segunda-feira, 8 de junho de 2015

Violeta Parra – Memória, Folclore e Protestos Sociais no Chile.


                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*

O amor é um turbilhão de pureza original”. Violeta Parra  
                             

Violeta del Carmen Parra Sandoval nasceu em San Carlos, 4 de outubro de 1917 e faleceu em Santiago do Chile, 5 de fevereiro de 1967. Foi uma compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena, considerada a mais importante folclorista daquele país e fundadora da música popular chilena. Violeta Parra pode ser considerada “a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados”, tendo sido autora de páginas inapagáveis, como a canção “Volver a los 17” (que resgata a questão dialética da existência“volver a ser de repente tan frágil como um segundo/volver a sentir profundo como un niño frente a Dios), que mereceu uma antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa. Outra de suas canções, “La Carta”, cantada em momentos de enorme comoção revolucionária, nas barricadas e nas ocupações, tem entre os seus versos o que diz: - “Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”. Mas suas canções não apenas são marcadas por versos demolidores contra toda a injustiça social. O lirismo dos versos de canções como “Gracias a la vida”, gravada também por Elis Regina embalou o ânimo de gerações de revolucionários latino-americanos em momentos em que a vida era questionada nos seus limites mais básicos, assim como a letra comovedora de “Rin de Angelito”, quando descreve a morte de um bebê pobre: - “En su cunita de tierra lo arrullará, una campana mientras la lluvia le limpia, su carita en la mañana”.    
       Vale lembrar que nenhum dos povos de nuestra América Latina constitui uma nacionalidade multiétnica. Em todos os casos, seu processo de formação foi suficientemente violento para compelir a fusão das matrizes originais em novas unidades homogêneas. Somente o Chile, por sua formação peculiar, guarda no contingente Araucano, uma micro etnia diferenciada da nacional, historicamente reivindicante do direito de ser ela própria, ao menos como modo diferenciado de participação na sociedade nacional. Os chilenos e os paraguaios contrastam também com os outros Povos-Novos, na impressionante, rica e maravilhosa descrição etnográfica na pena antropocêntrica de Darcy Ribeiro (1968), “pela ascendência principalmente indígena de sua população e pela ausência do contingente negro escravo, bem como do sistema de plantation”, que tiveram papel tão saliente na formação dos brasileiros, dos antilhanos, dos colombianos e dos venezuelanos. Ambos conformam, juntamente com a matriz étnica original dos rio-platenses, uma variante dos Povos-Novos,  dentre os quais se inclui o Brasil, originaram-se da conjunção de matrizes étnicas diferenciadas como o colonizador ibérico, indígenas de nível tribal e escravos do tráfico entre tribos africanas, imposta por empreendimentos coloniais-escravistas, seguida da deculturação destas matrizes, do caldeamento racial de seus contingentes e de sua aculturação no corpo e na formação de novas etnias.
        Gabriela Eliana Pizarro Soto (1932-1999), foi uma das três mais importantes investigadoras e intérpretes do folclore musical chileno que, em 1958, fundou o Millaray, um dos mais importantes grupos musicais chilenos de representação folclórica. Quando criança teve contato com tradições populares chilenas. Dentre as pessoas que a influenciaram na infância, destacaram-se: sua mãe, Blanca Hortensia Soto, originária de Lebu, que estudou no Conservatório Nacional e participava do coral da Igreja, da orquestra de professores, de grupos de teatro, zarzuela e opereta; e sua avó, Elba González, originária de Cañete e cantora de chinganas. Em 1939, se mudou com sua família para Santiago. Participou do grupo musical da escola e teve aulas de violão com Isabel Soro. Em 1954, teve o primeiro contato com Margot Loyola em dos cursos temporários de cultura musical ministrados por Margot na Universidade do Chile. Nesses cursos teve contato com Silvia Urbina, Jaime Rojas, Rolando Alarcón, Victor Jara, integrantes do Cuncumén, entre outros. Em 1955, fundou o grupo Gualpén, juntamente com Jaime Rojas, futuro integrante do Cuncumén. Entre 1955 e 1961, integrou o coral da Universidade do Chile, onde conheceu acadêmicos como: Manuel Dannemann, Alfonso Letelier e Raquel Barros. Em 1956, visitou Lebu, onde manteve contato com as cantoras Noemi Chamorro, de Quiapo, e Olga Niño, entre outras. Com elas aprendeu cuecas, mazurcas, tonadas, canciones religiosas e danças como o chapecao e chincolito. Em 1957 substituiu Violeta Parra no programa de radio “Imágenes camperas”.
