quinta-feira, 30 de julho de 2015

Ariano Suassuna - A Técnica Fantástica do Realista Esperançoso.

Ubiracy de Souza Braga*

O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. Ariano Suassuna

                                           

Ariano Suassuna era descendente da família ítalo-brasileira Cavalcanti, que se estabeleceu em Pernambuco com o imigrante florentino Filippo Cavalcanti, morto em Olinda por volta de 1614. Seu sobrenome deriva de um engenho que era propriedade da família Cavalcanti e se chamava “Suassuna”. Nome este que acabou sendo adotado por alguns ancestrais dessa família como apelido no Nordeste do Brasil. Nascido em João Pessoa em 16 de junho de 1927 foi um dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro. Idealizador do chamado “Movimento Armorial” e autor de obras como: 1) “Auto da Compadecida”, drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando do barroco católico brasileiro. Trabalha com a linguagem oral e apresenta também o regionalismo através da caracterização do nordeste; 2) “O Romance d`A Pedra do Reino”, é ambientada no começo da 1ª República, ou República das Oligarquias no alvorecer do século XX. É uma obra totalmente passional, dotada de uma paixão fanática, iluminada e beatífica como Antônio Conselheiro de Canudos, e, 3) “Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, foi um preeminente defensor da cultura nordestina.  É inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 km do Recife, transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África com a Batalha de Alcácer-Quibir: sob o domínio espanhol, os portugueses sonhavam com a volta do rei que restituiria a nação tomada à força. O sentimento sebastianista ainda hoje é rememorado em Pernambuco, durante a Cavalgada da Pedra do Reino, por manifestação popular individual e coletiva que acontece anualmente, onde inocentes historicamente foram sacrificados pela volta do rei. 
          

            Formou-se na Faculdade de Direito em 1950 e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Martins Pena pelo “Auto de João da Cruz”, peça inspirada em folhetins da literatura de cordel. Em 1956, Ariano abandonou a advocacia para ser professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Desde então, novos trabalhos foram encarados: “O Casamento Suspeitoso”, “O Santo e a Porca”, “O Homem da Vaca”, “O Poder da Fortuna” e “A Pena e a Lei”, essa última premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro. Em 1957, casa-se com Zélia de Andrade Lima, que lhe deu seis filhos. E esses, por sua vez, lhe deram 13 netos como herdeiros. Em 1959, novamente na companhia do amigo Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste. Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o “Romance d`A Pedra do Reino”, “Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971) e “História d`O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão” / “Ao Sol da Onça Caetana” (1976), classificados por ele do ponto de vista técnico-metodológico como “romance armorial-popular brasileiro”. Com a bem-sucedida carreira de dramaturgo, Ariano resolveu dedicar-se às aulas de Estética na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em 1976, defendeu a tese de Livre-Docência: “A Onça Castanha” e a “Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira”. Ariano se aposentou como professor em 1994.
Ariano Suassuna iniciou a redação do “Romance d`A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, seu nome completo, em 1958, para concluí-lo somente uma década depois. Quando o autor percebeu o que o levou a escrever o romance: a morte do pai, quando tinha apenas três anos de idade – tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna, e a redenção do seu rei – uma reação contra o conceito vigente na época, segundo o qual as forças rurais eram o obscurantismo (o mal) e o urbano o progresso (o bem). A história, baseada na cultura popular nordestina e inspirada na literatura de cordel, nos repentes e nas emboladas, é dedicada ao pai do autor e a mais doze cavaleiros, entre eles Euclides da Cunha, Antônio Conselheiro e José Lins do Rego. Sempre ligado por inteiro à cultura, Ariano iniciou em 1970, na capital de Pernambuco, o chamado “Movimento Armorial”, que visava o desenvolvimento e o reconhecimento das formas de expressão populares tradicionais. 
Todos os atores que se detiveram sobre as características do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) repararam na imediatez insólita da imagem. A imaginação voa imediatamente no espaço e a flecha imaginada por Zenão perpetua-se para além da contagem do tempo existencial. Esta, por sua vez, faz perfeição essencial dos objetos imaginários, a sua pobreza essencial é uma bem-aventurada ausência de acidente. No domínio da fantástica pura, no sonho (cf. Augé, 1997), os observadores ficaram sempre surpreendidos pela oposição da fulgurância dos sonhos e do lento processo temporal da percepção. A imagem engendra em todos os sentidos, sem se preocupar com as contradições, um luxuriante enxame de imagens. Sobre o pensamento que raciocina do mesmo modo que sobre o pensamento que percepciona pesa ainda mais o caminhar laborioso da existência, enquanto o pensamento que imagina – o real como realidade e a realidade como fantasia - tem consciência de ser satisfeito instantaneamente e arrancado ao encadeamento temporal.                  
Assim, por exemplo, compreende-se mal como é que Henri Bergson assimila esta fulguração onírica ou fantástica à duração concreta, pois que o “desapego” do sonho aparece antes de mais como um “adiamento” do tempo, e nos sonhos e nos delírios o “dado imediato” é a imagem, não a duração, uma vez que o “sentido o tempo” está como que dissolvido na ideia que temos da realidade com a qual consentimos. Decerto o criticismo recusa-se a conceder uma realidade a esse tempo que permanece puramente formal, mas não deixa de ser paradoxalmente verdade que em Immanuel Kant como em Henri Bergson, guardadas as proporções, o tempo possui uma espécie de mais-valia psicológica sobre o espaço. Assim, “dado imediato” para um, ou “condição a priori da generalidade dos fenômenos”, para outro, minimizam o espaço em proveito da intuição da temporalidade.
Assim, a função fantástica pelo se caráter fundamental de imediatez, de pobreza existencial, aparece-nos como incompatível com a assim chamada intuição da duração, com a mediação do devir. A memória seria ato de resistência da duração à matéria puramente espacial e intelectual. A memória e a imagem, do lado da duração e o espírito, opõem-se à inteligência e à matéria, do lado do espaço. Por fim, na célebre exposição à teoria da fabulação, de Henri Bergson, já sem se preocupar com a memória à qual reduz primitivamente a imaginação, faz da ficção o “contrapeso” natural da inteligência,  o vigário do impulso vital e do instinto eclipsado pela inteligência: reação da natureza contra o poder dissolvente da inteligência. É a memória que reabsorve na função fantástica e não o inverso. A memória, longe de ser intuição do tempo, escapa-lhe no triunfo de um tempo “reencontrado”, logo negado. Enfim, a memória pertence de fato ao domínio do fantástico, dado que organiza esteticamente a recordação. A memória, como o imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) erguem-se contra as faces do tempo e assegura ao ser, contra a dissolução o devir, a continuidade da consciência e a possibilidade de regressar, de regredir, para além das necessidades do destino.  A arte favorece o desenvolvimento da criatividade e da intuição, nos levando a inovar e imaginar mais no sentido de resolver os problemas que afligem a humanidade.
         A originalidade da arte, procurando integrar o conhecimento da técnica com os aspectos intuitivos presentes na interação entre o sensorial e o racional permite, mais do que nunca, o atingimento de nossa consciência transpessoal – aquela que vai além de nosso cérebro, ultrapassando os limites de tempo e lugar. A arte é a expressão da própria vida do artista que se manifesta nos sons, nos gestos, na palavra, criando a chamada “magia”. A arte seria, então, o impulso dos seus desejos, de suas necessidades próprias e de sua sociologia emocional. O “Movimento Armorial” surgiu sob a inspiração e direção do prócer Ariano Vilar Suassuna, com a colaboração de um grupo de artistas e escritores da região Nordeste do Brasil. Contando com o apoio institucional do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Teve início no âmbito universitário, mas ganhou apoio oficial da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Foi lançado oficialmente, no dia 18 de outubro de 1970, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas realizados no Pátio de São Pedro, no centro da cidade de Recife, Pernambuco.
A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste (literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus cantares, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados”.  (cf. Jornal da Semana, 20 de maio de 1975).
            Esta corrente como expressão e forma irradiada de pensamento são marcadas principalmente pela tendência de Suassuna em sintetizar elementos e figuras da cultura do povo nordestino, em particular e obras clássicas da literatura universal. Esta mistura de gostos, gestos  e expressões representa o leitmotiv que inspira o intermitentemente e seus companheiros do Movimento Armorial, criado para fazer face ao massivo domínio dos imperativos culturais estadunidenses no Brasil. A Corrente Armorial está profundamente vinculada em suas características essenciais à produção da literatura de cordel, à moda de viola, a instrumentos como a rabeca, a qual cria a “atmosfera” sonora que sustenta o canto dos músicos que seguem esta idealização da arte. As capas que ilustram seus trabalhos são manufaturadas com a técnica própria da xilogravura de origem chinesa, em que o artesão utiliza um pedaço de madeira para entalhar um desenho, deixando em relevo a parte que pretende fazer a reprodução. Em seguida, utiliza tinta para pintar a parte em relevo do desenho.     
            A arte do “trovadorismo”, proveniente da Península Ibérica, chegou ao chamado  “Novo Mundo”, e floresceu tanto na Américas Espanhola, quanto na Portuguesa. Houve um tipo de literatura popular em verso no México, Chile, Nicarágua e Argentina muito parecida com o folheto nordestino. Até a gravura popular usada para ilustrar os “corridos mexicanos”, e as “folhas soltas” da lira popular chilena, apresentam características parecidas com a brasileira, em particular nordestina, sem falar que muitos dos temas aproveitados pelos autores da literatura de cordel nordestina também foram explorados naqueles países. O que torna o romanceiro bastante singular, porém, é o formato padrão adotado desde os primórdios por Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Francisco das Chagas Batista e outros importantes poetas-editores. Não domino o tema, mas admiro-o, não pretendendo mais que um olhar, como para uma mulher que meu desejo, se me permitem dizer que é escolhida como ponto de vista. E, segundo Carlos Drummond de Andrade, homenageado com estátua no Rio de Janeiro, foi, “no julgamento do povo, rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”. 

