Giuliane de Alencar & Ubiracy
de Souza Braga
“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Vladimir Lenin
A
Revolução Russa de 1917 serve de cenário para a história política de amor entre
Yuri Jivago, um jovem médico aristocrata e Lara Antipova, uma enfermeira proletária.
Lara é filha de uma costureira russa que, viúva, apenas consegue sustentar a
casa em que ambas moram graças ao dinheiro que lhe é dado periodicamente por
Victor Komarovsky, um importante e inescrupuloso expoente da sociedade corrupta
russa. Apesar de Victor e a viúva manterem um relacionamento conjugal secreto,
o homem se encanta pela beleza da doce Lara, que contava com apenas 17 anos
quando ambos se beijaram pela primeira vez na volta de uma festa. Não obstante
a relação vexatória mantida entre Lara e Victor, Pascha Strelnikoff, jovem
romântico e revolucionário, apaixona-se pela menina e começa a namorá-la.
Enquanto a relação de Lara e Victor mostra-se destrutiva, tendo em vista que a
mãe de Lara, ao descobrir o relacionamento, tenta se matar o namoro de Pascha e
a moça indica uma saída sensata para ela dessa confusão, pois o moço a pede em
casamento e ela aceita. Ao saber do pedido, Victor discute com Lara e a
violenta, chamando-a de vagabunda. Lara descontrola-se e invade uma festa de
Natal na alta sociedade russa para tentar matar, sem sucesso, o ex-amante. A questão mais importante de qualquer
revolução social é a dualidade dos poderes. Não é possível eludir nem afastar a questão do
poder, nevrálgica e que determina tudo no desenvolvimento da
revolução, sobretudo em suas relações políticas interna e externa. Ipso
facto, do ponto de vista teórico representa um instrumento de pesquisa, um
método de análise comparativamente às ciências da sociedade e, por sua vez,
constantemente se enriquece com as novas conquistas das ciências e da práxis em
torno das revoluções contemporâneas.
Karl
Marx e Friedrich Engels assinalaram uma ruptura com a filosofia idealista, e o
começo do novo período de interpretação da história e da filosofia do ponto de
vista teórico, prático e afetivo. O materialismo, sendo dialético é uma
filosofia que teve origem na Europa com base nas obras de interpretação destes
pensadores. Trata-se de uma concepção de teoria cujo conceito interpreta que a
realidade é social, e pode ser definida pela interpretação dos meios materiais
de existência com base em estudos e pesquisas realizados, por exemplo, no âmbito
de análise da economia, da geografia, das ciências, em sua origem e
significado. Em seu fundamento expressa uma teoria, um método e objeto de
análise mediado por um conjunto de práticas e saberes sociais. Não apenas uma
forma de pensar, mas uma concepção nova da teoria. A essência revolucionária
dos fundadores do marxismo reside em que a filosofia se tornou, pela primeira
vez na história da humanidade, uma teoria que põe em xeque a neutralidade
axiológica do pensamento, com o reconhecimento das relações sociais entre
natureza e sociedade objetivando um modo de produção particular. Os sistemas do
passado se caracterizavam pelo fato de que seus criadores, eram incapazes de
elaborar um quadro de pensamento humano sobre o mundo, e amontoavam
indistintamente os mais variados fatos sociais, conclusões, hipóteses e
fantasias divinas. Pretendiam conceber a verdade absoluta e
limitavam-na assim, na sua essência, o vivo processo de reconhecimento, pelo
homem, sobre as formas e conteúdos da natureza e da sociedade.
