Ubiracy
de Souza Braga*
“A quantidade de ferro e aço usada possibilitaria a construção de 380 Torres Eiffel”. Jéssica Cruz
Maior Usina Hidrelétrica (Itaipu), rio Paraná,
com capacidade de 14.000 MW.
Criada em 1961 para atuar como “holding” do setor
elétrico, a Eletrobrás e suas quatro empresas regionais: a Chesf, Furnas,
Eletrosul e Eletronorte, foram incluídas no Programa Nacional de
Desestatização, regulado pela Lei 9.491/97. Alguns dos produtos das parcerias
estabelecidas com o setor privado, em consonância com o ideário privatista do programa,
foram as usinas hidrelétricas Serra da Mesa (1.293 MW), no rio Tocantins, que
já está em operação, e Itá (1.450 MW), no rio Uruguai, em fase de construção. O
órgão regulador do setor elétrico no Brasil é a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), autarquia vinculada ao Ministério das Minas e Energia criada
pela Lei 9.427/96. Entre suas incumbências administrativas, incluem-se a
regularização e fiscalização da produção, transmissão, distribuição e
comercialização de energia elétrica, o controle das tarifas cobradas e a
execução de diretrizes governamentais para a exploração da energia elétrica e racionalização fordista do potencial
hidráulico. As preocupações relativas aos efeitos sociais e psicológicos
sobre a reprodução humana, em vista os empreendimentos hidrelétricos
convergem, sobretudo, para a região amazônica, devido às peculiaridades locais
de preservação da fauna e flora.
Em comparação com as alternativas economicamente
viáveis, as centrais hidrelétricas são consideradas formas mais eficientes,
limpas e seguras de geração de energia. A construção e a utilização de usinas
pode ter uma série de consequências negativas, que abrangem desde alterações
nas características climáticas, hidrológicas e geomorfológicas locais até a
morte de espécies que vivem nas áreas de inundação e nas proximidades. Os
desajustes trágicos do regime hidrológico afetam a biodiversidade da planície e
pode acarretar a interrupção do ciclo de vida de muitas espécies. Mais
comumente de peixes de grande porte e migratórios e a multiplicação de espécies
sedentárias, aparentemente de menor valor, mas que, consequentemente, afeta as
populações ribeirinhas que vivem da pesca como subsistência. Além disso, o
represamento do rio e a formação do reservatório, aliado às modificações no
ambiente decorrentes da presença destruidora do homem, principalmente pelas
migrações relacionadas à obra, provocam o desequilíbrio do ecossistema e
favorecem a propagação de endemias graves como são a esquistossomose, a malária
e o tracoma.
Ao expulsar comunidades de seus locais de origem, a
inundação das represas também provoca impactos socioeconômicos de difícil superação,
especialmente no caso de populações de baixa renda e que apresentam condições
precárias de educação, saúde e alimentação, como ocorreu com a construção do
reservatório de Sobradinho, no rio São Francisco, que afetou cerca de 70 mil
habitantes que viviam com a sobrevivência basicamente promovida pela agricultura de
vazante, da pesca artesanal e da criação de caprinos. A maioria dos quais teve
grandes dificuldades de adaptação aos locais para onde foram transferidos e à
prática de novas atividades para garantir a reprodução da vida. A situação é
menos complicada quando a população atingida apresenta nível mais elevado de
educação formal, como ocorreu em Itaipu. A degeneração de valores etnoculturais
é outro extraordinário risco político apresentado pelas atividades que envolvem a instalação de usinas
hidrelétricas. Mais intenso quando atinge comunidades indígenas, nas usinas de Balbina, com os Waimiri-Atroari e
Tucuruí, com os Paracanã.
