Bíblia da Mulher - Teologia Feminista & Sacrifício Real Humano.
Giuliane de Alencar & Ubiracy
de Souza Braga
“Os homens
temem que as mulheres riam deles. As mulheres temem que os homens as matem”.
Margaret Atwood
A estrutura gigante de palha
continua a mesma, como se fosse uma réplica tirada das cinzas. Todo o resto do
filme: O Sacrifício (“The Wicker Man”, 2006), remake do filme cult O Homem de palha, transformou-se.
A história social e religiosa escocesa que o diretor britânico Robin Hardy
concebeu em 1973, agora se passa nos Estados Unidos da América. Edward Malus
(Nicolas Cage) decide, após um acidente na estrada, descansar um pouco do
serviço de policial rodoviário. Recebe em casa, então, uma carta da antiga
noiva. A filha está desaparecida e a mulher pede ajuda a Edward para
encontrá-la. Parte então o policial a Summersisle, remota ilha da costa do Maine,
local do desaparecimento da menina. Trata-se de uma comunidade matriarcal
fechada a visitas. Edward faz valer sua autoridade e penetra na ilha para
tentar encontrar a menina - e a mãe, cujo abandono às vésperas do casamente ele
nunca conseguiu entender. Basicamente, “O Homem de Palha” representa uma história
policial com elementos de fantasia e horror. O tema é o paganismo, de religiões
pré-cristãs quando o catolicismo passou a tratar como “pagãos” romanos que continuavam fiéis às suas antigas religiões politeístas e ipso facto não se convertiam ao cristianismo que idolatrava deuses, ou entidades que protegiam o sol,
os pomares, os campos, as colheitas.
O paganismo começou a mostrar-se mais visível no Renascimento. Adotou a cultura pagã grega e romana como fonte de inspiração. Mais tarde aparece revigorado, disfarçado sob a forma de ateísmo, durante a Revolução Francesa, com os jacobinos e seu anticatolicismo radical. Cultuado na forma da deusa razão, representada sempre usando um barrete frígio. O mesmo usado no culto de Mithra, uma espécie de missa negra primitiva, combatida por São Justino. O paganismo que tem se revelado hoje no mundo ocidental tem suas causas mais recentes principalmente na filosofia humanista e nas sociedades secretas surgidas no século XIX. Eventualmente utilizavam sacrifícios humanos em rituais bizarros que celebravam “a fertilidade venerando os símbolos fálicos como geradores da natureza”. Com locações na ilha de Summerisle, na costa oeste da Escócia, o filme tem a presença marcante de Christopher Lee o líder religioso de uma seita pagã, a participação pequena, mas sempre bem-vinda, da bela Ingrid Pitt. Ambas as marcas registradas nas produções da Hammer. No filme: “O Homem de Palha” não encontramos a tradicional ambientação com cenários góticos.
O filme é contemporâneo, passando-se no século XX, mas utilizando uma ideia de centenas de anos atrás, onde uma comunidade isolada numa ilha escocesa considera a religião cristã ultrapassada e acredita em deuses antigos com a reencarnação do espírito na natureza. São muitos os destaques, vindo, em primeiro lugar desde a investigação policial de desaparecimento da menina, sempre mantendo a atenção do espectador que acompanha a crescente revelação dos fatos que levam à verdade. E em segundo lugar, passando pelos estranhos hábitos dos moradores, que praticam o sexo sem falsos moralismos nas ruas noturnas. Ou, em terceiro lugar, a os ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância no ritual feminista, do pênis como fertilidade, além dos estranhos rituais e festas pagãs que se opõe ao tradicionalismo cristão. A nudez da bela atriz Britt Ekland, dançando para conquistar o Sargento Howie, também é um ponto alto e memorável, tendo em vista que parte das cenas cinematográficas foi realizada por uma atriz dublê de corpo meramente como representação. Fluente
em quatro línguas, Britt começou a carreira no cinema sueco e transferiu-se
para a Inglaterra, onde se estabeleceu há quatro décadas. Casou-se com o ator e
comediante Peter Sellers em 1964 e fez dois filmes com ele, que a lançaram como
sex symbol no cinema britânico. Com Sellers também teve um
relacionamento atribulado, sempre exposto na mídia, mas manteve-se ao lado do
ator quando ele teve uma série de ataques cardíacos na metade da década e com
quem teve uma filha em 1965, Victoria. Sua maior popularidade no cinema veio no
começo dos anos 1970, quando participou de Get Carter (1971), com Michael Caine e no cultuado O Homem de Palha (1973)
clássico de horror e suspense.