A Rússia czarista representou um Estado que existiu desde 1721 até que foi derrubado pela Revolução de Fevereiro de 1917. Foi um dos maiores impérios da história da humanidade, que se estendia por três continentes, superado em massa de terra apenas pelo impérios Britânico e Mongol. Em 1958, Boris Pasternak publicou seu reconhecido
trabalho no mundo ocidental: o romance Doctor
Zhivago. O livro não pôde ser publicado na União Soviética, devido às
críticas feitas ao regime comunista na obra. Os originais do livro foram
contrabandeados para fora da chamada “Cortina de Ferro” e editados na Itália,
tornando-se rapidamente em um verdadeiro best-seller, fazendo de Pasternak ganhador
do Nobel de Literatura. Entretanto, pelo fato de ser um livro proibido pelo
governo de Moscou, Pasternak foi impedido de receber o Nobel de Literatura e acabou sendo
obrigado a devolver a honraria. Entretanto, Pasternak não viveu para ver seu
livro adaptado para as telas cinematográficas. Ele morreu em 1960. Encontra-se sepultado no
Cemitério Peredelkino, em Moscou. A proibição da publicação de Doutor
Jivago na União Soviética vigorou até 1989. A política de Abertura
de Mikhail Gorbatchev, líder da URSS, liberou a publicação e os russos puderam reconhecer a saga
de Jivago. Em 1965, Doutor Jivago ganhou adaptação para o cinema, com Omar
Shariff, no papel principal. O filme ficou famoso inclusive por sua bela trilha
sonora, Lara`s Theme.
Vladimir Illich Lenin nasceu em Simbirsk, em 22 de
abril de 1870 e faleceu na cidade de Gorki, em 21 de janeiro de 1924. Foi um
revolucionário e chefe de Estado russo, responsável em grande parte pela realização da Revolução Russa de 1917,
líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários
do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de
todo o mundo, e suas contribuições resultaram na criação de uma corrente
teórica denominada leninismo. Diversos pensadores e estudiosos escreveram sobre
a sua importância para a história política contemporânea e o desenvolvimento do
socialismo de Estado na Rússia, entre eles o historiador Eric Hobsbawm, para
quem Lenin teria sido “o personagem mais influente do século XX”. Além disso,
em sua autobiografia escreveu: “Faço parte da geração para quem a Revolução de
Outubro representou a esperança do mundo”. No
final de seu exílio em 1900, Lenin deixou a Rússia e viveu em Munique (1900-1902),
em Londres (1902-1903) - onde uma placa memorial
marca sua residência e ainda Genebra (1903-1905). Em 1900, ele e Julius Martov fundaram o jornal
Iskra (“Faísca”), e publicou artigos e livros sobre
a política revolucionária, enquanto estava recrutando membros para o Partido Operário Socialdemocrata Russo
(POSDR), que tinha realizado a sua primeira reunião em 1898 enquanto Lenin ainda
estava no exílio na Sibéria. Como político na clandestinidade, assumiu vários
apelidos e, em 1902, adotou Lenin como seu definitivo nome de guerra, derivado
do Rio Lena, localizado na Sibéria. Em 1903, participou do 2º Congresso do
Partido Operário Socialdemocrata Russo, que inicialmente se realizou em
Bruxelas e depois terminou em Londres (cf. Pearson, 1975). Entre janeiro de 1901 e julho de 1903 foram
publicados 44 números do jornal Iskra,
com artigos de conjuntura política, entre os quais se destacou: “As tarefas
mais urgentes do nosso movimento”, escrito por Lenin.
O
Partido Operário Socialdemocrata Russo, ou em russo: POSDR - Росси́йская
Социа́л-Демократи́ческая Рабо́чая Па́ртия = РСДРП foi um partido político
social democrata russo fundado em 1898 em Minsk de modo a unir as várias
organizações revolucionárias em um partido único. O POSDR mais tarde se
dividiria nas facções Bolcheviques e Mencheviques, com os primeiros se tornando
o Partido Comunista da União Soviética. No final do primeiro congresso em Março
de 1898 todos os nove delegados foram presos. O POSDR foi criado para fazer
oposição aos narodniks (“Народничество”)
e o seu populismo revolucionário (cf. Tvardovskaia, 1972), que privilegiava o campesinato. Já o programa socialdemocrata do POSDR era baseado nas teorias hic et nunc de Marx e Engels - que considerando a natureza
agrária russa, acreditavam o verdadeiro potencial da revolução social estava no
proletariado. Antes do Segundo Congresso um jovem intelectual chamado Vladimir
Ilyich Ulyanov entrou no partido, usando seu pseudônimo - Lênin. Em 1902
havia publicado Que fazer?, expondo
as estratégias e táticas do partido e sua metodologia de trabalho inpirado em Nikolay Tchernyshevsky. Para ele não bastava lutar por uma
simples reforma salarial ou de jornada de trabalho.
