domingo, 9 de agosto de 2015

Atame! - Mitos urbanos, Cinema & Síndrome de Estocolmo.

Ubiracy de Souza Braga*

A história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna”. Jean Cocteau

         

Muitas das chamadas “lendas urbanas” representam em sua origem, baseadas em fatos sociológicos reais ou preocupações legítimas, no sentido sociológico e filosófico, mas geralmente acabam distorcidas ao longo do tempo. Podem ser pequenas histórias de caráter fabuloso ou sensacionalista, amplamente divulgadas de forma oral, hoje por e-mails, pela mídia e que constituem um tipo de manifestação. São frequentemente narradas como sendo fatos acontecidos a um “amigo de um amigo” ou de “conhecimento público”. Muitas delas já são bastante antigas, outras tendo sofrido apenas pequenas alterações ao longo dos anos. Muitas foram mesmo traduzidas e incorporadas a outras culturas. É o caso, por exemplo, da história da “loira do banheiro”, lenda urbana brasileira que fala sobre o fantasma de uma garota jovem de pele muito branca e cabelos loiros que costuma ser avistada em banheiros. Outras dessas histórias têm origem mais recente. Como as que dão conta de homens seduzidos e drogados em espaços de diversão noturna que, ao acordarem no dia seguinte, descobrem que tiveram um de seus rins cirurgicamente extraído por uma quadrilha especializada na venda de órgãos humanos para transplante. Síndrome de Estocolmo é o nome comumente associado a um estado psicológico particular, em que alguém é submetido há um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu opressor. 
Apesar de o termo ser vastamente utilizado pelo senso comum na vida cotidiana, a síndrome não consta entre as patologias psiquiátricas listadas no DSM-5, havendo relativamente poucas publicações sobre o tema. Nesse cenário, alguns especialistas preferem tratar a pretendida síndrome como um “mito urbano”, afirmando não haver “base empírica” e uniforme para classificá-la como um distúrbio da mente enquanto tal. Controle mental é um termo genérico para diversas teorias que propõem que os pensamentos de um indivíduo, bem como seu comportamento, emoções e decisões, possam estar sujeitos à manipulação de fontes externas ou não voluntárias. Basicamente, o controle da mente é o controle bem-sucedido dos pensamentos e ações de outro sem o seu consentimento. O termo também pode ser usado em teorias controversas de manipulação arbitrária do pensamento de um indivíduo, como na “lavagem cerebral” do inglês brainwashing. A possibilidade do controle da mente e os métodos para assumi-la, de forma direta ou sutil, são temas para discussões entre psicólogos, neurocientistas e sociólogos. A definição exata de controle mental e a extensão de sua influência sobre o indivíduo também são debatidos. A questão tem sido discutida em conjunto com religião, política, prisioneiros de guerra, totalitarismo, manipulação de células neurais, cultos, terrorismo, tortura e alienação paternal
Os diferentes pontos de vista sobre o assunto possuem implicações legais. Controle mental foi o tema do caso judicial de Patty Hearst e de julgamentos envolvendo novos movimentos religiosos. O conceito surgiu após um assalto a banco ocorrido em 1973 em Estocolmo, na Suécia. Quatro vítimas, sendo três mulheres, tornaram-se reféns de assaltantes durante seis dias e, como defesas contra a ameaça de violência que pudesse resultar de atos de confrontação aos sequestradores, passaram a se solidarizar com eles. A tal ponto que em tais circunstâncias haverem-se recusado a testemunhar no julgamento subsequentemente realizado, e ainda, terem levantado recursos financeiros para a sua defesa. Uma das vítimas teria ficado “noiva” de um dos sequestradores quando cumpria pena, segundo relatos. Não são todas as vítimas que desenvolvem traumas após o fim da situação. E neste sentido, síndrome de Oslo comparativamente, é um estado psicológico que se desenvolve em pessoas que enfrentam uma situação de grande perigo ou ameaça. Consiste essencialmente num autoengano sobre as verdadeiras intenções da ameaça. Pode passar pela “desculpabilização” do agressor, sendo uma forma de síndrome de Estocolmo ou, inversamente, de auto-culpabilização pela situação. Neste caso a vítima da síndrome de Estocolmo tende a considerar que, de alguma forma, merece aquele determinado castigo.                
                            

