Ubiracy
de Souza Braga*
“Lélia exerceu um papel fundamental na criação e ampliação do movimento negro contemporâneo”. Luiza Barros
Lélia Gonzalez nasceu “de Almeida”, em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, em 1º de fevereiro de 1935. Tinha
59 anos quando faleceu, em 10 de julho de 1994, no bairro de Santa Teresa
(foto), na cidade do Rio de Janeiro. Quando Lélia era criança, sua família
instalou-se no Rio de Janeiro, na favela do Pinto, no bairro do Leblon, ao lado
do Clube de Regatas do Flamengo, onde jogava (e depois foi técnico) seu irmão,
Jaime de Almeida (nascido em 1920), por quem nutria enorme admiração e nos
passos de quem seguiu torcendo pelo Flamengo e gostando muito de futebol. Logo depois, a família mudou-se para o
subúrbio, para uma casa em Ricardo de Albuquerque onde correm os trilhos da
Estação Ferroviária Central do Brasil. Pela localização da residência,
se percebe que Lélia de Almeida viajou muito pelas margens no trem suburbano da Central do Brasil, junto
com o “povão” (como dizia), principalmente quando estudou no Colégio Estadual
Orsina da Fonseca, ao lado do terminal ferroviário da Central do Brasil, no centro da
cidade e no Imperial Colégio Pedro II na Av. Marechal Floriano, no centro da cidade do Rio de Janeiro, também
próximo a extinta Rede Ferroviária Federal Central do Brasil, hoje, Rede
Ferroviária Federal S. A .
O
Colégio Pedro II representa uma tradicional instituição de ensino público
federal, localizada no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Faz parte da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada a
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação
(Brasil). É o terceiro mais antigo colégio em atividade no país, depois do
Ginásio Pernambucano e do Atheneu Norte-rio-grandense. A escola foi criada em
homenagem ao seu patrono, o imperador do Brasil, D. Pedro II. Fundado durante a
regência do Marquês de Olinda, Pedro de Araújo Lima, integrava um projeto civilizatório
mais amplo do Império do Brasil, do qual faziam parte a fundação do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo Público do Império, seus
contemporâneos. No plano da educação, autores entendem que o colégio pretendia
formar uma elite ao destacar a transformação do Seminário de São
Joaquim em Colégio de Pedro II baseada na ideia da Reforma da
Constituição em 1834.
de construir um modelo a ser seguido, já que
as províncias não estavam dando conta de, por si mesmas, estabelecer seu
sistema de ensino local. Outro grupo de autores, como a historiadora e docente
da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Circe Bittencourt, têm
estabelecido visões que dialogam com ambas as perspectivas. A formação
histórica e sociológica do Colégio explica bastante do plano civilizatório
Imperial: uma educação que priorizava uma boa formação, mas que abrangia uma
parte pequena da sociedade, que era suficiente ao projeto do Império, na medida
que preenchesse os quadros básicos do sistema burocrático e ideológico às
lideranças do país, com um currículo que servia a estes interesses, não estando
tão preocupada com a formação de uma massa ampla de operários minimamente
capacitados, como ocorreria em momentos posteriores no Brasil e já ocorria em
alguns lugares da Europa.
Filha
de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica indígena, Lélia Gonzalez
nasceu em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, em 1º de fevereiro de 1935.
Autora de artigos, ensaios e livros sobre a temática racial, a antropóloga e
militante do movimento negro nos anos 1970, Lélia foi também um expoente no
combate ao preconceito social e racial contra a mulher. Sua obra acadêmica e
seu trabalho como militante contribuíram para impulsionar não apenas o debate
sobre a problemática racial no Brasil, mas também os seus desdobramentos a
partir, basicamente, de dois temas correlatos: “a ideologia do branqueamento” e
seus efeitos e o da “dupla exposição da mulher negra, discriminada pelo racismo
e pelo sexismo”. Lélia fez parte do grupo de fundadores do “Movimento Negro
Unificado” - MNU, principal canal de ressurgimento e rememoração da luta pela
igualdade racial, nos anos 1970. Sua “vontade de potência” se
realiza na tríade: a) na luta contra o racismo e a discriminação racial, b)
como também uma militante da causa feminina, c) particularmente da mulher
negra. Sua importância para o movimento negro tem sido comparada à
de Ângela Davis, ícone do movimento norte-americano.
