Vinicius de Moraes - Vontade & Nobreza Nietzschiana da Palavra.
Ubiracy de Souza Braga*
“Sem a música, a vida seria um erro”.
Vinícius de Moraes
Marcus Vinicius de Moraes nasceu na cidade do Rio de
Janeiro em 19 de outubro de 1913, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lydia Cruz de Moraes, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto. Desde então, já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário. Em 1924 ingressou no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a criar pequenas peças de teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na chamada “Faculdade do Catete”, conheceu e tornou-se amigo do romancista Otávio de Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Foi diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta
e compositor de música popular brasileira.
Poeta essencialmente lírico, daí a alcunha “poetinha”, atribuído pelo
maestro Tom Jobim, se notabilizou pelos seus célebres sonetos. Reconhecido como
um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque – “o diabo engarrafado”-,
era também um grande conquistador. Casou-se por nove vezes e suas esposas foram
respectivamente: Beatriz Azevedo de Melo, mais conhecida como “Tati de Moraes”,
Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu,
Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria, ou “Martita” e Gilda
de Queirós Mattoso. Sua obra é vasta, e sua história de vida inclui incursão
pela literatura brasileira, teatro, cinema e música. Ainda assim, sempre
considerou a poesia sua primeira e
maior “vontade”, no sentido nietzschiano, e que toda sua atividade artística
deriva do fato de ser poeta. No âmbito da música popular brasileira (MPB) realizou suas principais parcerias
com Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque, Carlos
Lyra.
Através
de Otávio de Faria, começou a frequentar as reuniões da Ação Integralista
Brasileira, movimento brasileiro de cunho nacionalista, na Livraria do
Schmidt, chegando a se filiar ao mesmo. Participou inclusive de algumas
instruções das Milícias Integralistas no Arsenal de Guerra do Caju. Em maio de
1937, publicou seu Soneto de Katherine Mansfield inédito na revista Anauê!
nº 15. Foi assinante de vários documentários Shell sobre o Integralismo. na
Livraria do Schmidt, situada na Travessa do Ouvidor, centro do Rio de Janeiro.
Passou a compor o que hoje é conhecido como “Grupo Integralista Carioca do
Caju”, devido aos encontros políticos na antiga rua do Canal. Participou
inclusive de algumas instruções das Milícias Integralistas no Arsenal de Guerra
do Caju. Em 1936, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao
Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou
uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na
Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico
de cinema no jornal A Manhã. Tornou-se colaborador da revista Clima
e no Instituto dos Bancários.
No
ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso público para o Ministério
das Relações Exteriores. Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado.
Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles.
Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos
1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava
realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda. No
final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado
compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5. Aliás, foi o 5º de 16 decretos autoritários
emitidos pela ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de Estado de 1º
de abril de 1964 no Brasil. Os atos institucionais representaram a forma de
legislação durante o regime militar, dado que, em nome do chamado “Comando
Supremo da Revolução”, melhor dizendo, a liderança do regime golpista,
derrubaram a Constituição da Nação, e foram aplicadas sem a possibilidade de
revisão judicial. O AI-5, o mais duro de todos os Atos Institucionais, emitido pelo marechal do exército Artur da Costa e Silva em 1968.
Seu
governo iniciou a fase mais dura e brutal do regime ditatorial militar, à qual
o general Emílio Garrastazu Médici, seu sucessor, deu continuidade. Sob o
governo Costa e Silva foi promulgado o AI-5, que lhe deu poderes para fechar o
Congresso Nacional, cassar políticos e institucionalizar a repressão, visto que
no seu governo houve um aumento significativo das atividades subversivas,
segundo eles mesmos (essa denominação foi utilizada pelos detentores do poder
na época para designar atos de rebeldia ou discordância com o governo
ditatorial, como protestos, por exemplo). Essa repressão ocorreu por meios
legais e ilegais, como torturas contra a população civil. Isso resultou na
perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções
ordenadas pelo presidente nos municípios e estados e também na suspensão de
quaisquer garantias constitucionais que mormente resultaram na
institucionalização da tortura, comumente usada como instrumento e um conjunto
de práticas e saberes de guerra pelo Estado. O poeta estava em Portugal,
apresentando uma série de espetáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão,
quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi
o seu comportamento social boêmio que o impedia de cumprir as suas funções de
trabalho diplomático. Vinícius foi anistiado (post-mortem) pela Justiça
em 1998. A Câmara dos Deputados aprovou em fevereiro de 2010 a promoção póstuma
do poeta ao cargo de “ministro de primeira classe” do Ministério das Relações
Exteriores - o equivalente ao cargo de embaixador, que é o
cargo mais alto da carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário
Oficial dia 22 de junho de 2010.