Talvez o caso mais famoso e mais característico historicamente do quadro sintomatológico da doença é o que tem sido reconhecido através de Patty Hearst, que desenvolveu a síndrome em 1974, após ser sequestrado durante um assalto a banco realizado pela organização político-militar “Exército de Libertação Simbionesa”. Depois de libertada do cativeiro, Patty Hearst juntou-se aos seus raptores, indo viver com eles e sendo cúmplice em assalto a bancos. A síndrome pode se desenvolver: a) em vítimas de sequestro, b) em cenários de guerra, c) sobreviventes de campos de concentração, d) pessoas que são submetidas à prisão domiciliar por familiares, e) também em vítimas de abusos pessoais externos (ruas etc.), f) finalmente, como pessoas submetidas à violência física doméstica e familiar em que a vítima é agredida pelo cônjuge, continua a amá-lo e defendê-lo como se as agressões fossem normais. Historicamenbte a síndrome de Estocolmo pode muito bem ser identificada no âmbito da literatura infantil. Ocorre no clássico conto francês, escrito por Marie le Prince de Beaumont, “A Bela e a Fera”, que narra a história de uma garota bonita e inteligente que é vítima de “cárcere privado” por uma Fera, e por fim desenvolve um relacionamento afetivo e se casa com ela. 
Na série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo” escrita pelo norte-americano George R. R. Martin, assim como na sua adaptação para a televisão, Game of Thrones, Theon Greyjoy desenvolve um amor por seu raptor e torturador, Ramsay Snow, que o transformou em seu “brinquedo” após castrá-lo e amputá-lo. Na literatura policial, podemos citar o exemplo do livro Stolen, de Lucy Christopher. Nele o personagem, Gemma, é sequestrada por Tyler, o qual a leva para o deserto australiano. A garota tenta escapar em vão. A administração do tempo no encadeamento da relação com o opressor Gemma sente afeto por Tyler, e realmente pode amá-lo. Há correlação da síndrome com dois personagens centrais de “Jogos Mortais”. A jovem ex-drogada Amanda (Shawnee Smith) após ter conseguido concluir uma das provas do cientista e escritor Jigsaw (John Kramer), conquistou a admiração dele por lutar por sua vida e passou a trabalhar para ele, “dando continuidade à sua série de matanças”. No filme “Paranoia”, o personagem Ronnie (Aaron Yoo) fala para Ashley (Sarah Roemer) sobre a síndrome de Estocolmo, após Ashley ter conversado com o assassino da vizinhança, e tê-la convencido de que não era um assassino, achando que Ashley estava apaixonada pelo assassino.                               
No filme espanhol Atame! de Pedro Almodóvar, a protagonista Marina se apaixona pelo raptor Ricky e volta a procurá-lo depois de ser libertada para casar-se com ele. A síndrome também está presente no filme The World Is Not Enough, da franquia James Bond, a personagem Elektra King (Sophie Marceau), sequestrada por um terrorista internacional de planos maquiavélicos. Na série de TV Homeland, a personagem de Damian Lewis, Nicholas Brody, durante os 8 anos em que ficou preso, desenvolve uma relação afetiva com seu captor, Abu Nazir, devido a pequenos gestos por parte deste, em meio a torturas físicas e psicológicas. Homeland segue Carrie Mathison, uma oficial de operações da CIA que, depois de conduzir uma operação não autorizada no Iraque, é colocada em liberdade condicional e transferida para o Centro Contraterrorista da CIA em Langley, Virgínia. Enquanto conduzia a sua operação no Iraque, Carrie foi avisada por uma fonte que um prisioneiro de guerra norte-americano passou para o lado da Al-Qaeda. O seu trabalho é complicado quando o seu chefe, David Estes, a chama junto com seus colegas para uma reunião de emergência. Nela, Carrie descobre que Nicholas Brody, um sargento dos Fuzileiros Navais que desapareceu durante o serviço em 2003, foi resgatado durante uma incursão da Delta Force num complexo pertencente a Abu Nazir. Carrie passa a acreditar que Brody é o prisioneiro de guerra que sua fonte tinha falado. 
O governo federal e seus superiores consideraram Nicholas Brody como um herói. Na série de TV norte-americana, “Criminal Minds” a síndrome é inúmeras vezes referidas numa arquetipologia no sentido antropológicos de sequestros, como no episódio “The Company” (Ep. 20 Temporada 7), onde a prima do policial Derek Morgan é submetida à síndrome, devido a ter passado 8 anos submissa ao convívio com seu agressor. Na música, a banda de rock Muse tem canção intitulada: “Stockholm Syndrome”. Entre letras opacas, é perceptível “a influência real da síndrome na discussão lírica proposta pela música e mesmo pela interpretação da mesma”. A banda de punk rock Blink-182 também tem uma música chamada “Stockholm Syndrome”. Além destas, a banda de rock The Who possui uma música chamada “Black Widow`s Eyes”, que tem a síndrome como tema central. A banda inglês-irlandesa, One Direction, também tem uma música chamada “Stockholm Syndrome”, que faz parte de seu álbum de gravação de estúdio intitulado “Four”. Na música percebe-se a “descrição da síndrome de Estocolmo do ponto de vista da vítima”. Homeland segue Carrie Mathison, uma oficial de operações da CIA que, depois de conduzir uma operação não autorizada no Iraque, é colocada em liberdade condicional e transferida para o Centro Contraterrorista da CIA em Langley, Virgínia. Enquanto conduzia a sua operação no Iraque, Carrie foi avisada que um prisioneiro de guerra americano passou para o lado da Al-Qaeda. O seu trabalho é complicado quando o seu chefe, David Estes, a chama junto com seus colegas para uma reunião de emergência. Nela, Carrie descobre que Nicholas Brody, um sargento dos Fuzileiros Navais que desapareceu durante o serviço em 2003, foi resgatado durante uma incursão do Delta Force num complexo pertencente a Abu Nazir. 

