terça-feira, 2 de junho de 2015

Editoras Universitárias – Ciência, Técnica & Utilidade de Uso.

Ubiracy de Souza Braga*

O negócio do livro é igual a outro qualquer na área do consumo e varejo”. Milton M. Assumpção Filho

As editoras universitárias surgiram para publicar manuscritos guardados em suas bibliotecas, disseminar a produção intelectual de pesquisa de suas instituições e produzir livros-textos para consumo de seus alunos. Respectivamente, seriam os antepassados das editoras universitárias e dos fotocopiadores e papelarias. Filipe IV, o Belo (1268-1314) foi rei da França de 1285 a 1299. Conseguiu eleger um papa francês que transferiu o Estado Papal de Roma para Avignon, na França. Filipe IV, o Belo nasceu no Palácio de Fontainebleau, França, no ano de 1268. Em 1284, com 16 anos, Filipe casa-se com Joana I de Navarra, herdeira do rei Henrique I de Navarra e de Branca de Artois. Com o casamento e o dote, Filipe aumentou a extensão de seus domínios, que passaram a incluir Navarra, Champagne, Brie, Marche, Angoumois e o Franco-Condado. Filipe IV, o Belo tornou-se rei da França com 17 anos, em 5 de outubro de 1285, com a morte de seu pai Filipe III, o Audaz. Foi coroado na Catedral de Reims, com sua esposa, em 6 de janeiro de 1286. Foi o nono rei da dinastia dos “Capetíngios” que ocupou o trono da França por 340 anos de 987 a 1328. Era neto de Luís IX,  o grande rei da França.             

Sob seu reinado, em quase trinta anos, a França consolidou suas fronteiras. Em homenagem à avó, Filipe conseguiu do papa a maior das honrarias – Bonifácio VIII tinha feito dele um santo, São Luís da França. Durante os primeiros anos de reinado, Filipe IV intensificou os esforços para racionalizar a administração, mas em 1294, em sua política de expansão, empreendeu uma guerra que expulsou os ingleses do condado de Guyenne. Em 1307 isentou os librarii universitatis da França de pagar impostos, começando neste ínterim a treta no âmbito de formação do mercado de livro entre as editoras e os recompiladores. Com a invenção da imprensa com tipos móveis, as universidades começaram empregar o conhecimento dos filólogos renascentistas para fixar textos e reproduzir seus títulos mais procurados das bibliotecas. Em 1470 o reitor Johann Hynlin e o professor de retórica Guillaume Fichet da Universidade de Paris contrataram os tipógrafos alemães Ulrich Gering, Michel Freiburger e Martin Krants para atender suas necessidades editoriais. Instalados na margem do Sena, a imprensa universitária publicaria a obra epistolar de Gasparin de Bergame. Os egipcios escreveram epístolas, a maioria das vezes por razões pedagógicas.   

                               

Vídeo do The Telegraph como funciona o processo de impressão de uma obra literária. Em 1470 foi instalada em Paris, perto da Universidade da Sorbonne, a primeira oficina de tipografia francesa. Os primeiros livros editados na Sorbonne vieram do prelo de Ulrich Gering, que foi aconselhado por Fichet e Heynlin em 1470-1472. Até 1477, Gering, Crantz e Friburger tinham imprimido cerca de 50 títulos de incunábulos. A partir de 1477, Gering continuou a imprimir por conta própria, associando-se por vezes a G. Maynyal, B. Rembolt e a outros. Imprimiram um total de 100 incunábulos. Ulrich Gering ativo como impressor em Paris de (c. 1470 a 1508 – 23 de agosto de 1510) veio de Beromünster na diocese de Constança. Ele foi um dos três sócios a estabelecer a primeira prensa tipográfica na França. Convidado a Paris em 1469 pelo Reitor da Sorbonne, Johann Heynlin, e seu colega Guillaume Fichet, Gering junto com Michael Friburger e Martin Crantz montaram uma tipografia dentro da Sorbonne para produzir textos selecionados e editados por seus patronos. A imprensa produziu 22 obras entre 1470 e 1472. No final de 1472, esse empreendimento subsidiado chegou ao fim e os três impressores deixaram a Sorbonne para se instalar por conta própria no sinal do Soleil d`Or na rue Saint Jacques, em Paris. A parceria terminou em 1477, após o que Gering continuou a imprimir por conta própria, mudando-se em 1483 para a rue de Sorbonne no mesmo sinal. Entre 1484 e 1494 livros impressos no Soleil d`Or trazem os nomes de Jean Higman (1484-1489) e George Wolf (1490-1492). Gering realiza parceria com Berthold Rembolt de 1494 a 1508, após o qual Rembolt trabalhou sozinho.                     

