sábado, 11 de julho de 2015

Acquário Ceará: Ecodesenvolvimento & Dialetica da Cidade-Dormitório.

Ubiracy de Souza Braga*

A Seinfra era responsável apenas pela estrutura de concreto”. Lúcio Gomes

    Obras do Aquário Oceânico na Praia de Iracema, Fortaleza, Ceará.

                Cidades-dormitório surgiram em vários países do chamado Primeiro Mundo nos anos 1950, com a migração de pessoas do centro das cidades para os subúrbios em busca de qualidade de vida. Esse movimento está também associado com o baby boom, o crescimento da população dos Estados Unidos da América depois da 2ª guerra mundial (1939-1945), levando à construção de novas áreas residenciais para atender a uma crescente demanda por moradia. Nesses países, o estabelecimento de cidades-dormitório foi acompanhado pela criação de uma vasta rede de autoestradas e trens de subúrbio para atender às necessidades de transporte do trabalho para o lar. Cidade-dormitório é uma designação usada para se referir a aglomerados urbanos surgidos nos arredores de uma grande cidade tipicamente para servir de moradia a trabalhadores da cidade-núcleo da região. Geralmente, a divisão entre subúrbios e cidades-dormitórios é imprecisa, devido à conurbação das cidades. Cidades-dormitórios costumam estar ligadas por meios de transporte de massa aos locais de trabalho da maioria de seus residentes. Uma definição provisória de “cidade-dormitório”: são aquelas que tem como representação social as atividades existentes não são suficientes para empregar e fixar a sua população ativa, o que leva a maioria dos moradores a se deslocarem diariamente para a cidade mais próxima, a capital do Estado ou uma cidade populosa para exercer a sua profissão.

Um grande exemplo de cidade-dormitório é no Paraná, em Almirante Tamandaré, onde não há empresas, universidades, indústrias, hipermercados, shoppings centers ou comércio, assim obrigando os moradores virem a trabalhar em Curitiba, voltando apenas à noite para dormir. Outros exemplos de cidade dormitório: Itapevi, Jandira, Taboão da Serra e Cotia, são cidades dormitórios para Osasco, Carapicuíba e Barueri, com indústria, polos educacionais e um setor de serviços forte na Grande São Paulo. Assim como Limeira e toda a Grande Americana figuram como dormitório para Campinas, no interior de São Paulo. A Cidade Tiradentes, distrito do subúrbio de São Paulo, possui o maior aglomerado de conjuntos habitacionais no âmbito da América Latina. Os países “em desenvolvimento” sofrem, ou sofreram, com o êxodo rural, que é a migração de pessoas do campo para as cidades em busca de emprego e qualidade de vida. Na maioria destes países, a migração exagerada levou ao surgimento de cidades dormitório para abrigar os migrantes. Tais cidades apresentam sérios problemas de infraestrutura devido ao rápido crescimento e falta, ou precariedae de planejamento, agravados pelo fato político dessas cidades, muitas vezes, não possuírem nenhuma renda, servindo simplesmente como utilidade de uso residencial comercialmente.

Algumas cidades-dormitórios estão tentando contornar essa situação através da criação de empregos: por exemplo, a cidade brasileira de Duque de Caxias investe na criação de um polo industrial gás-químico, porém a maior parte dos seus funcionários graduados moram no Rio de Janeiro, que é uma cidade vizinha. Como resultado, a cidade possui o 13º maior PIB do país, mas convive com situações de abandono. Muitas vezes, bairros ou distritos da metrópole também podem ser considerados cidades-dormitório: é o caso de Cidade Tiradentes, que, apesar do nome, é um distrito do extremo leste da cidade de São Paulo. Cidade Tiradentes conta com o maior aglomerado de conjuntos habitacionais da América Latina e com uma população de mais de 200 mil habitantes. Apesar do comércio da região, muitos vão até o centro da metrópole a trabalho, principalmente a regiões como o Centro de São Paulo, Avenida Paulista, Itaim Bibi e Santo Amaro. Cidades vizinhas de São Paulo se tornaram cidades-dormitório de São Paulo, como Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Mogi das Cruzes, e o importante polo industrial, Itaquaquecetuba, entre muitas outras. O Aquário Oceânico do Ceará é alvo de diversas polêmicas sociais e políticas desde a apresentação inicial do projeto social, em 2011. Parte da população é contra a obra por considerá-la exorbitante e não prioritária para o Estado. A Secretaria de Turismo (Secult) defende a política pública de que o Aquário Oceânico “vai aumentar e qualificar o turismo no Estado”. 

