O Movimento do “Neonazismo” na Região Sul do Brasil
Ubiracy de Souza Braga
“Bolsonaro
tornou-se fenômeno midiático no programa CQC da rede Bandeirantes”. Clara Romain
A Região Sul do Brasil é a menor das cinco regiões do país, com área territorial de 576. 774,31 km², sendo maior que a área da França metropolitana e menor que o estado brasileiro de Minas Gerais. A Região Sul propriamente dita é um grande polo turístico, econômico e cultural, abrangendo grande influência europeia, principalmente de origem italiana e germânica. Apresenta índices sociais acima da média brasileira e das demais regiões em vários aspectos: possui o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, 0,798, e o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país. A região é também a mais alfabetizada, 95,2% da população, e a com menor incidência de pobreza. Sua história é marcada pela grande imigração europeia, pela Guerra dos Farrapos, e pela Revolução Federalista, com seu principal evento o Cerco da Lapa. Outra revolta ocorrida na história da região foi a Guerra do Contestado, entre os anos de 1912 e 1916. Faz parte da Região Centro-Sul do Brasil. Divide-se em três unidades federativas: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo limitada ao norte pelos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, ao sul pelo Uruguai, a oeste pelo Paraguai e pela Argentina, além de ser banhada a leste pelas águas do Oceano Atlântico.
Sua
maior característica é o modo de colonização e o tipo de colonizadores
recebidos. A Região Sul começou a ser colonizada durante os séculos XVII e
XVIII. Em 1648, os portugueses foram os fundadores da vila de Paranaguá, a mais
antiga cidade da Região Sul e do Paraná. As populações alóctones recebidas pela
região foram de escravos africanos, porém, uma grande quantidade de imigrantes
vieram do Uruguai, da Argentina, dos Açores, da Espanha, da Alemanha, da
Itália, da Polônia, da Ucrânia, dos Países Baixos, entre outros. A
característica populacional dada pelos europeus que contribuíram para o
processo de formação da sociedade brasileira do século XIX foi a predominante
etnia caucasiana, sendo deixadas na paisagem características dos países de onde
originaram. Os europeus foram os introdutores do sistema de pequenas e médias
fazendas. A ciência agrícola trazida da Europa para o Sul do Brasil foi a
viticultura, adaptada à Serra Gaúcha. A
população das cidades da Região Sul cresceu muito nos anos mais recentes. As
cidades mais populosas são, em ordem de quantidade de moradores, Curitiba e
Porto Alegre. O desenvolvimento industrial foi iniciado nas décadas mais
recentes principalmente no Rio Grande do Sul, nordeste de Santa Catarina e
Região Metropolitana de Curitiba. Na região de Criciúma, em Santa Catarina,
estão localizadas quase a totalidade das reservas de exploração de carvão no
Brasil. O potencial energético, que as inúmeras cachoeiras dos rios das bacias
hidrográficas do Paraná e Uruguai, hoje se aproveita muito nas
usinas hidrelétricas como a de Machadinho, próximo a Piratuba.
A categoria sociológica totalitarismo
analisada na fronteira dos estudos de filosofia política e teoria política significa, simplificadamente a presença de um Estado forte, cujo poder central tem imediatamente autoridade
absoluta. O nazismo no Brasil teve início no período entre guerras regionais e mundiais, antes e depois na Europa quando o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) fez
propaganda política no país para atrair militantes entre os membros efetivos da
comunidade alemã. Embora a maioria dos teuto-brasileiros não se tenha aderido
ou simpatizado afetivamente com a propaganda hitlerista, o Brasil no entanto, tinha a maior seção do
Partido Nazista fora da Alemanha. Em 1928, foi fundada em Timbó, Santa
Catarina, a seção brasileira do Partido Nazista. Naquela época, viviam no
Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um (01) milhão de
descendentes. A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no Sul do Brasil
que preservavam a língua e a cultura alemã. Vale lembrar que diferentes dialetos falados chega a ser chamado por alguns teóricos de riograndenser hunsrückisch. O Hunsrück é uma região do oeste alemão, localizada perto dos rios Reno e Mosela e próxima à atual fronteira com Luxemburgo. “Riograndenser” significa “do Rio Grande”.