O sucesso comercial e a posição privilegiada da imprensa na Sorbonne serviram como centro difusor dessa tecnologia. A mais antiga editora universitária em contínua operação é a Cambridge University Press, autorizada por Henrique VIII em 1534. Outra publicadora universitária inglesa, a Oxford University Press começou a operar por volta de 1480, mas só no século XVII ganhou o estatuto de editora. A Oxford University Press possui receita maior que a Cambridge University Press e todas as editoras universitárias norte-americanas juntas.  Nos Estados Unidos da América Daniel Coit Gilman, o primeiro reitor da Universidade John Hopkins, percebeu que além de ensino e pesquisa, a universidade deveria ter um meio social de comunicação institucional para irradiar sua produção acadêmica. Consequentemente, fundou a John Hopkins University Press em 1878. Na mesma linha de pensamento, William Rainey Harper, reitor da Universidade de Chicago criou sua editora universitária como uma das três divisões básicas da instituição em 1891.

Os limites entre uma ação com sentido e um comportamento reativo não relacionado com um sentido visado pelo agente, são inteiramente fluidos. Uma parte muito importante de todo comportamento sociologicamente relevante, especialmente a ação puramente tradicional, situa-se na fronteira entre ambos. Em alguns casos de processos psicofísicos não temos ações com sentido, isto é, compreensíveis e, em outros, estes somente existem para os especialistas; processos místicos e, por isso, não comunicáveis adequadamente em palavras não podem ser compreendidos plenamente pelos que não tenham acesso a esse tipo de experiências. Por outro lado, não é pressuposto para a compreensibilidade de uma ação a capacidade de produzir, com os próprios recursos, uma ação análoga. - “Não é preciso ser César para compreender César”. A possibilidade de “reviver” completamente a ação é importante para a evidência da compreensão, mas não é condição absoluta para a interpretação do sentido. Componentes compreensíveis e não compreensíveis de um processo estão muitas vezes misturados e relacionados entre si. Toda interpretação, como toda ciência em geral, pretende alcançar “evidência” da compreensão pode ser de caráter: a) racional (e, neste caso, ou lógico ou matemático), ou b) intuitivamente (emocional, receptivo artístico). No domínio da ação, é racionalmente evidente, antes de mais nada, o que se compreende intelectualmente, de modo cabal e transparente, em sua conexão de sentido visada.

Intuitivamente evidente, no caso da ação, é o que se revive plenamente em sua conexão emocional experimentada. Racionalmente compreensíveis, isto é, neste caso, direta e inequivocamente apreensível em seu sentido intelectual, são principalmente, e em grau máximo, as conexões de sentido que que se encontram na relação de proposições matemáticas entre si. Compreendemos inequivocamente o que significa, quanto ao sentido, quando alguém utiliza, pensando ou argumentando, a proposição estabelecida pelo teorema de Pitágoras ou quando extrai uma cadeia de conclusões lógicas de maneira correta. O mesmo ocorre quando ele, partindo de “fatos da experiência” que consideramos “conhecidos” e de finalidades dadas, tira em sua ação as consequências que consideramos conhecidos e de finalidades dadas, tira em sua ação as consequências daí inequivocamente resultantes relativas à espécie de meios a ser empregados. Toda interpretação de uma ação desse tipo, racionalmente orientada por um fim, possui – quanto à compreensão dos meios empregados, um grau máximo de evidência. Com menor grau de evidência, mas suficiente para nossas evidências de explicação, compreendemos também aqueles “erros” (“arredamento de problemas) nos quais poderíamos incorrer pela realidade vivida ou de cuja formação podemos ter a experiência intuitiva.