                                    

         O empreendimento já teve as obras paralisadas por duas (02) vezes a pedido do Ministério Público. Em 2013, o Ministério apresentou várias irregularidades praticadas pela Secretaria do Turismo na construção do Acquario: a) o favorecimento de uma empresa para realizar a segunda etapa das obras e garantir empréstimo de um banco norte-americano para a obra; b) a Setur fez convênio com uma fundação que precisou alterar seu estatuto para executar os projetos demandados, mesmo sem ter condições técnicas específicas. A Praia de Iracema é uma praia e bairro nobre homônimo localizado no município de Fortaleza, no estado do Ceará, no Brasil. Seu nome vem da personagem Iracema, que dá título ao romance Iracema, do escritor cearense José de Alencar. Segundo os mapas holandeses de 1649, foi neste local que os índios potiguares encontravam-se quando Matias Beck e sua frota chegaram a Fortaleza. Além da forte ligação da praia e do bairro com a famosa obra da trilogia indianista do romance brasileiro de José de Alencar, o local também apresenta em boa parte de suas ruas nomes que representam a tradição indígena, como rua dos Tabajaras, Cariris e Potiguaras. Com o crescimento industrial da cidade, o local passou a ser utilizado para construção de casas de veraneio. O início dessa mudança urbanística e social se deu com a vinda da família Magalhães Porto à capital cearense, que construiu o palacete que abriga o Estoril. Com as famílias oligárquicas, o bairro começou a sua ampla modernização. 

Criado na década de 1970, o termo “ecodesenvolvimento” é fruto direto da mentalidade e das disputas políticas, especialmente após a primeira Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo. Esta conferência proporcionou o embate direto entre os que defendiam o desenvolvimento a qualquer custo, consequentemente, negligenciando as questões ambientais e a preservação dos recursos naturais, contra aqueles favoráveis ao desenvolvimento conjunto com a preservação dos recursos e do meio ambiente. Este tipo de desenvolvimento que se preocupa com as questões ambientais é o chamado “ecodesenvolvimento”, termo proposto inicialmente por Mauricie Strong (1929-2015) e, em seguida, ampliado pelo importante economista Ignacy Sachs. A ampliação proposta por Ignacy Sachs foi extremamente importante para que o ecodesenvolvimento ganhasse força. Isso porque, às questões ambientais já contidas no conceito criado por Strong, o economista incorporou ao termo pontos fundamentais, como: questões econômicas; questões culturais; questões sociais; questões éticas; noções de gestão participativa. Vale destacar que o famoso termo “desenvolvimento sustentável” nada mais é que uma variação do ecodesenvolvimento. Embora as duas ideias sejam bastante parecidas, há algumas diferenças básicas: o ecodesenvolvimento diz respeito a um processo de desenvolvimento econômico baseado na preservação do chamado “meio ambiente” e dos recursos naturais, proporcionando meios para que alcancemos o desenvolvimento sustentável — que prioriza uma sociedade sustentável, justa, harmônica e participativa.

