segunda-feira, 29 de junho de 2015

Jacques Derrida: Moda & Notas Sobre a Metafísica da Presença.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*

Para fingir, eu realmente faço a coisa: eu, portanto, apenas finjo fingir”. Jacques Derrida

                                        
 
 Jacques Derrida, nascido em El Biar, Argélia, 15 de julho de 1930 e falecido em Paris, em 8 de outubro de 2004, foi um filósofo francês, que iniciou durante a década de  1960 a categoria desconstrução em filosofia. Esta “desconstrução”, termo que cunhou, deverá aqui ser compreendida, metodologicamente, por um lado, à luz do que é conhecido como intuicionismo e construcionismo no campo da meta-matemática, na esteira da obra de Brouwer e depois Heyting, ao qual Derrida irá adicionar as devidas consequências dos teoremas da “indecidibilidade” de Kurt Gödel e, por outro, a um aprofundamento do ponto de vista critico da obra de Husserl, Heidegger e Levinas na ultrapassagem da metafisica tradicional, embora  importante, mas que ele vai apresentar de maneira clara como sendo uma “metafisica da presença”, objeto dessas notas de leitura. Formalmente, um problema de decisão representa um subconjunto dos números naturais. O problema correspondente de maneira informal é o de se decidir se um dado número está no conjunto. Um problema de decisão A é chamado decidível ou efetivamente solúvel se A é um conjunto recursivo. Um problema é chamado parcialmente decidível, semidecidível, solúvel, ou provável se A é um conjunto recursivamente enumerável. Problemas parcialmente decidíveis e outros problemas que não são decidíveis são chamados singularmente de indecidíveis.
Fortemente influenciado por Sigmund Freud e Martin Heidegger, Jacques Derrida foi um dos mais importantes filósofos da geração da debacle do pós-estruturalismo e pós-modernismo. Fã de esportes chegou a cogitar seguir a carreira como jogador de futebol. Foi um dos pensadores franceses mais conhecidos internacionalmente, em particular nos Estados Unidos. Ali, a partir de 1956, lecionou nas universidades de Harvard, Yale e John Hopkins. Na França, ensinou na Sorbonne e na Escola Normal Superior. Derrida foi precursor de uma reflexão crítica sobre a filosofia e seu ensino. Isso o levou a criar, em 1983, o Colégio Internacional de Filosofia, presidido por ele até 1985. A psicanálise teve uma importância central em sua obra. Para Derrida, a ideia freudiana do inconsciente revolucionaria a filosofia e costumava citar o conceito freudiano de posterioridade, em alemão: Nachträglichkeit ou aprés-coup. Segundo Freud, há a possibilidade de transformação do passado ao se dar um novo significado às recordações. Ao questionar os conceitos de verdade e de memória, Jacques Derrida entendia que Freud propunha um problema filosófico de magnitude inédita.

Foi o criador do método chamado de desconstrução. Segundo esse sistema, não se trata de destruir e sim de “decompor os elementos da escrita para descobrir partes do texto que estão dissimuladas”. Essa metodologia de análise centra-se apenas nos textos. Em seguida, Derrida criou outros dois conceitos: a “indecidibilidade”, que mostra a impossibilidade de determinar aquilo que é forma no texto ou fundo ideológico; e o conceito de “diferença”, que parte da análise semântica dos dois sentidos do infinito latino differre (diferir): o primeiro remete para o futuro (tempo), o segundo para a distinção de algo criado pelo confronto. Filho de família judia, mas não religioso, Derrida ingressou na Escola Normal Superior de Paris, em 1950. Durante a infância, na Argélia, sofreu com a repressão antissemita. Foi expulso do colégio por causa da redução das cotas para judeus (de 14 para 7%). Essa discriminação o marcou profundamente e sua lembrança é recorrente em suas obras. A família mudou-se para a França em 1949. Fundou a associação Jan Hus, em 1981, para auxiliar “intelectuais dissidentes da Tchecoslováquia”. Ele iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. O seus seguidores ficam conhecidos como os Hussitas.

                            
Ele foi executado em 1415 - foi queimado vivo e morreu cantando um cântico de Davi Jesus filho de Davi tem misericórdia de mim. Foi um precursor do movimento protestante, a sua extensa obra escrita concedeu-lhe um importante papel na história literária checa. Também é responsável pela introdução do uso de acentos na língua checa por modo a fazer corresponder cada som a um símbolo único. Sua estátua pode ser encontrada na praça central de Praga, a Praça da Cidade Velha, em checo Staroměstské  Chegou a ser preso em Praga, após um Seminário clandestino, mas foi libertado graças à intervenção do presidente socialista francês François Mitterrand. Do ponto de vista da simplificação, a partir de aproximação derrdiana podemos dizer que a lógica da desconstrução é mais ou menos essa: Suponha um filósofo que leve por volta de dez anos estudando, formulando teoremas, pesquisando, pensando teorias, lendo outros filósofos para adquirir embasamento, e depois de todo esse tempo lance um clássico da literatura filosófica. E então vem, algum infeliz da Desciclopédia, portanto livre de conteúdo, e escreve em 15 minutos um artigo xingando e fazendo pouco da obra desse filósofo. Pronto! Isso é desconstrução?, mais do que isso como veremos a seguir.
Com uma obra imensa, em torno dos 100 títulos, ao qual se junta a edição em curso dos seus Seminários, é o filósofo mais traduzido no mundo, conquanto pouco lido entre nós, tendo exercido um profundo impacto nas mais diversas áreas das humanidades e ciências humanas, em especial nos campos da estética, teoria da literatura e filosofia do direito, e gerado debates decisivos com os pensadores mais importantes de sua época tais como: Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, John Searle, Paul Ricoeur, Jürgen Habermas, entre outros. Como todo pensador singular, a sua figura é diversas vezes alvo de ataques polêmicos, sobretudo por autores que se reclamam da tradição “analítica” (cf. Braga, 2003), pelas suas opções de escrita filosófica, em geral retomando opiniões expressas por John Searle nos media, quando da sua polêmica durante os anos 1980. Referem - se várias vezes também nestas polêmicas os nomes de Alan Sokal e Jean Bricmont, embora estes autores talvez não o tenham tratado especificamente, tendo-o apenas referido em entrevistas nos media, como parte do que identifica de forma difusa como “pensamento francês”, o que não evitou que diversos jornalistas o tenham associado à polêmica. Depois de ter leccionado na Sorbonne (1960-1964) e na École Normale Supérieure de Paris (1964-1984), Jacques Derrida foi Diretor de Estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris no período (1984-2003).   
      Derrida tornou-se desde finais dos anos 1960, professor convidado das mais prestigiadas universidades europeias e norte-americanas, tais como: Berlim, San Sebastian, John Hopkins, Yale, Irvine, New School for Social Research, Cardozo Law School, Cornell, New York University, entre outras. Foi-lhe igualmente outorgado o doutoramento Honoris Causa por diversas universidades como a Universidade de Cambridge, Universidade de Columbia, The New School for Social Research, Universidade de Essex, Universidade de Leuven, Williams College, Universidade de Silesia, Universidade de Coimbra entre mais de outra dezena delas. Em 2002 foi nomeado para a Cátedra - Gadamer na Universidade de Heidelberg por designação expressa do próprio filósofo alemão Hans Georg Gadamer. Foi membro estrangeiro honorário, desde 1985, da American Academy of Arts and Sciences e da Modern Language Association of America, assim como Presidente honorário do Parlement International de Écrivains. Foi ainda membro fundador do Collége International de Philosophie de Paris, sendo o seu primeiro diretor eleito.
        A noção de “desconstrução” surge pela primeira vez na introdução à tradução de 1962 da Origem da Geometria, de Edmund Husserl. A desconstrução não significa destruição, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita. A desconstrução serve nomeadamente para descobrir partes do texto que estão dissimuladas e que interditam certas condutas. Esta metodologia de análise centra-se apenas nos textos. Falar de desconstrução dentro da teoria do conhecimento é falar de Jacques Derrida. Nascido na Argélia em 1930 e falecido em Paris em 2004, está associado ao pós-estruturalismo, ainda que alguns discordem disso. A imagem abaixo que tem o mesmo nome desta doutrina, expressa uma divisão do corpo humano um tanto anacrônica, ou seja, as partes cortadas não seguem um padrão formal, embora não se possa dizer que não houve divisão. Esta é talvez uma boa questão inicial para abordar a experiência intelectual de Derrida: a natureza da discursividade própria à filosofia, do regime de escrita que realmente lhe convém, não seria uma questão filosófica da mais alta grandeza? Se colocarmos a questão “Como os filósofos escrevem?ficaremos impressionados com a profunda dispersão estilística que faz com que cada experiência filosófica fundamental venha acompanhada de uma instauração discursiva singular.