Angela Davis nasceu no estado do Alabama, considerado um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Leitora voraz quando criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país, o que a levou a estudar no Greenwich Village, em Nova Iorque, onde travou conhecimento com o ensino do comunismo e socialismo teórico de tradição marxista, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens estudantes. Na década de 1960, Angela tornou-se militante do partido e participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade norte-americana, primeiro como afiliada da SNCC de Stokely Carmichael e depois de movimentos e organizações políticas como o Black Power e os Panteras Negras. Angela lecionou durante 17 anos no Departamento de História da Consciência na prestigiada Universidade da Califórnia-Santa Cruz. Recebeu o título de professora Emérita da Universidade da Califórnia e se aposentou do trabalho acadêmico de ensino e pesquisa em 2008. Após sua aposentadoria continuou sua rotina de palestras e cursos em diversas universidades e centros culturais por todo o mundo. Em 2019 passou a integrar o National Women`s Hall of Fame dos Estados Unidos da América.
Vale
lembrar que Ângela Yvonne Davis, nascida em Birmingham, 26 de janeiro de 1944
foi professora e filósofa socialista estado-unidense que alcançou notoriedade
mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados
Unidos. Através do grupo “Panteras Negras”, por sua militância pelos direitos
das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos. E,
particularmente, por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos
julgamentos criminais da recente história norte-americana. Ângela nasceu no
estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo
conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Leitora voraz quando
criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas
de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do
país. Sendo selecionada com bolsa de estudos que a levou a estudar no Greenwich
Village, em Nova Iorque, onde travou conhecimento com o comunismo e o
socialismo teórico, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens
estudantes. Na década de 1960, Ângela tornou-se militante do partido e
participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade norte-americana,
primeiro, como filiada da SNCC de Stokely Carmichael e depois de movimentos e
organizações políticas como o Black Power e Panteras Negras, mas que não
trataremos agora.
Gus Hall foi organizador político americano que era
secretário-geral do Partido Comunista dos Estados Unidos da América (1959–2000)
e quatro vezes candidato à presidência dos Estados Unidos
(1972,1976,1980,1984). Os pais de Hall eram membros dos militantes Trabalhadores
Industriais do Mundo e, em 1927, ele foi recrutado por seu pai para
ingressar no CPUSA. De 1931 a 1933, ele estudou no Instituto VI Lenin, depois rebatizado
de Instituto Marx-Engels-Lenin) em Moscou, e depois de retornar aos Estados
Unidos, ele se envolveu em atividades de organização sindical, ocasionalmente
sendo preso. Ele se tornou um membro oficial do partido em tempo integral em
1937. Após servir na marinha durante a 2ª Guerra Mundial, ingressou no conselho
executivo nacional do CPUSA. Em 1949, ele foi um dos 11 líderes partidários
condenados por conspirar para derrubar o governo dos Estados Unidos pela força
e foi condenado a cinco anos de prisão. Livre sob fiança durante uma apelação,
Hall e três outros fugiram para o México quando o recurso foi rejeitado em
1951. Eles foram recapturados, entretanto, e a sentença de Hall foi estendida;
ele foi encarcerado até 1957. Eleito para a posição de liderança do CPUSA em
1959, Hall concorreu à presidência dos Estados Unidos como candidato do partido
em quatro anteriores e obteve seu melhor resultado em 1976, quando obteve quase
60.000 votos. Ele viagens anuais a Moscou até a queda do regime comunista e foi
premiado com a maior medalha civil da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, uma Ordem de Lênin. Embora a adesão
do CPUSA à sua fé no comunismo de estilo soviético o mantivesse separado da chamada
Nova Equerda que emergia no cenário político mundial e seu número de membros
diminuísse constantemente, Hall permaneceu secretário-geral do partido até sua
morte.
O feminismo negro começa a ganhar visibilidade
mundial (Barreto, 2005; Damasco, 2009) a partir da segunda “onda do feminismo”, entre 1960 e 1980, por conta
da fundação da National Black Feminist, nos Estados Unidos, em 1973. Surge no final do
conflito armado segundo os vietnamitas, intitulado: “Guerra Americana”, ocorrido no Sudeste Asiático entre 1955 e 30
de abril de 1975. Notadamente, porque feministas negras passaram a pesquisar e escrever
sobre o tema, criando uma literatura própria intitulada “feminista negra” universal. Porém,
historicamente, mulheres negras já desafiavam o sujeito mulher determinado pelo
feminismo num mundo masculino ainda ressentido pelas formas de opressão e
dominação em mulheres. Duas questões pontuais me fazem refletir sobre a cisão
das mulheres negras com o movimento feminista: a) Por deterem o domínio racial
e contarem com maior número de lideranças consolidadas, as feministas em geral
resistem às questões das mulheres negras, em particular; b) Supondo que passam
pelos mesmos problemas e desejam quase as
mesmas coisas, o feminismo não atenta para as especificidades de cada grupo
feminino e acaba atuando sob omissão. Muitas vezes deliberada sobre as necessidades
das mulheres negras, sem que seja feita uma análise histórica e crítica do
racismo brasileiro, levando em conta os aspectos culturais regional, nacional e
global.