Margaret
Eleanor Atwood nasceu em Ottawa é uma escritora canadense, romancista, poetisa,
contista, ensaísta e crítica literária internacionalmente reconhecida, tendo
recebido inúmeros prêmios literários importantes. Foi agraciada com a Ordem
do Canadá, a mais alta distinção em seu país. Em 2001, Atwood foi incluída
na Canada`s Walk of Fame de Toronto. Muitos dos seus poemas foram inspirados
por contos de fadas europeus e pela mitologia euroasiática. Nascida em
18 de novembro de 1939 na cidade de Ottawa, na província de Ontário, no
centro-leste do Canadá, Margaret Atwood é a segunda dos três filhos de Margaret
Dorothy Killam-Atwood, uma nutricionista irlando-canandense do interior da ilha
de Nova Escócia e de Carl Edmund Atwood, um entomologista de Ontário. Graças às
pesquisas de seu pai sobre a entomologia das florestas, Atwood passou muito
tempo de sua infância próxima às florestas do Norte do Quebec, viajando entre
Ottawa, Sault Ste. Marie, e Toronto. Ela só foi à escola em tempo integral
quando estava na oitava série. Tornou-se uma leitora voraz de literatura, de
livros de mistério, de contos de fada dos Irmãos Grimm e de histórias em
quadrinhos. Frequentou o Colégio Leaside High School, em Leaside, Toronto, e
formou-se em 1957. Desde 1976, é membro do Writers` Trust of Canada, uma
organização não governamental que atua em apoio à comunidade de escritores
canadenses ou residentes.
Atwood, que se envolveu no diálogo
intelectual feminino no Victoria College, na Universidade de Toronto,
frequentemente retrata personagens femininas dominadas pelo patriarcado em seus
romances. Ainda assim, ela nega que The Edible Woman, por exemplo, publicado em 1969 e que “coincidiu
com a segunda onda do movimento feminista, seja feminista e alega tê-lo escrito
quatro anos antes do movimento. Atwood acredita que o rótulo feminista só pode
ser aplicado a escritores que conscientemente trabalham na moldura do movimento
feminista”. Em entrevista, Atwood já disse ficar na ponta dos dois extremos.
Ela acredita que mulheres não devem ser vistas como inferiores aos homens, mas
também não merecem ser vistas com preconceito por escolher ter filhos e um
marido. Um dos livros de maior sucesso de Atwood, The Handmaid`s Tale
foi lançado em 1985, e desde então nunca deixou de ser publicado. O livro
vendeu milhões de cópias no mundo todo. Em um artigo do The Guardian,
Atwood escreve: “Alguns livros assombram o leitor. Outros assombram o autor. The
Handmaid`s Tale fez os dois”.
O
livro tem um teor político muito grande em relação ao controle da vida das
mulheres, e se passa em um mundo distópico. O livro chegou a ser banido em
escolas, mas originou um filme e até uma ópera. Atwood não concorda com o livro
ser uma 'distopia feminista', porque em uma realidade assim todos os homens
teriam mais direitos do que as mulheres. Para ela, o livro na verdade é um
sistema ditatorial em que homens e mulheres ocupam lugares diferentes na
pirâmide. Atwood diz que não esperava o quanto o livro marcaria a vida de
tantas pessoas. “Esse é um livro de entretenimento ou uma profecia política?