         Além de valorizar a escritura, o próprio texto derridiano joga com a linguagem, dá esse novo corpo, num exercício literário. Seus textos se filiam, de certa forma, ao poético, ao intraduzível, ao excedente do significante. Sua escritura costuma trabalhar em torno de uma palavra ou um verso a partir do qual ele constrói todo um pensamento. Ao se indagar, por exemplo, sobre a tradução da palavra pharmakon no diálogo Fedro, de Platão, elabora o ensaio A Farmácia de Platão, em que desconstrói justamente a relação entre escrita e fala. Em entrevista a Helène Cixous, escritora francesa a quem se liga como “irmã”, afirma: “O que me guia, é sempre a intraduzibilidade: que a frase não deva nada ao idioma. O corpo da palavra deve estar a tal ponto inseparável do sentido que a tradução só possa perdê-lo”. Derrida mina o sistema não só pelo seu pensamento, como também pelo seu tratar a linguagem. Derrida escreveu sobre Ghost Dance. El cine y sus fantasmas: Una entrevista a Jacques Derrida:
Bajo la mirada espectral de Marx, de todos sus espectros y de los que anunció, a la escucha de su palabra («Un espectro asedia Europa, el espectro del comunismo», dice el comienzo del Manifiesto), he intentado proseguir de otro modo una larga trayectoria cuya cartografía han habitado los espectros. Estos están por doquier en lo que escribo desde hace treinta años. Coincidencia: he actuado incluso en Ghost Dance, una película de Ken McMullen, el cineasta inglés. Fue en 1982, y Marx ya era un personaje, la principal referencia de la película. Algunas escenas se rodaron cerca de su tumba en el cementerio de Highgate, bajo su mirada, por así decirlo, ante su busto teatralizado. Entre Londres y París, la Comuna no estaba lejos. Yo interpretaba a un profesor a quien una joven estudiante (Pascale Ogier) viene a preguntarle si cree en los fantasmas. La pregunta estaba prescrita en el escenario, pero improvisé la respuesta. McMullen la conservó. Esta improvisación filmada convocaba, en el teatro de los fantasmas, toda la modernidad de las imágenes y de lo «virtual», el cine, la televisión, la fotografía... El fantasma no es extraño a la técnica y, aunque pertenece al pasado, es también una promesa, está prometido al porvenir que él promete” (1982).
Historicamente por ser judeu e sofrer com o antissemitismo, Derrida cria que as formações culturais e intelectuais humanas deveriam sofrer uma reinterpretação como elemento fundante de um novo conhecimento: “Não existem fatos, apenas interpretações”. Para Derrida, a desconstrução não quer dizer a destruição, repetimos, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita conforme indica o texto abaixo: O 'método' da 'desconstrução' suscitou amigos e admiradores nos departamentos das Letras, mas revolta e polêmica no mundo da filosofia canônica, visto como uma ameaça à Metafísica clássica. A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a leitura verdadeira da verdade da filosofia, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura correta. A famosa frase “A linguagem se cria e cria mundos”, aponta perigosamente para a contingência dogmática do “Ser” e do “Significado”. Isso quer dizer o seguinte: que os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos contextos e permitem novas leituras, em um processo de interpretação contínuo e vertiginoso.
Em faculdades e universidades, estudantes ativistas lutaram pelo direito de exercer os seus direitos constitucionais fundamentais, especialmente a liberdade de expressão e liberdade de reunião. Muitos ativistas da contracultura tomaram conhecimento da situação dos pobres, e as organizaçóes comunitárias lutaram pelo financiamento de programas de combate à pobreza, em particular no sul e no interior das cidades nos Estados Unidos. Ambientalismo cresceu com maior compreensão do dano contínuo causado pela industrialização, resultado da poluição, bem como a utilização equivocada de produtos químicos, como pesticidas com esforços para melhorar a qualidade de vida da população para um rápido crescimento. Autores Os conceitos segundo Derrida estão sofrendo profundas transformações, e isso é tanto inevitável quanto necessário. Quando vemos heróis como Batman ou o Super-Homem, por exemplo, podemos dizer: “não são ambos heróis”. Embora a resposta correta seja sim, “um tem superpoderes que nenhum humano tem como voar e emitir raios laser dos olhos” e o outro é a antítese desse tipo de conceito de herói, ou seja, sua desconstrução; uma vez que Batmam tem como superpoderes, apenas alguns elementos tecnológicos, além de um desejo de evitar que o mal se instale em sua sociedade londrina (Gothan City fica nos EUA; contudo aqui, Batman representa a velha e órfã Europa). Talvez por isso, Batman expresse uma Europa de uma história sangrenta, sem a chance econômica frente aos superpoderes da modernidade dos norte-americanos.
 
        O próprio Derrida, acusado injustamente de ser obscuro escreve em 1983: - “A desconstrução não é um método e não pode ser transformada num método (...) é verdade que em certos círculos a ‘metáfora’ (...) foi capaz de seduzir ou desencaminhar”. Para Derrida as palavras não têm a capacidade de expressar tudo o que se quer por elas exprimir, de modo que palavras e conceitos não comunicam o que prometem e é nesse ponto que Derrida entra na TC. Para ele as lacunas na escrita e na fala são inevitáveis; é a capacidade de serem modificados no pensamento, na expressão e na escrita que torna os conceitos incompletos. Assim, aquilo que dizemos e ouvimos só será de fato verdade, quando o vemos como algo “incompleto e aceitarmos desconstruí-lo”, na aproximação com Nietzsche, ao firmar que, “algo pode ser irrefutável: por isso ainda não é verdadeiro” e se não o fizermos, a evolução sócio-tecnológico-produtiva o fará por nós, como já o fez como os dogmáticos conceitos de família, território, afeto, direito, etc. Independentemente da polêmica, Derrida é o grande sobrevivente da geração de intelectuais que ditou moda na filosofia, ciências humanas e crítica literária entre os anos 1960-80 em parte do que ocorria no Ocidente.
A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a “leitura verdadeira da verdade da filosofia”, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura correta. A famosa frase “A linguagem se cria e cria mundos”, aponta perigosamente para a contingência dogmática do “Ser” e do “Significado”. Isso quer dizer que os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos contextos e permitem novas leituras, em um processo contínuo e vertiginoso. Em A Gramatologia, Derrida apresenta outra tese inovadora e provocante afirmando que a linguagem escrita precede a linguagem oral, da fala  no humano, alicerçada no princípio anti-idealista que “a existência precede a essência”. Para o filósofo o que está “fora dos livros” é “marginal”, está à “margem da tradição” e situa-se no “limite do discurso”. Derrida se refere constantemente a metafísica ocidental. Essa importância da metafísica na tradição cultural do Ocidente carreia, de há muito, valores universais revelando algumas verdades que segundo Derrida, nada mais são que a caracterização típica de construções sociais arbitrárias de preconceitos e de pressuposições do cotidiano  quando mostra que o princípio da indeterminação impede a possibilidade de pressupor qualquer verdade absoluta, com o que problematiza o cerne da metafísica. A Gramatologia não deve ser uma das ciências humanas nem uma ciência regional dentre elas, porque coloca em questão o nome do homem. Liberar a unidade do conceito é renunciar à velha ideia dos povos ditos “sem escritura”, “sem história”.
Em vez de recorrer aos conceitos que servem habitualmente para distinguir o homem dos outros viventes, apela-se à noção de “programa”, no sentido, por exemplo, da cibernética, que é inteligível a partir de uma história das possibilidades do rastro como unidade de um movimento que faz aparecer o grama como tal e possibilita o surgimento dos sistemas de escritura no sentido estrito. Da “inscrição genética” e das “curtas cadeias” programáticas que regulam o comportamento da ameba ou do anelídeo até a passagem para além da escritura alfabética às ordens do logos e de certo homo sapiens – a possibilidade do grama estrutura o movimento de sua história segundo níveis e ritmos rigorosamente originais. A história da escritura se erige sobre o fundo da história do grama “como aventura das relações entre a face e a mão”. Foi em 1967 que Jacques Derrida lançou duas importantes obras, abalando as bases do estruturalismo predominante nas ciências humanas francesas. A primeira era uma coletânea de artigos e palestras, reunidas sob o título Escritura e Diferença (1971). A segunda, uma reflexão sistemática acerca de uma possível nova ciência do escrito, a Gramatologia (1973), que coloca a letra (gramma em grego) em sua concretude no centro da investigação. Em ambas, aparecem uma crítica radical da metafísica que perpassava o pensamento ocidental e científico, ao menos desde Platão.
 Pensando bem, se a metafísica deveria ser “superada”, era porque, dentre outros motivos, ela não podia dar conta da vida sócio histórica, da vida humana captada em sua dinamicidade. Em Escritura e Diferença ipso facto já inicia projetando “uma história imaginada da imaginação estruturalista”. Quanto à Gramatologia, Derrida afirmou alguns anos depois da publicação que era “um livro de história, completamente” (cf. Derrida, 1992). A historicidade está, portanto, no veio do pensamento derridadiano, ou seja, o que é característica do homem enquanto Ser, mergulhado no tempo universal. Mas ele igualmente teceu, diversas vezes, críticas ao conceito de História pela enorme carga metafísica que possuía. No ocidente, o termo incorporou uma espécie de “significado transcendental”, adequou-se plenamente ao idealismo, melhor dizendo, “à vontade de verdade abstrata e de natureza onto-teológica” que procura explicitar a questão do ser no horizonte da diferença ontológica, na medida em que o diálogo se sustenta em algo ainda impensado, cuja expressão se manifesta em abundância. Este impensado não obedece a uma ordem sistemática que procura sempre atingir o mais alto pensamento especulativo, mas abre-se para liberdade e entrega do pensamento, na tentativa de perceber o que dele já foi e continua por descobrir. Ao postular o impensado, a filosofia a ontologia o sento do ser. As questões originárias estão fora da história, embora expressando sentido em sua origem.