O partido surgiu a partir do nacionalismo alemão combinado à cultura paramilitar racista e populista dos Freikorps, que lutaram contra os levantes comunistas na Alemanha após a primeira guerra mundial. Com a ascensão de Adolf Hitler ao
cargo de chanceler, na Alemanha, os teuto-brasileiros passaram a ser assediados
pela propaganda nazista para atrair seguidores no exterior. Embora
nunca tenha havido um partido político nazista organizado, legal ou
clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram
membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a
ter 2.822 membros e foi a maior seção do partido nazista alemão no exterior.
Como era uma
organização estrangeira, “somente alemães natos podiam ser filiados e os
brasileiros descendentes de alemães atuavam somente como simpatizantes”. Ainda
assim, calcula-se que cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no
Brasil estiveram, em alguma época, associado ao Partido Nazista alemão. Estes
nazistas residiam em torno de 17 estados, a maior parte deles em São Paulo. Mas a maioria dos teuto-brasileiros não se
deixou “seduzir” pela propaganda nazista e, além disso, nunca se filiou
burocraticamente ao nazismo.
O neonazismo está associado ao resgate da ideologia política do nazismo, como máquina de guerra propagada pelo ideólogo Adolf Hitler, a partir do começo da década de 1920. O movimento neonazista tem suas origens assentadas na intolerância e em preceitos racialistas, primando sempre pela “raça pura ariana” ou pela pretensa “superioridade da raça branca”. Os seguidores da doutrina em sua maioria promovem atos públicos e privados de hegemonia encouraçada de coerção/discriminação contra minorias e grupos específicos, como homossexuais, negros, estrangeiros, ameríndios e judeus, além de imigrantes caboclos e islâmicos e contra os comunistas Algumas correntes preferem apenas a segregação da "raça pura ariana" das demais "raças", condenando agressões físicas contra tais grupos, inclusive muitas vezes condenando também a violência moral e psicológica. Outras promovem explicitamente o ataque físico aos grupos citados. Há grande oposição vinda dos neonazistas de grupos punks, fazendo com que cresça uma hostilidade entre os dois grupos. Alguns grupos chegam a defender o uso da força para tomar o controle do Estado ou segregar regiões através de movimentos separatistas, como o Neuland. Contudo, o movimento neonazista ressurgiu no Brasil no início da década de 1980, em meio à efervescência local de práticas ideológicas disseminadas por intermédio cultural do movimento punk.
As duas subculturas, representando particularidades culturais de um grupo que se dista do modo de vida dominante. Mas sem se desprender dele, por sua vez, têm suas origens locais dentro do mesmo contexto socioeconômico. Neste caso, marcado pelo esgotamento do chamado “milagre econômico” do regime militar, gerando perspectivas sombrias de futuro para a juventude. O “milagre econômico brasileiro” é a denominação dada ao excepcional crescimento econômico ocorrido durante o Regime Militar no Brasil, também reconhecido pelos oposicionistas como “Anos de Chumbo”, especialmente entre 1969 e 1973, no governo do general Médici. Período áureo do desenvolvimento brasileiro em que, paradoxalmente, houve aumento da concentração de renda e da pobreza, instaurou-se um pensamento ufanista de “Brasil potência”, que se evidencia com a conquista da terceira Copa do Mundo de Futebol em 1970, no México, e a criação do mote: “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”. As três vitórias na Copa do Mundo ajudaram a manter no ar um clima de comunicação generalizado, daquilo que o jornalismo político de Élio Gaspari apelidou de “patriotadas”. O Brasil reverberava a canção “Pra frente Brasil”. Tal contexto social e político facilitou a assimilação reativa por grupos específicos hic et nunc de jovens brasileiros da influência do movimento neonazista internacional.
Enquadrando-se também em uma tendência
globalizada de expansão racista, então restrito ao Reino Unido, mas
gradualmente fortalecido pelo sucesso político da ultraconservadora e racista British National Front (BNF) que
representa um partido político britânico de orientação ultradireitista,
populista e fascista cuja atividade política atingiu o pico durante as décadas
de 1970 e 1980. Nas eleições gerais de 1979, obteve mais de 190 mil votos,
terminando a posição em 6° lugar, com mais votos do que o Partido Unionista Democrático. É considerada uma agremiação racista
“por aceitar apenas membros de cor branca”. O sistema prisional e policial
britânico proíbem a filiação tanto de seus empregados como ao partido. Apesar
de ser considerada pela mídia local uma agremiação de orientação nazifascista,
a Frente Nacional nega, dizendo que é um movimento político democrático.
