quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Bíblia da Mulher - Teologia Feminista & Sacrifício Real Humano.

Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
 
      “Os homens temem que as mulheres riam deles. As mulheres temem que os homens as matem”. Margaret Atwood
                
 
            A estrutura gigante de palha continua a mesma, como se fosse uma réplica tirada das cinzas. Todo o resto do filme: O Sacrifício (“The Wicker Man”, 2006), remake do filme cult O Homem de palha, transformou-se. A história social e religiosa escocesa que o diretor britânico Robin Hardy concebeu em 1973, agora se passa nos Estados Unidos da América. Edward Malus (Nicolas Cage) decide, após um acidente na estrada, descansar um pouco do serviço de policial rodoviário. Recebe em casa, então, uma carta da antiga noiva. A filha está desaparecida e a mulher pede ajuda a Edward para encontrá-la. Parte então o policial a Summersisle, remota ilha da costa do Maine, local do desaparecimento da menina. Trata-se de uma comunidade matriarcal fechada a visitas. Edward faz valer sua autoridade e penetra na ilha para tentar encontrar a menina - e a mãe, cujo abandono às vésperas do casamente ele nunca conseguiu entender. Basicamente, “O Homem de Palha” representa uma história policial com elementos de fantasia e horror. O tema é o paganismo, de religiões pré-cristãs quando o catolicismo passou a tratar como “pagãos” romanos que continuavam fiéis às suas antigas religiões politeístas e ipso facto não se convertiam ao cristianismo que idolatrava deuses, ou entidades que protegiam o sol, os pomares, os campos, as colheitas.  
         O paganismo começou a mostrar-se mais visível no Renascimento. Adotou a cultura pagã grega e romana como fonte de inspiração. Mais tarde aparece revigorado, disfarçado sob a forma de ateísmo, durante a Revolução Francesa, com os jacobinos e seu anticatolicismo radical. Cultuado na forma da deusa razão, representada sempre usando um barrete frígio. O mesmo usado no culto de Mithra, uma espécie de missa negra primitiva, combatida por São Justino. O paganismo que tem se revelado hoje no mundo ocidental tem suas causas mais recentes principalmente na filosofia humanista e nas sociedades secretas surgidas no século XIX. Eventualmente utilizavam sacrifícios humanos em rituais bizarros que celebravam “a fertilidade venerando os símbolos fálicos como geradores da natureza”. Com locações na ilha de Summerisle, na costa oeste da Escócia, o filme tem a presença marcante de Christopher Lee o líder religioso de uma seita pagã, a participação pequena, mas sempre bem-vinda, da bela Ingrid Pitt. Ambas as marcas registradas nas produções da Hammer. No filme: “O Homem de Palha” não encontramos a tradicional ambientação com cenários góticos.
O filme é contemporâneo, passando-se no século XX, mas utilizando uma ideia de centenas de anos atrás, onde uma comunidade isolada numa ilha escocesa considera a religião cristã ultrapassada e acredita em deuses antigos com a reencarnação do espírito na natureza. São muitos os destaques, vindo, em primeiro lugar desde a investigação policial de desaparecimento da menina, sempre mantendo a atenção do espectador que acompanha a crescente revelação dos fatos que levam à verdade. E em segundo lugar, passando pelos estranhos hábitos dos moradores, que praticam o sexo sem falsos moralismos nas ruas noturnas. Ou, em terceiro lugar, a os ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância no ritual feminista, do pênis como fertilidade, além dos estranhos rituais e festas pagãs que se opõe ao tradicionalismo cristão. A nudez da bela atriz Britt Ekland, dançando para conquistar o Sargento Howie, também é um ponto alto e memorável, tendo em vista que parte das cenas cinematográficas foi realizada por uma atriz dublê de corpo meramente como representação. Fluente em quatro línguas, Britt começou a carreira no cinema sueco e transferiu-se para a Inglaterra, onde se estabeleceu há quatro décadas. Casou-se com o ator e comediante Peter Sellers em 1964 e fez dois filmes com ele, que a lançaram como sex symbol no cinema britânico. Com Sellers também teve um relacionamento atribulado, sempre exposto na mídia, mas manteve-se ao lado do ator quando ele teve uma série de ataques cardíacos na metade da década e com quem teve uma filha em 1965, Victoria. Sua maior popularidade no cinema veio no começo dos anos 1970, quando participou de Get Carter (1971), com Michael Caine e no cultuado O Homem de Palha (1973) clássico de horror e suspense.