Bibliografia geral consultada.

DERRIDA, Jacques, A Escritura e a Diferença. São Paulo: Editora Perspectiva, 1971; Idem, Dissémination. Paris: Éditions Du Seuil, 1972; Idem, Gramatologia. Tradução de Miriam Schnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973; Idem, Acts of Literature. Editor Derek Attridge. New York: Routledge, 1992; Idem, Force de Loi: Le Fondement Mystique de l’Autorité. Paris: Éditions Galilée, 1994; Idem, Politiques de l`Amitié suivi de L`oreille de Heidegger. Paris: Éditions Galilée, 1994; Idem, A Farmácia de Platão. São Paulo: Editoras Iluminuras, 1997; Idem, Papel-máquina. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2004; DUQUE-ESTRADA, Paulo César (Org.), Às Margens: A Propósito de Derrida. São Paulo: Editora Loyola, 2002; NASCIMENTO, Evando (Org.), Jacques Derrida: Pensar a Desconstrução. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2005; FONSECA, Fernando Facó de Assis, A Verdade da Desconstrução: O Horizonte Ético do Pensamento de Jacques Derrida. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008; PEETERS, Bennoît, Trois Avec Derrida: Les Carnets d`un Biographie. Paris: Galilée, 2005; Idem, Derrida. 1ª edição. Prefácio e revisão técnica de Evando Nascimento. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2013; PEREIRA, Gustavo Oliveira de Lima, Da Tolerância à Hospitalidade na Democracia por Vir. Um Ensaio a partir do Pensamento de Jacques Derrida. Tese de Doutorado em Filosofia. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2014; BORGES, Gabriela Lafetá, Jacques Derrida e a Ética: Desconstrução como Justiça. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016; NOGUEIRA, Bernardo Gomes Barbosa, Direito e Literatura: Hospitalidade e Invenção. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2018; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

domingo, 28 de junho de 2015

Patativa do Assaré, Cordelista & Poesia Popular de Legado do Ceará.

Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

Eu digo com toda fé: De prata se faz arreio, faz faca, garfo e cuié”. Inácio da Catingueira


        Inácio da Catingueira (1845–1878/1879) foi um escravo, poeta, cantador e repentista brasileiro. Analfabeto e de pai desconhecido, sequer tinha sobrenome e, por isso, ficou reconhecido como Inácio da Catingueira por ter nascido e crescido, escravizado, em Catingueira, Paraíba. Foi um poeta, cantador e repentista brasileiro negro e escravizado, nascido em 1845 na cidade de Catingueira, no sertão paraibano, e falecido em 1879 ainda em condição de escravo, antes da abolição oficial da escravidão em 1888. Ele é uma figura histórica importante da literatura de cordel e da tradição oral nordestina, embora tenha sido marginalizado e apagado da história oficial. Sua notoriedade se deve principalmente a uma famosa “peleja” - um duelo de rimas improvisadas - que ocorreu em 1870 no Mercado Municipal da cidade de Patos (PB), onde Inácio enfrentou Romano da Mãe D’Água, um pequeno proprietário rural branco e senhor de escravos. A disputa poética durou oito dias e ficou registrada em cordéis de autores como Silvino Pirauá de Lima e Leandro Gomes de Barros. Na peleja, Romano tentava diminuir Inácio por sua condição de escravizado e sua cor, usando até ameaças e comparações violentas para intimidá-lo, enquanto Inácio, apesar das adversidades e da inferioridade social imposta. Respondia com talento, coragem e habilidade na improvisação, subvertendo a posição subalterna e afirmando sua identidade e dignidade. 
        Essa batalha das ideias simboliza um ato de persistência e liberdade em um contexto de extrema violência e opressão. Inácio da Catingueira era analfabeto e não possuía sobrenome próprio, sendo identificado pelo nome da sua terra natal, o que era comum entre pessoas escravizadas na época. Sua arte, passada inicialmente pela oralidade, foi posteriormente transcrita, sofrendo alterações, mas preservando a memória de sua voz e talento. A figura de Inácio da Catingueira tem sido resgatada e reinterpretada na contemporaneidade, por exemplo, pelo rapper Emicida, que em sua canção “Inácio da Catingueira” homenageia esse pioneiro da literatura negra brasileira e faz um paralelo entre o repente nordestino e o rap, ambos com raízes na tradição oral africana e instrumentos de subversão social. Em resumo, Inácio da Catingueira representa um símbolo de resistência cultural e racial, cuja trajetória articula a luta contra a escravidão e o apagamento histórico, evidenciando a importância da oralidade e da poesia como formas de afirmação da identidade negra no Brasil do século XIX. Inácio veio a falecer em decorrência de uma pneumonia, em consequência de trabalhos no campo, com pouco mais 33 anos de idade. Seu corpo não foi sepultado na fazenda, como de praxe faziam com os escravos. Repousa em uma praça, no centro da cidade, e leva o seu nome, tendo, inclusive, uma estátua em sua homenagem. Talvez tenham sido os desafios característicos de uma época da história social e política que transformaram a cultura da América Latina em um vasto arsenal de fatos surpreendentes, insólitos, brutais, incríveis, encantados; isto é, uma profusão de fantasias, maravilhas e barroquismos. 
         Os impasses e as façanhas de uma época permitem reler o passado e o presente. É como se um novo horizonte iluminasse de repente todo o mural da história social, revelando fatos e feitos que adquire outro movimento, som, cor. O romancista pode ser um cronista “fora do tempo”, narrando o imaginado e o acontecido segundo a luz que o ilumina. E o repentista é o poeta popular, par excellence, do Nordeste. Esta é a tese que defendemos nestas notas. Assim, ele pode representar “um estilo de olhar”, na medida em que está inserido no realismo mágico e parece uma superação do realismo social, crítico. Tem sido visto como um estilo diferente, novo. Mas ele aparece na literatura latino-americana em dada época, mais do que em outras. É no século XX, com as primeiras recepções de Jorge Luís Borges estreando em livro em 1923, com os poemas reunidos em Fervor de Buenos Aires, em 1925 mostrando sua perspectiva como ensaísta maduro, e logo depois, sendo renegado em seu livro, Borges, demonstrando sua contraface de ensaísta, como no depois renegado Inquisiciones, entre outros, como Gómez de la Serna, Valéry Larbaud, P. H. Ureña, premiado em 1929, na maioria dos casos Borges antes provocou “a irritação de críticos e resenhadores”. Mas logo a reflexão por ele iniciada assumirá outra direção. Em 1933, Anderson Imbert acusava Borges de não ser “ni remotamente, un crítico ou un pensador nacional” e que pelos dois motivos, figuras como ele “están ausentes del país”. No mesmo ano, R. Doll ia além e informava que “sua prosa era anti-argentina!”.
                                       