Entretanto, o partido trabalha abertamente em cooperação com o site neonazista
estadunidense Stormfront. Assim como
sua dissidência, o Partido Nacional Britânico, a Frente Nacional não é mais
exageradamente antissemita, tendo dois candidatos judeus na década de 1970. O
partido é, entretanto, crítico da veracidade do Holocausto, inclinando-se ao factual
“revisionismo histórico” que erroneamente diz respeito à reinterpretação da história,
baseado na hipocrisia da ambiguidade dos fatos históricos e na imparcialidade com que esses
fatos podem ter sido descritos. Integralistas reunidos na Praça Tiradentes com saudação no estilo nazista. A foto é do dia 19 de novembro de 1937. Acervo Cid Destefani.
Registrou-se
recentemente o surgimento do movimento neonazista organizado em nível nacional
autointitulado: “Partido Nacional-Socialista Brasileiro”, que atua através de
um site na internet para o
reavivamento dessa ideologia retrógrada no país. Não raro, acontecem alguns
crimes envolvendo neonazistas nessas regiões. Em 2003, por exemplo, um grupo de
skinheads neonazistas obrigou dois
jovens punks a pular de um trem em movimento em Mogi das Cruzes. Um deles morreu
e o outro perdeu um braço. Em São Paulo, o ressurgimento do movimento nazista
tem suas origens na década de 1980, quando surgiram os chamados de “Carecas do
ABC”, grupo de extrema-direita que se opunha ao movimento sindical liderado por
Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) surgido na mesma região de conflitos entre patrões e empregados. Desde então, a
possibilidade de comunicação social pela internet - rede mundial de computadores - ampliou as fronteiras do movimento
que marcha na contramão da história social e política.
O
site Valhala88, desativado em 2007,
chegou a receber 200 mil visitas diárias por usuários do país. Para a
antropóloga Adriana Dias, autora do ensaio etnográfico: Os anacronautas do teutonismo
virtual: uma etnografia do neonazismo na internet (2007), da Unicamp,
estudiosa da questão do neonazismo no Brasil, o acalorado debate na eleição
presidencial de 2010, deu fôlego ao movimento. Para ela, “a questão do
preconceito aos nordestinos (...) vem desde as eleições do Lula. Na eleição da
Dilma Rousseff (PT), isso se radicalizou muitíssimo porque foi levantada a questão do aborto,
do casamento gay”. Segundo Adriana, há dois grandes grupos etários de
neonazistas no Brasil. O primeiro tem entre 18 e 25 anos e o segundo tem entre
35 e 45 anos, e seria o líder do primeiro. Segundo ela, a leitura dos neonazistas é
composta por pensadores tais como: William Patch, Thomas Haden, Miguel Serrano
e Olavo de Carvalho. Em relação às bandas de rock, há o Comando Blindado, a banda Zurzir,
Defesa Armada e Resistência 88. O acalorado debate entre tucanos e petistas na eleição presidencial de 2010, quando foram levantados temas como a legalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, teria dado um fôlego novo ao movimento
Existem pouco mais de uma dezena de grupos neonazistas
operando no Brasil. Congregando um total estimado entre dois e três mil
ativistas organizados e um número ainda desconhecido de simpatizantes.
Encontram-se espalhados, sobretudo por São Paulo, com grande concentração na capital
paulista e na região do ABC - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Fortaleza, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Há indícios no sentido que emprega
Carlo Ginzburg, de que “os grupos estejam começando a se organizar também em
algumas capitais da Região Nordeste”. São tradicionalmente divididos em duas
vertentes: a) uma mais “intelectualizada” e elitizada, dedicada ao ativismo político e à produção cultural
do movimento. Congregando profissionais liberais, militares, empresários e nichos
universitários que alega ser herdeira direta dos integralistas da década de
1930; e, b) outra mais ou menos agressiva, agindo de forma clandestina,
composta pelos “carecas”, denominação local dos skinheads, gangues de jovens aparentemente de “origem proletária ou
de classe média baixa que frequentemente praticam ataques a minorias, quer por
motivos ideológicos, quer pela simples atração pela violência”.
