificuldade da corporação ou Colegiado de admitir as hierarquias, as subjetividades culturais das práticas de trabalho e das práticas de formação  que se constituem na troca de favores.  O Caso da Cara é um dos contos mais famosos de Machado de Assis. Publicado inicialmente na Gazeta de Notícias, no ano de 1891.  Neste conto, Machado tem como escopo o drama pessoal de Damião, o protagonista, que deseja abandonar o seminário. Seminarista sem vocação, fugido do seminário, troca a vara com que Sinhá Rita irá castigar a negra Lucrécia - pelo trabalho não terminado - pelos favores que a mesma lhe prestará intercedendo junto ao padrinho e, por este ao pai, no caso da fuga do seminário. Neste conto, que o autor situa em 1850, fica claro a relação de favor como nexo quase universal, que caracterizava as relações sociais no século XIX. Pode-se perceber a intenção em analisar as cruéis relações de dominação entre iguais. Todos subjugados por um sistema político e social marcado pelo autoritarismo, mas que não hesitam em reproduzir e legitimar, a opressão, de que são as próprias vítimas. O Caso da Vara é um dos exemplos da crítica machadiana, sutil, mas repleta de uma ironia amarga.



Os professores de ensinos fundamental e médio nesses colégios são também professores da universidade ainda que não dedicados ao ensino superior, muitos com titulação acadêmica de pós-graduação (Mestrado, Doutorado), que cumprem tarefas como pesquisadores, reproduzindo novas concepções de ensino e pesquisa e no plano da extensão acadêmica retornando o conhecimento (feedback) da instituição para a sociedade. Frequentemente, os alunos graduandos em cursos de Educação, Pedagogia e as tradicionais licenciaturas em Letras, Matemática, Química, História, Biologia, Geografia, Física e Educação Física de universidades que mantêm colégios de aplicação realizam obrigatoriamente seus estágios docentes nessas escolas. Mesmo inseridos na estrutura institucional de universidades, devido à história social da universidade, nem sempre os Colégios de Aplicação têm instalações localizadas no campus universitário. Alguns podem ter prédios próprios, separados dos campi principais. Mas a maioria das instituições públicas, no plano estadual e federal, não têm colégios de aplicação. A questão nevrálgica diz respeito a seguinte pergunta: o que é que os professores, os coordenadores e chefes de unidades colocaram em seu respectivos lugares?
A Universidade Federal de Santa Catarina foi criada pela Lei n° 3.849, de 18 de dezembro de 1960, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Em fevereiro de 1961, foi criado um Ginásio de Aplicação, visando a dar cumprimento ao que estabelece o Decreto-Lei n° 9.053, de 12 de março de 1946. O funcionamento do Ginásio de Aplicaçao proporcionou ao aluno do curso de Didática, a prática de ensino, requisito exigido para a formação pedagógica necessária ao desempenho da função docente do primeiro ciclo do Ensino Médio, o curso ginasial, na Universidade Federal de Santa Catarina, foi autorizado pela Portaria n° 673, de 17/07/61, da Diretoria do Ensino Secundário do Ministério de Educação o e Cultura, filiando-o ao Sistema Federal de Ensino. De acordo com depoimentos dos professores do Centro de Ciências da Educação que atuaram na década de 1960, os professores do Departamento de Métodos de Ensino do Centro de Educação (CED) eram também professores do Ginásio de Aplicaçao. Isto é, estes professores ministravam aulas nas diversas práticas de ensino e eram responsáveis pela regência de classe neste Colégio. Estes dados não constam das atas da Congregação da referida Faculdade. No primeiro ano de funcionamento, a Diretora do Instituto Estadual de Educação, de Florianópolis, definiu que duas turmas daquele estabelecimento de ensino passariam a constituir as 5ª e 6ª séries do Ginásio de Aplicação, conforme o Livro nº 1 de Atas da Congregação de Professores da Faculdade Catarinense de Filosofia, 1961 (cf. Sena, 1987).