Carrie passa a acreditar que Brody é o prisioneiro de guerra que sua fonte tinha falado. Entretanto, o governo federal e seus superiores consideraram Nicholas Brody como um herói. Percebendo que seria quase impossível convencer Estes a colocar Brody sob vigilância, Carrie pede ajuda da única pessoa que ela pode confiar, Saul Berenson. Os dois começam a trabalhar juntos para investigar Brody e impedir um novo ataque em solo norte-americano.De acordo com o verbete do dicionário de psicologia da American Psychological Association, esse conjunto de sintomas é caracterizado por uma resposta tanto mental quanto emocional em que um prisioneiro – um refém, por exemplo – “apresenta lealdade, e até mesmo afeto, pelo seu próprio captor”. A partir disso, pode existir uma visão distorcida daqueles que oferecem ajuda, sendo estes tomados como inimigos, já que a percepção da realidade está confusa. Nestes casos, sendo o captor aquele que detém o poder de “vida ou morte” do prisioneiro, este acaba por desenvolver uma dependência do primeiro, como forma de sobrevivência. Mas se, inicialmente, existia o caráter de defesa, com a progressão da crise ele torna-se uma reação de cópia e de costume. Ou seja, numa relação interindividual que já coloca um em papel social de submissão ao outro, o detentor do poder opta por manter a vida do indivíduo, criando, assim, a percepção de gratidão, fidelidade e até mesmo de carinho pelo captor. 

