sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Paul Lafargue & Laura Marx – Amor, Preguiça & Suicídio Altruísta.

                                                                                                       Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
 
Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos”. Paul Lafargue

                                          
Paul Lafargue representava o filho único de uma família de agricultores, com origem francesa da colonização dominicana e cubana. Tinha seis anos, quando saiu de Havana e foi para a França com seus pais. Estudou em Bordéus, e, mais tarde, em Toulouse. Finalmente, foi para Paris, onde cursou medicina, carreira que concluiu, mas que optou por não exercê-la. Enquanto estudante de medicina declara-se hic et nunc republicano, socialista, materialista e ateu, colaborando com o quem viria a ser o seu cunhado, Charles Longuet, na revista “Rive Gauche”.  Politicamente era positivista e proudhoniano. Em 1865, visita Marx, em Londres, e adere a Primeira Internacional. Continua os estudos, em Londres. No ano seguinte, é nomeado membro do Conselho Federal e, depois, é enviado para Espanha, como secretário. Conhece e casa-se, com a segunda filha de Marx, Laura, contrariando Marx, do ponto de vista anarquista, mas que será sua companheira e colaboradora ativista até à morte. Embora Lafargue tenha estudado medicina sofre a fatalidade da perda de três filhos  morrerem recém-nascidos.  
        Foi político, militante aparentemente comunista e escritor francês de origem cubana. “Paul Lafargue was born in Santiago, Cuba, on 16 June 1842, the son of a planter. His paternal grandmother was a mulatto from Santo Domingo, who fled from there during the French Revolution. His paternal grandfather was French, killed in the risings in Haiti. His maternal grandfather, Abraham Armagnac, was a French Jew and his maternal grandmother a Carib Indian. He was truly a born internationalist”. In 1851 his family took the young Paul to France, where he studied in the lycées of Bordeaux and Toulouse before taking up medicine in Paris. Genro e discípulo de Karl Marx. Nasceu a 5 de janeiro de 1842, em Santiago, Cuba. Morreu a 26 de novembro de 1911, em Draveil, Essonne, França.  Membro da Comuna de Paris, foi obrigado pelas autoridades governamentais a deixar a França, exilando-se na Inglaterra, onde se casou em 1868 com Laura Marx, filha de Marx. De volta à França, elegeu-se deputado por Lille.
Em 1880 fundou com Jules Guedes o Partido Operário Francês, tornando-se difusor das ideias de Marx. Sua obra consiste, sobretudo de “Le droit à la paresse”, escrita na prisão, onde exibe a dialética sobre as falhas do sistema capitalista; “La légende de Victor Hugo”; “Souvenirs”; “La religion du capital”; “Le communisme et l'évolution”; “Les trusts américains”; “La charité chrétienne”. Publicou o trabalho “Correspondence”, das cartas mantidas entre ele, Laura Marx e Friedrich Engels, e o livro póstumo “Critiques Littéraires”.  Vale lembrar que o ensaio “Le Droit à la Paresse” é um manifesto político escrito por Paul Lafargue que polemiza com as visões sociais de mundo liberais, algumas conservadoras e mesmo algumas marxistas do trabalho.
Sir Charles Spencer Chaplin, reconhecido como Charlie Chaplin (1889-1977), foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. E um dos atores mais famosos da chamada “Era do Cinema Mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo fortemente influenciado por um antecessor, o comediante francês Max Linder (1883-1925), a quem ele dedicou um de seus filmes. Sua carreira no ramo do entretenimento durou mais de 75 anos, desde suas primeiras atuações quando ainda era criança nos teatros do Reino Unido durante a Era Vitoriana quase até sua morte aos 88 anos de idade. Sua vida pública e privada abrangia adulação e controvérsia. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, Chaplin fora co-fundador da United Artists, uma Companhia fundada em 5 de fevereiro de 1919. D. W. Griffith nasceu em La Grange, Oldham County, Kentucky, filho de Jacob “Roaring Jake” Griffith, um colono do Confederate Army e herói da Guerra Civil Americana. Começou sua carreira como um próspero dramaturgo, mas não conseguiu sucesso global. Depois se tornou ator. Encontrando seu caminho no cinema, em pouco tempo dirigia um grande corpo de trabalho, levando Charles Chaplin a chama-lo de “o professor de todos nós”. Chaplin foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Um dos atores mais famosos da era do chamado “cinema mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”, sendo influenciado por seu antecessor, o comediante francês Max Linder (1883-1925), um extraordinário ator de cinema francês da chamada “era do cinema mudo”, o pai da primeira geração de comediantes do cinema norte-americano, a quem ele dedicou um de seus filmes.

