“Lélia exerceu um papel fundamental na criação e ampliação do movimento negro contemporâneo”. Luiza Barros
Lélia Gonzalez nasceu “de Almeida”, em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, em 1º de fevereiro de 1935. Tinha
59 anos quando faleceu, em 10 de julho de 1994, no bairro de Santa Teresa
(foto), na cidade do Rio de Janeiro. Quando Lélia era criança, sua família
instalou-se no Rio de Janeiro, na favela do Pinto, no bairro do Leblon, ao lado
do Clube de Regatas do Flamengo, onde jogava (e depois foi técnico) seu irmão,
Jaime de Almeida (nascido em 1920), por quem nutria enorme admiração e nos
passos de quem seguiu torcendo pelo Flamengo e gostando muito de futebol. Logo depois, a família mudou-se para o
subúrbio, para uma casa em Ricardo de Albuquerque onde correm os trilhos da
Estação Ferroviária Central do Brasil. Pela localização da residência,
se percebe que Lélia de Almeida viajou muito pelas margens no trem suburbano da Central do Brasil, junto
com o “povão” (como dizia), principalmente quando estudou no Colégio Estadual
Orsina da Fonseca, ao lado do terminal ferroviário da Central do Brasil, no centro da
cidade e no Imperial Colégio Pedro II na Av. Marechal Floriano, no centro da cidade do Rio de Janeiro, também
próximo a extinta Rede Ferroviária Federal Central do Brasil, hoje, Rede
Ferroviária Federal S. A .
O
Colégio Pedro II representa uma tradicional instituição de ensino público
federal, localizada no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Faz parte da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada a
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação
(Brasil). É o terceiro mais antigo colégio em atividade no país, depois do
Ginásio Pernambucano e do Atheneu Norte-rio-grandense. A escola foi criada em
homenagem ao seu patrono, o imperador do Brasil, D. Pedro II. Fundado durante a
regência do Marquês de Olinda, Pedro de Araújo Lima, integrava um projeto civilizatório
mais amplo do Império do Brasil, do qual faziam parte a fundação do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo Público do Império, seus
contemporâneos. No plano da educação, autores entendem que o colégio pretendia
formar uma elite ao destacar a transformação do Seminário de São
Joaquim em Colégio de Pedro II baseada na ideia da Reforma da
Constituição em 1834.
de construir um modelo a ser seguido, já que
as províncias não estavam dando conta de, por si mesmas, estabelecer seu
sistema de ensino local. Outro grupo de autores, como a historiadora e docente
da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Circe Bittencourt, têm
estabelecido visões que dialogam com ambas as perspectivas. A formação
histórica e sociológica do Colégio explica bastante do plano civilizatório
Imperial: uma educação que priorizava uma boa formação, mas que abrangia uma
parte pequena da sociedade, que era suficiente ao projeto do Império, na medida
que preenchesse os quadros básicos do sistema burocrático e ideológico às
lideranças do país, com um currículo que servia a estes interesses, não estando
tão preocupada com a formação de uma massa ampla de operários minimamente
capacitados, como ocorreria em momentos posteriores no Brasil e já ocorria em
alguns lugares da Europa.
Filha
de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica indígena, Lélia Gonzalez
nasceu em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, em 1º de fevereiro de 1935.
Autora de artigos, ensaios e livros sobre a temática racial, a antropóloga e
militante do movimento negro nos anos 1970, Lélia foi também um expoente no
combate ao preconceito social e racial contra a mulher. Sua obra acadêmica e
seu trabalho como militante contribuíram para impulsionar não apenas o debate
sobre a problemática racial no Brasil, mas também os seus desdobramentos a
partir, basicamente, de dois temas correlatos: “a ideologia do branqueamento” e
seus efeitos e o da “dupla exposição da mulher negra, discriminada pelo racismo
e pelo sexismo”. Lélia fez parte do grupo de fundadores do “Movimento Negro
Unificado” - MNU, principal canal de ressurgimento e rememoração da luta pela
igualdade racial, nos anos 1970. Sua “vontade de potência” se
realiza na tríade: a) na luta contra o racismo e a discriminação racial, b)
como também uma militante da causa feminina, c) particularmente da mulher
negra. Sua importância para o movimento negro tem sido comparada à
de Ângela Davis, ícone do movimento norte-americano.
Angela Davis nasceu no estado do Alabama, considerado um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Leitora voraz quando criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país, o que a levou a estudar no Greenwich Village, em Nova Iorque, onde travou conhecimento com o ensino do comunismo e socialismo teórico de tradição marxista, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens estudantes. Na década de 1960, Angela tornou-se militante do partido e participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade norte-americana, primeiro como afiliada da SNCC de Stokely Carmichael e depois de movimentos e organizações políticas como o Black Power e os Panteras Negras. Angela lecionou durante 17 anos no Departamento de História da Consciência na prestigiada Universidade da Califórnia-Santa Cruz. Recebeu o título de professora Emérita da Universidade da Califórnia e se aposentou do trabalho acadêmico de ensino e pesquisa em 2008. Após sua aposentadoria continuou sua rotina de palestras e cursos em diversas universidades e centros culturais por todo o mundo. Em 2019 passou a integrar o National Women`s Hall of Fame dos Estados Unidos da América.
Vale
lembrar que Ângela Yvonne Davis, nascida em Birmingham, 26 de janeiro de 1944
foi professora e filósofa socialista estado-unidense que alcançou notoriedade
mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados
Unidos. Através do grupo “Panteras Negras”, por sua militância pelos direitos
das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos. E,
particularmente, por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos
julgamentos criminais da recente história norte-americana. Ângela nasceu no
estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo
conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Leitora voraz quando
criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas
de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do
país. Sendo selecionada com bolsa de estudos que a levou a estudar no Greenwich
Village, em Nova Iorque, onde travou conhecimento com o comunismo e o
socialismo teórico, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens
estudantes. Na década de 1960, Ângela tornou-se militante do partido e
participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade norte-americana,
primeiro, como filiada da SNCC de Stokely Carmichael e depois de movimentos e
organizações políticas como o Black Power e Panteras Negras, mas que não
trataremos agora.
Gus Hall foi organizador político americano que era
secretário-geral do Partido Comunista dos Estados Unidos da América (1959–2000)
e quatro vezes candidato à presidência dos Estados Unidos
(1972,1976,1980,1984). Os pais de Hall eram membros dos militantes Trabalhadores
Industriais do Mundo e, em 1927, ele foi recrutado por seu pai para
ingressar no CPUSA. De 1931 a 1933, ele estudou no Instituto VI Lenin, depois rebatizado
de Instituto Marx-Engels-Lenin) em Moscou, e depois de retornar aos Estados
Unidos, ele se envolveu em atividades de organização sindical, ocasionalmente
sendo preso. Ele se tornou um membro oficial do partido em tempo integral em
1937. Após servir na marinha durante a 2ª Guerra Mundial, ingressou no conselho
executivo nacional do CPUSA. Em 1949, ele foi um dos 11 líderes partidários
condenados por conspirar para derrubar o governo dos Estados Unidos pela força
e foi condenado a cinco anos de prisão. Livre sob fiança durante uma apelação,
Hall e três outros fugiram para o México quando o recurso foi rejeitado em
1951. Eles foram recapturados, entretanto, e a sentença de Hall foi estendida;
ele foi encarcerado até 1957. Eleito para a posição de liderança do CPUSA em
1959, Hall concorreu à presidência dos Estados Unidos como candidato do partido
em quatro anteriores e obteve seu melhor resultado em 1976, quando obteve quase
60.000 votos. Ele viagens anuais a Moscou até a queda do regime comunista e foi
premiado com a maior medalha civil da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, uma Ordem de Lênin. Embora a adesão
do CPUSA à sua fé no comunismo de estilo soviético o mantivesse separado da chamada
Nova Equerda que emergia no cenário político mundial e seu número de membros
diminuísse constantemente, Hall permaneceu secretário-geral do partido até sua
morte.
O feminismo negro começa a ganhar visibilidade
mundial (Barreto, 2005; Damasco, 2009) a partir da segunda “onda do feminismo”, entre 1960 e 1980, por conta
da fundação da National Black Feminist, nos Estados Unidos, em 1973. Surge no final do
conflito armado segundo os vietnamitas, intitulado: “Guerra Americana”, ocorrido no Sudeste Asiático entre 1955 e 30
de abril de 1975. Notadamente, porque feministas negras passaram a pesquisar e escrever
sobre o tema, criando uma literatura própria intitulada “feminista negra” universal. Porém,
historicamente, mulheres negras já desafiavam o sujeito mulher determinado pelo
feminismo num mundo masculino ainda ressentido pelas formas de opressão e
dominação em mulheres. Duas questões pontuais me fazem refletir sobre a cisão
das mulheres negras com o movimento feminista: a) Por deterem o domínio racial
e contarem com maior número de lideranças consolidadas, as feministas em geral
resistem às questões das mulheres negras, em particular; b) Supondo que passam
pelos mesmos problemas e desejam quase as
mesmas coisas, o feminismo não atenta para as especificidades de cada grupo
feminino e acaba atuando sob omissão. Muitas vezes deliberada sobre as necessidades
das mulheres negras, sem que seja feita uma análise histórica e crítica do
racismo brasileiro, levando em conta os aspectos culturais regional, nacional e
global.