Nesta
reunião, há uma divisão ideológica de longo período desenvolvida dentro do partido
político entre a facção bolchevique que significa maioria em russo, liderada
por Lenin, e a facção menchevique que significa minoria em russo, liderada por
Julius Martov. A ruptura originou em parte as reflexões político-afetivas do
livro de Lênin Que Fazer? (1902).
Outra questão que dividiu as duas facções foi o apoio de Lenin a uma aliança operário-camponesa
para derrubar o regime czarista, em oposição ao menchevique que possuía uma
aliança entre as classes trabalhadoras e a burguesia liberal para atingir o
mesmo objetivo. Em novembro de 1905, Lenin retornou à Rússia para apoiar a Revolução
Russa de 1905. Em 1906, ele foi eleito para presidir o POSDR; mas retomou ao
seu exílio em dezembro de 1907, após a vitória czarista na tentativa de
revolução social, e depois do escândalo do assalto a um banco em Tiflis em
1907.
Daí a indagação histórica, teórica e pontual do
pensamento filosófico de Slavoj Žižek quando afirma: Não há milagres na
natureza nem na história, mas toda viragem brusca da história, incluindo cada
revolução, oferece tal riqueza de conteúdo, desenvolve combinações de formas de
luta e de correlação entre as forças combatentes de tal modo inesperadas e
originais que, para um espírito filisteu, muitas coisas devem parecer milagre.
Para que a monarquia tzarista pudesse desmoronar em poucos dias, foi necessária
a conjugação de uma série de condições de importância histórica mundial. Para o
filósofo, sem os três anos de formidáveis batalhas de classe e a energia
revolucionária do proletariado russo, em 190-07 seriam impossíveis uma segunda revolução tão rápida, no sentido
de ter concluído a sua etapa inicial
em poucos dias.
A primeira revolução social de 1905 revolveu
profundamente o terreno, arrancou pela raiz preconceitos seculares, despertou
para a vida e a luta políticas milhões de operários e dezenas de milhões de
camponeses revelou umas às outras, e ao mundo inteiro, todas as classes (e todos os principais partidos políticos) da sociedade
russa na sua verdadeira natureza, na verdadeira correlação social e política dos seus interesses,
das suas forças sociais e/ou culturais, das suas formas precisas de ação, dos seus
objetivos imediatos e futuros. A primeira revolução social representa a época contrarrevolucionária
que se lhe seguiu (1907-14), e que revelaram toda a essência da monarquia tzarista,
levaram-na até o “último limite”, puseram a nu toda a podridão e infâmia, todo
o cinismo e a corrupção da corja tzarista com esse monstro, Grigori Rasputin (1869-1916), místico russo, e autoproclamado “homem santo” que se aproximou da família do czar Nicolau II e tornou-se uma figura politicamente influente no final do período imperial, à frente,
toda a brutalidade da família Romanov – esses pogromistas que inundaram a
Rússia com o sangue de judeus, de operários, de revolucionários, esses latifundiários, “os primeiros entre os seus
pares”, que possuíam milhões de deciatinas de terra e que estavam dispostos a
todas as brutalidades e crimes, a arruinar e estrangular qualquer
número de cidadãos, para preservar a sua, e da sua classe, “sacrossanta
propriedade” (cf. Žižek, 2005).
Nicolau
II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um
servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram
executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de
julho de 1918. Mais tarde, entretanto, sua mulher e seus filhos foram
canonizados como “neomártires” por grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa no
exílio. Vale lembrar que Nikolay Tchernyshevsky (1828-1889) foi um fundador do Narodismo,
populismo Russo, e um “agitador aspirando a uma revolução social que acabasse
com o despotismo czarista da Rússia”. Suas ideias foram influenciadas por
Herzen, Belinsky e Feuerbach. Filosoficamente era um materialista. Foi o líder
do movimento revolucionário democrático na década de 1860, e uma referência
tanto para o líder bolchevique Vladimir Lenin, como para a notável oradora
anarquista Emma Goldman, mas também para o escritor sérvio Svetozar Marković.
Após a conclusão dos estudos em 1850 foi professor de Escola Secundária em
Saratov. Entre 1853 de novo em São Petersburgo, foi Editor da Sovremennik
(“Contemporâneo”). Em 1862, preso na Fortaleza de São Pedro e Paulo, em São Petersburgo,
escreveu a famosa novela: Que fazer? Em 1862 foi condenado a execução
civil (“execução de zombaria”), seguida de punição penal (1864-72) e deportação
para Vilyuisk, na Sibéria (1872-83). Morreu a 17 de outubro de 1889 com 61 anos
de idade.

