segunda-feira, 6 de julho de 2015

Frida Kahlo -Transgressão na Arte, Vida, Tragédia e Cinema.

Ubiracy de Souza Braga*

                                                          Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha própria realidade”.  Frida Kahlo
                                    

            Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, nasceu a 6 de julho de 1907 na casa de seus pais, conhecida como “La Casa Azul”, em Coyoacán, em língua: nauatle: “coyō-hua-cān”, (“lugar de coiotes”), uma das 16 delegações do Distrito Federal mexicano. Morreu em Coyoacán em 1954. Situa-se na parte sul da Cidade do México. É famoso pelo seu centro histórico, os seus museus, entre os quais o Museu Frida Kahlo e o Museu León Trotsky, teatros independentes e bares, bem como por ser onde se encontram os campi da cidade universitária da Universidade Nacional Autónoma do México, fundada em 21 de setembro de 1551 com o nome La Real y Pontifícia Universidad de México, com sede na cidade do México (cf. Marsiske, 2001). A Nova Espanha foi um reino da Espanha durante o período colonial, na América do Norte e Central, onde hoje correspondem os estados de Arizona, Califórnia, Colorado, Nevada, Novo México e Utah nos Estados Unidos até à Costa Rica na América Central, tendo como capital a Cidade do México.  Existiu de 1535 a 1821. A Nova Espanha não só administrava as terras compreendidas entre estes limites, mas também o arquipélago das Filipinas na Ásia.

Os dialetos náuatles são falados em comunidades circunvizinhas na sua maior parte em áreas rurais. Existem diferenças consideráveis entre cada dialeto e alguns são mutuamente ininteligíveis. Todas sofreram diferentes graus de influência do castelhano. Nenhum dialeto moderno é idêntico ao náuatle clássico, mas aqueles que são falados no vale do México e em seus arredores são geralmente considerados como mais próximos, linguisticamente, a ele. Sob a Ley General de Derechos Linguísticos de los Pueblos Indígenas, promulgada no México em 2003, o náuatle, assim como outras línguas indígenas do México foram reconhecidas como “lenguas nacionales” nas regiões onde são faladas, ostentando o mesmo status que o castelhano. O náuatle é um idioma com uma morfologia complexa, caracterizado por polissínteses e aglutinações, que permitem a construção de palavras longas, com significados complexos, a partir de diversos radicais e afixos. O náuatle foi influenciado por outras línguas mesoamericanas ao longo de séculos de coexistência, tornando-se parte da área linguística mesoamericana. Muitas palavras do náuatle foram apropriadas pelo idioma espanhol e passaram para centenas de outras línguas; em sua grande maioria, são palavras que designam conceitos nativos ao México central, que os espanhóis ouviram ser mencionados pela primeira vez em seus nomes náuatles, como, por exemplo, “tomate”, “abacate” e “chocolate”.

O náuatle é uma língua pertencente à família uto-asteca, usada pelo povo náuatle e falada no território atualmente correspondente à região central do México desde pelo menos o século VII. No final do século XX, era falada por pouco menos de um milhão e meio de pessoas. Com a conquista espanhola e tlaxcalteca do México, no início do século XVI, era o idioma dos astecas, que dominavam o México central durante o fim do período pós-clássico da cronologia mesoamericana. A expansão e influência do Império Asteca fizeram com que o dialeto falado pelos astecas de Tenochtitlán se tornasse um dialeto de prestígio na Mesoamérica deste período. Com a introdução do alfabeto latino, o náuatle também se tornou uma língua literária e muitas crónicas, gramáticas, obras de poesia, documentos administrativos e códices foram escritos nos séculos XVI e XVII. Esta língua literária baseada no dialeto de Tenochtitlán foi chamada de náuatle clássico e está entre as línguas mais estudadas e bem-documentadas das Américas. Devido à popularidade da língua e, em parte, à expansão territorial por causa dos conquistadores, o rei Filipe II estabeleceu o náuatle língua oficial do Vice-Reino da Nova Espanha.