Embora
mantenham estreitas relações entre si, chegando a congregar indivíduos com
dupla militância, os grupos neonazistas brasileiros caracterizam-se
frequentemente pela ausência de hierarquia formal e por inúmeras divergências,
discórdias e paradoxos quanto à ideologia e objetivos. Há, entretanto,
características comuns a todos, sobretudo a apologia da intolerância. De forma
análoga ao movimento internacional, os grupos brasileiros frequentemente
professam ideais ultranacionalistas, racistas, xenófobos e discriminatórios e
advogam em maior ou menor grau, o uso da violência simbólica e efetiva, prática.
À perseguição de negros, homossexuais, judeus e dependentes químicos, os grupos
neonazistas também somam outro alvo, os migrantes
nordestinos. Estabelecem “um paralelo adaptado à realidade local da
perseguição sofrida por imigrantes africanos, asiáticos e latino-americanos por
neonazistas europeus e norte-americanos”. Opõem-se ao sionismo, aos
comunistas, aos socialistas e à esquerda política como um todo. Vínculos
ideológicos com o nazismo e com o fascismo assumidos ou dissimulados também são
comuns a quase todos os grupos fascistas.
Apontado
como o mais ativo grupo neonazista brasileiro, “os carecas do subúrbio” surgiram
por volta de 1978, ou ligeiramente antes, pois não há informação precisa, a princípio como um grupo punk, fã dos Sex Pistols, aproximando-se gradualmente da ideologia skinhead em sua vertente britânica. Seus
membros se concentram na Zona Leste de São Paulo e na região do ABC paulista. Professam
ideais ultranacionalistas, opondo-se à presença de empresas estrangeiras no
Brasil. Discriminam homossexuais, pois são considerados doentes pelo grupo,
judeus e dependentes químicos. Em seu ápice, o pequeno grupo radical chegou a somar cerca de
500 integrantes, mas teve o número de membros reduzidos após sofrer dois
“rachas” (cisões), que deram origem aos “Carecas do ABC” e ao “White Power”.
Hoje, congregaria por volta de pouco mais de 100 militantes. Fazem apologia da
violência, portam armas brancas e de fogo e frequentemente envolvem-se em
brigas de gangues e ataques as chamadas minorias. Orgulham-se de sua suposta “tolerância”,
por não aceitarem “minorias” em suas fileiras, como negros e nordestinos.
No entanto, admitem mulheres.
Os chamados “carecas do ABC” surgiram como uma
dissidência dos “carecas do subúrbio”, ocorrida por divergências ideológicas
entre as facções internas. Seus membros, estimados entre 50 e 100 militantes
organizados, estão concentrados na região do ABC paulista, sendo na maioria de
origem operária. São apontados como mais organizados e mais “intelectualizados”
do que seu grupo originário. Adotam hierarquia baseada na organização militar,
com “generais” e “soldados”. Aproximam-se dos Carecas do Subúrbio na apologia
da violência, mas, ao contrário destes, não portam armas de fogo, tendo no uso
exclusivo da força física um pressuposto dos seus ideais. Identificam-se com o
integralismo de Plínio Salgado e adotam o lema: “Deus, Pátria e Família”.
Admitem a presença de negros e nordestinos em geral em suas fileiras, mas, neste caso, vetam a
entrada de mulheres. Perseguem homossexuais, judeus, dependentes químicos e
grupos esquerdistas. Também se opõem à presença de multinacionais em território
brasileiro.
O grupo “White Power” surgiu em 1989,
originário de uma dissidência dos “carecas do Subúrbio”, do qual era a princípio uma facção mais
extremada. A maioria de seus membros localiza-se na Grande São Paulo, possuindo
também ramificações em toda a Região Sul do Brasil, embora não obedeçam a
qualquer tipo de hierarquia. É considerado o mais radical e agressivo de todos
os grupos neonazistas brasileiros. Ultra-racistas, adotam quase integralmente a
estética e a ideologia nazistas/hitleristas. Defendem a superioridade da “raça
branca” (sic) e manifestam violento repúdio a negros, mulatos, homossexuais,
judeus e demais minorias. Notadamente, perseguem os migrantes nordestinos,
apontados pelo grupo como “sub-raça”, responsabilizando-os pelos problemas
sociais e econômicos de São Paulo. Defendem a separação dos estados das regiões
Sul e Sudeste do restante Brasil. Com objetivos apologéticos, cultuam os ideais
da Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo e, no Sul, os movimentos
locais de caráter separatista, como a Guerra dos Farrapos. É um dos maiores
grupos neonazistas brasileiros, congregando mais de mil militantes, a maioria
jovens de classe média, bem como profissionais liberais, estudantes e
empresários. É também um dos grupos mais “internacionalizados”, mantendo
contatos com agremiações de extrema-direita estrangeiros, sobretudo na
Alemanha, Itália e França, e também com a Ku
Klux Klan nos Estados Unidos da América. Na foto “Carecas do Subúrbio”: portando rojões, bombas caseiras e instrumentos de agressão durante protestos ocorridos na Avenida Paulista (SP) foram cercados e revistados pela Polícia Militar (PM).