Especialistas apontam como providências
imprescindíveis para minimizar alguns dos efeitos adversos da construção e uso
de centrais hidrelétricas o reflorestamento das margens dos reservatórios e de
seus afluentes; os programas de conservação da flora e da fauna e implantação
de áreas protegidas; o inventário, resgate, relocação e monitoramento de
espécies ameaçadas de extinção que ocorriam na área atingida; a avaliação dos
efeitos do enchimento dos reservatórios sobre as águas subterrâneas; o
monitoramento da qualidade da água; e a realização de estudos arqueológicos
antes do enchimento do reservatório (na usina de Samuel, no rio Jamari, esse
procedimento levou ao resgate de fatos históricos da região, que remontam a dez
mil anos).
Outro consenso entre os estudiosos é a vantagem de
realização de um plano de longo prazo que privilegie, sempre que possível, a
abertura em sequência das bacias de determinada região, por oposição à prática
usual de construção de usinas dispersas em bacias distintas. Por esse método,
só se iniciaria a exploração de uma bacia após estar quase concluído o
aproveitamento de outra da região. Assim, por exemplo, a usina de Belo Monte,
no rio Xingu, só seria construída após a implantação e implementação da maioria
dos aproveitamentos racionais do médio Tocantins; a bacia do Tapajós só seria
explorada após estar quase esgotado o potencial do Xingu, e assim por diante. Além
dos benefícios ambientais e, sobretudo o gerenciamento mais eficaz dos
ecossistemas poderia depreender que esse sistema acarreta uma série de
benefícios econômicos, como a optimização do aproveitamento de estradas de
acesso e sistemas de transmissão.
Apagão é um termo que designa interrupções ou falta de
energia elétrica frequente, como ocorre em “blecautes” de maior duração. A
crise do apagão é uma crise política, institucional e administrativa no Brasil,
que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica. Ocorreu entre 1°
de julho de 2001 e 19 de fevereiro de 2002, no segundo mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso, sendo causada por falta de planejamento e investimentos
em geração de energia. No início da crise levantou-se a hipótese de que talvez
se tornasse necessário fazer longos cortes forçados de energia elétrica no
Brasil. Estes “cortes forçados”, ou “blecautes”, foram apelidados de “apagões”
pela imprensa que espetacularizada ridiculariza as ações humanas.
A aplicação desses cortes que produziriam severas
perdas na economia e na sociedade brasileira pôde ser evitada como resultado de
uma campanha por um racionamento de energia. Mas o termo ganhou uma grande
popularidade, acabando por denotar toda a crise energética, ao invés dos
eventuais cortes forçados. É importante notar também que no português de
Portugal, “apagão” é uma palavra que pode se referir a qualquer tipo de “blecaute”.
Especialmente cortes acidentais de energia, e não um racionamento e
multa por consumo, como inicialmente significava o apagão brasileiro. No idioma
oficial português do Brasil, as quedas ocasionais de energia, quando o
restabelecimento demora mais que alguns minutos, são denominadas “blecaute”. Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Rio: Xingú (Pará). Capacidade: 11.233 MW. Outro fator que contribuiu para agravar a situação foi o fato de que mais de 90% da energia elétrica do Brasil era produzida por usinas hidrelétricas, que necessitam de chuva para manter o nível adequado de seus reservatórios para a geração de energia. Entretanto, naquele ano houve uma escassez de chuva e o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas estava baixo. Além disso, a ausência de linhas de transmissão impediu o governo de manejar a geração de energia de onde havia sobra para locais onde havia falta de eletricidade. O governo teve que preparar um plano de contingência – baseado no acionamento de termelétricas – para a reestruturação do planejamento com a instituição de leilões de energia futura no considerável Mercado Atacadista de Energia (MAE) e para a realização de um rápido investimento em linhas de transmissão.
A
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) criada pela Lei nº 10.848,
de 15 de março de 2004 e regulamentada pelo decreto Nº 5.177 de 12 de agosto de
2004[1], tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no
mercado de energia brasileiro. O governo estabeleceu em 2004 um novo marco
regulatório para o setor elétrico, a Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE) começou a operar em 10 de novembro de 2004 - sucedendo ao Mercado
Atacadista de Energia (MAE) que já havia sucedido a Administradora de
Serviços do Mercado Atacadista de Energia (ASMAE). Ela efetua a contabilização
e a liquidação financeira das operações realizadas no mercado de curto prazo.
