O
ponto de partida para a constituição do sujeito é o desejo, mas
não um desejo dirigido a uma coisa qualquer no mundo. O homem se torna humano
quando “deseja outro desejo”. Abre-se assim, ao homem, um novo espaço de
liberdade, que se manifesta antes de tudo como um desejo de reconhecimento e
produz uma luta de morte por puro prestígio – o ato fundante da história, o ato
antropogênico por excelência. Mas para que haja história, é preciso que haja
relação social entre homens vivos. A luta não pode terminar com a aniquilação
de um dos lados. Um deles, provavelmente, deve abdicar do combate, colocar a
liberdade acima de sua vida, fora da relação entre “senhor-escravo”. Nela se
concentrando outra atividade essencial ao projeto do homem: o trabalho
intelectual como princípio de liberdade. A dialeticidade que assim se
estabelece é um dos pontos culminantes do pensamento humano em todas as épocas,
e sua conclusão é surpreendente e magistral: o homem integral, livre,
satisfeito com o que é; o homem que se aperfeiçoa, não é o senhor nem o
escravo, mas o que consegue suprimir sua sujeição.
Na
linguagem teórica, academicamente entendemos que as palavras e expressões
funcionam como representação de conceitos teóricos, mas em sua periodização
histórica as palavras e expressões funcionam sempre de forma distinta, porque
se referem a concepção pontual de uma teoria da história. A dificuldade própria
da terminologia teórica consiste, pois, neste sentido em que, por detrás do
significado usual da palavra, é preciso sempre discernir o seu significado
conceptual, que é sempre diferente do significado usual empírico e casual
contido na representação das fontes, nas atas, nos documentos oficiais etc. Na
sua significação mais geral deve nos permitir a compreensão histórica e
sociológica que tem por efeito social o conhecimento de um objeto: a narrativa
da história. É assim que a história abstrata ou a história em geral não
existem, no sentido exato do termo, mas apenas a história real, ou “como
efetivamente ocorreu, desses objetos que enformam a
experiência acumulada da humanidade.
A
determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o
Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida.
Chama-se idealidade, idealização, precisamente esta supressão da exterioridade.
Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução
da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua
faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até
esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as
coisas, enquanto pensamento filosófico, isto é, como seu princípio universal, a
ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Portanto, que o espírito
finito dialeticamente segue um passo a passo e se encontra inicialmente numa
união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e finalmente em
identidade com esta, porque suprimiu/subsumiu a oposição e voltou a si mesmo e, per se, o espírito finito é a ideia, que girou sobre si mesma e que
existe por si em sua realidade.
Todo
conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência,
inclusive toda atividade prática, não possui nenhum outro interesse além do
aquilo que “é em si”, no interior, manifestar-se desde si mesmo, produzir-se,
transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na
história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade
é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do
homem. O europeu sabe de si, é objeto de si mesmo. A determinação que ele
conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera
a liberdade como sua substância. Se os homens “falam mal de conhecer é porque
não sabem o que fazem”. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer
próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe
que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas
somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência.
Esta é a única diferença da existência (Existenz), a diferença do
separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre
somente enquanto existo como livre.
A
palavra flanelinha já foi incorporada no cotidiano das pessoas,
principalmente nos centros metropolitanos. Segundo o quase sempre citado
dicionário Aurélio, “flanelinha” é a expressão usada para designar o “guardador
informal”. O mesmo léxico, define a palavra guardador da seguinte forma:
“Indivíduo que vigia para os respectivos donos os automóveis estacionados nas
ruas, recebendo, em troca, gorjetas do público ou remuneração do Departamento
de Trânsito”. Dessa forma, dicionarizado
pelo Aurélio, “o flanelinha é aquele que exerce a atividade de guardador
em desacordo com as formalidades legais”. E, claro, no dicionário de língua
portuguesa do lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss que também já incorporou o
vocábulo dentre seus conceitos literários, como “guardador de automóveis
clandestino das ruas das grandes cidades”.
Flanelinha
é o apelido dado “a um indivíduo geralmente não regulamentado”. É uma figura de
linguagem que consiste no emprego de um termo por outro. Sem norma que se
utiliza da apropriação do outro para conseguir remuneração pelos serviços
prestados no estacionamento. Na limpeza ou na proteção da mercadoria automóvel
estacionado irregularmente em local público. O nome “flanelinha” vem do uso de
uma flanela para limpar os vidros dos automóveis. A profissão é aceita
legalmente apenas nas cidades de Belo Horizonte, São Luís e Brasília, “onde o
trabalho somente será remunerado mediante consentimento do motorista”. Atuar
como “flanelinha”, de acordo com a lei brasileira, pode constituir uma
“contravenção” - exercício ilegal de profissão, dificilmente por ser
regulamentada. – “Atuação de flanelinhas não é fiscalizada pelo poder público”
(cf. Jornal O Povo, 11.08.2014).
No
Brasil, a lei que a Constituição Federal de 1988 determinou que fosse
criada para regulamentar determinada matéria denomina-se “complementar”, e
exige quórum qualificado, em oposição à lei ordinária, que de tal prescinde.
Sabemos que nem todas as leis complementares no Brasil, como se pensa talvez
erroneamente, destinam-se a complementar diretamente o texto constitucional.