Maria José Motta de Oliveira, nome de batismo da
artista, nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de junho de 1944, mãe de
cinco filhas e de um filho - adotados - e avó de quatro netos, tornou-se
conhecida nacionalmente a partir de meados da década de 1970, quando conquistou
brasileiros e estrangeiros, com “Xica da Silva”, personagem vivido por ela no
filme homônimo de Cacá Diegues, que se transformou em seu talismã. A cantora e
atriz Zezé Motta, com quase 50 anos de carreira, convive com o status de
estrela no universo das artes no país. Militante do movimento negro, ela ainda
vê barreiras a serem vencidas no exercício da profissão. - “Já avançamos, mas
ainda temos muita luta pela frente. Precisamos de mais autores, produtores e
diretores negros atuando. Eles existem e não são aproveitados. Felizmente,
percebo hoje uma preocupação na distribuição dos papéis, em não deixar o negro
fora das produções”. Campos dos Goytacazes nasceu com o tamanho de toda região Norte e
Noroeste Fluminense, exceto São João da Barra. O município, historicamente,
fazia divisa com Nova Friburgo, Cantagalo, Cabo Frio e com o estado de Minas
Gerais, mas, com a emancipação da cidade de Itaperuna, perdeu metade de seu
território. A partir da década de 1980, Campos perdeu cinco de seus antigos
distritos, que, atualmente, formam os municípios de Talva e Cardoso Moreira.
As condições sociais e políticas das mulheres negras no Brasil
contraria a tendência mundial baseada em dados estatísticos de que as mulheres vivem mais que os homens. A
expectativa de vida para as afrodescentes é de 66 anos, está alguns meses abaixo
da média nacional que é de 66,8 anos. A precária situação da saúde sexual e
reprodutiva das mulheres negras está diretamente relacionada à desigualdade social
de acesso ao serviço de saúde. Em razão da predisposição biológica para algumas
doenças, como hipertensão e diabetes causando com mais frequência a morte
materna entre as mulheres negras. As doenças étnicas mais frequentes nas
mulheres afrodescendentes são descritas da seguinte forma: miomas uterinos, Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus
Tipo II, Câncer no colo do útero além do traço falciforme, inclusive HIV-AIDS,
o que dispensa-nos de comentários clínicos etc. Atriz Zezé Motta (foto) criou centro para cadastrar atores negros no mercado de trabalho no Brasil.
A luta histórica das feministas negras representa uma
batalha no campo das ideias, mas, sobretudo enredada em uma práxis contínua
para nivelar seu lugar de análise ao lugar das atividades práticas de mulheres
brancas no âmbito da sociedade. Este aspecto ideológico levanta: a) a
importante reflexão sobre a representação
feminina na mídia e/ou indústria cultural, b) seu espaço de participação social
no mercado de trabalho brasileiro, além do eixo desenvolvimentista Rio-São
Paulo; c) o lugar de “primazia” como assédio moral e vítima da violência
sexual, d) o protagonismo da maternidade, entre outros temas conjunturais,
inclusive de formação no âmbito das universidades e escolas técnicas. Há tanto um
conjunto de práticas e saberes sociais por que as mulheres brancas precisam
lutar. É bastante preocupante o fato de que as mulheres negras nem sequer
conquistaram igualdade social e política. Sem perder de vista comparativamente
com outros indivíduos do seu próprio grupamento étnico e de classes sociais,
inclusivamente à particularidade da questão social de gênero no Brasil.