As Regras e os Procedimentos de Comercialização que regulam as atividades
realizadas na CCEE são aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL). O Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica é um órgão colegiado constituído por cinco executivos profissionais
eleitos pela Assembleia Geral, com mandato de quatro anos, não coincidentes,
sendo permitida uma única recondução. Ela representa uma autarquia sob regime
especial (Agência Reguladora), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com
sede e foro no Distrito Federal. Ela tem como finalidade regular e fiscalizar a
produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, de
acordo com a legislação e em conformidade com as diretrizes e as políticas normativas do quadro do governo federal. Ela foi criada pela Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996,
durante o 1º mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso. O quadro de pessoal efetivo foi instituído
pela Lei nº 10.871/2004, é composto por 365 cargos da carreira de Especialista
em Regulação, 200 cargos da carreira de Analista Administrativo e 200 cargos da
carreira de Técnico Administrativo.
Fernando
Henrique Cardoso é oriundo de uma tradicional família de militares e políticos
do Império do Brasil: seu bisavô foi o capitão Felicíssimo do Espírito Santo,
deputado e senador pelo Partido Conservador e presidente da província de Goiás;
e o avô foi o general de brigada Joaquim Ignácio Baptista Cardoso. Nascido na
cidade do Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1931, Fernando Henrique Cardoso é o
filho mais velho do militar Leônidas Cardoso e de Nayde Silva Cardoso. Seu pai
foi general de brigada e deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB). Sua mãe nasceu em Manaus proveniente de família alagoana, e fez formação
secundária em um colégio de freiras. Recebeu a instrução básica no Rio de
Janeiro. A partir de 1940, com a transferência de seu pai para a cidade de São
Paulo, o jovem prosseguiu seus estudos em colégios particulares da capital
paulista até o ensino superior, quando ingressou no curso de Ciências Sociais
da Universidade de São Paulo (USP). Formou-se bacharel em Ciências Sociais em
1952, especializando-se em Sociologia no ano seguinte. Foi professor da
Faculdade de Economia entre 1952 a 1953, analista de ensino da cadeira de
Sociologia da Faculdade de Filosofia em 1953. Em 1955, foi primeiro-assistente
de Florestan Fernandes e auxiliar de ensino de Roger Bastide, então professor
visitante. Em 1954, foi eleito, entre alunos, o mais jovem membro do Conselho
Universitário da vetusta Universidade de São Paulo. Obteve o título de Doutor
em Ciências Sociais em 1961 com tese de doutorado em sociologia sobre o
capitalismo e a escravidão. Optando pela carreira acadêmica, especializou-se na
França e tornou-se professor de Ciência Política na Universidade de São Paulo,
onde obteve o grau de Livre-docente em 1963.
Em
1974, a convite de Ulysses Guimarães (1916-1992) presidente do Movimento Democrático
Brasileiro, coordenou a elaboração da plataforma eleitoral do partido,
estimulando o MDB a moldar-se no Partido Democrata norte-americano e pregou que
tanto fazendo alianças amplas como repudiando a luta armada, o partido chegaria
ao poder pelo voto popular. Fernando Henrique saiu dos bastidores acadêmicos e
começou a participar de campanhas políticas pessoalmente a partir das eleições
gerais de 1978. Naquele ano, lançou-se candidato ao Senado Federal por São
Paulo. Sua candidatura foi apoiada pela esquerda tradicional, por parcelas da
classe média mais liberal, por artistas, como Chico Buarque de Holanda, e por
lideranças sindicais, como o então sindicalista Lula da Silva, fundador do PT,
que chegou a representá-lo em comícios. Assim, obteve 1,2 milhão de votos, tornando-se
suplente de Franco Montoro, também do MDB. O bipartidarismo vigente desde o
início do golpe civil-militar de 1° de abril de 1964 foi extinto em 1979,
passando ao multipartidarismo. Com isso, filiou-se ao Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, o sucessor do Movimento Democrático Brasileiro.
