Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
“Nós não somos senão uma coleção de almas, que nos vêm do infinito do tempo”. Oliveira Vianna
A mobilização política articulada no dia 16 de agosto de
2015 não visa ampliar direitos civis ou garantir melhores políticas públicas e sociais
para todos. Se ao nível ideológico o movimento percebesse que, caso vença a
manobra do “impedimento” da Presidenta, os verdadeiros corruptos e corruptores
continuarão com o controle do poder econômico e político, não iriam aderir a
esta aparente mobilização. O verdadeiro objetivo daqueles que querem o impeachment da Presidenta da República não
é acabar com as investigações contra a corrupção no Brasil, mas colocar tudo
para debaixo do tapete da política. Em 1992, após o “impedimento” de Fernando
Collor, praticamente todos os seus aliados continuaram fazendo tudo o que faziam
antes. E, frente a este “absurdismo”, no sentido que emprega Albert Camus, é
vidente que a cruzada pela ética na política serve apenas como fachada para
manter tudo como estava. Ou seja, criar um clima contra a corrupção que seja
capaz de justificar a deposição da Presidenta, para fazer
justamente o contrário: manter a roubalheira como ela vem existindo em
sucessivos governos, sob a forma política de Tomasi di Lampedusa quando pertenceu
à nobreza italiana: “algo deve mudar para que tudo continue do jeito que está”.
Concentração da classe média fortalezense na Praça Portugal. Foto: Fernando Átila.
Tomasi di Lampedusa pertenceu à nobreza italiana. Duque
de Parma, príncipe de Lampedusa, lutou na 1ª grande guerra. Viveu a maior parte
de sua vida entre Roma e Palermo. Homem de grande cultura tinha em mente
escrever um romance sobre a decadência da nobreza da Sicília, desde os anos
1930, coisa que veio a concretizar-se somente 25 anos depois. Lampedusa faleceu
em 1957 sem conseguir publicar sua obra-prima pelo fato de que as editoras
recusaram sua publicação. Certamente, dessa miopia editorial foi vítima outro
grande escritor: Marcel Proust, com seu seminal romance, que se tornou um
patrimônio da literatura universal. Trata-se de “Em Busca do Tempo Perdido”.
Proust, assim como Lampedusa, teve inicialmente seus escritos recusados por uma
grande editora francesa. Postumamente publicado, o romance de Lampedusa se
tornou um imenso sucesso. Popularizado pelo gênio do cineasta italiano Luchino
Visconti, num filme que obteve a Palma de Ouro e a consagração do festival de
Cannes, em 1963: “O Leopardo”. Alain Delon, Burt Lancaster e a bela Claudia
Cardinale foram as estrelas desse grande sucesso que representou o romance de
Lampedusa nas telas.
Em primeiro lugar, Para Bakhtin (1981) a linguagem é
considerada como uma atividade social, principalmente, por entender que toda
enunciação se processa numa situação de interação concreta e é determinada
historicamente na comunicação efetiva/ imediata com as pessoas ou por contextos
mais amplos. Por isso, defende que a produção de sentidos, tem por centro as palavras,
que são organizadas no meio social por condições exteriores ao indivíduo. Ainda
nesta perspectiva, à luz de Benveniste, partimos da ideia que o sujeito é
construído na e pela linguagem. Mikhail Bakhtin ao descrever a dinâmica das
festas medievais na obra de Rabelais compreende que a carnavalização é a “segunda vida do povo”, e teria por
manifestação, uma visão do mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferentes,
deliberadamente não oficiais, exterior à igreja e ao Estado; construído ao lado
do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida. Nela a realidade é vista
por um ângulo diferente e refaz-se o real, concreto. A ocupação das ruas nas
manifestações esteve imbuída de símbolos e comportamentos. Inferindo na participação
social com maior ou menor consistência, mediante processos distintos de
conscientização. Configurou-se, portanto, um belo cenário de massificação,
díspares nas intencionalidades, alegórico e caricatural, culminando na produção
de diversos significados no interior de um discurso oficial.
Não existe consenso quanto à origem do nome Cuba.
Entre as diferentes versões, há duas que se destacam: a primeira diz que a
palavra deriva dos termos “taínos cubao”, que significa “onde a terra fértil
abunda”, ou, “coabana”, que se traduzirá como “lugar amplo”, e outra versão
ainda, que deriva da contração de duas palavras aruaques: “coa” (lugar, terra,
terreno) e “bana” (grande). O arquipélago cubano consiste na ilha principal de
Cuba, além da Ilha da Juventude e de várias ilhas menores. Havana é a maior cidade
e capital do país, sendo Santiago de Cuba a segunda maior cidade. Ao norte de
Cuba se encontram localizados os Estados Unidos, com sua Base Naval em
Guantánamo onde está situada na ilha principal, e a Bahamas; a oeste está o
México; ao sul estão as Ilhas Cayman e a Jamaica; enquanto que a sudeste estão
situados a Ilha de Navassa e o Haiti. Cuba é a nação-ilha mais populosa do
Caribe, com cerca de 11 milhões de habitantes.