  

Margaret Eleanor Atwood nasceu em Ottawa é uma escritora canadense, romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária internacionalmente reconhecida, tendo recebido inúmeros prêmios literários importantes. Foi agraciada com a Ordem do Canadá, a mais alta distinção em seu país. Em 2001, Atwood foi incluída na Canada`s Walk of Fame de Toronto. Muitos dos seus poemas foram inspirados por contos de fadas europeus e pela mitologia euroasiática. Nascida em 18 de novembro de 1939 na cidade de Ottawa, na província de Ontário, no centro-leste do Canadá, Margaret Atwood é a segunda dos três filhos de Margaret Dorothy Killam-Atwood, uma nutricionista irlando-canandense do interior da ilha de Nova Escócia e de Carl Edmund Atwood, um entomologista de Ontário. Graças às pesquisas de seu pai sobre a entomologia das florestas, Atwood passou muito tempo de sua infância próxima às florestas do Norte do Quebec, viajando entre Ottawa, Sault Ste. Marie, e Toronto. Ela só foi à escola em tempo integral quando estava na oitava série. Tornou-se uma leitora voraz de literatura, de livros de mistério, de contos de fada dos Irmãos Grimm e de histórias em quadrinhos. Frequentou o Colégio Leaside High School, em Leaside, Toronto, e formou-se em 1957. Desde 1976, é membro do Writers` Trust of Canada, uma organização não governamental que atua em apoio à comunidade de escritores canadenses ou residentes.

Atwood, que se envolveu no diálogo intelectual feminino no Victoria College, na Universidade de Toronto, frequentemente retrata personagens femininas dominadas pelo patriarcado em seus romances. Ainda assim, ela nega que The Edible Woman, por  exemplo, publicado em 1969 e que “coincidiu com a segunda onda do movimento feminista, seja feminista e alega tê-lo escrito quatro anos antes do movimento. Atwood acredita que o rótulo feminista só pode ser aplicado a escritores que conscientemente trabalham na moldura do movimento feminista”. Em entrevista, Atwood já disse ficar na ponta dos dois extremos. Ela acredita que mulheres não devem ser vistas como inferiores aos homens, mas também não merecem ser vistas com preconceito por escolher ter filhos e um marido. Um dos livros de maior sucesso de Atwood, The Handmaid`s Tale foi lançado em 1985, e desde então nunca deixou de ser publicado. O livro vendeu milhões de cópias no mundo todo. Em um artigo do The Guardian, Atwood escreve: “Alguns livros assombram o leitor. Outros assombram o autor. The Handmaid`s Tale fez os dois”.

O livro tem um teor político muito grande em relação ao controle da vida das mulheres, e se passa em um mundo distópico. O livro chegou a ser banido em escolas, mas originou um filme e até uma ópera. Atwood não concorda com o livro ser uma 'distopia feminista', porque em uma realidade assim todos os homens teriam mais direitos do que as mulheres. Para ela, o livro na verdade é um sistema ditatorial em que homens e mulheres ocupam lugares diferentes na pirâmide. Atwood diz que não esperava o quanto o livro marcaria a vida de tantas pessoas. “Esse é um livro de entretenimento ou uma profecia política? Pode ser os dois? Eu não antecipei nada disso enquanto escrevia o livro”. As personagens nas obras de Atwood são conhecidas pelo grande sofrimento que enfrentam. Mas isso não significa que elas sejam passivas. Em uma entrevista para o The New York Times, Atwood explicou que a inspiração para suas personagens vem da vida real. “Minhas mulheres sofrem porque a maior parte das mulheres com quem eu converso parecem já ter sofrido”. Ela acredita que esse tema não é muito discutido porque o sofrimento de uma mulher é visto erroneamente como algo passivo. O que é característico em sua literatura e em seus trabalhos mais famosos, as mulheres dos livros triunfam sobre a dor, e se tornam bem sucedidas em suas carreiras.