No caso da professora Guiomar Osório de Sena, O Colégio de Aplicação no Contexto das Universidades Brasileiras (1987) é pesquisa pioneira por três motivos: a) foi realizada pelo emergente curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina; b) trata-se de pesquisa teórica e empírica realizada entre 1978 a 1984, e na relação das entidades brasileiras cujos dirigentes são membros do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) de dimensão nacional; c) com os dados colhidos na periodização da pesquisa no Catálogo das Universidades Brasileiras, existem cinquenta e nove (59) Instituições de Ensino Superior (IES) federais, oitenta e cinco (85) estaduais, cento e vinte e duas (122) pertencentes â rede municipal de ensino e seiscentas e vinte e duas (622) vinculadas ã rede particular de ensino. O universo da pesquisa é constituído de onze (11) Colégios de Aplicação pertencentes a universidades federais, cinco (5) Colégios de Aplicação Estaduais, dos quais três (3) vinculados a universidades estaduais e dois (2) a instituições isoladas estaduais, um (l) vinculado a instituição isolada municipal, um (1) pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, consequentemente, da rede particular de ensino e vinte e um (21) Colégios de Aplicação vinculados a instituições isoladas particulares. Dos trinta e nove (39) Colégios de Aplicaçao analisados na pesquisa empírica, dois (2) foram criados antes de 1950, sendo um deles anterior ao surgimento do Decreto-Lei n° 9053, de l2 de março de 1946, que “cria um Ginásio de Aplicaçao anexo às Faculdades de Filosofia do País”. Isto significa 2,5% do total existente.
 
De 1951 a 1961 constata-se a criação de oito (8) colégios, alcançando 20,5%, e de 1961 a 1971 foram criados mais dez (10), ou seja, 25,6% dos Colégios de Aplicaçao em funcionamento. Após 1971, foram criados dezenove (19) colégios, o que representa 48,7%. Da análise dos dados, verifica-se que a partir de 1961 é bem maior o número de Colégios deste gênero, com destaque nas redes federal e particular de ensino. Data desta época a criação do único Colégio da rede municipal constante desta pesquisa. Dos onze Colégios de Aplicaçao vinculados à rede federal de ensino, apenas dois (2) oferecem o Ensino Pré-Escolar (l8,2%) e dois (2), num percentual de 18,2%, o Ensino de 1° grau parcial (5ª a 8ª séries); 64%, representados por sete (7) Colégios, atendem alunos de sete (7) a catorze (14) anos, faixa da obrigatoriedade escolar, abrigando uma clientela de sete mil, cento e vinte e oito (7. l28) alunos. Os cinco (5) Colégios de Aplicaçao em funcionamento na rede estadual de ensino, ou seja, com dados estatísticos de 13% do universo empírico da pesquisa foram criados a partir de 1951. Nesta rede de ensino é atendida uma clientela de dois mil, oitocentos e trinta e oito (2.838) alunos no Ensino de 1º grau e de dois mil cento e cinquenta e oito (2. l58) alunos no Ensino de 2º  grau. No que concerne ã profissionalização, no Ensino de 2º grau as habilitações mais oferecidas nesta rede de ensino são as Técnicas em E1etrônica, Análises Químicas e Agricultura.       
Na realização da pesquisa foram previstos dois momentos distintos de operacionalização: um primeiro, para a identificação das Instituições de Ensino Superior (IES) com Colégio de Aplicação em funcionamento, e um segundo, visando a atingir especificamente estas IES. Neste sentido, foram elaborados dois instrumentos, que depois de submetidos a teste, foram encaminhados para a coleta de dados. O primeiro método foi através de um Roteiro de Informações remetido a quatrocentas e cinquenta e quatro (454) IES com seus cursos de Licenciatura e Educação. As IES que não dispunham de Colégio de Aplicação em funcionamento deveriam explicitar as razoes. Numa terceira etapa, em março de l985, já de posse dos dados estatísticos coletados que informavam quantas e quais IES mantinham Colégio de Aplicação, procedeu-se ã remessa do segundo instrumento. Como a devolução do questionário não aconteceu de maneira satisfatória, reiteradas vezes foi solicitada a colaboração das IES, justificando-se a importância da remessa do instrumento devidamente preenchido.