Cuba assinou a “Convenção sobre Diversidade
Biológica”, em 12 de junho de 1992 durante a reunião do ECO-92 no Rio de
Janeiro (cf. Fiuza, 2012), e tornou-se membro da convenção em 8 de março de
1994. Posteriormente, o país produziu uma Estratégia e um “Plano de Ação
Nacional de Biodiversidade”, com uma revisão que fora recebido pela convenção
sobre 24 de janeiro de 2008. A revisão compreende um plano de ação com prazos
para cada item e uma indicação do órgão governamental responsável pela
realização da meta. No entanto, “existe quase nenhuma informação nesse
documento sobre a biodiversidade em si”. O quarto relatório nacional cubano
para a convenção, no entanto, contém uma análise detalhada dos números de
espécies de cada reino biológico registrado no território cubano. Os números
registrados para esses grupos são, portanto, suscetíveis de estarem perto dos
números reais e muitas vezes, consideravelmente, os números reais ditos
oficiais coletados pelo governo.
Após mais de cinquenta anos de governo comunista de
Fidel Castro, a pequena ilha Cuba exibe seus melhores êxitos no campo social: a) tendo
conseguido eliminar o analfabetismo, b) programar um sistema de saúde pública
universal, c) diminuir significativamente as taxas de mortalidade infantil e
reduzir o índice de desemprego. No campo político, no entanto, Cuba segue com
um sistema de partido único, o Partido Comunista Cubano, numa forma de governo
onde são realizadas dois tipos de eleições, as parciais, a cada dois anos e
meio, para eleger delegados, e as eleições gerais, a cada cinco, para eleger os
deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais. Apesar do
sucesso nas áreas de saúde, igualdade social, educação e pesquisa científica, na economia não conseguiu diversificar a agricultura e estimular
a industrialização. A economia segue dependente da exportação produtos primários
como açúcar e fumo.
Em segundo lugar, conforme Michael Oakeshott há um
grande otimismo cósmico que, derivado não da observação, mas da inferência da
perfeição do seu criador, atribui uma indiscutível perfeição do universo. Essa
idéia de “perfeição” ou “salvação” consiste na busca de uma visão compreensiva
de bem, seja ela religiosa, econômica, filosófica, moral, etc., a ser alcançada
no mundo. Porém não como uma tipologia do caráter humano, mas no sentido que
empregou historicamente Maquiavel, como uma condição mundana das circunstâncias
humanas. De modo mais simples, “perfeição” diz respeito à representação da
mudança para melhor. Pode significar tanto o caminho específico a ser
aprimorado quanto à direção geral pela qual deve a atividade humana deve ser
guiada, assim como é na política pouco importando o caminho. O agente responsável para assegurar a perfeição é o
Estado. Se utópico ou se visa a
aprimorar a sociedade em apenas em um determinado rumo, tal estilo sustenta que
somente o poder humano pode atingi-lo.
Destarte, não apenas busca, mas
supervaloriza este poder, deixando a cargo do governo uma competência quase
ilimitada para conduzir a sociedade. Consequentemente, o estilo requer uma
dupla confiança: a convicção de que o poder necessário é disponível ou pode ser
gerado e uma convicção que, mesmo que não se saiba exatamente o que constitui a
perfeição, ao menos se sabe o caminho a ser percorrido. Parece claro que o
papel do Estado, não é neutro e
assume uma visão substantiva, em vista da reprodução da esfera política da
atividade humana. Assim, torna-se o instrumento para alcançar a verdade,
concebida a partir de uma visão particular do governante, exige dos cidadãos
não apenas a obediência ou a submissão, mas principalmente entusiasmo e
engajamento para a concretização desta finalidade. - Os inimigos do regime
serão identificados não como meros dissidentes a serem inibidos, mas como
descrentes a serem convertidos. Mera obediência não é suficiente; deve ser
acompanhada pelo fervor. Na verdade, se o sujeito não é entusiasta com o
governo, não há nenhum objeto legítimo de devoção; se ele é devotado à
“perfeição”, ele deve ser devotado ao governo”. Daí a analogia do conceito
descrito na obra: “On Human Conduct”, a política de fé encara ideologicamente a sociedade
contemporânea como uma associação empreendedora (“enterprise association”).
Neste modo de associação, os agentes estão
interligados a partir de um propósito comum substantivo, reconhecido como uma
condição exequível pelos homens. Esse engajamento tem por escopo direcionar a
conduta humana a partir de ações que estejam meticulosamente relacionadas para
administrar e maximizar o propósito desejado. As eventuais regras emitidas são
meramente instrumentais e, por si só, não definem e nem identificam a
associação. Em verdade servem mais para desorganizar socialmente os interesses coletivos. Destaca algumas conclusões para a política de fé. Em primeiro
lugar, ela não é uma invenção que surgiu nos últimos séculos contra um período
de negligência ou indiferença governamental. Tampouco foi um fruto da revolução
industrial ou da democracia liberal. Deve ser compreendida num contexto
histórico de legitimação e idealização do governo como operador racional da
atividade humana.
De outra parte, observara o filósofo Carlos Nelson Coutinho,
no ensaio: “A Democracia Como Valor Universal” (1979: 33 e ss.) que a questão
do valor universal da democracia está
na base não apenas das polêmicas entre os chamados revisionistas e ortodoxos,
mas reaparece igualmente entre os principais representantes da esquerda marxista
subsequente à Revolução de Outubro de 1917. E evidentemente, a concepção que
Enrico Berlinguer sintetizou no discurso que pronunciou em Moscou, em 1977, por
ocasião do 60° aniversário da Revolução de Outubro: - “A democracia é hoje não
apenas o terreno no qual o adversário de classe é obrigado a retroceder, mas é
também o valor historicamente universal sobre o qual fundar uma original
sociedade socialista”.
Em segundo lugar, conclui: Uma prova dessa universalidade são as acesas polêmicas
que têm hoje lugar entre as forças progressistas brasileiras, envolvendo o
significado e o papel pela democracia em nosso País. Pode-se facilmente
constatar, nesse sentido, a presença de diferentes e até mesmo contraditórias
concepções de democracia entre as correntes que se propõem representar os
interesses populares e, em particular, os das massas trabalhadoras. Trata-se de
um fato normal e saudável, contando que não se perca de vista a necessidade
imperiosa de acentuar - na presente conjuntura - aquilo que une a todos os
oposicionistas, ou seja, a luta pela conquista de um regime de liberdades
político-formais que ponha definitivamente termo ao regime de exceção que,
malgrado a fase de transição que se esboça, ainda domina o nosso País.
Ipso
facto, concordamos com Carlos
Nelson Coutinho que as transformações políticas e a modernização
econômico-social do Brasil sempre foram efetuadas no quadro de uma “via
prussiana”, ou seja, através da conciliação entre frações das classes dominantes,
de medidas aplicadas “de cima para baixo”, com a conservação essencial das
relações de produção atrasadas (o latifúndio) e com a reprodução (ampliada) da
dependência ao capitalismo internacional. Essas transformações “pelo alto”
tiveram como causa e efeito principais permanentes como tentativa de marginalizar as massas populares não só
da vida social em geral. Mas, sobretudo do processo de formação das grandes
decisões políticas nacionais. Os principais exemplos são inúmeros. Quem
proclamou nossa Independência política foi um príncipe português, numa típica
manobra “pelo alto”; a classe dominante do Império foi a mesma da época
colonial.
Quem terminou capitalizando os resultados da
proclamação da República, também ela proclamada “prussiana” foram à velha
oligarquia agrária. A Revolução de 1930, apesar de tudo, não passou de uma
“rearrumação” do velho bloco de poder, que cooptou - e, desse modo, neutralizou
e subordinou – alguns setores mais radicais das camadas médias urbanas. A
burguesia industrial floresceu sob a proteção de um regime bonapartista, o Estado Novo, que assegurou pela repressão e pela
demagogia a neutralização da classe operária, ao mesmo tempo em que conservava
quase intocado o poder do latifúndio, etc. Mas essa modalidade a chamada “via
prussiana” ou de “revolução-restauração” encontrou seu ponto mais alto no contemporâneo
regime militar, que criou as condições políticas para a implantação em nosso
País de uma modalidade dependente (e conciliada com o o regime histórico de exclusão do latifúndio) de capitalismo
monopolista de Estado. Radicalizando ao extremo a velha tendência de excluir
tanto dos frutos do progresso social quanto das decisões políticas democráticas
as grandes massas da população trabalhadora nacional.
Bibliografia geral consultada:
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Nicolau, A Literatura como Missão: Tensões Sociais e
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1995; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves.
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1ª edição. Rio de Janeiro: Editor Zahar, 1994; Idem, “Estudos sobre a Gênese da
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1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Parábola, 2008; CAPONI, Gustavo, “Teleologia
Naturalizada: Los Conceptos de Función, Aptitud y Adaptación en la Teoría de la
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