Na praia, até os anos 1950, situava-se a Área Portuária de Fortaleza. Essa área foi restaurada, revitalizada e transformada no Centro Cultural Dragão do Mar. O bairro nobre de Fortaleza, próximo ao centro da cidade, abriga hoje importantes instalações e instituições da cidade, como o Seminário da Prainha, a Caixa Cultural de Fortaleza, a Fundação Joaquim Nabuco, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará, o Porto Iracema das Artes, o complexo comercial da Avenida Monsenhor Tabosa, a Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, o Acquário Ceará, além de boates, bares, hotéis à beira-mar e centros de lazer.  A região da cidade é tida como “Bem de Relevante Interesse Cultural” fortalezense instituído pelo Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza, em virtude da memória individual (os sonhos) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) seus prédios históricos e sua importância para o desenvolvimento de intelectuais e artistas de Fortaleza.
Além disso, c) o “Fortaleza Convention Bureau”, entidade ligada ao governo e que promove o turismo foi usada como “barriga de aluguel” para a contratação de uma segunda empresa para elaborar o projeto do Acquario. A segunda empresa contratada pelo “Convention Bureau” apresentou outras seis (06) que poderiam realizar a obra do Acquario e indicou uma norte-americana como a mais apta para o projeto. Em seguida, a Setur realizou um parecer técnico para eliminar a necessidade de licitação para a contratação da empresa indicada, que firmou contrato com a Secretaria de Turismo (Setur) em US$ 150 milhões. O governo do Estado argumenta que a escolha da empresa é determinada pelo know-how adquiridos por uma empresa que traz para si vantagens competitivas de mercado internacionalizado, pois a mesma já construiu em torno de 215 dos 250 maiores aquários do mundo ocidental. Foto do antigo prédio do DNOCS onde está sendo construído o Acquário Ceará. 