Pode ser os dois? Eu não antecipei nada disso enquanto escrevia o livro”. As
personagens nas obras de Atwood são conhecidas pelo grande sofrimento que
enfrentam. Mas isso não significa que elas sejam passivas. Em uma entrevista
para o The New York Times, Atwood explicou que a inspiração para suas
personagens vem da vida real. “Minhas mulheres sofrem porque a maior parte das
mulheres com quem eu converso parecem já ter sofrido”. Ela acredita que esse
tema não é muito discutido porque o sofrimento de uma mulher é visto erroneamente como algo
passivo. O que é característico em sua literatura e em seus trabalhos mais famosos, as mulheres dos livros triunfam sobre
a dor, e se tornam bem sucedidas em suas carreiras.
Os
filmes - mutatis mutandis - não estão diretamente ligados entre si, mas todos tratam do tema do paganismo
no mundo moderno. O remake norte-americano de 2006 de The Wicker Man
(1973) não faz parte da série e Hardy se dissociou dela. O filme foi dirigido
por Robin Hardy e escrito por Anthony Shaffer, que baseou seu roteiro vagamente
no romance Ritual de David Pinner. A história segue um policial escocês,
o sargento Neil Howie (Edward Woodward), que visita a ilha isolada de
Summerisle em busca de uma garota desaparecida chamada Rowan Morrison. Todos os
habitantes de Summerisle seguem uma forma de paganismo celta, que choca e
apavora o devoto sargento cristão. Howie descobre que os pagãos, liderados por
seu laird, Lord Summerisle (Christopher Lee), estão planejando um
sacrifício virgem na esperança de apaziguar os deuses e restaurar suas
colheitas. Acreditando que Rowan Morrison será sacrificado, Howie se esforça
para resgatá-la, apenas para descobrir que seu suposto desaparecimento foi
apenas uma manobra para atraí-lo para a ilha. Os pagãos aprisionam Howie em um
homem de vime e ateou fogo, queimando-o até a morte. The Wicker Man é bem visto pelos críticos.
Em análise comparada a revista de cinema Cine Fantastique o descreveu como “O cidadão Kane dos
filmes de terror” e, em 2004, a revista Total Film nomeou The Wicker Man como o
sexto maior filme britânico de todos os tempos. Ele também ganhou o Saturn
Award de 1978 de Melhor Filme de Terror. Uma cena desse filme ficou em 45º
lugar na lista dos 100 momentos mais assustadores do filme da Bravo. Em 2006,
Robin Hardy publicou um romance de acompanhamento do enredo de The Wicker Man,
intitulado Cowboys for Christ. Segue dois jovens norte-americanos, Beth e
Steve, que deixam o Texas para espalhar o cristianismo em Tressock, na Escócia.
Eles são recebidos por Sir Lachlan Morrison e sua esposa, Delia Morrison; sem o
conhecimento de Beth e Steve, eles estão em grave perigo por causa de uma
comunidade pagã celta na vila. Uma adaptação para o cinema, intitulada The
Wicker Tree, foi produzida em 2009, com Hardy dirigindo a partir de seu próprio
roteiro. Teve uma exibição em um festival de cinema em 2011.
Um
lançamento limitado nos cinemas ocorreu em janeiro de 2012 nos Estados Unidos,
seguido por um lançamento em DVD em abril de 2012. Foi o segundo DVD mais
pedido na Amazon nos primeiros três meses. após seu lançamento, fato de que o
diretor Robin Hardy muito se orgulhava. No caso de The Wrath of the Gods foi um
planejado filme romântico de comédia escrito e dirigido por Hardy, e baseado em
Crepúsculo dos Deuses, a parte final do Ciclo do Anel de Richard Wagner. Neste
filme, “os deuses recebem sua punição”. Hardy anunciou planos para uma trilogia
em uma entrevista de 2007 para o jornal The Guardian, embora o primeiro filme
da trilogia, The Wicker Man, tenha sido feito originalmente em 1973. O terceiro
filme foi planejado para ser ambientado principalmente na Islândia; no entanto,
Hardy decidiu que filmar lá seria impraticável, e reescreveu o roteiro,
redefinindo a história em Shetland, com algumas cenas a serem filmadas em Los
Angeles. Como Shetland tem um folclore escandinavo, em vez de celta, isso
permite que a história social permaneça na mitologia nórdica.
