Don Ramón – Populacho, Herança Cultural da América Latina.
Ubiracy
de Souza Braga* “Eu sabia que você era idiota, mas não a nível executivo”. Ramón Valdés
No
início do século XX, um industrial francês Henri Fayol escreveu que todos executivos
realizavam cinco funções gerencias: planejavam, organizavam, comandavam,
coordenavam e controlavam. Em nossos dias, essas tarefas sociais foram
condensadas em quatro: planejamento, organização, liderança e controle. As
organizações existem para atingir objetivos, alguém precisa definir estes
objetivos e as possíveis formas de alcançá-los, o executivo é esse alguém. A
função de planejamento engloba a definição das metas organização, o
estabelecimento de uma estratégia geral para alcance dessas metas e o
desenvolvimento de um conjunto de práticas e saberes sociais abrangentes de
planos para integrar e coordenar todas as atividades em torno do desenvolvimento
do trabalho. Eles são responsáveis para elaboração da estrutura e nessa função
inclui determinação de quais tarefas devem ser realizadas, quem vai
realizá-las, como elas serão agrupadas, quem se reporta a quem e em que
instancia as decisões poderão ser tomadas. Todas as organizações englobam
pessoas, e é parte da cadeia do trabalho dirigir e coordenar essas pessoas,
essa é a função da liderança. A última é o controle. Para garantir que as
coisas caminhem como devem, o executivo precisa monitorar o desempenho da
organização. O desempenho deve ser comparado com as metas previamente
estabelecidas.
Don Ramón Antonio Estebán Gómez de Valdés y Castillo foi
um ator e comediante mexicano, célebre por interpretar o personagem Don Ramón na
série de televisão “El Chavo del Ocho”, além de ter atuado nos mais diversos
papéis em outras produções do escritor Roberto Gómez Bolaños, tais como “El
Chapulín Colorado” e “Chespirito”. Sua carreira teve início na Era de Ouro do
cinema mexicano, junto com seus irmãos Manuel “El Loco” Valdés e Germán Valdés
Tin Tán. Seu personagem alcançou o status
de ícone da cultura popular em grande parte da comunicação na América Latina, devido
à histórica conexão com a Europa, especialmente os países colonizadores da península ibérica Espanha
e Portugal, e o impacto da cultura popular dos Estados Unidos da América.
As diferenças culturais são consideráveis e a divisão
do continente no período de colonização fez com que existissem duas línguas aparentemente
dominantes, o espanhol e o português, seguido da cultura indígena de origem
pré-colombiana que tem expressiva influência no Peru, Bolívia e regiões da Amazônia. Devido à diversidade cultural dentro das fronteiras
nacionais, é possível encontrar maior semelhança cultural entre os habitantes
de áreas fronteiriças do que entre estes mesmos e os do interior de cada país.
Isto se deve principalmente a divisão pós-colonial de reprodução material da
existência que acompanhou a formação dos estados nacionais revolucionários e independentes
durante o longo século XIX (cf. Arrighi, 1994).
No início da carreira atuou em filmes, junto com seu
irmão Tin Tán, e também com papéis nos filmes de Pedro Infante e Cantinflas. Ramón
foi um veterano no cinema, atuando em mais de 50 filmes: “Calabacitas tiernas”
(1948), “El rey del barrio” (1949), “Soy Charro de Levita” (1949), “La marca
del Zorrillo” (1950), “Fuerte, audaz y valiente” (1960) e “El capitán
Mantarraya” (1969). Também trabalhou em novelas como “Lupita”, exibida no
Brasil pelo SBT em 1985. É considerado um dos melhores humoristas da América
Latina. Seu personagem na série “El Chavo del Ocho” é cultuado. Em 2010, foi
lançado o livro “Seu Madruga - Vila e Obra”, de Pablo Kaschner, representando
uma homenagem ao personagem mais adorado pelos fãs.
A história do cinema do México começa no início do
século XX, quando vários entusiastas do novo meio documentaram acontecimentos
históricos - em especial a revolução mexicana de 1910 - e produziram alguns
filmes que só recentemente foram redescobertos. Durante os anos 1920, foram
produzidos muito poucos filmes, em grande parte devido à grande instabilidade
do clima político. Nos anos 1930, depois de chegar a paz e alguma estabilidade
política, a cinematografia mexicana arrancou de vez, e foram feitos vários
filmes que ainda experimentavam o novo meio. É importante notar o modo como os
primeiros cineastas mexicanos foram encorajados pela visita que Serguei Eisenstein
fez ao país, relacionado a arte de
vanguarda russa, participou ativamente da Revolução centenária de 1917 e da consolidação
do cinema como meio de expressão massiva artística.
A
Revolução Mexicana foi um conflito armado que teve lugar no México, com início
em 20 de novembro de 1910. Historicamente, costuma ser descrita como o
acontecimento político e social mais importante do século XX no México. Os
antecedentes do conflito remontam à situação do México durante o Porfiriato.