A atualidade do perspectivismo de Simone de Beauvoir
tem sido admitida por Daniele Reis (2005). A cor é fator relevante quando
analisamos os casos de agressão e assassinato por parte de companheiros e
ex-companheiras. As negras são mais de 60% das vítimas de “feminicídio”,
exatamente porque não contam com assistência adequada e estão mais vulneráveis
aos abusos das próprias autoridades. Já no aspecto da sexualidade, das mulheres
brancas é esperado o comportamento moderado e sensualidade com limitações,
porém, as mulheres chamadas de “mulatas” são amplamente “exotificadas” e
tratadas como objetos disponíveis para a exploração. O argumento de quem
enxerga as mulheres negras para investidas sexuais é de
que elas são mais provocantes, que seus corpos suportam atos mais intensos ou
até mesmo que não podem negar os estilos de assédio moral e sexual.
A cultura do estupro é vigente desde o período
histórico de colonização do Brasil, quando mulheres negras foram estupradas por
homens brancos e usadas em políticas oficiais de miscigenação, com o fim de
branquear a população. A mentalidade daquela época se mantém forte na
contemporaneidade e é por isso que são tão naturalizados aspectos culturais
como a escolha anual da “Globeleza”, nome dado à cobertura do carnaval feita pela Rede Globo. É também o nome dado à mulata que samba nas vinhetas da emissora, pelo qual consagrou a carreira da dançarina Valéria Valenssa, que durante 14 anos foi a Mulata Globeleza, dançando apenas com o corpo completamente pintado nas vinhetas da emissora designadas para o carnaval carioca. Realizou shows de dança no exterior, com apresentações em países como Portugal e Áustria, entre outros. Erika Moura, assumiu o posto no ano de 2015. A posição de mulata
que expõe seu corpo é tão relacionada exclusivamente à mulher negra, que nem
sequer se estende o concurso sexista para mulheres de outras etnias ou raças. Enquanto
as mulheres brancas são vítimas de violência sexual, é preciso, comparativamente, salientar as
formas distintas: as brancas são violentadas exclusivamente por seu gênero, as
negras sob a trágica forma de dupla penetração: sexual e vítimas do preconceito racial.
Um bom exemplo histórico refere-se à chamada Marcha
das Vadias, um movimento social que surgiu a partir de um protesto realizado no dia 3 de abril de 2011 em Toronto, no Canadá, e desde então se internacionalizou, sendo realizado em diversas partes do mundo, no âmbito do hemisfério ocidental e que atualmente tem sido realizada
em quase todos os estados brasileiros. Há diversos grupos do “Feminismo
Negro” que não participam dos protestos. Mas criticam o uso de palavras expressas como
“vadia” e “puta”, afirmando que as mesmas não podem ser “ressignificadas” pelas
negras, para usarmos o voguismo antropológico, pois o estigma que carregam é
muito forte e o mais urgente é romper representações hipersexualizadas.
Partindo desse pressuposto, o melhor seria lutar para ser reconhecida no plano de atividades como uma intelectual,
capaz de conquistas diversas e ocupação em papéis ilimitados. Não obstante,
esse posicionamento não é unânime; diversas mulheres negras participam das
marchas e ocupam posições políticas adentre as equipes de organização em torno das lutas sociais.
Ainda que as relações em torno do gênero seja usado como
sinônimo de sexo, nas ciências sociais e na psicologia tradicionalmente, refere-se às diferenças
sociais, reconhecidas nas ciências biológicas como papel de gênero.
Historicamente, o feminismo posicionou os papéis de gênero como construídos
socialmente, independente de qualquer base ideal típica biológica. Pessoas cuja identidade
de gênero difere do gênero designado de acordo com os genitais são normalmente
identificadas como “transexuais” ou “transgêneras”. Muitas sociedades possuem
apenas dois papéis de gênero - masculino ou feminino - e estes correspondem ao
sexo biológico. Entretanto, algumas sociedades explicitamente incorporam
pessoas que adotam o papel de gênero oposto ao sexo biológico, como por
exemplo, em algumas sociedades indígenas norte-americanas, mas que não ocorrem apenas nelas. Enfim, outras sociedades incluem papéis bem
desenvolvidos que são explicitamente considerados distintos dos arquétipos
masculinos e femininos tradicionalmente. Na linguagem da sociologia de gênero há a inclusão de
um “terceiro-gênero”, um tanto distinto do sexo biológico, tendo em vista as
condições e possibilidades, nesta direção, abranger algumas vezes a base para
os papéis de gênero incluem a intersexualidade ou incorpora eunucos.