    É neste sentido que estamos precisando o que significa o termo espaço. O Movimento Armorial deu um impulso significativo à cultura brasileira, permitindo, assim, que ela fosse interpretada dentro e fora do Brasil. Ele não se restringiu ao âmbito cultural, uma vez que estendeu sua influência também ao universo da moda e à esfera comportamental, no sentido psicológico, gerando desde então uma marca cultural existencial típica do final do século XX. Nesta corrente cultural tudo que representa a cultura popular é realmente significativo. Desde as encenações em ruas e praças, com imagens extraídas do contexto mítico, cantares. Influenciando a moda a partir de trajes de príncipes tecidos com farrapos, bichos enigmáticos como o boi e o cavalo-marinho, integrantes do arquétipo “bumba-meu-boi”, incluindo a tradição dos “teatros de bonecos” e outros elementos e artefatos da criatividade cultural nordestina. Neste aspecto, ocupou não só burocraticamente os cargos de secretário de Cultura de Pernambuco e secretário de Assessoria do governador de Estado..
            Ele assumiu a Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado. Desde 1990 ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo (1806-1879). Ele também se tornou membro da Academia Paraibana de Letras em 9 de outubro de 2000. No mesmo ano, Ariano Suassuna ainda se tornou doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sucesso e talento reconhecidos, em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano. Em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2006, também ganhou o título de doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos. Em 2011, quando Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, foi reeleito presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro - PSB, Ariano foi eleito presidente de honra do partido. Na oportunidade, declarou que era “um contador de história e que encerraria sua vida política neste cargo”.  Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida foi o tema da escola de samba Pérola Negra nos desfiles de escola de samba em São Paulo. Durante o mandato de Eduardo Campos em Pernambuco, Ariano Suassuna foi seu Assessor Especial até abril de 2014.    
Bibliografia geral consultada.

MARQUES, Roberta Ramos, Deslocamentos Armoriais: Da Afirmação Épica do Popular na Nação Castanha de Ariano Suassuna ao Corpo-História do Grupo Grial. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Federal de Pernambuco, 2008; VOGADO, Eguimar Simões, Metaficção e História Espiral Narrativa de Ariano Suassuna: Leitura Poético-alegórico do Romance Pedra do Reino. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista, 2008; CARDOSO, Maria Inês Pinheiro, Cavalaria e Picaresca no Romance D' A Pedra do Reino de Ariano Suassuna. Tese de Doutorado. Departamento de Letras Modernas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; CARVALHO, Solange Peixe Pinheiro de, As Muitas Faces de uma Pedra: O Universo Lexical da Obra em Prosa de Ariano Suassuna. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.  São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011; BORBA, Romina Quadros, O Arlequim Nordestino: As Personagens-palhaço de Ariano Suassuna. Dissertação Mestrado. Instituto de Artes. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2012; MARQUES, Adeilson de Abreu, O Percurso Místico-Literário. Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cultura e Sociedade. São Luís: Universidade Federal do Maranhã, 2014; OLIVEIRA, Anderson Bruno da Silva, A Invenção do Sertão no Romance d`A Pedra do Reino. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2015; COSTA, Luís Adriano Mendes, “As (Des) Continuidades (Pós) Armoriais: Entre o Ser e o Devir”. In: Sociopoética, vol.1, nº 15, 2015; RODRIGUES, Daniella Carneiro Libânio, A Arte Segundo Ariano Suassuna: A Intermidialidade e a Poética Armorial. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; entre outros.

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*Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

terça-feira, 28 de julho de 2015

Depois de Kids - Consumo Coletivo & Sexo Desenfreado.

Ubiracy de Souza Braga*

O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade”. Karl Mannheim

 

As unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo dado problema. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos de uma mesma conexão geracional lidam com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. Na verdade, inicialmente, a classe médica em geral acaba por marginalizar as ideias de Freud; seu único confidente durante esta época é o médico Wilhelm Fliess. Depois que o pai de Freud falece, em outubro de 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, naquele período, dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas próprias neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte etnográfica para a obra “A Interpretação dos Sonhos”. 
Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade em relação a seu pai. É o que constitui o famoso “complexo de Édipo”, que se torna o “coração”, por assim dizer, na concepção da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes investigados. Nos primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras em que contém suas teses principais: “A Interpretação dos Sonhos” e “A psicopatologia da vida cotidiana”. Freud já não mantinha mais contato nem com Josef Breuer, nem com Wilhelm Fliess. No início, as tiragens das obras não animavam Freud, mas logo médicos de vários lugares: Eugen Bleuler, Carl Jung, Karl Abrahams, Ernest Jones, Sandor Ferenczi, demonstram respaldo às suas ideias e passam a compor o “Movimento Psicanalítico”. O filme Kids é o drama norte-americano de 1994, escrito por Harmony Korine, dirigido por Larry Clark e produzido pelo cineasta Gus Van Sant. Apresenta Chloë Sevigny, Leo Fitzpatrick, Justin Pierce e Rosario Dawson. O filme tem como escopo um dia na vida de um grupo de jovens ditos sexualmente ativos de Nova Iorque. Demonstra seu comportamento diante do consumo de sexo e drogas em meados dos anos 1990. 
O filme tem como protagonista um skatista em busca de sexo e drogas. Nova York serve como representação de cenário irradiado do conturbado mundo dos adolescentes. Que indiscriminadamente consomem drogas e quase nunca praticam sexo de forma segura. Um garoto, que idealiza seu deseja só transar com virgens. E uma jovem, que só teve um parceiro, mas é soropositivo. Este arquétipo serve de base para as tramas paralelas e bem articuladas que ilustram, como em qualquer ser humano, que poderá prejudicar seriamente sua vida se não estiver bem orientado sexualmente. Mas isto é, pela má utilização da informação global (quase) impossível! O conceito de archetypus só se aplica indiretamente às noções concietuais de représentations collectives, na medida em que designar apenas aqueles conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. Representam,  hic et nunc, um dado anímico imediato. Como tal, o arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada. Especialmente em níveis mais altos dos ensinamentos secretos, aparecem sob uma forma que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e avalia. Sua manifestação imediata, como a encontramos em sonhos e visões, é mais individual, incompreensível e ingênua do que nos mitos. O arquétipo representa, em essência,  um conteúdo inconsciente, que se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta.


Do ponto de vista dos impactos sociais muitas sessões de “Kids” sofreram tentativas de boicote, como ocorrera há décadas com o filme: “Last Tango à Paris”.  Na Grã-Bretanha, onde o Parlamento condenou o filme, era comum ver manifestantes do lado de fora dos cinemas. Nos Estados Unidos, a produção recebeu uma classificação etária de não recomendado para menores de 17 anos - algo particularmente irônico, considerando que “Kids” tinha como uma de suas produtoras a Miramax, na época propriedade da gigante Walt Disney. A controvérsia gerada entre os executivos foi tão grande que o estúdio foi, sob certas condições sociais, forçado a criar uma empresa à parte, a “Shining Excalibur Pictures”, com a finalidade mercadológica de distribuir a obra mundialmente. Em Kids, o próximo filme que vai indignar os guardiões da moralidade americana, as crianças são uma praga. Os adolescentes, muitos ainda no ensino fundamental, não conseguem sobreviver por uma hora sem violar várias dezenas de leis e convenções: eles furtam, bebem, usam drogas, roubam dinheiro, chutam gatos, espancam e talvez assassinem um estranho e se envolvem em uma interminável, caça irracional por sexo, sem camisinha. A solução dificilmente seria aceita hoje. - “Seria impossível fazer esse filme agora”, afirmou Korine ao tablóide Guardian. – “Não teria como ninguém sair impune disso tudo”.