                        

Seu principal e mais famoso personagem historicamente foi The Tramp, reconhecido internacionalmente como Charlot, na Europa, e igualmente reconhecido como Carlitos, ou “O Vagabundo”, entre nós, em análise comparada no caso do brasileiro. Consiste em um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um gentleman, usando “um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e – sua marca pessoal – um pequeno bigode-de-broxa”. Foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão estadunidense Samuel Reshevsky. Em 2008, em uma resenha do livro Chaplin: A Life, Martin Sieff escreve: - “Chaplin não foi apenas ´grande`, ele foi gigantesco”. Em 1915, ele “estourou” um mundo dilacerado pela guerra trazendo da comédia, risos e alívio enquanto ele estava se dividindo ao meio pela Primeira grande Guerra. Durante os próximos 25 anos, através da Grande Depressão e da infeliz ascensão do nazismo, ele permaneceu no emprego.

Ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam. O termo Sétima Arte, é usado para designar o cinema; foi estabelecido por Ricciotto Canudo no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911, embora tenha sido publicado apenas em 1923. Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da Sétima Arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelo governo britânico: “Cavaleiro do Império Britânico”, pelo governo francês: “Légion d`Honneur”, pela Universidade de Oxford: Doutor Honoris Causa e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América com o Óscar especial “pelo conjunto da obra”, em 1972.

Além de atuar, Chaplin dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente compôs a trilha sonora de seus próprios filmes, tornando-se uma das personalidades mais criativas e influentes em sua progênie da era do “cinema mudo”. Chaplin foi fortemente influenciado por um antecessor, como vimos o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Era canhoto, nasceu no dia 16 de abril de 1889, na East Street, Walworth, Londres, Inglaterra. Seus pais eram artistas de music-hall. Seu pai, Charles Spencer Chaplin, era vocalista e ator, e sua mãe, Hannah Chaplin, era cantora e atriz. Chaplin aprendeu a cantar com seus pais, os quais se separaram antes dele completar três anos de idade. Após a separação, Chaplin foi deixado aos cuidados de sua mãe, que estava cada vez mais instável emocionalmente. O censo de 1891 demonstra que sua mãe morava com Charlie e seu “meio-irmão” mais velho Sydney na Barlow Street, Walworth. Um problema de laringe finda a carreira da mãe de Chaplin.

A primeira crise de Hannah ocorreu em 1894 quando ela estava cantando no “The Canteen”, um teatro em Aldershot, geralmente frequentado por manifestantes e soldados. Além de “ser vaiada, Hannah foi gravemente ferida pelos objetos atirados pela plateia”. Nos bastidores, ela chorava e argumentava com o seu gerente. Enquanto isso, com apenas cinco anos de idade, o pequeno Chaplin subiu sozinho ao palco e cantou uma música popular da época, “Jack Jones” (cf. Chaplin, 1981). Seu pai, Charles, era alcoólatra e tinha pouco contato com seu filho, apesar de Chaplin e seu meio-irmão morarem durante um curto período de tempo com seu pai e sua amante, Louise, na 287 Kennington Road, onde há uma placa em homenagem ao fato histórico e social. Os “meios-irmãos” viviam ali, enquanto sua mãe, mentalmente doente, residia no Asilo Cane Hill em Coulsdon. A amante do pai de Chaplin enviou o menino para a Archbishop Temples Boys School. Seu pai morreu de cirrose no fígado quando Chaplin tinha doze anos, em 1901. De acordo com o censo de 1901, Chaplin residia na Streets 94 Ferndale Road, Lambeth. Após a mãe de Chaplin ter sido novamente admitida no Asilo Cane Hill, seu filho foi deixado, lamentavelmene, como de costume na porta de entrada em uma “casa de trabalho” em Lambeth, no Sul de Londres, mudando-se após várias semanas para a Central London District School, “uma escola para pobres em Hanwell”.