Note Bem: Metodologicamente pensar a relação entre o conceito de “vontade” em Arthur
Schopenhauer e o conceito de “vontade de poder” em Friedrich Nietzsche é repensar
nos pontos de encontro e de afastamento de um, com relação ao outro, como tem
sido visto e analisado no âmbito acadêmico. Frente a isso, Nietzsche insiste em
que onde há amor de qualquer tipo, e seguindo esta direção também há a vontade
de ser senhor. E tudo porque, ao que parece
a vida é o que deve ser superior a
ela consigo mesma. Neste sentido é isso que se assemelha a vontade de criar ou
impulso para o fim, para o mais sublime, para o mais longínquo, para o mais
múltiplo, pois Nietzsche tão-somente vislumbra a vontade de poder. Assim, só onde
há vida há vontade; não vontade de vida, mas como ele predica - vontade de domínio. Há muitas coisas que o
vivente aprecia mais do que a vida ao longo de sua existência; mas nas próximas
apreciações fala a “vontade de domínio”.
O mundo, para Nietzsche, não é ordem e racionalidade,
mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto,
Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso,
se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e
verdadeira realidade “sem máscaras”, para Nietzsche, é a vida humana tomada e
corroborada pela vivência do instante. Nietzsche era um crítico: a) das “ideias
modernas”, b) da vida social e da cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão,
e, para sermos breves, d) Para ele, os ideais modernos como democracia,
socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da
decadência de determinado “tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes,
apontado como um precursor da concepção de pós-modernidade. Durante toda a
vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, hoje retomada mais do que
nunca, chegando à conclusão de que “nascera póstumo”, para os leitores do
porvir.
Tom Jobim e Vinicius de Moraes na rua Codajás – Leblon. Foto: Paulo Scheuenstuhl. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando
um professor dinamarquês leu a sua obra: “Assim Falou Zaratustra” (cf.
Nietzsche, 1968) e, então, tratou de difundi-la, em 1888. Em 3 de janeiro de
1889, Nietzsche sofreu um colapso mental. Teria testemunhado o açoitamento de
um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto. Então correu em direção ao
cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e em seguida,
caiu no chão. Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escrito breve conhecido como:
“Wahnbriefe” em português: “Cartas da loucura” – para um número de amigos,
entre eles, Cosima Wagner, filha do pianista húngaro Franz Liszt com a Condessa
Marie d`Agout e Jacob Burckhardt, filósofo da história e da cultura suíça,
autor de importantes obras sobre a cultura e história da arte. Muitas destas
cartas foram curiosamente assinadas “Dionísio”. Embora a maioria dos
comentaristas considere seu colapso como alheios à sua filosofia, Georges
Bataille (1967) chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido
e a psicanálise “post-mortem”, de René Girard, postula uma “rivalidade de
adoração” com Richard Wagner.