Os filmes - mutatis mutandis - não estão diretamente ligados entre si, mas todos tratam do tema do paganismo no mundo moderno. O remake norte-americano de 2006 de The Wicker Man (1973) não faz parte da série e Hardy se dissociou dela. O filme foi dirigido por Robin Hardy e escrito por Anthony Shaffer, que baseou seu roteiro vagamente no romance Ritual de David Pinner. A história segue um policial escocês, o sargento Neil Howie (Edward Woodward), que visita a ilha isolada de Summerisle em busca de uma garota desaparecida chamada Rowan Morrison. Todos os habitantes de Summerisle seguem uma forma de paganismo celta, que choca e apavora o devoto sargento cristão. Howie descobre que os pagãos, liderados por seu laird, Lord Summerisle (Christopher Lee), estão planejando um sacrifício virgem na esperança de apaziguar os deuses e restaurar suas colheitas. Acreditando que Rowan Morrison será sacrificado, Howie se esforça para resgatá-la, apenas para descobrir que seu suposto desaparecimento foi apenas uma manobra para atraí-lo para a ilha. Os pagãos aprisionam Howie em um homem de vime e ateou fogo, queimando-o até a morte. The Wicker Man é bem visto pelos críticos.  

Em análise comparada a revista de cinema Cine Fantastique o descreveu como “O cidadão Kane dos filmes de terror” e, em 2004, a revista Total Film nomeou The Wicker Man como o sexto maior filme britânico de todos os tempos. Ele também ganhou o Saturn Award de 1978 de Melhor Filme de Terror. Uma cena desse filme ficou em 45º lugar na lista dos 100 momentos mais assustadores do filme da Bravo. Em 2006, Robin Hardy publicou um romance de acompanhamento do enredo de The Wicker Man, intitulado Cowboys for Christ. Segue dois jovens norte-americanos, Beth e Steve, que deixam o Texas para espalhar o cristianismo em Tressock, na Escócia. Eles são recebidos por Sir Lachlan Morrison e sua esposa, Delia Morrison; sem o conhecimento de Beth e Steve, eles estão em grave perigo por causa de uma comunidade pagã celta na vila. Uma adaptação para o cinema, intitulada The Wicker Tree, foi produzida em 2009, com Hardy dirigindo a partir de seu próprio roteiro. Teve uma exibição em um festival de cinema em 2011.

Um lançamento limitado nos cinemas ocorreu em janeiro de 2012 nos Estados Unidos, seguido por um lançamento em DVD em abril de 2012. Foi o segundo DVD mais pedido na Amazon nos primeiros três meses. após seu lançamento, fato de que o diretor Robin Hardy muito se orgulhava. No caso de The Wrath of the Gods foi um planejado filme romântico de comédia escrito e dirigido por Hardy, e baseado em Crepúsculo dos Deuses, a parte final do Ciclo do Anel de Richard Wagner. Neste filme, “os deuses recebem sua punição”. Hardy anunciou planos para uma trilogia em uma entrevista de 2007 para o jornal The Guardian, embora o primeiro filme da trilogia, The Wicker Man, tenha sido feito originalmente em 1973. O terceiro filme foi planejado para ser ambientado principalmente na Islândia; no entanto, Hardy decidiu que filmar lá seria impraticável, e reescreveu o roteiro, redefinindo a história em Shetland, com algumas cenas a serem filmadas em Los Angeles. Como Shetland tem um folclore escandinavo, em vez de celta, isso permite que a história social permaneça na mitologia nórdica.

O filme é dividido em duas partes. Os protagonistas são um jovem casal, Siegfried e Brynne. Siegfried é bonito, mas “incrivelmente estúpido”, e foi superado por sua própria arrogância e habilidade esportiva. Brynne o ama apesar de seus defeitos e consegue ensiná-lo a fazer amor em um “momento triunfal”. Hardy disse que o filme é sobre “o que acontece com os deuses, não apenas com as pessoas que estão oferecendo sacrifícios a eles. Os próprios deuses são sugados para a confusão no terceiro filme. Procurei uma carapaça adequada para coloque isso e o último ato do ciclo do Anel parece funcionar muito bem - e isso me permite misturar Wagner a todo vapor”. Outro personagem-chave do filme é o pai de Brynne, um chefe de polícia. Ele tem um romance trágico com uma mulher de meia-idade, acusada de assassinato no Canadá. Hardy afirmou que o chefe de polícia terá que denunciá-la porque é um homem honrado. O antagonista de A Ira dos Deuses é o Sr. Odin, executivo “de um estúdio de Hollywood que decide criar um parque temático baseado nas sagas nórdicas originárias da Islândia”.