Depois da derrota do exército espanhol pelas tropas de Agustín de Iturbide e Vicente Guerrero, todo o território (com exceção do arquipélago asiático) passaram a formar parte do Império Mexicano a partir de 28 de setembro de 1821. Desde o início da Conquista se percebeu que tanto os criollos como os mestiços e os índios teriam disposição para ilustrar-se e adquirir conhecimentos filosóficos e científicos. Nesta época do vice-reinado da Nova Espanha as primeiras instituições educativas a nível superior foram os seminários onde se preparava os homens para ser sacerdotes. Frei Juan de Zumárraga e o vice-rei Antônio de Mendoza iniciaram as gestões para a fundação da primeira universidade da Nova Espanha. Se dizia que esta instituição serviria para educar aos recém convertidos à religião Católica, mas isto não se cumpriu em sua totalidade. A universidade se centrou na educação das classes sociais privilegiadas. Passaram pela universidade a maior parte dos notáveis cientistas, políticos, escritores e filósofos do México. Em 2005, contava com mais de 279 mil estudantes e o Estádio Azteca.  Frida Kahlo morreu em Coyoacán, em 13 de julho de 1954. Foi uma extraordinária pintora mexicana. 

É um dos únicos estádios a sediar duas finais de Copa do Mundo de 1970 e 1986, além de outros nove jogos em 1970, igualando o Estádio Centenário de Montevidéu em número de jogos numa única Copa do Mundo, e outros oito jogos em 1986, num total de dezenove jogos, sendo o estádio que mais recebeu jogos na história das Copas. Vale ressaltar que este estádio viu dois dos maiores jogadores da história serem campeões mundiais: Pelé em 1970 e Maradona em1986. Além disso, recebeu também os Jogos Pan-americanos de 1975, o Campeonato Mundial de Futebol Sub-20 de 1983 e a Copa das Confederações de 1999. Em 1997 foi comprado pela emissora de TV Televisa, que renomeou o estádio como Estadio Guillermo Cañedo, em homenagem a um executivo da emissora, falecido na época. Após a recusa do novo nome pela população, o estádio voltou a se chamar Azteca, numa referência à civilização pré-colombiana dos Astecas. O primeiro jogo da NFL fora dos Estados Unidos da América aconteceu em 2 de outubro de 2005, no Estádio Azteca na Cidade do México, entre o Arizona Cardinals e o San Francisco 49ers, curiosamente esse jogo é o que detém o maior público da história da NFL, a maior liga de futebol norte-americano do mundo com 103.467 espectadores. O comediante Chespirito, famoso por ter interpretado o Chaves e Chapolin, foi velado no estadio no dia 30 de novembro de 2014.  O Estádio Azteca localiza-se na demarcação territorial de Coyoacán, nas imediações da Calzada de Tlalpan. O acesso ao estádio pode ser feito por meio de linhas de ônibus que trafegam na Calzada de Tlalpan; da Estação Estadio Azteca, uma das estações do VLT da Cidade do México; de táxis; e de automóveis, que podem ficar em um estacionamento aberto situado ao lado do estádio.

Ao contrário de muitos artistas, ela não começou a pintar cedo. Embora o pai tivesse a pintura como um passatempo, estava particularmente interessada na arte. Mas não como uma carreira que no sentido sociológico que proporciona a “conexão de sentido” de Max Weber orientada com a fama, o trabalho, a disciplina, a religião, etc. Entre 1922 e 1925 frequenta a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal na cidade do México e assiste a aulas de desenho e modelagem. Em 1925, aos 18 anos, aprende a técnica da gravura com Fernando Fernandez. Então sofre um grave acidente quando o bonde, no qual viajava, chocou-se com um trem. O para-choque de um dos veículos perfurou-lhe as costas. Atravessou sua pélvis e saiu pela vagina, causando uma grave hemorragia. Frida Kahlo ficou muitos meses entre a vida e a morte no hospital. Assim, teve que operar diversas partes e reconstruir por inteiro seu corpo. Uma órtese, conforme definição, é um apoio ou dispositivo externo aplicado ao corpo para modificar os aspectos funcionais ou estruturais do sistema neuro músculo-esquelético para obtenção de alguma vantagem mecânica ou ortopédica. Refere-se aos aparelhos ortopédicos de uso, destinados a alinhar, prevenir ou corrigir deformidades para melhorar a função das partes móveis do corpo. Tal acidente obrigou-a a usar coletes ortopédicos de diversos materiais. Ela chegou a pintar um sequência com alguns quadros representando o colete de gesso da tela intitulada: A Coluna Partida.

