quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Crise Imigratória, Geopolítica & Emergência Em Alto Mar.

Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
 
Un navegador que teme perder a margem de vista jamais conquistará uma ilha. Cristóbal Colón (1451-1506) 
                        
           

         Seu nome em italiano é Cristoforo Colombo, em latim Christophorus Columbus e em espanhol, Cristóbal Colón. Este antropónimo inspirou o nome de, pelo menos, um país, Colômbia e duas regiões da América do Norte: a Colúmbia Britânica no Canadá e o Distrito de Colúmbia nos Estados Unidos. Entretanto o Papa Alexandre VI escrevendo em latim sempre chamou ao navegador pelo nome de Christophorum Colon com significado de Membro e nunca pelo latim Columbus com significado de Pombo. Colombo é creditado como o primeiro explorador europeu a estabelecer e documentar rotas comerciais para as Américas, apesar de ter sido precedido cinco séculos por uma expedição viquingue liderada por Leif Erikson no século XI. As viagens de Cristóvão Colombo abriram caminho para um período de contato, expansão, exploração, conquista e colonização do continente americano pelos Europeus pelos próximos séculos. Essas viagens e expedições trouxeram várias mudanças e desenvolvimentos na história moderna do Mundo Ocidental. Entre várias outras coisas, impulsionou, por exemplo, o comércio atlântico de escravos. Colombo é acusado por diversos historiadores de iniciar e incitar o genocídio e repressão cultural dos povos nativos na América.
           O próprio Colombo viu suas conquistas sob a luz de expandir a religião cristã. Ele foi também acusado, até por contemporâneos, de comportamento tirânico, corrupção e vários crimes contra os nativos indígenas, como espancamentos, torturas, saques e estupros. Há denúncias sobre como a chegada de Colombo ao Novo Mundo esteve ligada à perseguição, agressão, estupro e morte de nativas, consequência da subvalorização e desconhecimento da humanidade dos povos nativos. Essas reavaliações de seus feitos fizeram com que a visão dos acadêmicos e historiadores sobre Colombo ficasse um tanto quanto negativa com o passar do tempo. Na biografia Historia del almirante Don Cristóbal Colón escrita pelo filho, este obscureceu a pátria e origem de Colombo, afirmando que o pai não queria que fossem conhecidas tais informações, enumerando várias cidades italianas, em especial ligures, que disputavam tal glória.

No livro Pedatura Lusitana, um nobiliário de famílias de Portugal, Cristóvão Colombo é apresentado como um homem natural de Gênova, junto aos seus dois irmãos, Bartolomeu Colombo e Diogo Colombo. Também é possível observar que no documento é relatado o seu casamento com uma mulher portuguesa chamada D. Filipa Muniz de Melo. Em Espanha Colombo sempre foi considerado como estrangeiro, lamentando-se inclusivamente de como essa situação o prejudicava em alguns dos documentos que escreveu. Esteve constantemente em contacto com italianos, e neles depositava a sua confiança. Mas “as regras do tempo mostram-nos que um plebeu nunca se casava com uma nobre, pelo que a origem de Colombo é assaz duvidosa”. Apesar do esforço desenvolvido na investigação da vida do navegador, ainda restam algumas incertezas, ou fantasias nacionalistas ou ideológicas. Um dos principais problemas apresentados é o da pátria do navegador, e embora este assunto não seja de interesse primário, a importância que lhe tem sido dada e a sua constante atualidade obrigam a que se lhe faça menção.

Sempre existiu uma controvérsia sobre o local de origem do navegador já que um documento da corte de Castela de 1487 chama-lhe “português”. Entre todas as teorias contemporâneas, a genovesa teve mais apoio até ao século XX quando tentou-se fazê-lo natural da Córsega. No final desse século, Garcia de la Riega, de Pontevedra, na Galiza, publicou uma série de documentos que apresentavam nomes de pessoas da região e de origem judia da primeira metade do século XV com os mesmos nomes da família de Colombo - a despeito destes apenas serem conhecidos através da documentação genovesa - que supostamente teriam imigrado para Genova após o nascimento de Colombo. Durante muitos anos esta teoria obteve popularidade, já que satisfazia o nacionalismo espanhol, o judeu e o galego, até que em 1928 foi desclassificada como fonte histórica pela Academia de História espanhola, que comprovou os documentos como sendo autênticos, mas manipulados para apresentar aqueles nomes.