Fernando Henrique passou a participar das
articulações visando a transição do regime militar para a democracia,
tornando-se um dos grandes fomentadores das Diretas-já. Com prestígio junto a
Tancredo Neves e Ulisses Guimarães e trânsito entre os militares, contribuiu
para que não houvesse radicalização política e que acontecesse uma transição
pacífica do regime militar para a democracia em 1985. Teve voz na formação do
governo Tancredo, mas a morte deste, seguida da ascensão de José Sarney,
reduziu sua área de influência. Em 1985, licenciou-se do Senado Federal para
concorrer à prefeitura de São Paulo. Durante o último debate ideológico da
eleição, o então candidato deixou de responder objetivamente a pergunta “o
senhor acredita em Deus?”, feita pelo jornalista Boris Casoy, que se tornou
notório por ter sido “âncora” do TJ Brasil, exibido pelo SBT entre 1988 e 1997.
O episódio chegou a ser considerado como “uma quase confissão” de que seria
ateu. Seu adversário, ex-presidente Jânio Quadros, explorou ao fim da campanha
a falta de crença de Fernando Henrique, realizando uma campanha difamatória de
cunho religioso. Posteriormente, ele afirmou nunca ter sido ateu. Jânio o
derrotou por uma diferença de 3,37%, ou pouco mais de 141 mil votos.
Fernando
Henrique exerceu durante o governo Sarney o cargo de líder do governo e do Partido
do Movimento Democrático Brasileiro no senado (1985-1988). Nas eleições de
1986, foi reeleito senador com 6,2 milhões de votos. Os peemedebistas tiveram
uma grande vitória em todo o país devido a popularidade do Plano Cruzado.
Naquele ano, Mário Covas e Cardoso elegeram-se, nessa ordem, os senadores mais
votados da história - cada um com mais votos do que o governador eleito Orestes
Quércia. Após a eleição, os dois tornaram-se os principais líderes nacionais do
PMDB. Em 1988, devido à falta de espaço no PMDB, participou da fundação de um
novo partido político, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O
político deixou os cargos de liderança do PMDB que tinha no senado após
filiar-se ao novo partido, sendo escolhido como líder dos chamados tucanos na
casa. Entre 1987 e 1988, foi membro da Assembleia Nacional Constituinte, que
elaborou a Constituição brasileira de 1988. Em maio de 1993, Itamar nomeou FHC
para o Ministério da Fazenda; Itamar já havia realizado três trocas no
ministério em apenas sete meses. O sucesso do plano no combate a hiperinflação
(cf. Neto, 2003) fez com que Fernando Henrique se tornasse um forte candidato à
presidência da República.
No
final de março de 1994, ele deixou o cargo de ministro da Fazenda para
concorrer às eleições presidenciais daquele ano. A efetiva participação
política de Fernando Henrique na elaboração e condução do plano gera
divergências. Enquanto alguns afirmam que o plano foi organizado e dirigido
exclusivamente pelos economistas ligados ao PSDB, o partido e o próprio Fernando
Henrique Cardoso o consideram politicamente o “pai do Real”. Posteriormente,
Itamar Franco declarou que “a todo instante assistimos na TV o PSDB comemorando
os quinze anos do Plano Real. Ora, isso não nos magoa, mas é uma deturpação,
uma negação da história”. Ainda de acordo com Itamar Franco, Fernando Henrique
Cardoso assinou as cédulas da então nova moeda após ter deixado o Ministério da
Fazenda e que isso foi decisivo para sua eleição à presidência. Mas FHC,
contudo, negou a afirmação e afirmou que as assinaturas do real foram
regulares. A política social foi baseada extraordinariamente no documento: “Uma
Estratégia de Desenvolvimento Social”, lançado pela Presidência da República Federativa
do Brasil em 1996. O documento apresentou politicamente propostas de atuação
para “garantir o direito social, promover a igualdade de oportunidades e
proteger os grupos vulneráveis”. Criou a “Rede Social Brasileira de Proteção
Social”, formada por programas de transferência de renda, como a Bolsa-escola e
o Auxílio-gás. Para coordenar e articular as ações políticas do governo, foi
criado o Programa Comunidade Solidária. Em fevereiro de 1999, Fernando Henrique Cardoso sancionou a criação dos chamados medicamentos genéricos.
