segunda-feira, 6 de julho de 2015

Vladimir I. Lenine - Paixão Robusta entre Dois Amores.

Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Vladimir Lenin

                              

A Revolução Russa de 1917 serve de cenário para a história política de amor entre Yuri Jivago, um jovem médico aristocrata e Lara Antipova, uma enfermeira proletária. Lara é filha de uma costureira russa que, viúva, apenas consegue sustentar a casa em que ambas moram graças ao dinheiro que lhe é dado periodicamente por Victor Komarovsky, um importante e inescrupuloso expoente da sociedade corrupta russa. Apesar de Victor e a viúva manterem um relacionamento conjugal secreto, o homem se encanta pela beleza da doce Lara, que contava com apenas 17 anos quando ambos se beijaram pela primeira vez na volta de uma festa. Não obstante a relação vexatória mantida entre Lara e Victor, Pascha Strelnikoff, jovem romântico e revolucionário, apaixona-se pela menina e começa a namorá-la. Enquanto a relação de Lara e Victor mostra-se destrutiva, tendo em vista que a mãe de Lara, ao descobrir o relacionamento, tenta se matar o namoro de Pascha e a moça indica uma saída sensata para ela dessa confusão, pois o moço a pede em casamento e ela aceita. Ao saber do pedido, Victor discute com Lara e a violenta, chamando-a de vagabunda. Lara descontrola-se e invade uma festa de Natal na alta sociedade russa para tentar matar, sem sucesso, o ex-amante. A questão mais importante de qualquer revolução social é a dualidade dos poderes. Não é possível eludir nem afastar a questão do poder, nevrálgica e que determina tudo no desenvolvimento da revolução, sobretudo em suas relações políticas interna e externa. Ipso facto, do ponto de vista teórico representa um instrumento de pesquisa, um método de análise comparativamente às ciências da sociedade e, por sua vez, constantemente se enriquece com as novas conquistas das ciências e da práxis em torno das revoluções contemporâneas.

Karl Marx e Friedrich Engels assinalaram uma ruptura com a filosofia idealista, e o começo do novo período de interpretação da história e da filosofia do ponto de vista teórico, prático e afetivo. O materialismo, sendo dialético é uma filosofia que teve origem na Europa com base nas obras de interpretação destes pensadores. Trata-se de uma concepção de teoria cujo conceito interpreta que a realidade é social, e pode ser definida pela interpretação dos meios materiais de existência com base em estudos e pesquisas realizados, por exemplo, no âmbito de análise da economia, da geografia, das ciências, em sua origem e significado. Em seu fundamento expressa uma teoria, um método e objeto de análise mediado por um conjunto de práticas e saberes sociais. Não apenas uma forma de pensar, mas uma concepção nova da teoria. A essência revolucionária dos fundadores do marxismo reside em que a filosofia se tornou, pela primeira vez na história da humanidade, uma teoria que põe em xeque a neutralidade axiológica do pensamento, com o reconhecimento das relações sociais entre natureza e sociedade objetivando um modo de produção particular. Os sistemas do passado se caracterizavam pelo fato de que seus criadores, eram incapazes de elaborar um quadro de pensamento humano sobre o mundo, e amontoavam indistintamente os mais variados fatos sociais, conclusões, hipóteses e fantasias divinas. Pretendiam conceber a verdade absoluta e limitavam-na assim, na sua essência, o vivo processo de reconhecimento, pelo homem, sobre as formas e conteúdos da natureza e da sociedade.   