Para os Estados defensores dos direitos civis, um dos maiores erros da Europa na crise migratória do Mediterrâneo ocorreu com o fim do programa italiano de patrulha e salvamento chamado “mare Nostrum”. Sob a liderança da Marinha, o programa salvou milhares de migrantes no mar. Mas seu fim, em grande parte por razões econômicas e em parte por razões ideológicas, teve efeitos políticos e sociais que vão muito além da redução dos esforços humanitários. “Mare Nostrum” era o nome dado pelos antigos romanos para o mar Mediterrâneo. Após a unificação da Itália, em 1861, o termo foi revivido por nacionalistas, que se acreditavam como sucedâneo do Império Romano os territórios que pertenceram a Roma em sua fase imperialista por todo o Mediterrâneo. As águas do Mediterrâneo banham as três penínsulas do sul da Europa, a Ibérica, mas apenas a Sul e Sudeste de Espanha, a Itálicae a Balcânica. Suas águas representam uma comunicação com as do oceano Atlântico, através do estreito de Gibraltar e com o mar Vermelho, através do canal de Suez. As águas do mar Negro também desaguam no Mediterrâneo pelos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos. As águas do Mediterrâneo são quentes devido ao calor vindo do deserto do Saara, fazendo com que o clima de comunicação das zonas próximas seja mais temperado  representando o clima mediterrânico.

             O termo latino “mare Nostrum” foi usado originalmente pelos antigos romanos para se referir ao mar Tirreno, logo após a conquista da Sicília, Sardenha e Córsega, durante  Guerras Púnicas, ocorridas contra Cartago. Em 30 a. C., a dominação romana já se estendia da Hispânia ao Egito, e a expressão “mare Nostrum” passou a ser utilizado no contexto de todo o mar Mediterrâneo. A ascensão do nacionalismo italiano durante a chamada “Partilha da África” da década de 1880 gerou o desejo geral da nação do estabelecimento de um império colonial italiano. A expressão teria sido utilizada pela primeira vez pelo poeta Gabriele d`Annunzio, símbolo do decadentismo e herói de guerra. Além de sua carreira literária, teve também uma excêntrica carreira política. A África é o terceiro continente mais extenso, somente atrás da Ásia e da América do Norte, com cerca de 30 milhões de km² cobrindo 20,3 % da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente mais populoso, apenas atrás da Ásia com aproximadamente 1 bilhão de habitantes (2005), representando cerca de 1/7 da população mundial, contando com 54 países independentes no processo civilizatório.


         Veneza/Gênova, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, pela ordem, foram as grandes potências das sucessivas épocas durante as quais suas classes  dominantes desempenharam, ao mesmo tempo, o papel de líderes dos processos de formação do Estado e de acumulação do capital. Temos assim a tese segundo a qual existiram quatro ciclos sistêmicos de acumulação de capital durante a evolução do capitalismo como sistema mundial: um ciclo genovês, do século XV ao início do século XVII. Por outro lado, no mesmo período, a Espanha pretendia dominar todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois a circulação de mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os cofres do tesouro espanhol.Não obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua autonomia em relação aos espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os holandeses continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma tentativa de sufocar economicamente a Holanda e impedir sua independência do ciclo holandês, do fim do século XVI até decorrida a maior parte do século XVIII; correspondente ao ciclo britânico, da segunda metade do século XVIIII até o início do século XX; um ciclo norte-americano, iniciado no fim do século XIX e que prossegue na atual fase de expansão financeira. Portanto, o regime de exploração mercantil genovês durou 160 anos, o holandês 140 anos, o britânico 160 anos e o norte-americano 100 anos. 
        O Oriente, sociologicamente falando, é uma entidade autônoma dotada de múltiplas identidades com suas respectivas localizações territoriais. O que seria então esse Orientalismo cuja definição permite afirmar que o Oriente é uma invenção do Ocidente? Segundo Said (1990) esse conceito tem diversos significados, mas que de modo geral reflete a forma específica pela qual o Ocidente europeu reproporiam ao nível ideológico e cultural a designação do que é o Oriente. Assim, o Orientalismo não necessariamente estabelece uma relação dialética e real de identificação real com o Oriente e sim, inversamente é a ideia que o Ocidente faz dele, segundo uma visão eurocêntrica, de determinados aspectos das culturas orientais, por parte de escritores e artistas plásticos ocidentais, que acabaram por convertê-los em estereótipos. Popularizado como um campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a partir do colonialismo moderno do século XIX, o orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo de civilizações que incluem o Extremo Oriente, a Índia, a Ásia Central, o Médio Oriente, vulgarizado ao nível ideológico totalizante pela designação 'Mundo Árabe e mesmo a África, em alguns casos. Nesse sentido o Oriente ajudou a definir a Europa ou o Ocidente de forma transcendente com sua imagem, ideia, personalidade e experiência contrastantes. O Oriente na visão do Orientalismo é o “lugar do exótico”. Precisamos tornar do ponto de vista teórico, prático e afetivo o exótico em familiar. É o que inferimos nestas notas sobre imigração no sentido antropocêntrico.
 
