Ubiracy de Souza Braga*
“O
Progresso se baseia mais no fracasso do que no sucesso”. Kevin Costner
O
filme: “Dances with Wolves”, ou, em português: “Dança com Lobos” é um drama
estadunidense de 1990, do gênero aventura, dirigido por Kevin Costner e baseado
em romance de Michael Blake. O filme, que marca a estreia de Costner na
direção, foi produzido por ele e Jim Wilson. A trilha sonora é de John Barry, a
direção de fotografia de Dean Semler, o desenho de produção de Jeffrey
Beecroft, a direção de arte de William Ladd Skinner, o figurino de Elsa
Zamparelli e a montagem de William Hoy, Chip Masamitsu, Steve Potter e Neil
Travis. O orçamento girou em torno de US$ 15 milhões, mas só nos Estados Unidos
o filme arrecadou mais de US$ 180 milhões.
O
escritor e roteirista Michael Blake, vencedor do Óscar pelo roteiro de “Dança
com lobos” (1990), morreu neste sábado (02/05/2015), aos 69 anos, em Tucson, no
Arizona, após enfrentar uma longa batalha contra o câncer. As informações são
da agência Associated Press. Blake é autor de vários romances,
mas ficou famoso pelo filme: “Dança com lobos” depois que o ator Kevin
Costner, grande amigo dele, incentivou-o à adaptação para o cinema. O longa-metragem,
ambientado na Guerra Civil Americana, venceu sete Óscares, incluindo o de
melhor filme e de melhor roteiro adaptado para Michael Blake. O livro que deu
origem ao filme vendeu mais de 3,5 milhões de cópias e foi traduzido em 15
idiomas. Marianne Mortensen Blake, viúva de Blake, disse que ele era grande
defensor da alfabetização, das causas dos indígenas nascidos no território
anterior ao surgimento do Estado norte-americano e, além disso, do
desaparecimento de cavalos selvagens no Ocidente.
Trata-se de um projeto ousado e inovador pelo
menos do ponto de vista da narrativa, que inverte o que historicamente havia
sido utilizado pela indústria cinematográfica norte-americana. Entregue a um
astro consagrado que teria que superar sua condição e passar, num processo de
conversão de ator e tornar-se também diretor. da natureza, relacionando-se
dentro de sua tribo, estranhando o visitante proveniente de outra cultura.
Aceitando o estranho, mas também cobrando a adaptação do mesmo a seu modo de
vida, que nos aparece de forma espontânea, mas que, nos faz pensar se ele
poderia viver naquela comunidade se não se submetesse a tal mudança. Todavia, lutando como sobrevivência em sua
comunidade, em sua cultura, em sua mãe natureza.
A
invenção do conceito de comunidade atribui-se ao sociólogo Ferdinand Tonnies,
que estabelece pela primeira vez a distinção entre comunidade (“Gemeinschaft”)
e sociedade (“Gesellschaft”), sendo uma definida em contraponto da outra. A
comunidade - assente ora no território comum: região, nação, ora na partilha da
mesma língua, crença, etnia, corporação eclesiástica ou profissional - representa uma entidade social de identidade e
interconhecimento, onde os atores sociais são vistos no seu todo. Onde se
fundem as vontades e se entrelaçam as relações sociais primárias face a face,
relações estas perpassadas de laços personalizados de intimidade e emoção, bem
como de regras adstritas de coerção e as formas dinâmicas de controle sociais.
A uma
visão evolucionista e otimista opôs-se, já no século XIX, por um lado, o conservadorismo nostálgico e, por
outro, o socialismo nas suas diversas versões. Assim, autores conservadores
como Burke e Bonald, perante a previsível ordem e o progresso caótico proposto
pelos positivistas e modernistas, reagiam negativamente e apelavam à
restauração da comunidade corporativa e tradicional como: família, Igreja,
guildas, considerada primordial em relação quer ao individualismo liberal
despersonalizado, quer ao centralismo estatal abafador, que só pelo filósofo
inovador G. W. F. Hegel era idealisticamente assumido como a comunidade por
excelência enquanto “communitas communitatum”.
Michael Blake: Óscar de roteiro por “Dança com lobos” (1991). Foto: AP Photo/Reed Saxon.
Em regra, porém, os teóricos idealizadores da
comunidade tradicional passam de lado as relações hierocráticas e
paternalistas, autoritárias e autocráticas ou até despóticas, amiúde presentes
nas comunidades tradicionais. Numa perspectiva diferente, são ainda de referir
os socialistas utópicos que propunham levar à prática o socialismo através da
construção de comunidades de partilha de bens até aos defensores do “socialismo
científico”, que, embora reconhecendo o carácter revolucionário da fase
burguesa face ao feudalismo, proclamava a necessidade da superação do
capitalismo através da implantação duma nova ordem socialista, o que implicava
a abolição da propriedade privada. As reflexões e trabalhos empíricos em torno
do conceito de comunidade e diferenciadas estratégias dos grupos sociais têm
sido levadas a cabo por vários autores, que se destacam em termos contrastantes,
diversos e contraditórios.