A Rússia czarista representou um Estado que existiu desde 1721 até que foi derrubado pela Revolução de Fevereiro de 1917. Foi um dos maiores impérios da história da humanidade, que se estendia por três continentes, superado em massa de terra apenas pelo impérios Britânico e Mongol. Em 1958, Boris Pasternak publicou seu reconhecido trabalho no mundo ocidental: o romance Doctor Zhivago. O livro não pôde ser publicado na União Soviética, devido às críticas feitas ao regime comunista na obra. Os originais do livro foram contrabandeados para fora da chamada “Cortina de Ferro” e editados na Itália, tornando-se rapidamente em um verdadeiro best-seller, fazendo de Pasternak ganhador do Nobel de Literatura. Entretanto, pelo fato de ser um livro proibido pelo governo de Moscou, Pasternak foi impedido de receber o Nobel de Literatura e acabou sendo obrigado a devolver a honraria. Entretanto, Pasternak não viveu para ver seu livro adaptado para as telas cinematográficas. Ele morreu em 1960. Encontra-se sepultado no Cemitério Peredelkino, em Moscou. A proibição da publicação de Doutor Jivago na União Soviética vigorou até 1989. A política de Abertura de Mikhail Gorbatchev, líder da URSS, liberou a publicação e os russos puderam reconhecer a saga de Jivago. Em 1965, Doutor Jivago ganhou adaptação para o cinema, com Omar Shariff, no papel principal. O filme ficou famoso inclusive por sua bela trilha sonora, Lara`s Theme.  

Vladimir Illich Lenin nasceu em Simbirsk, em 22 de abril de 1870 e faleceu na cidade de Gorki, em 21 de janeiro de 1924. Foi um revolucionário e chefe de Estado russo, responsável em grande parte pela realização da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo, e suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada leninismo. Diversos pensadores e estudiosos escreveram sobre a sua importância para a história política contemporânea e o desenvolvimento do socialismo de Estado na Rússia, entre eles o historiador Eric Hobsbawm, para quem Lenin teria sido “o personagem mais influente do século XX”. Além disso, em sua autobiografia escreveu: “Faço parte da geração para quem a Revolução de Outubro representou a esperança do mundo”. No final de seu exílio em 1900, Lenin deixou a Rússia e viveu em Munique (1900-1902), em Londres (1902-1903) - onde uma placa memorial marca sua residência e ainda Genebra (1903-1905).  Em 1900, ele e Julius Martov fundaram o jornal Iskra  (“Faísca”), e publicou artigos e livros sobre a política revolucionária, enquanto estava recrutando membros para o Partido Operário Socialdemocrata Russo (POSDR), que tinha realizado a sua primeira reunião em 1898 enquanto Lenin ainda estava no exílio na Sibéria. Como político na clandestinidade, assumiu vários apelidos e, em 1902, adotou Lenin como seu definitivo nome de guerra, derivado do Rio Lena, localizado na Sibéria. Em 1903, participou do 2º Congresso do Partido Operário Socialdemocrata Russo, que inicialmente se realizou em Bruxelas e depois terminou em Londres (cf. Pearson, 1975).  Entre janeiro de 1901 e julho de 1903 foram publicados 44 números do jornal Iskra, com artigos de conjuntura política, entre os quais se destacou: “As tarefas mais urgentes do nosso movimento”, escrito por Lenin. 
        O Partido Operário Socialdemocrata Russo, ou  em russo: POSDR - Росси́йская Социа́л-Демократи́ческая Рабо́чая Па́ртия = РСДРП foi um partido político social democrata russo fundado em 1898 em Minsk de modo a unir as várias organizações revolucionárias em um partido único. O POSDR mais tarde se dividiria nas facções Bolcheviques e Mencheviques, com os primeiros se tornando o Partido Comunista da União Soviética. No final do primeiro congresso em Março de 1898 todos os nove delegados foram presos. O POSDR foi criado para fazer oposição aos narodniks (“Народничество”) e o seu populismo revolucionário (cf. Tvardovskaia, 1972), que privilegiava o campesinato. Já o programa socialdemocrata do POSDR era baseado nas teorias hic et nunc de Marx e Engels - que considerando a natureza agrária russa, acreditavam o verdadeiro potencial da revolução social estava no proletariado. Antes do Segundo Congresso um jovem intelectual chamado Vladimir Ilyich Ulyanov entrou no partido, usando seu pseudônimo - Lênin. Em 1902 havia publicado Que fazer?, expondo as estratégias e táticas do partido e sua metodologia de trabalho inpirado em Nikolay Tchernyshevsky. Para ele não bastava lutar por uma simples reforma salarial ou de jornada de trabalho.