Larry Clark é um cineasta genial. Não é de hoje que o autor de Kids, Another Day in Paradise, ou ainda “Ken Park” fascina e gera polêmica em torno de seus filmes onde aborda a vida dos teens de maneira crua e sem tabus. Do alto de seus 69 anos, Clark esbanja vitalidade e têm os dois pés bem fincados na era digital. Seu último filme, Marfa Girl, que recebeu o grande prêmio da sétima edição do Festival de Roma. Cansado do sistema de distribuição hollywoodiano o diretor decidiu ir direto ao encontro de seu público lá onde ele está, ou seja, na rede internet. – “Os adolescentes passam seu tempo na frente do computador, seja para organizar uma saída ou para paquerar então é lá que o filme estará também”. Filmado na cidade de Marfa, Texas – aquele vilarejo do deserto que tem a “loja-escultura” da Prada – o filme narra a história de amor de Adam, 16 e de sua vizinha Donna, 23. Os conflitos étnicos e sociais entre as comunidades artísticas brancas e hispânicas e a presença constante da polícia de imigração servem de pano de fundo à trama cinematográfica. O Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos da América (U. S. Immigration and Customs Enforcement - ICE) é uma agência policial subordinada hierarquicamente ao Departamento de Segurança Interna (United States Department of Homeland Security - DHS), responsável por detectar, investigar e corrigir vulnerabilidades relacionadas à fronteiras, infraestrutura, transportes, e economia.

           Em Kids, o cineasta Larry Clark realiza um recorte de geração (cf. Mannheim, 1993; cf. Weller, 2010) em que prevalece a perspectiva do “enclausuramento”. Ao supostamente buscar uma interferência constante do ambiente dentro do filme. Ou, ao querer simplesmente atualizar o mundo dos jovens. Ou ainda, diante da tensão de um mundo que já existia independentemente dele. Acabou retendo a adolescência nova-iorquina numa tragédia de aniquilamento simultaneamente de dentro e de fora. Os adolescentes de “Kids” não podem ser imaginados como experimentos de laboratório aos quais se dão todos os tipos de substância, resultando no imobilismo absoluto e, em última análise, na morte precoce. Enquanto a maioria dos adultos está indiferente a essa questão, tema nevrálgico da modernidade – o sexo, o cineasta se põe dentro dela. Deixa-se envolver com fascínio e preocupação. Os personagens de “Kids” consomem drogas. Participam de orgias para preencher um tempo que, na modernidade vagueia livre. 
         O filme tem o mérito de um “engagement”, sem fatalismo, sem estratégia de choque. Mas utilizando uma linguagem realista, o filme abre o cenário cinematográfico com Telly, um Don Juan pálido e esquelético, deflorando uma adolescente, e termina com um estupro embalado por drogas em uma festa. Não existe julgamento moral, apenas um olhar que observa à distância. Para Sigmund Freud (1972) e Claude Lévi-Strauss (1962), o tabu expressara um sentimento coletivo sobre um determinado comportamento dicotômico, num ambiente entre amigos, de um lado, e inimigos, do outro, funcionando de uma forma articulada entre dois condicionamentos comportamentais - biológico e cultural ou vice-versa. Assim o tabu seria expresso de forma diferente das regras sociais, que são uma construção cultural típica de sociedades mais complexas. Os tabus da linguagem dividem-se em três grupos, de acordo com o uso ou a motivação psicológica: uns são devido ao medo, outros a um sentimento de delicadeza e outros, ainda, a um sentido de decência e decoro. Os tabus de medo têm a ver com o pavor aos seres sobrenaturais, que impuseram tabus sobre seus nomes, como o demônio. As criaturas e as coisas vulgares dotadas de qualidades sobrenaturais podem tornar-se alvo de terror e tabus.
Analogamente quando o filme: Le Dernier Tango à Paris estreou nos Estados Unidos da América em 1975 foi diante de uma enorme controvérsia. O frenesi da imprensa populista em torno dele gerou enorme interesse do público (cf. Aslan, 2010), assim como grande condenação moral, típica de norte-americanos, levando a reportagens de capa nas duas maiores revistas semanais do país. A revista “Time” – que colocou o ator Marlon Brando na capa: “Last Tango in Paris Cover Story” – e “Newsweek” – “Tango: The Hottest Movie” em 12 de fevereiro, 1973. O Village Voice descreveu “passeatas de comitês de moralidade na porta de cinemas” e “mulheres bem vestidas vomitando” (cf. “Last Tango in Paris: Can it arouse the same passions now?”. In: “The Independent”). Vincent Canby, crítico do jornal “The New York Times”, descreveu o contexto sexual do filme como “a expressão artística da era de Norman Mailer”. O principal centro do escândalo foram às cenas de sexo anal, onde “Paul” sodomiza “Jeannie”, com manteiga “como lubrificante”. E quando pede a ela “que enfie os dedos em seu cu”, ou, “prometa fazer sexo com um porco”, provando sua devoção. 

A prestigiada crítica de arte Pauline Kael, da revista The New Yorker, deu ao filme um dos mais entusiásticos endossos de sua carreira profissional, considerando que ele tinha “mudado a face de uma forma de arte, um filme que as pessoas esperam por ele há muito, muito tempo, desde que filmes existem”. Seu elogio, vindo de alguém tão comedida neles e com tanto prestígio na chamada indústria cultural, foi republicado pela United Artists num anúncio do filme em página dupla na edição dominical do New York Times. Na versão que foi mostrada na pré-estreia mundial, no Festival de Cinema de Nova York, havia uma cena em que Paul afugentava de seu apartamento um vendedor de bíblias, colocando-se de quatro e latindo como um cachorro. A cena foi elogiada pela crítica de cinema Pauline Kael na revista New Yorker, mas Bertolucci decidiu cortá-la da edição final. 
Uma semana depois “a polícia confiscou todas as cópias por ordem da Justiça e Bernardo Bertolucci foi processado por obscenidade”. Robert Altman assistiu declarou que saiu da sala de projeção e disse a si próprio: - “Quem vai se preocupar se eu fizer um novo filme? Minha vida pessoal e artística nunca mais será a mesma”. A década de 1990 começou com o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, sendo esses seguidos pela consolidação da democracia, globalização e capitalismo global. Fatos marcantes para a década foram a Guerra do Golfo e a popularização do computador pessoal e da Internet. Otimismo e esperança seguiram o colapso do Comunismo, mas os efeitos colaterais do fim da Guerra Fria estavam só começando, como o advento terrorista em regiões do 3° Mundo, especialmente na Ásia. O 1° Mundo experimentou crescimento econômico estável durante toda a década. O Reino Unido, depois de uma recessão em 1991-92 e a desvalorização da libra, conseguiu 51 bimestres seguidos de crescimento que se seguiram no novo século. 
Até nações com menor representatividade no mercado econômico mundial, como a Malásia, tiveram aperfeiçoamentos gigantescos. Mas deve-se notar que a economia dos Estados Unidos da América permaneceu relativamente, sem crescimento econômico superavitário durante a primeira metade da década. Contudo, dependendo do ponto de vista, muitos países, instituições, companhias e organizações consideraram os anos 1990 como tempos prósperos. Politicamente, foram anos de democracia expansiva. Os antigos países do Pacto de Varsóvia logo saíram de regimes autoritários para governos recentemente eleitos. Ocorreu com países economicamente em desenvolvimento como Taiwan, Chile, África do Sul e Indonésia. Apesar da prosperidade e democracia, houve um lado maléfico significativo. Na África, o aumento nos casos de doenças sexualmente transmissíveis e inúmeras guerras levaram á diminuição da expectativa de vida interrompendo o crescimento econômico. Em ex-nações soviéticas com a queda do socialismo Leste europeu, houve fuga de capital e o Produto Interno Bruto (PIB) decrescente. Crises financeiras denominadas para países “em desenvolvimento”, permanecem e foram comuns depois de 1994, disseminados pela globalização.
E eventos trágicos como as guerras dos Bálcãs, genocídio de Ruanda, a Batalha de Mogadíscio e a 1ª guerra norte-americana do Golfo Pérsico, assim como a demanda e propaganda contra o terrorismo, levou ao choque de Estado”, para se referirem aos militares norte-americanos contra civilizações Iraque, Irã etc. Mas esses fatos sociais e políticos foram apenas rememorados com relevância na década de 2000. A cultura jovem aceitou o “Grunge” como mídia. Passou a ser diversificada se ramificando em “tribos” num universo social muito diverso do que decorreram desde o superficialismo e consumismo até a militância ambientalista e antiglobalizante dos dias atuais. A expressão nas roupas e através de tatuagens e “piercings” também fora marcante, bem como o consumo de drogas com o surgimento do “ecstasy” ligado a cultura de música eletrônica o aumento no consumo de maconha na classe média em geral. O jovem se viu envolvido cada vez mais com sexo precoce. Foi vitima do aumento da violência e descaso de políticas públicas nas esferas  sobre juventude nos centros urbanos.