Em outubro de 1985 durante a realização do I Encontro Nacional de Professores de Colégios de Aplicação, em Florianópolis, o contato foi realizado pessoalmente com algumas IES. Como resultado do apelo feito durante aquele evento, retornaram alguns instrumentos convenientemente preenchidos. Porém o número de respostas ainda não satisfazia, por ser pouco representativo. Foi então que, em abril de 1986, seguiu para aquelas uma nova correspondência, agora assinada pelo Pró-Reitor de Ensino, reiterando a importância da colaboração de cada IES. Para esta etapa foi dado um prazo final de vinte (20) dias. Não sendo ainda atingido o objetivo, foram também enviados telex assinados pelo Pró-Reitor de Graduação de Ensino. Como último prazo para a devolução, ficou estabelecido o final do mês de maio de 1986. Todas as informações “colhidas” durante a execução da pesquisa propiciaram o estudo aprofundado sobre Colégio de Aplicação a que este trabalho se propôs, em termos de objetivos gerais. Com base nos dados, procedeu-se a uma análise descritiva de como vem se desempenhando o Colégio de Aplicação, órgão integrante da estrutura universitária brasileira.
O Decreto-Lei n° 9.053, de 12 de março de 1946 instituiu o Ginásio de Aplicação. Com este dispositivo legal, ficou estabelecido que todas as Faculdades Federais de Filosofia, reconhecidas ou autorizadas a funcionar no território nacional, deveriam manter um Ginásio de Aplicaçao destinado à prática docente dos alunos matriculados no Curso de Didática. Como a idéia era nova e o tempo disponível era curto para que as Faculdades de Filosofia criassem o Colégio de Aplicação, decidiram os estudiosos do problema que primeiro se criaria o Ginásio. A importância da criação do Ginásio de Aplicaçao estava diretamente relacionada â eficiência da formação profissional. Defendia-se a idéia de que a didática devesse ser trabalhada “ao vivo”, sob a forma técnica de Prática de Ensino. Esta deveria acontecer sob a responsabilidade de uma instituição ligada à Faculdade de Filosofia, de onde receberia influência da cultura, do material didático e de seu equipamento, considerando-se, para isto, relevante a flexibilidade experimental. Era preciso proporcionar-lhe organização, de acordo com as exigências pedagógicas, para que realmente pudesse funcionar como “escola-modelo” na Faculdade de Filosofia, mas que precariamente  não vinham sendo ministradas de acordo com o dispositivo legal em vigor.
       De acordo com a pesquisadora (Sena, 1987: 15 e ss.), o Colégio de Aplicação, dentro da Universidade, constituiu-se, na escola-laboratório, preferencial centro ativo de investigações e irradiador de conhecimentos inovadores para solução dos problemas emergentes. Sua integração com outras unidades da estrutura universitária e condição que não  exime da responsabilidade de oferecer campo de pesquisa para tantos quantos o procurem. Neste sentido, em outubro de 1985, realizou-se na Universidade Federal de Santa Catarina o referido encontro de  professores de Colégios de Aplicação. A programação deste evento versou sobre a problemática do Colégio de Aplicaçao e sua inserção na Universidade, pretendendo questionar: a) Como a escola viabiliza o desempenhar-se como Colégio de Aplicação?; b) Que caminhos foram percorridos para ser uma escola experimental?; c) Quais as dificuldades enfrentadas para atingir os objetivos?; d) Como se fez e em que contexto se concretiza a relação com a Universidade? Contudo, os professores dos diversos Colégios de Aplicação presentes ao Encontro demonstraram sua preocupação face ã precariedade em que se encontra o Ensino de 1° e 2° graus no país, hic et nunc e a responsabilidade destes Colégios, propriamente dita, por se tratarem de escolas públicas responsáveis pelo estímulo à melhoria da qualidade do ensino.
O Colégio de Aplicação é uma escola criada com características sociais e filosofia que o tornam diferente das escolas públicas. A sua filosofia está diretamente relacionada à função de resgate da escola, como local de transmissão e produção crítica de saber que dê condições e habilite o educando a uma prática social transformadora. Manter esta característica filosófica implica na criação ou, até mesmo, no resgate da relação pedagógica entre o. Colégio de Aplicação e o Centro de Educação ou Faculdade de Educação. O Colégio de Aplicaçao precisa assumir efetivamente seu papel na produção teórico-prática do ensino de 1º e 2º graus, integrando a universidade pública Universidade e Sistema de Ensino. Esta preocupação, segundo Sena (1987) com o conceito e o destino do Colégio de Aplicação constou da pauta de reuniões do 1º Encontro Nacional de Colégios de Aplicação, em Belo Horizonte (1977). No evento defendeu-se a necessidade da Universidade manter um Colégio de Aplicação como campo de pesquisa e experimentação de ensino e aprendizagem, comprovada que nas diferentes áreas do saber cada vez mais se torna presente a exigência do Laboratório. A atualização das funções do laboratório reforça a estreita vinculação com o Centro ou Faculdade de Educação para planejar, experimentar e avaliar continuamente o processo formativo do aluno, do professor ou do especialista. 