O
filme é dividido em duas partes. Os protagonistas são um jovem casal, Siegfried
e Brynne. Siegfried é bonito, mas “incrivelmente estúpido”, e foi superado por
sua própria arrogância e habilidade esportiva. Brynne o ama apesar de seus
defeitos e consegue ensiná-lo a fazer amor em um “momento triunfal”. Hardy
disse que o filme é sobre “o que acontece com os deuses, não apenas com as
pessoas que estão oferecendo sacrifícios a eles. Os próprios deuses são sugados
para a confusão no terceiro filme. Procurei uma carapaça adequada para coloque
isso e o último ato do ciclo do Anel parece funcionar muito bem - e isso me
permite misturar Wagner a todo vapor”. Outro personagem-chave do filme é o pai
de Brynne, um chefe de polícia. Ele tem um romance trágico com uma mulher de
meia-idade, acusada de assassinato no Canadá. Hardy afirmou que o chefe de
polícia terá que denunciá-la porque é um homem honrado. O antagonista
de A Ira dos Deuses é o Sr. Odin, executivo “de um estúdio de Hollywood que
decide criar um parque temático baseado nas sagas nórdicas originárias da
Islândia”.
O
lugar, como na representação religiosa é aparentemente parado no tempo e
espaço: mulheres de cabelos longos e roupas antigas, casinhas idílicas, e um
linguajar antiquado. Os homens são poucos, mas tendo em vista a sociedade
matriarcal apresentam-se todos, fora a questão de submissão no trabalho; são
desprezados. Não se sabe ou não querem dizer sobre o desaparecimento da menina.
O filme: “O Sacrifício” trabalha muito bem com essa questão da autoridade
perdida, opondo-o à racionalidade da burocracia. A certa altura dos acontecimentos o policial faz
uso da força - e é igualmente interessante notar como Neil LaBute trabalhou o
esgotamento do macho até aquele ponto, até transformá-lo em um ser irracional.
É o medo existencial, que vem desde a revolução do feminismo, de se ver
dispensado de suas funções. Edward Malus é um personagem, mas, LaBute
conseguiu fazer um homem do nosso tempo, um homem em crise, mas que acaba
se envolvendo.
Os
evangélicos deram uma grande contribuição na Guerra da Independência
norte-americana, tanto no aspecto prático quanto na prática ideológica. No entanto, após a
Revolução as igrejas estavam claramente desorganizadas e o papel do
cristianismo na nova cultura nacional não estava de modo algum garantido. A
filiação formal às igrejas estava em declínio, tendo chegado ao seu ponto mais
baixo na década de 1790, de 5 a 10% da população adulta. Reagindo a essa
situação, as igrejas superaram a confusão reinante e empreenderam vigorosas
campanhas para evangelizar o povo e cristianizar a cultura. Juntos, os representantes
das igrejas coloniais e os dinâmicos líderes das novas denominações formaram
uma frente protestante que dominou a percepção pública da religião nos Estados
Unidos da América. O “império evangélico” esteve na vanguarda até que o pluralismo cristão
e a diversidade introduziram uma nova realidade: a missão é desenvolvida não sobre os interesses da igreja, mas das necessidades do ser humano.
Reconhecido como Movimento
pela Temperança, o movimento social que defendia a moderação do consumo do
álcool, radicalizou-se no fim do século XIX e adquiriu caráter proibicionista
ao defender que se vedasse o acesso ao álcool a toda a população por meio de
uma lei federal. Entendemos
que além do interesse por missões, as igrejas norte-americanas também se
envolveram em atividades políticas e de reforma social. Como a campanha contra
a venda e o consumo de bebidas alcoólicas, chamado “o movimento da temperança”.