             Neste ano criou um novo conjunto folclórico, com o apoio da Casa de Cultura de Ñuñoa e atuou no programa radiofônico chamado: Un pueblo canta, organizado pelo escritor Julio Alegria e vinculado ao Departamento do Pequeno Direito de Autor da Universidade do Chile, onde interpretou músicas de autores chilenos como Petronila Orellana e Críspulo Gándara. Esse programa radiofônico, reuniu as pessoas que fundariam o conjunto musical Millaray, nome significa “flor de ouro”.  Entre 1958 e 1960, o grupo Millaray se apresentou no Teatro Municipal de Santiago difundindo o resultado das investigações sobre a cultura da Ilha de Chiloé, por meio da compilação de danças como “el pavo”, “el cielito”, “la trastasera”, “la pericona”, entre outras. O grupo Millaray, que juntamente com Cuncumén, é considerado um dos maiores conjuntos de música folclórica chilena, gravou 5 discos da coleção O Folclore do Chile, pela Odeon, mas teve suas atividades interrompidas com o golpe político-militar de 1973, que resultou na perseguição de muitos de seus artistas e músicos integrantes, incluindo Gabriela. Em 1959, conheceu o folclorista Héctor Pavez, integrante do Millaray, com quem se casaria em 1960 e teria cinco filhos. Foi professora em cursos nas casas de cultura municipais de San Miguel, em 1963; de Santiago, em 1969; e de La Granja, em 1973. Entre 1965 e 1973, deu aulas de folclore chileno na Faculdade de Ciências e Artes Musicais e Cênicas da Universidade do Chile.


            Violeta Parra nasceu em San Carlos, província de Ñuble. Realizou seus estudos escolares até o segundo ano do secundário, abandonando-os em 1934, para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos, desenvolvendo uma importante carreira musical, como autodidata, a partir dos 9 anos. Em 1938, casou-se pela primeira vez e dessa união, teve dois filhos, Isabel e Ángel, que também viriam a se tornar compositores e intérpretes importantes. Viveu em Valparaíso entre 1943 e 1945, e voltou a Santiago, para cantar junto com seus filhos. É uma comuna da província de Valparaíso, localizada na Região de Valparaíso, Chile. Em 1949 voltou a se casar e teve duas filhas dessa nova união. Em 1952 começou a pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiros temas musicais que a fariam famosa. Em 1954, quando já tinha o seu próprio programa de rádio, começou um rigoroso estudo das manifestações artísticas populares. A área histórica de Valparaíso declarada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 2003. 
           Foi uma importante pesquisadora de ritmos, danças e canções populares chilenas, chegando a catalogar cerca de 3 mil canções tradicionais, importante logro para resgate e valorização cultural chilena. Algumas dessas canções foram publicadas em livro: “Cantos folclóricos chilenos” e em disco “Cantos campesinos”, editado originalmente em Paris. Durante sua infância, viveu em distintas localidades da zona de Chillán, uma comuna da província de Diguillín, localizada numa região vulcânica da Região de Ñuble, Chile onde, possivelmente, teve suas primeiras experiências artísticas. Em 1929, compôs suas primeiras canções para violão. Estudou até o segundo ano do secundário, porém em 1934 interrompeu seus estudos para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos. Autodidata, cantora e tocadora de violão desde os nove anos, ingressou definitivamente na carreira musical aos 15 anos, após a morte do pai, quando deixou a casa da mãe, no interior do Chile, e foi morar em Santiago com o irmão Nicanor, que estudava na capital. Entre 1943 e 1945, viveu em Valparaíso e voltou a Santiago, para cantar junto com seus filhos. Juntamente com sua irmã Hilda criaram a dupla “Las Hermanas Parra”, que cantava músicas folclóricas. Nessa atividade, conheceu o ferroviário Luis Cereceda, com quem se casou em 1938 e teve dois filhos, Isabel e Ángel, que também viriam a se tornar compositores e intérpretes importantes.