Maria José Motta de Oliveira, nome de batismo da
artista, nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de junho de 1944, mãe de
cinco filhas e de um filho - adotados - e avó de quatro netos, tornou-se
conhecida nacionalmente a partir de meados da década de 1970, quando conquistou
brasileiros e estrangeiros, com “Xica da Silva”, personagem vivido por ela no
filme homônimo de Cacá Diegues, que se transformou em seu talismã. A cantora e
atriz Zezé Motta, com quase 50 anos de carreira, convive com o status de
estrela no universo das artes no país. Militante do movimento negro, ela ainda
vê barreiras a serem vencidas no exercício da profissão. - “Já avançamos, mas
ainda temos muita luta pela frente. Precisamos de mais autores, produtores e
diretores negros atuando. Eles existem e não são aproveitados. Felizmente,
percebo hoje uma preocupação na distribuição dos papéis, em não deixar o negro
fora das produções”. Campos dos Goytacazes nasceu com o tamanho de toda região Norte e
Noroeste Fluminense, exceto São João da Barra. O município, historicamente,
fazia divisa com Nova Friburgo, Cantagalo, Cabo Frio e com o estado de Minas
Gerais, mas, com a emancipação da cidade de Itaperuna, perdeu metade de seu
território. A partir da década de 1980, Campos perdeu cinco de seus antigos
distritos, que, atualmente, formam os municípios de Talva e Cardoso Moreira.
As condições sociais e políticas das mulheres negras no Brasil
contraria a tendência mundial baseada em dados estatísticos de que as mulheres vivem mais que os homens. A
expectativa de vida para as afrodescentes é de 66 anos, está alguns meses abaixo
da média nacional que é de 66,8 anos. A precária situação da saúde sexual e
reprodutiva das mulheres negras está diretamente relacionada à desigualdade social
de acesso ao serviço de saúde. Em razão da predisposição biológica para algumas
doenças, como hipertensão e diabetes causando com mais frequência a morte
materna entre as mulheres negras. As doenças étnicas mais frequentes nas
mulheres afrodescendentes são descritas da seguinte forma: miomas uterinos, Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus
Tipo II, Câncer no colo do útero além do traço falciforme, inclusive HIV-AIDS,
o que dispensa-nos de comentários clínicos etc. Atriz Zezé Motta (foto) criou centro para cadastrar atores negros no mercado de trabalho no Brasil.
A luta histórica das feministas negras representa uma
batalha no campo das ideias, mas, sobretudo enredada em uma práxis contínua
para nivelar seu lugar de análise ao lugar das atividades práticas de mulheres
brancas no âmbito da sociedade. Este aspecto ideológico levanta: a) a
importante reflexão sobre a representação
feminina na mídia e/ou indústria cultural, b) seu espaço de participação social
no mercado de trabalho brasileiro, além do eixo desenvolvimentista Rio-São
Paulo; c) o lugar de “primazia” como assédio moral e vítima da violência
sexual, d) o protagonismo da maternidade, entre outros temas conjunturais,
inclusive de formação no âmbito das universidades e escolas técnicas. Há tanto um
conjunto de práticas e saberes sociais por que as mulheres brancas precisam
lutar. É bastante preocupante o fato de que as mulheres negras nem sequer
conquistaram igualdade social e política. Sem perder de vista comparativamente
com outros indivíduos do seu próprio grupamento étnico e de classes sociais,
inclusivamente à particularidade da questão social de gênero no Brasil.
A atualidade do perspectivismo de Simone de Beauvoir
tem sido admitida por Daniele Reis (2005). A cor é fator relevante quando
analisamos os casos de agressão e assassinato por parte de companheiros e
ex-companheiras. As negras são mais de 60% das vítimas de “feminicídio”,
exatamente porque não contam com assistência adequada e estão mais vulneráveis
aos abusos das próprias autoridades. Já no aspecto da sexualidade, das mulheres
brancas é esperado o comportamento moderado e sensualidade com limitações,
porém, as mulheres chamadas de “mulatas” são amplamente “exotificadas” e
tratadas como objetos disponíveis para a exploração. O argumento de quem
enxerga as mulheres negras para investidas sexuais é de
que elas são mais provocantes, que seus corpos suportam atos mais intensos ou
até mesmo que não podem negar os estilos de assédio moral e sexual.
A cultura do estupro é vigente desde o período
histórico de colonização do Brasil, quando mulheres negras foram estupradas por
homens brancos e usadas em políticas oficiais de miscigenação, com o fim de
branquear a população. A mentalidade daquela época se mantém forte na
contemporaneidade e é por isso que são tão naturalizados aspectos culturais
como a escolha anual da “Globeleza”, nome dado à cobertura do carnaval feita pela Rede Globo. É também o nome dado à mulata que samba nas vinhetas da emissora, pelo qual consagrou a carreira da dançarina Valéria Valenssa, que durante 14 anos foi a Mulata Globeleza, dançando apenas com o corpo completamente pintado nas vinhetas da emissora designadas para o carnaval carioca. Realizou shows de dança no exterior, com apresentações em países como Portugal e Áustria, entre outros.Erika Moura, assumiu o posto no ano de 2015. A posição de mulata
que expõe seu corpo é tão relacionada exclusivamente à mulher negra, que nem
sequer se estende o concurso sexista para mulheres de outras etnias ou raças. Enquanto
as mulheres brancas são vítimas de violência sexual, é preciso, comparativamente, salientar as
formas distintas: as brancas são violentadas exclusivamente por seu gênero, as
negras sob a trágica forma de dupla penetração: sexual e vítimas do preconceito racial.
Um bom exemplo histórico refere-se à chamada MarchadasVadias, um movimento social que surgiu a partir de um protesto realizado no dia 3 de abril de 2011 em Toronto, no Canadá, e desde então se internacionalizou, sendo realizado em diversas partes do mundo, no âmbito do hemisfério ocidental e que atualmente tem sido realizada
em quase todos os estados brasileiros. Há diversos grupos do “Feminismo
Negro” que não participam dos protestos. Mas criticam o uso de palavras expressas como
“vadia” e “puta”, afirmando que as mesmas não podem ser “ressignificadas” pelas
negras, para usarmos o voguismo antropológico, pois o estigma que carregam é
muito forte e o mais urgente é romper representações hipersexualizadas.
Partindo desse pressuposto, o melhor seria lutar para ser reconhecida no plano de atividades como uma intelectual,
capaz de conquistas diversas e ocupação em papéis ilimitados. Não obstante,
esse posicionamento não é unânime; diversas mulheres negras participam das
marchas e ocupam posições políticas adentre as equipes de organização em torno das lutas sociais.
Ainda que as relações em torno do gênero seja usado como
sinônimo de sexo, nas ciências sociais e na psicologia tradicionalmente, refere-se às diferenças
sociais, reconhecidas nas ciências biológicas como papel de gênero.
Historicamente, o feminismo posicionou os papéis de gênero como construídos
socialmente, independente de qualquer base ideal típica biológica. Pessoas cuja identidade
de gênero difere do gênero designado de acordo com os genitais são normalmente
identificadas como “transexuais” ou “transgêneras”. Muitas sociedades possuem
apenas dois papéis de gênero - masculino ou feminino - e estes correspondem ao
sexo biológico. Entretanto, algumas sociedades explicitamente incorporam
pessoas que adotam o papel de gênero oposto ao sexo biológico, como por
exemplo, em algumas sociedades indígenas norte-americanas, mas que não ocorrem apenas nelas. Enfim, outras sociedades incluem papéis bem
desenvolvidos que são explicitamente considerados distintos dos arquétipos
masculinos e femininos tradicionalmente. Na linguagem da sociologia de gênero há a inclusão de
um “terceiro-gênero”, um tanto distinto do sexo biológico, tendo em vista as
condições e possibilidades, nesta direção, abranger algumas vezes a base para
os papéis de gênero incluem a intersexualidade ou incorpora eunucos. A
sociologia contemporânea refere-se aos papéis de gênero masculino e feminino
como masculinidades e Feminilidades, respectivamente no plural ao invés do
singular, enfatizando a diversidade tanto dentro das culturas como entre as mesmas.
A revista People elegeu a atriz negra
Lupita Nyong’o, atriz mexicana e queniana como a mulher mais linda do mundo.