Com 16 anos Vinicius de Moraes entrou para a Faculdade
de Direito do Catete (RJ), onde se formou em 1933, ano no qual teve seu primeiro
livro publicado: “O caminho para a distância”. Durante o período de formação
acadêmica firmou amizades com vínculos boêmios e viveu uma vida ligada à nobreza
da boemia. Estudou alguns anos Literatura Inglesa na Universidade de Oxford, sem
se formar em razão do início da 2ª guerra mundial. Ao retornar ao Brasil, morou
em São Paulo, tornou-se amigo de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos
Drummond de Andrade. Efetivou o primeiro de seus nove casamentos. Logo após
algumas atuações como jornalista, cronista e crítico de cinema, ingressou na
diplomacia em 1943. Pela via diplomática viajou para Espanha, Uruguai, França e
Estados Unidos, contudo sem perder contato com o que acontecia na cultura do
Brasil. É um dos fundadores do movimento “Bossa Nova”, juntamente com Tom Jobim
e João Gilberto. E como vontade no mundo da música, abandonou a diplomacia, tornou-se
músico, compôs letras e viajou o mundo.
No fim da década de 1920 Vinicius de Moraes produziu
letras para dez canções gravadas - nove delas em parcerias com os Irmãos
Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928, quando compôs (com
Haroldo): “Loira ou Morena”, gravado em 1932, pela dupla de irmãos. Teve
publicado seu primeiro livro de poemas: “O Caminho para a Distância”, em 1933,
e lançou outros livros de poemas nessa década. Ainda nesse período estabeleceu
amizade com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. É
premiado pela autoria do livro: “Forma e Exegese”, de 1935. Poeta
essencialmente lírico, notabilizou-se pelos seus sonetos que lhe renderia a
alcunha carismática de “poetinha”, que lhe teria atribuído o maestro Antônio
Carlos Jobim.
O então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, Luiz Inácio Lula da Silva, e o poeta e compositor Vinícius de Moraes, nas
comemorações do Primeiro deMaio de 1979, quando Vinícius leu o
poema: “Operário em Construção”, a pedido de Lula. Sua obra é vasta, passando
pela literatura, teatro, cinema e música. Ainda assim, sempre considerou que a
poesia foi sua primeira e maior vocação na vida, e que toda sua atividade
artística deriva do fato de ser poeta. Atuando como jornalista e crítico de
cinema em diversos jornais, Vinicius de Moraes editou em 1947, em parceria com
Alex Vianny, a revista “Filme”. Dois anos depois, publicou em Barcelona o
livro: “Pátria Minha”. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em
Paris e em Roma. Onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor
Sérgio Buarque de Holanda. No final de 1968, “o ano que não terminou”, para
lembrarmo-nos do jornalismo político do escritor Zuenir Ventura (1989; 2006), foi
“afastado” da carreira diplomática. A moralidade da modéstia é o pior
amolecimento para tais almas.
No âmbito político, depois de viajar ao Nordeste em
1942, na companhia do escritor estadunidense Waldo Frank, torna-se um
antifascista convicto e passa a se influenciar por ideias comunistas. Volta ao Brasil no início dos anos 1950, após
servir ao Itamaraty nos Estados Unidos. Começou a trabalhar no jornal “Última
Hora”, exercendo funções burocráticas na sede do Ministério das Relações
Exteriores. Em 1953 Aracy de Almeida gravou “Quando Tu Passas Por Mim”, o
primeiro samba de sua autoria. A vontade de verdade é um tornar firme. Uma
reinterpretação que se houvesse de encontrar, de descobrir. Para estabelecer a
verdade como um processo in infinitum: quanto mais poderosa é a vida, tanto
mais extenso há de ser o mundo previsível.
Durante a década de 1940 e início dos anos 1950,
Vinicius de Moraes foi importante não só como crítico de cinema, mas também
como cineclubista exerceu. Ou seja, exerceu paralelamente à carreira de
diplomata, a de crítico de cinema, com intensa atividade desenvolvida em torno
de importantes tabloides como: “O Jornal”, “Clima”, “Diário Carioca”, “Filme”,
“A Vanguarda”, “A Manhã”, “Última Hora” e ainda nas revistas: “Diretrizes” e
“Sombra”. Em artigo de agosto de 1941, escreveu no jornal “A Manhã”: - “Creio
no cinema, meio de expressão total em seu poder transmissor e capacidade de
emoção, possuidor de uma forma própria que lhe é imanente (conceito religioso e
metafísico que defende a existência de um ser supremo e divino (ou força)
dentro do mundo físico) e que, contendo todas as outras, nada lhes deve”.