          
         A La Columna Rota (Coluna Partida) é um óleo sobre masonite da artista mexicana Frida Kahlo, pintado em 1944, logo após ela ter realizado uma cirurgia na coluna para corrigir problemas decorrentes de um grave acidente de trânsito ocorrido quando a pintora tinha dezoito anos. O original está exposto no Museu Dolores Olmedo, em Xochimilco, na Cidade do México. Como entre muitos dos autorretratos de Kahlo, a dor e o sofrimento representam o escopo do trabalho, mas, ao contrário de muitos de seus outros trabalhos, que incluem papagaios, cães, macacos e outras pessoas, neste quadro Kahlo está sozinha. Sua presença solitária em uma paisagem rachada e árida simboliza tanto o seu isolamento, sociologicamente, quanto as forças externas que têm afetado a sua vida. Como um terremoto fissura a paisagem, o acidente de Kahlo quebrou seu corpo. Na pintura, o tronco nu de Kahlo está dividido, replicando a terra desolada atrás dela e revelando uma coluna jônica desmoronando no lugar da coluna vertebral. Seu rosto olha para a frente, firmemente, lágrimas escorrem por suas bochechas. Apesar de seu corpo estar quebrado, sua sensualidade externa está contaminada. O pano que envolve a parte inferior de seu corpo e segura em suas mãos não é um sinal de modéstia, mas, em vez disso, espelha uma iconografia cristã, assim como as unhas sobre seu rosto e corpo.

O espartilho de metal, que retrata um apoio de pólio, não um apoio cirúrgico, pode referir-se a sua história de poliomielite ou simbolizar as limitações físicas e sociais na vida de Kahlo. Em 1944, os médicos de Kahlo tinham-lhe recomendado que vestisse um espartilho de aço em vez dos moldes de gesso que ela tinha usado anteriormente. A cinta retratada é uma das muitas que ela, na verdade, usou durante toda a vida, agora abrigada em sua casa e museu, a Casa Azul. Em A Coluna Partida esse espartilho mantém unido o corpo danificado de Kahlo. Pode-se traçar um paralelo entre o retrato de Kahlo e o do  “martírio de São Sebastião”. Na lenda de Sebastião, descobriu-se que ele era cristão e, por isso, foi amarrado a uma árvore e usado como um alvo de tiro com arco. Apesar de ser deixado para morrer, ele sobreviveu, apenas para mais tarde perecer por sua religião pelas mãos do império Romano. Ele é frequentemente retratado amarrado a uma árvore, o corpo cheio de setas. De acordo com a tradição católica, São Sebastião, soldado romano, foi um mártir e santo cristão do século XIII, mandado executar por meio de flechas pelo imperador romano Diocleciano que o acusou de traição pela sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos. O culto de S. Sebastião nasceu no século IV e atingiu o seu auge na Baixa Idade Média, designadamente nos séculos XIV e XV, na Igreja Católica e na Igreja Ortodoxa, o Martírio de São Sebastião de Gregório Lopes exemplo da iconografia do suplício do santo.

No centro da composição está São Sebastião já atingido por flechas, com a auréola de santo, preso a uma coluna que assenta num pedestal de pedra, tendo o braço direito preso por cima da cabeça, o esquerdo preso por detrás e os pés atados por uma corda, estando um punhal sobre o pedestal. Um arqueiro e um besteiro de cada lado, vestidos com ricas indumentárias, apontam as suas armas ao corpo do santo, enquanto dois outros, um pouco mais longe, preparam as armas para o atingir de novo.  Como pano de fundo do martírio do santo, Gregório Lopes realizou uma grande composição paisagista povoada por inúmeras figuras e pontuada por pormenores da vida quotidiana de uma cidade do século XVI. Em segundo plano da cena estende-se uma cidade com um casario encavalitado do lado esquerdo, e que é dominado, do lado oposto, por um templo circular de inspiração italiana rasgado por balcões e arcadas decoradas por enormes estátuas, a que se tem acesso através de uma escadaria. Ao lado deste monumento, uma multidão assiste a um auto-de-fé, estando os corpos de dois sentenciados a arder numa grande fogueira cujo fumo se avoluma no céu no canto direito. O Martírio de São Sebastião estava colocado sobre um dos altares pequenos da Charola do Convento de Cristo em Tomar, provavelmente o altar de São Sebastião, conforme consta de manuscrito de Frei Jerônimo de S. Romão, havendo documentação a comprovar a realização da obra, designadamente as verbas pagas pelo trabalho do pintor régio Gregório Lopes nos anos de 1536 e 1537, o qual esteve em Tomar, de Setembro de 1536 a Abril de 1539, a trabalhar nalguns retábulos destinados à Charola do dito convento. 