O lugar, como na representação religiosa é aparentemente parado no tempo e espaço: mulheres de cabelos longos e roupas antigas, casinhas idílicas, e um linguajar antiquado. Os homens são poucos, mas tendo em vista a sociedade matriarcal apresentam-se todos, fora a questão de submissão no trabalho; são desprezados. Não se sabe ou não querem dizer sobre o desaparecimento da menina. O filme: “O Sacrifício” trabalha muito bem com essa questão da autoridade perdida, opondo-o à racionalidade da burocracia. A certa altura dos acontecimentos o policial faz uso da força - e é igualmente interessante notar como Neil LaBute trabalhou o esgotamento do macho até aquele ponto, até transformá-lo em um ser irracional. É o medo existencial, que vem desde a revolução do feminismo, de se ver dispensado de suas funções. Edward Malus é um personagem, mas, LaBute conseguiu fazer um homem do nosso tempo, um homem em crise, mas que acaba se envolvendo.

Os evangélicos deram uma grande contribuição na Guerra da Independência norte-americana, tanto no aspecto prático quanto na prática ideológica. No entanto, após a Revolução as igrejas estavam claramente desorganizadas e o papel do cristianismo na nova cultura nacional não estava de modo algum garantido. A filiação formal às igrejas estava em declínio, tendo chegado ao seu ponto mais baixo na década de 1790, de 5 a 10% da população adulta. Reagindo a essa situação, as igrejas superaram a confusão reinante e empreenderam vigorosas campanhas para evangelizar o povo e cristianizar a cultura. Juntos, os representantes das igrejas coloniais e os dinâmicos líderes das novas denominações formaram uma frente protestante que dominou a percepção pública da religião nos Estados Unidos da América. O “império evangélico” esteve na vanguarda até que o pluralismo cristão e a diversidade introduziram uma nova realidade: a missão é desenvolvida não sobre os interesses da igreja, mas das necessidades do ser humano. 
Reconhecido como Movimento pela Temperança, o movimento social que defendia a moderação do consumo do álcool, radicalizou-se no fim do século XIX e adquiriu caráter proibicionista ao defender que se vedasse o acesso ao álcool a toda a população por meio de uma lei federal. Entendemos que além do interesse por missões, as igrejas norte-americanas também se envolveram em atividades políticas e de reforma social. Como a campanha contra a venda e o consumo de bebidas alcoólicas, chamado “o movimento da temperança”. Os protestantes preocuparam-se especialmente com os problemas gerados pela expansão econômica e o resultante crescimento das cidades. Os centros urbanos tornaram-se lugares em que os muitos imigrantes e outras minorias viviam na pobreza, sem usufruir a prosperidade que beneficiava a tantos ao seu redor. Um das iniciativas mais bem-sucedidas no sentido de enfrentar esses problemas foi o Exército de Salvação. Essa organização religiosa e caritativa foi criada na Inglaterra na década de 1860 por William Booth, sendo levada para os Estados Unidos da América em 1880. No início do século XX, o Exército da Salvação já possuía mais de novecentos locais efetivos de atendimento no país, proporcionando assistência religiosa, doação de alimento, abrigo, assistência médica, educação primária, treinamento profissional, assistência jurídica e outros serviços em torno de uma ética solidariedade.
O Exército de Salvação foi fundado na região leste da cidade de Londres em 1865 pelo pastor metodista William Booth, e sua esposa Catherine Booth. Originalmente, Booth nomeu a organização Missão Cristã do Leste de Londres, mas em 1878 a reorganizou, dando-lhe um caráter militar e a chamando The Salvation Army. William pregava aos pobres, ao passo que Catherine contatava os ricos, conseguindo assim apoio financeiro para o trabalho. Ela também atuava como ministra religiosa, o que era bastante incomum àquela época. William Booth logo se tornou conhecido como General, e sua esposa Catherine ficou conhecida como a Mãe do Exército de Salvação. O fundador William Booth assim descrevia o lema da organização: - “Os três S representam melhor a maneira como o Exército de Salvação atua: primeiro a Sopa, depois o Sabão e por fim a Salvação”.  Os primeiros membros do Exército de Salvação eram interpretados como alcoólatras, viciados e prostitutas convertidos ao protestantismo. Muitos destes, em função da busca por uma vida de acordo com os princípios morais do cristianismo protestante, mudavam seus hábitos de vida. Outra iniciativa de grande impacto social foi o movimento do chamado Evangelho Social, que esteve em evidência desde aproximadamente 1880 até o início conjuntural da crise Grande Depressão, em 1929.
  Um dos primeiros articuladores do movimento foi Washington Gladden (1836-1918), um ministro congregacional que atuou em Massachusetts e Ohio e foi ardoroso defensor dos direitos dos trabalhadores. Charles Sheldon, um pastor do Kansas também contribuiu para popularizar o evangelho social através do livro: “Em seus passos” (1897). Nesse sentido o mais importante expoente desse movimento foi Walter Rauschenbusch, pastor batista que trabalhou por dez anos no bairro nova-iorquino conhecido como Hell’s Kitchen (“cozinha do inferno”) antes de tornar-se professor de história da igreja no Seminário de Rochester. Seu contato direto com a exploração dos operários e a indiferença das autoridades fizeram dele um crítico da ordem estabelecida. Todavia, seu principal interesse ecumênico teve como representação buscar determinada compreensão nas Escrituras, tendo como escopo uma mensagem para os problemas da sociedade industrial, resultando em livros do início do século XX: “O Cristianismo e a Crise Social” (1907), “Orações do Despertamento Social” (1910), “Cristianizando a Ordem Social” (1912) e “Uma Teologia do Evangelho Social” (1917).