Colégio de Aplicação da UERJ.
A real função do Colégio de Aplicação o destaca como polo de irradiação das experiências educacionais, proporcionando crescimento e participação ampla e efetiva em atividades educacionais da comunidade. Outro fator social, diretamente implicado na implementação da filosofia de funcionamento do Colégio de Aplicaçao é a função administrativa. O administrador desta escola será o agente propiciador do clima organizacional necessário, no sentido de que o Colégio de Aplicação seja um conjunto organizado, onde as diferentes forças atuantes sejam ordenadas e controladas de forma a permitir o alcance das finalidades pretendidas. A administração da escola laboratório esta intimamente relacionada ãs demais funções, constituindo-se num meio necessário ã realização de seus propósitos. Um dos objetivos do Colégio de Aplicaçao, de acordo com a filosofia que norteia todo o seu funcionamento, é a integração da Universidade com o Ensino de 1º e 2º graus. Isto nada mais é do que integrar a Universidade com a Comunidade. A universidade e os sistemas de ensino, integrados, realizam a identificação dos problemas e necessidades de interesse comum, com vistas a um plano de ação conjunta, cuja continuidade evitará a ruptura do processo educacional.
Segundo a análise concreta de Sena (1987) a prática de ensino e o estágio supervisionado no Colégio de Aplicação têm implicação no desempenho do seu papel fundamental, relacionando teoria e prática e estimulando um maior envolvimento dos professores do Centro ou Faculdade de Educação. Desta forma, o Centro ou Faculdade de Educação deixará de exercer funções meramente complementares em relação às diversas licenciaturas como tem sido recorrente. E a Universidade, voltada para o exercício do papel integrador, trabalhará intimamente associada ao Sistema Estadual de Ensino, no que se refere às diretrizes e à Operacionalização do Ensino. Nesta integraçao da Universidade com o Ensino de 1º e 2º graus, o Colégio de Aplicação será para a comunidade de forma complementar constituindo um núcleo efetivo de orientação e de renovação da prática educativa. No III Encontro de Colégios de Aplicação, realizado em Porto Alegre (1979), este tipo de escola foi considerado um “componente expressivo da Universidade”, cuja relevância está na intercomplementação e atualização de suas funções na medida da ação universitária. O seu significado no processo de investigação reside na correspondência com a própria essência factual da Universidade.
A partir destes pressupostos se depreende que está definido o papel que cabe ao Colégio de Aplicação, como elemento mediador da prática social e polo de reflexão e crítica dos problemas e conflitos emergentes na sociedade, responsável por mudanças estruturais e inovações técnicas que visem ã melhoria dos padrões educacionais. As inovações e a consequente melhoria do ensino são decorrências das experiências nele realizadas como escola-laboratório e a relação entre os resultados da pesquisa e sua difusão na comunidade. Ao Colégio de Aplicaçao ê inerente a função de renovação da estrutura e de funcionamento da Escola, tendo em vista as inovações e renovações na estrutura e funcionamento do Ensino, face ás necessidades e interesses da Universidade e da Comunidade a que serve a Escola. O isolamento e a falta de integração entre Universidades e Secretarias de Educação, de maneira geral, podem ser entendidos como um dos sérios problemas que comprometem a eficiência educativa de um e de outro. Estes fatos indicam a necessidade de novas tentativas de efetiva integração dos três graus de ensino a partir do estudo das condições que vêm impedindo aquela integração.
Enfatizar a integração desses três níveis ê estimular a renovação da ação pedagógica, visando ao aperfeiçoamento de recursos humanos, com a finalidade não só de obter um desempenho satisfatório na expansão do processo educativo, mas manter e aprimorar a qualidade do ensino ministrado. Esta ação conjunta se consubstancia na integraçao com a comunidade, considerando-se suas necessidades, realidades e aspirações, numa efetiva participação. Aqui se destaca o papel dos Colégios de Aplicação como laboratórios de ensino onde a finalidade não será apenas um padrão a ser seguido, mas, numa visão mais ampla, um teste dos modelos teóricos estudados. O Colégio de Aplicação estendendo suas pesquisas sobre a prática de ensino e o estágio supervisionado e respectivos resultados às demais escolas, estimulará o sistema estadual de ensino a proporcionar as condições mínimas necessárias para uma melhor qualidade do ensino sob sua responsabilidade social. Enquanto isto não ocorrer a Universidade continuará responsabilizada pelas deficiências constatadas no sistema de ensino em geral.