        O Acquario do Ceará contará com a instalação absurda de 38 tanques-recinto de exibição, com capacidade para 15 milhões de litros, em área total construída de 21,5 mil metros quadrados de área construída. De acordo com o governo do Estado, o Acquario deve receber, todos os anos, 1,2 milhão de visitantes, gerando uma receita de R$ 21,5 milhões. Para a economia local, o impacto no mercado de trabalho será de 150 empregos diretos, 1.600 indiretos e 18 mil empregos na cadeia produtiva do turismo. Enfim, em tese o projeto vislumbra ter um único lugar – a Praia de Iracema, uma experiência de exploração do fundo do mar com direito: a) túneis submersos, b) tanques oceânicos, c) domo do mar e estação submarina, d) “cinema interativo”, além de auditório é a proposta que contempla o projeto Acquário Ceará, na cidade de Fortaleza.
            Dieter Prokop esclarece este ponto, quando identifica na formação de oligopólios, a criação de espaços de apropriação de saberes no âmbito das comunicações no mercado mundanizado. Ele refere-se a “esfera do público” (cf. Sachs, 1986; Hughes, 1993; Pereira, 2007) que se caracteriza pela aparente liberdade formal dos sujeitos, pela liberdade, em princípio ilimitada, de expressão, pelo livre acesso aos meios necessários para isto, e pela oportunidade de ter uma influência real. O que condiciona, é que ela tem experimentado uma modificação estrutural, derivada das mediações de caráter oligopolístico e monopólio tanto das estruturas de mercado como das estruturas de poder. Decorre daí a presença organizada de poderosas associações de interesses dos grupos econômicos e políticos “socialmente relevantes” no sentido weberiano e a organização da forma de mercado oligopolístico e monopolista e, como consequência, a aparição e prevalência dos grandes trusts.
            O Departamento Nacional de Obras Contras as Secas é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Integração Nacional e com a sede da administração central em Fortaleza. Constitui-se na mais antiga instituição federal com atuação no Nordeste. Criado sob o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) em 21 de outubro de 1909, em 1919 recebeu ainda o nome de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, até que em 1945 passa a chamar-se DNOCS. Dispõe a sua legislação básica ter por finalidade executar políticas públicas do governo federal, no que se refere a beneficiamento de áreas e obras de proteção contra as secas e inundações, irrigação, radicação da população em comunidades de irrigantes e subsidiariamente, outros assuntos que lhe sejam cometidos pelo governo federal, nos campos do saneamento básico, assistência às populações atingidas por calamidades e cooperação com os Municípios, possuindo atuação no semiárido do Nordeste e norte de Minas Gerais.
            Vale lembrar que a modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo, ainda que em diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, em todo o mundo.
            Além disso, enquanto totalidade histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o colonialismo. Nela, as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente “alongadas”. As cidades-dormitório podem assumir as feições de uma agradável cidade bucólica, onde vivem populações com boas condições socioeconômicas e que desfrutam de ótima infraestrutura urbana e fácil mobilidade (sobretudo, calcada em meios de transporte individuais). Apesar dessas divergências, o elemento fundamental que define a ideia de uma “cidade-dormitório” nesses dois polos sociológicos é o mesmo: áreas residenciais com elevada proporção de pessoas que realizam suas atividades cotidianas (trabalho, estudo ou lazer) em outra cidade, geralmente na sede metropolitana, originando os fluxos de deslocamento pendular. O surgimento de uma “nova centralidade” em setores da periferia, a ação do poder público é necessária para a instalação de infraestrutura urbana, intervindo de forma direta na questão dos assentamentos, através do financiamento, seja para a população e/ou empresários.
            No Brasil, diversos são os fatores sociais apontados como causa do surgimento das “cidades-dormitório” como é nítido no caso da metrópole de Fortaleza. Dentre eles, podem ser destacados os processos de conurbação e metropolização marcados pela expansão urbana de áreas com baixo dinamismo econômico, elevado crescimento populacional e que, ocupada por população de baixa renda residente em assentamentos precários. Há uma associação quase que imediata do processo de metropolização ao surgimento das “cidades-dormitório” baseado no modelo dicotômico marxista “centro-periferia”. Essas dinâmicas alteram a apropriação do espaço sob a óptica da contradição marxista na relação centro-periferia de modo a evidenciar novas centralidades. A dinâmica da chamada “flexibilização” local por parte das indústrias, no âmbito da divisão técnica e social do trabalho que separam a gestão da produção, favorece a formação de novas aglomerações e de outras centralidades. A linha de produção, ou planta fabril, transferida para a periferia atrai outros serviços a ela associada em redes, como empresas de sustentação – manutenção. Logo se inicia uma nova aglomeração redefinindo a centralidade, inclusive em relação aos bairros residenciais, pois há a necessidade de moradias para a força de trabalho que se concentrará nesses novos centros.
            Não queremos perder de vista que a geografia crítica, também chamada geocrítica, é uma corrente que propõe romper com a ideia de neutralidade científica para fazer da geografia uma ciência apta a elaborar uma crítica radical à sociedade capitalista pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da natureza. Nesse sentido, enfatiza a necessidade de engajamento político dos geógrafos e defende a diminuição das disparidades socioeconômicas e regionais. Essa corrente nasceu na França, em 1970, e depois na Alemanha, Brasil, Itália, Espanha, Suíça, México e outros países. A expressão foi criada na obra: “A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”, de Yves Lacoste. A produção geográfica anterior pregava a neutralidade e excluía os problemas sociais, devido à concepção de que enquanto tais não eram geográficos. Nesse sentido, a “geocrítica” tem significado, talvez, uma aproximação teórica e prática com movimentos sociais cujos discursos, práticas e reivindicações tenham um conteúdo político e ideológico de crítica social. Consequentemente, essa atitude reflete economicamente não só na demanda por moradia, mas também no processo de acumulação capitalista.