Ao contrário, muitas vezes não conseguimos compreender, com plena evidência, alguns dos “fins” últimos e “valores” pelos quais podem orientar-se, segundo a experiência, as ações sociais de uma pessoa; eventualmente conseguimos apreendê-lo intelectualmente, mas, quanto mais divergem de nossos próprios valores últimos, tanto mais dificuldade encontramos em torna-lo compreensíveis por uma revivência mediante a imaginação intuitiva. Nessas condições, temos de contentar-nos, conforme o caso, com sua interpretação exclusivamente intelectual, ou, eventualmente, quando até esta falha, aceita-los simplesmente como dados.  Trata-se, neste caso, de tornar inteligível para nós o desenrolar da ação por eles motivadas, a partir de seus pontos de orientação interpretados intelectualmente na medida do possível, intuitivamente revividos, na maior aproximação possível. A esta classe pertencem, por exemplo, muitas ações virtuosas, religiosas e caritativas para quem é insensível a elas, do mesmo modo que muitos fanatismos de extremo racionalismo (“diretos humanos”) para quem, por sua vez, se aborrece radicalmente desses pontos de orientação. Impulsos afetivos (medo, cólera, ambição, inveja, ciúme, amor, entusiasmo, orgulho, sede de vingança, piedade, dedicação, apetências de toda espécie) e as reações irracionais (do ponto de vista da ação racional, orientada por um fim) que deles resultam podem ser revividos por nós emocionalmente e com tanto mais evidência quanto mais suscetíveis sejamos a esse mesmos afetos, em todo caso, porém, mesmo que ultrapassem absolutamente por sua intensidade nossas próprias possibilidades, conseguimos compreendê-los intuitivamente e avaliar intelectualmente seus efeitos sobre a orientação e os meios da ação.

Para a consideração científica que se ocupa com a construção de tipos, todas as conexões de sentido irracionais do comportamento afetivamente condicionadas e que influem sobre a ação são investigadas e expostas, de maneira mais clara, segundo Max Weber (2012), como “desvios” de um curso construído dessa ação, no qual ela é orientada de maneira puramente racional pelo seu fim. Na explicação de um “pânico financeiro”, por exemplo, é conveniente averiguar primeiro como se teria processado a ação sem influências de afetos irracionais, para registrar depois aqueles componentes irracionais como “perturbações”. Do mesmo modo, comparativamente quando se teria uma ação seja política ou militar, é conveniente verificar primeiro como se teria desenrolado a ação caso se tivesse conhecimento de todas as circunstâncias podem ocorrer e as intenções dos protagonistas e a escolha dos meios ocorresse de maneira estritamente racional orientada pelo fim, conforme a experiência que considerada válida.

Somente esse procedimento abstrato possibilitará a imputação causal dos desvios às irracionalidades que os condicionam. Em virtude de sua compreensibilidade evidente e de sua inequivocabilidade – ligada à racionalidade -, a construção de uma ação orientada pelo fim de maneira estritamente racional serve, nesses casos à Sociologia como tipo (“tipo ideal”). Permite compreender a ação real, influenciada por irracionalidades de toda espécie (afetos, erros), como “desvio” do desenrolar a ser esperado no caso de um comportamento puramente racional. Nessa medida, e somente por esse motivo de conveniência metodológica, o método da Sociologia “Compreensiva” é “racionalista”. No entanto, é claro que esse procedimento não deve ser interpretado como preconceito racionalista da questão da utilidade de uso conceitual ou pragmático na Sociologia, mas apenas como recurso metodológico. Não se pode, portanto, imputar-lhe a crença em uma predominância efetiva do racional per se sobre a vida. Pois anda pretende dizer em que na realidade ponderações racionais da relação entre meios e fins determinam ou não as ações efetivas. Não se pode negar, de modo algum, o perigo de interpretações racionalistas no lugar errado. Toda a experiência confirma, infelizmente, sua existência.   