Desde 1876 o general Porfírio Díaz liderou o exercício do poder no país de
maneira ditatorial. A situação prolongou-se por 34 anos, durante os quais o
México experimentou um notável crescimento económico e estabilidade política.
Estes logros realizaram-se com altos custos económicos e sociais, pagos pelos
estratos menos favorecidos da sociedade e pela oposição política ao regime de
Díaz. Durante o primeiro decénio do século XX rebentaram várias crises em
diversas esferas da vida nacional, as quais refletiam o
descontentamento de setores com o Porfiriato.
Quando Díaz assegurou numa entrevista
que se retiraria no final do seu mandato sem procurar a reeleição, a situação
política começou a agitar-se. A oposição ao governo tornou-se relevante dada a
postura manifestada por Díaz. Nesse contexto, Francisco I. Madero realizou
várias rondas pelo país com vista a formar um partido político que elegesse os
seus candidatos numa assembleia nacional e competisse nas eleições. Díaz lançou
uma nova candidatura à presidência e Madero foi detido em San Luis Potosí por
sedição. Durante a sua permanência na cadeia realizaram-se as eleições que
deram o triunfo a Díaz. Madero conseguiu escapar da prisão estatal e fugiu para
os Estados Unidos. Desde San Antonio proclamou o Plano de San Luís, que apelava
a tomar as armas contra o governo de Díaz em 20 de novembro de 1910. O conflito
armado teve inicialmente lugar no norte, estendendo-se posteriormente a
outras partes do território mexicano. Quando os sublevados ocuparam Ciudad
Juárez (“Chihuahua”), Porfírio Díaz apresentou sua renúncia e exilou-se na
França.
O México dominou o mercado cinematográfico da América
Latina durante a maior parte dos anos 1940, sem a competição da chamada indústria cultural
norte-americana. É época de efervescência cultural que recebeu o nome de “Anos
de Ouro” do cinema mexicano, tendo como representantes atores como Pedro Infante, que começou em 1939 e atuou em mais de 60 filmes, e a partir de 1943, gravou cerca de 350 músicas. Por sua atuação no filme Tizoc, ele foi agraciado com o Urso de Plata de 1957 Festival internacional de cinema de Berlim de melhor ator, Jorge Negrete. Em 1952, a atriz Leticia Palma se envolveu na luta entre Cantinflas e Negrete pela liderança do sindicato, mas foi como telegrafista das Ferrovias Nacionais do México na estação Paredón, e durante esse período que ele compôs a peça Carmen, dedicada a Carmen Delgado; Maria Félix, foi atriz e cantora de cinema mexicana. Juntamente com Pedro Armendáriz e Dolores del Río, ela foi uma das figuras mais bem-sucedidas do cinema latino-americano nas décadas de 1940 e 1950, e Dolores del Río nomes que ganharam enorme popularidade. Gabriel Figueroa tornou-se um realizador aclamado pela internalização da SétimaArte, e Emilio Fernández e Luís Buñuel realizaram alguns dos filmes mais importantes do México. Os temas desses anos são dramas ou comédias convencionais. Ipso facto tocaram todos os aspectos da sociedade mexicana, desde o ditador do século XIX, Porfirio Díaz e a sua corte, até histórias de amor, sempre manchadas positivamente pelo drama.
Historicamente o principal problema na definição do que é arte é o
fato de que esta definição varia com o tempo/espaço de acordo com as várias
culturas humanas. Devemos, pois, ter em mente que a própria definição de arte é
uma construção cultural variável e sem significado constante. Até numa mesma
época e numa mesma cultura pode haver múltiplas acepções do que é arte. Também
é preciso lembrar que muito do que chamamos de arte não era ou não é
considerado como tal pelas culturas, diferentes da nossa, que a produziram, e o
inverso também é verdadeiro: certas culturas podem produzir objetos artísticos
que nós não reconhecemos como tais. As sociedades pré-industriais em geral não
possuem ou possuíam historicamente sequer um termo para designar arte.
Apesar da fama e reconhecimento internacional também,
em 1979, Valdés se retirou dos programas de Chespirito. Há rumores de que isto
foi produto de divergências sobre os salários, enquanto outros afirmam que as
diferenças pessoais entre colegas de trabalho foram ficando mais fortes e,
eventualmente, implicou uma separação definitiva. Em uma entrevista, Esteban
Valdés, filho do ator, declarou que a saída de seu pai tenha ocorrido porque
Florinda Meza ex-mulher de Gómez Bolaños - queria obter o controle total sobre
o programa. Essa situação inusitada teria causado desconforto para Valdés,
preferindo receber ordens apenas de Gómez Bolaños, a quem lhe devia sua fama
como artista. Sua demissão seguiu a de Carlos Villagrán, que ocorreu um ano
antes.