            A arte do “trovadorismo”, proveniente da Península Ibérica, chegou ao chamado  “Novo Mundo”, e floresceu tanto na Américas Espanhola, quanto na Portuguesa. Houve um tipo de literatura popular em verso no México, Chile, Nicarágua e Argentina muito parecida com o folheto nordestino. Até a gravura popular usada para ilustrar os “corridos mexicanos”, e as “folhas soltas” da lira popular chilena, apresentam características parecidas com a brasileira, em particular nordestina, sem falar que muitos dos temas aproveitados pelos autores da literatura de cordel nordestina também foram explorados naqueles países. O que torna o romanceiro bastante singular, porém, é o formato padrão adotado desde os primórdios por Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Francisco das Chagas Batista e outros importantes poetas-editores. Não domino o tema, mas admiro-o, apenas isso, não pretendo mais que um olhar, como para uma mulher que meu desejo, se me permitem dizer que é escolhida como ponto de vista .                              
Leandro Gomes de Barros (1865-1918) foi um poeta de literatura de cordel do nordeste brasileiro. É considerado por alguns analistas como o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito mais de 230 obras. No seu tempo, era cognominado “O Primeiro sem Segundo”, e ainda é considerado o maior poeta popular do Brasil em todos os tempos, autor de vários clássicos e campeão absoluto de vendas, com muitos folhetos que ultrapassam a casa dos milhões de exemplares vendidos. Compôs obras-primas que eram utilizadas em obras de outros grandes autores: Ariano Suassuna, por exemplo, utilizou a história do cavalo que estercava dinheiro no seu Auto da Compadecida. Depois de fundar uma pequena gráfica, em 1906, seus folhetos se espalham pelo Nordeste, sendo considerado por Câmara Cascudo “o mais lido dos escritores populares”.
            Neste sentido, para lembrarmo-nos da magnanimidade, segundo o poeta e escritor Carlos Drummond de Andrade, homenageado com estátua na cidade do Rio de Janeiro, foi, “no julgamento do povo, rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”. Do ponto de vista da oralidade, segundo Permínio Ásfora, teria sido preso em 1918, porque o chefe de polícia considerou afronta às autoridades alguns dos versos da obra: O Punhal e a Palmatória, trama que tratava de “um senhor de engenho assassinado por um homem em quem teria dado uma surra”. Sebastião Nunes Batista, no entanto, em Antologia da Literatura de Cordel (@), da Fundação José Augusto, na cidade de Natal, 1977, dá como: causa-mortis: “Influenza”, conhecida gripe espanhola, que não trataremos agora.
João Martins de Athayde (1880-1959) poeta e Editor foi um dos autores que mais contribuiu para a divulgação da literatura de cordel produzida no Brasil no século XX. Participou da primeira geração de proprietários de Editoras especializadas em cordel no Brasil, juntamente com Francisco das Chagas Batista e Leandro Gomes de Barros. Nasceu na Paraíba, mas foi muito jovem para Recife, onde se iniciou no comércio de cordéis. Gostava muito de cinema e passou a usar fotografias de artistas de Hollywood “como ilustração das capas dos folhetos”. Também encomendava a jovens gravadores cartazes de filmes ilustrações para seus livros de versos. Possuía tipografia própria. Com a morte de Leandro Gomes de Barros, comprou à esposa do poeta os direitos autorais do antecessor, numa das primeiras transações do gênero no Brasil. Isto é importante do ponto de vista da origem.
De posse legal sobre as obras, passou a usar o nome João Martins de Athayde como autor de centenas de folhetos que haviam sido escritos por Leandro Gomes de Barros. Esta confusão somente foi desfeita na década de oitenta quando a Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ) publicou os originais escritos por Leandro e, assim, a autoria de muitos folhetos foi restituída. No entanto, este fato não diminui a importância da obra de João Martins de Athayde, nem tampouco sua contribuição para a poesia popular no Brasil. Suas obras até hoje são reimpressas, quando seu estilo irônico e jornalístico se revela nos versos que faziam a crítica aos costumes modernos.
Francisco das Chagas Batista (1882-1930). Em 1900, vendia água e lenha e estudava, em Campina Grande; seu primeiro folheto, Saudades do sertão, é de 1902; em 1905 vendeu folhetos no Recife, e em Olinda passou pouco tempo no seminário; depois, trabalhou na ferrovia de Alagoa Grande. Em 1907, pioneiramente, versejou o romance Quo vadis, de Henryk Sienkiewicz. Em 1909, residiu em Guarabira, onde trabalhou com o irmão, o editor Pedro Batista e casou com a prima Hugolina Nunes - tiveram 11 filhos, dentre eles os poetas populares: Paulo, Pedro, Maria das Neves e o folclorista Sebastião Nunes Batista, que produziu obras referenciais do cordel. Em 1911, vivia na capital da Paraíba e negociava com livros; em 1913 fundou a Livraria Popular Editora, editando paródias, modinhas, novelas, contos, poesia, e se firmou como um dos intelectuais da época. Em 1929 publica o livro: Cantadores e poetas populares, imprescindível para a pesquisa em literatura popular em verso “por conter as mais antigas e confiáveis informações sobre esta forma poética”.
Ele decerto, fora dos primeiros Editores de cordel e imprimiu produções de muitos poetas populares da época, exceto de João Martins de Ataíde. Conquanto se o tenha como dos maiores autores do cordel, o estágio atual da pesquisa antropológica e historiográfica, objeto de nossa pesquisa, não permite precisar quantos folhetos produziu-se. Ruth Terra identificou-os em Coleções 45, inquestionavelmente escritos por ele, dentre os quais 19 sobre a nascente gesta do cangaço e clássicos que criou ao dar forma poética à História da Imperatriz Porcina, de Balthazar Dias, Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães e História de Esmeraldina, baseada no Decameron, de Boccaccio.
O livro trata de Isaura, escrava que nasceu quase branca e é tratada como filha por sua sinhá, alvo da luxúria e paixão de Henrique (fugazmente), Leôncio (maléfica, controladora e luxuriante), Belchior (ridícula, servil e confusa) e Álvaro (pura e amorosamente). Outros sentimentos dirigidos a Isaura incluem a inveja de Rosa (outra escrava, preterida por Leôncio como amante) e o carinho de seu pai Miguel. No começo trata-se do passado de sua mãe, maltratada por seu dono, o pai de Leôncio, que a tem com um ex-feitor de bom coração. Quando estava para ser forra morre este dono e Leôncio a herda, sem intenções de alforriá-la. A esposa deste o deixa e ele manda Isaura para um cativeiro. De lá ela e o pai fogem para Recife onde conhece Álvaro e se apaixona por ele. Vai a um baile da alta sociedade e é muito admirada por seus dotes físicos e culturais, mas é denunciada como escrava pelo ganancioso Martinho. De volta no Rio de Janeiro “é presa por dois meses no tronco e seu pai vai para a cadeia”. Prestes a ser liberta para se casar obrigada com o deformado Belchior pela liberdade, achando que Álvaro está casado, é impedida por este que liquida os bens de do falido Leôncio, que se mata para fugir da humilhação. A história foi adaptada vezes para outras mídias, a mais célebre sendo a novela com Lucélia Santos no papel-título. Não é de hoje que escritores se encarregam da edição de livros.