Mas o público não recebeu bem a notícia e os comentários de que ela não “poderia”
ser a mulher mais linda do mundo. A
maior revelação da indústria cinematográfica nos últimos anos é Lupita Nyong’o,
atriz criada no Quênia, com pós-graduação na Yale School of Drama, que
surpreendeu o público com seu desempenho em “12 Anos de Escravidão”. Seu papel
como Patsey, a escrava que resiste a atos indizíveis de brutalidade, não só lhe
rendeu o Oscar como um BAFTA (British Academy of Film andTelevision Arts) de coadjuvante. Lupita agora foi eleita a mulher
mais bonita do mundo pela revista People em sua edição especial, que sai todo
ano. É a primeira negra a ostentar esse título. Já tinha sido escolhido o rosto
da marca de cosméticos Lancôme. - “Ao vir para os EUA, foi a primeira vez em
que tive de me considerar negra e aprender o que significava a minha raça”. As pessoas são naturalmente atraídas por seu espírito e sua beleza
impressionante. Sua naturalidade é uma lufada de ar fresco em um mundo repleto
de celebridades intragáveis. Nyong’o venceu mil concorrentes que fizeram
testes para interpretar Patsey. Temos assim, a designação sociológica “subversão da identidade”.
A cor, analogamente como a noite, last but not least,
reenvia-nos, assim, sempre para uma espécie de “feminilidade substancial”. Mais
uma vez, tradição romântica ou alquímica e análise sociológica convergem para
evidenciar uma estrutura arquetípica, e encontra-se com a imemorial visão da tradição
religiosa. No clássico estudo do
antropólogo francês Gilbert Durand, Les StructuresAnthropologiques de
L`Imaginaire (1992) o autor rememora o eufemismo que as cores noturnas constituem
em relação às trevas parece que a melodia o constitui em relação ao ruído. Do
mesmo modo que a cor é uma espécie de noite dissolvida e a tinta uma substância
em solução, pode-se dizer comparativamente que a melodia, que a suavidade musical
tão cara aos românticos é a duplicação eufemizante de duração existencial. A
música melodiosa desempenha o mesmo papel enstático
que ocorre durante a noite. A ocasião é semelhante àquela já descrita no Jataka 314, em que nesta história o Mestre, enquanto morava em Jetavana, contou a respeito de um rei de Kosala. Desta vez, contudo, quando o rei disse: - “Senhor, o
que estes sons significam para mim?” o Mestre respondeu: - “Grande rei, não
tenha medo: nenhum perigo te ameaça devido a estes sons: tais terríveis sons
indistintos não foram escutados por você apenas: reis antigos também escutaram
sons semelhantes e pretendia seguir o conselho de brahmins e oferecer em
sacrifício quatro animais de cada espécie, mas após escutar o quê os sábios
tinham a dizer, eles libertaram os animais reunidos para o sacrifício e
proclamaram pelo tambor o fim de toda execução e morte”. E com o pedido do rei,
ele contou um conto antigo. E o mínimo que podemos fazer é citar, depois de Béguin, a tradução desta bela passagem das Phantasien uber die Kunst, de Ludwig Tieck, berlinense que fez parte do movimento do romantismo do final do século XVIII e início do século XX. A música opera o milagre de tocar em nós o núcleo mais secreto, o ponto de enraizamento de todas as recordações e de fazer dele por um instante o centro do mundo feérico, comparável a sementes enfeitiçadas, os sons ganham raízes em nós com uma rapidez mágica. E num abrir e fechar de olhos, sentimos o murmúrio de um bosque semeado de flores maravilhosas. Bibliografia geral consultada.
GONZALEZ, Lélia,
“O Papel da Mulher na Sociedade Brasileira”. In: SpringSymposiumThePoliticalEconomy of the Black World. Los Angeles: Center
for Afro-American Studies, 1979; Idem, “A Categoria Político-Cultural de
Amefricanidade”. In: RevistaTempoBrasileiro. Rio de Janeiro: n° 92/93 janeiro- junho, 1988; DEL PRIORE, Mary (Org.), História das Mulheres no Brasil. 2 edição. São Paulo: Editora Contexto,1997; OLIVEIRA,
Rosália Lemos de, Feminismo Negro em
Construção: A Organização do Movimento de Mulheres Negras no Rio de Janeiro. Dissertação
de Mestrado. Departamento de Psicologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 1997;BARRETO, Raquel de Andrade, Enegrecendo o Feminismo ou Feminizando a Raça: Narrativas de Libertação
em Ângela Davis e Lélia González. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em História Social da Cultura. Departamento de História. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2005; VIANA, Elizabeth do
Espírito Santo, Relações Raciais, Gênero
e Movimentos Sociais: O Pensamento de Lélia Gonzalez (1970-1990). Dissertação
de Mestrado em História Comparada. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; HIRATA, Helena
(Org.), Dicionário Critico do Feminismo. 1ª edição. São Paulo: Editora
da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2009; DAMASCO, Mariana
Santos, Feminismo Negro: Raça, Identidade e Saúde Reprodutiva no Brasil
(1975-1996). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em
História das Ciências e da Saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Casa
de Oswaldo Cruz, 2009; PEREIRA, Amilcar Araújo, “O Mundo Negro”: A Constituição do Movimento Negro Contemporâneo no Brasil (1970-1995). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2010; CARDOSO, Cláudia Pons, Outras Falas: Feminismos na Perspectiva de
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Felipe e BIROLI, Flávia, Feminismo e Política: Uma Introdução.1ª edição.São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; RIBEIRO, Maria Florencia Guarche, A Revolução em Rojava: Jin, Jiyan, Azadi (Mulheres, Vida, Liberdade). Monografia de Conclusão de Curso de Bacharelado em Relações Internacionais. Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa, 2015; entre outros.
_______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Il a exercé une
influence notable dans la montée du thatchérisme au Royaume-Uni”. Guy Sorman
Michael Joseph Oakeshott é reconhecido socialmente como o escritor
e filósofo mais desconcertante e original significativamente desde o pragmatismo de Ludwig Wittgenstein. Os sábios eram pensadores de fora do ambiente filosófico acadêmico cuja obra Wittgenstein lera ainda bem moço, como Karl Kraus, o “feroz crítico” da cultura e da linguagem do final do Império Habsburgo que lhe causou forte impressão, por sua insistência na integridade pessoal. A obra de Kraus inseria-se no contexto da chamada “crise da linguagem”, quando a preocupação geral era a autenticidade da expressão simbólica na arte e na vida pública. Outra expressão dessa crise foi a crítica da linguagem de Mauthner, autor que perseguiu uma meta kantiana, a derrota da especulação metafísica, substituindo a “crítica da razão” por uma “crítica da linguagem”, sendo sua obra mais tributária de David Hume e de Ernest Mach. Seu método era psicologista e historicista: a crítica da linguagem faz parte da psicologia social. O conteúdo de sentido da crítica era empirista – a linguagem fundamenta-se nas sensações. Seu resultado foi cético – a razão idêntica à linguagem. Mas esta última não serve para penetrar no âmago da realidade. Wittgenstein, acertadamente, opõe sua própria “crítica [lógica] da linguagem” à de Fritz Mauthner, quem primeiro identificou a filosofia com a crítica da linguagem. Oakeshott é um filósofo britânico, falecido em 1990, e que durante as décadas de 1950 e
1960 exerceu a cátedra de Ciência Política na prestigiosa London School of
Economics (LSE), tendo sido o sucessor inglês de Harold Laski (1893-1950). Autor de trabalhos que
versam sobre os mais diversos aspectos do conhecimento, e em particular o
conservadorismo, é geralmente “enquadrado” como um dos mais proeminentes
pensadores conservadores do século XX. Em sua vida acadêmica, publicou
relativamente pouco.
Além de alguns artigos e pequenos ensaios, constam
essencialmente quatro livros: “Experience and its modes” (1933), “On human
conduct” (1975), “On History” (1983) e “Rationalism in politics and other essas”
(1962), sem dúvida a principal obra de divulgação de seu pensamento, conjunturalmente
não poderia ser taxada de outra forma, como de caráter pessimista, tradicionalista,
burkeano, uma ideologia política que defende a manutenção das instituições tradicionais no contexto da cultura, da política e da civilização refletindo o pensamento conservador. O conservadorismo é uma influente corrente de pensamento
político burguês contemporâneo surgida na Inglaterra, no final do século XVIII, através da atividade
política do conservador Whig Edmund Burke, como uma reação à Revolução
Francesa, cujas utopias sociais resultaram imediatamente em instabilidade
política e crise social na França. O pensamento conservador expandiu-se pelo
mundo principalmente após o período do Terror jacobino, que, durante o auge da
Revolução, causou a morte de 35 mil a 40 mil pessoas. O termo conservador
denota a adesão a princípios e valores atemporais, que devem ser conservados a
despeito de toda mudança histórica, quando mais não seja porque somente neles e
por eles a história adquire uma forma inteligível (cf. Henkel; Lembcke, 2013). Por exemplo, a noção de uma
ordem divina do cosmos ou a de uma natureza humana universal e permanente.