     Nesta reunião, há uma divisão ideológica de longo período desenvolvida dentro do partido político entre a facção bolchevique que significa maioria em russo, liderada por Lenin, e a facção menchevique que significa minoria em russo, liderada por Julius Martov. A ruptura originou em parte as reflexões político-afetivas do livro de Lênin Que Fazer? (1902). Outra questão que dividiu as duas facções foi o apoio de Lenin a uma aliança operário-camponesa para derrubar o regime czarista, em oposição ao menchevique que possuía uma aliança entre as classes trabalhadoras e a burguesia liberal para atingir o mesmo objetivo. Em novembro de 1905, Lenin retornou à Rússia para apoiar a Revolução Russa de 1905. Em 1906, ele foi eleito para presidir o POSDR; mas retomou ao seu exílio em dezembro de 1907, após a vitória czarista na tentativa de revolução social, e depois do escândalo do assalto a um banco em Tiflis em 1907.
Daí a indagação histórica, teórica e pontual do pensamento filosófico de Slavoj Žižek quando afirma: Não há milagres na natureza nem na história, mas toda viragem brusca da história, incluindo cada revolução, oferece tal riqueza de conteúdo, desenvolve combinações de formas de luta e de correlação entre as forças combatentes de tal modo inesperadas e originais que, para um espírito filisteu, muitas coisas devem parecer milagre. Para que a monarquia tzarista pudesse desmoronar em poucos dias, foi necessária a conjugação de uma série de condições de importância histórica mundial. Para o filósofo, sem os três anos de formidáveis batalhas de classe e a energia revolucionária do proletariado russo, em 190-07 seriam impossíveis uma segunda revolução tão rápida, no sentido de ter concluído a sua etapa inicial em poucos dias.
A primeira revolução social de 1905 revolveu profundamente o terreno, arrancou pela raiz preconceitos seculares, despertou para a vida e a luta políticas milhões de operários e dezenas de milhões de camponeses revelou umas às outras, e ao mundo inteiro, todas as classes (e todos os principais partidos políticos) da sociedade russa na sua verdadeira natureza, na verdadeira correlação social e política dos seus interesses, das suas forças sociais e/ou culturais, das suas formas precisas de ação, dos seus objetivos imediatos e futuros. A primeira revolução social representa a época contrarrevolucionária que se lhe seguiu (1907-14), e que revelaram toda a essência da monarquia tzarista, levaram-na até o “último limite”, puseram a nu toda a podridão e infâmia, todo o cinismo e a corrupção da corja tzarista com esse monstro, Grigori Rasputin (1869-1916), místico russo, e autoproclamado homem santo” que se aproximou da família do czar Nicolau II e tornou-se uma figura politicamente influente no final do período imperial,  à frente, toda a brutalidade da família Romanov – esses pogromistas que inundaram a Rússia com o sangue de judeus, de operários, de revolucionários, esses latifundiários, “os primeiros entre os seus pares”, que possuíam milhões de deciatinas de terra e que estavam dispostos a todas as brutalidades e crimes, a arruinar e estrangular qualquer número de cidadãos, para preservar a sua, e da sua classe, “sacrossanta propriedade” (cf. Žižek, 2005). 

Nicolau II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918. Mais tarde, entretanto, sua mulher e seus filhos foram canonizados como “neomártires” por grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa no exílio. Vale lembrar que Nikolay Tchernyshevsky (1828-1889) foi um fundador do Narodismo, populismo Russo, e um “agitador aspirando a uma revolução social que acabasse com o despotismo czarista da Rússia”. Suas ideias foram influenciadas por Herzen, Belinsky e Feuerbach. Filosoficamente era um materialista. Foi o líder do movimento revolucionário democrático na década de 1860, e uma referência tanto para o líder bolchevique Vladimir Lenin, como para a notável oradora anarquista Emma Goldman, mas também para o escritor sérvio Svetozar Marković. Após a conclusão dos estudos em 1850 foi professor de Escola Secundária em Saratov. Entre 1853 de novo em São Petersburgo, foi Editor da Sovremennik (“Contemporâneo”). Em 1862, preso na Fortaleza de São Pedro e Paulo, em São Petersburgo, escreveu a famosa novela: Que fazer? Em 1862 foi condenado a execução civil (“execução de zombaria”), seguida de punição penal (1864-72) e deportação para Vilyuisk, na Sibéria (1872-83). Morreu a 17 de outubro de 1889 com 61 anos de idade.  