            Em 1948, se separaram. Em 1949, gravou, em parceria com sua irmã Hilda, seu primeiro disco, voltou a se casar, com Luis Arce, e teve duas filhas deste novo relacionamento: Luísa Carmen e Rosita Clara, que faleceu antes de completar um ano de idade. Em 1952 começou a pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiros temas musicais que a fariam famosa. Também em 1953, foi contratada pela Rádio Chilena para produzir programas radiofônicos de música folclórica, o que impulsionou um rigoroso estudo das manifestações artísticas populares; além disso, gravou pela Odeon, duas de suas canções mais conhecidas: “Qué pena siente el alma” e “Casamiento de negros”. Durante o ano de 1955 recebeu o Prêmio Caupolicán e visitou a União Soviética, Polônia, Londres e Paris, cidade onde residiu por dois anos. Realizou gravações para a BBC e para a Odeon e “Chant du Monde”. Nesse período também recebeu a notícia da morte, por pneumonia, de sua filha Rosita Clara.Em 1956, após seu retorno ao Chile, começou a coordenar a produção de uma série de discos intitulada “El Folklore de Chile”, gravados pela Odeon. Na época, comandava o programa radiofônico “Canta Violeta Parra”. Em 1957, radicou-se em Concepción onde ajudou a divulgar um museu de arte popular na Universidade, voltando a Santiago no ano seguinte onde começou sua produção como artista plástica.

        Percorreu todo o país, recompilando e difundindo informações sobre o folclore. Em 1958, fundou o Museu Nacional de Arte Folclórica Chilena. Em 1959, adoeceu e ficou acamada durante vários meses, situação que a desenvolver seu talento como arpillerista. Uma arpillera , que significa serapilheira em espanhol, é uma imagem de retalhos de cores vivas feita predominantemente por grupos de mulheres também reconhecidas como arpilleristas. A construção de arpilleras tornou-se popular no Chile durante a ditadura militar (1973-1990) de Augusto Pinochet. As arpilleras foram feitas em oficinas organizadas por um comitê da Igreja Católica chilena e depois distribuídas secretamente no exterior por meio do grupo de direitos humanos da Igreja, o Vicariato de Solidariedade. A produção de arpilleras forneceu uma fonte vital de renda para os arpilleristas, muitos dos quais ficaram em um estado de insegurança financeira devido ao desemprego generalizado e desaparecimentos forçados de seus maridos e filhos, que ficaram conhecidos como desaparecidos. As arpilleras são normalmente construídas com materiais simples, como estopa e pedaços de tecido. Arpilleras geralmente retratava temas expressamente políticos por meio de cenas de demonstração de condições de vida empobrecidas e repressão do governo. Essas cenas serviram para denunciar as violações dos direitos humanos do regime de Pinochet. Em resposta, o governo buscou punir aqueles que criaram arpilleras e aqueles que apoiaram a criação de arpilleras. 
            La ciudad de San Carlos de Itihue fue fundada el 3 de julio de 1800 por Joaquín del Pino del Rozas y Negrete, y su nombre sería en honor al rey Carlos IV de España. El 24 de noviembre de 1801 se realiza el primer trazado de la ciudad, como documento más antiguo de la entonces Villa de San Carlos, se conserva en el Archivo Nacional un Croquis cuya autoría es de don Juan de Ojeda, en el que se puede observar la conformación urbana original compuesta por 120 sitios o solares distribuidos en 36 manzanas. Cerca de esta ciudad se libró el llamado combate de San Carlos en el marco de la guerra de Independencia, el 15 de mayo de 1813, dónde se enfrentaron Realistas y Patriotas, con 1.000 hombres los primeros y 4.000 los segundos, (cifras estimadas). Los Patriotas eran comandados por el prócer General José Miguel Carrera, obteniéndose cómo resultado una victoria parcial para ambos bandos. Los dos sables de caballería cruzados, ubicados en el blasón rojo superior del escudo de armas de la comuna, hacen referencia a dicho combate. En 1817 las tropas patriotas comandadas por el general Ramón Freire ocupan la ciudad en su campaña hacia el sur. El año 1854 la ciudad se convierte en la capital de la Municipalidad de San Carlos abracando un vasto territorio con varias localidades. En 1856 adquiere el título de ciudad con 5.456 habitantes, y en 1891 en la capital de la comuna de San Carlos.