 O filósofo Hegel editou seu próprio livro. Temperar a solidão criativa da página em branco com o burburinho dos trabalhos de produção gráfica, divulgação, distribuição, seleção de originais, tradução, talvez esteja aí um dos motivos para esse acúmulo de funções. No âmbito nacional, é inevitável lembrar-se de Monteiro Lobato, pioneiro no estabelecimento da indústria editorial brasileira. Mais especificamente no campo da poesia, podem-se mencionar nomes como os de João Cabral de Melo Neto - fazendo às vezes de artista gráfico, tipógrafo, editando livros de amigos durante o tempo em que serviu como diplomata na Espanha -, ou, mais perto de nós, no de José Paulo Paes, funcionário e esteio intelectual da editora Cultrix por mais de três décadas. Fora do Brasil os nomes se multiplicam: Phillipe Soupault, Octavio Paz, Juan Ramon Jimene, entre outros. É claro que a expressão poeta-editor pode designar atuações muito diversas no âmbito da cultura. Sob tal chancela podemos encontrar desde um trabalho bissexto e mais restrito às artes plásticas (João Cabral) até a atividade empresarial propriamente dita, exercida regularmente (Monteiro Lobato), passando pela prestação de serviços (José Paulo Paes) em graus variáveis de implicação no projeto editorial em curso. Por isso, vale a pena perguntar que tipo de interação social ocorre, em cada caso concreto, entre os papéis de poeta e de Editor.
Investigar de que maneira as convicções do poeta afetam as escolhas e procedimentos do editor e vice-versa: sondar o impacto das exigências editoriais sobre a concepção de poesia sustentada pelo escritor e assim por diante. O estilo poético nordestino é maravilhoso, rico em folclore, lendas e valores regionais. Encontra-se principalmente associado à música, com destaque para os violeiros. A partir da viola se desenvolvem os desafios, emboladas, repentes, cantorias, um sem-fim de ritmos e estilos próprios dos cantadores da região. A cantoria, por exemplo, conceptualmente, “consiste em um improviso, em tom de desafio, entre repentistas”. Seu primeiro representante é Romano do Teixeira, da Serra do Teixeira, no estado da Paraíba, ainda no século XIX. As poesias regionais do Nordeste geralmente são encontradas no formato de libretos de cordel. A poesia de cordel recebe este nome por causa de uma velha tradição em Portugal. No século XVII, eram comuns que “os folhetos fossem colocados à venda pendurados em um barbante, presos por pregadores de roupa”. Barbante, corda, cordel - os cantadores e repentistas nordestinos adotaram este costume, pendurando seus versos e popularizando o que é hoje um dos principais símbolos da cultura popular brasileira. Na Peleja entre Inácio da Catingueira e Romano do Teixeira, começa com Inácio, seguido por Romano e segue alternando ad infinitum:    
(Inácio)/Senhores que aqui estão/Me tirem de um engano: Me apontem com o dedo/Quem é Francisco Romano,/Pois eu ando no seu piso/Já não sei há quantos anos./ (Romano)Negro me diga o seu nome/Que eu quero ser sabedor,/Se é solteiro ou casado,/Aonde é morador,/Se acaso for cativo,/Diga quem é seu senhor./Eu sou muito conhecido,/Aqui nesta ribeira,/Este é o seu criado/Inácio da Catingueira./Dentro da Vila de Patos,/Compro, vendo e faço feira./Vieste a Patos/Procurando quem te forre/Volta pra trás, meu negrinho/Que aqui ninguém te socorre;/E quem cai nas minhas unhas/Apanha, deserta ou morre.”
Daí vem à questão da “interação social” (cf. Coulon, 1995), pouco entendida pela sociologia vulgar, praticada nestes rincões.
Eu vim a Patos/Pela fama do senhor,/Que me disseram que era/Mestre e rei de cantador;/E que dentro de um salão/Tem discurso de um doutor./Que andas fazendo/Aqui nesta freguesia,/Cadê o teu passaporte,/A tua carta de guia/Aonde tá teu sinhô/Cadê a tua famia./Eu sou cativo,/Trabalho para meu sinhô.../Quando vou para uma festa/Foi ele quem me mandou,/E quando saio escondido/Ele sabe pronde eu vou./Deixa-te disto,/Não te possa acredita/Pois eu também tenho nego/E só mando trabaiá.../Como é que teu sinhô/Vai te mandá vadiá?/Inaço da Catinguera/Escravo de Mané Luiz/Tanto corta com risca,/Como sustenta o que diz!/Sou vigaro capelão/E sacristão da matriz./Este aqui é seu Romano/Dentaria de elefante,/Barbatana de baleia,/Força de trinta gigante,/É ouro que não mareia,/Pedra fina e diamante./É nego desengonçado: Abre cacimba no seco/Dá em baixo do muiado...”.
A cidade de Patos, na memória dos repentistas, representa um município brasileiro do estado da Paraíba, localizado na microrregião de Patos, na mesorregião do Sertão Paraibano. Distante 307 km de João Pessoa, sua sede localiza-se no centro do estado com vetores viários interligando-o com toda a Paraíba e viabilizando o acesso aos Estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. De acordo com o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, no ano de 2009 sua população era estimada em 100.732 habitantes. Patos, é a 3ª cidade-pólo do estado da Paraíba, considerando sua importância socioeconômica e cultural.
Aperta sem sê troquês,/Corta pau sem sê machado./O meu martelo,/Por bom ferreiro é forjado;/Tanto ele é bom de aço,/Como está bem temperado;/A forja onde ele foi eito/É toda de aço blindado./Eu lhe garanto/Que resisto ao seu martelo;/Ao talho do seu facão,/Ao corte do seu cutelo;/Se eu morrer na peleja,/Lhe vencerei no duelo./Negro criado vadio/Tem por fim acabar má;/Uns casam com mulher forra/Outros dão pra roubá./Outros fogem do serviço/Com medo de trabalhá./Eu felizmente não sou/Escravo de senhor cru,/Que trabalha todo o dia/De noite faz quinguingu/Aparpando no escuro/Fossando que nem tatu/Estou ouvindo as tuas loas,/Não te possa acrediar./Que eu também tenho escravo/Mas não mando vadiar,/Que eu saio pra divertir/Os negros vão tabalhar./Sou cativo,/Mas trabalho no comum./Dar descanso a seus escravos/É gosto de cada um/Meu sinhô tem muito negro,/eu Romano só tem um./Pra negro eu tenho chicote/E palmatória e trabuco./Boto-o na mesa do carro/Passo por cima e machuco/Vadeio de lá pra cá:  Traco-traco! Truco-truco/Meu facão/Também trabalha em seu quengo!/Desmastreio-te a carreira/Como um cavalo de rengo/E vou de uma banda pra outra/Traco-traco! Tengo-tengo/Nego, se eu te pegar/Numa volta de caminho/Eu te faço um agrado,/Com meu chicote um carinho/Se a camisa for nova/Só te deixo o colarinho/Sou abelha de ferrão/Sou besouro de caboco,/Se eu pegar seu Romano,/Dou um arrocho, deixo-o rouco/De quebrar-lhe as canelas/Só deixar-lhe dois catoco/Negro você não me venha/Que se vier eu lhe abeco/Sacudo-o em cima da forja,/Com os fole eu te sapeco,/Boto-te em cima da safra,/Com dois malhos, teco-teco/Não se alegre/Que a hora não acabou-se./Eu derrubo de machado,/Acabo, pico de foice”.
            Irineu Joffily, cognominado o “historiador do sertão” tendo em vista os estudos e pesquisas que realizou sobre a zona criatória, presenciou a escravidão. Mas não reconheceu sua importância para a economia da região. Ponderou que para a atividade criatória a raça americana, ou seja, o nativo se prestou melhor do que o africano. Entretanto, tendo em mãos os dados estatísticos populacionais da Paraíba, do século passado, ficou surpreso com a quantidade de escravos existentes em municípios sertanejos, particularmente, em Piancó e São João do Cariri. À semelhança do historiador cearense afirmou que a presença significativa dos cativos constituía uma ostentação do fazendeiro. O cangaço na interpretação de Daniel Lins (1997) revela um aparente fenômeno social ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: tomavam de assalto fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão brasileiro, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo. Cangaço é palavra derivada de “canga”, “peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de bois nos carros de boi”. Cangaceiro foi o nome herdado a todos os ditos “criminosos”, uma vez que os prisioneiros eram obrigados a carregar seus pertences pendurados no pescoço.
O senhor nunca me viu/Frangi o couro da venta,/Meu cabelo se arpoá/E a testa ficar cinzenta.../Cantadô, quando eu me agasto,/Esfria com água benta/Quando pego um cantador,/Adoece de repente,/Dá-lhe uma dor de cabeça/E uma conceira ardente/É um vexame tão grande/Que não há diabo que aguente./Meu martelo tem azougue/Cantador dele não sai,/Dá-lhe um frio com tontura,/eca a carne a língua cai,/Fica o corpo sem governo/E a alma vai-e-não-vai./Inaço, tu tem cabeça/Porém juízo não tem!/Um gigante nos meus braços/Aperto não é ninguém!/Aperto um dobrão nos dedo/Faço virar um vintém./Tem coisa que dá vontade/Me meter na vida alheia: Quem mata assim tanta gente/ainda não foi pra cadeia!/Pegá um gigante à mão/E não ficá ca mão cheia!/Rebentar dobrão nos dedo/E não quebrá uma veia: Esse dobrão é de cera,/Esse gigante é de areia.../Inaço, fica sabendo/que sou rei nesta ribera!/Tá me dando uma veneta/Fazê uma brincadera: Eu quero mudá-te o nome/De Inaço da Catinguera.../Desse pau tão duro e forte/Eu faço burra leitera/E se me dé na cabeça/Faço virá bananera.../O branco mais muita gente,/O negrinho mermo só,/O branco vem de cacete,/E eu recebo a cipó.../No pau que fizé entalha/Eu lavro sem deixá nó: O branco corta a machado,/Eu lavro mermo de enxó.../Se mete a cantar repente,/Negro me trata melhor,/Que estamos em meio de gente/Queira Deus você não saia/Da sala de couro quente./Meu branco dou-lhe um conselho,/Espero o sinhô tomar,/Se tire desse sentido,/Se arrede desse pensar,/Juro com todos os dedo/Que um homem só não me dá./Fala como uma folhinha.../Não quero escutá bobage,/Guarda a tua ladainha,/Não és pra me dá conselho: Quando tu ia eu já vinha”.                      
             Diversas comunidades de escravos libertos no Brasil (afro-brasileiros) retornaram à África entre os séculos XVIII e XIX. Entre eles destacam-se os Tabom, retornados ao Gana em 1835-36, e os Agudás ou Amarôs, no Benim, no Togo e na Nigéria. Numerosos, esses brasileiros estabeleceram-se na região da antiga costa dos Escravos - que abrangia todo o golfo de Benim, indo da atual cidade de Lagos, na Nigéria, até Acra, em Gana. Milton Guran em seu livro: Agudás - os brasileiros do Benin, resume: Os negros brasileiros do Benim, Togo e Nigéria, também conhecidos como agudás, nas línguas locais, são descendentes dos antigos escravos do Brasil que retornaram à África durante o século XIX e dos comerciantes baianos lá estabelecidos nos séculos XVIII e XIX. Possuem nomes de família como Souza, Silva, Almeida, entre outros, festejam Nosso Senhor do Bonfim, dançam a burrinha, forma arcaica do bumba-meu-boi, fazem desfiles de Carnaval e se reúnem frequentemente em torno de uma “feijoada” ou de um “kousidou”. Ainda hoje são comuns os agudás mais velhos se cumprimentarem com um sonoro: “Bom dia, como passou?” ou,- “Bem, ‘brigado”, é a resposta”.
O Patativa do Assaré, por exemplo, é emblema da poesia popular nordestina. O apelido se refere a uma ave do sertão, a patativa, e à cidade perto da qual o poeta nasceu. Patativa faleceu em 2002, mas ficaram seus versos, falando sobre o sofrimento do povo. Seu estilo possui um acento social e muitas vezes satírico. Assim como a maioria dos poetas regionais, Patativa do Assaré nunca chegou a frequentar escola e sempre compôs de memória. Desprezava a gramática - para ele, “uma grande besteira”, preferindo o registro das coisas “como são ditas e ouvidas”. Assim falava Patativa, criticando o aparelho de televisão, intitulado: “Presente Disagradável”: Toda vez que eu ligo ele/No chafurdo das novela/Vejo logo os papo é feio/Vejo o maior tumaré/Com a briga das mulhé/Querendo os marido alheio/Do que adianta ter fama?/Ter curso de Faculdade?/Mode apresentar programa/Com tanta imoralidade!”. Enfim, Patativa do Assaré é o nome artístico (pseudônimo) de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré, estado do Ceará.

            Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina. Dedicou sua vida a produção de cultura popular, voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino. Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como “compositor, improvisador e poeta”. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista. Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento histórico começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família. Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém ficou poucos meses nos bancos escolares. Nesta época, começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos. Ganhou da mãe uma pequena viola aos dezesseis anos de idade.
Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade. Ganhou o apelido de Patativa, “uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade”. Nesta época, começou a viajar por algumas cidades nordestinas para se apresentar como violeiro. Cantou também diversas vezes na rádio Araripe. No ano de 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias, intitulado: “Inspiração Nordestina”. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar aonde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. “Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão”, declamava. Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se espalhou. Com oito anos de idade, “trocou uma ovelha do pai por uma viola”. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era Patativa do Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de “patativas” porque viviam cantando versos. Ele era apenas um deles. Para ser mais bem identificado, adotou o nome de sua cidade.
Com muita criatividade e inteligência criadora, retratou aspectos culturais importantes do “homem simples” do Nordeste. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras. Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser: Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, “já disse tudo que tinha de dizer”. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe empresta o nome. Vale lembrar que a importância da atividade do poeta independe da notoriedade alcançada, podemos citar como exemplo o Contador Moacir Ribeiro da Silva que, como tantos outros poetas, presta ativa homenagem ao seu povo e história através da literatura de cordel. É o caso dos versos intitulados “Cem anos de Dona Amélia nas plagas do Aracati”, publicado em abril de 2014, onde Moacir narra as manifestações de vida, no sentido Simmeliano, de uma mulher que:
“Dedicou-se com afinco/Na paróquia da cidade/ No trabalho pastoral/ Com oração e caridade/ A defesa da mulher/ Sempre fora o seu mister/ Dentro de uma sociedade./Trilhou o caminho mais longo/ Numa igreja inda fechada/ Ao levantar o problema:/ Mulher marginalizada/ De uma maneira altruísta/ Numa cidade machista/ De intolerância velada”.
Finalizando, lembramos ainda da homenagem prestada pelo cinema no filme: “O Homem que Virou Suco”. É um filme brasileiro de 1981 dirigido por João Batista de Andrade. Nele, Deraldo, poeta popular recém-chegado do Nordeste a São Paulo, sobrevivendo de suas poesias e folhetos, é confundido com o operário de uma multinacional que mata o patrão na festa que recebe o título de operário símbolo. O filme aborda a obstinação do poeta diante de uma sociedade opressora, esmagando o homem no dia-a-dia e eliminando suas raízes. Daí o título
Bibliografia geral consultada.
MENEZES, Eduardo Diatahy Bezerra de, “Das Classificações Temáticas da Literatura de Cordel: Uma querela Inútil?”. In: Opinião Acadêmica - Revista Eletrônica Rio Total, 2001; COBRA, Cristiane Moreira, Patativa do Assaré, uma Hermenêutica Criativa: Reinvenção da Religiosidade na Nação Semiárida. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006; SANTANA, Ady Sá Teles, Rotas do Sertão: Patativa do Assaré e Euclides da Cunha entre Identidade e Representação. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2008; NASCIMENTO, Maria Eliza Freitas do, Sentido, Memória e Identidade no Discurso Poético de Patativa do Assaré. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Artes e Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008; BARBOSA, Clarissa Loureiro Marinho, As Representações Identitárias Femininas no  Cordel: do Século XX ao XXI. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2010; AMANCIO, Geraldo, De Repente Cantoria. 2ª edição. Fortaleza: Editor Premius, 2013; ABREU, Raquel de, O Pedrinho de Monteiro Lobato, Pedrinho de Lourenço Filho: Dois Intelectuais e dois Brasis. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências da Educação. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014; CONTE, Daniel; AGUIAR, Rafael Hofmeister de, “Tradição Representada: Voz, Oralidade e Performance na Cantoria sobre Patativa do Assaré”. In: CONTE, Daniel; AGUIAR, Rafael Hofmeister de, Vozes da Cultura Popular: Tradição, Movência e Ressignificação. São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2015; RODRIGUES, Manoella de Queiroz, Plantas Medicinais utilizadas pelos Moradores dos Assentamentos de Nova Conquista e Patativa do Assaré – Paraíba e Fitoterápicos Comercializados no Município de Patos-PB. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais. Centro de Saúde e Tecnologia Rural. Campus Patos: Universidade Federal de Campina Grande, 2015; entre outros.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Índios Pataxó: Memória, Extermínio & Impunidade no Brasil.


              Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
  Lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracteriza”. José de Souza Martins

          

            No ano de 1997 a tribo Pataxó obteve uma trágica notoriedade internacional após o assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos (1952-1997). Ele dormia em uma parada de ônibus em Brasília - DF quando delinquentes de classe média alta: um menor de idade, G.N.A.J. e quatro maiores de idade: Tomás Oliveira de Almeida, Max Rogério Alves, Eron Chaves Oliveira e Antônio Novely Cardoso Vilanova, barbaramente atearam fogo ao seu corpo, provocando a morte horas após ter em torno de 95% de seu corpo queimado. Os assassinos confessaram o crime hipocritamente, “alegando que o confundiu com um mendigo”, tal como ocorre nos extermínios de limpeza étnica historicamente datada. Galdino Jesus dos Santos, foi um líder e representante indígena brasileiro da etnia pataxó-hã-hã-hães queimado vivo, sadicamente, enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus em Brasília, após participar de manifestações políticas do Dia do Índio, em um crime que transformou negativamente o ideário e as relações indígenas no Brasil e no mundo. No início da década de 2000, ocorreu a consolidação de espaços de representação social do movimento indígena – através das suas organizações - nas esferas públicas, com a internalização e a gestão de recursos governamentais e de várias lideranças de organizações indígenas, que passaram a ocupar funções públicas e políticas na esfera da Administração Pública.
             O dia 19 de Abril é o Dia do Índio. Esta data foi criada em 1943 pelo presidente da República Federativa do Brasil Getúlio Vargas através do decreto lei número 5.540. Mas porque foi escolhido o 19 de abril? Para entendermos a data, devemos rememorar a década de 1940 quando neste ano foi realizado no México, o I Congresso Indigenista Interamericano e no Congresso os princípios e metas a serem transformados em práticas - ou políticas indigenistas - foram formulados pelos países do continente americano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países das Américas, vários líderes indígenas destes continentes foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Porém, os índios brasileiros não compareceram nos primeiros dias do evento, pois estavam preocupados e temerosos. Este comportamento era compreensível, pois os índios há 5 ou 6 séculos estavam sendo perseguidos, agredidos e dizimados pelos “homens brancos”. No entanto, após algumas reuniões e reflexões, diversos líderes indígenas resolveram participar, após entenderem a importância daquele momento histórico-político. Esta participação ocorreu no dia 19 de abril, que depois foi escolhido, no continente americano, como o Dia do Índio.  Com uma área de 42 189 120 km² e uma população de mais de 902 milhões de habitantes, corresponde a 8,3% da superfície total do planeta, ou 28,4% das terras emersas, e a 14% da população humana. Localizada entre o oceano Pacífico e o Atlântico, a América inclui o mar do Caribe e a Groenlândia, mas não a Islândia, por razões significativas históricas e culturais.