        Frida Kahlo não se considerava surrealista, mas foi assim reconhecida quando participou da Exposición Internacional del Surrealismo, na Galeria de Arte Mexicana de 1940. Apesar de muitos dos seus trabalhos conterem elementos surreais e fantásticos, não podemos chamar-lhes surrealistas, pois ela não chega a libertar-se completamente da realidade. Mas nos seus trabalhos dá-se uma fusão entre fato e ficção. Sua formação realizou-se na “Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México”. Em 1928, filiou-se ao Partido Comunista Mexicano no qual conheceu seu futuro marido e grande muralista mexicano, Diego Rivera. No ano seguinte, quando tinha 22 anos, Frida e Diego casam-se e vão viver na casa onde Frida nasceu, que depois de sua morte, transformou-se num Museu chamado de “Casa Azul” repleto de objetos, documentos, fotos, livros e vestuário da artista. Em 1930 Frida engravida e sofre seu primeiro aborto ficando muito abalada pela impossibilidade de levar adiante uma gravidez devido a seu estado de saúde delicado. No mesmo ano, já tendo recuperado sua mobilidade, porém com limitações e tendo que usar frequentemente um colete de gesso.
             A artista acompanha Diego em suas viagens aos Estados Unidos revelando seu talento para o resto do mundo e encantando a todos com seu jeito irreverente e único. Em 1932 ela sofre seu segundo aborto sendo hospitalizada na cidade operária Detroit nos Estados Unidos da América, e sua mãe morre de câncer no dia 15 de setembro do mesmo ano. Em 1934 o casal está de volta ao México, mas Frida sofre novo aborto e tem os dedos do pé direito amputados. O relacionamento com Rivera piora e ele começa a traí-la com sua irmã mais nova Cristina. No ano seguinte Frida e Rivera se separam e Frida conhece o escultor Isamu Noguchi com tem um caso, mas logo ela e Rivera se reconciliam e voltam a morar juntos no México. Em 1936 novas cirurgias no pé além de persistentes dores de coluna, um problema de úlcera, anorexia e ansiedade. Em 1937, Frida conhece Trotsky que se refugia em sua casa em Coyoacan com a esposa Natalia Sedova. Trotsky foi seu mais famoso caso de amor. O casal se separa dez anos depois do casamento, em 1939. Nas palavras de Frida: - “Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles”.
      Compara com a indecisão demonstrada por Kamenev e Zinoviev às vésperas da Revolução de Outubro. Após a deportação, Trotsky passou pela Turquia, França de julho de 1933 a junho de 1935, e Noruega de junho de 1935 a setembro de 1936, fixando-se finalmente no México, a convite do pintor Diego Rivera, vivendo temporariamente em casa deste e mais tarde em casa da esposa de Rivera, a pintora Frida Kahlo. À medida que aumenta a repressão stalinista, multiplicam-se os lutos familiares. Além da morte dos seus quatro filhos, os genros, noras, netos, e outros parentes próximos de Trotsky são igualmente vítimas da repressão por sua ligação com um suposto “inimigo do povo” e desaparecem nos sucessivos expurgos da década de 1930, com exceção do único filho que Zina pôde levar consigo ao exterior, e que acabou por reunir-se ao avô no México, depois de negociações com a mulher francesa de Leon Sedov - que havia se responsabilizado pelo sobrinho num hospital parisiense. 
            No seu crescente isolamento pessoal e político, Leon Trotsky, aumenta consideravelmente a sua produção escrita, escrevendo importantes obras como sua autobiografia, Minha Vida (1930), a História da Revolução Russa (em 2 vols., 1930 e 1932), A Revolução Permanente (1930) e A Revolução Traída (1936), uma crítica ao stalinismo. A União Soviética se tornara um Estado de trabalhadores degenerados, controlado por uma burocracia autoritária - derivada, no entanto, contraditoriamente da hegemonia sócio-política no interior da própria classe operária, em um processo social descrito como “degenerescência burocrática” e que teria eventualmente de ser derrubada por uma 2ª revolução política que restaurasse o caráter democrático da revolução socialista, ou, degenerasse ao ponto de regressar ao capitalismo. Em 3 de setembro de 1938, numa reunião com 25 delegados de 11 países, Leon Trotsky e seguidores fundam a Quarta Internacional, como combate à Terceira Internacional (stalinista). Trotsky levou uma batalha, uma vez expulso da URSS e da Internacional Comunista, organizando a oposição de esquerda sobre a Internacional de direita, explicando a política de Stalin de aliança com a direita contra a Socialdemocracia, que dividiu o proletariado e permitiu a vitória do exterminador nazista A. Hitler. Ipso facto Trotsky vai declarar que esta derrota marca o fim da Internacional Comunista como uma Internacional Revolucionária e que o combate agora é para construir uma nova Internacional, a IV Internacional Comunista, uma organização comunista internacional dos seguidores trotskistas de Leon Trotsky, com o objetivo declarado de ajudar a classe trabalhadora como instrumento de sua vontade para alcançar o socialismo, como ocorreu com o marxismo de Marx na transformação do mundo.