       Arpilleras são atualmente reconhecidas como um exemplo de arte feminina subversiva em um contexto político autoritário. No entanto, as arpilleras contemporâneas refletem temas menos políticos, como a vida rural idealizada. Em 1960, expôs pela primeira vez suas pinturas a óleo na Feira de Artes Plásticas do Parque Florestal em Santiago e conheceu e começou a namorar com o musicólogo e antropólogo suíço Gilbert Favré. As dificuldades em sua relação com Gilbert, inspirariam canções como: “Corazón maldito”, “¿Qué he sacado con quererte?”, “Run Run se fue pa’l norte” e “Maldigo del alto cielo”. Em 1961, mudou-se para a Argentina, onde fez grande sucesso com suas apresentações. Voltou a Paris e ali permaneceu por três anos, percorrendo várias cidades da Europa, destacando-se suas visitas a Genebra. Nesse período: compôs algumas de suas músicas combativas, como: “¿Qué dirá el Santo Padre?”, “Arauco tiene una pena” e “Miren cómo sonríen”, que podem ser consideradas como o início da Nueva Canción Chilena; e, escreveu o livro: Poesía popular de Los Andes. Entre 18 de abril e 11 de maio de 1964, foi realizada no Museu do Louvre uma exposição de suas pinturas, óleos, arpilleras e esculturas em arame, tendo sido a primeira artista latino-americana a ter uma exposição individual nesse espaço. Em 1965, após o término de seu terceiro casamento, voltou ao Chile, onde se apresentou na “La Peña de los Parra”, onde o público podia escutar boa música e tomar vinhos e onde teve início a carreira musical de seus dois filhos: Ángel e Isabel. Depois instalou uma grande tenda com capacidade para cerca de mil pessoas na comuna de La Reina, local também se apresentaram: Patricio Manns, Rolando Alarcón, Víctor Jara.  Em 1966, viajou para a Bolívia, fez apresentações com Gilbert Favré e gravou seu último disco: “Ultimas composiciones”, considerado como o seu melhor disco, que contém canções como: “Maldigo del alto cielo”, “Gracias a la vida”, “El albertío”, “Run Run se fue pa’l norte” e “Volver a los 17”. Cometeu suicídio em 5 de fevereiro de 1967, na tenda de La Reina, e os selos fonográficos Odeon e “Chant du Monde”. Durante o ano de 1955 Violeta Parra visitou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Londres e Paris, cidade onde residiu por dois anos. 

  Historicamente os Povos-Novos surgem hierarquizados, como os Povos-Testemunho, pela distância social que separa a sua camada senhorial de fazendeiros, mineradores, comerciantes, funcionários coloniais e clérigos da massa escrava engajada na produção. Constituíam-se de rudes empresários, senhores de suas terras e de seus escravos, forçados a conviver com negócio e a dirigi-lo pessoalmente com a ajuda de uma pequena camada intermédia, de técnicos, capatazes e sacerdotes. Onde a empresa prosperou muito, como nas zonas açucareiras e mineradoras do Brasil e das Antilhas, puderam dar-se ao luxo de residências senhoriais e tiveram de alargar a camada intermédia, tanto dos engenhos como das vilas costeiras, incumbidas do comércio exterior. Vale lembrar que nenhum dos povos deste bloco constitui uma nacionalidade multiétnica. Em todos os casos, seu processo de formação foi suficientemente violento para compelir a fusão das matrizes originais em novas unidades homogêneas. Somente o Chile, por sua formação peculiar, guarda no contingente Araucano, uma micro-etnia diferenciada da nacional, historicamente reivindicante do direito de ser ela própria, ao menos como modo diferenciado de participação na sociedade nacional. Realizou gravações para a BBC uma corporação pública de rádio e televisão do Reino Unido fudada em 1922. 
           Possui uma boa reputação nacional e internacional, embora seja vista por alguns críticos como parcial e tendenciosa para o liberalismo e seja assumidamente pró-Londres. Por vezes, é chamada afetiva pelos britânicos como Beeb, The Corporation ou Auntir (Titia). Durante muitos anos, foi o único fornecedor de rádio e, depois, de televisão, do Reino Unido. O seu lema é: Nation Shall Speak Peace Unto Nation. Antes, era chaamda de British Broadcasting Company Ltd., nome que permaneceu até 1927. Em 1957 radicou-se na cidade de Concepción, voltando a Santiago no ano seguinte para começar sua produção em Artes Plásticas. Percorreu todo o país, recompilando e difundindo informações sobre o folclore. Em 1961, mudou-se para a Argentina, onde fez grande sucesso com suas apresentações. Voltou a Paris e ali permaneceu por três anos, percorrendo várias cidades da Europa, destacando-se suas visitas a Genebra. Em 1965 voltou ao Chile, viajou para a Bolívia e, ao regressar a seu país, “instalou uma grande tenda na comuna de La Reina”, com o objetivo de convertê-la em um centro de referência para a cultura folclórica do Chile, juntamente com os filhos, Ángel e Isabel, e os folcloristas Patricio Manns, Rolando Alarcón e Víctor Jara, como é retratado no livro e filme: “Violeta se fue a los cielos” (2013). 
          A iniciativa não logrou pleno sucesso. Emocionalmente abatida pelo fracasso do empreendimento, acrescido pelo dramático fim do relacionamento amoroso, Violeta Parra suicidou-se em 5 de fevereiro de 1967, na tenda de La Reina. Os chilenos e os paraguaios contrastam também com os outros Povos-Novos pela ascendência principalmente indígena de sua população e pela ausência do contingente negro escravo, bem como do sistema de plantation, que tiveram papel tão saliente na formação dos brasileiros, dos antilhanos, dos colombianos e dos venezuelanos. Ambos conformam juntamente com a matriz étnica original dos rio-platenses, uma variante dos Povos-Novos. A composição predominantemente “índio-espanhola” dos Povos-Testemunho se diferencia dessa variante porque suas populações indígenas originais não haviam alcançado um nível de desenvolvimento cultural equiparável ao dos mexicanos ou dos Incas. É o resultado da seleção de qualidades raciais e culturais das matrizes formadoras, que melhor se ajustaram às condições que lhes foram impostas. O papel decisivo em sua formação foi representado pela escravidão que, operando como força distribalizadora, desgarrava as novas criaturas das tradições ancestrais. São produto tanto da deculturação redutora de seus patrimônios tribais indígenas e africanos, quanto da aculturação seletiva desses patrimônios e da própria criatividade face ao novo meio de reprodução da vida. Do ponto de vista político Violeta Parra, como vimos, pode ser considerada com razão “a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados”. 

          Tendo sido autora de páginas inapagáveis, como a canção: “Volver a los 17”, que mereceu uma antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa. Outra de suas canções, “La Carta”, cantada em momentos de enorme comoção revolucionária, nas barricadas e nas ocupações, tem entre os seus versos o que diz: - “Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”. Mas suas canções não apenas são marcadas por versos demolidores contra toda a injustiça social. O lirismo dos versos de canções como: “Gracias a la vida”, também gravada por Elis Regina, embalou o ânimo de gerações de revolucionários latino-americanos em momentos em que a vida era questionada nos seus limites mais básicos, assim como a letra comovedora de “Rin de Angelito”, quando descreve a morte de um bebê pobre: - “No seu bercinho de terra um sino vai te embalar, enquanto a chuva te limpará a carinha na manhã”. Quanto ao filme: Violeta se fue a los cielos” (foto), objeto de nossa reflexão,
es una película del director Andrés Wood estrenada el 11 de agosto de 2011. Filmada en Chile, Francia y Argentina, la película narra la vida de la cantora chilena Violeta Parra. El guion estuvo a cargo de Andrés Wood, Eliseo Altunaga, Guillermo Calderón y Rodrigo Bazaes, con la colaboración de Ángel Parra, hijo de Violeta Parra y también músico de la llamada Nueva Canción Chilena. El estreno contó con la presencia de seis mil espectadores, siendo presentada en 21 salas a lo largo del país. Fue escogida por el Consejo Nacional de la Cultura y las Artes como representante nacional para las nominaciones a Mejor Película Extranjera de los premios Óscar de Estados Unidos, Ariel de México y Goya de España 2012. El martes 10 de enero del 2012 fue anunciada como una de las 4 nominadas en la categoría de Mejor Película Iberoamericana en los Premios Goya. Además fue ganadora del Gran Premio Internacional del Jurado en el Festival de Sundance 2012”.
            O filme, que é baseado na biografia escrita por Angel Parra (2013), não segue um cronograma objetivo, e apresenta vários momentos da vida de Violeta Parra. Ele mostra Violeta ainda pequena em algum lugar na província de Nuble, em viagens feitas em campo chileno em busca de canções folclóricas para evitar perder-se, uma viagem a um campo de mineração do sul do Chile com uma companhia de circo, onde cantou com sua irmã Hilda, e uma viagem de Violeta à Polônia comunista (cf. Braga, 2015), sua estada na França e na exposição de suas obras visuais no Louvre, seu retorno ao Chile e a construção da tenda da Rainha que se entrelaçam ao longo dos fragmentos de filmes com uma entrevista na televisão que Violeta realizada na Argentina em 1962. A vida amorosa da artista é também um tema-chave ao longo da história, mas, neste caso está focado, sobretudo no romance que manteve com o suíço Gilbert Favre. Ipso facto referindo-se a seus outros casais para um papel secundário. No que diz respeito aos seus filhos, no primeiro período do filme, seu filho Angel, tem um papel importante a ser tomado com cuidado e depois por sua filha Carmen Luísa.                    
Francisca Gavilán interpretou todas as canções que são originalmente cantadas por Violeta Parra. O filme também mostra Violeta Parra interpretando canções em conjunto com sua irmã Hilda, e sua filha, Carmen Luísa. Também está incluído um tema articulado por um fazendeiro. Antes do lançamento do filme, em 28 de julho de 2011, a trilha sonora completa foi publicada no Sound Cloud. Algumas canções que apareceram no filme não foram incluídas na trilha sonora, assim como os sucessos músicais “O Cardeal”, “Graças a Vida” e “A jardineira”. O filme foi lançado no Chile em 11 de agosto de 2011, em 21 teatros. Em seu primeiro dia de estreia ele contou com cerca de seis mil espectadores. No total o filme foi visto por 391 465 espectadores em 2011, tornando-se o filme mais popular de Chile. O filme não teve a total cobertura dos expositores para sua estreia, que só puderam reservar 17 salas para exposição, e, sobretudo, não cobrem as principais cidades. O sucesso de público do filme forçou-os a aumentar o número de cópias e salas, fato que foi destacado pela imprensa.
La película, que está basado en la biografía escrita por Ángel Parra, no sigue una línea cronológica directa, y se sitúa en distintos escenarios de la época de Violeta Parra. Se muestra a la niñez de Violeta en alguna parte de la provincia de Ñuble, los viajes que Violeta realizó al interior del campo chileno, en busca de canciones populares chilenas para evitar que se perdieran, un viaje a un campo minero del sur Chile con una compañía circense, donde cantaba junto a su hermana Hilda, el viaje de Violeta a la Polonia comunista, su estadía en Francia y la exposición de sus trabajos visuales en el Museo del Louvre, su regreso a Chile y la construcción de la carpa de la Reina, y toda la película entrelazada por fragmentos de una entrevista televisada que Violeta realizó en Argentina en el año 1962. La vida amorosa de la artista también es un tema fundamental a lo largo de la historia, pero sólo está enfocada al  romance que mantuvo con el suizo Gilbert Favre, remitiendo a sus otras parejas a un rol secundario. En lo referente a sus hijos, en el primer lapso de la película su hijo Ángel tiene un rol marcado, para después la atención ser tomada por su hija Carmen Luisa”.        
            Enfim, primeira atriz latino-americana de nacionalidade chilena a expor no Museu do Louvre, em Paris, responsável pelo resgate da cultura chilena e com composições gravadas no mundo todo, Violeta Parra é tema do filme que pode ser considerado uma ode à alegria e poesia crítica latino-americana. Mas a vida real não foi tão generosa com a artista chilena, de triste passagem individual pelo mundo ocidental, embora repleta de realizações artísticas e estéticas para a posteridade. “Violeta foi para o Céu”, de Andrés Wood, o mesmo diretor de “Machuca” (2004), narra sem falsificações literárias a história da mais célebre cantora chilena. Tal como o cérebro “atormentado” da personagem principal, a heroína chilena, o longa-metragem  segue uma “rua de mão única”, mesclando poesia e realidade, nostalgia e profecia (cf. Benjamin, 1987). Da infância complexa com o pai alcoólatra e de destino errante, Violeta Parra passa à fase adulta como artista itinerante, cantando de povoado em povoado e viajando em boleia de caminhão, como se refere Milton Nascimento em sua canção.  Das caminhadas pelo interior do Chile sob o sol escaldante, vai à Paris da década de 1960, viver romances conturbados, inusitados, mas felizes, e uma vida artística guiada pela miséria econômica de um continente violentado pela colonização hispânica.
Ao fim e ao cabo, tem-se uma imagem de uma personalidade única, merecedora de respeito, encanto e de sofrimento compreensível. A atriz Francisca Gavilán consegue ir além da impressionante semelhança física, e se destaca no filme cantando as músicas de Violeta Parra. As passagens da vida da artista são permeadas por uma entrevista que vai ajudando a entender melhor a formação do seu caráter. Ao longo dela, Violeta conta da família indígena com orgulho, ignorando o preconceito naturalizado do apresentador, e a primeira passagem pela Europa. Chamada a uma rápida excursão, ela é informada da morte de um filho, e decide passar “mais um tempo” no Velho Continente - dois anos. Em Paris, a artista desafia os preconceitos racistas contra os latino-americanos. E sai vencedora. No Chile, coloca o pouco que tem nas costas e, acompanhada do filho, Angel, decide resgatar as cantigas de folclore. Vai de porta em porta ouvindo histórias que resultarão em discos, e que ajudarão a cunhar seu estilo, famoso por canções como “Gracias a la Vida” e “Volver a los 17”, mais tarde gravadas por dezenas de artistas de outros países, inclusive no Brasil, com destaque para a monumental cantora argentina Mercedes Sosa.
Livre de amarras, Violeta acumula amores ao longo da vida, até uma paixão arrebatadora por um artista francês apresentado pelo filho. A juventude do parceiro não parecia problema, e o casal, sem nós que os atasse a qualquer lugar do mundo, vai passar uma temporada em Paris. De volta ao Chile, porém, a cantora começa a sentir os efeitos sociais da diferença de idade: não tem mais pique para seguir o namorado, Run Run, que quer ganhar mundo, e entra em depressão – daí nasce “Run Run se fue pa`l norte”. No interior chileno, Violeta começa como artista itinerante, e apresenta o que for aceito pelo público. Uma tenda em Santiago parece restituir-lhe seu resplendor como artista: a área, concedida por um político, começa a atrair o grande público e artistas interessados no folclore chileno. No entanto, o tempo passa, Violeta e o público parecem desinteressar-se mutuamente, quando ocorre um último rompimento com o namorado, e a vida chega ao fatídico desfecho. Um conhecido final fatalista que em nada abrevia a tensão intermitente do filme.                          
Foi dito algumas vezes, e nesta particularidade referente ao suicídio, rememora Émile Durkheim, que em virtude da constituição psicológica, o homem não pode viver a não ser que
“se ligue a um objeto que o ultrapasse e que lhe sobreviva, e deu-se como razão disso uma necessidade que teríamos de não perecer inteiramente. A vida, diz-se, só é tolerável quando percebemos nela alguma razão de ser, quando ela tem um objetivo, e que valha a pena. Ora, o indivíduo, por si só, não é um fim suficiente para sua atividade. Ele é muito pouca coisa. Além de ser limitado no espaço, é estreitamente limitado no tempo. Portanto, quando não temos outro objetivo além de nós mesmos, não podemos escapar à ideia de que nossos esforços estão, afinal, destinados a se perder no nada, pois a ele devemos voltar. Mas a anulação nos apavora. Nessas condições, não conseguimos ter coragem para viver, ou seja, para agir e lutar, uma vez que, de todo esse trabalho que temos, nada irá restar. Em suma, o estado de egoísmo estaria em contradição com a natureza humana e, por conseguinte, seria precário demais para ter possibilidade de perdurar” (cf. Durkheim 2014: 260 e ss.). 
Após a exibição do longa-metragem: “Violeta foi para o céu”, de Andrés Wood, na  abertura da 22ª edição do Cine Ceará, com a calma noite irradiante e bela na cidade de Fortaleza, que aconteceu numa noite de sexta-feira, o diretor conversou com a imprensa durante coletiva sobre o filme. A tópica da famosa cantora e folclorista chilena Violeta Parra, preenchida com seu trabalho musical, suas memórias, seus amores e esperanças. O Wood falou naturalmente sobre as dificuldades de lidar com os parentes de Violeta Parra – a neta Tita Parra publicou um texto no site da Fundação Violeta Parra, fazendo críticas ao filme. - “Acho que se fosse um filme sobre a minha mãe ou a minha avó eu pensaria que não corresponde à realidade e entendo perfeitamente que parte da família não esteja de acordo. Mas independente disso há uma parte da família que estava de acordo com o filme”, disse ele, que reconhece a dificuldade de trabalhar com a história de uma personagem que não está mais viva. Para compor a narrativa, o chileno teve o apoio de um dos filhos de Violeta, Ángel Parra, também compositor e intérprete, autor do livro: Violeta se fue a los cielos, em que o longa-metragem se baseia o cineasta, produtor e escritor chileno. Alguns de seus filmes mais populares incluem Machuca, Violeta se fue a los cielos e Historias de Futbol. Ele criou sua própria produtora reconhecida como Wood Producciones em 1993. Hoje com 71 anos, Ángel é um dos representantes mais engajados na preservação da memória da mãe. - “Ele tem uma participação muito grande na supervisão, no acompanhamento. Ele nos deu muita liberdade”, contou o diretor, que confessa ter se apaixonado pela personagem ao longo do processo de trabalho de pesquisa e direção. 
Bibliografia geral consultada.
RIBEIRO, Darcy, O Processo Civilizatório. Etapas da Evolução Sociocultural. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968; ALCADE, Alfonso, Toda Violeta Parra. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 1974; ALEGRIA, Fernando, “Violeta Parra”. In: Retratos Contemporâneos. New York: Harcourt, Brace and Jovanich, 1979; pp. 165-168; FERNANDES, Florestan, (1979) Folclore e Mudança Social na Cidade de São Paulo. 1ª edição 1961. 2ª edição reduzida. Petrópolis (RJ): Editores Vozes, 1979; Idem, O Folclore em Questão. 2ª edição. São Paulo: Editor Hucitec, 1989; CÁNEPA-HURTADO, Gina, Violeta Parra y sus Relaciones con la Canción e de Lucha Latinoamericana. Berlín West. Tesis Doctoral, 1981; EPPLE, Juan, “Entretien avec Parra”. In: Cahiers du Monde Hispanique et Luso-Bresilien, n˚ 48 (1987): 121-126; RODRIGUES-MUSSO, Osvaldo, La Nueva Canción Chilena. Continuidad y Reflexo. La Habana: Ediciones Casa de las Américas, 1988; FARIAS, Maria de Lourdes Souza, Violeta Parra: Identidade Cultural Latinoamericana Moderna. Programa de Pós-Graduação em Educação. Dissertação de Mestrado. Criciúma: Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2007; MORALES, Leonidas, Conversaciones con Nicanor Parra. Santiago: Editora Universitária, 2010; PARRA, Violeta, El Gavilán, (1957).Transcripción de Mauricio Valdebenito. Extraída de la grabación de Miguel Letelier, inicios de los años 1960. Santiago de Chile: Facultad de Letras-Universidad de Chile, 2001; PARRA, Violeta, SOUBLETTE, Gastón, Cantos Folclóricos Chilenos. Ed. Ceibo Santiago de Chile, 1979; Idem, Cantos Folclóricos Chilenos. Santiago de Chile: Ceibo, 2013; PARRA, Angel, Violeta se Fue. Madrid: Editorial Catalonia, 2013; SCHMIEDECKE, Natália Ayo, Tomemos la Historia en Nuestras Manos. Utopia Revolucionária e Música Popular no Chile (1966-1973). Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2013; SOUZA, Eneida, Maria de, “¿Cuál revisión del Modernismo?”. In: Cuaderno de Literatura. Vol. XVIII, nº35. Enero, Junio, Bogotá, 2014; SOUBLETTE, Gastón, Sabiduría Chilena y Tradición Oral. Santiago de Chile: Universidad Católica de Chile, 2015; ESPINOZA, Fernando Venegas, “Violeta Parra y su Conexión con la Cultura Popular de la Frontera del Biobío (1917-1934)”. In: Revista Historia UdeC, n° 21, vol. 1, enero-junio 2014: 105-139; DURKHEIM, Émile,  Il Suicidio. Studi di Sociologia. Rizzoli: Biblioteca Universitaria Rizzoli, 2014; WOZNIAK GIMÉNEZ, Andrea Beatriz, Ser Mulher-Artista-Engajada: Violeta Parra, Mercedez Sosa e Elis Regina na década de 60. In: Em Tempo de Histórias, n° 25, 2015; entre outros.  
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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