Em
setembro de 2000, sancionou a Emenda Constitucional nº 29, que estabeleceu a
destinação de patamares mínimos de recursos do governo federal, estados e
municípios para a saúde pública. Na área educacional, sancionou a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). Em 1996, foi implementado
o benefício de prestação continuada (BPC). Em novembro de 1999, sancionou a lei
n° 9.876, que mudou o cálculo das aposentadorias e instituiu o Fator
Previdenciário, ajudando a diminuir os déficits do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) ao retardar aposentadorias precoces. Um ano antes, ao
defender a reforma da Previdência, declarou: “pessoas que se aposentam com
menos de 50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e
miseráveis”. O gasto social comparativamente ao Produto Interno Bruto
(PIB) cresceu 1,8%, com maior ampliação durante o primeiro mandato. Alguns
índices sociais melhoraram, como o aumento de crianças nas escolas e a
diminuição da pobreza. Pesquisas realizadas no último ano do governo indicaram
que as maiores taxas de reprovação ao desempenho do presidente estavam ligadas
à questão social. Uma matéria da conservadora revista Veja, publicada em maio de 2002, concluía: “a
pobreza caiu, o consumo aumentou, mas a desigualdade manteve-se praticamente
estável, com uma pequena diminuição que pouco alterou o quadro”.
A
carreira de Analista Administrativo, por outros lado, integrante da estrutura
administrativa federal brasileira, é composta de cargos de nível superior de
Analista Administrativo, com atribuições voltadas para o exercício de
atividades administrativas e logísticas relativas ao exercício das competências
constitucionais e legais a cargo das autarquias especiais denominadas Agências
Reguladoras referidas no Anexo I da Lei 10.871/2004, fazendo uso de todos os
equipamentos e recursos disponíveis para a consecução dessas atividades. O
ingresso na carreira de Analista Administrativo é feito mediante concurso
público de provas e títulos. As provas são eliminatórias e classificatórias
(objetivas e discursivas) e a avaliação dos títulos é classificatória, sendo
verificada a experiência profissional e a formação acadêmica (doutorado,
mestrado, especialização) do candidato. A critério da agência que organiza o
concurso, pode ser realizado um Curso de Formação, de caráter eliminatório,
para os candidatos classificados dentro do número de vagas após as provas e a
avaliação de títulos. As provas incluem, basicamente, questões de língua
portuguesa, língua estrangeira (inglês ou espanhol), informática, direito
constitucional, direito administrativo, e aspectos da regulação setorial. Além
disso, há também questões de conhecimento específico do setor regulado e da
sub-área à qual o candidato concorre, por exemplo para a área “Geral” são
exigidos conhecimentos de administração, contabilidade e matemática
financeira).
O
Curso de Formação possui caráter multidisciplinar, sendo realizado em regime de
tempo integral, com carga horária entre 180 e 360 horas, durante o qual o
candidato recebe uma bolsa auxílio no valor de 50% da remuneração inicial da
carreira. As vagas podem ser distribuídas por área de especialização: geral,
comunicação social, contabilidade, documentação, etc. Contudo, a carreira de
Analista Administrativo é única, independentemente da área; não por acaso, o
Curso de Formação é comum a todos os candidatos. A especificação técnica e
administrativa de vagas por área de formação objetiva atender a necessidades
específicas da agência que promove o concurso. O Analista Administrativo recebe
doze salários mensais e mais uma gratificação natalina, no valor equivalente a
um salário mensal, além de um terço de um salário mensal como bônus de férias. A
remuneração mensal consiste em uma parcela fixa, o vencimento básico, e de uma
parcela variável, denominada Gratificação de Desempenho de Atividade
Técnico-Administrativa em Regulação (GDATR). De acordo com a atual redação da
Lei 10.871/2004, a GDATR é calculada em duas partes. A primeira parte é
vinculada à avaliação individual do servidor, consistindo em até 20% do seu
vencimento básico. A segunda parte é vinculada à avaliação institucional da
agência reguladora, consistindo em até 15% do maior vencimento básico da
carreira (Classe Especial, Padrão III).