O que dizem os críticos na América Latina e na Europa é que consideram o movimento como instrumento a serviço dos estados nacionais para destruir a identidade dos povos indígenas e integrá-los à uma cultura nacional homogênea, o território histórico ou a pátria, os mitos, a memória histórica, a cultura de massa pública, os direitos legais, e a economia com mobilidade territorial para seus membros como as bases da identidade nacional. Henri Favre, define o indigenismo como “uma corrente de pensamento e idéias que se organizam y se desenvolvem em torno da imagem do índio. Se apresenta como uma interrogação da indianidade por parte dos “não índios” em função de preocupações e finalidades próprias deles próprios”. Para Aubry (1982: 15), “o indigenismo não é senão uma resposta do sistema a uma pergunta dos brancos: por que os países pluriétnicos estão atrasados? Encobre então, uma hipótese: o indígena é um freio ao desenvolvimento. Em vez de questionar a sociedade global e seu modelo de desenvolvimento, deprecia a cultura indígena”. Do latim tribu, é o nome que se dá a cada uma das divisões dos povos antigos, possuindo um território e com algum tipo de comando, possuindo em comum a mesma ancestralidade.  O termo era originalmente empregado para designar cada uma das trinta divisões da Roma Antiga (mais tarde trinta e cinco) formadas por cidadãos plebeus; também designam as doze divisões originais do povo hebreu. Por extensão, aplicou-se, na antropologia, para designar certos tipos de agrupamentos humanos, mas, por sua imprecisão, deixou de ser usado tecnicamente.
             Por sua origem europeia e uso na filosofia colonialista da palavra para designar agrupamentos humanos nos diversos povos primitivos conquistados ao longo do Globo, o termo ganhou oposição no meio científico, não apenas por sua imprecisão como também por não atender às divisões peculiares dos povos que pretendia reunir. O termo nos anos 1970 passou a ser usado por correntes científicas não evolucionistas. Alguns dos autores que a aboliram argumentam que se trata de “ficção etnográfica e acadêmica”. Estes conceitos de tribo, bem como o de tribalismo, etnicidade, clã e linhagem trazem forte vício colonialista e neocolonialista, com apoio da antropologia que então lhe servia, devem ser evitados, por também trazerem inerentes divisões no âmbito da cultura global que visam, antes, ao domínio do que propriamente à compreensão das realidades que procuram retratar. Como exemplo deste mau uso cita-se os meios de comunicação de massa que mascaram os problemas africanos como decorrentes de conflitos tribais, ocultando assim as reais causas étnicas, rituais, políticas e de organização sociais. O antropólogo Cardoso de Oliveira ressalta que conceitos de tribo e etnia surgem da ótica europeia para definir as sociedades asiáticas, ameríndias e africanas, dotando-os de um rótulo comum que lhes abstrai sua historicidade, em definições determinadas pelo processo político de segregação e colonização.
             Contudo, do ponto de vista da globalidade/totalidade o antropólogo Darcy Ribeiro foi aquele que num projeto ambicioso em seus estudos de antropologia da civilização mais contribuiu, nos dias de hoje, para precisar o conceito de “processo civilizatório”. Em sua démarche intelectual transita à vontade tanto pelos caminhos ocidentais como pelas veredas do mundo tribal amazônico, ou pelos corredores de mais de dois “palácios de governo”. Seu compromisso é vital, não setorial; produz-se na cátedra, na prolongada e boa convivência com os índios, na criação de universidades, dentro e fora do Brasil, como ministro da Educação ou como chefe da Casa Civil, como preso político, nas peregrinações do exílio, e finalmente, como romancista com Maíra (1975) e O Mulo (1987) onde prepara o terreno para sua etnobiografia antevista em Ensaios Insólitos (1979), Utopia Selvagem (1982), Testemunho (1991) ou, como consta no Prólogo de seu derradeiro livro Confissões (1997). Em verdade, um fragmento da vida latino-americana da década de 1950 até nossos dias, pode se documentar seguindo-se o rastro aberto por Darcy Ribeiro.  
Traçou o plano de uma obra que incluiu, entre outros aspectos, a chamada “revolução humana”; as experiências junto às “formações pré-agrícolas”; um estudo sobre a “revolução agrícola” e sobre as “aldeias agrícolas indiferenciadas”; as “sociedades pastoris”; a “revolução urbana” e os “Estados rurais artesanais” e principalmente, - para o que nos interessa o lugar da “revolução do regadio” e os “Impérios teocráticos de regadio”, assim como a “revolução metalúrgica” e os “Impérios mercantil-escravistas” que têm como consequência, grosso modo, a “revolução mercantil”. O Autor examina os efeitos diferenciais das diversas fronteiras de expansão econômica perante os grupos que classifica segundo a intensidade de sua relação com a sociedade nacional. Este modelo de análise será desenvolvido anos depois pelos projetos de investigação mais avançados da antropologia brasileira. Por volta de 1957 - assinala Darcy - “haviam sido extintos só no Brasil, 87 grupos [indígenas], dos 230 registrados em 1900”. Impávido, admite,
o processo civilizatório é minha voz nesse debate. Ouvida, quero crer, porque foi traduzida para as línguas de nosso circuito ocidental, editada e reeditada muitas vezes e é objeto de debates internacionais nos Estados Unidos e na Alemanha. A ousadia de escrever um livro tão ambicioso me custou algum despeito dos enfermos de sentimentos de inferioridade, que não admitem a um intelectual brasileiro o direito de entrar nesses debates, tratando de matérias tão complexas. Sofreu restrições, também, dos comunistas, porque não era um livro marxista, e dos acadêmicos da direita, porque era um livro marxista. Isso não fez dano porque ele acabou sendo mais editado e mais lido do que qualquer outro livro recente sobre o mesmo tema” (cf. Ribeiro, 1995:14).
            Além disso, este plano é muito importante na medida em que o autor teve acesso a obras que em sua maioria estavam sendo publicadas quase que imediatamente “sobre o estudo das revoluções tecnológicas e na fixação dos modelos teóricos das formações socioculturais”. Contou também com suas próprias experiências concretas, com o “trabalho de campo”, como antropólogo junto a grupos indígenas como os Guajá e os Xokléng, os índios Kadiuéu (1950) e particularmente a Arte Plumária dos Índios Kaapor (1957a) e, igualmente, sobre os índios Urubus-Kaapor (1957b) e as tribos do Xingu, entre outras pesquisas originalmente realizadas sobre os índios no Brasil. Mesmo o livro de Stanley J. Stein e Barbara H. Stein, The Colonial Heritage of Latin America, (Oxford University Press, 1970) publicado dois anos depois que o Processo Civilizatório (Ed. Civilização Brasileira, 1968) onde inclui fontes bibliográficas importantes sobre a Península Ibérica (1580-1800), sobre as colônias ibero-americanas com a projeção da América Latina em sua fase neocolonial no século XIX, desconhece o “Diagrama do Processo Civilizatório. Principais Focos de Irradiação, suas Interpenetrações e Projeções sobre os Povos contemporâneos”, considerando a importância do estudo de Darcy Ribeiro sobre antropologia das civilizações. Repetem algumas de suas fontes etnográficas de pesquisa e referências bibliográficas.
            No caso do assassinato do índio Pataxó, os meliantes são pertencentes a famílias de classe média alta de grande poder aquisitivo e influência política. A lei é clara: assassino é o  indivíduo que mata outra pessoa; quem comete homicídio, tirando a vida de outro ser humano: polícia militar prende o assassino confesso. Desde a prisão os criminosos contaram com regalias jurídicas a que nenhum outro preso comum tinha direito. Apesar das críticas efetuadas pela promotora Maria José Miranda, que acompanhou o processo nos primeiros cinco anos, os (04) quatro criminosos detidos tinham “direito a tomar banho quente e manter cortinas em suas celas, além de ficarem de posse da chave da própria cela”. Por motivos aparentemente desconhecidos, a promotora pediu afastamento do caso antes do julgamento. G.N.A.J., foi encaminhado para o centro de reabilitação juvenil do Distrito Federal, “onde ficou preso apenas por três meses, apesar de ter sido condenado a 1 ano de reclusão”. Os outros 4 foram condenados (2001), a 14 anos de prisão “em regime integralmente fechado por homicídio doloso”. Pelo crime não teriam direito a benefícios, “mas, já no ano seguinte, receberam autorização para exercer funções administrativas em órgãos públicos”.