       Neste caso, a prática de ensino e o estágio supervisionado são diretamente implicados, o estagiário, pelo tempo reduzido do estágio e a falta de sequência nas atividades, não chega a ter uma visão mais ampla das possibilidades e alternativas de ensino. Com isto, poder-se-á contrariar a individualidade do aluno-mestre, dificultando, ou até mesmo impedindo, a busca de um estilo próprio de ensino. Os estágios supervisionados em escolas da comunidade viabilizam a prática do fazer, do pensar de cada escola e, consequentemente, impulsionam o crescimento horizontal e vertical das ações em desenvolvimento. O relacionamento então existente ê apenas rotineiro e impossibilita uma integração institucional adequada. Propiciar o contato com a realidade das escolas ê estimularem a existência de um campo cultural para a prática de estágio na rede oficial e a ação conjunta entre IES e o Sistema Estadual de Ensino. O Ensino Superior, como qualquer atividade educacional que se propõe ao crescimento científico. Deve preocupar-se com o intercâmbio, a integração com os diversos graus de ensino e a troca de experiências, visando ã melhoria da educação brasileira.
Para a pesquisadora quando os professores do Colégio de Aplicaçao são os responsáveis pela Didática, pela Metodologia e pela Prática de Ensino dos respectivos Departamentos, reforça-se a atuação conjunta do Centro ou Faculdade de Educação, o que ajuda a superação das dificuldades de articulação entre as unidades da Universidade como componentes de agência formadora de recursos humanos para o magistério. O Colégio de Aplicação, pelas suas características, ê uma escola de vidas proporcionadas em situação tal que dela se possa extrair todas as consequências educativas, .por meio da reflexão e da formulação do que assim for aprendido. É uma ótima maneira de se realizar na prática aquilo que se conhece na teoria. O administrador deste Colégio deve ser o maior colaborador da renovação pedagógica. Desta forma, favorecerá, por todos os meios, as condições necessárias ao melhor funcionamento do Colégio, em relação ao aspecto administrativo e técnico. A integração do Colégio de Aplicação na estrutura universitária deve acontecer logo, para que se possa tentar integrá-lo a comunidade. Para tanto, ë imprescindível a comunicação entre o Colégio e o Centro ou Faculdade de Educação e respectivos Departamentos, visando-se ã maior participação, no processo de renovação da metodologia com repercussões benéficas sobre todo o sistema de ensino.
Em 1970, foi criado o segundo ciclo do então Ensino Médio, respaldado na Resolução n° 34/69 do Reitor. Sua matricula inicial foi de trinta (30) alunos. Desta época em diante, passou-se a denominar este estabelecimento de ensino de Colégio de Aplicaçao. Com este fato novo, o funcionamento do Colégio tornou-se mais complexo, abrangendo, agora, o então segundo ciclo do Ensino Médio. Os professores do Centro de Educação deixaram de integrar o corpo docente do Colégio, como acontecia até então. Assim, teve início o processo de dissociação entre o Colégio de Aplicação e o Centro de Educação e vice-versa. Muito embora o Colégio de Aplicação seja legalmente um órgão do Centro de Educação (CE), com características e interesses especiais, o relacionamento entre eles é administrativo, conforme art. 4° do Regimento do Colégio de Aplicação: - “A Inspeção do Colégio de Aplicação compete ao Diretor do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina”. O artigo seguinte define as atribuições do Inspetor que, face às características da função, são administrativas.