            
         Resgate de imigrantes durante o naufrágio de um veleiro de madeira perto da Grécia. Três pessoas morreram durante o desastre. Enfim, para tratarmos do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo existencialismo, incluindo Kierkegaard e Heidegger. Sofreu influências, também, em certo grau associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção incluíram a “desconstrução” e as diversas análises que começam com o prefixo “pós”, como o “pós-estruturalismo”, “pós-marxismo” e “pós-feminismo”, que representam sua relação com seu predecessor, o estruturalismo, um movimento intelectual desenvolvido na Europa no início até metade do século XX, que defendia que a cultura humana pode ser entendida através da estrutura - modelada pela língua - que diferencia a realidade concreta da abstração de ideias - “uma terceira ordem” que opera a mediação complexa entre as duas.
Devido ao regime colonialista estabelecido no continente, foram destruídas e modificadas as estruturas sociais, econômicas, políticas e religiosas da maioria do território da África negra. As colônias que proclamaram sua Independência, processo emancipatório que se iniciou após a 2ª guerra mundial e concluiu-se principalmente de 1960 até 1975, estiveram sob a ameaça da gravidade de problemas de integração nacional, que resultaram das fronteiras arbitrárias como legado do sistema colonialista, além da pobreza, sendo que o rápido crescimento da população africana é mais elevado do que o número de alimentos produzidos. Como dependem econômica e politicamente das antigas metrópoles, a ineficiência da administração, as tribos e as ideologias conflitantes entre si, todos esses fatores agravantes fizeram com que a população das cidades crescesse. Estas são as principais barreiras que impedem que os novos países desenvolvam-se. A cooperação coletiva para a solução desses problemas deu origem a uma diversidade de organizações supranacionais que se baseiam na ideia do pan-africanismo, ou a totalidade dos povos africanos unidos no entorno dos interesses comuns; a de maior importância é a Organização da Unidade Africana (OUA).
A modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo, ainda que em diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, em todo o mundo. Além disso, enquanto totalidade histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o colonialismo. Nela as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente “alongadas”, para lembramos de Anthony Giddens.
A história disciplinar das teorias sobre as migrações é, em vários aspectos contraditória. O tema das migrações foi largamente ignorado pelos autores clássicos das principais ciências, no período histórico em que estas se constituíram e consolidaram: o imperialismo. Apesar da importância que os fluxos migratórios então assumiram - no contexto europeu do final do século XIX e início do século XX -, quer sob a forma de intensos movimentos internos, dirigidos dos campos para as cidades, quer de migrações transoceânicas, objeto de reflexão que permitiram libertar parte do êxodo rural e povoar os novos continentes, o tema não surge senão de forma marginal na maioria dos autores. Ao longo do século XX, as ligações disciplinares das teorias sobre migrações não são também evidentes. Apesar de um interesse crescente pelo fenômeno, referências mais ou menos desenvolvidas dispersaram-se por várias ciências com critérios de inserção nem sempre claros. Na sociologia  o tema das migrações não surge, na maioria das vezes, autonomizado, o que não quer dizer independência, mas deste ponto de vista, ao contrário de temas “clássicos” como o trabalho, a educação ou as questões territoriais, acontecendo o mesmo em outras ciências sociais.
 