Contudo, é durante a década de 1940, que Vinicius de
Moraes participara de uma polêmica com Ribeiro Couto através de jornais. O tema
era o fim do cinema mudo, contrariando Charles Chaplin e defendido por ele, em
prol da modernidade do cinema falado. Em 1946, ele segue para Los Angeles e
passa a viver na cidade durante um longo período de vida diplomática. Nesse
tempo, conhece grandes nomes dos estúdios de Hollywood e convive, além disso,
com brasileiros como Carmem Miranda e Aloysio de Oliveira. Estuda cinema em
1947, com o magnânimo Orson Welles, além de lançar internacionalmente a revista
“Film”, com o crítico Alex Viany. Escreve “Aleijadinho”, documentário
encomendado por Alberto Cavalcanti em 1952, “Arrastão”, uma adaptação da lenda de
“Tristão e Isolda” e “Polichinelo”, roteiro escrito de 1974.
Participa do corpo de jurado em Festivais Internacionais da Canção em 1952
nos principais festivais da Europa. Em 1959, ocorre a adaptação cinematográfica
francesa de sua peça: “Orfeu Negro”, ganhando a Palma de Ouro em Cannes e o
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Em 1965, com o cineasta carioca Leon
Hirszman no roteiro de “Garota de Ipanema”. A celebração do chamado “cinema
silencioso” representou uma marca laboriosa de seus primeiros ensaios como
crítica analítica. Essa celebração da arte, sempre apaixonada, provocaria um
debate nacional. Entre maio e agosto de 1942, opondo os defensores do cinema
sonoro e do cinema silencioso até sua morte, em 1980. O envolvimento mais
direto com produções cinematográficas, ainda que irregular, seria muito mais
frequente.
Orfeu da Conceição é uma peça teatral escrita por
Vinicius de Moraes em 1954, baseada no drama da mitologia grega de Orfeu e
Eurídice. A trilha sonora da peça foi lançada em vinil no ano de 1956, pela
Odeon, com música escrita por Antônio Carlos Jobim e letra de Vinicius. Em
1959, baseado na peça, foi lançado o filme: “Orfeu Negro”, premiado com a Palma
de Ouro, o Óscar e o Globo de Ouro. Em 1999 foi lançado o segundo filme baseado
na peça, chamado de “Orfeu” e dirigido por Cacá Diegues com música de Caetano
Veloso. “Orfeu da Conceição” é uma adaptação em forma de peça musical do mito
grego de Orfeu transposto à realidade das favelas cariocas. A obra marca o
encontro artístico de Vinicius de Moraes com Antonio Carlos Jobim que
musicou todo espetáculo que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 25
de setembro de 1956 com cenários de Oscar Niemeyer.
Encenado pelo “Teatro Experimental do Negro” de Abdias
Nascimento, foi a segunda vez que um elenco de atores negros ocupava o mais
famoso teatro brasileiro. A primeira foi a estreia do Teatro Experimental do
Negro em 8 de maio de 1945, com a peça O imperador Jones, de Eugene O`Neill. Em
2010, passados 54 anos e rebatizado apenas de Orfeu, o musical foi remontado e
produzido pela Showbras com direção de Aderbal Freire-Filho, direção musical de
Jaques Morelenbaum e Jaime Alem, cenários de Marcos Flaksman e coreografia de
Carlinhos de Jesus. Vinicius de Moraes não só se mantinha fiel a uma crença
nele enraizada, segundo a qual representava ser o preto mais branco do Brasil,
como também deixava clara sua admiração pela imensa comunidade negra do Brasil
e do mundo inscrita em sua obra artística, estética e fílmica. Neste aspecto, João
Máximo descreve os afro-sambas que Vinicius de Moraes compôs com Baden Powell.
Uma forma sonoramente lírica e integradora da mais brasileira das músicas (o
samba) e o mais negro dos continentes, a África.
A série Vinicius: Poesia, Música e Paixão, ultrapassa os limites estéticos e políticos que abrangem a música negra produzida nas três Américas continenetais. A edição é pontuada por depoimentos exclusivos de Baden Powell, que
narra passo a passo como nasceu a ideia e como ocorreu a gravação do disco,
datada de janeiro de 1966, com seu violão, a voz Vinicius de Moraes, arranjos
de Guerra Peixe e vocais do “Quarteto em Cy”, marcando dialeticamente a obra do
“preto mais branco do Brasil”. É considerado por muitos críticos como um
divisor de águas na MPB por fundir vários elementos da sonoridade africana ao
samba. Pontos de candomblé e toques de berimbau que encantaram Vinicius de
Moraes. Desse mútuo encantamento pelo samba e religiosidade encontrada na
Bahia, surgiu o projeto social “Afro-sambas”, gravado em 1966. As oito canções apresentam uma rica e singular
musicalidade, que traz uma mistura de instrumentos do candomblé e da umbanda,
como atabaques e afoxés, com timbres mais comuns à música brasileira dos
agogôs, saxofones e pandeiros.
O grande destaque do álbum é a faixa de abertura
“Canto de Ossanha”, um clássico da MPB, que teve a memorável participação nos
vocais da atriz Betty Faria e na flauta de Nicolino Cópia. Baden Powell
realizou em 1990 uma regravação deste álbum. Basicamente manteve os mesmos
arranjos. Mas procurou obter uma melhor qualidade sonora. Uma forma de
homenagear o amigo Vinícius de Moraes falecido em 1980. Desde menino, Baden
Powell havia se revelado um instrumentista singular, de técnica apurada e capaz
de passar por vários estilos e compositores com assombrosa naturalidade. A
técnica como linguagem chamou a atenção de Vinícius quando conheceu o grande
violonista. O texto de “Orfeu” voltou a ganhar destaque mundial ao ser
citado n` “A Origem dos Meus Sonhos”, a autobiografia de Barack Obama. No
livro, o presidente norte-americano descreve a noite em que, aos 16 anos,
acompanhou a mãe ao cinema para assistir ao filme Orfeu Negro. O
enredo é inspirado na mitologia grega de Orfeu e Eurídice. A
adaptação ambientou a obra em uma favela do Rio de Janeiro, no Carnaval. Eurídice vem fugida do sertão nordestino para morar na favela com
sua prima Serafina. Ela tem medo de um homem que está perseguindo-a e quer
matá-la; ela não sabe o motivo, mas pensa que esse homem talvez tenha gostado
dela e, como ela não lhe deu confiança, ele agora quer se vingar.
Ela
apaixona-se perdidamente por Orfeu, que é noivo da bela e sedutora Mira. O
tempo passa, Mira passa a perseguir Eurídice, com ciúmes. Serafina ajuda a
prima a namorar Orfeu. Eurídice conhece o carnaval carioca ao lado de Orfeu,
mas sempre se apavora e corre quando vê que o tal homem está perto. Orfeu
Negro ou Orfeu do Carnaval representa um filme
ítalo-franco-brasileiro de 1959, dirigido por Marcel Camus e com roteiro
adaptado por Camus e Jacques Viot a partir da peça teatral Orfeu da
Conceição, de Vinícius de Moraes. A trilha sonora é de Tom Jobim e Luís
Bonfá. Vinícius e Antônio Maria também tiveram músicas incluídas, mas, assim
como Agostinho dos Santos, que interpretou a música-tema de Orfeu, “Manhã
de Carnaval”, não receberam os créditos. O filme teve outra versão em
1999, sob o nome Orfeu, dirigida por Cacá Diegues. O filme ganhou o
Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960, representando a França. Trata-se
da primeira produção de língua portuguesa a conquistar a estatueta do Oscar e a
única na categoria de “melhor filme estrangeiro”. É também, juntamente com Mustang, um
dos dois únicos filmes não francófonos a representar a França no Oscar.
O
enredo é inspirado na mitologia grega, na história de Orfeu e Eurídice. A
adaptação ambientou a obra no Brasil, em uma favela do Rio de Janeiro, na época
do Carnaval. Eurídice vem fugida do sertão nordestino para morar na favela com
sua prima Serafina. Ela tem medo de um homem que está perseguindo-a e quer
matá-la; ela não sabe o motivo, mas pensa que esse homem talvez tenha gostado
dela e, como ela não lhe deu confiança, ele agora quer se vingar. Ela
apaixona-se perdidamente por Orfeu, que é noivo da bela e sedutora Mira. O
tempo passa, Mira passa a perseguir Eurídice, com ciúmes. Serafina ajuda a
prima a namorar Orfeu. Eurídice conhece o carnaval carioca ao lado de Orfeu,
mas sempre se apavora e corre quando vê que o tal homem está perto. Um dia, ela
revela tudo a Orfeu. Ele a protege e diz que vai ficar ao seu lado. O namoro
deles é puro e inocente, sem malícia.
Passa o tempo. Um
dia, se divertindo no último dia de carnaval, Eurídice teme que o homem
apareça, e acha melhor voltar para a favela, que fica perto. Ela entra num beco
escuro, para subir a favela, mas ela não conhece bem o local e fica assustada.
O homem a encontra e a persegue. Ela sai correndo desesperada e entra num
galpão velho e escuro. Ela tenta se esconder do homem, mas este a acha.
Desesperada, ela pula de um tablado e se segura em um fio de alta tensão. Orfeu
chega e liga a tensão, Eurídice cai e morre eletrocutada. Orfeu briga com homem
e fica inconsciente, quando acorda se dá conta dos fatos. Ele fica desolado. A
ambulância chega e leva o corpo ao Instituto Médico Legal. Ele não pode ir
junto. Quarta-feira de cinzas e Orfeu só sabe chorar. Ele vai atrás do
corpo, faz uma sessão espírita na qual Eurídice baixa no corpo de uma senhora,
mas, enfim, Orfeu acha seu corpo. Ele sequestra-o e leva à favela. Mira vê, e
enfurecida, joga uma pedra na cabeça de Orfeu, com a pancada ele cai de uma
ribanceira com o corpo morto de Eurídice nos braços e morre também. O amor
verdadeiro que uniu esse casal por um curto período de tempo resistiu à morte!
Bibliografia geral consultada.
BATAILLE, Georges, Sur Nietzsche: Volonté de Chance.
Paris:
Éditions Gallimard, 1967; NIETZSCHE, Friedrich, Così parlò Zarathustra. Milano:
Adelphi Editore, 1968; Idem, A Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Editor
Contraponto, 2008; GERBER, Raquel, O Mito da Civilização Atlântica - Glauber
Rocha e o Cinema Novo, Cinema e Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1978; Idem, Cinema Brasileiro e Processo Político e Cultural (de 1950
a 1978). Rio de Janeiro: Embrafilme, 1982; ALBERONI, Francesco, O
Erotismo, Fantasias e Realidades do Amor e da Sedução. São Paulo: Editor Círculo
do Livro, 1986; PARKER, Richard, Corpos, Prazeres e Paixões. A Cultura
Sexual no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora Best Seller, 1987;
CANEVACCI, Massimo (Org. e Intr.), Dialética da Família. 1ª edição. São
Paulo: Brasiliense, 1981; CASTELLO, José, Vinícius de Moraes: O Poeta da
Paixão. 2ª edição. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1994; MATTOS,
Fernando Costa, Nietzsche e o Primado da Prática: Um Espírito Livre em
Guerra Contra o Dogmatismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade
de São Paulo, 2007; OLIVEIRA, Jelson Roberto de, Para uma Ética da Amizade
em Friedrich Nietzsche. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Filosofia. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2009; COSTA E
FONSECA, Ana Carolina da, Uma Leitura Nietzscheana da Questão da
Responsabilidade Moral. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010; SANTOS, Felipe Thiago dos, A
Música no Segundo Nietzsche. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências. Marília:
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2015; entre
outros.
_________________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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