Historicamente o Scriptorium representa o lugar onde os livros manuscritos eram produzidos na Europa durante a Idade Média. Ainda é incerta a origem dessa acepção da palavra e se sabe que diferentes usos foram dados para o termo: ele chegou a designar as ferramentas de escrita, o local de produção, o conjunto de uma obra, uma coleção de livros de algum monastério, o que demonstrava enquanto meio de produção e processo de trabalho sua proximidade com as bibliotecas, ou ainda mesas de trabalho associadas à atividade escriturária. Até meados do século XI, os scriptoria, enquanto espaços de produção livreira, eram encontrados dentro das catedrais e monastérios. Acredita-se que apenas as instituições que contavam com boas condições materiais poderiam ter um número suficiente de monges ou freiras empenhados na escrita, de tal forma que trabalhos necessários para a sobrevivência da instituição monástica, como a agricultura e a criação de animais, não fossem prejudicados por falta de pessoas. A partir do renascimento do século XII, com o desenvolvimento do ambiente e o surgimento das universidades, as instituições eclesiásticas de conhecimento foram descentralizadas.

No mesmo período, catedrais, abadias e conventos passaram a compartilhar um importante processo de comunicação e de trabalho tendo como objetivo protagonismo na produção manuscrita com ambientes laicos ou corteses. Isso ocorre na Península Ibérica, quando Afonso I de Portugal e Afonso X de Leão e Castela contavam com equipes de amanuenses que trabalhavam para coordenar, pela palavra escrita, os projetos políticos e culturais dos respectivos reinos. Para que os amanuenses pudessem escrever eram necessárias diversas ferramentas e produtos: a pedra-pomes, que servia para polir o pergaminho; as penas, que serviam como ferramenta para escrever; e as tintas, que deixavam as marcas da escrita sobre os pergaminhos. As etapas da produção do livro na Idade Média iam desde a criação de animais para retirada do couro, que passaria por diversos procedimentos até virar um pergaminho, intervenções que o transformariam apropriado para a escrita. As tintas também deveriam ser produzidas.

 Depois que as tintas, a pena e o pergaminho estivessem prontos, um ou mais copistas poderiam trabalhar na escrita de um manuscrito. A produção era coordenada por algum monge ou freira, chamados geralmente de bibliotecários, pois teriam acesso à biblioteca e escolheriam os livros a serem copiados. As produções ainda deveriam contar com um copista, que escrevia e delimitava os espaços destinados à escrita, às iluminuras, miniaturas e rubricas. Esta cadeia de produção dos manuscritos, junto ao urbanismo e associado à cultura a partir do século XII, passou por transformações que a integraram no mercado do livro, ligado à criação e comércio do pergaminho. A partir do século XIII, o mercado do livro integrado nas rotas de comércio faz circular desde o mundo muçulmano a invenção chinesa do papel mais barato com uma produção menos penosa.

Nos scriptoria, trabalhavam monges e freiras copistas, alguns dos quais ficaram conhecidos por conta de seus trabalhos e são estudados e recuperados nos dias de hoje. Atualmente, nomes como Florêncio de Valeranica, Herrard de Landsberg e Cristina de Pisano são considerados artistas por conta de seus trabalhos como iluminadores, compiladores e escritores de manuscritos no medievo. Porém, nem só de lindas obras e reconhecimento viviam os amanuenses: os erros que cometiam, em razão do penoso trabalho, aliados a diversos outros motivos sociais, rondavam aqueles que trabalhavam escrevendo. Estes erros, inclusive, foram considerados como obra de um demônio conhecido como Titivillus, que assombrava os copistas, induzindo-os a erros que, por vezes, eram bastante embaraçosos. Os scriptoria desenvolveram-se até chegarem aos locais de produção dos mais diversos produtos feitos em conjunto, como é o caso dos ateliês, onde uma ou mais pessoas organizavam a produção de manufaturados, como pinturas e obras de arte. Também há menções aos scriptoria na cultura popular: filmes, seriados e animações se inspiram nos mistérios dos scriptoria, tal sua importância para o acesso atual ao conhecimento escrito dos tempos mais antigos da história.