É um processo social de comunicação que se dá no nível psíquico (mental) e físico (cativeiro) de adaptação, mas pari passu de autodefesa, de sobrevivência humana, em que a vítima “seduz” o agressor para eliminar ou reduzir ameaças externas resultantes da ação que a faz vítima por determinada duração de tempo e produção de confinamento espacial. A consciência está ligada à ação. Esse pressuposto é fundamental na interpretação de Henri Bérgson, pois que permite que se propague a consciência pela cadeia dos seres vivos. - “Então, a rigor, tudo o que é vivo poderia ser consciente: em princípio, a consciência é coextensiva à vida”. A vida, portanto, implica movimento. Do fato de que o movimento autônomo dos seres vivos implica certa sobrevivência do passado. No presente e a antecipação do futuro, poder-se-ia dizer que o movimento implica memória. E memória implica relação com a questão da consciência. A consciência aparece não como uma instância metafísica, mas como o que se da a partir do movimento animado como sua condição e ao mesmo tempo de recurso produzido. Enfim, é importante compreender analiticamente a síndrome de Estocolmo nos dias de hoje porque apresenta relevância cotidiana para milhares de pessoas que vivam relações afetivas em que são feitas vítimas por opressores: a) no âmbito do Estado corporativo, fascista, nazista, stalinista, putinista etc. b) na empresa privada em que podem ser chefes, ou trabalhadores corporativos que, principalmente em sociedades patriarcais, praticam atos abusivos e/ou terrorismo psicológicos, diante de greves legais no setor público, ou, c) violência física contra pessoas que estão em uma relação de dependência em relação àqueles. A vítima só consegue a libertação psíquica com ajuda da psicologia e da prática associativa da terapia.

Questões sobre controle mental são levantadas em debates éticos relacionados ao assunto do livre-arbítrio. Enquanto o controle mental continua sendo um assunto controverso, a principal possibilidade de suas influências sobre um indivíduo por métodos como publicidade, manipulação da mídia, propaganda, dinâmicas de grupo e pressão pública são bem pesquisados pela psicologia social são indisputados. Manipulação eletromagnética de neurônios, desde que foi descoberto que células neurais podem ser queimadas sob o estabelecimento de uma voltagem potencial ao redor da membrana da célula, por volta da década de 1930, foi sugerida como uma tecnologia empregada como hipnose em vítimas insuspeitas por agentes do governo norte-americano. Esse tipo de hipnose era empregado durante o sono da pessoa, quando ela desconhece totalmente o que está havendo. O fato de a vítima estar inconsciente disto e, portanto, incapaz de impedir o que está sendo feito faz, deste, o único método onde a hipnose é considerada controle mental propriamente dito. A crença de que alguém esteja sendo manipulado ou controlado por forças externas também é reconhecida como um dos principais sintomas do complexo de paranoia, entre outras psicoses. Geralmente, essas sensações são de invasão ou controle total por entidades diversas como satélites governamentais em órbita, agentes do governo, aparelhos de televisão, animais, alienígenas, ou anjos e demônios. Os que sofrem desse tipo de complexo podem chegar a extremos mesmo com uma total falta de evidências sobre o que poderia estar controlando-as. Terapia psiquiátrica com medicamentos antipsicóticos muitas vezes pode dar fim à paranoia ou pelo menos minimiza-la. 

Em alguns casos, no entanto, especialmente em casos de internação, a pessoa pode ver o tratamento como outra forma de controle mental. A crença de uma pessoa de estar sob controle mental é um indicador da psicose apenas quando isto se torna uma fixação obsessiva. Em 2016, pesquisadores relataram que eles acreditam ser o primeiro esforço bem-sucedido para mexer os dedos individualmente e independentemente um do outro usando um braço artificialmente controlado para controlar o movimento. O conceito surgiu após um assalto a banco ocorrido em 1973 em Estocolmo, na Suécia. Quatro vítimas, sendo três mulheres, tornaram-se reféns de assaltantes durante seis dias e, como defesas contra a ameaça de violência que pudesse resultar de atos de confrontação aos sequestradores, passaram a se solidarizar com eles. A tal ponto que em tais circunstâncias haverem-se recusado a testemunhar no julgamento subsequentemente realizado, e ainda, terem levantado recursos financeiros para a sua defesa. Uma das vítimas teria ficado “noiva” de um dos sequestradores quando cumpria pena, segundo relatos. Não são todas as vítimas que desenvolvem traumas após o fim da situação. E neste sentido, síndrome de Oslo comparativamente, é um estado psicológico que se desenvolve em pessoas que enfrentam uma situação de grande perigo ou ameaça. Consiste essencialmente num autoengano sobre as verdadeiras intenções da ameaça. Pode passar pela “desculpabilização” do agressor, sendo uma forma de síndrome de Estocolmo ou, inversamente, de auto-culpabilização pela situação. Neste caso a vítima tende a considerar que, de alguma forma, merece aquele determinado castigo.                 