Os protestantes preocuparam-se especialmente com os problemas gerados pela
expansão econômica e o resultante crescimento das cidades. Os centros urbanos
tornaram-se lugares em que os muitos imigrantes e outras minorias viviam na
pobreza, sem usufruir a prosperidade que beneficiava a tantos ao seu redor. Um
das iniciativas mais bem-sucedidas no sentido de enfrentar esses problemas foi
o Exército de Salvação. Essa organização religiosa e caritativa foi criada na
Inglaterra na década de 1860 por William Booth, sendo levada para os Estados
Unidos da América em 1880. No início do século XX, o Exército da Salvação já possuía mais
de novecentos locais efetivos de atendimento no país, proporcionando assistência
religiosa, doação de alimento, abrigo, assistência médica, educação primária, treinamento
profissional, assistência jurídica e outros serviços em torno de uma ética solidariedade.
O Exército de Salvação foi fundado na região leste da cidade de Londres em 1865 pelo pastor metodista William Booth, e sua esposa Catherine Booth. Originalmente, Booth nomeu a organização Missão Cristã do Leste de Londres, mas em 1878 a reorganizou, dando-lhe um caráter militar e a chamando The Salvation Army. William pregava aos pobres, ao passo que Catherine contatava os ricos, conseguindo assim apoio financeiro para o trabalho. Ela também atuava como ministra religiosa, o que era bastante incomum àquela época. William Booth logo se tornou conhecido como General, e sua esposa Catherine ficou conhecida como a Mãe do Exército de Salvação. O fundador William Booth assim descrevia o lema da organização: - “Os três S representam melhor a maneira como o Exército de Salvação atua: primeiro a Sopa, depois o Sabão e por fim a Salvação”. Os primeiros membros do Exército de Salvação eram interpretados como alcoólatras, viciados e prostitutas convertidos ao protestantismo. Muitos destes, em função da busca por uma vida de acordo com os princípios morais do cristianismo protestante, mudavam seus hábitos de vida. Outra
iniciativa de grande impacto social foi o movimento do chamado Evangelho Social, que esteve em
evidência desde aproximadamente 1880 até o início conjuntural da crise Grande Depressão, em 1929.
Um dos primeiros articuladores do movimento foi Washington Gladden (1836-1918),
um ministro congregacional que atuou em Massachusetts e Ohio e foi ardoroso
defensor dos direitos dos trabalhadores. Charles Sheldon, um pastor do Kansas
também contribuiu para popularizar o evangelho social através do livro: “Em
seus passos” (1897). Nesse sentido o mais importante expoente desse movimento
foi Walter Rauschenbusch, pastor batista que trabalhou por dez anos no bairro
nova-iorquino conhecido como Hell’s Kitchen (“cozinha do inferno”) antes de
tornar-se professor de história da igreja no Seminário de Rochester. Seu
contato direto com a exploração dos operários e a indiferença das autoridades
fizeram dele um crítico da ordem estabelecida. Todavia, seu principal interesse
ecumênico teve como representação buscar determinada compreensão nas Escrituras, tendo como escopo uma mensagem para os problemas da sociedade
industrial, resultando em livros do início do século XX: “O Cristianismo e a
Crise Social” (1907), “Orações do Despertamento Social” (1910), “Cristianizando
a Ordem Social” (1912) e “Uma Teologia do Evangelho Social” (1917).