Em 1979, o ator passou a trabalhar com Carlos
Villagrán (Quico), que havia saído um ano antes por divergências com Roberto
Gómez. Ambos fizeram várias viagens para apresentar o show Federrico, onde
Ramón interpretava Don Moncho, dono de uma loja. Em 1981, no entanto, após
vários convites, Ramón Valdés voltou a trabalhar com Roberto, desta vez com o
seriado Chespirito, que voltara a ser gravado. Em 1987, trabalhou com Carlos
Villagrán no programa ¡Ah que Kiko! E“Kiko”
passou a ser usado por Villagrán pelo fato de Roberto Gómez ter os direitos
sobre o nome “Quico”. Mas não ficou
muito tempo, já que também se dedicava ao seu circo. Além disso, seus problemas
de saúde se agravaram ao ponto de impedi-lo de trabalhar. Ramón Valdés era
amigo de praticamente todos os seus colegas, dentro e fora do trabalho, mas teve especial amizade com três
atores de Chaves em particular: Carlos Villagrán, Angelines Fernández e Edgar Vivar.
Edgar Vivar e Valdés eram praticamente vizinhos
segundo o próprio Edgar em algumas entrevistas, muitas vezes iam para as
gravações juntos. Pouco antes de Ramón Valdés falecer Edgar Vivar lhe fez uma
visita no hospital e Valdés brincando lhe disse: - “Senhor Barriga, não poderei
mais lhe pagar o aluguel” conta Edgar emocionado ao falar do amigo. Nos últimos
anos de sua carreira, Valdés dedicou-se a viajar com seu circo por todo o
México. No início da década de 1980, um tumor maligno foi descoberto em seu
estômago, com outro tumor já existente em seu pulmão, Ramón Valdés era um
fumante muito ativo, não largando o vício nem mesmo quando permaneceu
internado. Passou a maior parte do tempo dos seus últimos dias sedado após mais
de dois meses internado no Hospital Santa Lena por conta das fortes dores. No
dia 9 de agosto de 1988, faleceu aos 64 anos de idade, devido a um câncer de
estômago que se espalhou pelo corpo e atingiu a sua coluna vertebral.
Encontra-se sepultado em Mausoleos del Ángel, cidade do México no estado do México.
Don Ramon interpretando Dom Quixote de la Mancha ao lado de Roberto Gómez Bolaños.
Em 1997, o Programa Chespirito foi exibido no Brasil pela CNT, emissora que apostara nas novidades da rede mexicana Televisa para alavancar a audiência, e nada melhor do que comprar temporadas recentes deste programa, até então inédito no Brasil, e que não havia terminado há tanto tempo em seu país de origem; por isso, quem assistiu, deve se lembrar dos personagens de Chespirito mais velhos e gordos. A CNT transmitiu Chaves, Chapolin, Pancada, Chaveco e os demais quadros especiais com exibição integral, mas com uma dublagem considerada horrível pela maioria dos fãs. O contrato com a Televisa durou um ano. O próprio Chespirito, um programa com vários quadros humorísticos, exibido entre 4 de fevereiro de 1980 a 25 de setembro de 1995 por Roberto Gómez Bolaños, o criador de Chaves e Chapolin, já citou em diversas entrevistas
que seu personagem preferido da série e melhor comediante, é “Don Ramón”,
afirmando que Valdés foi o único comediante, que já conseguiu fazê-lo
como se diz metaforicamente no dia a dia “chorar de rir”. O sucesso de público e de audiência
do personagem “Seu Madruga” de Ramón Valdez fez sucesso no Brasil, com suas caretas pitorescas e frases, camisetas, bonés e chaveiros,
bem como também existem comunidades de fãs espalhadas por todo o país. Nos
últimos anos da carreira, Valdés dedicou-se a viajar com seu circo
pelo México. No enterro de Ramón, Angelines Fernández permaneceu
cerca de duas horas ao lado do caixão, lamentando profundamente a morte do
amigo. Durante todo o velório, permaneceu dizendo “mi rorro”, apelido carinhoso
que atribuiu a Ramón. Amigos e familiares afirmam que Angelines nunca mais foi
a mesma depois desse dia. Descuidou demais de sua saúde e acabou falecendo quase
06 (seis) anos depois de Ramón devido à um câncer de pulmão. Ramón Valdés
tornou-se um dos comediantes mais queridos do mundo. Ainda hoje, seu personagem
na série “El Chavo del Ocho” (Chaves) é cultuada. É de longe o personagem mais
famoso do seriado, conquistando até os tempos atuais, mesmo muitos anos após o
lançamento da série, mais carisma do que Chaves, o personagem principal do
seriado, principalmente pela grande audiência no Brasil. Um ponto negativo segundo os fãs na exibição, foi justamente a dublagem, pois menos da metade dos dubladores originais voltaram a emprestar suas vozes aos célebres personagens, além das ausências sentidas de Ramón Valdés (Seu Madruga) e Carlos Villagrán (Quico), na série que fizeram falta nos quadros de Chaves, o mais passado pela emissora, além do fato de os atores já estarem mais velhos. Bibliografia geral consultada.
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São Paulo, 11 (125), outubro de 1992; CUEVA,
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______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ) e Doutor em Comunicação Social junto a Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo. Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, campus do Centro de Humanidades.
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