O grunge tornou-se comercialmente bem-sucedido na primeira metade da década de 1990, devido principalmente aos lançamentos das célebres “Nevermind”, do Nirvana e “Tem”, do Pearl Jam. O termo grunge – que em seu sentido original significa “sujeira” ou “imundície” em inglês – descreve tanto o estilo visual do cabelo desgrenhado, roupas velhas e folgadas de bandas e fãs, quanto o som saturado e distorcido das guitarras que dão o tom agressivo as músicas. O sucesso dessas bandas impulsionou a popularidade do chamado rock alternativo e fez do “grunge” seu estilo musical e a forma mais popular de “hard rock” neste período de viragem estética e musical. No entanto, muitas bandas “grunges” estavam desconfortáveis com tal popularidade. Apesar de a maioria das bandas “grunges” ter se separado ou desaparecido no final da década de 1990, sua influência continua a afetar o rock contemporâneo. A popularidade do “grunge” começaria a diminuir em meados de 1990. Das grandes bandas que deram vida ao movimento musical, só estão ativas em 2013: “Alice in Chains”, “Mudhoney”, “Soundgarden”, “The Melvins” e “Pearl Jam”.
No cinema da década de 1990, o “pop” casa-se com o clássico. A palavra de ordem é diversidade: “O Silêncio dos Inocentes” entra para a história da cultura ao ganhar os cinco principais Óscares; “A Lista de Schindler” emociona de forma chocante multidões de pessoas pelo mundo cosncientizado pelo holocausto; “Forrest Gump”, com o homem diante da guerra e da morte, apresenta um astro definitivo, Tom Hanks; Quentin Tarantino é revelado como um dos grandes gênios da modernidade e muda o rumo dos acontecimentos ao revolucionar com o extraordinário “Pulp Fiction”; “Um Sonho de Liberdade” emociona com uma das mais belas histórias do cinema; e Sharon Stone cruza fatalmente suas pernas na sedução erótica de “Instinto Selvagem”. A plateia se toca e se eletriza com histórias sensíveis, como a representação “The Piano” e “Magnolia”. Tom Hanks ganha duas estatuetas  Óscares consecutivos e Julia Roberts se torna “a musa da década” ao estrelar a saborosa “Pretty Woman”. No Brasil, o cinema é novamente reinventado e “Central do Brasil” conquista a crítica ocidental, vencendo o Festival de Berlim e o Globo de Ouro. A cultura brasileira tornou-se mais valorizada, com a “ressurreição” do cinema e a boa recepção de músicos brasileiros no exterior. O esporte também passou relativamente por bons momentos, com 25 medalhas olímpicas e títulos mundiais no futebol masculino e basquete feminino.
Bibliografia geral consultada.

MÁRQUEZ, Gabriel García, La Increíble y Triste Historia de la Cândida Eréndira y de su Abuela Desalmada. Colombia: DeBols!llo, 1972; DE MARCHI, Luigi, Wilhelm Reich: Biografía de una idea. Barcelona: Península, 1974; REICH, Wilhelm, La Función del Orgasmo. Buenos Aires: Paidós, 1974; Idem, O Combate Sexual da Juventude. 2ª edição. Lisboa: Editor Antídoto, 1978; DELEUZE, Gilles, Cinéma I – l`Image-Mouvement. Paris: Éditions Minuit, 1983; ALBERONI, Francesco, O Erotismo, Fantasias e Realidades do Amor e da Sedução. São Paulo: Editor Circulo do Livro, 1986; FAUSTO NETO, Antonio, Mortes em Derrapagens – Os Casos Corona e Cazuza. Rio de Janeiro: Editor Rio Fundo, 1991; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones Sociológicas, n° 62, pp. 193-242; 1993; BARROS, Myriam Moraes Lins de (Organizadora), Velhice ou Terceira Idade? Estudos Antropológicos sobre Identidade, Memória e Política. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998; HERNÁNDEZ, Fernando, “¿ De qué Hablamos quando Hablamos de Cultura Visual?”. In: Educação & Realidade, 30 (2): 9-34, jul./dez. 2005; ASLAN, Odette, O Ator no Século XX. São Paulo: Editora Perspectiva, 2010; WELLER, Wivian, “A Atualidade do Conceito de Gerações de Karl Mannheim”. In: Soc. estado. Vol. 25 n° 2. Brasília May/Aug. 2010; BENTES, Arone do Nascimento, O Patrimonialismo como Cultura Institucional no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas.  Tese de Doutorado em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2015; KLOTZ-SILVA, Juliana, Hábitos Alimentares e Comportamento: Do que Estamos Falando? Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde. Centro Biomédico. Instituto de Nutrição. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Antônio Abujamra - Arte, Televisão & Fabuloso Cético.

Ubiracy de Souza Braga*

         Para um artista, o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores”. Antônio Abujamra


            O sentido de fabuloso comparativamente ao sentido artístico, filosófico, estético e jornalístico de Antônio Abujamra pode ser compreendido ao romance de Juan Rulfo,  “Pedro Páramo”, adaptado à cena pelo Teatro Meridional, que os escritores do que viria a ser conhecido como “realismo mágico” ou “fantástico” vieram beber inspiração. A história passa-se numa aldeia fantasma, na cercania da fazenda da Meia-lua, num território do México oitocentista dominado por quatro gerações de Páramos. Juan Preciado vem em busca do pai, Dom Pedro, mas encontra apenas morte, de lugares algures no túmulo que nos é narrada. A obra mistura magia e realidade, mortos e vivos convivendo entre si. Pesadelos, delírios, memórias, vozes do além, os fragmentos não se distinguem claramente, nem se separam bem dos pensamentos do leitor, tal é o poder de sugestão de Juan Rulfo que, narrados, misturam-se nos sonhos de quem os lê. Por ironia do destino, no programa “Provocações”, Abujamra sempre perguntava ao entrevistado como gostaria de morrer, ante as respostas repetidas vezes “em casa, dormindo”.
Em primeiro lugar, talvez tenham sido os desafios característicos de uma época da história que transformaram a cultura da América Latina em um vasto arsenal de fatos surpreendentes, insólitos, brutais, incríveis, encantados; isto é, “uma profusão de fantasias, maravilhas e barroquismos”. Os impasses e as façanhas de uma época permitem reler o passado e o presente. É como se um novo horizonte iluminasse de repente todo o vasto mural da história, revelando fatos e feitos que adquire outro movimento, som, cor. O romancista pode ser um cronista “fora do tempo”, narrando o imaginado e o acontecido segundo a luz que o ilumina. Ele pode representar “um estilo de olhar” quando o realismo mágico é “superação do realismo social, crítico”. Tem sido visto como um estilo novo.

Poema: “Tabacaria”, de Fernando Pessoa por Antônio Abujamra, no Programa “Provocações”.