No
fim do século passado, um grupo de mulheres cristãs norte-americanas, lideradas
por Elizabeth Cady Stanton, começou a se reunir periodicamente para estudar
todas as passagens bíblicas onde havia referência à mulher, a fim de relê-las e
interpretá-las à luz da nova consciência que a mulher tinha de si mesma. Nesses
encontros nasceu a “Woman’s Bible”, editada em duas partes, respectivamente em
1895 e 1898, uma obra que abalou o mundo protestante norte-americano. A
realização desse vasto projeto de revisão e reinterpretação da Bíblia por parte
de um grupo de mulheres é o primeiro sinal marcante de uma nova consciência da
mulher, que amadureceu também no interior de comunidades cristãs. A idealização
original da “Bíblia da Mulher” foi considerada como um fato histórico de dimensão tanto cultural como eclesial
e como ponto de partida de um longo processo comunicativo, que levaria em torno dos anos
1960 - contemporaneamente ao emergir das teologias da libertação - à elaboração
do projeto de uma “teologia feminista”.
Elizabeth
Cady Stanton nascida em Johnstown, New York foi uma feminista e reformista
estadunidense (1815-1902). Começou sua carreira como abolicionista, e quando um
grupo de oito mulheres foi banido do World Anti-Slavery Convention de 1840, em
Londres, que ela e Lucretia Mott, duas das delegadas banidas, resolveram fundar
uma convenção pelos direitos das mulheres, em 1848. Outras delegadas frustradas,
como Mary Grew, se juntaram, e o movimento pelos direitos femininos acabou
surgindo em Seneca Falls. Ela formou um casal com a líder feminista Susan B.
Anthony; durante o dia, elas cuidavam juntas da casa e dos filhos e, à noite,
se armavam de munição e se preparavam para atacar o inimigo. Elizabeth Stanton
descreveu a relação entre as duas em termos românticos, dizendo também que
preferia uma tirania de seu próprio sexo, e que era submissa a Susan. Anthony e
Stanton formaram a 1ª convenção sufragista depois da guerra civil americana, em
1869, que fundou a National Woman Suffrage Association. Elizabeth foi casada e
teve sete filhos.
Os
“periódicos” representaram as primeiras publicações religiosas de massa a
circularem pelos Estados Unidos desde o fim do século XVIII, tomando grande
impulso ao longo do século XIX. Foi o caso da “American Tract Society”, que
editava folhetos, almanaques, cartilhas e revistas para serem distribuídas de porta em porta. Mark Fackler demonstrou que o mercado de revistas diminuiu
ao longo do século XX, ao passo que outros meios de informação e entretenimento
evangélicos surgiram. Ao criar o periódico, com o objetivo da comunicação, Graham pretendeu estabelecer um
espaço de discussão acadêmica para os novos evangélicos. Além de permitir a
expressão de opiniões, debates e ideais sobre comportamentos e valores
cristãos. Em seu primeiro número, os editores justificaram o título
da revista: - “negligenciado, menosprezado, mal representado – o cristianismo evangélico
precisa de uma voz clara para falar com convicção e amor, e para atestar sua
verdadeira posição e relevância para a crise mundial”.
A
edição da revista foi recomendada a Carl Henry, teólogo da “Fuller Theological
Seminary”, enquanto que o custeio das despesas foi financiado pelo magnata do
petróleo J. Howard Pew, pelo empresário do ramo de calçados Maxey Jarman e pela
“Billy Graham Evangelistic Association”. Dessa forma, a revista “Christianity
Today” foi distribuída gratuitamente para cerca de 200 mil ministros, pastores
e líderes evangélicos até março de 1967, “quando a revista passou a ser cobrada”.
A idéia de se infiltrar na cultura norte-americana para instilar os valores
cristãos guiou a edição da revista e serviu para unificar uma visão sobre a identidade
cultural que os evangélicos deveriam assumir perante a sociedade. Ainda que não
fossem tão arrivista quanto os críticos de Graham, “Christianity Today”
defendia a verdade perante uma interpretação do “mundo” decaído, conforme artigo de Graham na primeira
edição da revista, em 15 de outubro de 1956, intitulado: “Biblical authority in
evangelism”. Nele Graham afirma que, “em meio a uma batalha espiritual pessoal,
havia descoberto o segredo que mudaria seu ministério”. Ele não precisaria
comprovar para todos os crentes leitores que a Bíblia era verdadeira, e sim, que ela tinha autoridade.