Nas vésperas da Revolução de Outubro de 1917 Lenin retoma
o problema, que os acontecimentos tornam atual. Primeiramente quando ainda está
na Suíça, donde vê crescer na Rússia a onda revolucionária, num caderno que
recebe o título: “O marxismo e propósito do Estado”. A revolução de fevereiro
de 1917 não começara ainda. Depois, durante o verão e o outono do mesmo ano,
quando da sua estadia na Finlândia, num estudo que ficará inacabado: “O Estado
e a Revolução”. No caderno dos inícios de 1917 Lenin toca a contradição entre
as concepções de Marx e Engels a respeito do Estado em regime comunista.
Observa que a carta de Engels a Bebel contém “a passagem mais perfeita e por
assim dizer mais incisiva contra o
Estado”. Depois, retomando a carta de Marx a W. Bracke de 5 de maio de 1875, constata: “À primeira
vista parece, nesta carta, bem mais estatista do que Engels”. Pois, Engels
propõe que não se fale do Estado, Marx, ao contrário, fala do Estado na sociedade comunista. Lenin pergunta-se então: - “Não existe aqui uma
contradição?”. Na resposta, distingue duas fases do raciocínio de Marx. Na primeira, a ditadura do proletariado é um período de transição política; é evidente que o
Estado deste período e, também ele, “entre o Estado e o
não-Estado, não é mais um Estado. Daí a síntese:
terminada a revolução e instalada a ditadura do proletariado, o que definha é o
Estado ou o semi-Estado proletário”.
A expropriação teria ocorrido para se conseguir
dinheiro para financiar a revolução. Até as revoluções de fevereiro e outubro
de 1917, ele viveu na Europa Ocidental, onde, apesar de pobreza relativa, ele
desenvolveu o leninismo - o marxismo urbano adaptado para a Rússia agrária
invertendo na teoria a prescrição das análises econômicas de Marx para permitir
uma revolução dinâmica liderada por um partido de vanguarda de revolucionários.
Em 1909, para diferenciar as dúvidas filosóficas sobre o próprio curso de uma
revolução socialista, V. I. Lenin publicou o ensaio: “Materialismo e
Empiriocriticismo” (1909), que se tornou uma base filosófica do
marxismo-leninismo. Durante o período do exílio, Lenin viajou pela Europa e participou
de atividades socialistas. O que se reconhece sobre a intimidade de Lenin (cf.
Gourfinkel, 1976) é que, por detrás de toda a sua obstinação e racionalismo
voluntário, havia por vezes uma necessidade de música, como percebeu o líder Máximo Gorki: - “Lenine amava a música, mas ao mesmo tempo receava-a. (...) Isto é bom para os
nervos, costumava confidenciar, mas dá vontade de dizer encantadoras asneiras”.
Falar de Inês Armand não é fácil, no entanto, foi
Nadejda Konstantinovna quem melhor falou, com fiel amizade e admiração, sobre Inês.
Cinco anos mais nova que Lenin, nasceu em Paris, em 8 de maio de 1874 e morreu
em Beslán, Rússia, em 24 de setembro de 1920, foi uma escritora e
revolucionária francesa que viveu a maior parte de sua vida em Moscou. Temporariamente
deixou a Rússia para ir a Paris. Em sua estadia, preferindo manter-se distante
do luxo e de uma vida ociosa, conheceu Lenin e outros bolcheviques exilados em
países europeus. Cedo conheceu a prisão, a deportação, as missões perigosas e a
vida clandestina. Os mais próximos diziam que era reservada. Casada, mãe
e avó, Inês tinha qualquer coisa que a tornava distante, mas a paixão, a
inteligência e a energia faziam dela uma colaboradora inestimável
de Lenin. A literatura recente (cf. Gourfinkel, 1976; Pearson, 1975; 2002) embora esparsa, indica que tenha sido o grande amor na vida de Vladimir Lenin.