            Os trotskistas se consideram opositores tanto do capitalismo quanto do stalinismo. Trotsky defendia a revolução proletária tal como estabelecida em sua teoria da revolução permanente, acreditando que um Estado operário não seria capaz de sucumbir às pressões do mundo capitalista hostil caso revoluções socialistas rapidamente tomassem conta de outros países também. Trotski apresentou sua concepção de “revolução permanente”, como uma explicação de como revoluções socialistas poderiam ocorrer em sociedades determinadas que não tinham conseguido o chamado capitalismo avançado. Parte da sua teoria é a impossibilidade do socialismo em um só país - uma opinião também realizada por Marx, mas não integrada na sua concepção da revolução permanente. A teoria floresceu em oposição à tese defendida pelos stalinistas de que o socialismo poderia ser atingido na União Soviética sozinha. Mais adiante, Trotsky e seus partidários criticariam duramente a natureza cada vez mais totalitária do regime de Josef Stalin. na opinião deles, é impossível de se atingir o socialismo sem democracia. Confrontados com a crescente falta de democracia na União Soviética, eles concluíram que esta não era mais um Estado operário e socialista, mas sim um Estado operário degenerado. Trotsky e seus partidários se organizaram desde 1923 como a chamada Oposição de Esquerda. Eles eram contra a burocratização da União Soviética, que analisaram como sendo em parte causada pelo atraso econômico e cultural e pela pobreza do país agrário herdado do czarismo. 
         A concepção de teoria de Stalin do “socialismo em um só país” surgiu em 1924 em oposição à teoria da Revolução Permanente de Trotsky, que argumentava que o capitalismo era um sistema global e que apenas uma revolução mundial seria capaz de substituí-lo pelo socialismo. Até 1924 a perspectiva internacional dos bolcheviques havia sido guiada pela posição de Trotsky. De acordo com ele, a teoria de Stalin representava os interesses burocráticos em detrimento à classe trabalhadora. Mais tarde, Trotsky seria perseguido pelo regime stalinista – se exilando em Almaty – enquanto seus partidários seriam presos. A Oposição de Esquerda, no entanto, continuaria a atuar secretamente no seio da União Soviética. Trotsky seria expulso para a Turquia, se mudando de lá para a França, para a Noruega, e para o México, onde seria assassinado por Ramón Mercader, agente da polícia de Stalin no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos NKVD da URSS, quando Josef Stalin era o secretário geral do Partido Comunista da União Soviética. Seu ato mais reconhecido foi se infiltrar na casa de Leon Trotski, em seu exílio no México e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin. Como um suposto rico comerciante ele se tornara amante da trotskista norte-americana Sylvia Agelot, e se infiltrara na casa onde Trotski morava, cometendo o atentado ao final da tarde de 20 de agosto de 1940. Em 1961, no período de terror na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi condecorado com a Medalha de Herói, uma das mais altas comendas do país. 
           Criado em 1934, o NKVD incorporou o GPU ou OGPU (Diretório Político Unificado do Estado), transformado em GUGB (Administração Central da Segurança do Estado) e foi substituído pelo Ministério do Interior (Ministerstvo vnoutrennikh diel). Além de funções policiais e de segurança tradicionalmente atribuídas ao Ministério do Interior, como o controle de tráfego, corpo de bombeiros e a guarda das fronteiras, cabia ao NKVD controlar a economia e o serviço secreto, prestando contas ao Conselho de Comissários do Povo (órgão principal do governo soviético) e ao Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique). No âmbito do NKVD estabeleceu-se o Gulag (Administração Central dos Campos), órgão responsável pelo sistema de campos penais de trabalho. Em 1946, todos os comissariados do povo politicamente passaram a se chamar “ministérios”. O NKVD tornou-se o Ministério do Interior (MVD), enquanto o Comissariado do povo para a segurança do Estado (NKGB) transformou-se no Ministério da Segurança do Estado (MGB). Em 1953, após a prisão de Lavrenty Beria, o MGB fundiu-se com o MVD. Em 1954, os serviços de polícia e de segurança do Estado novamente se separaram.