Nas vésperas da Revolução de Outubro de 1917 Lenin retoma o problema, que os acontecimentos tornam atual. Primeiramente quando ainda está na Suíça, donde vê crescer na Rússia a onda revolucionária, num caderno que recebe o título: “O marxismo e propósito do Estado”. A revolução de fevereiro de 1917 não começara ainda. Depois, durante o verão e o outono do mesmo ano, quando da sua estadia na Finlândia, num estudo que ficará inacabado: “O Estado e a Revolução”. No caderno dos inícios de 1917 Lenin toca a contradição entre as concepções de Marx e Engels a respeito do Estado em regime comunista. Observa que a carta de Engels a Bebel contém “a passagem mais perfeita e por assim dizer mais incisiva contra o Estado”. Depois, retomando a carta de Marx a W. Bracke de 5 de maio de 1875, constata: “À primeira vista parece, nesta carta, bem mais estatista do que Engels”. Pois, Engels propõe que não se fale do Estado, Marx, ao contrário, fala do Estado na sociedade comunista. Lenin pergunta-se então: - “Não existe aqui uma contradição?”. Na resposta, distingue duas fases do raciocínio de Marx. Na primeira, a ditadura do proletariado é um período de transição política; é evidente que o Estado deste período e, também ele, entre o Estado e o não-Estado, não é mais um Estado. Daí a síntese: terminada a revolução e instalada a ditadura do proletariado, o que definha é o Estado ou o semi-Estado proletário”.  
A expropriação teria ocorrido para se conseguir dinheiro para financiar a revolução. Até as revoluções de fevereiro e outubro de 1917, ele viveu na Europa Ocidental, onde, apesar de pobreza relativa, ele desenvolveu o leninismo - o marxismo urbano adaptado para a Rússia agrária invertendo na teoria a prescrição das análises econômicas de Marx para permitir uma revolução dinâmica liderada por um partido de vanguarda de revolucionários. Em 1909, para diferenciar as dúvidas filosóficas sobre o próprio curso de uma revolução socialista, V. I. Lenin publicou o ensaio: “Materialismo e Empiriocriticismo” (1909), que se tornou uma base filosófica do marxismo-leninismo. Durante o período do exílio, Lenin viajou pela Europa e participou de atividades socialistas. O que se reconhece sobre a intimidade de Lenin (cf. Gourfinkel, 1976) é que, por detrás de toda a sua obstinação e racionalismo voluntário, havia por vezes uma necessidade de música, como percebeu o líder Máximo Gorki: - “Lenine amava a música, mas ao mesmo tempo receava-a. (...) Isto é bom para os nervos, costumava confidenciar, mas dá vontade de dizer encantadoras asneiras”. 
Falar de Inês Armand não é fácil, no entanto, foi Nadejda Konstantinovna quem melhor falou, com fiel amizade e admiração, sobre Inês. Cinco anos mais nova que Lenin, nasceu em Paris, em 8 de maio de 1874 e morreu em Beslán, Rússia, em 24 de setembro de 1920, foi uma escritora e revolucionária francesa que viveu a maior parte de sua vida em Moscou. Temporariamente deixou a Rússia para ir a Paris. Em sua estadia, preferindo manter-se distante do luxo e de uma vida ociosa, conheceu Lenin e outros bolcheviques exilados em países europeus. Cedo conheceu a prisão, a deportação, as missões perigosas e a vida clandestina. Os mais próximos diziam que era reservada. Casada, mãe e avó, Inês tinha qualquer coisa que a tornava distante, mas a paixão, a inteligência e a energia faziam dela uma colaboradora inestimável de Lenin. A literatura recente (cf. Gourfinkel, 1976; Pearson, 1975; 2002) embora esparsa, indica que tenha sido o grande amor na vida de Vladimir Lenin.
Krupskaia foi sempre considerada uma extraordinária mulher, o que do ponto de vista político-afetivo pode ser concebida como mais do que esposa, mãe e irmã para Lenin. Eles se irmanavam como revolucionários, sublimando o pragmatismo político no em ódio em relação ao czarismo, na guerra contra a injustiça social, na absoluta certeza de que “o primeiro inimigo é a burguesia”. Porém, ao contrário de Inês Armand, aparentemente de rosto lindo e luminoso, Nadejda era singularmente desprovida de aparente encanto físico apesar do seu bom senso e abnegação. Inês falava francês, inglês, russo e alemão. Ao piano chamava atenção quando interpretava, diziam alguns, Chopin, Bach, Mozart. Como bom apreciador da música, Lenin pedia às vezes a Inês que tocasse Beethoven, dizia a própria Kroupskaia. Ambas chegaram à revolução social movidas por uma extrema consciência pela condição social operária, apesar de Inês ter sido casada com um homem da alta burguesia.
Em 1917, como um anti-imperialista, Lenin disse que os povos oprimidos tinham o direito incondicional de se separar do Império Russo, no entanto, no final da Guerra Civil, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) anexou a Armênia, a Geórgia e o Azerbaijão, porque o Exército Branco usava-os como bases de ataque. Lenin pragmaticamente defendeu as anexações como proteção geopolítica contra as depredações capitalistas imperialistas. Para manter os exércitos alimentados, e para evitar o colapso econômico, o governo bolchevique estabeleceu o “comunismo de guerra”. Através do programa político prodrazvyorstka, convenceu os camponeses a entregar os excedentes de produtos agrícolas por um baixo preço fixado. O limite de um determinado produto para as necessidades pessoais ou doméstico foi pré-determinada pelo Estado. Os camponeses, sabiamente, resistiram estrategicamente, reduzindo a produção social em economia própria.
Os bolcheviques culparam os kulaks pela retenção dos grãos para aumentar os lucros, mas as estatísticas indicaram mais negócios ocorrendo na economia do mercado negro. No entanto, o prodrazvyorstka resultou em confrontos armados em que a Tcheka e o Exército Vermelho reprimiram com táticas de Aparelho de Estado, reféns com tiros, guerra química, e deportação para trabalho no campo; Lenin ainda aumentou a requisição. Os seis anos de guerra civil entre Exército Branco e Exército Vermelho, o comunismo de guerra, a crise de fome de 1921 que matou aproximadamente 5 milhões de pessoas, e a intervenção dos Aliados na guerra civil Russa reduziu grande parte da Rússia à ruína, e provocou uma rebelião contra os bolcheviques, sendo a maior a Revolta de Tambov (1919-1921). Após a Revolta de Kronstadt, Lenin substituiu o chamado comunismo de guerra pela Nova Política Econômica (NEP), e reconstruiu com sucesso o desenvolvimento da indústria e a agricultura. O NEP representou o seu reconhecimento pragmático das realidades políticas e econômicas.
 Joseph Stalin reverteu a NEP para consolidar seu controle do Partido Comunista e da  União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A principal crítica feita contra Lenin, inclusive por alguns setores da esquerda, é em relação à sua suposta participação na constituição de aparelhos repressivos de Estado nos primórdios da União Soviética, processo este que mais tarde foi seguido e perversamente aprimorado por Stalin. Outros setores baseiam-se na conquista de liberdades que se seguiu à vitória bolchevique como autodeterminação, distribuição de terras aos camponeses pobres, leis do divórcio e do aborto, liberdade de criação artística, etc. para situar a ruptura ditatorial com essa dinâmica precisamente na morte de Lenin e a consolidação do poder da burocracia. Afirma-se que em maio de 1919, 16 mil pessoas foram confinadas em um antigo campo de concentração czarista de trabalho forçado, chamado Katorga, e que em setembro de 1921 foram enviadas mais de 70 mil civis fora do conflito bélico. Outros dados estatísticos giram em torno de 50 mil a 200 mil execuções sumárias de “inimigos da classe” durante o regime em torno do grupo de V. I. Lenin. Durante a Guerra Civil, em 1918, seriam executados o Czar Nicolau II e toda a família imperial, sob suas ordens diante do processo revolucionário. Destaca-se também a repressão à revolta dos marinheiros de Kronstadt (1921), que resultaria na morte e na deportação de milhares de marinheiros.