O conservadorismo é um freio às ambições prometeicas do movimento revolucionário e, mais genericamente, sem exceção dos governantes. O conservadorismo britânico deriva largamente de
Edmund Burke e principalmente da sua obra “Reflexões sobre a Revolução na França” (1790), onde
este defende que as constituições não devem ser o produto da razão abstrata
(como as francesas), mas sim de uma lenta evolução histórica (como a
constituição inglesa), considerando a sociedade como sendo não apenas um
contrato entre os vivos, “mas entre os vivos, os mortos e os que estão por
nascer”. Contra a Liberdade proclamada pela Revolução como um absoluto, Burke
faz a defesa das liberdades, das prerrogativas particulares e tradicionais dos
diversos grupos sociais e locais, que se equilibravam mutuamente na ordem
pré-revolucionária. Ao contrário de Burke, outros parlamentares whigs, como
Charles James Fox, tomaram o partido da Revolução Francesa, acabando as ideias
das Reflexões por serem mais aceites entre os Tories. Durante o século XIX, o
conservadorismo britânico, inspirado por pensadores conspícuos como Samuel Coleridge,
Thomas Carlyle, Henry Maine, etc. desenvolve-se como o partido político de representação da aristocracia
tradicional, em volta de temas como a desconfiança em face da democracia, a
defesa da Câmara dos Lordes e uma certa nostalgia pela Inglaterra
pré-industrial.
Um
juízo de valor representa um juízo sobre a correção ou incorreção de algo, ou
da utilidade de algo, baseado num ponto de vista pessoal ou subjetivo. Como
generalização, um juízo de valor pode referir-se a um julgamento baseado num
conjunto particular de valores ou num sistema de valores determinado. Um
significado conexo de juízo de valor é o juízo de um recurso de avaliação
baseado nas informações limitadas disponíveis, uma avaliação efetuada porque
uma decisão deve ser tomada independentemente de estar em função da utilidade,
da estética, da moral, ou de qualquer outro critério valorativo. A expressão
juízo de valor pode ser usada num sentido positivo; significando que um
julgamento deve ser feito levando em conta um sistema de valores, ou, num
sentido depreciativo, significando um julgamento realizado de um ponto de vista
pessoal, em vez da proposição de um pensamento racional, objetivo. Neste
sentido positivo, a recomendação socialmente ao se fazer um juízo de valor, é
que se considere cuidadosamente para evitar arbitrariedades e impetuosidade, e
buscar consonância com as convicções mais profundas que se tenha sobre a
realidade. Em seu sentido depreciativo, a expressão juízo de valor implica uma
conclusão que é isolada, parcial e não objetiva — contrastando com julgamentos
baseados em deliberação, equilíbrio e racionalidade.
Um
juízo de valor também pode referir-se a uma tentativa de julgamento baseada
numa avaliação estudada das informações disponíveis, tomadas como sendo
incompletas e em evolução; por exemplo, um juízo de valor sobre lançar ou não
um ataque militar ou como proceder numa emergência médica. Neste caso, a
qualidade do julgamento sofre porque a informação disponível é incompleta como
resultado da urgência, em vez de ser resultante de limitações culturais ou
pessoais. Mais comumente, a expressão juízo de valor refere-se a uma opinião
individual. De fato, a opinião de um indivíduo é formada até certo ponto por
seu sistema de crenças e a cultura à qual ele pertença. Assim, uma extensão
natural da expressão juízo de valor é incluir declarações que parecem ser de
mão única em um determinado sistema de valores, mas que podem ser vistas de
forma diferente em outro. Conceitualmente, esta extensão da definição
relaciona-se tanto ao axioma antropológico de “relativismo cultural”, isto é,
que o sentido cultural deriva do contexto quanto à expressão “relativismo moral”,
isto é, que as proposições de moral e ética não são verdades universais, mas
brotam do contexto cultural.
No
sentido pejorativo, um juízo de valor formado dentro de um sistema social de
valores específico pode ser “paroquial” e estar sujeito a questionamentos junto
a audiências mais amplas. Entretanto, um julgamento pessoal é uma expressão
descrevendo uma decisão tomada entre alternativas que não são claramente certas
ou erradas, e que assim deve ser tomada numa base pessoal. Valor neutro é um
adjetivo conexo que sugere independência de um sistema de valores. Por exemplo,
a classificação de um objeto depende do contexto: ele é uma ferramenta ou uma
arma, um artefato ou um antecedente? O objeto em si pode ser considerado aparentemente
de valor neutro, não sendo nem bom nem mau, nem útil nem inútil, nem
significativo nem trivial, até que seja colocado em algum contexto inscrito nos
níveis de análise social, tanto quanto econômico ou político. Para uma
discussão sobre o valor “neutro” da tecnologia, estranhamente, um item também
pode ter um valor que pode ser neutro na medida em que sua utilidade se uso
social, ou importância são evidentes, independentemente do contexto social; por
exemplo, oxigênio.
Alguns
autores argumentam hic et nunc que a objetividade verdadeira do
conhecimento é impossível, e que mesmo as mais rigorosas análises racionais se
fundamentam no conjunto dos valores aceitos no curso da análise.
Consequentemente, todas as conclusões são necessariamente juízos de valor e
logo, talvez suspeitas. De fato, por todas as conclusões numa única categoria
nada faz para distinguir entre elas e é, portanto, um descritor inútil exceto
como um dispositivo retórico pensado para desacreditar uma posição através dum
apelo a autoridade. Como exemplo de um ponto de vista mais sutil,
"verdades" científicas são consideradas objetivas, mas são mantidas
empiricamente, com a compreensão de que evidências mais cuidadosas e/ou
experiências mais amplas possam mudar os fatos. Além disso, uma opinião
científica, no sentido de uma conclusão baseada num sistema de valores, é um
juízo de valor baseado em avaliação rigorosa e amplo consenso. Com este exemplo
em mente, caracterizar uma opinião como um juízo de valor é vago sem a
descrição do contexto que a cerca. Todavia, como notado no primeiro segmento
deste artigo, no uso comum, a expressão juízo de valor possui um significado
mais simples, com o contexto simplesmente implicado, não especificado.
No entanto, sob a liderança de Benjamin Disraeli moderniza-se, adotando os princípios democráticos e passando a ter como escopo político a defesa do Império como grande bandeira, contra a desconfiança dos liberais perante a expansão colonial. Disraeli, que concedeu o direito de voto aos operários urbanos, tentou dar um carácter social ao conservadorismo e torná-lo numa aliança entre a aristocracia e as chamadas classes populares. Nas primeiras décadas do século XX, os conservadores têm como referência esses princípios - defesa da unidade do Império, oposição à autonomia irlandesa que levou muitos liberais unionistas, como Joseph Chamberlain, a se juntarem ao Partido Conservador, uma politica comercial protecionista favorecendo o comércio com as colônias, etc., a que se junta uma posição antissocialista, à medida que o Partido Trabalhista e o movimento sindical vão ganhando força no âmbito da política global.
Para os conservadores, as melhores instituições
sociais e politicas não são aquelas que são inventadas pela razão humana, como fora
defendido pelo chamado racionalismo político, mas sim as que resultam de um
lento processo de crescimento e evolução ao longo do tempo, empiricamente como
a não escrita constituição inglesa face às Constituições promulgadas pelos
revolucionários franceses. Não acreditando na ideia de “bondade natural do
Homem”, os conservadores consideram que são os constrangimentos introduzidos
pelos hábitos e tradições que permitem o funcionamento das sociedades, pelo que
qualquer regime duradouro e estável só poderá funcionar se assente nas
tradições sociais. Assim, para os conservadores não faz sentido elaborar projetos
universais do ponto de vista de uma sociedade ideal - não só tal sociedade será inatingível devido ao
que acreditem ser a imperfeição intrínseca da natureza humana. Mas, devido a
diferentes povos terem diferentes histórias, sociais, políticas e de costumes referendando suas tradições, o modelo social mais
adequado a um povo não será o mais apropriado a outro - criticando de seu ponto de vista político conservador os
revolucionários franceses.
Após sua morte, em 1990, surge no cenário acadêmico norte-americano
e britânico uma série de importantes trabalhos acadêmicos buscando resgatar o
pensamento de Michael Oakeshott. Um fato considerável é a organização e
publicação de inúmeros manuscritos, ensaios e anotações de aulas proferidas na
London School of Economics and Political Science, ou simplesmente London School of Economics- LSE. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objeto a análise de uma dessas
obras póstumas, o livro: “The Politics of Faith and The Politics of Scepticism”.
Elaborado após a 2ª guerra mundial e completada provavelmente em 1952, a obra
delineia uma diferenciação entre dois modos ou estilos da atividade de
governar: a política de fé e a política de ceticismo. Neste sentido, apolítica não conhece nada
acerca de necessidades genuínas. Não há nada no mundo da política que não
provenha da atividade humana, embora haja muita coisa que não seja consequência
do desígnio humano. Por isso, ao estudar as atividades políticas do governo, Oakeshott
considera que as ações sociais concretizadas tornam-se distintas em análise comparada, tendo em vista que não é porque a intenção
é diferente, mas porque elas pertencem a outro contexto no qual tem-se estas atividades.