Inspiradas na University of Chicago Press, outras instituições fundaram suas próprias casas publicadoras. Nos Estados Unidos a maioria das editoras com nomes vinculados às universidades operam em total autonomia, praticamente sob licenciamento dessas instituições. As editoras universitárias surgiram para publicar manuscritos guardados em suas bibliotecas, disseminar a produção intelectual de suas instituições e produzir livros-textos para seus alunos. A produção de livros técnicos, científicos e educacionais nasceu quase que contemporaneamente à universidade como instituição. Antes, as escolas catedrais e monásticas utilizavam-se dos trabalhos dos monges copistas, mas com o surgimento das universidades como organizações separadas, demandou-se a produção de livros. Nasceram assim escritórios de librarius, copistas nas bibliotecas universitárias, e os stationarius, copistas particulares que alugavam ou copiavam partes de livros (pécias) para os estudantes além de vender cadernos e materiais de escrita. No Brasil no século XIX a Imprensa Régia e outras tipografias produziam livros acadêmicos no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife. Mas somente no final do século XX se estabeleceram editoras universitárias. A editora da Universidade Federal de Pernambuco é considerada a mais antiga do Brasil, muito embora o início de suas atividades em 1955 tenha sido como Imprensa Universitária da Universidade Federal do Recife, passando a ser editora em 1968.  

Em depoimento sobre a questão da leitura e da formação do mercado do livro no Brasil Milton M. Assumpção Filho afirma o seguinte: - “Há alguns dias, em um encontro informal com amigos, um deles me perguntou como era o negócio dos livros aqui no Brasil. A primeira reação foi de responder simplesmente que era muito difícil. Que os brasileiros não leem habitualmente e, com frequência, reclamam do preço e não têm tempo para ler. Preferi responder-lhe pela visão do marketing. Livro é um produto de consumo como outro qualquer, mas que não é prioridade na mesa dos brasileiros. Apesar de toda aura de produto especial, nobre, diferenciado, se [nós] encararmos pela visão do marketing, é produto de consumo como outro qualquer vendido em supermercado”.     
O crescimento, entretanto, e a aceitação foram impressionantes, e em 1974, incluíram fascículos sobre filosofia, na Coleção Os Pensadores, dos quais eram vendidos 100.000 exemplares por semana. Em 1982, foram lançados Os Economistas, incluindo 20 títulos que nunca haviam sido publicados em português. Na “Coleção Globo” da Livraria do Globo, no início dos anos 1930, foram lançados 24 títulos, inclusive clássicos, aventuras e policiais. Em 1942, Bertaso iniciou a Coleção Tucano, com André Gide, Thomas Mann, e outros. Em 1944, houve a Coleção Saraiva de clássicos brasileiros. Na década de 1960, a Globo lançou a Coleção Catavento. Houve tentativas de distribuição em bancas de jornal e em quiosques de aeroportos. Em 1963, constitui-se a Editora Monterrey, para produzir em formato de livro de bolso. O exemplo de maior qualidade ocorreu com a Tecnoprint Gráfica, que adotou, posteriormente, a famosa marca editorial Edições de Ouro. Na década de 1960, surgiu a Dominus Editora S/A (DESA), com edições de bolso e a radiante Livraria José Olympio Editora lançou a “Sagarana”, com reimpressões em pequeno formato. 
Em 1970, a Editora Bruguera, subsidiária brasileira da Francisco Bruguera, da Argentina, publicou uma coleção de bolso de ficção estrangeira e nacional, constituindo-se a maioria em domínio público. A Editora Artenova também teve experiências com livro de bolso. Em fins de 1971, a Editora Edibolso iniciou sua démarche com apenas 14 títulos e em fins de 1977 já lançara quase uma centena de livros de bolso. Algumas das coleções de bolso mais reconhecidas comercialmente são das editoras L&PM e Martin Claret. A Editora Martin Claret é uma editora brasileira fundada na década de 1970 pelo jornalista gaúcho Martin Claret. Martin Claret é um empresário, editor e jornalista brasileiro. Nasceu na cidade de Ijuí, Rio Grande do Sul. Presta consultoria a entidades genuinamente culturais e ecológicas. Na indústria do livro inovou, criando o conceito do livro-clipping. É herdeiro universal da obra literária do filósofo, teólogo e educador brasileiro Huberto Rohden (1893-1981). É especializada em coleções de obras clássicas, internacionais e nacionais, lançadas em versões de bolso, sendo a sua série de livros mais amplamente reconhecida, como a coleção A Obra-Prima de Cada Autor.