        Imigrantes rohingya  resgatado em abrigo na cidade de Lhoksukon localizada Indonésia. O mar não se atravessa somente nas chamadas “embarcações da sorte”, mas também nos barcos de passageiros e de carga, onde, frequentemente, viajam muitos imigrantes escondidos nos porões ou em contentores. Nestas condições foram registados 150 mortos por sufocação ou afogamento. Para quem parte do Sul de África, o Saara é uma passagem perigosa e obrigatória para chegar ao mar. O grande deserto separa a África Ocidental e o Nordeste da África do Mediterrâneo. Os imigrantes atravessam a zona, carregados sobre o transporte de caminhões que passam continuamente nas estradas entre Sudão, Chade, Níger e Mali, de um lado, e Líbia e Argélia, do outro. O risco de desidratação e esmagamento é permanente. Todas as viagens contam com pelo menos uma morte. Entre os mortos estão ainda às vítimas das deportações coletivas praticadas pelos governos de Trípoli, Argel e Rabat. Há anos, que as autoridades da Líbia, Argélia e Marrocos abandonam grupos de centenas de pessoas nas zonas fronteiriças em pleno deserto, fazem detenções arbitrárias e disparam sobre os imigrantes clandestinos. – “O meu marido e o meu filho de nove anos morreram no mar. Ele trabalhava no porto. Um dia, um homem veio propor-lhe ser capitão e conduzir uma embarcação para a Espanha. Disseram que os espanhóis precisavam de braços para colher frutas. Eu tentei dissuadi-lo, mas ele partiu levando o nosso filho único, acreditando que a Cruz Vermelha cuidaria dele, que ele poderia estudar”, narra a mauritana Salimata, vendedora de peixe seco.
          Segundo a compilação de dados de jornais internacionais “Fortress Europe” pelo menos 11.976 imigrantes morreram desde 1988 até hoje na fronteira europeia, dos quais 4.232 desapareceram no mar. No Mediterrâneo morreram pelo menos 8.284 pessoas: 4.089 mortos entre Marrocos, Argélia, Mauritânia e Senegal em direção à Espanha e às ilhas das Canárias, atravessando o estreito de Gibraltar ou o Oceano Atlântico, dos quais 1.986 desaparecidos; 2487 mortos no canal da Sicília, entre a Líbia, Tunísia, Malta e Sicília, dos quais 1529 desaparecidos e 70 mortos entre Argélia e a ilha da Sardenha; 895 mortos no mar Egeu perto das ilhas entre a Turquia e a Grécia, dos quais 461 desaparecidos; 603 mortos no mar Adriático entre Albânia, anememi e direitos de autor sobre bananas inversas que se limita com Montenegro e Itália, dos quais 220 desaparecidos; 597 mortos no Oceano Índico entre Anjouan e ilha francesa de Mayotte.
Só a Itália mantém 11 complexos de detenção, administrados por empresas privadas, como ocorre nos complexos penitenciários nos Estados Unidos da América, onde imigrantes ilegais podem ficar detidos por meses antes de serem deportados. Assemelhando-se a prisões, os Centros “di Identificazione ed Espulsione” têm cercas metálicas, alojamentos térreos individuais trancados à noite e os pátios são fortemente iluminados. Há câmaras de segurança e de vigilância e os guardas usam uniformes de intervenção. Os detidos têm uma “movimentação” e são obrigados a usar chinelos ou sapatos sem atacadores, para que não possam ferir-se a si mesmo ou aos outros. Nestes complexos são mantidas pessoas que “não têm autorizações de trabalho” ou residência ou cujos documentos já passaram da validade. Algumas delas já vivem no país há