             Na formação dos novos assentamentos humanos, ou seja, do habitat urbano, como núcleos habitacionais em setores distantes do centro, ou então, na formação de condomínios fechados, elitistas, também distantes do centro e que são divulgados pelo apelo à qualidade de vida, novamente faz presente a questão do poder público, através do planejamento urbano. A instalação destes assentamentos urbanos em áreas equidistantes também necessita de altos investimentos públicos na esfera local e regional em infraestrutura como processos de comunicação em vias de circulação e transporte, e assim por diante, o que peremptoriamente contribuí para a especulação imobiliária já que a formação desses novos assentamentos em geral, é descontínua e historicamente determinada por investimentos em capital imobiliário. A exclusão social está presente no espaço urbano sendo facilmente identificado, por exemplo, no caso das moradias enquanto padrões de construção, núcleos habitacionais, condomínios, e outros, de modo a repercutir na diferenciação espacial. Os diferentes padrões de moradias representam a diferenciação de renda dos moradores além de outras variáveis como a especulação imobiliária e o próprio marketing urbano que intensificam esta questão de ordem social e política. 
     Neste contexto histórico ainda existem outras variáveis envolvidas às características socioeconômicas da exclusão que refletem na segregação. Na questão da exclusão – segregação merece ser lembrado o agravamento das questões sociais do mundo globalizado que dificultam o acesso da população a muitos serviços essenciais para manutenção e reprodução social da vida. Nota-se que no mundo globalizado o imediatismo e a rapidez não estão somente na tecnologia e na informação, mas também na exclusão que atinge diferentes parcelas da sociedade global de maneiras diferentes. Deste modo, a temática exclusão é presente nas sociedades em diferentes níveis, sendo que na forma de desigualdade social, está cada vez mais acentuada no mundo globalizado. Desemprego, pobreza, marginalidade, ganham maior expressão nesta dinâmica atual das sociedades globalizadas e abrange um cenário de desigualdade social permanente e praticamente em todos os lugares, em maior ou menor grau. Percebe-se que o processo de exclusão social pode propiciar o seu oposto, isto é, integração social, desde que considerando as particularidades, como também as diferentes variáveis que agem sobre a cidade. Deste modo, aspectos sócio-econômico-geográficos e, sobretudo as políticas urbanas são elementos particulares a serem considerados. A diferenciação espacial é explicitada na segregação urbana. A formação de novas centralidades tende a reforçar estas demandas sociais e políticas em complementaridade e oposição assimétrica. O Ministério Público do Estado do Ceará denunciou à Justiça o ex-secretário estadual do Turismo e atual prefeito de Aracati, Bismarck Maia Costa Lima, por suspeita de irregularidades na obra do Acquario Ceará. 
           O órgão pediu o sequestro dos bens e a quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex- secretário. O advogado de Bismarck Maia disse que ele só vai se pronunciar quando for notificado oficialmente pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. O projeto previa a construção de um equipamento turístico para exibição de 500 espécies marinhas na Praia de Iracema, em Fortaleza, mas, parada, a obra entrou na lista de ativos a serem privatizados. De acordo com o Procurador-Geral de Justiça Plácido Barroso Rios, o ex-secretário o ex-secretário contratou a obra sem licitação. - “O Ministério Público entende que o ex-secretário cometeu crimes ao não cumprir as regras para o gasto de dinheiro público e ao contratar sem licitação as empresas responsáveis pelo projeto e pela execução da obra”. O procurador afirma que houve “um simulacro” ainda no início da obra. - “Foi feito todo um simulacro de convênio com uma determinada fundação. Essa fundação por si só fez a contratação sem licitação de uma empresa. Essa empresa recebeu R$ 1,8 milhão para realizar o projeto arquitetônico”. Para o Ministério Público, o processo de licitação da obra desrespeitou a Lei 8. 666/93 e legislação correlata, com o intuito de favorecer a contratação direta de fornecedores, burlando a exigência de certâmen e expondo os cofres públicos a prejuízos. Segundo o governo do estado do Ceará, mais de R$ 146 milhões foram gastos em estrutura e equipamentos. - “Nós temos também que ter mecanismos para que possamos remediar os gastos de dinheiro público feitos desnecessariamente e feitos de forma criminosa”. 
            A obra, que já foi embargada por falta de licença ambiental, foi retomada e parou de vez em 2017, quando o governo decidiu privatizá-la. Esse processo de privatização continua em andamento. A previsão inicial era de que, em 2018, o empreendimento já estivesse funcionando com as 500 espécies marinhas. Mas a enorme estrutura de concreto hoje acumula apenas água da chuva. Com 75% da estrutura de concreto concluída, a parte de equipamentos para o Acquario é a que está mais atrasada e até agora somente 30% estão prontos. Após vários adiamentos, a previsão é que o equipamento fosse concluído em 2018. A estrutura gera descontentamento de moradores de um prédio próximo ao local, que reclamam que estão sendo prejudicados pela desvalorização dos imóveis. O projeto do Acquario foi lançado na gestão do ex-governador Cid Ferreira Gomes. O orçamento total da obra era previsto em US$ 150 milhões. Hoje em torno de R$ 483 milhões. Desde o início a construção, mal administrada pelo govenador Cid Gomes, criou polêmica e o Ministério Público Federal e Estadual entraram com ações na justiça pedindo a suspensão da obra, que chegou a ser paralisada por denúncia de irregularidade. Para o promotor José Filho, que questionou os custos da obra, a transferência do Acquario para a iniciativa privada foi uma decisão que veio tarde. - “O Governo do Estado do Ceará poderia, a exemplo do Rio de Janeiro, já ter passado isso para uma empresa privada e teria evitado todos esses despendes, todo esse furo nos cofres públicos de 43 milhões de dólares”.
 