No fim do século passado, um grupo de mulheres cristãs norte-americanas, lideradas por Elizabeth Cady Stanton, começou a se reunir periodicamente para estudar todas as passagens bíblicas onde havia referência à mulher, a fim de relê-las e interpretá-las à luz da nova consciência que a mulher tinha de si mesma. Nesses encontros nasceu a “Woman’s Bible”, editada em duas partes, respectivamente em 1895 e 1898, uma obra que abalou o mundo protestante norte-americano. A realização desse vasto projeto de revisão e reinterpretação da Bíblia por parte de um grupo de mulheres é o primeiro sinal marcante de uma nova consciência da mulher, que amadureceu também no interior de comunidades cristãs. A idealização original da “Bíblia da Mulher” foi considerada como um fato histórico de dimensão tanto cultural como eclesial e como ponto de partida de um longo processo comunicativo, que levaria em torno dos anos 1960 - contemporaneamente ao emergir das teologias da libertação - à elaboração do projeto de uma “teologia feminista”.
Elizabeth Cady Stanton nascida em Johnstown, New York foi uma feminista e reformista estadunidense (1815-1902). Começou sua carreira como abolicionista, e quando um grupo de oito mulheres foi banido do World Anti-Slavery Convention de 1840, em Londres, que ela e Lucretia Mott, duas das delegadas banidas, resolveram fundar uma convenção pelos direitos das mulheres, em 1848. Outras delegadas frustradas, como Mary Grew, se juntaram, e o movimento pelos direitos femininos acabou surgindo em Seneca Falls. Ela formou um casal com a líder feminista Susan B. Anthony; durante o dia, elas cuidavam juntas da casa e dos filhos e, à noite, se armavam de munição e se preparavam para atacar o inimigo. Elizabeth Stanton descreveu a relação entre as duas em termos românticos, dizendo também que preferia uma tirania de seu próprio sexo, e que era submissa a Susan. Anthony e Stanton formaram a 1ª convenção sufragista depois da guerra civil americana, em 1869, que fundou a National Woman Suffrage Association. Elizabeth foi casada e teve sete filhos.
Os “periódicos” representaram as primeiras publicações religiosas de massa a circularem pelos Estados Unidos desde o fim do século XVIII, tomando grande impulso ao longo do século XIX. Foi o caso da “American Tract Society”, que editava folhetos, almanaques, cartilhas e revistas para serem distribuídas de porta em porta. Mark Fackler demonstrou que o mercado de revistas diminuiu ao longo do século XX, ao passo que outros meios de informação e entretenimento evangélicos surgiram. Ao criar o periódico, com o objetivo da comunicação, Graham pretendeu estabelecer um espaço de discussão acadêmica para os novos evangélicos. Além de permitir a expressão de opiniões, debates e ideais sobre comportamentos e valores cristãos. Em seu primeiro número, os editores justificaram o título da revista: - “negligenciado, menosprezado, mal representado – o cristianismo evangélico precisa de uma voz clara para falar com convicção e amor, e para atestar sua verdadeira posição e relevância para a crise mundial”.
A edição da revista foi recomendada a Carl Henry, teólogo da “Fuller Theological Seminary”, enquanto que o custeio das despesas foi financiado pelo magnata do petróleo J. Howard Pew, pelo empresário do ramo de calçados Maxey Jarman e pela “Billy Graham Evangelistic Association”. Dessa forma, a revista “Christianity Today” foi distribuída gratuitamente para cerca de 200 mil ministros, pastores e líderes evangélicos até março de 1967, “quando a revista passou a ser cobrada”. A idéia de se infiltrar na cultura norte-americana para instilar os valores cristãos guiou a edição da revista e serviu para unificar uma visão sobre a identidade cultural que os evangélicos deveriam assumir perante a sociedade. Ainda que não fossem tão arrivista quanto os críticos de Graham, “Christianity Today” defendia a verdade perante uma interpretação do “mundo” decaído, conforme artigo de Graham na primeira edição da revista, em 15 de outubro de 1956, intitulado: “Biblical authority in evangelism”. Nele Graham afirma que, “em meio a uma batalha espiritual pessoal, havia descoberto o segredo que mudaria seu ministério”. Ele não precisaria comprovar para todos os crentes leitores que a Bíblia era verdadeira, e sim, que ela tinha autoridade.
Segundo Zygmunt Bauman, o fundamentalismo liberta o ser humano das angústias da escolha no mundo pós-moderno quando lhe oferece uma autoridade suprema. Longe de ser uma irracionalidade pré-moderna, o fundamentalismo apresenta-se como uma racionalidade alternativa para resolver os problemas da sociedade pós-moderna. Sem dúvida, a autoridade de Deus, revelada na Bíblia, é o valor máximo na pregação de Graham em meados dos anos 1950, e é um dos valores partilhados por outros pregadores evangélicos nesse contexto de pós-modernidade. A autoridade bíblica é uma constante da tradição protestante, porém, a partir da segunda metade do século XX, ela se torna pedra de toque para os fundamentalistas ao apontar um caminho de certezas em um mundo de incertezas. Retomando o sociólogo Stuart Hall, a cultura “não é questão do que as tradições fazem por nós, mas do que nós fazemos com as nossas tradições”, e sob essa perspectiva podemos pensar em uma cultura fundamentalista em formação nos Estados Unidos da América, organizando seus símbolos e líderes, com a intenção de transformar a cultura norte-americana por meio de uma religiosidade prática e uma atenção especial para as questões familiares. Os fundamentalistas prestigiaaram os que tornaram parte da cultura norte-americana que tanto os combateu. 
Bibliografia geral consultada.                                