No pensamento deste autor existem sempre dois
ingredientes fundamentais no conhecimento que são o informar e o julgar,
portanto, o legado que os professores ensinam é sempre composto por uma síntese
destes dois fatores. Informação e julgamento são dois modos de comunicação e
não constituem partes separadas pertencentes a processos diferentes. De acordo
com Oakeshott, estes dois ingredientes do processo de compreensão e apropriação do conhecimento “emergem da dialética
ensinar e aprender”. Há faculdades que dependem da informação e faculdades que
dependem do julgamento. A informação é impessoal, baseada em fatos e pode ser
encontrada em manuais e dicionários e enciclopédias; constitui-se como “peça informativa”
ou como “conjunto de fatos”. Poderíamos resumir dizendo que a informação é o “o
quê” e o julgamento ou juízo é o “como ou o porquê”. A principal diferença
entre o julgamento e a informação adquirida reside neste fato: “o
juízo é uma informação de outro tipo e nunca pode ser itemizada”. Assim, todo o
ensino e, consequentemente, toda a aprendizagem têm estas duas componentes essenciais, a
componente da informação designada como instrução e a componente do juízo
designada como partilha.
Na busca por compreender esse contexto político é que
surge o livro: The Politics of Faith and the Politics of Scepticism (1996). O
argumento principal da obra é que os governos europeus, desde o século XV,
convivem com diferentes modos ou estilos de política, os quais ele denominou
(I) “políticas de fé” (“politics of Faith”) e (II) “políticas de ceticismo” (“politics
of scepticism”). Tais formas são expressões que resultam de dois polos extremos
nos quais é empreendida a atividade de governar. Enquanto extremos, são construções
ideais. Dificilmente encontradas em sua forma pura, aproximando-se da
idealidade típica do constructo weberiano, constituem-se mais em tendências
do que em “teorias” ou doutrinas propriamente ditas. A política de fé é o modo de representação de um estilo de governar caracterizado pela
incessante busca pela perfeição da humanidade. Conforme Oakeshott há um grande otimismo cósmico que,
derivado não da observação, mas da inferência da perfeição do seu criador,
atribui uma indiscutível perfeição do universo. Essa ideia de “perfeição” (ou
“salvação”) consiste na busca de uma visão compreensiva de bem seja religiosa,
econômica, filosófica, moral, etc. a ser alcançada pela vivência no mundo social e político.
Porém não como
uma tipologia do caráter humano, mas no sentido que empregou historicamente
o florentino Maquiavel, como uma condição mundana das circunstâncias humanas. De modo mais
simples, “perfeição” é mudança para melhor, pode significar tanto o caminho
específico a ser aprimorado quanto a direção geral pela qual deve a atividade
humana deve ser guiada, assim pouco importando o caminho. Foi porque Maquiavel percebeu que qualquer conselho positivo para lidar com problemas políticos era suscetível de ser contrariado por uma alusão pessimista à fortuna, que ele resolveu dedicar a esse tema o penúltimo capítulo de “Il Principe”, livro escrito por Nicolau Maquiavel em 10 de dezembro de 1513, cuja 1ª edição foi publicada postumamente, em 1532. Ele próprio aceitou que a “Fortuna” era o árbitro de metade das ações dos homens, mas sublinhou que isso não deveria levar ao derrotismo. Em duas memoráveis imagens, comparou a fortuna a um rio cujas águas caudalosas podem ser inofensivamente desviadas por diques e canais de drenagem precavidos, e a uma mulher que, sendo mulher, pode ser domada pelo ardor e a violência: “sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (…) contrariá-la. Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia” (cf. Maquiavel, 2004).
O agente responsável para assegurar a perfeição é o
Estado. Se utópico ou se visa a
aprimorar a sociedade em apenas em um determinado rumo, tal estilo sustenta que
somente o poder humano pode atingi-lo; destarte, não apenas busca, mas
supervaloriza este poder, deixando a cargo do governo uma competência quase
ilimitada para conduzir a sociedade. Consequentemente, o estilo requer uma
dupla confiança: a convicção de que o poder necessário é disponível ou pode ser
gerado e uma convicção que, mesmo que não se saiba exatamente o que constitui a
perfeição, ao menos se sabe o caminho a ser percorrido. Parece claro que o
papel do Estado, não é neutro e assume uma visão substantiva, em vista da
reprodução da esfera política da atividade humana. Assim, torna-se o instrumento para alcançar a verdade,
concebida a partir de uma visão particular do conservador, exige dos cidadãos
não apenas a obediência ou a submissão, mas principalmente entusiasmo e
engajamento para a concretização desta finalidade. - “Os inimigos do regime
serão identificados não como meros dissidentes a serem inibidos, mas como
descrentes a serem convertidos. Mera obediência não é suficiente; deve ser
acompanhada pelo fervor. Na verdade, se o sujeito não é entusiasta com o
governo, não há nenhum objeto legítimo de devoção; se ele é devotado à
“perfeição”, ele deve ser devotado ao governo”. Daí a analogia do conceito
descrito na obra: “On Human Conduct”, a política de fé encara ideologicamente a
sociedade contemporânea como uma associação empreendedora (“enterprise
association”).
Neste modo de associação, os agentes estão
interligados a partir de um propósito comum substantivo, reconhecido como uma
condição exequível pelos homens. Esse engajamento tem por escopo direcionar a
conduta humana a partir de ações que estejam meticulosamente relacionadas para
administrar e maximizar o propósito desejado. As eventuais regras emitidas são
meramente instrumentais e, por si só, não definem e nem identificam a
associação. Destaca algumas conclusões para a política de fé. Em primeiro
lugar, ela não é uma invenção que surgiu nos últimos séculos contra um período
de negligência ou indiferença governamental. Tampouco foi um fruto da revolução
industrial ou da democracia liberal. Deve ser compreendida num contexto
histórico de legitimação e
idealização do governo como operador racional da atividade humana.
Em segundo lugar, não é identificada com nenhum
movimento, partido ou causa no mundo moderno. Há representantes desse estilo de
política em todo campo, todo partido, cada momento e entre advogados de toda
causa. Em terceiro lugar, a política de fé não é, e nunca foi, o único estilo
de política que surgiu na história moderna. Essa impressão é causada
especialmente pelo sucesso deste estilo especialmente a partir do século XVII. Finalmente,
a política de fé é subentendida como política da imortalidade. Dá atenção
excessiva ao futuro e se esquece do passado. Ao conduzir a conduta humana para
um determinado fim, transmite a idéia de que a própria história possui um
sentido. Em seu livro de memórias: “Neoconservatism: The Autobiography of an
Idea”, Irving Kristol afirma que decidiu não publicar o ensaio: “On Being Conservative”
na revista The Public Interest
justamente pelo caráter irremediavelmente secular do texto, o que estaria em
desacordo com o elemento religioso presente na sociedade norte-americana.
Enfim, no seu ensaio: “Rationalism in Politics” (1991) o
autor volta ao assunto dizendo-nos que há dois tipos de conhecimento: o
conhecimento técnico e o conhecimento prático. O conhecimento técnico pode ser formulado através de
regras e aprendido nos livros (informação). O conhecimento prático só pode ser aprendido com um mestre porque não pode ser
formulado em regras e constitui-se, muitas vezes, como matéria de opinião
(julgamento). O conhecimento prático só pode ser adquirido através da mestria
porque é impreciso. Um dos problemas centrais da modernidade consiste no fato
de “haver uma soberania da razão, uma soberania da técnica, porque o racionalismo
e os racionalistas aspiram à certeza, apesar de esta aspiração não ser mais do
que uma ilusão”. Tendem a rejeitar a imprecisão e tudo deve passar-se como está
descrito nos livros. A mestria passa a ser olhada com desconfiança devido à sua
imprecisão. O racionalista argumenta Oakeshott, “always stands”, quer dizer, é
sempre a favor de alguma coisa ou contra alguma coisa. As circunstâncias sociais
do mundo moderno fazem do racionalista um ser eminentemente contencioso: - “Ele
é o inimigo da autoridade, do preconceito, do simplesmente tradicional,
costumeiro ou habitual”.
Mas como toda a atividade humana tende a ser reduzida
a problemas de ordem sociológica, concluiríamos admitindo duas ideias que nos
parecem fundamentais para haver um compromisso educativo na interpretação
oakeshottiana. Há também uma tentativa de promoção da cultura científica de modo
a que os seres humanos se identifiquem a si próprios na sua relação com as
coisas e o seu império sobre as coisas. Mas a pedra angular é a ideia de
“integração social” que radica no preconceito de que “tudo é social e de que tudo
deve ter uma função social”, portanto, a educação seria algo de social. Homogeneizando as diferenças e
não tornando através das semelhanças algo de distinto, meritório etc. Esta primazia
do “social” torna a educação como um investimento social relacionado com o
bem-estar de uma sociedade e as Universidades, segundo Oakeshott
transformaram-se “numa indústria de serviços cuja finalidade é a de contribuir
para o bem-estar da nação”. Os governos calculam a produtividade das universidades
através de análises de custos e benefícios. As últimas décadas mostram-nos que
os governos querem transformá-las em “instrumentos de socialização” e submetê-las
a propósitos extrínsecos ligados a considerações sociais. Pensam que sabem, mas não sabem o que eles fazem! Bibliografia geral consultada.
SCHUMPETER, Joseph, Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961; BACHRACH, Peter, Crítica de la Teoria Elitista de la Democracia.
Buenos Aires: Ediciones Amorrotu, 1973; PAREKH, Bhikhu, “The Political Philosophy of Michael Oakeshott”. In:
British Journal of Political Science,
volume 9, n° 4, pp. 481-506, out. 1979; SORMAN,
Guy, La Révolution Conservatrice
Américaine. Paris: Editions Fayard, 1983; Idem, L`Amérique dans les
Têtes, Fascinations et Aversions. Paris: Editeur Hachette Littérature, 1986;OAKESHOTT,
Michael, On Human Conduct. Oxford:
Oxford University Press, 1975; Idem, The
Voice of Liberal Learning. Indianapolis: Liberty Fundation, 1989; Idem, Rationalism in Politics and other essays.
2ª ed. Indianapolis: Liberty Fundation, 1991; Idem, The Politics of Faith and the Politics of Scepticism. New Haven:
Yale University Press, 1996;
Maquiavel, Nicolau, O Príncipe. 3ª edição. Trad. Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 2004; MARCHIORI NETO, Daniel Lena, Os Fundamentos da Civilidade no Pensamento Conservador de Michael Oakeshott. Programa de Pós-Graduação em Direito. Tese de Doutorado. Centro de Ciências Jurídicas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012; MARCHIORI NETO, Daniel Lena, Os Fundamentos da Civilidade no Pensamento Conservador de Michael Oakeshott. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduaçao em Direito. Centro de Ciências Jurídicas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012; HENKEL, Michael; LEMBCKE, Oliver (eds.), Praxis und Politik - Michael Oakeshott im Dialog. Tübingen (Mohr Siebeck), 2013; RIBEIRO, Gustavo Cezar, Modos de Soberania e a Questão Contemporânea do Poder. Rio de Janeiro: IESP/UERJ; Université de Paris 1; 2014; CARDOSO, Felipe Gava, “Notas sobre o Conservadorismo Político de Michael Oakeshott (1901-1990)”. In: Teoria & Pesquisa. Revista de Ciência Política. Vol. 24, n° 1, pp. 12-28, jan./jun. 2015; entre outros.
______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar”. Robert Musil
Robert von Musil nasceu na Áustria em 6 de novembro de
1880. Com a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, em 1938, Musil mudou-se
para a Suíça - inicialmente Zurique, depois Genebra, cidade onde morreu em 15
de abril de 1942. Estudou engenharia e filosofia, obtendo em 1908 o doutorado.
Foi um escritor austríaco, um dos mais importantes romancistas modernos. Ao
lado de Franz Kafka, Marcel Proust e James Joyce forma o grupo dos grandes
prosadores do século XX. Da sua obra destaca-se o monumental: “Der Mann ohne
Eigenschaftens” (1952), em português: “O Homem sem Qualidade” (1998). Trata-se
deum “anti-romance”, ou um “não romance”, que é acima de tudo uma grande
reflexão sobre a época de Musil. Sua estreia como romancista ocorreu em 1906
com o romance etnobiográfico: “Die Verwirrungen
des Zöglings Törless” (1906), (tradução de “O Jovem Törless”, baseado na
vida colégio militar.
Esta obra constitui uma impressionante previsão, com quase trinta anos
de antecedência, do sadismo nazista e de seus motivos psicológicos, segundo
Eric Fromm no livro: “The Anatomy of Human Destructiveness” (1973).
Morreu pobre - “quase esquecido e dependendo da ajuda
de amigos” - em Genebra, na Suíça, em plena II Guerra Mundial (1940-1945). Aos
dez anos Robert Musil ingressou para a Escola Militar em Eisenstadt, destinado
à carreira de oficial. Estudou durante mais de cinco anos em instituições do
exército até chegar à Academia Militar de Viena, em 1897. Um ano depois, Musil
decidiu largar a carreira de oficial e passou a estudar Engenharia em Brünn,
obtendo o diploma da graduação em 1901. Depois de uma temporada em Stuttgart,
cursou Filosofia e Psicologia experimental na Universidade de Berlim,
doutorando-se em 1908, com tese sobre o pensamento de Ernst Mach (1838-1916),
físico e filósofo austríaco. Os estudos de Ernest Mach sobre o fenômeno da
descontinuidade e da dissociação, assim como suas teses a respeito do “eu
condenado” (“unrettbares Ich”), seriam decisivos no processo de formação de
diversos escritores vienenses, entre eles Arthur Schnitzler e o próprio Musil.
No plano da crítica metafísica, a falta de qualidades, inserida na tradição da
filosofia moderna, isto é, do empirismo e do neopositivismo, assim como na
teoria do conhecimento de Ernst Mach, é voltada contra o essencialismo da
ontologia substancialista visando sua destruição.
De 1914 a 1918, participou ativamente da I grande Guerra na condição de oficial de Infantaria do exército austríaco. Ao final dos combates chegou a capitão, condecorado com a principal ordem de guerra do moribundo império (Ritterkreuz des Franz-Josephs-Ordens). Só a partir de 1923, e já morando em Berlim, é que Musil passaria a viver exclusivamente de sua condição de escritor. A ascensão do nazismo, em 1933, obrigou-o a se mudar para Viena e, mais tarde - depois de se sentir numa ratoeira, conforme ele mesmo chegou a escrever em seu diário -, para Genebra, aonde veio a falecer em 15 de abril de 1942. A publicação da primeira obra de Musil, “O jovem Törless” (“Die Verwirrungen des Zöglings Törless”, 1906) - só foi levado a cabo através do incentivo do berlinense Alfred Kerr. O sucesso posterior, e também a aprovação da crítica, foi imediato. No romance, Musil detém-se - com admirável agudeza psicológica - na consciência de um estudante de internato, às voltas com situações que anteveem de maneira genial e visionária o sadismo e a opressão do autoritarismo em seu tempo.
O sadismo surge quando a afeição é substituída pela
crueldade, neurose encarada como luta entre a autopreservação e a libido (cf.
Pontalis, 1970), onde o ego venceu, dando vazão à voz da libido expressa na
tensão da sexualidade. Para Wilhelm Reich, o orgasmo é, primeiramente, a
expressão de um abandono de si, sem inibição, em direção ao parceiro. A libido
do corpo inteiro flui através dos genitais. O orgasmo pode não ser considerado
completamente satisfatório se for sentido apenas nos genitais; movimentos
convulsivos de toda a musculatura e uma leve perda de consciência são atributos
normais e indicação de que o orgasmo como um todo teve participação. Além
disso, o incesto precisa ser explícito? Não poderia haver o êxtase de um elo
místico entre eles, mesmo de forma toda e plenamente espiritual? Pelo que entendemos acredita-se contrariamente que: “mas não, era
espiritual e físico; o fogo que irrompera como centelha inicial continuava
ardendo debaixo das cinzas. Talvez se devesse dizer: a alma de Ágata procurava
outra maneira de arder livremente”.
Em verdade, “O homem sem
qualidades” é um fragmento gigantesco, de modo que se pode falar de uma falta
de qualidades formais. O primeiro volume do romance saiu em 1931; tudo indica
que Musil, depois de sua volta de Berlim, onde havia conhecido seu primeiro
editor Ernst Rowohlt, trabalhou, desde 1921, como escritor livre na sua
obra-prima, exercendo, concomitantemente, as atividades de crítico de teatro e
ensaísta. Dificuldades financeiras motivaram a fundação de uma SociedadeMusil,
possibilitando-lhe uma estadia em Berlim brevemente entre os anos 1931 a 1933 e a conclusão da
primeira parte do segundo volume. A dissolução da Sociedade-Musil pelos
nazistas fez com que o autor voltasse a Viena e que se fundasse a SociedadeMusilVienense. Afirma-se que a continuação do volume II, de as obra máxima enviada à Editora em
1938, tenha sido confiscada pelo governo alemão; de qualquer maneira, ela acabou
na lista dos “escritos nocivos e indesejáveis”. O início dessa parte confiscada
tinha como subtítulo “Rumo ao Império Milenar. Os criminosos”, sem que houvesse
um segundo sentido político. Vale lembrar que Robert Musil, nascido em 1880, faleceu no dia 15 de abril
de 1942 no exílio suíço e o trabalho criativo no seu “opus Magnum”.
Este
romance-ensaio mostra a decadência dos valores vigentes até o início do século
XX. Em sua narrativa a ação de O homem sem qualidades transcorre na Áustria
imperial, dissimulada sob o nome de Kakânia. O romance constitui um vigoroso
painel da existência burguesa no início do século XX e antecipa de certa forma,
as crises que a Europa viveria apenas na segunda metade daquele mesmo século. A
obra é - em suma - “o retrato ficcional apurado de um mundo em decadência”.
Elaborado com fortes doses de sátira e humor, O homem sem qualidades é uma bola
de neve de ações paralelas, que rola pela montanha do século abaixo, abarcando
tempo e espaço, para ao fim engendrar um romance inteiriço, ainda que multiabrangente,
pluritemática e panorâmico. Ulrich – “o homem sem qualidades” - faz três
grandes tentativas de se tornar um homem importante: a) na condição de oficial,
b) no papel de engenheiro, conforme a carreira do próprio Robert Musil e,
finalmente, c) como matemático, exatamente as três profissões dominantes – e
mais características - do século XX. Afirma Musil:
“se
quisermos passar sem problemas por portas abertas, é bom não esquecer que elas
têm ombreiras sólidas; este princípio, segundo o qual o velho professor sempre
tinha vivido, mais não é do que uma exigência do sentido de realidade. Ora, se
existe um sentido de realidade – e ninguém duvidará de que ele tem direitos à
existência -, então também tem de haver qualquer coisa a que possamos chamar o
sentido de possibilidade. Aquele que o possui, não diz, por exemplo: isto ou
aquilo aconteceu, vai acontecer, tem de acontecer aqui, mas inventará; isto ou
aquilo poderia, deveria ter acontecido aqui (...). Esses homens do possível
vivem, como se costuma dizer, numa trama mais subtil, numa teia de névoa,
fantasia, sonhos e conjuntivos; se uma criança mostra tendências destas,
acaba-se firmemente com elas, e disse-lhes que tais pessoas são visionários,
sonhadores, fracos, gente que tudo julga saber melhor e em tudo põe defeito.
Quando se quer elogiar estes loucos, chamasse-lhes também idealistas, mas é
claro que com isso só se alude à sua natureza, débil, incapaz de compreender a
realidade, ou que a evita por melancolia, uma natureza na qual a falta do
sentido de realidade é um verdadeiro defeito”.
Os três ofícios são essencialmente masculinos e
revelam o semblante de uma época regida pelo militarismo, pela técnica e pelo
cálculo que, juntos, acabaram desmascarando o imenso potencial autodestrutivo
da humanidade. O relato acerca da busca “desencantada” de Ulrich lembra a velha
busca – ainda sagrada – do Santo Graal. A compreensão da realidade
característica da obra e do pensamento de Musil é rematadamente satírica. A
índole “ensaística” do autor arranca máscaras e sua ficção trabalha na
confluência dos gêneros. Musil é um escritor “contemplativo”, de “postura
clássica”, situado à janela do mundo e atento a seus movimentos. Tanto que, em
várias situações de suas obras, seus personagens aparecem à janela. Ao utilizar
vários elementos do ensaio, e inclusive ensaios inteiros no corpo da ficção,
além de fazer uso livre do discurso pretensamente científico - ainda carregado
de poesia – na compleição do romance, Musil dá vida à hibridez de sua narrativa.
A frieza de interpretação da linguagem, as formalidades da postura do narrador
são apenas superficiais. Se à primeira vista o olhar do narrador é marcado pelo
intelectualismo – frio e impessoal como no âmbito do positivismo –, logo se
descobre que isso é apenas um meio “apolíneo” contra o perigo dionisíaco do
mundo, para lembramos de Fredrich Nietzsche, e que a indiferença gelada da
superfície apenas mascara a paixão ardente do interior, como é expresso
brilhantemente na sociologia de Max Weber.
Todos os personagens de O homem sem qualidades apenas
são importantes na medida em que se relacionam com Ulrich, na medida em que
são, inclusive, superfícies nas quais ele mesmo se espelha. Todos eles não
deixam de configurar, de certo modo, possibilidades e aptidões do próprio
Ulrich. Mesmo o assassino de prostitutas Moosbrugger, o símbolo central do
descalabro em que se encontra o mundo, é um espelho no qual Ulrich se vê
refletido, já que os delírios do homicida não deixam de ser variações extremas
das experiências de Ulrich em relação àquela que chama de “outra condição” (“anderer
Zustand”), de sua busca incansável da liberdade do disparate e da vivência
original, paradisíaca. Na segunda parte do romance, aliás, Ulrich passa a
vivenciar cada vez mais situações de enlevo quase sobrenatural, em que já não
logra mais distinguir os limites espaciais e temporais do mundo que o envolve.
Mais tarde Ulrich inclusive tenta a “outra condição” junto com Agathe, sua
irmã, a “duplicação assombreada de si mesmo na natureza oposta”. O amor
mítico-incestuoso entre os dois constitui uma das mais belas e dolorosas
histórias de amor da literatura universal.
Adotando uma atitude fundamentalmente irônica diante
da sociedade, e decidida a lutar contra a estultice do século - contra “a
imensa raça das cabeças medíocres e estúpidas” -, Musil muitas vezes foi
compreendido como utopista, ou até místico, por alguns críticos, decididos a
“dinamitar” o vigor de sua obra. O autor que foi tão corrosivo ao representar o
mundo em sua realidade distorcida e deformada na figura mítica de uma Kakânia
caquética é transformado assim num sujeito extravagante e pouco afeito à
realidade. Um leão sem garras nem dentes! Já em 1972, Helmut Arntzen - crítico
da obra de Musil - dizia que “os críticos pareciam fazer gosto em apresentar o
autor na condição de animal exótico, místico e de movimentos graciosos”. Dessa
forma, o escritor combativo e heroico – conforme expressa Robert Musil se compreendia – era
transfigurado num metafísico dócil, no “Homme de Lettres” que sempre
renegou, num autor distanciado, provido de alguns requintes na linguagem e de outros tantos talentos psicológicos na análise da
alma humana. A
postura contemplativa de Musil foi entendida como uma “utopia do
ensaísmo” pregada por Ulrich - seu personagem - como uma visão utópica do
mundo.
Na verdade, Musil fez apenas lutar pela recuperação da atividade de
mensurar melhor, quantitativa e qualitativamente, os sentimentos e o “volume
espiritual” das relações humanas; sem a ingenuidade do romantismo, mas sem a
secura do realismo bruto. De quebra, deu nova fisionomia ao sujeito, nova
potência ao “eu”, tornando-o estética e radicalmente consciente, ainda que o
fizesse perambular no âmbito daquilo que outro crítico - Wolfgang Lange -
chamou de “loucura calculada” ou “suspensão calculada da razão”. A intuição
poética de Musil, enriquecida por seu aguçado espírito científico, proporcionou
ao autor a capacidade de traçar um vasto panorama ficcional de sua terra e da
Europa do século XX. Postado “à janela do mundo”, Musil examina, em última instância, o valor da
inteligência objetiva do homem diante das chamadas “casualidades mundanas”. O
Esclarecimento exprime o movimento real da sociedade burguesa como um
todo sob o aspecto da encarnação de sua Ideia em pessoas e instituições, assim
também a verdade não significa meramente a consciência relacional, mas, do
mesmo modo, a figura que esta assume na realidade efetiva.
O medo que o bom
filho da civilização moderna tem de afastar-se dos fatos – fatos esses que, no
entanto, já estão pré-moldados como clichês na própria percepção pelas usanças
dominantes na ciência, nos negócios e na política – é exatamente o mesmo medo
do desvio social. Essas usanças também definem o conceito de clareza na
linguagem e no pensamento a que a arte, a literatura e a filosofia devem se
conformar. Ao tachar de compilação obscura e, de preferência, de alienígena o
pensamento que se aplica negativamente aos fatos, bem como às formas de pensar
dominantes, e ao colocar assim um tabu sobre ele, esse conceito mantém o
espírito sob o domínio da mais profunda cegueira. É característico de uma
situação sem saída que até mesmo o mais honesto dos reformadores, ao usar uma
linguagem desgastada para recomendar a inovação, adota também o aparelho
categorial inculcado e a má filosofia que se esconde por trás dele, e assim
reforça o poder da ordem existente que ele gostaria de romper. A “falsa clareza”,
a ilusão em relação à realidade em si é apenas uma outra expressão do mito.
Este na história da humanidade sempre foi obscuro e iluminante ao mesmo tempo.
Suas credenciais tem sido desde sempre a familiaridade e o fato de dispensar o
trabalho característico do conceito. A aporia com que defrontamos cotidianamente revela-se assim como o primeiro objeto a investigar: a
autodestruição do esclarecimento.
Não alimentamos dúvida nenhuma, afirmavam
Adorno e Horkheimer (1985) – e nisso reside nossa petitio principi - de que a
liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecido. Se o
esclarecimento não acolhe dentro de si a reflexão sobre esse elemento
regressivo, ele está selando seu próprio destino. Abandonado a seus inimigos e
reflexão sobre o elemento destrutivo do progresso, o pensamento cegamente
pragmatizado perde seu caráter superador e, por isso, também a sua relação
social com a verdade. A disposição enigmática das massas educadas
tecnologicamente a deixar dominar-se pelo fascínio de um despotismo, sua
afinidade autodestrutiva com a paranoia racista, todo esse absurdo
incompreendido manifesta socialmente fraqueza e a dúvida sobre o poder de
compreensão do pensamento teórico no âmbito científico. A causa da recaída do
esclarecimento não deve ser buscada tanto nas mitologias nacionalistas, pagãs e
em outras mitologias modernas especificamente idealizadas em vista dessa
recaída, mas no próprio esclarecimento paralisado pelo temor da verdade.
A naturalização dos homens não é
dissociável do progresso social. O aumento da produtividade econômica, que por
um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao
aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa
sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos
poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder a sociedade sobre a
natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho a que
serve, o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele.
Numa situação injusta, a impotência e a dirigibilidade da massa aumentam com a
quantidade de bens a ela per se destinados. A elevação do padrão de vida das
classes subalternas, materialmente considerável e socialmente lastimável,
reflete-se da difusão hipócrita do espírito. Sua verdadeira aspiração é a
negação da reificação. Mas ele necessariamente se esvai quando se vê
concretizando em um bem cultural e distribuído paras fins de consumo. A
enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as
pessoas ao mesmo tempo. O que está em questão não é a cultura como valor. O Esclarecimento deve tomar consciência de si, se os homens
não forem traídos. Não se trata da conservação/superação do
passado, mas de resgate-esperança na contemporaneidade. O passado se prolonga como sua própria
destruição.
No trajeto social para a concepção de
ciência moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituíram o conceito
pela fórmula, a causa pela regra e pela probabilidade. A causa representou
apenas o último conceito filosófico que serviu de padrão para a crítica
científica, porque ela era, por assim dizer, dentre todas as ideias antigas, o
único conceito que a ela ainda se apresentava, derradeira secularização do
princípio criador. Com as Ideias de Platão, finalmente, também os deuses
patriarcais do Olimpo foram capturados pelo logos filosófico. O esclarecimento,
porém, reconheceu as antigas potências no legado platônico e aristotélico da
metafísica e instaurou um processo contra a pretensão de verdade dos
universais, acusando-a de superstição. Na autoridade dos conceitos universais
ele crê enxergar ainda o medo pelos demônios, cujas imagens eram o meio, de que
serviam os homens, no ritual mágico, para tentar influenciar a natureza.
Doravante, a matéria era dominada sem o recurso ilusório a forças soberanas ou
imanentes, sem a ilusão de qualidades ocultas. O que não submete ao critério da
calculabilidade e da utilidade de uso torna-se suspeito para o esclarecimento.
Mas cada resistência cultural que ele encontra serve apenas para aumentar a sua
força social. Isso se deve ao fato de que o esclarecimento ainda se reconhece a
si mesmo nos próprios mitos. Quaisquer que sejam os mitos de que possam se
valer a resistência, o simples fato social de que eles se tornam argumentos por
uma tal oposição significa que eles adotam o princípio da racionalidade decerto
corrosiva da qual acusam o esclarecimento. O esclarecimento é totalitário. Para
ele, o elemento social e humano básico do mito foi sempre o antropomorfismo, a
projeção do subjetivo na natureza.
A cultura respeitável constituiu até
o século dezenove um privilégio, cujo preço era o aumento do sofrimento dos
incultos, no século vinte o espaço higiênico da fábrica teve por preço a fusão
de todos os elementos da cultura num cadinho gigantesco. Talvez não fosse um
preço tão alto, como acreditam alguns defensores da cultura, se a venda em
liquidação da cultura não contribuísse para a conversão das conquistas
econômicas em seu contrário. Nas condições atuais, os próprios bens da fortuna
convertem-se em elementos de infortúnio. Enquanto no período passado a massa
desse bens, na falta de um sujeito social, resultava na chamada superprodução,
em meio às crises da economia interna, ela produz com a entronização dos grupos
que detém o poder no lugar desse sujeito
social, a ameaça internacional do monopólio ligado aos grupos econômicos, com a
entronização do grupos que detêm o poder no lugar desse sujeito social que
procura tornar inteligível o entrelaçamento da racionalidade e da realidade
social, bem como o entrelaçamento, inseparável do primeiro, da natureza e da
dominação da natureza. No centro estão os conceitos de sacrifício e renúncia,
nos quais revelam tanto a diferença quanto a unidade da natureza mítica e do
domínio esclarecido da natureza. Ele mostra como a submissão de tudo aquilo que
é natural ao sujeito autocrático culmina exato no domínio de uma natureza e uma
objetividade cegas. Essa tendência, aplaina as
antinomias do pensamento liberal, em especial a do rigor moral e absoluta
amoralidade.
No sentido do progresso do pensamento, o
conceito de esclarecimento tem perseguido o objetivo de livrar os homens do
medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente
esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do
esclarecimento representava o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver
os mitos e substituir a imaginação pelo saber. A credulidade, a aversão à
dúvida, a temeridade no responder, o vangloriar-se com o saber, a timidez no
contradizer, o agir por interesse, a preguiça nas investigações pessoais, o
fetichismo verbal, o deter-se em conhecimentos parciais: isto e coisas
semelhantes impediram um casamento feliz do entendimento humano com a natureza
das coisas e o acasalaram, em vez disso, a conceitos vãos e experimentos
erráticos: o fruto da prosperidade de tão gloriosa união pode-se facilmente
imaginar. A imprensa não passou de uma inovação grosseira; a bússola já era,
até certo ponto reconhecida. Mas que mudanças sociais e tecnológicas essas três invenções produziram –
uma na ciência, a outra na guerra, a terceira nas finanças, no comércio e na
navegação. Apenas presumimos dominar a natureza estamos submetidos à sua
necessidade; se nos deixássemos guiar por ela na invenção, nós a comandaríamos
na prática. Desencantar o mundo é
destruir o animismo.
O sobrenatural, o espírito e os
demônios seriam as imagens especulares dos homens que se deixam amedrontar pelo
natural. Todas as figuras míticas podem se reduzir, segundo o esclarecimento,
ao mesmo denominador, a saber, ao sujeito. A resposta de Édipo ao enigma da
esfinge: - “É o homem!” é a informação estereotipada invariavelmente repetida
pelo esclarecimento, não importa se este se confronta com uma parte de um
sentido objetivo, o esboço de uma ordem, o medo de potências maléficas ou a
esperança da redenção. E antemão, o esclarecimento só reconhece como ser e
acontecer o que se deixa captar pela unidade.
Sei ideal é o sistema do qual se pode deduzir toda e cada coisa. Não é
nisso que sua versão racionalista se distingue da versão empirista. Embora as
diferentes escolas interpretassem de maneira diferente os axiomas, a estrutura
da ciência unitária era sempre a mesma. O postulado baconiano de una scientia
universalis é, apesar de todo o pluralismo das áreas de pesquisa, tão hostil ao
que não pode ser vinculado, quanto ao mathesis universalis de Leibniz à
descontinuidade. A multiplicidade das figuras se reduz à posição e à ordem, a
história ao fato, as coisas à matéria. Com Bacon, entre os primeiros princípios
e os enunciados observacionais deve subsistir uma ligação lógica unívoca,
medida por graus de universalidade. De Maistre zomba de Bacon por cultivar “une
idole d`échelle”. A lógica formal era a
grande escola da unificação. Ela oferecia aos esclarecedores o esquema da
calculabilidade do mundo.
Bibliografia geral consultada.
COMETTI, Jean-Pierre, Robert Musil ou l`Altenative Romanesque. Paris: Presses Universitaies de France, 1985; VATAN, Florence, Robert Musil et la Question Anthropologique. Paris: Presses Univesitaire de France, 2000; MUSIL, Robert, O Homem Sem
Qualidades. São Paulo: Editora Nova
Fronteira, 1989; Idem, L`Homme sans
qualités. Tome II. Paris: Éditions Du Seuil, Coll. Points, n° 4, 2011
(1re Éditions 1954), 1300 páginas; SCHORSKE, Carl Emil, Viena fin-de-siècle -
Política e Cultura. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1988; KAFKA,
Franz, Carta ao Pai. Rio de Janeiro: Editora
Companhia das Letras, 1997; Idem, O
Processo. São Paulo: Editora 34, 2002; LEMAIRE, Gérard-Georges, “Iniciação
à Dor do Amor”. In: Kafka. Porto
Alegre: L & PM Editor, 2006, pp. 88 e ss.; BLOOM, Harold, Gênio - Os 100 Autores mais Criativos da História da Literatura.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2003; HANKE, Michael, “A Qualidade de O Homem sem Qualidades de Robert Musil”. In: Alceu, vol. 4, n° 8, pp. 128-140, jan./jun., 2004; WAISBERG, Maria Thereza, O Que Eu Me Tornei Para Mim Mesmo? O Homem sem Qualidades, e o Caráter Predatório da Modernidade Tardia. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; PINTO, Ana Maria de Souza Moraes, A Construção do Romance Moderno de Adolescência em Raul Pompeia e em Robert: em busca de uma leitura didática. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual paulista, 2010; CASTRO, Érica Gonçalves de, “Sobre o Ensaismo de Robert Musil”. In: Pandaemonium. São Paulo, n 17, julho/2011; pp. 103-117; GALVÃO, Pedro Alegre Pina, A Ética Negativa: Ensaio sobre o Homem sem Qualidades. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de janeiro, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).