Krupskaia foi sempre considerada uma extraordinária
mulher, o que do ponto de vista político-afetivo pode ser concebida como mais
do que esposa, mãe e irmã para Lenin. Eles se irmanavam como revolucionários,
sublimando o pragmatismo político no em ódio em relação ao czarismo, na guerra contra a
injustiça social, na absoluta certeza de que “o primeiro inimigo é a
burguesia”. Porém, ao contrário de Inês Armand, aparentemente de rosto lindo e
luminoso, Nadejda era singularmente desprovida de aparente encanto físico apesar do seu bom
senso e abnegação. Inês falava francês, inglês, russo e alemão. Ao piano
chamava atenção quando interpretava, diziam alguns, Chopin, Bach, Mozart. Como bom
apreciador da música, Lenin pedia às vezes a Inês que tocasse Beethoven, dizia a própria Kroupskaia. Ambas chegaram à revolução social movidas por uma extrema consciência pela
condição social operária, apesar de Inês ter sido casada com um homem da alta burguesia.
Em 1917, como um anti-imperialista, Lenin disse que os
povos oprimidos tinham o direito incondicional de se separar do Império Russo,
no entanto, no final da Guerra Civil, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) anexou a Armênia, a Geórgia e o Azerbaijão, porque o Exército
Branco usava-os como bases de ataque. Lenin pragmaticamente defendeu as
anexações como proteção geopolítica contra as depredações capitalistas
imperialistas. Para manter os exércitos alimentados, e para evitar o colapso
econômico, o governo bolchevique estabeleceu o “comunismo de guerra”. Através do
programa político prodrazvyorstka,
convenceu os camponeses a entregar os excedentes de produtos agrícolas por um
baixo preço fixado. O limite de um determinado produto para as necessidades
pessoais ou doméstico foi pré-determinada pelo Estado. Os camponeses, sabiamente, resistiram
estrategicamente, reduzindo a produção social em economia própria.
Os bolcheviques culparam os kulaks pela retenção dos grãos para aumentar os lucros, mas as
estatísticas indicaram mais negócios ocorrendo na economia do mercado negro. No
entanto, o prodrazvyorstka resultou
em confrontos armados em que a Tcheka e o Exército Vermelho reprimiram com táticas de Aparelho de Estado, reféns
com tiros, guerra química, e deportação para trabalho no campo; Lenin ainda aumentou
a requisição. Os seis anos de guerra civil entre Exército Branco e Exército
Vermelho, o comunismo de guerra, a crise de fome de 1921 que matou
aproximadamente 5 milhões de pessoas, e a intervenção dos Aliados na guerra civil
Russa reduziu grande parte da Rússia à ruína, e provocou uma rebelião contra os
bolcheviques, sendo a maior a Revolta de Tambov (1919-1921). Após a Revolta de
Kronstadt, Lenin substituiu o chamado comunismo de guerra pela Nova Política Econômica
(NEP), e reconstruiu com sucesso o desenvolvimento da indústria e a agricultura. O NEP representou o seu
reconhecimento pragmático das realidades políticas e econômicas.
Joseph
Stalin reverteu a NEP para consolidar seu controle do Partido Comunista e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS). A principal crítica feita contra Lenin, inclusive por alguns setores da
esquerda, é em relação à sua suposta participação na constituição de aparelhos
repressivos de Estado nos primórdios da União Soviética, processo este que mais
tarde foi seguido e perversamente aprimorado por Stalin. Outros setores
baseiam-se na conquista de liberdades que se seguiu à vitória bolchevique como autodeterminação,
distribuição de terras aos camponeses pobres, leis do divórcio e do aborto,
liberdade de criação artística, etc. para situar a ruptura ditatorial com essa
dinâmica precisamente na morte de Lenin e a consolidação do poder da
burocracia. Afirma-se que em maio de 1919, 16 mil pessoas foram confinadas em
um antigo campo de concentração czarista de trabalho forçado, chamado Katorga,
e que em setembro de 1921 foram enviadas mais de 70 mil civis fora do conflito
bélico. Outros dados estatísticos giram em torno de 50 mil a 200 mil execuções
sumárias de “inimigos da classe” durante o regime em torno do grupo de V. I. Lenin.
Durante a Guerra Civil, em 1918, seriam executados o Czar Nicolau II e toda a
família imperial, sob suas ordens diante do processo revolucionário. Destaca-se
também a repressão à revolta dos marinheiros de Kronstadt (1921), que
resultaria na morte e na deportação de milhares de marinheiros.