Além
da GDATR, está prevista em lei outra gratificação, a GQ – Gratificação de
Qualificação, consistindo numa parcela de 10% ou 20% sobre o maior vencimento
da carreira, para o servidor com qualificação de doutorado, mestrado, ou
pós-graduação em sentido amplo com carga horária mínima de 360 horas-aula,
conjugada com a avaliação do seu desempenho no exercício profissional. Contudo,
a GQ carece de regulamentação, ainda não tendo sido adotada em nenhuma das
agências reguladoras. Em junho de 2008, a remuneração mensal no início da
carreira era de R$ 4.320,51, sendo R$ 2906,66 correspondendo ao vencimento
básico inicial, R$ 1353,98 correspondendo à GDATR, e R$ 59,87 correspondendo à
vantagem pecuniária individual. No final da carreira a remuneração mensal
atinge R$ 7.013,72. Não foram consideradas as demais parcelas, como o
auxílio-alimentação (pago em dinheiro) e outros auxílios a que o servidor
porventura fizerem jus, como o auxílio-transporte e o auxílio-creche. Levando
em consideração a GQ de 10% a remuneração mensal inicial pode atingir o
montante de R$ 4.835,61. Já com a GQ de 20% a remuneração inicial pode atingir
o montante de R$ 5.350,71 mensais. Por sua vez, a remuneração no final da
carreira pode atingir, respectivamente, R$ 7.528,82 e R$ 8.043,92 mensais. Em
29 de agosto de 2008 foi publicada a Medida Provisória 441, que
reestruturou a composição remuneratória da carreira de Analista Administrativo,
dentre diversas outras carreiras, com efeitos financeiros retroativos a julho
de 2008. O valor do vencimento básico inicial foi reajustado para R$ 3.740,00,
e a vantagem pecuniária individual deixa de ser considerada. A GDATR agora é
calculada com base num sistema de pontos: até 20 pontos em função da avaliação
de desempenho individual, e até 80 pontos em função da avaliação de desempenho
institucional. O valor do ponto inicial é de R$ 58,12. O valor da remuneração
agora é de 11.071,00 no início da carreira.
Todavia, o que marcou a população foram as medidas do governo federal para forçar os brasileiros a racionar energia. A partir de 1º de julho de 2001, os consumidores tiveram que cortar voluntariamente 20% do consumo de eletricidade, caso contrário, teriam um aumento no valor da energia. Segundo o plano, quem consumisse até 100 quilowatts/hora por mês (30% dos lares brasileiros) não precisaria economizar nada. Acima dessa faixa, a redução era obrigatória e os que não aderissem ao pacote corriam o risco de ter a luz cortada - por três dias na primeira infração e seis dias em caso de reincidência. O governo impôs sobretaxa às contas de energia que fossem superiores a 200 quilowatts/hora por mês, pagando 50% sobre o que excedesse a esse patamar. Haveria uma segunda sobretaxa, de 200%, para as contas acima de 500 quilowatts.
A troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes, bem mais econômicas, foram as principais formas de alcançar a meta de redução do consumo, bem como o desligamento de aparelhos eletrodomésticos, como geladeiras, freezers, televisão etc., durante alguns períodos do dia. Na indústria, máquinas alimentadas por energia elétrica foram trocadas por outras a gás, por exemplo. Segundo cálculo do Tribunal de Contas da União, o prejuízo causado pelo apagão foi de R$ 54,2 bilhões. Uma consequência da crise foi a elaboração de um plano de recuperação do setor de energia elétrica, como um melhor planejamento do setor e investimento na geração de energia elétrica. As usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, todas na “pobre” e inóspita Amazônia, são produto desse investimento posterior ao apagão de 2001.