Pois o constituinte, originário ou reformador, reserva a leis complementares
matérias de especial importância ou matérias polêmicas, para cuja disciplina
seja desejável e recomendável a obtenção de um maior consenso entre os
parlamentares. Segundo o STF - Supremo Tribunal Federal, quando uma lei ordinária
for aprovada com quórum suficiente de lei complementar, não haverá
inconstitucionalidade. Neste caso esta lei ordinária regula matéria própria de
lei complementar. Em sendo assim, entende-se politicamente o quórum qualificado
de maioria absoluta, dado este que supre a constitucionalidade da matéria em
pauta.
Ao considerarmos exemplos de jogos de linguagem alternativos – o vocabulário da antiga política ateniense versus o de Jefferson, o vocabulário moral de São Paulo versus o de Freud, o jargão de Newton versus o de Aristóteles, o idioma de Blake versus o de Dryden -, é difícil pensar que o mundo toma um deles melhor do que o outro decide entre eles. Quando a ideia de descrição do mundo se desloca do nível de frases regidas por critérios em jogos de linguagem para os jogos de linguagem completos, jogos entre os quais não escolhemos com referência a critérios, a ideia de que o mundo decide quais são as descrições verdadeiras já não pode ter sentido claro. Torna-se difícil pensar que, de algum modo, esse vocabulário já existia no mundo, à espera que os descubramos”.
Há
cerca de duzentos anos, a ideia de que a verdade era produzida, e não
descoberta começou a tomar conta do imaginário individual (o sonho) e coletivo
(os mitos, os ritos, os símbolos) europeu. O precedente estabelecido pelos
românticos conferiu a seu pleito uma plausibilidade inicial. O papel efetivo de
romances, poemas, peças teatrais, quadros, estátuas e prédios no movimento
social dos últimos 150 anos deu-lhe uma plausibilidade ainda maior, obtendo
legitimidade, já que as “ideias adquirem
força na história”. Alguns filósofos inclinaram-se ao iluminismo e
continuaram a se identificar com a ciência. Eles veem a antiga luta entre a
ciência e a religião, a razão e a irracionalidade, como um processo em
andamento que assumiu a forma de luta entre a razão e todas as mediações
intraculturais que pensam na verdade constituída e não encontrada. Esses
filósofos consideram que a ciência é a atividade paradigmática e insistem que a
ciência natural descobre a verdade, ao invés de cria-la.
Encaram
a expressão “criar a verdade” como meramente metafórica e totalmente enganosa.
Pensam na política e na arte como esferas em que a ideia de “verdade” fica
deslocada. Outros filósofos, percebendo que o mundo descrito pelas ciências
físicas não ensina nenhuma lição moral e não oferece conforto espiritual,
concluíram que a ciência não passa de uma serva da tecnologia. Esses filósofos
alinham-se com o utopista político e com o artista inovador. Os primeiros
contrastam a “realidade científica concreta” com o “subjetivo” ou o
“metafórico”, os segundos veem a ciência como mais uma das atividades humanas,
e não como o lugar em que os seres humanos
deparam com uma realidade não humana “concreta”. De acordo com essa
visão, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para o
objetivo de prever e controlar o que acontece, assim como os poetas e os
pensadores políticos inventam outras descrições do mundo para outros fins. Não
há sentido algum, porém, em que qualquer dessas descrições seja uma
representação exata de como é o mundo em si. Esses filósofos consideram inútil
a própria ideia dessa representação, consignando uma verdade de categoria
fenomênica, como uma descrição do espírito ainda não plenamente cônscio de sua
natureza espiritual (dialética) e, elevar ao tipo de verdade oferecida pelo
poeta e pelo revolucionário político.
O
idealismo alemão, porém, representou uma solução de compromisso pouco duradoura
e insatisfatória. É que Kant e Hegel fizeram apenas concessões parciais em seu
repúdio à ideia de que a verdade está “dada”. Dispusera-se a ver o mundo da
ciência empírica como um mundo “fabricado” – a ver a matéria como algo
construído pela mente, ou como feita de uma mente insuficientemente cônscia de
seu próprio caráter mental -, mas persistiram em ver a mente, o espírito, as
profundezas do eu como dotados de uma natureza intrínseca – uma natureza que se
poderia conhecer por uma espécie de superciência não empírica, chamada de
filosofia. Isso significava que apenas metade da verdade – a metade científica
inferior – era produzida. A verdade superior, a verdade sobre a mente, seara da
filosofia, ainda era uma questão de descoberta, não de criação. Richard Rorty
precisa sua tese de distinção entre a afirmação de que o mundo está dado e a de
que a verdade dada, equivale a dizer, com bom senso, que a maioria das coisas
no espaço e no tempo, é efeito de causas que não incluem os estados mentais
humanos. Dizer que a verdade não está dada é dizer que, onde não há frases, não
há verdade. E que as frases são componentes das línguas humanas, e que as
línguas humanas são criações humanas. Só as descrições podem ser “verdadeiras”
ou “falsas” - sem o auxílio das atividades descritivas dos seres humanos - não
pode sê-lo. Em filosofia e lógica, a contingência enquanto representação da
realidade é o modo de ser daquilo que não é necessário nem impossível.
É
bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua
verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para lembrarmos de
Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com
efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se
da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade,
como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como
individualidade pensante, captar o mundo vivo como um “sistema de pensamento”;
teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um
conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom,
e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso
não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a
consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito enquanto
abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo
nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando
pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito
determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui
nele.
Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.
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