No
Brasil estão estreitamente vinculados ao Partido Nacionalista Revolucionário
Brasileiro (PNRB), fundado por Armando Zanine Teixeira Júnior. Gangues ligadas ao
grupo costumam portar armas brancas e de fogo. Praticam o culto da força
física, fazem musculação e treinam artes marciais. Admitem mulheres em suas
fileiras. Já o denominado
Partido Nacional-Socialista Brasileiro (PNSB). Apesar da denominação, não é
reconhecido como um partido político oficial. Foi fundado em 1988 pelo antigo
oficial da marinha mercante carioca Armando Zanine Teixeira Júnior. Atua,
sobretudo no Rio de Janeiro, possuindo ramificações em São Paulo, no Espírito
Santo, na Bahia e no Distrito Federal. De ideologia excludente, mantém um
discurso calcado em pressupostos ultranacionalistas, xenófobos e antissemitas.
Opõe-se ao comunismo e à esquerda política. O grupo afirma repudiar o racismo,
a discriminação contra nordestinos e a violência dos skinheads, mas possui
alguns carecas de dupla militância em suas fileiras. Carecas do Brasil: Seus
membros atuam no Rio de Janeiro. O grupo é apontado como a facção fluminense
dos “Carecas do Subúrbio”. Estiveram ligados no passado recente ao Partido
Nacionalista Revolucionário Brasileiro. Somam cerca de 50 militantes
organizados burocraticamente. Agressivos, perseguem homossexuais, judeus e
dependentes químicos. Tornaram-se conhecidos ao protagonizar um violento
tumulto durante o show da banda punk Ramones
na casa de shows Canecão, no Rio, na noite de 23 de setembro de 1992.
Enfim,
Soberanos da Revolução (SDR) é um movimento composto por 5 a 8 membros,
provavelmente sediado em São Paulo e que pregam sua doutrina na internet, sendo acessível para todo o
público internauta em seus websites.
Não pratica atos de violência nem crimes de ódio, no entanto tem ideais
ofensivos a diversos grupos. Não se espelham nem se baseiam aparentemente em nenhuma teoria,
visão política ou movimento, tendo uma filosofia única, mas formada pelo
rebusque de diversas teorias. Não defendem quase nenhuma causa, demonstrando-se adversos
a tudo e em favor apenas de suas concepções ou teorias. Sua doutrina apresenta ideias antipatriotas,
ateus, racistas: têm aversão a negros, latinos e nipônicos, contrárias a
qualquer religião ou etnia, neonazistas, xenófobas são contra as migrações
nordestinas e bolivianas, anticomunistas, elitistas e segregacionistas. Reacionários,
são a favor do desligamento de máquinas de um indivíduo em estado de eutanásia,
contra a transfusão de sangue e doação de órgãos, lembrando ideias dos
testemunhos de Jeová, apesar de se dizerem ateus. As teorias mais conhecidas
são as da “Síndrome de Cirilo”, teoria racista que condena a dita autosegregação
de negros e suas “manias de perseguição”, tratando-as como doenças psicológicas
e as teorias “anti-cariocas”, que repudiam o suposto comportamento pouco sutil
e indiscreto do povo do Rio de Janeiro, seus desapegos ao trabalho e condenam a
influência direta das favelas na vida carioca, como por exemplo, com o gosto
musical, com a aparente falta de cultura, com a mistura racial, etc., além de fazerem
duras críticas à vida na cidade, principalmente por sua violência e por sua imagem
negativa que traz para o país mundo afora. Após a eleição de Jair Bolsonaro à presidência, Adriana Dias detectou o surgimento de grupos neonazistas em estados até então sem registros de atividade, como Goiás, que já conta com seis grupos, localizados nas cidades de Goiânia, Luziânia e Pirenópolis. Conforme a pesquisadora, “as células haviam começado a se dirigir para o Centro-Oeste [nos estudos anteriores], mas foi a primeira vez que elas apareceram extremamente fortes”. O Brasil está vivendo, segundo analistas nacionais e internacionais, um clima político de pré-nazismo, enquanto a oposição progressista e