Os fatos sociais são controversos, pois do lado bolchevique houve 10.000 vítimas no confronto com os alçados de Kronstadt. Segundo grande parte de seus defensores, como o norte-americano John Reed, ou o belga Victor Serge (2007), biógrafo de Lenin, o seu papel de organizador e diretor da primeira revolução mundial proletária triunfante não impediu que tentasse evitar “a efusão de sangue no caminho à vitória”. Victor Serge, vítima da repressão stalinista e testemunha direta do processo revolucionário e exilado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1936, culpa explicitamente Lenin pela deriva repressiva e reconhece a sincera entrega da velha guarda bolchevique à causa da chamada “revolução permanente” mundial. Reconhecendo erros no Partido Bolchevique, apoia a experiência revolucionária russa, se bem que afirme que as novas lutas anticapitalistas deverão assumir novas formas no futuro. Após sua morte, em 1924, seu corpo foi embalsamado e assim como durante todo o período soviético, é exposto em seu mausoléu, na Praça Vermelha em Moscou. Até os dias de hoje ainda é um mistério a causa da morte durante o governo de Lenin (1917-1924). Especulativamente as causas mais prováveis são de morte por sífilis ou por causa de uma bala no pescoço que ficou incrustada desde que sofreu uma tentativa de assassinato. Os médicos contemporâneos ainda estão divididos quanto à causa, apesar dos testemunhos que constam de “relatos médicos”, que poderia ter tido sífilis, mas “seu corpo não apresentava sintomas da doença”. Nos dois anos que antecederam a sua morte, Lenin sofreu três AVCs debilitantes. No entanto, Lenin não tinha os fatores de risco tradicionais para AVCs, contudo, sofreu vários acidentes vasculares cerebrais ocorridos em 26 de maio de 1922; em 16 de dezembro de 1922, em 10 de março de 1923, falecendo em 21 de janeiro de 1924.