Emerge de uma época em que ele estaria esgotado, ou revelando limitações. A fabulação do artista, então, cria outros meios de expressão, abre horizontes novos à imaginação. Entre as soluções formais mais frequentes, podem-se citar: a desintegração da lógica linear de consecução e de consequência do relato, através de cortes na cronologia fabular, da multiplicação e simultaneidade dos espaços da ação; caracterização polissêmica dos personagens e atenuação da qualificação diferencial do herói; maior dinamismo nas relações entre o narrador e o narratário, o relato e o discurso, através da diversidade das localizações, da auto-referencialidade e do questionamento da instância produtora da ficção. Muitos reconhecem que a transição do realismo social ao mágico ocorre simultaneamente à redescoberta das culturas de índios e negros. São crenças, tradições, estórias, lendas e mitos que expressam outras formas de ser, outros sentidos da vida e trabalho, do tempo e espaço.
Em segundo lugar, o ceticismo científico tem relação com o ceticismo filosófico, mas eles não são idênticos. Muitos praticantes do ceticismo científico não são adeptos do ceticismo filosófico clássico. Quando críticos de controvérsias científicas, terapias alternativas ou paranormalidades são ditos céticos, isto se refere apenas à postura cética científica adotada. O termo cético é usado atualmente para se referir a uma pessoa que tem uma posição crítica em determinada situação, geralmente por empregar princípios do pensamento crítico e métodos científicos, melhor dizendo, o ceticismo científico para verificar a validade de ideias. Os céticos veem a evidência empírica como importante, já que ela provê provavelmente o melhor modo de se determinar a validade de uma ideia. Apesar de o ceticismo envolver o uso do método científico e do pensamento crítico, isto não necessariamente significa que os céticos usem estas ferramentas constantemente.


Os céticos são frequentemente confundidos com, ou até mesmo apontados como, cínicos. Porém, o criticismo cético válido em oposição a dúvidas arbitrárias ou subjetivas sobre uma ideia, origina-se, contudo, de um exame objetivo e metodológico que geralmente é consenso entre os céticos. Note também que o cinismo é geralmente tido como um ponto de vista que mantém uma atitude negativa desnecessária acerca dos motivos humanos e da sinceridade. Apesar de as duas posições não serem mutuamente exclusivas, céticos também podem ser cínicos. Cada um deles representa uma afirmação fundamentalmente diferente sobre a natureza do mundo. De outra parte, os céticos científicos constantemente recebem também, acusações de terem a “mente fechada” ou de inibirem o progresso científico. Isto ocorre devido às suas exigências de evidências cientificamente válidas. Os céticos, por sua vez, argumentam que tais críticas são, em sua maioria, provenientes de adeptos de disciplinas pseudocientíficas, cujas visões de mundo não são adotadas ou suportadas pela ciência ocidental convencional.
Contudo, a ciência moderna é construída “sob um pé limiar”, talvez, entre o ceticismo e a credulidade. Por um lado, a ciência deve estar sempre aberta a novas ideias, desde que apoiadas em evidências científicas, mas que posteriormente devem ser comprovadas, de modo a assegurar a veracidade de seus resultados. Sempre que uma nova hipótese é formulada ou uma nova alegação é realizada, toda a chamada “comunidade científica” se mobiliza de modo a comprovar sua viabilidade teórica e prática. Como em qualquer outro plano, quanto mais incomuns forem às novas ideias e invenções, mais resistência tende a enfrentar durante seu escrutínio por meio do método científico. Uma consequência disso é que vários cientistas através da história, ao apresentarem suas ideias, foram inicialmente recebidos com alegações de fraude por colegas que não desejavam ou não eram capazes de aceitar algo que requereria uma mudança em seus pontos de vista estabelecidos como pontos de vistas.
Antônio Abujamra estudou filosofia e jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS-, onde iniciou sua carreira como ator, em meados dos anos 1950, na peça “Assim é se lhe parece”, de Pirandello, no Teatro Universitário de Porto Alegre. A estreia profissional ocorreu em 1961, ano em que dirigiu “Raízes”, de Arnold Wesker, com Cacilda Becker. No mesmo ano, dirigiu a peça “José de Parto à Sepultura”, de Augusto Boal, no Teatro Oficina. Como diretor, foi um dos principais da original TV Tupi e, como ator, teve atuação destacada. Na década de 1980, engaja-se na recuperação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com destaque para “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes, e “Hamletto”, de Giovanni Testori, sendo esta dirigida por ele no TBC e em Nova York, para o Theatre for the New City. Participa da revolução cênica efetivada nas décadas de 1960 e 1970, caracterizando seu trabalho artístico pela ousadia, inventividade e espírito provocativo.
Nas décadas de 1980 e 1990, desenvolve espetáculos em que crítica e lúdico se fundem num ceticismo bem-humorado, que é o eixo de sua personalidade. Como Diretor em TV (1968-1997), como ator (1967-2-011), no cinema (1989-2012). Entre seus trabalhos em teatro encontram-se “Volpone”, de Ben Johnson; “Hair”, de Gerome Ragni e James Rado; “A secreta obscenidade de cada dia”, de Manuel Antonio de la Parra; “Retrato de Gertrude Stein quando homem”, de sua autoria e “O inferno são os outros”, de Jean-Paul Sartre. Em 1998, esteve na cidade de Monte Carlo, principado de Mônaco, ao lado de celebridades como Claudia Cardinale, Annie Girardot e Yehudi Menuhin, compondo parceria no júri do Festival Mundial de Televisão, com o brilho de ser o único latino-americano convidado. Comandou o programa “Provocações”, da TV Cultura, no ar desde 6 de agosto de 2000, onde adotou um estilo próprio de fazer entrevistas. O último programa foi exibido no feriado do mártir Tiradentes, tendo o Eduardo Sterblitch como convidado. Antônio Abujamra foi quem levou o ator Othon Bastos para a televisão, depois do grande sucesso do ator ao interpretar “Corisco” no filme: “Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha. Era pai do também ator e músico André Abujamra. As atrizes Clarisse Abujamra e Iara Jamra são suas sobrinhas.
Do ponto de vista técnico-metodológico, forma-se em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS, Porto Alegre, em 1957. Inicia-se como crítico teatral e, paralelamente, faz suas primeiras incursões como ator e diretor no Teatro Universitário, entre 1955 e 1958, nas montagens: “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa, “À Margem da Vida” e “O Caso das Petúnias”, de Tennessee Williams, “A Cantora Careca” e “A Lição”, de Eugène Ionesco, e Woyzeck, de Georg Büchner. Viaja à Europa, em 1959, como bolsista, estudando língua e literatura espanholas, em Madri. Faz estágio em Villeurbanne, na França, com o diretor Roger Planchon, acompanhando as montagens “Henrique IV”, de William Shakespeare, e “Almas Mortas”, de Nicolas Gogol; e com Jean Villar, em “A Resistível Ascensão de Arturu Ui”, de Bertolt Brecht, no Théâtre National Populaire, TNP, em Paris. Estagia ainda no prestigioso Berliner Ensemble, em Berlim.
Na primeira metade dos anos 1980, Abujamra se engaja no projeto de recuperar artisticamente o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC. Inaugura novas salas e implanta um movimento que faz vir à luz alguns novos autores e diretores. Entre seus espetáculos mais significativos no TBC estão: Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, 1981; Hamletto, de Giovanni Testori, 1981, peça que ele dirigirá mais duas vezes: no próprio TBC, 1984, e em Nova York, para o Theatre for the New City, 1986; “Morte Acidental de um Anarquista”, de Dario Fo, 1982; e “A Serpente”, de Nelson Rodrigues, 1984. Um dos maiores sucessos de sua carreira, “Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico”, de Dario Fo, 1984, traz um solo virtuosístico que projeta a atriz Denise Stoklos para uma carreira internacional e é aplaudido em vários festivais fora do Brasil.
Em 1987, encerrado o projeto do TBC, Abujamra dirige, para a Companhia Estável de Repertório - CER, de Antonio Fagundes, a superprodução “Nostradamus”, de Doc Comparato, grande êxito de bilheteria. Enfim, aos 55 anos de idade, Abujamra inicia sua carreira de ator. Em dois anos, atua em duas telenovelas e três peças e é premiado pelo desempenho no monólogo “O Contrabaixo”, de Patrick Süssekind, 1987. No ano seguinte, encena mais uma colaboração com Nicette Bruno e Paulo Goulart, “À Margem da Vida”, de Tennessee Williams. Em 1991, recebe o Prêmio Molière pela direção de “Um Certo Hamlet”, espetáculo de estreia da companhia “Os Fodidos Privilegiados”, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro. Vale lembrar que “Provocações” é um programa da TV Cultura às terças-feiras às 23h30. Era reprisado nas madrugadas das quintas-feiras às 4h30. Apresentava entrevistas instigantes e provocativas, com ênfase no entrevistado, com intervenções fabulosas de Antônio Abujamra.