As políticas produtivistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a
modernização reflexa e a lógica elitista que orienta o acesso ao ensino
superior, a departamentalização do conhecimento, o colonialismo cultural, são
todos elementos em torno do processo de trabalho e de comunicação no âmbito das
universidades públicas brasileiras. Então, o que significa para nós um processo
social de comunicação e, no que sedimenta um projeto nacional de educação
brasileiro? Simplificadamente representa o início e o fim de uma cadeia de
relações técnicas de trabalho e de pesquisa e desenvolvimento, tal que cada
processo de trabalho e comunicação se conecte imediatamente ao outro. Formando a
rede planetária em um amplo processo de globalização, o que indica que a ideia
geral de conectividade, que os matemáticos conhecem por “transitividade”,
cimenta a ideia de comunicação.
De acordo com o filósofo João Aloísio Lopes, em seu
livro: “Lições de Transitologia”, esta designação expressa a transitividade
entre processo de trabalho, ou entre “fluxos de forças, pois esta transitividade é imediatamente suposta quando
se pensa técnica na atualidade. Ou, quando se pensa em técnica como determinada
relação entre meios numa atividade de trabalho. Assim, tem-se definições
correlatas: a) técnica, enquanto ação de transportar controladamente,
orientadamente, o trabalho, via meio de trabalho; b) transitalidade, enquanto
fluxo socialmente controlável das forças contidas nos meios de trabalho numa
sociedade. A transitalidade “é o nome para a relação geral de conectividade que
caracteriza a ideia de comunicação” (cf. Lopes, 1991).
Guerreiro Sioux |
Só que com o termo “transitalidade”, designação esta da
relação geral de conectividade, quer-se destacar a articulação enquanto tal
seja enquanto uma cadeia de sentido que articula entre si os meios seja
enquanto interligação dos valores-de-uso dos meios vigentes em sociedade. E com
o termo tecnologia se quer significar, não a articulação enquanto tal, e menos
ainda a cadeia de sentido e interligação de valores-de-uso, mas a
cadeia/interligação dos próprios produtos/meios e dos processos de trabalho que
os produzem. As relações de transitalidade constituem-se por uma certa
bidimensionalidade dos meios. Isto significa dizer que há uma espécie de
interação perpétua entre suportes que alimenta a trama das relações de produção
e se expressa na trama correspondente das relações simbólicas; uma espécie de interação social perpétua inerente à
mera atribuição de valores-de-uso a quaisquer produtos.
De todo
modo, uma pesquisa que leve em conta novos fundamentos para uma teoria de
comunicação entende que a tecnologia expressa um modo vivenciado de ciência
aplicada, entendendo-se ainda por aplicação da ciência, a depuração social do
conhecimento em processos de trabalho. Depuração intermediada politicamente,
por certo, mas que tem inegavelmente uma base técnica da comunicação. A
importância dessa base técnica da comunicação encontra-se na apropriação e
difusão da informação, em seus efeitos sociais, em seus impactos sobre a vida
social. A informação formaliza o objeto portador e difusor de significação como
uma estrutura inerente ao circuito produtivo, generalizando-se a todos os
objetos caracterizados por esta relação. À comunicação, portanto, interessa a
imbricação entre os processos de trabalho e a reunião adjacente de imagens
tendo as sociedades como um mundo de imagens.
Pois, por mais arbitrário que sejam as razões de
notícias, por exemplo, encontrarem-se juntas - não é arbitrário o fato de que
estão editadas/ajustadas no papel, nas máquinas, no jornal, nas bancas, nas
casas, nas ruas; é produção do imaginário social. Nesta relação tudo o que é
produzido socialmente encontra-se antes de tudo subordinada a necessidades e
desejos que determinam por valores qualitativos suas condições de troca. Sua
qualidade ou seu valor-de-uso é que permite a interligação dos processos.
Dessas condições deriva-se uma concepção específica de comunicação. Aí se
expressa a duplicidade de um processo produtivo que é simultaneamente
comunicativo, ou, de um processo produtivo cujos resultados são simultaneamente
objetos/coisas e objetos ideias. Este é o suposto principal que está sendo
esboçado no presente ensaio. Vale lembrar que eu sou o único intelectual
latino-americano: a) que na condição de professor e pesquisador, b) na mesma
instituição pública há 18 anos, c) jamais aceitei cargo de chefia, por eleição
ou indicação de coletivo de professores em minha unidade de trabalho ou posto,
ou ainda através de Reitor ou governador de Estado.
A modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto
germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades
como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de
produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz
interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e
distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo
social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para
muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos, e
mesmo no caso do professor universitário. Em todo o mundo, ainda que em
diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de
fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na
globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e
classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e
correntes de opinião pública, em todo o mundo. Além disso, enquanto “totalidade
histórico-social em movimento, o “globalismo” tende a subsumir histórica e
logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o
colonialismo”. Nela, as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes
se tornam correspondentemente alongadas. A palavra meritocracia provavelmente tenha aparecido pela primeira vez no livro de Michael Young, “Rise of the Meritocracy” (1958).