democrática brasileira parece muda. Somente nos últimos 30 dias, de acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro proferiu 58 insultos dirigidos a 55 alvos diferentes da sociedade, dos políticos e partidos, das instituições, da imprensa e da cultura. E à oposição ensimesmada, que pensa que o melhor é deixar que o presidente extremista se desgaste por si mesmo, ele acaba de lhes responder que “quem manda no Brasil” é ele e, mais do que se desfazer, cresce cada dia mais e nem os militares parecem capazes de parar seus desacatos às instituições. Há quem acredite que o Brasil vive um clima de pré-fascismo, mas os historiadores dos movimentos autoritários preferem analisá-lo à luz do nazismo de Hitler. Lembram que o fascismo se apresentou no começo como um movimento para modernizar uma Itália empobrecida e fechada ao mundo. De modo que, como admite Adriana Dias (2019) uma figura como Marinetti, autor do movimento futurista, acabou se transformando em um fervoroso seguidor de Mussolini que terminou por arrastar seu país à guerra. Enfim, querer ressuscitar das tumbas as essências de morte do nazismo e fascismo, com a vã tentativa da busca da essência e pureza da brasilidade é uma tarefa inútil. Seria a busca de uma pureza que jamais poderá existir em um país tão rico em sua multiplicidade étnica, cultural e religiosa. Seria, além de uma quimera, um crime. Urge que a oposição democrática e progressista brasileira desperte para colocar um freio nessa loucura que estamos vivendo e que os psicanalistas confirmam que está criando tantas vítimas de depressão ao sentirem-se esmagadas por um clima de medo e de quebra de valores que a nova força política realiza impunemente. Que a oposição se enrole em suas pequenezas partidárias e lute para ver quem vai liderar a oposição em um momento tão grave, além de mesquinho e perigoso é pueril e provinciano.
Bibliografia geral consultada. TRINDADE, Hélgio Henrique Casses, L´Action Intégraliste Brésilienne: UnMouvement de Type Fasciste au Brésil. Tese de Doutorado em Études Politiques. Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, 1971; GINZBURG, Carlo, Miti, Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; OTT, Hugo, Martin Heidegger. Éléments pour une biographie. Paris: Éditions Payot, 1990; NESKE, Gunther;GRAMSCI, Antonio, “Quaderni
del Carcere”, n° 7 (1928-1937), “Guerra di Posizione e Guerra Manovrata o
Frontale”. In: Note Sul Machiavelli
Sulla Politica e Sullo Stato Moderno. Torino: Editore Riuniti, 1991, pp. 84
e ss.; SALEM, Helena, As Tribos do Mal: O Neonazismo no Brasil e no Mundo. 5ª edição. São Paulo: Editora Atual, 1995; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Ideologia Fascista”.
In: Jornal O Povo. Fortaleza, 4 de dezembro de 2004; BOBBIO, Norberto, Il Futuro della Democrazia. 1ª Edizione. Itália: Editore Einaudi, 2005; SILVA, Nadiana Lima da, Enquetes do Controle de Qualidade do CQC: Uma Análise Multimodal. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Artes e Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2011; LUCAS, Taís Campelo, Nazismo & Além Mar: Conflito e Esquecimento (Rio Grande do Sul). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grade do Sul, 2011; Artigo: “A Onda Bolsonaro e o Despertar do Neonazismo”. Disponível em: http://www.pavablog.com/2012/04/05; LERY, Julia, (Não) é só uma piada. Cinismo, ironia e entretenimento nos talk shows The Noite e Agora é Tarde. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; entre outros.
________________
*
Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências (USP) junto à
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
Professor Associado da Coordenação do
curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do
Ceará (UECE).
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