O apresentador também lia textos e recitava poemas de pessoas famosas ou não. Além disto, há o quadro de pensamento Vozes das ruas, no qual transeuntes expressavam suas opiniões acerca de diversos assuntos. A trilha sonora de abertura foi elaborada pelo filho de Abujamra, o músico e ator André Abujamra. O programa, que estreou em 6 de agosto de 2000, tem duração média de 25 minutos. Ficou no ar até 28 de abril de 2015 devido a morte de seu apresentador Antônio Abujamra com 82 anos de idade. Dentre seus principais entrevistados estão: Eduardo Sterblitch Rita Cadillac, Ratinho, Eva Wilma, Clóvis Rossi, Clodovil Hernandes, Tom Zé, Juca Kfouri, Mino Carta, Cristiane Torloni, Rubens Ewald Filho, José Celso Martinez Corrêa, Dom Paulo Evaristo Arns, Miguel Arraes, Ariano Suassuna, Silvio de Abreu, Paulo Autran, Norma Bengell, Pitty, Marisa Orth, Luiza Erundina, Mário Bortolotto, Maguila, Paulo Vanzolini, Ziraldo, Agnaldo Timóteo, Caco Barcellos, Luiz Gonzaga Belluzzo, Mônica Iozzi e a atriz e cantora Elza Soares.
Enfim, TV Cultura é uma rede de televisão brasileira com sede em São Paulo, capital do estado homônimo. Emissora de televisão pública e comercial de caráter educativo e cultural, foi fundada em 20 de setembro de 1960 pelos Diários Associados e reinaugurada em 15 de junho de 1969 pela Fundação Padre Anchieta, sediada na capital paulista, gerando programas de televisão educativos que são transmitidos para todo o Brasil via satélite e através de suas afiliadas e retransmissoras em diversas regiões do Brasil. É mantida pela Fundação Padre Anchieta, uma fundação sem fins lucrativos que recebe recursos públicos, através do governo do estado de São Paulo, e privados, através de propagandas, apoios culturais e doações de grandes corporações. No dia 30 de janeiro de 2015, o instituto de pesquisa britânico Populus divulgou que a importante e reveladora notícia que a TV Cultura brasileira “é o segundo canal de maior qualidade do mundo, atrás apenas da BBC One”, o principal canal de televisão da British Broadcasting Corporation no Reino Unido. Foi inaugurado a 2 de novembro de 1936 como BBC Television Service, e foi o primeiro serviço regular de teledifusão considerado tecnologicamente com um alto nível de resolução.
Bibliografia geral consultada.

DUVIGNAULD, Jean, Sociologia do Comediante. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1972; CASTRO, Silva, La Lettera sulla Scoperta del Brasile di Pero Vaz de Caminha. Pádua: Università di Padova, 1984; WEILLER, Maurice, “Para conhecer o pensamento de Montaigne”. In: Ensaios de Montaigne. Brasília: UnB/Hucitec, 2ª edição. Vol. III, 1987, pp. 3-135; MICHALSKI, Yan, “Antônio Abujamra”. In: Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo/CNPq. Rio de Janeiro, 1989; LUIZ, Macksen, “Hamlet para Brasileiro Ver”. In: Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 16 junho de 1991; PEREIRA, Maria Lúcia, “Quem é esse Diretor?”. In: O Inspetor Geral. Direção de Máximo Gorki; texto Maria Lúcia Pereira. São Paulo, 1994; CAMPOS, Regina Salgado, Ceticismo e Responsabilidade: Gide e Montaigne na obra Crítica de Sérgio Milliet. São Paulo: Editora Annablume, 1996; SANDRONI, Paula, Primeiras Provocações: Antônio Abujamra e o Grupo Decisão. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Teatro. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2004; HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; EVA, Luiz Antônio Alves, A Figura do Filósofo: Ceticismo e Subjetividade em Montaigne. São Paulo: Edições Loyola, 2007; GINOT, Isabelle; MICHEL, Marcelle, La Danse au XXe Siècle. Paris: Éditions Larousse, 2008; SILVA, Daniel Furtado Simões da, O Ator e o Personagem: Variações e Limites no Teatro Contemporâneo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes. Escola de Belas Artes. Belko Horizonte: Universidade Federal de Minas Grais, 2013; OLIVEIRA, Natássia Duarte Garcia leite, Teatro Dialético em Terras Estranhas - A (In)diferenciação entre Sujeito e Objeto na Formação Cultural. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2013; PINTO, Pedro Arnaldo Henrique Serra, Eu, o Outro e a Nossas Circunstâncias: O Legado de Stanislavski para uma Formação Teatral Eticamente Comprometida. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2013; BENEVIDES, Lourdinete Silva, Abriam-se as Cortinas: A História da Informação Teatral em Aracaju, Sergipe (1960-2000). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe, 2015; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

domingo, 26 de julho de 2015

Golpe de Classe - Educação & Lei de Responsabilidade Fiscal.

Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

  “Entre os estudos, comecemos por aqueles que nos façam livres”.  Michel de Montaigne



            No sentido contemporâneo a primeira universidade brasileira foi criada no Rio de Janeiro, em 1920, pelo então presidente da República, Epitácio Pessoa. Fundou-a para perpetuar, dentro da nova entidade, “os usos e costumes dos cursos isolados que viriam a lhe dar origem”. Porque, na verdade, o governo juntou “vários cacos”, na expressão de Leonardo Boff (2007), entre institutos isolados, numa soma mecânica e não integrativa, e sobre todo o conjunto colocou uma Reitoria, como órgão de comando.  Até 1950 a universidade no Brasil era praticamente inexistente. Na próxima década de 1960 cresceu quantitativamente em número de instituições. Durante os anos 1970 assumiu o papel de instituição de pesquisa, principalmente nas universidades públicas da região sudeste. Os professores passaram a ter carreira acadêmica, formação em pós-graduação, salários e garantias sociais melhores que no período anterior. Foram construídos prédios, surgiram novos laboratórios e bibliotecas.  
Durante o Governo Lula, hic et nunc a grande maioria das carreiras do serviço público federal foi posicionada, na prática elevando salários, muitas vezes defasados durante os anos de aperto no Governo FHC, embora ao fim e ao cabo este se vanglorie de ter feito “o maior acordo do trabalhismo no mundo”, pois ao final da década de 1980 e início da década de 1990, o país sofreu – em todos os sentidos que o vocábulo alberga – a imposição de planos econômicos de natureza heterodoxa que, dentre outros deletérios efeitos, deixou de conferir aos valores recolhidos ao Fundo de Garantia sobre Tempo de Serviço, a devida correção monetária. Um processo da chamada “modernização sistêmica”, contudo, só tem lugar no início da década dos anos 1990, quando setores empresariais e governos brasileiros voltam sua atenção para a educação, avançando em quase todos seus níveis.
 