O Ministério do Interior da URSS (MVD) ficou com as funções de ordem e segurança interna (polícia e sistema penitenciário), enquanto a recém criada Comissão para a Segurança do Estado KGB, assumiu as funções de segurança do Estado, a saber: polícia política, inteligência, contrainteligência, proteção pessoal de autoridades e comunicações confidenciais. Entre as funções do NKVD, por meio de sua divisão chamada GUGB, estava proteger a segurança do Estado soviético. Esta função foi realizada com sucesso através da intensa repressão política na URSS. As atividades de repressão e as execuções do NKVD tiveram como alvo desde os inimigos do Estado soviético até os prisioneiros do sistema Gulag, atingindo centenas de milhares de pessoas. Formalmente, essas pessoas eram, na sua maioria, condenadas por cortes marciais especiais - as troikas. O uso “de meios físicos da persuasão” (tortura) foi aprovado por um decreto especial do estado, o que resultaria em numerosos abusos, relatados pelas vítimas e pelos próprios membros do NKVD. Existem evidências documentadas de que o NKVD cometeu execuções extrajudiciais em massa. Em 17 de novembro de 1938 tais troikas foram proibidas por decisão conjunta do Conselho de Comissários do Povo e do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique).

O NKVD também executava “operações em massa”, que tinham como alvo grupos religiosos ou grupos étnicos inteiros - os judeus, a Igreja Ortodoxa Russa, os ortodoxos gregos, católicos latinos e demais cristãos perseguidos na URSS, muçulmanos e outros grupos religiosos. O braço antirreligioso do governo soviético era dirigido por Yevgeny Tuchkov do OGPU. Devido aos abusos na repressão, em 4 de fevereiro de 1940 Nikolai Yezhov, chefe do NKVD de 1936 a 1938 durante o Grande Expurgo e seus assessores mais próximos foram executados. Durante a Guerra Civil Espanhola, os agentes da NKVD, atuando conjuntamente com o Partido Comunista da Espanha, exerceram substancial controle sobre o governo republicano, usando a ajuda militar soviética para aumentar sua influência. O NKVD estabeleceu numerosas prisões secretas em torno de Madrid, as quais foram usadas para deter, torturar, e matar centenas dos inimigos do NKVD. No início o alvo eram os nacionalistas e católicos espanhóis. Mas, em junho de 1937, Andrés Nin, importante figura trotskista, principal dirigente do Partido Operário de Unificação Marxista foi torturado e morto em uma prisão da NKVD. Também houve cooperação entre elementos do NKVD e da Gestapo. Em março de 1940, eles se encontraram por uma semana em Zakopane, para coordenar a pacificação da Polônia. O NKVD entregou centenas de comunistas alemães e austríacos à Gestapo, entre outros estrangeiros indesejáveis