anos. As autoridades italianas asseguram que “os centros são essenciais para a boa regulamentação da imigração ilegal e que respeitam as diretrizes da União Europeia”,  representando uma união economia política de 28 Estados-membros independentes situados principalmente na Europa. A UE tem as suas origens na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e na Comunidade Econômica Europeia (CEE), formadas por seis países em 1957. Nos anos que se seguiram, o território da UE foi aumentando de dimensão através da adesão de novos Estados-membros, ao mesmo tempo que aumentava a sua esfera de influência através da inclusão de novas competências políticas. O Tratado de Maastricht instituiu a União Europeia atual em 1993. A última revisão significativa aos princípios constitucionais da UE, o Tratado de Lisboa, entrou em vigor em 2009. Bruxelas é a capital de facto da União Europeia
Escondidos nos barcos de carga que viajavam diretamente a portos europeus 141 pessoas morreram. No Saara, 1.587 pessoas morreram por desidratação na tentativa de atravessar o deserto, para chegar ao Mediterrâneo, do Sudão à Líbia ou da África ocidental a Argélia, passando pelo Mali e pela Nigéria. Na Líbia pelo menos 560 pessoas foram mortas em setembro de 2000 por um grupo de líbios durante assaltos contra estrangeiros numa cidade ao noroeste de Zawiyah. Escondidos nos caminhões morreram 283 migrantes por asfixia, ou esmagadas pelo peso da carga ou por causa de acidentes. Nos campos minados da Grécia: 88 mortos na fronteira nordeste da Grécia com a Turquia. Pessoas originárias de vários países da África subsaariana relatam viagens angustiantes por vários países até chegar à Líbia, sofrendo com a violência das milícias, a angústia de transições com traficantes de pessoas e o pesadelo da travessia. O caso da Líbia é fonte de tensão especialmente grave entre Qatar e Egito. Doha criticou abertamente as incursões aéreas egípcias contra o EI neste país, enquanto o Cairo o acusa de apoiar o terrorismo. Outros países do Golfo apoiaram o Egito.
Estatisticamente 182 pessoas morreram afogadas nos rios limítrofes entre Polônia e Alemanha, Croácia e Bósnia e Herzegovina; Turquia e Grécia; Eslováquia e Áustria e Eslovênia e Itália; 112 morreram congelados, outros sem água nem comida atravessando a pé as montanhas das fronteiras de Grécia, Turquia, Itália e Eslováquia durante o Inverno; 23 pessoas morreram em Calais ou caindo nas vias do túnel do Canal da Mancha ou fulminadas quando saltavam a rede elétrica da terminal francesa; foram mortos por disparos dos militares da Guarda Civil espanhola e da polícia marroquina ao longo da fronteira entre Marrocos e os territórios de Ceuta e Melilha; e 187 foram mortos por militares da Turquia, Líbia, Egito, Gâmbia, Marrocos, Grécia, Antiga Jugoslávia, Espanha, Alemanha e França, e 41 pessoas morreram congeladas viajando escondidas na brecha do trem de pouso de aviões. Falamos em imigração quando o movimento é de entrada em um país para fixar residência, enquanto que a emigração se refere ao processo em que deixam seu território para se fixarem em outro. A política de rechaço não só elimina quase toda possibilidade de construir pontes por parte dos governos e autoridades, como vem repetindo com insistência o Papa Francisco, mas também responde a profundos anseios populares e de grupos neofascistas.