Ao contrário da ideologia veiculada pela chamada indústria cultural que obedece à lei da concorrência para a conquista do mercado, o campo de produção erudita tende a produzir ele mesmo suas normas de produção e os critérios de avaliação de seus produtos, dado a concorrência pelo reconhecimento propriamente cultural concedido pelo grupo social a que são estão organicamente vinculados. Pelo poder de que dispõe para definir as normas de produção e os critérios de avaliação de seus produtos, o campo de produção erudita funciona como uma “arena fechada” de uma concorrência pela legitimidade cultural. Nesse sentido, há uma tendência cada vez maior da crítica, em se distanciar do público e fornecer uma interpretação criativa a partir de seus valores de uso. Por meio de suas interpretações de expert e de suas leituras inspiradas na crítica analítica garante a inteligibilidade de obras fadadas a permanecerem inteligíveis para os “não integrados” ao campo dos produtores. Constituindo-se, “sociedades de admiração mútua” que busca auxiliar, geralmente com empréstimos ou diversos modos experimentais de apoio, os membros que dela fazem parte ou que para ela contribuíram compartilhando uma relação de solidariedade entre o artista e o crítico.
Todo ato de produção cultural objetiva a afirmação de sua pretensa legitimidade cultural. Quando os diferentes produtores se defrontam, a competição se desenvolve em nome de sua pretensão à ortodoxia, ou então, para falar nos termos de Weber, ao monopólio da manipulação legítima de uma classe determinada de bens simbólicos. Quanto mais o campo estiver em condições de funcionar como o campo de uma competição pela legitimidade cultural, tanto mais a produção pode e deve orientar-se para a busca de distinções culturalmente pertinentes, isto é, busca dos temas, técnicas e estilos dotados de valor. Deste modo, é a própria lei do campo, que envolve os intelectuais e os artistas na dialética da distinção cultural, que impõe os limites no interior dos quais tal busca pode exercer legitimamente sua ação. No entanto, em geral a comunidade intelectual e artística erudita para afirmar a existência de sua própria autonomia da ordem cultural condena, por assim dizer, quaisquer recursos tecnicamente montados com procedimentos de distinção não reconhecidos e assim imediatamente desvalorizados como meros artifícios compactuados na esfera social da vida política. Le livres jaunes (Os livros amarelos) de Vincent Van Gogh, 1888. 
 Um caso conspícuo no âmbito universitário diz respeito à trajetória de pouco mais de 50 anos de trabalho que pode ser contada e observada de diversos pontos de vista. Esse é o caso da história da Edusp – Editora da Universidade de São Paulo – uma das maiores e mais importantes editoras universitárias do País. Fundada em 1962, a Edusp concorreu no mercado de livros como uma coeditora até 1988, emprestando seu nome e talento acadêmico a outras editoras. Neste formato, foram produzidos aproximadamente 1.800 títulos que formavam um acervo de livraria, já que a editora só possuía o livro enquanto objeto físico. A mudança começa na gestão do professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, João Alexandre Barbosa, que iniciou uma reformulação da editora apoiada pela vontade de mudança do reitor  José Goldemberg. A partir desse momento, fim da década de 1980, a Edusp passa a selecionar as produções de maior qualidade da Universidade e expô-las ao público, por meio da produção e comercialização de livros dentro e fora da universidade. Sendo, de fato, uma editora universitária, sem um best-seller ou livros com fortes apelos comerciais, produzindo um catálogo acadêmico cuidadosamente selecionado como “o negócio do livro é igual a outro qualquer na área do consumo e varejo”.
Embora focalize uma atenção específica à produção científica da própria Universidade, publicando obras de célebres especialistas de diversas áreas do conhecimento, a editora não deixa de dar espaço para obras consagradas, clássicas ou contemporâneas, cuja publicação vem acompanhada de traduções minuciosas e em edições críticas. Um dos grandes frutos desse trabalho reside nos 65 Prêmios Jabuti de Literatura, importante prêmio conferido pela Câmara Brasileira do Livro, dados à Edusp ao longo dos anos” (cf. Revista Espaço Aberto, edição 144, nov. 2012).