Houve
outros chamados “apagões” na história recente do Brasil em nada relacionados
com a chamada Crise do Apagão, mas dialeticamente também relacionados à falta de
planejamento, investimentos em geração de energia, falta de manutenção e de
tecnologia adequada, sendo muitas vezes decorrentes de problemas técnicos em
usinas, redes de transmissão ou estações retransmissoras. Desde janeiro de 2011
até o dia 4 de fevereiro de 2014, foram registrados 181 “blecautes” no país,
considerando todas as falhas de energia, independentemente do tamanho da área
afetada, do período ou da carga interrompida, segundo um levantamento feito
pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). Houve em 22 de janeiro de 2005, um grande
blecaute que atingiu os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, afetaram
em torno 3 milhões de pessoas.
Em 7 de setembro de 2007, novamente os dois estados
foram atingidos por desligamento de energia causado por problemas técnico-metodológico
e operacional em Furnas. Em 10 de novembro de 2009, devido a um inédito e a
inexperiência de desligamento total da usina hidroelétrica de Itaipu
Binacional, 18 estados brasileiros ficaram totalmente ou parcialmente sem
energia, sendo a região sudeste obviamente a mais afetada. Os estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo ficaram “totalmente sem luz”. Segundo a
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o “blecaute” em 18 Estados
causou prejuízos econômicos que podem ter ultrapassado R$ 1 bilhão. Em Minas
Gerais, houve “blecaute total” no Triângulo Mineiro e da Zona da
Mata, afetaram partes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Sergipe, Alagoas, Bahia, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia e uma pequena parte de Brasília, Distrito
Federal (DF).
Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós. Rio: Tapajós (Pará). Capacidade: 8.381 MW. Em média essas regiões ficaram 3,5 horas no escuro,
sendo que algumas localidades sofreram até 6 horas. Também grande parte do
território do Paraguai ficou sem energia por aproximadamente 30 minutos. Ao
todo 60 milhões de pessoas foram afetadas.
Em 04 de fevereiro de 2011, quase toda a região Nordeste do País ficou
às escuras a partir das 23h30 (horário local) - 0h30 (horário de Brasília),
após um problema de interrupção em linhas de transmissão locais. O “blecaute”
atingiu pelo menos sete estados: Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Bahia,
Ceará e Rio Grande do Norte. Em 22 de setembro de 2012, outro grande problema
no setor elétrico foi registrado no Nordeste Brasileiro. Em 3 de Outubro de
2012, “novo blecaute” registrado por falha em transformador de Itaipu afetou
cinco Estados. Atingiu áreas do estado do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Acre, Rondônia e parte do Centro-Oeste.
Em 4 de Outubro de 2012, devido ao desligamento geral
da Subestação Brasília Sul, controlada por Furnas Centrais Elétricas, Brasília
também enfrentou uma queda de energia por volta das 13h15 do dia 4 de Outubro
de 2012 e durou por mais de 2 horas. Em 25 de Outubro de 2012, devido ao
incêndio em um equipamento 9 estados da Região Nordeste e parte da Região Norte
ficou sem energia durante 3 horas. Em 15 de dezembro de 2012, um blecaute
atingiu municípios de ao menos seis estados do país, deixando, só no Rio de
Janeiro e São Paulo, 2,7 milhões de consumidores sem luz. O blecaute foi
causado por um problema na hidrelétrica de Itumbiara, em Goiás, de propriedade
de Furnas. Foi o quinto blecaute desde setembro de 2012. Em 28 de Agosto de
2013, outro blecaute atingiu áreas no Nordeste do país às 15h03 de quarta-feira
(28), informou o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Há relatos de
falta de energia em Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE), João Pessoa
(PB) e Natal (RN).