Navio de Emigrantes, de Lasar Segall.
Hoje, o “fenômeno da migração”, na falta de melhor expressão, acontece em contextos completamente diferentes, comparativamente aos da época das grandes explorações nos séculos XIV-XV. O processo de globalização, que também se inicia com as grandes navegações, “encolheu” nosso planeta do ponto de vista da habitação, encurtou grandes distâncias em termos de comunicação, transformou o tempo de trajetos que levaria semanas, meses ou anos, em horas. A facilidade de deslocamento tornou-se um grande fator para aqueles que decidem pela migração. Já as motivações para essas migrações são inúmeras, mas essencialmente ocorrem nas esferas sociais, econômicas e políticas: a) pela busca de melhoria de vida, b) pela fuga de um conflito armado entre diferentes poderes, c) pela perseguição cultural ou política de um grupo ou indivíduo. Ou mesmo a busca pela experiência de convívio com diferentes culturas é uma experiência quase sempre enriquecedora.
O número de imigrantes que chegaram ilegalmente ao território europeu diminuiu 49% em 2012 em relação ao ano anterior, tendo o total das chegadas ficado, pela primeira vez, abaixo dos 100 mil desde 2008, refere o Relatório “Annual Risk Analysis 2013” da Frontex, agência das fronteiras externas da União Europeia. Enquanto em 2011 um total de 141 mil imigrantes foram detectados a tentar entrar ilegalmente em território europeu pelas fronteiras da UE, esse número diminuiu para 72 mil em 2012. Nas oito (08) rotas categorizadas pela Frontex, a rota do Mediterrâneo Oriental (Grécia, Bulgária e Chipre), utilizada pelos imigrantes vindos por terra e mar do Afeganistão, Síria e Bangladesh, destaca-se ao ultrapassar as 37 mil entradas ilegais em 2012. Segue-se a rota do Mediterrâneo Central (Itália e Malta) que registou mais de 10 mil entradas clandestinas de imigrantes vindos da Somália, Tunísia e Eritreia. A Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, foi criada em 2004 para ajudar os Estados-Membros da UE e os países associados de Schengen a proteger as fronteiras externas do espaço de livre circulação da UE. Enquanto Agência da UE, a Frontex é financiada pelo orçamento da UE, bem como pelas contribuições dos países associados de Schengen. Até 2020, a Agência deverá empregar cerca de 1000 funcionários, dos quais quase um quarto são destacados pelos Estados-Membros e regressarão aos seus serviços nacionais após a conclusão do seu mandato na Frontex.
Uma das principais razões, destacada pela Frontex, para a descida total das entradas ilegais na UE em 2012 é a operação grega “Aspida” junto à fronteira com a Turquia. A manobra envolveu um reforço de 1800 agentes e levou a que o número de pessoas que por semana tentavam entrar de forma ilegal na Grécia baixasse de 2000 para dez. Outra causa prende-se com a quebra dos fluxos migratórios provenientes dos países árabes. Pelo menos 18 600 imigrantes ilegais morreram desde 1988 até hoje nas fronteiras europeias, dos quais mais de 8700 desapareceram no mar, segundo dados estatísticos da revista digital “Fortress Europe”. São, sobretudo, naufrágios, mas também acidentes rodoviários, mortos no deserto ou na neve nas passagens montanhosas, vítimas de explosões nos últimos campos minados da Grécia, de disparos do exército turco ou da histórica violência da polícia na Líbia. As tensões surgem à medida que milhares de imigrantes do Oriente Médio e África tentam receber asilo na União Europeia. Embora  reconheça a necessidade de imigrantes em seu território para combater o envelhecimento de sua população, as políticas de controle fronteiriço são cada vez mais intensificadas. 
Bibliografia geral consultada.
KEMP, Tom, La Revolucion Industrial en la Europa del Siglo XIX. Barcelona: Libros de Confrontacion, 1976; VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1978; HATOUM, Milton, Relato de Certo Oriente. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1989; SAID, Edward Wadie, Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; MARTINS, José de Souza, Fronteira. A Degradação do Outro nos Confins do Humano. São Paulo: Editora HUCITEC. Coedição da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1997; BRETTEL, Caroline; HOLLIFIELD, James (dir.)., Migration Theory: Talking Across Disciplines. New York: Routledge, pp.1-26, 2000; BLANC-CHALEARD, Marie-Claude, Histoire de l`Immigration. Paris: La Découverte. Col Repères, 2001; JENKINS, Keith, A História Repensada. São Paulo: Editor Contexto, 2001; BARBIERI, Aline Fabiane, “Mobilidade Populacional, Meio Ambiente e uso da Terra em Áreas de Fronteira: Uma Abordagem Multiescalar”. Disponível em: Revista Brasileira de Estudos da População. Volume 24, n° 2, jul/dez 2007; LATOUR, Bruno, Reensamblar lo Social: Una Introducción a la Teoria del Actor-Red. Manatial Ediciones, 2008; APPADURAI, Arjun, O Medo ao Pequeno Número: Ensaio sobre a Geografia da Raiva. São Paulo: Editora Iluminuras; Itaú Cultural, 2009; KAPLAN, Roberto, A Vingança da Geografia: A Construção do Mundo Geopolítico a partir da Perspectiva Geográfica. Rio de Janeiro: Editor Elsevier, 2013; LIRA, Larissa Alves de, O Mediterrâneo de Vidal de la Blache: O Primeiro Esboço do Método Geográfico (1872-1918). São Paulo: Edotira Alameda, 2013; CAMPOS,  Gustavo Barreto de, Dois Séculos de Imigração no Brasil: A Construção da Imagem e Papel Social dos Estrangeiros pela Imprensa entre 1808 e 2015. Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015; entre outros.

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