Bibliografia geral consultada.

DOBB, Maurice, “Considérations sur Le Développement du Capitalisme en Russie de Lenine”. In: Histoire du Marxisme Contemporain. Tome 4: Lénine, 10/18, 1978; PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos, Clausewitz e a Política - Uma Leitura de Da Guerra. Tese de Doutorado em Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005; ŽIŽEK, Slavoj, Às Portas da Revolução: Seleção dos Escritos de Lenin de fevereiro a outubro de 1917. São Paulo: Editorial Boitempo, 2005; SERGE, Victor, O Ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007; PADILHA, Tânia Mara de Almeida, Entre o Sêmen e a Próxima Colheita: Uma Análise dos Escritos de Lenin sobre a Questão Agrário-Camponesa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Faculdade de Filosofia e Ciências. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2009; BERTONHA, João Fábio, Rússia. Ascensão e Queda de um Império: Uma História Geopolítica e Militar da Rússia dos Czares ao Século XXI. Curitiba: Editora Juruá, 2009; CRUZ, Paula Loureiro de, Alexandra Kollontai: A Mulher, o Direito e o Socialismo. Dissertação de Mestrado em Direito Político  e Econômico. Coordenadoria de Pós-Graduação. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011;  POLTRONIERI, Fernando Fiorotti, O Fardo do Passado contra a Emancipação: Uma Análise da Alternativa Pós-Marxista. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2011; HOBSBAWM, Eric, “Perché Marx Sopravvive alla Fine del Comunismo”. In: http://www.corriere.it/cultura/libri/2011_maggio; Idem, Como Cambiare il Mondo. Perché Riscobrire l`Eredita dal Marxismo.  Trad. L. Claussi. Milão: Editora Biblioteca Univ. Rizzoli, 2012; Idem, Lenin: Teoria e Prática Revolucionária. Anderson Deo, Antonio Carlos Mazzeo, Marcos Del Roio (Organizadores). Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015; GARCIA, Lênin Tomazett, O Ciclo da Revolução Burguesa Tupiniquim e a Educação de Adultos no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação.  Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; entre outros. 

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