Os níveis dos reservatórios das usinas brasileiras
baixaram muito rapidamente em 2012, por razões ainda não esclarecidas. De
acordo com notícia da Agência Canal Energia, citando a empresa de consultoria
PSR, os reservatórios das hidrelétricas brasileiras iniciaram 2012 com um dos
mais altos níveis de armazenamento dos últimos doze anos. Em janeiro do ano
passado, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste começou o ano com 76% de capacidade
e subiu para 80% no mês seguinte. Ao longo do ano, as chuvas que caíram pelo país
não foram tão parcas como se imagina. Considerando todo o Sistema Interligado
Nacional, a energia natural afluente foi de 87% da média histórica. Por sua
vez, a carga de energia (demanda) não cresceu a taxas elevadas devido ao fraco
crescimento econômico nacional. Por que, então, os reservatórios esvaziaram tão
rapidamente ao longo do ano, atingindo 28% no início de 2013?
As autoridades do setor já sabiam do risco existente,
tanto que, em 18 de outubro de 2012, o ONS determinou o despacho de todas as
usinas térmicas a gás e a óleo disponíveis, algo em torno de 13.200 MW médios,
de acordo com dados do próprio ONS, energia equivalente à geração de mais de 1 ½
Itaipu. Essa operação, embora garanta o abastecimento, tem duas consequências
indesejáveis: aumenta de forma considerável o preço da energia elétrica e faz
crescer significativamente a taxa sistêmica de emissão de CO2 e de outros gases
geradores de efeito estufa. Além das térmicas disponíveis, o governo acionou
duas outras usinas a gás que se encontravam desativadas há alguns anos, de 640 MW de potência, parada desde 2009 por
falta de gás, em decorrência política da quebra de contrato de fornecimento por
parte da YPF argentina, segundo informações do grupo AES Brasil, proprietário
da Usina.
Em 4 de Fevereiro de 2014, cerca de 6 milhões de
consumidores foram afetados pela falta de energia nos estados do Sudeste,
Centro-Oeste e Sul, segundo cálculo do diretor do ONS. O blecaute que atingiu
ao menos 11 estados do país teve origem em um curto-circuito numa linha de
transmissão no estado de Tocantins. Em 11 de Fevereiro de 2014 às 20h20, mais
de 40 cidades ficaram às escuras no ES, incluindo a capital Vitória, devido a
uma falha em uma subestação de Furnas. Em 19 de Janeiro de 2015 ás 14h55, um
blecaute atingiu parte de 10 estados (SP, RJ, ES, PR, SC, RS, GO, MG, MS, RO) e
o DF causando falta de energia a mais de 3 milhões de unidades consumidoras. As
causas decorrem de uma interpretação errada da ordem do ONS para que as mesmas
reduzissem a carga devido a um pico de energia que ultrapassou a capacidade de
produção do país. Por volta das 15h45 a situação começou a ser normalizada. Os
reservatórios das usinas baixos e o calor excessivo contribuíram para o evento.
Em contrapartida do ponto de vista do mercado
econômico de energia a empresa Tractebel, maior geradora privada de energia
elétrica do Brasil, teve um salto econômico de 68,3% no lucro líquido do 4°
trimestre na comparação anual, a 481,9 milhões de reais, favorecida pelo
aumento da venda de energia e de seu preço líquido médio no período. O preço
líquido médio de venda de energia subiu 5,6 % superior em pontos percentuais de
inflação no quarto trimestre, para 152,17 reais o MWh. Isso contribuiu para um
avanço de 16,1 % da receita líquida de vendas, para 1,728 bilhão de reais,
aliado ao incremento no volume de energia vendida. A energia vendida passou de
4.061 MW médios no quarto trimestre de 2013 para 4.337 MW médios de outubro a
dezembro de 2014, com avanço de 6,8 %. Já a produção de energia elétrica nas
usinas operadas pela Tractebel caiu 5,2 % no quarto trimestre, para 5.937 MW
médios.
Bibliografia
geral consultada.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ) e Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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