Segundo
Zygmunt Bauman, o fundamentalismo liberta o ser humano das angústias da escolha
no mundo pós-moderno quando lhe oferece uma autoridade suprema. Longe de ser
uma irracionalidade pré-moderna, o fundamentalismo apresenta-se como uma
racionalidade alternativa para resolver os problemas da sociedade pós-moderna. Sem
dúvida, a autoridade de Deus, revelada na Bíblia, é o valor máximo na pregação
de Graham em meados dos anos 1950, e é um dos valores partilhados por outros
pregadores evangélicos nesse contexto de pós-modernidade. A autoridade bíblica
é uma constante da tradição protestante, porém, a partir da segunda metade do
século XX, ela se torna pedra de toque para os fundamentalistas ao apontar um
caminho de certezas em um mundo de incertezas. Retomando o sociólogo Stuart
Hall, a cultura “não é questão do que as tradições fazem por nós, mas do que
nós fazemos com as nossas tradições”, e sob essa perspectiva podemos pensar em
uma cultura fundamentalista em formação nos Estados Unidos da América, organizando seus símbolos
e líderes, com a intenção de transformar a cultura norte-americana por meio de
uma religiosidade prática e uma atenção especial para as questões familiares.
Osfundamentalistas prestigiaaram os que tornaram parte da cultura norte-americana
que tanto os combateu.
Bibliografia geral consultada.
GONZALEZ, Lélia,
“O Papel da Mulher na Sociedade Brasileira”. In: Spring Symposium the Political Economy of the Black World. Los Angeles:
Center for Afro-American Studies, 1979; Idem, “A Categoria Político-Cultural de
Amefricanidade”. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n° 92/93
janeiro- junho, 1988; GÜSSMANN,
Elisabeth (dir.), Dicionário de Teologia Feminista. Petrópolis (RJ):
Editoras Vozes, 1997; MARSDEN, George, Fundamentalism and American Culture.
New York: Oxford University Press, 2006;
BRAGA, Eliezer Serra, Santas e Sedutoras. As Heroínas na Bíblia Hebraica. A
Mulher entre as Narrativas Bíblicas e a Literatura Patrística. Dissertação
de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura
Judaicas. Departamento de Letras Orientais. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; MATOS, Keila
Carvalho de Matos, Vozes Polêmicas e Contraditórias sobre Ministérios de
Mulheres: Exegese e Análise do Discurso a partir de 1 Coríntios 14, 33 b - 35.
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião.
Departamento de Filosofia e Teologia. Goiânia:
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2010; WILLIAMS, Daniel, God`s Own
Party: The Making of the Christian Right. New York: Oxford University Press,
2010; MATHEUS, Simone Guimarães, Sagradas Apropriações: A Mulher que
Escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Letras. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade
Federal de Minas Gerais, 2011; MENDES, Soraia da Rosa, (Re)pensando a Criminologia:
Reflexões sobre um Novo Paradigma desde a Epistemologia Feminista. Tese de Doutorado
em Direito. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; ANDRADE, Altamir Celio, Narrativas
sobre Mulheres: Amizade, Hospitalidade e Diáspora em Textos Bíblicos
Fundacionais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Faculdade de Letras. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2013;
BRAGA, Ubiracy de Souza, “Bíblia: Exclusividade na Educação Pública?”. In: http://opovo/app/opovo/opiniao/2014/07/08;
SANTOS, Jeová Rodrigues dos, O Fenômeno da Violência contra a Mulher na Sociedade
Brasileira e suas Raízes Histórico-religiosas. Tese de Doutorado em Ciências
Humanas. Goiânia: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2014; FERNANDES, Valéria Diez Scarance, Lei Maria da Penha o Processo Penal no Caminho da Efetividade. São Paulo: Editora Atlas, 2015; entre
outros.
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