A meritocracia está associada ao “Estado burocrático”,
para lembramos de Max Weber, sine ira et
studio, sendo “a forma pela qual os funcionários estatais são selecionados
para seus postos de acordo com sua capacidade em serem aprovados através de
concursos públicos de provas e títulos”. Ou ainda - associação mais comum - aos
exames de ingresso ou avaliação nas escolas e universidades, nos quais não há
discriminação entre os alunos quanto ao conteúdo das perguntas ou temas
propostos. Assim, meritocracia também indica “posições”, ou “colocações”,
conseguidas por “mérito pessoal”. Um modelo razoável de meritocracia, analogamente
ao compreendido como método científico, estético e/ou filosófico, é dado por um
método “no qual o que é considerado como sendo verdade é justamente definido
pelo mérito”.
Os principais argumentos da meritocracia são: a) é que
ela proporciona maior justiça do que outros sistemas hierárquicos, uma vez que
as distinções não se dão por sexo ou raça, nem por riqueza ou “posição social”,
entre outros fatores biológicos ou culturais, nem mesmo em termos de
“discriminação positiva”. Portanto, b) a meritocracia através da “competição
entre os indivíduos”, estimula assim, o aumento da produtividade e eficiência.
Governos e organismos meritocráticos aparentemente enfatizam “talento, educação
formal e competência”, em lugar de diferenças existentes, tais como
estratificação social, classe social, relações de parentesco, etnia, ou sexo.
Isto é o que
marca a diferença na apropriação do patrimônio histórico reverenciado pela
memória da universidade quando se trata como já disse alhures, do “batismo burocrático
do saber”. Mal comparando, as estruturas de poder, podendo-se afirmar sem temor
a erro que a universidade pública, o “ager publicus” no Brasil funciona como a “sociedade
de castas indiana”, pois, como demonstra Louis Dumont no ensaio: “Homo
Hierarchicus” (cf. Dumont, 1992; Bonte e Izard, 2007), a classificação de
pessoas em hierarquias no sistema de castas da Índia provém do sistema de
crenças religiosas, onde a mobilidade e a ascensão sociais eram proibidas e,
ninguém por mais talentoso que fosse, poderia mover-se do lugar, o que em parte
explica na história recente do país a chamada “evasão de cérebros” daquela
sociedade para a norte-americana, no caso da Física Quântica, para ficarmos
nesse exemplo. Entre nós é nessa acepção de Louis Dumont “como funciona no
sistema de honra da Cabília” (“the sentiment of honour in Kabile society”) onde
o valor de cada pessoa deriva-se de “per-sonare”, uma voz que “soa através” de
uma máscara pública, marcadamente elitista e autoritária é medido como padrão
através de um detalhado código que permeia as relações familiares, as relações
com a comunidade e com o mundo exterior do poder.
Bibliografia geral consultada.
FOUCAULT,
Michel, El
Orden del Discurso. Barcelona: Tusquets, 1973; BENNET, Gordon, Aboriginal Rights in International Law. London: Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 1978; McDONNELL, Janet, The Dispossession of the American Indian, 1887-1934. Bloomington: Indiana Univesity Press, 1991; LOPES, João
Aloísio, Lições de Transitologia (Introdução a uma teoria geral da
comunicação que procura compreender, num enfoque sócio-tecnológico, como as
coisas falam). Tese de Titular em Comunicação. São Paulo: Editora e
Consultoria; Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, 1991; DUMONT, Louis, Homo Hierarchicus.
O Sistema de Castas e suas Implicações. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992; BLOOM,
Harold, Gênio - Os 100 Autores mais Criativos da História da Literatura. Rio de Janeiro: Editora Objetiva,
2003; GRAZIELA, Laura e
DRUMMOND, Luiz Augusto, Cultura e
Empresas. Coleção Passo-a-Passo. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 2002; CUSHMAN, Thomas, “¿Se Puede Prevenir el Genocídio? Algumas Consideraciones Teoricas”. In: Revista de Estudios sobre Genocídio. Centro de Estudios sobre Genocídio de la Universidad Nacional de Tres Febrero, n 1, pp. 7-27, noviembro de 2007; BONTE, Pierre et IZARD, Michel (dir.), Dictionnaire
de l`Ethnologie et de l`Anthropologie. Paris: Presses Universitaires de France,
2007; BEHREMS, Paul; HENHAM, Ralph, Elements of Genocide. New York: Routledge Oxon, 2013; GOMES, Maria José de Sousa, O Genocídio dos Índios Nativos Norte-Americanos. Trabalho da Unidade Curricular Estudos Interculturais. Curso de Assessoria e Tradução. Porto: Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, 2013; Artigo: “Michael Blake, vencedor do Oscar por Dança com Lobos, morre aos 69 anos”. Disponível em: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2015/05/; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário