sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O Movimento do “Neonazismo” na Região Sul do Brasil

Ubiracy de Souza Braga

 
                        Bolsonaro tornou-se fenômeno midiático no programa CQC da rede Bandeirantes. Clara Romain
            A Região Sul do Brasil é a menor das cinco regiões do país, com área territorial de 576. 774,31 km², sendo maior que a área da França metropolitana e menor que o estado brasileiro de Minas Gerais. A Região Sul propriamente dita é um grande polo turístico, econômico e cultural, abrangendo grande influência europeia, principalmente de origem italiana e germânica. Apresenta índices sociais acima da média brasileira e das demais regiões em vários aspectos: possui o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, 0,798, e o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país. A região é também a mais alfabetizada, 95,2% da população, e a com menor incidência de pobreza. Sua história é marcada pela grande imigração europeia, pela Guerra dos Farrapos, e pela Revolução Federalista, com seu principal evento o Cerco da Lapa. Outra revolta ocorrida na história da região foi a Guerra do Contestado, entre os anos de 1912 e 1916. Faz parte da Região Centro-Sul do Brasil. Divide-se em três unidades federativas: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo limitada ao norte pelos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, ao sul pelo Uruguai, a oeste pelo Paraguai e pela Argentina, além de ser banhada a leste pelas águas do Oceano Atlântico.  

Sua maior característica é o modo de colonização e o tipo de colonizadores recebidos. A Região Sul começou a ser colonizada durante os séculos XVII e XVIII. Em 1648, os portugueses foram os fundadores da vila de Paranaguá, a mais antiga cidade da Região Sul e do Paraná. As populações alóctones recebidas pela região foram de escravos africanos, porém, uma grande quantidade de imigrantes vieram do Uruguai, da Argentina, dos Açores, da Espanha, da Alemanha, da Itália, da Polônia, da Ucrânia, dos Países Baixos, entre outros. A característica populacional dada pelos europeus que contribuíram para o processo de formação da sociedade brasileira do século XIX foi a predominante etnia caucasiana, sendo deixadas na paisagem características dos países de onde originaram. Os europeus foram os introdutores do sistema de pequenas e médias fazendas. A ciência agrícola trazida da Europa para o Sul do Brasil foi a viticultura, adaptada à Serra Gaúcha.  A população das cidades da Região Sul cresceu muito nos anos mais recentes. As cidades mais populosas são, em ordem de quantidade de moradores, Curitiba e Porto Alegre. O desenvolvimento industrial foi iniciado nas décadas mais recentes principalmente no Rio Grande do Sul, nordeste de Santa Catarina e Região Metropolitana de Curitiba. Na região de Criciúma, em Santa Catarina, estão localizadas quase a totalidade das reservas de exploração de carvão no Brasil. O potencial energético, que as inúmeras cachoeiras dos rios das bacias hidrográficas do Paraná e Uruguai, hoje se aproveita muito nas usinas hidrelétricas como a de Machadinho, próximo a Piratuba. 

A categoria sociológica totalitarismo analisada na fronteira dos estudos de filosofia política  e teoria política significa, simplificadamente a  presença de um Estado forte, cujo poder central tem imediatamente autoridade absoluta. O nazismo no Brasil teve início no período entre guerras regionais e mundiais, antes e depois na Europa quando o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) fez propaganda política no país para atrair militantes entre os membros efetivos da comunidade alemã. Embora a maioria dos teuto-brasileiros não se tenha aderido ou simpatizado afetivamente com a propaganda hitlerista, o Brasil no entanto, tinha a maior seção do Partido Nazista fora da Alemanha. Em 1928, foi fundada em Timbó, Santa Catarina, a seção brasileira do Partido Nazista. Naquela época, viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um (01) milhão de descendentes. A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no Sul do Brasil que preservavam a língua e a cultura alemã. Vale lembrar que diferentes dialetos falados chega a ser chamado por alguns teóricos de riograndenser hunsrückisch. O Hunsrück é uma região do oeste alemão, localizada perto dos rios Reno e Mosela e próxima à atual fronteira com Luxemburgo. “Riograndenser” significa “do Rio Grande”.

            O partido surgiu a partir do nacionalismo alemão combinado à cultura paramilitar racista e populista dos Freikorps, que lutaram contra os levantes comunistas na Alemanha após a primeira guerra mundial. Com a ascensão de Adolf Hitler ao cargo de chanceler, na Alemanha, os teuto-brasileiros passaram a ser assediados pela propaganda nazista para atrair seguidores no exterior. Embora nunca tenha havido um partido político nazista organizado, legal ou clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a ter 2.822 membros e foi a maior seção do partido nazista alemão no exterior. Como era uma organização estrangeira, “somente alemães natos podiam ser filiados e os brasileiros descendentes de alemães atuavam somente como simpatizantes”. Ainda assim, calcula-se que cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associado ao Partido Nazista alemão. Estes nazistas residiam em torno de 17 estados, a maior parte deles em São Paulo. Mas a maioria dos teuto-brasileiros não se deixou “seduzir” pela propaganda nazista e, além disso, nunca se filiou burocraticamente ao nazismo.


                                             

O neonazismo está associado ao resgate da ideologia política do nazismo, como máquina de guerra propagada pelo ideólogo Adolf Hitler, a partir do começo da década de 1920. O movimento neonazista tem suas origens assentadas na intolerância e em preceitos racialistas, primando sempre pela “raça pura ariana” ou pela pretensa “superioridade da raça branca”. Os seguidores da doutrina em sua maioria promovem atos públicos e privados de hegemonia encouraçada de coerção/discriminação contra minorias e grupos específicos, como homossexuais, negros, estrangeiros, ameríndios e judeus, além de imigrantes caboclos e islâmicos e contra os comunistas Algumas correntes preferem apenas a segregação da "raça pura ariana" das demais "raças", condenando agressões físicas contra tais grupos, inclusive muitas vezes condenando também a violência moral e psicológica. Outras promovem explicitamente o ataque físico aos grupos citados. Há grande oposição vinda dos neonazistas de grupos punks, fazendo com que cresça uma hostilidade entre os dois grupos. Alguns grupos chegam a defender o uso da força para tomar o controle do Estado ou segregar regiões através de movimentos separatistas, como o Neuland. Contudo, o movimento neonazista ressurgiu no Brasil no início da década de 1980, em meio à efervescência local de práticas ideológicas disseminadas por intermédio cultural do movimento punk.
As duas subculturas,  representando particularidades culturais de um grupo que se dista do modo de vida dominante. Mas sem se desprender dele, por sua vez, têm suas origens locais dentro do mesmo contexto socioeconômico. Neste caso, marcado pelo esgotamento do chamado “milagre econômico” do regime militar, gerando perspectivas sombrias de futuro para a juventude. O “milagre econômico brasileiro” é a denominação dada ao excepcional crescimento econômico ocorrido durante o Regime Militar no Brasil, também reconhecido pelos oposicionistas como “Anos de Chumbo”, especialmente entre 1969 e 1973, no governo do general Médici. Período áureo do desenvolvimento brasileiro em que, paradoxalmente, houve aumento da concentração de renda e da pobreza, instaurou-se um pensamento ufanista de “Brasil potência”, que se evidencia com a conquista da terceira Copa do Mundo de Futebol em 1970, no México, e a criação do mote: “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”. As três vitórias na Copa do Mundo ajudaram a manter no ar um clima de comunicação generalizado, daquilo que o jornalismo político de Élio Gaspari apelidou de “patriotadas”. O Brasil reverberava a canção “Pra frente Brasil”. Tal contexto social e político facilitou a assimilação reativa por grupos específicos hic et nunc de jovens brasileiros da influência do movimento neonazista internacional.
Enquadrando-se também em uma tendência globalizada de expansão racista, então restrito ao Reino Unido, mas gradualmente fortalecido pelo sucesso político da ultraconservadora e racista British National Front (BNF) que representa um partido político britânico de orientação ultradireitista, populista e fascista cuja atividade política atingiu o pico durante as décadas de 1970 e 1980. Nas eleições gerais de 1979, obteve mais de 190 mil votos, terminando a posição em 6° lugar, com mais votos do que o Partido Unionista Democrático. É considerada uma agremiação racista “por aceitar apenas membros de cor branca”. O sistema prisional e policial britânico proíbem a filiação tanto de seus empregados como ao partido. Apesar de ser considerada pela mídia local uma agremiação de orientação nazifascista, a Frente Nacional nega, dizendo que é um movimento político democrático. Entretanto, o partido trabalha abertamente em cooperação com o site neonazista estadunidense Stormfront. Assim como sua dissidência, o Partido Nacional Britânico, a Frente Nacional não é mais exageradamente antissemita, tendo dois candidatos judeus na década de 1970. O partido é, entretanto, crítico da veracidade do Holocausto, inclinando-se ao factual “revisionismo histórico” que erroneamente diz respeito à reinterpretação da história, baseado na hipocrisia da ambiguidade dos fatos históricos e na imparcialidade com que esses fatos podem ter sido descritos.  Integralistas reunidos na Praça Tiradentes com saudação no estilo nazista. A foto é do dia 19 de novembro de 1937. Acervo Cid Destefani.
Registrou-se recentemente o surgimento do movimento neonazista organizado em nível nacional autointitulado: “Partido Nacional-Socialista Brasileiro”, que atua através de um site na internet para o reavivamento dessa ideologia retrógrada no país. Não raro, acontecem alguns crimes envolvendo neonazistas nessas regiões. Em 2003, por exemplo, um grupo de skinheads neonazistas obrigou dois jovens punks a pular de um trem em movimento em Mogi das Cruzes. Um deles morreu e o outro perdeu um braço. Em São Paulo, o ressurgimento do movimento nazista tem suas origens na década de 1980, quando surgiram os chamados de “Carecas do ABC”, grupo de extrema-direita que se opunha ao movimento sindical liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) surgido na mesma região de conflitos entre patrões e empregados. Desde então, a possibilidade de comunicação social pela internet - rede mundial de computadores - ampliou as fronteiras do movimento que marcha na contramão da história social e política.
O site Valhala88, desativado em 2007, chegou a receber 200 mil visitas diárias por usuários do país. Para a antropóloga Adriana Dias, autora do ensaio etnográfico: Os anacronautas do teutonismo virtual: uma etnografia do neonazismo na internet (2007), da Unicamp, estudiosa da questão do neonazismo no Brasil, o acalorado debate na eleição presidencial de 2010, deu fôlego ao movimento. Para ela, “a questão do preconceito aos nordestinos (...) vem desde as eleições do Lula. Na eleição da Dilma Rousseff (PT), isso se radicalizou muitíssimo porque foi levantada a questão do aborto, do casamento gay”. Segundo Adriana, há dois grandes grupos etários de neonazistas no Brasil. O primeiro tem entre 18 e 25 anos e o segundo tem entre 35 e 45 anos, e seria o líder do primeiro. Segundo ela, a leitura dos neonazistas é composta por pensadores tais como: William Patch, Thomas Haden, Miguel Serrano e Olavo de Carvalho. Em relação às bandas de rock, há o Comando Blindado, a banda Zurzir, Defesa Armada e Resistência 88. O acalorado debate entre tucanos e petistas na eleição presidencial de 2010, quando foram levantados temas como a legalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, teria dado um fôlego novo ao movimento
Existem pouco mais de uma dezena de grupos neonazistas operando no Brasil. Congregando um total estimado entre dois e três mil ativistas organizados e um número ainda desconhecido de simpatizantes. Encontram-se espalhados, sobretudo por São Paulo, com grande concentração na capital paulista e na região do ABC - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Fortaleza, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Há indícios no sentido que emprega Carlo Ginzburg, de que “os grupos estejam começando a se organizar também em algumas capitais da Região Nordeste”. São tradicionalmente divididos em duas vertentes: a) uma mais “intelectualizada” e elitizada, dedicada ao ativismo político e à produção cultural do movimento. Congregando profissionais liberais, militares, empresários e nichos universitários que alega ser herdeira direta dos integralistas da década de 1930; e, b) outra mais ou menos agressiva, agindo de forma clandestina, composta pelos “carecas”, denominação local dos skinheads, gangues de jovens aparentemente de “origem proletária ou de classe média baixa que frequentemente praticam ataques a minorias, quer por motivos ideológicos, quer pela simples atração pela violência”.
Embora mantenham estreitas relações entre si, chegando a congregar indivíduos com dupla militância, os grupos neonazistas brasileiros caracterizam-se frequentemente pela ausência de hierarquia formal e por inúmeras divergências, discórdias e paradoxos quanto à ideologia e objetivos. Há, entretanto, características comuns a todos, sobretudo a apologia da intolerância. De forma análoga ao movimento internacional, os grupos brasileiros frequentemente professam ideais ultranacionalistas, racistas, xenófobos e discriminatórios e advogam em maior ou menor grau, o uso da violência simbólica e efetiva, prática. À perseguição de negros, homossexuais, judeus e dependentes químicos, os grupos neonazistas também somam outro alvo, os migrantes nordestinos. Estabelecem “um paralelo adaptado à realidade local da perseguição sofrida por imigrantes africanos, asiáticos e latino-americanos por neonazistas europeus e norte-americanos”. Opõem-se ao sionismo, aos comunistas, aos socialistas e à esquerda política como um todo. Vínculos ideológicos com o nazismo e com o fascismo assumidos ou dissimulados também são comuns a quase todos os grupos fascistas.         
Apontado como o mais ativo grupo neonazista brasileiro, “os carecas do subúrbio” surgiram por volta de 1978, ou ligeiramente antes, pois não há informação precisa, a princípio como um grupo punk, fã dos Sex Pistols, aproximando-se gradualmente da ideologia skinhead em sua vertente britânica. Seus membros se concentram na Zona Leste de São Paulo e na região do ABC paulista. Professam ideais ultranacionalistas, opondo-se à presença de empresas estrangeiras no Brasil. Discriminam homossexuais, pois são considerados doentes pelo grupo, judeus e dependentes químicos. Em seu ápice, o pequeno grupo radical chegou a somar cerca de 500 integrantes, mas teve o número de membros reduzidos após sofrer dois “rachas” (cisões), que deram origem aos “Carecas do ABC” e ao “White Power”. Hoje, congregaria por volta de pouco mais de 100 militantes. Fazem apologia da violência, portam armas brancas e de fogo e frequentemente envolvem-se em brigas de gangues e ataques as chamadas minorias. Orgulham-se de sua suposta “tolerância”, por não aceitarem “minorias” em suas fileiras, como negros e nordestinos. No entanto, admitem mulheres.
 Os chamados “carecas do ABC” surgiram como uma dissidência dos “carecas do subúrbio”, ocorrida por divergências ideológicas entre as facções internas. Seus membros, estimados entre 50 e 100 militantes organizados, estão concentrados na região do ABC paulista, sendo na maioria de origem operária. São apontados como mais organizados e mais “intelectualizados” do que seu grupo originário. Adotam hierarquia baseada na organização militar, com “generais” e “soldados”. Aproximam-se dos Carecas do Subúrbio na apologia da violência, mas, ao contrário destes, não portam armas de fogo, tendo no uso exclusivo da força física um pressuposto dos seus ideais. Identificam-se com o integralismo de Plínio Salgado e adotam o lema: “Deus, Pátria e Família”. Admitem a presença de negros e nordestinos em geral em suas fileiras, mas, neste caso, vetam a entrada de mulheres. Perseguem homossexuais, judeus, dependentes químicos e grupos esquerdistas. Também se opõem à presença de multinacionais em território brasileiro.
 O grupo “White Power” surgiu em 1989, originário de uma dissidência dos “carecas do Subúrbio”,  do qual era a princípio uma facção mais extremada. A maioria de seus membros localiza-se na Grande São Paulo, possuindo também ramificações em toda a Região Sul do Brasil, embora não obedeçam a qualquer tipo de hierarquia. É considerado o mais radical e agressivo de todos os grupos neonazistas brasileiros. Ultra-racistas, adotam quase integralmente a estética e a ideologia nazistas/hitleristas. Defendem a superioridade da “raça branca” (sic) e manifestam violento repúdio a negros, mulatos, homossexuais, judeus e demais minorias. Notadamente, perseguem os migrantes nordestinos, apontados pelo grupo como “sub-raça”, responsabilizando-os pelos problemas sociais e econômicos de São Paulo. Defendem a separação dos estados das regiões Sul e Sudeste do restante Brasil. Com objetivos apologéticos, cultuam os ideais da Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo e, no Sul, os movimentos locais de caráter separatista, como a Guerra dos Farrapos. É um dos maiores grupos neonazistas brasileiros, congregando mais de mil militantes, a maioria jovens de classe média, bem como profissionais liberais, estudantes e empresários. É também um dos grupos mais “internacionalizados”, mantendo contatos com agremiações de extrema-direita estrangeiros, sobretudo na Alemanha, Itália e França, e também com a Ku Klux Klan nos Estados Unidos da América. Na foto Carecas do Subúrbio”: portando rojões, bombas caseiras e instrumentos de agressão durante protestos ocorridos na Avenida Paulista (SP) foram cercados e revistados pela Polícia Militar (PM). 

No Brasil estão estreitamente vinculados ao Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro (PNRB), fundado por Armando Zanine Teixeira Júnior. Gangues ligadas ao grupo costumam portar armas brancas e de fogo. Praticam o culto da força física, fazem musculação e treinam artes marciais. Admitem mulheres em suas fileiras. Já o denominado Partido Nacional-Socialista Brasileiro (PNSB). Apesar da denominação, não é reconhecido como um partido político oficial. Foi fundado em 1988 pelo antigo oficial da marinha mercante carioca Armando Zanine Teixeira Júnior. Atua, sobretudo no Rio de Janeiro, possuindo ramificações em São Paulo, no Espírito Santo, na Bahia e no Distrito Federal. De ideologia excludente, mantém um discurso calcado em pressupostos ultranacionalistas, xenófobos e antissemitas. Opõe-se ao comunismo e à esquerda política. O grupo afirma repudiar o racismo, a discriminação contra nordestinos e a violência dos skinheads, mas possui alguns carecas de dupla militância em suas fileiras. Carecas do Brasil: Seus membros atuam no Rio de Janeiro. O grupo é apontado como a facção fluminense dos “Carecas do Subúrbio”. Estiveram ligados no passado recente ao Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro. Somam cerca de 50 militantes organizados burocraticamente. Agressivos, perseguem homossexuais, judeus e dependentes químicos. Tornaram-se conhecidos ao protagonizar um violento tumulto durante o show da banda punk Ramones na casa de shows Canecão, no Rio, na noite de 23 de setembro de 1992.
Enfim, Soberanos da Revolução (SDR) é um movimento composto por 5 a 8 membros, provavelmente sediado em São Paulo e que pregam sua doutrina na internet, sendo acessível para todo o público internauta em seus websites. Não pratica atos de violência nem crimes de ódio, no entanto tem ideais ofensivos a diversos grupos. Não se espelham nem se baseiam aparentemente em nenhuma teoria, visão política ou movimento, tendo uma filosofia única, mas formada pelo rebusque de diversas teorias. Não defendem quase nenhuma causa, demonstrando-se adversos a tudo e em favor apenas de suas concepções ou teorias. Sua doutrina apresenta ideias antipatriotas, ateus, racistas: têm aversão a negros, latinos e nipônicos, contrárias a qualquer religião ou etnia, neonazistas, xenófobas são contra as migrações nordestinas e bolivianas, anticomunistas, elitistas e segregacionistas. Reacionários, são a favor do desligamento de máquinas de um indivíduo em estado de eutanásia, contra a transfusão de sangue e doação de órgãos, lembrando ideias dos testemunhos de Jeová, apesar de se dizerem ateus. As teorias mais conhecidas são as da “Síndrome de Cirilo”, teoria racista que condena a dita autosegregação de negros e suas “manias de perseguição”, tratando-as como doenças psicológicas e as teorias “anti-cariocas”, que repudiam o suposto comportamento pouco sutil e indiscreto do povo do Rio de Janeiro, seus desapegos ao trabalho e condenam a influência direta das favelas na vida carioca, como por exemplo, com o gosto musical, com a aparente falta de cultura, com a mistura racial, etc., além de fazerem duras críticas à vida na cidade, principalmente por sua violência e por sua imagem negativa que traz para o país mundo afora.
     Após a eleição de Jair Bolsonaro à presidência, Adriana Dias detectou o surgimento de grupos neonazistas em estados até então sem registros de atividade, como Goiás, que já conta com seis grupos, localizados nas cidades de Goiânia, Luziânia e Pirenópolis. Conforme a pesquisadora, “as células haviam começado a se dirigir para o Centro-Oeste [nos estudos anteriores], mas foi a primeira vez que elas apareceram extremamente fortes”. O Brasil está vivendo, segundo analistas nacionais e internacionais, um clima político de pré-nazismo, enquanto a oposição progressista e democrática brasileira parece muda. Somente nos últimos 30 dias, de acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro proferiu 58 insultos dirigidos a 55 alvos diferentes da sociedade, dos políticos e partidos, das instituições, da imprensa e da cultura. E à oposição ensimesmada, que pensa que o melhor é deixar que o presidente extremista se desgaste por si mesmo, ele acaba de lhes responder que “quem manda no Brasil” é ele e, mais do que se desfazer, cresce cada dia mais e nem os militares parecem capazes de parar seus desacatos às instituições. Há quem acredite que o Brasil vive um clima de pré-fascismo, mas os historiadores dos movimentos autoritários preferem analisá-lo à luz do nazismo de Hitler. Lembram que o fascismo se apresentou no começo como um movimento para modernizar uma Itália empobrecida e fechada ao mundo.
                De modo que, como admite Adriana Dias (2019) uma figura como Marinetti, autor do movimento futurista, acabou se transformando em um fervoroso seguidor de Mussolini que terminou por arrastar seu país à guerra. Enfim, querer ressuscitar das tumbas as essências de morte do nazismo e fascismo, com a vã tentativa da busca da essência e pureza da brasilidade é uma tarefa inútil. Seria a busca de uma pureza que jamais poderá existir em um país tão rico em sua multiplicidade étnica, cultural e religiosa. Seria, além de uma quimera, um crime. Urge que a oposição democrática e progressista brasileira desperte para colocar um freio nessa loucura que estamos vivendo e que os psicanalistas confirmam que está criando tantas vítimas de depressão ao sentirem-se esmagadas por um clima de medo e de quebra de valores que a nova força política realiza impunemente. Que a oposição se enrole em suas pequenezas partidárias e lute para ver quem vai liderar a oposição em um momento tão grave, além de mesquinho e perigoso é pueril e provinciano. 
Bibliografia geral consultada.
TRINDADE, Hélgio Henrique Casses, L´Action Intégraliste Brésilienne: Un Mouvement de Type Fasciste au Brésil. Tese de Doutorado em Études Politiques. Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, 1971; GINZBURG, Carlo, Miti, Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; OTT, Hugo, Martin Heidegger. Éléments pour une biographie. Paris: Éditions Payot, 1990; NESKE, Gunther; GRAMSCI, Antonio, “Quaderni del Carcere”, n° 7 (1928-1937), “Guerra di Posizione e Guerra Manovrata o Frontale”. In: Note Sul Machiavelli Sulla Politica e Sullo Stato Moderno. Torino: Editore Riuniti, 1991, pp. 84 e ss.; SALEM, Helena, As Tribos do Mal: O Neonazismo no Brasil e no Mundo. 5ª edição. São Paulo: Editora Atual, 1995; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Ideologia Fascista”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 4 de dezembro de 2004; BOBBIO, Norberto, Il Futuro della Democrazia. 1ª Edizione. Itália: Editore Einaudi, 2005; SILVA, Nadiana Lima da, Enquetes do Controle de Qualidade do CQC: Uma Análise Multimodal. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Artes e Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2011; LUCAS, Taís Campelo, Nazismo & Além Mar: Conflito e Esquecimento (Rio Grande do Sul). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grade do Sul, 2011; Artigo: “A Onda Bolsonaro e o Despertar do Neonazismo”. Disponível em: http://www.pavablog.com/2012/04/05; LERY, Julia, (Não) é só uma piada. Cinismo, ironia e entretenimento nos talk shows The Noite e Agora é Tarde. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015;  entre outros.
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  * Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências (USP) junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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