           A mãe de Frida Kahlo, Matilde Gonzalez y Calderón, era uma católica devota de origem indígena e espanhola. Seus pais se casaram logo após a morte da primeira esposa de Guillermo, durante o nascimento do seu segundo filho. Embora o casamento tenha sido muito infeliz, Guillermo e Matilde tiveram quatro filhas, sendo Frida a terceira. Tinha duas meias-irmãs mais velhas. Ipso facto ressaltava que “cresceu em um mundo cheio de mulheres”. Durante a maior parte de sua vida, no entanto, Frida se manteve próxima do pai. Ao contrário de muitos artistas de seu tempo, Frida Kahlo não começou a pintar cedo, embora o seu pai tivesse a pintura como hobby ou passatempo. Casa-se aos 22 anos com Diego Rivera, em 1929, um casamento tumultuado, visto que ambos tinham temperamentos fortes e casos extraconjugais. Frida Kahlo, que era bissexual, podendo ser caracterizada pela capacidade de atração afetiva, seja sexual ou romântica, por mais de um sexo, não necessariamente ao mesmo tempo, da mesma maneira ou na mesma frequência. É, frequentemente, usada como um termo abrangente para incluir qualquer relação psicoativa que possam usar para se referir a termos que signifiquem possuir uma orientação sexual que não se limita a atração apenas por um sexo. O número de indivíduos que apresentam comportamentos bissexual (cf. Kettenmann, 1994; Kahlo, 1996) é maior do que se suporia à primeira impressão. Teve um caso com Trotsky depois de separar-se de Diego.   
          O que poucos sabem é que sobre Frida Kahlo está longe de resumir sua vida. De revelar à mulher que está por trás do ícone da arte latino-americana moderna. No ensaio de Herrera, reconhecida historiadora da arte, o livro rememora a intimidade da história social de Frida. Detalha com descrições e interpretações seus quadros. Com clareza, fluidez e a sedução de uma amante dessa bela arte e os mistérios da vida representada em torno da pintura. É um dos grandes representantes do “revival” da artista nos Estados Unidos da América e de resto no mundo ocidental. Por meio da arte, Frida Kahlo fez de si mesma uma artista e um ícone. Por meio de sua biografia, contemplamos o trágico para lembrarmo-nos de Nietzsche no âmbito da arte e da filosofia. Ela própria  como artista que demonstra seu estado de espírito: -“Por eu ser jovem”, afirma, “o infortúnio não assumiu o caráter de tragédia: eu sentia que tinha energias suficientes para fazer qualquer coisa em vez de estudar para ser médica. E, sem prestar muita atenção, comecei a pintar”. Além de Herrera, muitos outros autores eternizaram a história da artista  em livros e até ela própria em famoso diário (1996) publicado.  
 Frida é um filme norte-americano de 2002, do gênero drama biográfico, realizado por Julie Taymor,  cineasta e diretora de musicais e Óperas norte-americanas. O trabalho de direção de Taymor recebeu muitos elogios por parte dos críticos, ganhando dois prêmios Tony de quatro indicações, o Drama Desk Award de Melhor Figurino, um Emmy Award e uma nomeação para Melhor Canção Original no Oscar. Ela também recebeu em 2012 o Director Award for Vision and Courage do Athena Film Festival em Barnard College, em Nova York. Ela é amplamente reconhecida por dirigir a versão musical do O Rei Leão, que ela se tornou a primeira mulher a ganhar o Prêmio Tony de melhor direção em musical, além de um prêmio Tony por Melhor Figurino. Ela era a diretora do musical da Broadway Spider-Man: Turn Off the Dark. E dirigiu a aclamada produção off-broadway, Sonho de Uma Noite de Verão. O roteiro é baseado em livro de Hayden Herrera, e retrata a vida da pintora mexicana Frida Kahlo. O filme apresenta sua démarche desde a adolescência a morte. Frida Kahlo foi uma das principais revelações da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, viveu um casamento dito “aberto” com Diego Rivera, companheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o pensador marxista Leon Trotsky e com várias outras mulheres. No filme, o esposo representa um homem mulherengo, e Frida aceita pedindo lealdade. O que não acontece, pois Frida encontra Diego com sua irmã copulando, então ela pede o divórcio. Machista Diego Rivera aceitava  os relacionamentos de Kahlo com mulheres, já que não há penetração, mesmo eles sendo casados.
        Mas não aceitava os casos da esposa com homens. Frida descobre que Rivera mantinha um relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina, há muitos anos, o que a revoltou. Ela os flagrou na cama e, num ato de fúria, cortou todo o seu cabelo, que era bem longo, de frente ao espelho. Sua irmã teve seis filhos com seu ex-marido e Frida nunca a perdoou. Após essa outra tragédia de sua vida, separa-se dele e vivem novos amores com homens e mulheres, mas em 1940 une-se novamente a Diego. O segundo casamento foi tão tempestuoso quanto o primeiro. Ao voltar para o marido, Frida construiu uma casa igual à dele, ao lado da casa em que eles tinham vivido. Essa casa era ligada à outra por uma ponte. Eles viviam como marido e mulher. Mas encontrando-se como amantes na casa dela ou na dele, nas madrugadas. Sua complexidade tem origem na sua própria história oral e de vida. Nascida em 1907, filha de um alemão e de uma mexicana, contraiu poliomielite aos seis anos, o que lhe deixou como sequela uma lesão no pé direito que lhe rendeu o apelido: “Frida pata de palo”. A partir daí começou a usar calças e saias longas estampadas, que vieram a se tornar uma de suas referências pessoais. Esse foi só o primeiro marco de como a construção do ícone Frida Kahlo “partiu de sua própria dor” (cf. Vale, 2012). E era também só o primeiro de uma série de acontecimentos dolorosos de sua vida. Aos 18 anos sofre um grave acidente: o bonde em que seguia colide com um trem, deixando-a meses entre a vida e a morte devido ao para-choque que atravessou seu pélvis. Foi durante a recuperação que começou a pintar, usando o material de seu pai, que tinha a pintura como passatempo. O acidente deixou severas marcas inscritas com fortes dores no corpo e com a utilização de coletes ortopédicos.