Talvez o caso mais famoso e mais característico historicamente do quadro sintomatológico da doença é o que tem sido reconhecido através de Patty Hearst, que desenvolveu a síndrome em 1974, após ser sequestrado durante um assalto a banco realizado pela organização político-militar “Exército de Libertação Simbionesa”. Depois de libertada do cativeiro, Patty Hearst juntou-se aos seus raptores, indo viver com eles e sendo cúmplice em assalto a bancos. A síndrome pode se desenvolver: a) em vítimas de sequestro, b) em cenários de guerra, c) sobreviventes de campos de concentração, d) pessoas que são submetidas à prisão domiciliar por familiares, e) também em vítimas de abusos pessoais externos (ruas etc.), f) finalmente, como pessoas submetidas à violência doméstica e familiar em que a vítima é agredida pelo cônjuge, continua a amá-lo e defendê-lo como se as agressões fossem normais.
            A síndrome de Estocolmo pode muito bem ser identificada na literatura infantil. Ocorre no clássico conto francês, escrito por Marie le Prince de Beaumont, “A Bela e a Fera”, que narra a história de uma garota bonita e inteligente que é vitima de “cárcere privado” por uma Fera, e por fim desenvolve um relacionamento afetivo e se casa com ela. Na série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo” escrita pelo norte-americano George R. R. Martin, assim como na sua adaptação para a televisão, “Game of Thrones”, Theon Greyjoy desenvolve um amor por seu raptor e torturador, Ramsay Snow, que o transformou em seu “brinquedo” após castrá-lo e amputá-lo. Na literatura policial, podemos citar o exemplo do livro “Stolen”, de Lucy Christopher. Nele o personagem, Gemma, é sequestrada por Tyler, o qual a leva para o deserto australiano. A garota tenta escapar em vão. A administração do tempo no encadeamento da relação com o opressor Gemma sente afeto por Tyler, e realmente pode amá-lo.
     Há correlação da síndrome com dois personagens centrais de “Jogos Mortais”. A jovem ex-drogada Amanda (Shawnee Smith) após ter conseguido concluir uma das provas do cientista e escritor Jigsaw (John Kramer), conquistou a admiração dele por lutar por sua vida e passou a trabalhar para ele, “dando continuidade à sua série de matanças”. No filme “Paranoia”, o personagem Ronnie (Aaron Yoo) fala para Ashley (Sarah Roemer) sobre a síndrome de Estocolmo, após Ashley ter conversado com o assassino da vizinhança, e tê-la convencido de que não era um assassino, achando que Ashley estava apaixonada pelo assassino. No filme espanhol “Atame!”, de Pedro Almodóvar, a protagonista Marina se apaixona pelo raptor Ricky e volta a procurá-lo depois de ser libertada para casar-se com ele. A síndrome também está presente no filme “The World Is Not Enough”, da franquia James Bond, a personagem Elektra King (Sophie Marceau), sequestrada por um terrorista internacional de planos maquiavélicos.
Na série de TV “Homeland”, a personagem de Damian Lewis, Nicholas Brody, durante os 8 anos em que ficou preso, desenvolve uma relação afetiva com seu captor, Abu Nazir, devido a pequenos gestos por parte deste, em meio a torturas físicas e psicológicas. “Homeland” segue Carrie Mathison, uma oficial de operações da CIA que, depois de conduzir uma operação não autorizada no Iraque, é colocada em liberdade condicional e transferida para o Centro Contraterrorista da CIA em Langley, Virgínia. Enquanto conduzia a sua operação no Iraque, Carrie foi avisada por uma fonte que um prisioneiro de guerra norte-americano passou para o lado da Al-Qaeda. O seu trabalho é complicado quando o seu chefe, David Estes, a chama junto com seus colegas para uma reunião de emergência. Nela, Carrie descobre que Nicholas Brody, um sargento dos Fuzileiros Navais que desapareceu durante o serviço em 2003, foi resgatado durante uma incursão da Delta Force num complexo pertencente a Abu Nazir. Carrie passa a acreditar que Brody é o prisioneiro de guerra que sua fonte tinha falado. Entretanto, o governo federal e seus superiores consideraram Nicholas Brody como um herói.