   Recentemente a Editora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) inovou seu catálogo editorial com o lançamento da coleção Ciência e Cidadania, composta por seis obras dirigidas ao público infanto-juvenil. Desde então, a categoria passou a compor o catálogo da editora ao lado de importantes obras de Antropologia, Ciências Humanas, Economia e Linguística. O episódio, aparentemente sem relevância, foi visto como uma afronta para o anacronismo coletivo das editoras comerciais. Serviu como prova real das condições propícias - e já não sem tempo, para a abertura de mercado e concorrência exercida pelas editoras universitárias no Brasil. O episódio ocorrido com a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho é apenas um dos muitos citados pelas editoras comerciais como abusivos, visto tal exclusividade de mercado literário, sem concorrência da pesquisa científica, artística e filosófica. Criticadas por terem perdido sua “função” original - publicar apenas obras sem viabilidade mercadológica -, a atuação das editoras universitárias é um dos pontos mais controversos do mercado editorial brasileiro. – “As universitárias nasceram em função de um projeto intelectual muito importante, mas foram se desvirtuando. Atualmente, elas concorrem principalmente com os editores particulares que trabalham com a literatura intelectual”, analisa o aspecto privatista da questão do saber, o diretor-presidente da Editora Perspectiva, Jacó Guinsburg.         
Agora o texto não provém mais de uma tradição. É imposto pela geração de uma tecnocracia produtivista. Não se trata mais de um livro de referência, mas de toda a sociedade feita texto, feita escritura da lei anônima da produção. Para Michel de Certeau, esta mutação torna o texto habitável, à maneira de um apartamento alugado, pois a esta arte de leitores conviria comparar outras. Por exemplo, a arte de conversar: as retóricas da conversa ordinária são práticas transformadoras que ele considera, “de situações de palavra”, de produções verbais onde o entrelaçamento das posições locutoras instaura um tecido oral sem proprietários individuais, as criações de uma comunicação que não pertence a ninguém. A conversa é um efeito provisório e coletivo de competências na arte de manipular lugares comuns e jogar com o inevitável dos acontecimentos para torná-los habitáveis.
            Os usuários dos códigos sociais os transformam em metáforas e eclipses de suas caçadas. Nos relatos de “apartamento” ou de “rua” as manipulações de espaço ou “percursos” levam a melhor. Na maioria das vezes, essa forma de descritores determina o estilo inteiro da narração. Quando intervém a outra forma, ela tem como valor ou ser condicionada ou suposta pela primeira. Nos dois casos um fazer permite um ver. Mas há também casos em que um percurso supõe uma indicação de lugar. A cadeia das operações espacializante parece toda pontilhada de referências ao que produz uma representação de lugares ou ao que implica uma ordem local. Tem-se assim a estrutura do relato de viagem, histórias de caminhadas e gestas que são marcadas pela “citação” dos lugares que resulta ou que as autoridades simbólicas preconizam preconceitos.  Dois pesos e duas medidas bem equilibradas. Os relatos antropológicos efetuam um trabalho que, seguindo a etnografia extraordinária de Michel de Certeau, incessantemente, transforma “lugares em espaços” ou “espaços em lugares”.
Organizam também os “jogos” das relações sociais mutáveis que uns mantêm com os outros. São inúmeros esses jogos, num leque se estende desde a implantação de uma ordem imóvel e quase mineralógica até a sucessividade acelerada das ações multiplicadoras de espaços populares, no âmbito das representações da vida. Mas esse “frenesi espacializante” nem por isso deixa de ser menos circunscrito pelo lugar textual. Seria possível uma tipologia de todos esses relatos, em termos de identificação de lugares e de efetuações de espaços. Mas, para aí encontrar os modos segundo os quais se combinam essas distintas operações, onde precisa se ter critérios e categorias de análise, e, além disso, a necessidade que reduz aos relatos etnográficos a leitura real do cotidiano não existe.
Eis aí precisamente a formalização do primeiro papel do relato: sua autorização. Autoriza práticas sociais arriscadas e contingentes. Disseminada, não só por causa da diversidade dos meios sociais, mas, sobretudo por causa de uma crescente heterogeneidade, ou, pensando bem, de uma heterogeneidade sempre mais desvelada entre as “referências autorizantes”. Referimo-nos à excomunhão das divindades territoriais. O desapreço pelos lugares habitados pelo espírito dos relatos e a extensão das áreas neutras, privadas de legitimidade que marcam a fuga. A fragmentação das narrações organizadoras de fronteiras e de apropriação nos conflitos de classes, nos conflitos étnicos e raciais. Esses fragmentos escondidos articulam a história biográfica cujo espaço fundamenta as práticas de espaço. A organização reconhecível nos relatos de espaço da cultura cotidiana se acha, portanto invertida pelo trabalho (de análise teórica) que isolou um sistema de lugares geográficos.
Bibliografia geral consultada.