GONZALEZ, Lélia, “O Papel da Mulher na Sociedade Brasileira”. In: Spring Symposium the Political Economy of the Black World. Los Angeles: Center for Afro-American Studies, 1979; Idem, “A Categoria Político-Cultural de Amefricanidade”. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n° 92/93 janeiro- junho, 1988;  GÜSSMANN, Elisabeth (dir.), Dicionário de Teologia Feminista. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1997; MARSDEN, George, Fundamentalism and American Culture.  New York: Oxford University Press, 2006; BRAGA, Eliezer Serra, Santas e Sedutoras. As Heroínas na Bíblia Hebraica. A Mulher entre as Narrativas Bíblicas e a Literatura Patrística. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas. Departamento de Letras Orientais. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; MATOS, Keila Carvalho de Matos, Vozes Polêmicas e Contraditórias sobre Ministérios de Mulheres: Exegese e Análise do Discurso a partir de 1 Coríntios 14, 33 b - 35. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Departamento de Filosofia e Teologia. Goiânia: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2010; WILLIAMS, Daniel, God`s Own Party: The Making of the Christian Right. New York: Oxford University Press, 2010; MATHEUS, Simone Guimarães, Sagradas Apropriações: A Mulher que Escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2011; MENDES, Soraia da Rosa, (Re)pensando a Criminologia: Reflexões sobre um Novo Paradigma desde a Epistemologia Feminista. Tese de Doutorado em Direito. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; ANDRADE, Altamir Celio, Narrativas sobre Mulheres: Amizade, Hospitalidade e Diáspora em Textos Bíblicos Fundacionais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Faculdade de Letras. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2013; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Bíblia: Exclusividade na Educação Pública?”. In: http://opovo/app/opovo/opiniao/2014/07/08; SANTOS, Jeová Rodrigues dos, O Fenômeno da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira e suas Raízes Histórico-religiosas. Tese de Doutorado em Ciências Humanas. Goiânia: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2014; FERNANDES, Valéria Diez Scarance, Lei Maria da Penha o Processo Penal no Caminho da Efetividade. São Paulo: Editora Atlas, 2015; entre outros. 

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