A sociologia contemporânea refere-se aos papéis de gênero masculino e feminino como masculinidades e Feminilidades, respectivamente no plural ao invés do singular, enfatizando a diversidade tanto dentro das culturas como entre as mesmas. A revista People elegeu a atriz negra Lupita Nyong’o, atriz mexicana e queniana como a mulher mais linda do mundo. Mas o público não recebeu bem a notícia e os comentários de que ela não “poderia” ser a mulher mais linda do mundo. A maior revelação da indústria cinematográfica nos últimos anos é Lupita Nyong’o, atriz criada no Quênia, com pós-graduação na Yale School of Drama, que surpreendeu o público com seu desempenho em “12 Anos de Escravidão”. Seu papel como Patsey, a escrava que resiste a atos indizíveis de brutalidade, não só lhe rendeu o Oscar como um BAFTA (British Academy of Film and Television Arts) de coadjuvante. Lupita agora foi eleita a mulher mais bonita do mundo pela revista People em sua edição especial, que sai todo ano. É a primeira negra a ostentar esse título. Já tinha sido escolhido o rosto da marca de cosméticos Lancôme. - “Ao vir para os EUA, foi a primeira vez em que tive de me considerar negra e aprender o que significava a minha raça”. As pessoas são naturalmente atraídas por seu espírito e sua beleza impressionante. Sua naturalidade é uma lufada de ar fresco em um mundo repleto de celebridades intragáveis. Nyong’o venceu mil concorrentes que fizeram testes para interpretar Patsey. Temos assim, a designação sociológica “subversão da identidade”.
A sociologia contemporânea refere-se aos papéis de gênero masculino e feminino como masculinidades e Feminilidades, respectivamente no plural ao invés do singular, enfatizando a diversidade tanto dentro das culturas como entre as mesmas. A revista People elegeu a atriz negra Lupita Nyong’o, atriz mexicana e queniana como a mulher mais linda do mundo. Mas o público não recebeu bem a notícia e os comentários de que ela não “poderia” ser a mulher mais linda do mundo. A maior revelação da indústria cinematográfica nos últimos anos é Lupita Nyong’o, atriz criada no Quênia, com pós-graduação na Yale School of Drama, que surpreendeu o público com seu desempenho em “12 Anos de Escravidão”. Seu papel como Patsey, a escrava que resiste a atos indizíveis de brutalidade, não só lhe rendeu o Oscar como um BAFTA (British Academy of Film and Television Arts) de coadjuvante. Lupita agora foi eleita a mulher mais bonita do mundo pela revista People em sua edição especial, que sai todo ano. É a primeira negra a ostentar esse título. Já tinha sido escolhido o rosto da marca de cosméticos Lancôme. - “Ao vir para os EUA, foi a primeira vez em que tive de me considerar negra e aprender o que significava a minha raça”. As pessoas são naturalmente atraídas por seu espírito e sua beleza impressionante. Sua naturalidade é uma lufada de ar fresco em um mundo repleto de celebridades intragáveis. Nyong’o venceu mil concorrentes que fizeram testes para interpretar Patsey. Temos assim, a designação sociológica “subversão da identidade”.
A cor, analogamente como a noite, last but not least,
reenvia-nos, assim, sempre para uma espécie de “feminilidade substancial”. Mais
uma vez, tradição romântica ou alquímica e análise sociológica convergem para
evidenciar uma estrutura arquetípica, e encontra-se com a imemorial visão da tradição
religiosa. No clássico estudo do
antropólogo francês Gilbert Durand, Les Structures Anthropologiques de
L`Imaginaire (1992) o autor rememora o eufemismo que as cores noturnas constituem
em relação às trevas parece que a melodia o constitui em relação ao ruído. Do
mesmo modo que a cor é uma espécie de noite dissolvida e a tinta uma substância
em solução, pode-se dizer comparativamente que a melodia, que a suavidade musical
tão cara aos românticos é a duplicação eufemizante de duração existencial. A
música melodiosa desempenha o mesmo papel enstático
que ocorre durante a noite. A ocasião é semelhante àquela já descrita no Jataka 314, em que nesta história o Mestre, enquanto morava em Jetavana, contou a respeito de um rei de Kosala.
Desta vez, contudo, quando o rei disse: - “Senhor, o que estes sons significam para mim?” o Mestre respondeu: - “Grande rei, não tenha medo: nenhum perigo te ameaça devido a estes sons: tais terríveis sons indistintos não foram escutados por você apenas: reis antigos também escutaram sons semelhantes e pretendia seguir o conselho de brahmins e oferecer em sacrifício quatro animais de cada espécie, mas após escutar o quê os sábios tinham a dizer, eles libertaram os animais reunidos para o sacrifício e proclamaram pelo tambor o fim de toda execução e morte”. E com o pedido do rei, ele contou um conto antigo. E o mínimo que podemos fazer é citar, depois de Béguin, a tradução desta bela passagem das Phantasien uber die Kunst, de Ludwig Tieck, berlinense que fez parte do movimento do romantismo do final do século XVIII e início do século XX. A música opera o milagre de tocar em nós o núcleo mais secreto, o ponto de enraizamento de todas as recordações e de fazer dele por um instante o centro do mundo feérico, comparável a sementes enfeitiçadas, os sons ganham raízes em nós com uma rapidez mágica. E num abrir e fechar de olhos, sentimos o murmúrio de um bosque semeado de flores maravilhosas. Bibliografia geral consultada.
Desta vez, contudo, quando o rei disse: - “Senhor, o que estes sons significam para mim?” o Mestre respondeu: - “Grande rei, não tenha medo: nenhum perigo te ameaça devido a estes sons: tais terríveis sons indistintos não foram escutados por você apenas: reis antigos também escutaram sons semelhantes e pretendia seguir o conselho de brahmins e oferecer em sacrifício quatro animais de cada espécie, mas após escutar o quê os sábios tinham a dizer, eles libertaram os animais reunidos para o sacrifício e proclamaram pelo tambor o fim de toda execução e morte”. E com o pedido do rei, ele contou um conto antigo. E o mínimo que podemos fazer é citar, depois de Béguin, a tradução desta bela passagem das Phantasien uber die Kunst, de Ludwig Tieck, berlinense que fez parte do movimento do romantismo do final do século XVIII e início do século XX. A música opera o milagre de tocar em nós o núcleo mais secreto, o ponto de enraizamento de todas as recordações e de fazer dele por um instante o centro do mundo feérico, comparável a sementes enfeitiçadas, os sons ganham raízes em nós com uma rapidez mágica. E num abrir e fechar de olhos, sentimos o murmúrio de um bosque semeado de flores maravilhosas. Bibliografia geral consultada.
GONZALEZ, Lélia,
“O Papel da Mulher na Sociedade Brasileira”. In: Spring Symposium The Political Economy of the Black World. Los Angeles: Center
for Afro-American Studies, 1979; Idem, “A Categoria Político-Cultural de
Amefricanidade”. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n° 92/93 janeiro- junho, 1988; DEL PRIORE, Mary (Org.), História das Mulheres no Brasil. 2 edição. São Paulo: Editora Contexto,1997; OLIVEIRA,
Rosália Lemos de, Feminismo Negro em
Construção: A Organização do Movimento de Mulheres Negras no Rio de Janeiro. Dissertação
de Mestrado. Departamento de Psicologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 1997; BARRETO, Raquel de Andrade, Enegrecendo o Feminismo ou Feminizando a Raça: Narrativas de Libertação
em Ângela Davis e Lélia González. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em História Social da Cultura. Departamento de História. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2005; VIANA, Elizabeth do
Espírito Santo, Relações Raciais, Gênero
e Movimentos Sociais: O Pensamento de Lélia Gonzalez (1970-1990). Dissertação
de Mestrado em História Comparada. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; HIRATA, Helena
(Org.), Dicionário Critico do Feminismo. 1ª edição. São Paulo: Editora
da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2009; DAMASCO, Mariana
Santos, Feminismo Negro: Raça, Identidade e Saúde Reprodutiva no Brasil
(1975-1996). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em
História das Ciências e da Saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Casa
de Oswaldo Cruz, 2009; PEREIRA, Amilcar Araújo, “O Mundo Negro”: A Constituição do Movimento Negro Contemporâneo no Brasil (1970-1995). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2010; CARDOSO, Cláudia Pons, Outras Falas: Feminismos na Perspectiva de
Mulheres Negras Brasileiras. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2012; CARDOSO, Edson Lopes, Memória do Movimento Negro - Um Testemunho sobre a Formação do Homem Ativista contra o Racismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; MIGUEL, Luis
Felipe e BIROLI, Flávia, Feminismo e Política: Uma Introdução. 1ª edição.
São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; RIBEIRO, Maria Florencia Guarche, A Revolução em Rojava: Jin, Jiyan, Azadi (Mulheres, Vida, Liberdade). Monografia de Conclusão de Curso de Bacharelado em Relações Internacionais. Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa, 2015; entre outros.
_______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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