Ficha Técnica. 
Gênero: Drama. 
Direção: Julie Taymor. 
Roteiro: Anna Thomas, Clancy Sigal, Diane Lake, Gregory Nava. 
Fotografia: Rodrigo Prieto. 
Trilha Sonora: Elliot Goldenthal. 
Duração: 118 min. 
Ano: 2002. 
País: Canadá/Estados Unidos da América/México.
Bibliografia geral consultada.
SERGE, Victor; SEDOVA, Natalia, Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky. London: Editor Wildwood House, 1975; KETTENMANN, Andrea, Frida Kahlo, Dor e Paixão.  Lisboa: Editor Benedikt Taschen, 1994; KAHLO, Frida, O Diário de Frida Kahlo: Um Autorretrato Íntimo. Rio de Janeiro: Editor José Olympio, 1996; MAHONEY, Harry Tayer, The Saga of Leon Trotsky. San Francisco: Austin & Winifielf Editors, 1998; WALTER, Igor (org.), Arte do Século XX. Lisboa: Editor Benedikt Taschen, 1999, 2 volumes; SCHUH, Cátia Inês, A Prospecção Pós-Moderna da Comunicação no Imaginário de Frida Kahlo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Faculdade de Comunicação Social. Porto alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006; BROGNOLI, Ila da Silva, Frida Kahlo: Uma Célula Revolucionária entre Cores e Dores. Programa de Pós-Graduação em História. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009; MIGLIAVASCA, Joyce Salgueiro, Uma Leitura Psicanalítica da Vida e Obra de Frida Kahlo. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009; HAYDEN, Herrera, Frida: A Biografia. São Paulo: Editor Globo, 2011; HAGHENBECK, Francisco, O Segredo de Frida Kahlo. São Paulo: Editor Planeta do Brasil, 2011; VALE, Bianca, “Frida Kahlo: A Dor da Vida, a Dor da Arte”. In: http://obviousmag.org/archives/2012/03;  ASSUNÇÃO, Fernanda Rodrigues de, O Universo de Frida Kahlo à Sombra da Experiência Revolucionária Mexicana: Pintura, Corpo e Identidades das Décadas de 1920 a 1950. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2013;  DEL MAESTRO, Maria Lúcia Kopernick, Entre o Encenado, o Visto e o Escrito: O Silêncio. Escuta do Diário de Frida Kahlo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2014; OLIVEIRA, William Brenno dos Santos, Um Coração que Pulsa Fora do Corpo: Imagens Passionais nas Cartas de Frida Kahlo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015;  entre outros.     
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escolada de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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