Os
fatos sociais são controversos, pois do lado bolchevique houve 10.000 vítimas no
confronto com os alçados de Kronstadt. Segundo grande parte de seus defensores,
como o norte-americano John Reed, ou o belga Victor Serge (2007), biógrafo de
Lenin, o seu papel de organizador e diretor da primeira revolução mundial
proletária triunfante não impediu que tentasse evitar “a efusão de sangue no
caminho à vitória”. Victor Serge, vítima da repressão stalinista e testemunha
direta do processo revolucionário e exilado da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas em 1936, culpa explicitamente Lenin pela deriva repressiva e
reconhece a sincera entrega da velha guarda bolchevique à causa da chamada
“revolução permanente” mundial. Reconhecendo erros no Partido Bolchevique,
apoia a experiência revolucionária russa, se bem que afirme que as novas lutas
anticapitalistas deverão assumir novas formas no futuro. Após sua morte, em
1924, seu corpo foi embalsamado e assim como durante todo o período soviético,
é exposto em seu mausoléu, na Praça Vermelha em Moscou. Até os dias de hoje
ainda é um mistério a causa da morte durante o governo de Lenin (1917-1924).
Especulativamente as causas mais prováveis são de morte por sífilis ou por
causa de uma bala no pescoço que ficou incrustada desde que sofreu uma
tentativa de assassinato. Os médicos contemporâneos ainda estão divididos
quanto à causa, apesar dos testemunhos que constam de “relatos médicos”, que
poderia ter tido sífilis, mas “seu corpo não apresentava sintomas da doença”. Nos
dois anos que antecederam a sua morte, Lenin sofreu três AVCs debilitantes. No
entanto, Lenin não tinha os fatores de risco tradicionais para AVCs, contudo, sofreu vários acidentes vasculares cerebrais ocorridos em 26 de maio de 1922;
em 16 de dezembro de 1922, em 10 de março de 1923, falecendo em 21 de janeiro
de 1924.
Bibliografia geral consultada.
DOBB, Maurice, “Considérations sur Le Développement du
Capitalisme en Russie de Lenine”. In: Histoire du Marxisme Contemporain.
Tome 4: Lénine, 10/18, 1978; PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos, Clausewitz
e a Política - Uma Leitura de Da Guerra. Tese de Doutorado em
Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2005; ŽIŽEK, Slavoj, Às Portas da Revolução:
Seleção dos Escritos de Lenin de fevereiro a outubro de 1917. São Paulo:
Editorial Boitempo, 2005; SERGE, Victor, O Ano I da Revolução Russa. São
Paulo: Boitempo Editorial, 2007; PADILHA, Tânia Mara de Almeida, Entre o Sêmen e a Próxima Colheita: Uma Análise dos Escritos de Lenin sobre a Questão Agrário-Camponesa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Faculdade de Filosofia e Ciências. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2009; BERTONHA, João Fábio, Rússia. Ascensão e Queda de um Império: Uma História Geopolítica e Militar da Rússia dos Czares ao Século XXI. Curitiba: Editora Juruá, 2009; CRUZ, Paula Loureiro de, Alexandra Kollontai: A Mulher, o Direito e o Socialismo. Dissertação de Mestrado em Direito Político e Econômico. Coordenadoria de Pós-Graduação. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011; POLTRONIERI, Fernando Fiorotti, O Fardo do Passado contra a Emancipação: Uma Análise da Alternativa Pós-Marxista. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2011; HOBSBAWM, Eric, “Perché Marx Sopravvive alla Fine del Comunismo”. In: http://www.corriere.it/cultura/libri/2011_maggio; Idem, Como Cambiare il Mondo. Perché Riscobrire l`Eredita dal Marxismo. Trad. L. Claussi. Milão: Editora Biblioteca Univ. Rizzoli, 2012; Idem, Lenin: Teoria e Prática
Revolucionária.
Anderson Deo, Antonio Carlos Mazzeo, Marcos Del Roio (Organizadores). Marília: Oficina
Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015; GARCIA, Lênin
Tomazett, O Ciclo da Revolução Burguesa Tupiniquim e a Educação de Adultos
no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade
Federal de Goiás, 2015; entre outros.
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