Na série de TV norte-americana, “Criminal Minds” a síndrome é inúmeras vezes referidas numa arquetipologia de sequestros, como no episódio “The Company” (Ep. 20 Temporada 7), onde a prima do policial Derek Morgan é submetida à síndrome, devido a ter passado 8 anos submissa ao seu agressor. Na música, a banda de rock Muse tem uma canção intitulada “Stockholm Syndrome”. Entre letras opacas, é perceptível “a influência real da síndrome na discussão lírica proposta pela música e mesmo pela interpretação da mesma”. A banda de punk rock Blink-182 também tem uma música chamada “Stockholm Syndrome”. Além destas, a banda de rock The Who possui uma música chamada “Black Widow`s Eyes”, que tem a síndrome como tema central. A banda inglês-irlandesa, One Direction, tem uma música chamada “Stockholm Syndrome”, que faz parte de seu álbum de estúdio intitulado “Four”. Na música percebe-se a “descrição da síndrome de Estocolmo do ponto de vista da vítima”.
Homeland segue Carrie Mathison, uma oficial de operações da CIA que, depois de conduzir uma operação não autorizada no Iraque, é colocada em liberdade condicional e transferida para o Centro Contraterrorista da CIA em Langley, Virgínia. Enquanto conduzia a sua operação no Iraque, Carrie foi avisada por uma fonte que um prisioneiro de guerra americano passou para o lado da Al-Qaeda. O seu trabalho é complicado quando o seu chefe, David Estes, a chama junto com seus colegas para uma reunião de emergência. Nela, Carrie descobre que Nicholas Brody, um sargento dos Fuzileiros Navais que desapareceu durante o serviço em 2003, foi resgatado durante uma incursão do Delta Force num complexo pertencente a Abu Nazir. Carrie passa a acreditar que Brody é o prisioneiro de guerra que sua fonte tinha falado. Entretanto, o governo federal e seus superiores consideraram Nicholas Brody como um herói. Percebendo que seria quase impossível convencer Estes a colocar Brody sob vigilância, Carrie pede ajuda da única pessoa que ela pode confiar, Saul Berenson. Os dois começam a trabalhar juntos para investigar Brody e impedir um novo ataque em solo norte-americano.
De acordo com o verbete do dicionário de psicologia da American Psychological Association, esse conjunto de sintomas é caracterizado por uma resposta tanto mental quanto emocional em que um prisioneiro – um refém, por exemplo – “apresenta lealdade, e até mesmo afeto, pelo seu próprio captor”. A partir disso, pode existir uma visão distorcida daqueles que oferecem ajuda, sendo estes tomados como inimigos, já que a percepção da realidade está confusa. Nestes casos, sendo o captor aquele que detém o poder de “vida ou morte” do prisioneiro, este acaba por desenvolver uma dependência do primeiro, como forma de sobrevivência. Mas se, inicialmente, existia o caráter de defesa, com a progressão da crise ele torna-se uma reação de cópia e de costume. Ou seja, numa relação interindividual que já coloca um em papel social de submissão ao outro, o detentor do poder opta por manter a vida do indivíduo, criando, assim, a percepção de gratidão, fidelidade e até mesmo de carinho pelo captor. É um processo social de comunicação que se dá no nível psíquico (mental) e físico (cativeiro) de adaptação, mas pari passu de autodefesa, de sobrevivência humana, em que a vítima “seduz” o agressor para eliminar ou reduzir ameaças externas resultantes da ação que a faz vítima por determinada duração de tempo e produção de confinamento espacial.
A consciência está ligada à ação. Esse pressuposto é fundamental na interpretação de Henri Bérgson, pois que permite que se propague a consciência pela cadeia dos seres vivos. - “Então, a rigor, tudo o que é vivo poderia ser consciente: em princípio, a consciência é coextensiva à vida”. A vida, portanto implica movimento. Do fato de que o movimento autônomo dos seres vivos implica certa sobrevivência do passado. No presente e a antecipação do futuro, poder-se-ia dizer que o movimento implica memória. E memória implica consciência. A consciência aparece não como uma instância metafísica, mas como o que se da a partir do movimento animado como sua condição e ao mesmo tempo de recurso produzido. Enfim, é importante compreender analiticamente a síndrome de Estocolmo nos dias de hoje porque apresenta relevância cotidiana para milhares de pessoas que vivam relações afetivas em que são feitas vítimas por opressores: a) no âmbito do Estado corporativo, fascista, nazista, stalinista, putinista etc. b) na empresa privada em que podem ser chefes, ou trabalhadores corporativos que, principalmente em sociedades patriarcais, praticam atos abusivos e/ou terrorismo psicológicos, diante de greves legais no setor público, ou, c) violência física contra pessoas que estão em uma relação de dependência em relação àqueles. A vítima só consegue a libertação psíquica de seu algoz com ajuda da psicologia e da prática associativa da terapia. 
Bibliografia geral consultada. 