Mas dos sucessivos governos de Estado e federação desde os governos de Leonel de Moura Brizola (PDT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quase todos os segmentos sociais de trabalhadores resolveram seus problemas salariais, menos os problemas circusncritos aos salários nas universidades públicas brasileiras. Para termos uma ideia do que significa hoje o salário de um professor universitário, basta dizer que um professor em DE – Dedicação Exclusiva, e não se sentindo representados pelo ANDES, um grupo de professores fundou um Sindicato paralelo, o Proifes, embora muitos professores tenham acreditado que poderiam ter algum avanço para conseguir o que outras carreiras conseguiram, mas a realidade não se mostrou de fato tão favorável. De 1980 em diante iniciou-se um processo político-ideológico claro de degradação atual nas universidades brasileiras: cursos reduzidos, energia dos professores canalizada para obter recursos e evitar a degradação dos salários, através de greves ininterruptas, que nem sempre levaram ao resultado desejado com a implantação dos chamados Planos de Cargos, Carreira e Valorização (PCCV). 
Diante dos impactos negativos dos cortes de até 75% da verba Proap - Programa de Apoio à Pós-Graduação e do Proex - Programa de Apoio aos Programas de Excelência - recentemente comunicados pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) às universidades -, várias entidades e organizações, vinculadas à Pós-Graduação, têm expressado sua preocupação e repúdio, como da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), Associação Nacional de História (ANPUH), Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), Fórum dos Pró-Reitores de Pós-Graduação e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).  No entanto, a maioria dos dirigentes das Instituições Federais de Ensino acabou não se manifestando a respeito. - “O Secretário da Sesu/MEC passou a chamar cada reitor individualmente para negociar o corte das verbas, principalmente de capital – na qual houve a redução de 47%”. As informações estão contidas no comunicado nº 25 Comando Nacional de Greve da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior ANDES, sindicato brasileiro, com sede em Brasília (DF) e seções sindicais nos locais de trabalho, que representa professores de ensino superior.
Provenho da área que é chamada de Ciências Humanas ou de Humanidades. Sem nenhum espírito bairrista, penso que é hora de integrar mais a nossa área no centro de decisões da SBPC. Tenho a meu favor a experiência como pesquisador de Humanas, autor de vários livros de filosofia política e, recentemente, de uma obra que procura fazer dialogarem a filosofia e a sociedade brasileira. Como, além disso, montei o projeto de um curso experimental para a USP (o de Humanidades, inspirado no de Ciências Moleculares) e fui diretor de entidades científicas (a própria SBPC e, antes dela, a ANPOF), bem como membro do Conselho Deliberativo do CNPq, sinto-me à vontade para notar alguns pontos importantes, que valem para todas as ciências. As Ciências Humanas aparecem socialmente com menor importância do que de fato têm. Gosto de perguntar às pessoas quanto, do que levam sobre o corpo, vem da pesquisa científica mais recente” (cf. Ribeiro, 2003). 
        A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), oficialmente Lei Complementar nº 101, promulgada em 4 de maio de 2000, e em vigor em sua publicação em 5 de maio de 2000, é uma Lei Complementar brasileira que tenta impor o controle público dos gastos da União, estados, Distrito Federal e municípios condicionado à capacidade de arrecadação de tributos desses entes políticos. Tal medida foi justificada pelo costume, na política brasileira, de gestores promoverem obras de grande porte no final de seus mandatos, deixando a conta para seus sucessores. A Lei de Responsabilidade Fiscal também promoveu a transparência dos gastos públicos. A lei obriga que as finanças sejam apresentadas detalhadamente ao Tribunal de Contas da União, do Estado ou dos Municípios. Tais órgãos podem aprovar as contas ou não. Em caso das contas serem rejeitadas será instaurado investigação em relação ao Poder Executivo, podendo resultar em multas ou mesmo conforme resultado das investigações na proibição de tentar disputar novas eleições. Embora o Poder Executivo seja o principal agente responsável pelas finanças públicas, o foco da Lei de Responsabilidade Fiscal, os Poderes Legislativo e Judiciário também são submetidos à referida norma. A lei não inova a Contabilidade do Orçamento público à medida que introduz diversos limites de gastos, conhecido como Gestão Administrativa, seja para as despesas do exercício, seja para o grau de endividamento. O filósofo Renato Janine Ribeiro torna-se ministro da Educação.
A Lei de Responsabilidade Fiscal determina o estabelecimento de metas fiscais trienais. Isso permite que os governantes aparentemente consigam planejar as receitas e as despesas, podendo corrigir os problemas sistêmicos que possam surgir no meio do caminho na trajetória de governo. Metaforicamente é como conduzir um barco. Mas é conditio sine qua non quando se tem um rumo possível para planejar as manobras necessárias para se chegar lá. Mesmo que sejam metas difíceis e tenham que ser corrigidas ao longo do caminho. Criada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Lei de Responsabilidade Fiscal provocou uma mudança substancial na maneira como é conduzida a gestão financeira dos três níveis de governo. Tornou-se preciso saber planejar o que deverá ser executado, pois além da execução devem-se controlar os custos envolvidos, cumprindo o programado dentro do custo previsto. Sua criação fez parte do cáculo de reformas do Estado promovido pelo governo federal para estabilizar a economia brasileira, reduzir o “risco país” e estimular investimentos externos no país, a partir do Plano Real. Passados 15 anos, a LRF tem-se constituído um imbróglio para a implantação do PCCV no caso das universidades públicas estaduais. 
O princípio ético-político é que a universidade deve estar comprometida com a qualidade de ensino e de formação intelectual de seus pesquisadores e alunos. Com a produção científica, artística, estética, filosófica e tecnológica. Com o atendimento às necessidades, aos anseios e às expectativas da sociedade global, em sua “complexidade humana”. Formando profissionais técnicos e “policompetentes”, no sentido da complexidade que Edgar Morin emprega, desenvolvendo soluções para problemas locais, regionais e nacionais. A história da universidade brasileira deve deixar para trás o “simbolismo sindical” e seu heroísmo. Sem perder de vista períodos longos de submissão e subserviência aos poderes públicos, que serviram para ilustrar, orientar, criticar e engrandecer a função acadêmica. Ipso facto, caminha notadamente para um plano de eficiência global. Para a manutenção e garantia da subsistência de seus próceres do ponto de vista da excelência e padrão de ensino. A regulamentação do PCCV urge para as universidades públicas como compromisso social.
Em 1985 é criado o Ministério da Cultura. Em 1992, uma lei federal transformou o MEC no Ministério da Educação e do Desporto e, somente em 1995, a instituição passa a ser responsável apenas pela área da educação. Uma nova reforma na educação brasileira foi implantada em 1996. Trata-se da mais recente LDB, que trouxe diversas mudanças às leis anteriores, com a inclusão da educação infantil (creches e pré-escola). A formação adequada dos profissionais da educação básica também foi priorizada. Ainda em 1996 o Ministério da Educação criou o importante Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) para atender ao ensino fundamental. O Fundef vigorou até 2006, quando foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Agora, toda a educação básica brasileira, da creche ao chamado Ensino Médio, passa a ser beneficiada com recursos federais que em tese se estenderá até meados de 2020.
A então presidente Dilma Rousseff (PT) anunciou o nome do filósofo Renato Janine Ribeiro (USP) para assumir o Ministério da Educação. O professor de Ética e Filosofia  tem alguns desafios imediatos, principalmente com o FIES, além do próprio orçamento global da Educação Brasileira, da inserção do Brasil na Academia mundial, a qualidade do Ensino Superior “versus” seu acesso, projetos consistentes na base infantil, a defesa de um currículo acessível e comprometido para a base fundamental e o avanço do ensino técnico em todo o Brasil. Segundo pesquisadores, gestores e especialistas da área, um nome como Janine Ribeiro é bem recebido por causa de sua experiência tanto em sala de aula e em cargos de fomento de pesquisa e avaliação educacional, quanto por seu trabalho de pesquisa acadêmica nas áreas de filosofia política, ética e democracia.
O ministro Renato Janine Ribeiro afirmou, de forma indireta, que o governo federal passa por um momento de dificuldades diante da redução de recursos dos ministérios, mas ponderou que é em situações como essa que se vê o valor das pessoas. Em vídeo enviado ao portal G1, no dia do anúncio, o ministro defendeu o corte e destacou que, a partir dele, será possível ter um cenário mais claro sobre uma nova edição do Fies no segundo semestre de 2015, o que ainda não está definido. - “A sinalização da presidenta é muito importante, existem cálculos no orçamento que têm que ser feitos (...). Então, dentro disso vamos dedicar particular atenção ao Fies. É uma questão de poucos dias para terminar a tensão e nós podermos ter um resultado claro”. O dinheiro para o financiamento, não sai do orçamento do Ministério de Educação e Cultura, alvo do corte de R$ 9,4 bilhões. Os recursos têm como origem a emissão de títulos da dívida pública, feita pelo Tesouro Nacional.
Por conta do Fies, a educação superior tem tomado conta da mídia sobre educação. Os dados apresentados demonstraram que as empresas do ensino privado em nosso país receberam aumentos consideráveis nos últimos anos, tendo ultrapassado a casa dos R$ 20 bilhões em 2014. Dados publicados recentemente pela imprensa também mostraram que as instituições utilizaram os recursos para o seu custeio e têm incentivado os estudantes já matriculados a utilizarem as bolsas, ao invés de ampliarem o quantitativo de matrículas e vagas. Essas instituições podem diminuir a oferta ou zerá-la caso não haja recursos. Os estudantes são obrigados a ressarcir os valores alguns anos mais tarde. Quanto à educação pública, o sistema federal de ensino superior realizou um dos maiores programas de expansão na última década, mas não os governos estaduais e aí reside a contradição do problema. Entre 2003 a 2014, foram mais de 420 novas unidades de ensino técnico e tecnológico, perfazendo um total de 562 unidades ou escolas organizadas em 38 institutos federais no país. Entre 2003 e 2016, o Ministério da Educação concretizou a construção de mais de 500 novas unidades referentes ao plano de expansão da educação profissional, totalizando 644 campi em funcionamento. São 38 Institutos Federais presentes em todos estados, oferecendo cursos de qualificação, ensino médio integrado, cursos superiores de tecnologia e licenciaturas. Essa Rede é formada por instituições que não aderiram aos Institutos Federais, mas oferecem educação em todos os níveis. São dois Cefets, 25 escolas vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e uma Universidade Tecnológica.