Índios protestaram na Praça Pataxó, em Brasília, onde Galdino morreu.
Além disso, três dos cinco rapazes chegaram a ser flagrados pela imprensa dominante e hegemônica “se dirigindo em carro próprio até o presídio sem passar por qualquer tipo de revista, após namorar e ingerir bebida alcoólica em um bar”. Em agosto de 2004, foi concedido o livramento condicional aos quatro condenados. Esse benefício foi recepcionado pela opinião pública como um atestado do “caráter volúvel do Poder Judiciário frente à força político-econômica” e, evidentemente revoltou os familiares do índio assassinado. A mídia também noticiou a concessão do benefício, apesar de previsto em lei, como “certeza da impunidade” (cf. Braga, 2012) para um crime considerado hediondo pela legislação brasileira. O local do crime foi rebatizado como Praça do Compromisso. Foram colocadas duas esculturas relativas ao assassinato de Galdino: uma delas retrata uma pessoa em chamas e a outra representa uma pomba, o símbolo da paz.                      
Historicamente como é sabido, mas, sobretudo no plano ideológico (totalidade) e cultural (especificidade), no campo imaginário e simbólico, entre nós temos a interiorização na naturalidade das desigualdades e a impossibilidade de lidar com as diferenças étnicas, sexuais, religiosas, sociais e culturais. Interiorização da naturalidade de que haja os “sem direito” e os “sem poder”, reforçando a visão autoritária inclusivamente para a formação das relações sociais e políticas no campo jurídico. Manutenção de um padrão imaginário autoritário sobre o país, derivado da alternativa messiânica e milenarista que presidiu o imaginário nos navegantes, dos viajantes e principalmente dos evangelizadores, para os quais a América seria a concretização das profecias de Isaías e de Daniel, da restauração do chamado “paraíso terrestre”.
Em suma, a violência simbólica e política, com a penetração da religião católica, como é bem documentadas de forma exemplar no filme de Roland Joffé, A Missão (The Mission, Londres, 1986, Flashback Home Vídeo, 125 min), alude as representações sociais da “conquista”, “colonização”, “invasão”, “descobrimento”, “achamento”, extermínio humano etc. com que a Europa implantou seu poder técnico, político e militar nas Américas, quer se tratasse de espanhóis, portugueses, ingleses, franceses etc. é apenas o índice estatístico de uma morte irreparável: “a morte das grandes civilizações que”, como demonstra eloquentemente Miguel León Portilla, “possuíam um sistema educativo, um mundo moral e artístico e formas de relação humana em contínua evolução criativa”. Neste sentido não só a América perdeu com isso: a Europa perdeu, pois ao caírem às civilizações americanas desapareceram auspícios alternativos de relação e imaginação que as sociedades indígenas americanas, mas também as europeias, talvez tivessem precisado e de que certamente precisarão - in ixtli, in yolotl - aos problemas sociais para os quais a modernidade ocidental não dispõe de respostas adequadas: relação com a natureza, ou, com a morte, como afirma Alejo Carpentier em Los Pasos Perdidos.
Desta forma é aceito que o etnocídio “é a supressão das diferenças culturais julgadas inferiores e más”; é a aplicação de um princípio de identificação, de um projeto de redução do outro ao mesmo, como ocorre, por exemplo, com o índio amazônico suprimido como outro e reduzido ao tempo como cidadão brasileiro. Em outras palavras, o etnocídio resulta na dissolução do múltiplo no Um. O que significa agora o Estado? Ele é,  por essência, o emprego de uma força centrípeta que tende, quando as circunstâncias o exigem, a esmagar as forças centrífugas inversas. O Estado se quer e se proclama o centro da sociedade, o todo do corpo social, o mestre absoluto dos diversos órgãos desse corpo. Descobre-se assim, no núcleo mesmo dessa substância do Estado, a força atuante do Um, a vocação de recusa do múltiplo, o temor e o horror da diferença.
          Nesse nível formal em que nos situamos atualmente, afirma Pierre Clastres, “constata-se que a prática etnocida e a máquina estatal funcionam da mesma maneira e produzem os mesmos efeitos: sob as espécies da civilização ocidental ou do Estado, revelam-se sempre a vontade de redução da diferença e da alteridade, o sentido e o gosto do idêntico e do Um”.  Isto porque, como compreendemos historicamente, as consequências imediatas da conquista e ocupação das áreas mais densamente povoadas da civilização indígena nas Américas foram etnocidas. O somatório de doenças epidêmicas como varíola, sarampo, febre tifoide, sífilis, a superexploração do trabalho e debilitação física resultante, de acordo com Martins, com a chegada do estranho (1993; 1997) para a aculturação de uma sociedade comunal orientada para o lucro, acabou por produzir nos séculos XVI e XVII um dos declínios demográficos mais desastrosos jamais registrados pela história mundial. Ou seja, “entre 1492 e 1550, a conquista literalmente aniquilara a população indígena caribenha, a primeira a ser submetida e dizimada. No México central, uma população de aproximadamente 25 milhões, em 1519 (...) achava-se reduzida a pouco mais de 1 milhão em 1605. Nos Andes centrais - para os quais dispomos de poucos estudos de história demográfica - parecem ter-se repetido os mesmos padrões gerais de destruição geográfica decorrente da ocupação espanhola. Um contingente populacional calculado entre 3,5 e 6 milhões (em 1525) foi reduzido para 1,5 milhão (por volta de 1561), somente retornando ao índice de 6 milhões cerca de 1754” (cf. Stein e Stein, 1976: 37).
Enfim, Integrante do Conselho Indigenista Missionário na Bahia, Haroldo Heleno garante ser mentira que os índios Pataxós Hã Hã Hãe, do sul da Bahia, realizam ocupações desde fevereiro deste ano e que tenham provocado violência na região, como divulgou recentemente a Rede Globo de Televisão. Nailton Muniz Pataxó, da Aldeia Milagrosa, no município baiano de Pau Brasil, acrescenta que a emissora e a imprensa local mentem ao divulgar que os índios lutam pela demarcação de terras e esclarecem que o objetivo é a anulação dos títulos de posse dos fazendeiros. “Na verdade a tribo indígena pede há 30 anos que os títulos sobre a área, uma reserva já demarcada em 1937, sejam anulados. Geralmente nas outras áreas existe uma disputa pela demarcação do território, essas já estão demarcadas”, afirma Heleno. Enfim, depois de décadas de disputa política, os índios pataxós obtiveram o reconhecimento do direito às terras na reserva Caramuru-Catarina Paraguassu, no sul da Bahia.
O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o seguinte: “que são nulos todos os títulos de propriedades concedidos a fazendeiros e agricultores sobre glebas localizadas dentro da reserva, que tem 54 mil hectares”.  A região tem registrado frequentes conflitos sociais pela posse das terras. No final de abril, “um índio levou um tiro na perna”. Apesar de o processo sobre a área pataxó não constar da pauta de julgamentos do STF prevista para ontem, a ministra Cármen Lúcia pediu que a ação fosse julgada diante da urgência e gravidade: - “Trata-se de um caso insólito, excepcional. A situação é de extrema conflituosidade”, afirmou o presidente do tribunal, Carlos Ayres Britto. Ele afirmou que a terra para o índio “é uma alma” e não simplesmente um bem material. Nesse julgamento, o STF atendeu a um pedido da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O último a votar, Ayres Britto seguiu o voto do Relator, Eros Grau (aposentado), proferido no início do julgamento, em 2008. Ao final, foram 7 votos a 1 pela nulidade dos títulos de propriedade de terras concedidas a fazendeiros e agricultores, ficando vencido o ministro Marco Aurélio.
Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli estavam impedidos, e Ricardo Lewandowski não participou em razão de viagem para cumprir agenda oficial. Luiz Fux também não participou por suceder o ministro Eros Grau. Para ontem estava marcado originalmente o julgamento de uma ação que discute a adoção de sistemas de cotas no âmbito do Programa Universidade para Todos (Prouni). Segundo eles, a “mídia tradicional” também não revela a precariedade nos acampamentos. O líder Pataxó afirma que quase dois (02) mil índios acampados passam fome. Eles se alimentam apenas de jaca e banana. As crianças também não tomam leite. E a falta de atendimento médico levou à morte o irmão do líder Pataxó. - “Talvez esse clima tenha sido criado propositalmente para colocar a opinião pública contra os indígenas”, ressalta o conselheiro. Para eles, “tem sido muito prejudicial para todo mundo. Tem se criado um clima de muito terror e muita apreensão. A Rede Globo, em vários momentos, tem usado dado que conduz a sociedade a uma opinião contrária aos índios” e completa: - “Agora com a proximidade da ação a favor dos índios, a imprensa tem tentado conduzir a sociedade contra eles, colocando-os como grandes vilões da história”.  Um documento foi elaborado por cinco caciques, 21 lideranças indígenas e presidentes de quatro associações, para as denúncias.
Bibliografia geral consultada.
RIBEIRO, Darcy, Os Índios e a Civilização. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970; Idem, Uirá Sai à Procura de Deus. Ensaios de Etnologia e Indigenismo. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1974; AUBRY, André, Indigenismo, Indianismo y Movimientos de Liberación Nacional. San Cristóbal de las Casas: Instituto de Assesoria Antropológica para la Región Maya, 1982; CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os Direitos dos Índios. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987; MARTINS, José de Souza, A Chegada do Estranho. São Paulo: Editora Hucitec, 1993; PARAISO, Maria Hilda Baqueiro, Amixokori, “Pataxó, Monoxó, Kumanoxó, Kutatol, Maxakali, Malali e Makoni: Povos Indígenas Diferenciados ou Subgrupos de uma Mesma Nação? Uma Proposta de Reflexão.  In: Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, nº 4, pp. 173-187, 1994; TODOROV, Tzvetan, Los Abusos de la Memoria. Buenos Aires: Ediciones Paidós, 2000; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, Os Índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 2010; PISTORI, Maria Helena Cruz, Do Jornalístico ao Jurídico e do Jurídico ao Jornalístico: A Construção do Argumento. In: Estudos Linguísticos. São Paulo, 40 (3), pp. 1458-1470, set-dez, 2011; COSTA, João Paulo Peixoto, Disciplina e Invenção: Civilização e Cotidiano Indígena no Ceará (1812-1820). Dissertação de Mestrado em História. Teresina: Universidade Federal do Piauí, 2012; PIUBELLI, Rodrigo, Memórias e Imagens em Torno do Índio Pataxó Hãhãhãe Galdino Jesus dos Santos (1997 a 2012). Dissertação de Mestrado em História. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; SILVA, Ayalla Oliveira, Camacãs, Guerens, Pataxós e o Aldeamento São Pedro de Alcântara: Trabalho, Relações Interétnicas e Ocupação do Território de Cachoeira de Itabuna, Sul da Bahia (1814-1877). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2015; XAVIER, Maico Oliveira, Extintos no Discurso Oficial, Vivos no Cenário Social: Os Índios do Ceará no Período do Império do Brasil – Trabalho, Terras e Identidades Indígenas em Questão. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em História Social. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015; entre outros.