CHAVES, Ernani, Mito e História: Um Estudo da Recepção de Nietzsche em Walter Benjamin. Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1983; FREUD, Sigmund, “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância”. In: Obras Psicológicas Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1986; Idem, “A Dinâmica da Transferência”. In: Obras Psicológicas Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1986; CESAROTTO, Oscar, No Olho do Outro. São Paulo: Editoras Iluminuras, 1996; BAQUERO, Marcelo, A Vulnerabilidade dos Partidos Políticos e a Crise da Democracia na América Latina. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000; CLASTRES, Pierre, Arqueologia da Violência. Pesquisas de Antropologia Política. São Paulo: Editora Cosac & Naify, 2004; ERWING, Charles Patrick &; McCANN, Joseph, Minds on Trial: Great Cases in Law and Psychology. New York: Editor Oxford University Press, 2006; AGAMBEN, Georges, O que Resta de Auschwitz. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008; SILVA, Roberto Romano da, O Nome do Ódio. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009; ABEL, Marcos Chedid, “Verdade e Fantasia em Freud”. In: Ágora (Rio J.) 14 (1) – jun. 2011; DIDI-HUBERMAN, Georges, Peuples Exposés, Peuples Figurants: L`Oeil de l`Histoire 4. Paris: Les Éditions Minuit, 2012; PINTO, Pedro Arnoldo Henriques Serra, Eu, o Outro e Nossas Circunstâncias: O Legado de Stanislavski para uma Formação Teatral Eticamente Comprometida. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2013; LOURENÇO, Lara Cristina D`Alia; PADOVANI, Ricardo da Costa, “Fantasias Freudianas: Aspectos Centrais e Possível Aproximação com o Conceito de Esquemas de Aaron Beck”. In: Psico – USF. Bragança Paulista, vol. 18, nº 2, pp. 321-328, maio/agosto 2013; SCHMITT, Lara Stresser, Sequestro de Meninas e Síndrome de Estocolmo: Cativeiro, Trauma e Tradução. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2013; ALVES, Felipe, “Um Governo com Síndrome de Estocolmo?”. Disponível em: http://economico.sapo.pt/noticias/09/02/2015; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

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