          
A contabilidade pública precisa romper com o paradigma da aderência do fato social contábil a sua conformidade com a lei. Pois a importância da divulgação está exatamente no registro dos eventos econômicos, segundo sua ocorrência econômica ou de custos sobre o patrimônio público. As informações fornecidas pela contabilidade governamental pouco contribuem para o fortalecimento do sistema de informações do governo. Quer porque são editados em prazos incompatíveis com os exigidos para a adequada tomada de decisões políticas no âmbito da administração pública, quer porque dão ênfase a aspectos legais como primícias para a evidenciação do patrimônio sem se preocupar com aspectos qualitativos ou quantitativos em questões das novas políticas públicas.  De forma geral, o gasto público é definido tendo como representação o conjunto de dispêndios do Estado necessário ao funcionamento dos serviços públicos, além de encargos assumidos no interesse geral da comunidade. Desta forma, a despesa pública compreende as autorizações para gastos com as várias atribuições e funções governamentais. Ou seja, a despesa pública corresponde à distribuição e ao emprego das receitas para o custeio de diferentes entes e para os investimentos públicos.
Nesse sentido, torna-se essencial para o controle e manutenção dessas despesas, garantir não só o reconhecimento dos custos com pessoal ativo e inativo, mas o uso de instrumentos gerenciais capazes de garantir a sua minimização mantendo investimentos nevrálgicos em setores da administração. Como forma de controle das despesas com pessoal a Lei de Responsabilidade Fiscal delimitou um limite para esses gastos que não ultrapasse 50% do valor da Receita Corrente Líquida para a União, os Estados e o Distrito Federal e 60% no caso dos municípios. Após a consumação do golpe institucional, a nova gestão do Ministério da Educação cortou em média 30% dos orçamentos das universidades públicas, comprometendo as despesas correntes e a manutenção e expansão de turmas dos cursos de graduação e pós-graduação. O objetivo consorciado do governo golpista consiste em intensificar o processo de sucateamento das universidades, abrindo evidente  caminho para a privatização do ensino público. Com isso, sucumbem-se as metas de expansão de vagas no ensino superior público, previstas no Plano Nacional de Educação (Lei 13.005, PNE), aprovado em 2014. O projeto do golpe de Estado de 2016 visa atingir a soberania nacional, restringindo o acesso ao ensino superior público e comprometendo os compromissos do Estado em formar novos mestres e doutores – base para o desenvolvimento social, econômico e tecnológico da nação. No Brasil, a pós-graduação é majoritariamente ofertada por instituições públicas, enquanto que a graduação é predominantemente privada – e o PNE pretendia inverter a lógica de acesso à graduação, ampliando as matrículas públicas. Nos últimos anos a educação básica sofre intenso ataque contínuo do projeto privatista de mercantilização, tanto na estrutura financeira-organizacional dos sistemas de ensino e das escolas, como na concepção metodológica curricular.
        Enfim, segundo Michael Löwy o que aconteceu no Brasil, com a destituição da presidente eleita Dilma Rousseff, foi um golpe de Estado. Golpe de Estado pseudolegal, “constitucional”, “institucional”, parlamentar ou o que se preferir. Mas golpe de Estado. Parlamentares – deputados e senadores – profundamente envolvidos em casos de corrupção (fala-se em 60%) instituíram um processo de destituição contra a presidente pretextando irregularidades contábeis, “pedaladas fiscais”, para cobrir déficits nas contas públicas – uma prática corriqueira em todos os governos anteriores! Não há dúvida de que vários quadros do PT estão envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, mas Dilma não… Na verdade, os deputados de direita que conduziram a campanha contra a presidente são uns dos mais comprometidos nesse caso, começando pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (recentemente suspenso), acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fiscal etc. A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Testada em Honduras e no Paraguai (países que a imprensa costuma chamar de “República das Bananas”), ela se mostrou eficaz e lucrativa para eliminar presidentes (muito moderadamente) de esquerda. Agora foi aplicada num país que tem o tamanho de um continente.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional a Lei  9.637/98, autorizando as escolas públicas a serem geridas por Organizações Sociais (OSs), retirando, assim, a exclusividade do Poder Público em administrá-las. Em 2017, conjuga-se um teatro de operações políticas com a terceirização indiscriminada (Lei 13.429), a Reforma Trabalhista (Lei 13.467), aliada à Lei das OSs, avança em inúmeras formas de contratos precários que poderão atingir todos os profissionais da educação escolar pública (professores, pedagogos e funcionários administrativos). Essa nova estrutura organizacional e de contratação de pessoal imposta à escola pública brasileira, além de estimular a terceirização de sua gestão para políticos-empresários que atuam na área educacional através de OSs, também remontará a nefasta prática do nepotismo e de contratações políticas que a Constituição Federal de 1988 tinha conseguido estancar. Um retrocesso sem precedentes!  E, dado sequência à pavimentação da privatização e mercantilização da educação no nível básico, a “reforma” do Ensino Médio (Lei 13.415) visa a criar reserva de mercado para as empresas educacionais especializadas na Educação Profissional, visto que mais da metade do currículo escolar desta etapa poderá ser destinada às áreas de formação específica, com preponderância para a educação técnica e profissional aos estudantes das classes subalternas.
          A 1ª mulher eleita na América Latina foi Violeta Barros, em 1990, na Nicarágua. Apesar da importância da eleição, ela é conhecida como Violeta Chamorro, sobrenome do marido - pela maioria das pessoas é lembrada como viúva do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado pela ditadura que assolava o país. Ou seja, a primeira mulher eleita para uma Presidência na América Latina “precisa ter a memória vinculada a um homem”. A 2ª mulher a presidir um país latino-americano foi Mireya Moscoso, que governou o Panamá entre 1999 e 2004. Em todas as biografias, Mireya “é descrita como esposa do Presidente Arnulfo Arias Madrid”. Michelle Bachelet foi eleita em 2006 para governar o Chile. Ela é a 1ª mulher a presidir o Chile pela segunda vez, desde a ditadura do general Augusto Pinochet. As referências de “esposa” e “viúva” também são usadas para Cristina Kirchner, que governa a Argentina desde 2007. O mandato termina em 2015 e ela não poderá se candidatar novamente, de acordo com Constituição do país. A 5ª Presidenta eleita na América Latina venceu as eleições de 2010, assim como Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT). Laura Chinchilla presidiu a Costa Rica até maio deste ano. Antes de ocupar o cargo, ela já havia sido vice-presidente de Óscar Arias Sanchez. Dilma Rousseff é a 1ª mulher a governar o Brasil, vencendo as eleições de 2010 e 2014, mas foi derrubada pelo golpe de Estado de 17 de abril de 2016. Lembra-nos os versos de Cora Coralina quando afirma: - “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”.
Bibliografia geral consultada.
TRAGTEMBERG, Maurício, Burocracia e Ideologia. 2ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1992; GERTZ, René Ernaini (Organizador), Max Weber e Karl Marx. São Paulo: Editora Hucitec, 1994; REZENDE, Flávio da Cunha, “Descentralização, Gastos Públicos e Preferências Alocativas dos Governos Locais no Brasil (1980-1994)”. In: Dados, volume 40, n° 3, pp. 264-279, 1997; SLOMSKI, Valmor, Teoria do Agenciamento no Estado - Uma Evidenciação da Distribuição de Renda Econômica Produzida pelas Entidades Públicas de Administração Direta. São Paulo: Tese de Doutorado em Controladoria e Contabilidade. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999; RIBEIRO, Renato Janine, A Universidade e a Vida Atual. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editor Campus, 2003; NOBRE, Renard Freire, Perspectivas da Razão: Nietzsche, Weber e o Conhecimento. Belo Horizonte: Editora Argumentum, 2004; CARRASQUEIRA, Simone de Almeida, Investimentos das Empresas Estatais e Endividamento Público. Rio de Janeiro: Editor Lúmen Juris, 2006;  MENDES, Luiz Antonio Arnaud, Diretrizes para Implantação da Gestão ambiental na UERJ - Campus Francisco Negrão de Lima, Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Engenharia Ambiental. Faculdade de Engenharia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2005; SILVA, Neusa Cardim, Repositório Digital da Universidade Pública: O Caso da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 2011; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015; TUPY, Igor Santos, Impactos Regionais de Crises Financeiras: Estudo sobre as Respostas dos Estados Brasileiros à Crise Financeira Global. Dissertação de Mestrado em Economia. Faculdade de Ciências Econômicas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; entre outros.