MARQUES NETO, José Castilho, “A editora universitária, os livros do século XXI e seus leitores”. In: Espaço Aberto - Interface (Botucatu) 4 (7) Ago 2000; CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo, O Mercado do Livro Didático no Brasil: Da Criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Tese de Doutorado em Educação. Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004; THOMPSON, John Brookshire, Ideologia e Cultura Moderna: Teoria Social e Crítica na Era dos Meios de Comunicação de Massa. 7ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2007; SORÁ, Gustavo Alejandro, José Olympio e a Gênese do Mercado Editorial Brasileiro. 1ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010; ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador: Uma História dos Costumes. 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2011; WEBER, Max, Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 4ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasilia, 2012;  BUFREM, Leilah Santiago, Editoras Universitárias no Brasil: Uma Crítica para Reformulação da Prática. Tese de Doutorado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1991; 3 Volumes; BUFREM, Leilah Santiago; GARCIA, Tânia Maria Braga, “A Editora Universitária e o Compromisso da Universidade com as Práticas de Divulgação do Conhecimento Produzido”. In: Em Questão. Porto Alegre, volume 20, nº 1, pp. 151–164, 2014; CERTEAU, Michel de, A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. 22ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; ROCHA, Marília Amália, A Contribuição à Educação para Além da Publicação de Textos: Perspectiva Histórica do Trabalho da Editora da Universidade Federal de Uberlândia. Dissertação de Mestrado em Tecnologias, Educação e Comunicação. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2014; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: WMF/Martins Fontes, 2015; RUIZ-VANOYE, Jorge Alberto et al, “Books Content Manager of Open Access-Open Monograph Press”. In: International Journal of Combinatorial Optimization Problems and Informatics. México. Vol. 6, nº 2, pp. 1-10; Maio/Agosto 2015; entre outros.

Um comentário:

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