Dentre elas, encontra-se como uma das atribuições da função: - “Decidir, em instância superior, sobre os assuntos administrativos relacionados com o Colégio de Aplicação”. Porém, quanto ao aspecto pedagógico, nada existe além do que estabelece o citado artigo 99 do Regimento Geral da Universidade Federal de Santa Catarina. O Colégio de Aplicação tem seu Regimento aprovado pela Portaria n° 87/81. Este documento prevê que é condição para ingresso na carreira de professor ser aprovado em concurso público de provas e títulos cabendo ao Diretor do Colégio solicitar a renovação ou não do contrato de trabalho ao Diretor do Centro de Educação. No que se refere ás atribuições do professor nada há explícito quanto ã experimentação e renovação pedagógicas, razão de ser do próprio Colégio. A direção do Colégio, de acordo com o que estabelece o respectivo Regimento, “caberá a um dos professores do Colégio, licenciado em Pedagogia com habilitação em Administração Escolar e experiência na função específica”. Na falta do elemento técnico devidamente credenciado, o Regimento da instituição prevê a indicação de um membro licenciado em Pedagogia, com experiência na função específica ou de professor do Colégio com curso de Licenciatura em Pedagogia.  O uso dos recursos pedagógicos do laboratório didático, no ambiente educacional, toma dimensões globais e se torna de extrema valia propedêutica e de orientação aos professores que utilizam as atividades experimentais em suas aulas.
 A discordância entre a importância dada pelos docentes e a pouca realização dessas atividades, na prática pedagógica, podem estar associadas à falta de clareza que ainda se tem quanto ao papel do laboratório no processo ensino-aprendizagem. O laboratório didático ajuda na interdisciplinaridade, que tem como conceito o que é comum a duas ou mais disciplinas,  e na transdisciplinaridade, uma corrente de pensamento mais aberta e que busca dar uma resposta ao método tradicional de divisão de disciplinas, já que permite desenvolver vários campos, testar hipóteses e comprovar diversos conceitos, favorecendo a capacidade de abstração do aluno. O todo, na forma em que aparece no espírito como todo-de-pensamento, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, de um modo que difere da apropriação  desse mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático. Antes como depois, lembrava Marx, o objeto real conserva sua independência fora do espírito; durante o tempo em que o espírito tiver uma atividade meramente especulativa, meramente teórica. Por consequência, também no emprego do método teórico é necessário que o objeto, a sociedade, esteja constantemente presente no espírito como dado primeiro. A abstração mais simples que exprime uma relação antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece no entanto sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade mais moderna. O trabalho demonstra com toda a evidência que até as categorias mais abstratas, precisamente por causa de sua natureza abstrata, para todas as épocas, não são sob a forma determinada desta mesma abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente válidas nestas condições sociais imediatas. 

Bibliografia geral consultada.

SENA, Guiomar Osório, O Colégio de Aplicação no Contexto das Universidades Brasileiras. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Centro de Ciências Humanas e da Educação. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1987; SILVA, Elizabeth Farias da, Ontogenia de uma Universidade/A Universidade Federal de Santa Catarina (1962-1980). Tese de Doutorado em Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000; GOHN, Maria da Gloria, “Educação não Formal, Participação da Sociedade Civil e Estruturas Colegiadas nas Escolas”. In: Ensaio: aval. pol. prob. Educ. Rio de Janeiro, vol. 14, nº 50, pp. 27-38, jan.-mar., 2006; TOSCANO, Kelly Cristina Ramos, As Transformações das Práticas em Educação Infantil no Período 1960-2000: Os Trabalhos dos Alunos, a Voz das Professoras e os Documentos Curriculares. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2006; ALMEIDA, Gisele Gomes, Sentidos Compartilhados sobre o Colégio de Aplicação da UFPE: Um Estudo com Pais e Estudantes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014; ENGERROFF, Ana Martina Baron, A Sociologia do Ensino Médio: A Produção de Sentido para a Disciplina através dos Livros Didáticos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2017; ARAÚJO, Luana Adriano, Os Desafios para a Efetivação do Direito à Educação Inclusiva: Igualdade, Diferença e Deficiência nas Escolas Públicas Municipais de Fortaleza (CE). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2018; MOTA, Maria Danielle Araújo, Laboratórios de Ciências/Biologia nas Escolas Públicas do Estado do Ceará (1997-2017): Realizações e Desafios. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019; SILVA, Carmem Lúcia Rosa, Percepção Ambiental dos Discentes e Docentes do Colégio de Aplicação de Boa Vista – Roraima quanto aos Aspectos e Problemas Geoambientais das Apps do Igarapé do Frasco. Tese de Doutorado em Geografia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019; GOMES, Luanna Priscila da Silva, Introdução à Álgebra nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Uma Análise a partir da Teoria da Objetivação. Tese de Doutorado em Educação. Centro de Educação. Nata: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,  2020; entre outros.

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