Bibliografia geral consultada:
SACHS, Ignacy, Ecodesenvolvimento: Crescer sem Destruir. São Paulo: Editor Vértice, 1986; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora da UNESP, 1991; HUGHES, Howard Llewellyn, “Metropolitan Structure and the Suburban Hierarchy”. In: American Sociological Review. Volume 58, n° 3, 1993; pp. 417-433; BOURDIEU, Pierre (Coordenador), A Miséria do Mundo. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1997; LAGO, Luciana, Desigualdades e Segregação na Metrópole: O Rio de Janeiro em Tempo de Crise. Rio de Janeiro: Revan/Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipal, 2000; OJIMA, Ricardo; SILVA, Roberto Bonifácio e PEREIRA, Rafael Henrique Moraes, “A Mobilidade Pendular na Definição das Cidades-Dormitório: Caracterização Sociodemográfica e Novas Territorialidades no Contexto da Urbanização Brasileira”. In: Cadernos IPPUR/UFRJ – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vol. 21, n° 2, 2007; SANTOS, Luzia do Socorro Silva dos, A Tutela Jurídica do Equilíbrio Ambiental em Face do Pacto Federativo. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito.  São Paulo; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008; PIERRE ALVES, Costa, Duque de Caxias (RJ) - de Cidade Dormitório à Cidade do Refino do Petróleo: Um Estudo Econômico-Político do Início dos Anos 1950 ao Início dos anos 1970. Tese de Doutorado. Programa de Pòs-Graduação em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009; PORTELLA, Caio Sander Andrade, Avaliação a Durabilidade de Concretos Produzidos segundo a ABNT NBR 6118: 2007 Expostos aos Cloretos Disseminados em Névoa Salina na Praia do Futuro, em Fortaleza-CE. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Estruturas e Construção Civil. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013;  COELHO, Rebeca do Nascimento, Contextos de Participação Política de Mulheres: As Candidaturas das Prefeitas Maria Luíza Fontenele (1985) e Luizianne Lins (2004). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014; OUCHANA, Giselle, Justiça determina reintegração de Posse do Prédio do Flamengo, Arrendado por Eike Batista. In: O Globo, 09 de abril de 2015; entre outros.                      
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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