Os jovens irmãos Chaplin começaram um íntimo relacionamento, a fim de sobreviverem. Ainda jovens, foram atraídos para o music hall, e ambos provaram ter grande talento. A mãe de Chaplin morreu em 1928, em Hollywood, sete anos após ter sido levada de Londres para os Estados Unidos por seus filhos. Chaplin começou a trabalhar junto com Normand, que “dirigiu e escreveu vários de seus primeiros filmes”. Contudo, Chaplin não gostou de ser dirigido por uma mulher, e os dois discutiam frequentemente. Ele acreditava que Sennett pretendia demiti-lo caso houvesse um desentendimento com Normand. No entanto, seus filmes fizeram tanto sucesso que ele se tornou uma das maiores estrelas da Keystone. Kid Auto Races at Venice (1914), foi o segundo filme de Chaplin e historicamente a primeira “aparição” d`O Vagabundo. Foi no estúdio Keystone desenvolveu seu principal personagem: O Vagabundo, reconhecido como Charlot na França e no mundo francófono, na Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Romênia e Turquia, Carlitos no Brasil e na Argentina, e Der Vagabund na Alemanha.

Etnograficamente falando temos n`O Vagabundo a representação social, no sentido que empregam Berger & Luckmann (1985) e artística de um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro; aparece sempre vestindo um paletó apertado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, e um chapéu-coco; carrega uma bengala de bambu; e possui um pequeno bigode-de-broxa, como vimos. O público viu o personagem pela primeira vez no segundo filme de Chaplin, Kid Auto Races at Venice, lançado em 7 de fevereiro de 1914. No entanto, ele já havia criado o visual do personagem para o filme: Mabel`s Strange Predicament, produzido alguns dias antes, porém lançado mais tarde, em 9 de fevereiro de 1914. Os primeiros filmes de Chaplin no estúdio Keystone usavam a fórmula padrão de Mack Sennett, “que consistia em extrema comédia pastelão e gestos exagerados”. Do ponto de vista técnico-metodológico a pantomima de Chaplin foi mais sutil, sendo mais adequada para comédias românticas e “farsas domésticas”. As piadas visuais, no entanto, seguiam exatamente o padrão de comédia da Keystone. Em seus filmes, O Vagabundo atacava seus inimigos com chutes e tijolos. O público da época amou este novo comediante, apesar dos críticos alertarem que as travessuras beiravam a vulgaridade.

Paul Lafargue & Laura Marx em comício na Espanha. Logo depois, Chaplin se ofereceu para Dirigir e Editar seus próprios filmes. Durante seu primeiro ano no ramo do cinema, ele fez mal, comprando aos Laboratórios das universidades contemporâneas, “34 curtas-metragens para Sennett, assim como o longa-metragem Tillie! s Punctured Romance”. Assim, diz o irreprochável Chaplin quando da criação de seu “Vagabundo”: - “não tinha a menor ideia de como poderia me vestir. Não me gostava o disfarce de jornalista. Não obstante, enquanto me dirigia ao vestuário, me ocorreu por calças (pantalonas), um par de sapatos grandes, uma bengala e um chapéu (sombrero) longo. Queria que tudo parecesse uma contradição: as calças (pantalonas), abolsados (em forma de bolsa); a jaqueta, ajustada: os sapatos, grandes, e o chapéu, pequeno…” (cf. Chaplin, 1981: 233). Para Octavio Ianni (1989), é uma das mais extremas e cruéis sátiras sobre o Mundo Moderno. A Sociologia e a Modernidade surgem na mesma época, na mesma idade. Talvez se possa dizer que a revolução popular de 1848 despertou o Mundo para algo novo, que não havia sido ainda plenamente percebido. A multidão aparecia no primeiro plano, no horizonte da história. E aparecia como multidão, massa, povo e classe. A revolução de 1848 em Paris repercutiu em toda a França, na Europa e em partes do mundo. Via-se que a multidão se tornava classe revolucionária em conjunturas críticas. A metamorfose pode ser brusca, inesperada, assustadora, fascinante. Em Paris de 1848 viviam, trabalhavam, produziam e lutavam Tocqueville, Proudhon, Comte, Marx, Blanqui e Baudelaire. Na capital do século XIX, são os sinais de que a sociedade burguesa também é histórica, transitória, nascem a Sociologia e a Modernidade. É o herói solitário e triste de Charles Chaplin. 

Foi publicado no jornal socialista “L`Égalité” em 1880. Neste período, em Paris, a jornada de trabalho superavam as 12 horas diárias e por vezes estendendo-se até 17 horas. Lafargue denuncia a “santificação” do trabalho debochando dele como um “dogma desastroso”. Ele e Laura, numa atitude corajosa, temendo a decrepitude oriunda da velhice, fixaram em 70 anos a duração de suas existências. Assim, após 43 anos de vida em comum, ele com 69 anos, ela com 66 anos, anteciparam aquele projeto e, na noite de 26 de novembro de 1911, trancaram-se em sua imensa propriedade de Draveil e lá se suicidaram, injetando ácido cianídrico nas veias. Jenny Laura Marx, nascida em 26 de setembro de 1845 foi a segunda filha de Marx e Jenny von Westphalen. Em 1868 ela se casou com Paul Lafargue, nascido em Santiago de Cuba de família Franco-Caribenha, sob o nome de Pablo em 16 de junho de 1842, com quem passou a maior parte de sua vida na França, e um período extraordinário na movimentada Inglaterra e a anárquica Espanha de importantes movimentos sociais do ponto de vista da organização laboral.  
“Partisan du courant fondé par Jules Guesde, Lafargue portera durant les années 1890-1905 un socialisme intransigeant inspiré des sociaux-démocrates allemands et qui hésitera pas à égratigner ses camarades, et surtout Jean Jaurès, lorsque ceux-ci s'éloigneront de la ligne idéologique qu'il défend. Acteur de la vie politique française, il cherchera à rapprocher les thèses complexes de Marx des ouvriers, en vulgarisant le marxisme et en créant un corpus d`éléments de langage qui formeront la base du lexique de la “lutte des classes”. Il martela alors ces écrits, inlassablement, dans L`Humanité et les autres journaux de même obédience
            Nas notas sobre a figuração intelectual e paterna de Marx, apresenta-se da seguinte descrição na leitura de Paul Lafargue. Vi Marx, pela primeira vez, em fevereiro de 1865. Num comício do Saint Martin`s Hall acabava de fundar-se a Internacional. Eu chegava de Paris para tomar conhecimento dos progressos da novel organização. M. Toloin, hoje representante do Senado burguês e um de seus delegados na Conferencia de Berlim, dera-me uma carta de recomendação para ele. Eu tinha, então, 24 anos. Jamais esquecerei a impressão que me causou, desde os primeiros momentos em que o vi. Nessa época, achava-se Marx debilitado fisicamente. Trabalhava no primeiro volume de “O Capital”, ainda que o mesmo só aparecesse dois anos depois, isto é, em 1867.  Vale lembrar que Thorstein Veblen propôs um sistema de ciência econômica que teria por mote uma análise não teleológica, o que ele considerava o principal problema da ciência econômica como praticada no seu tempo.
Para tal ele buscou conceitos tanto na biologia evolutiva de Charles Darwin, como na psicologia dos instintos de William James, esta última uma teoria muito em voga no final do século XIX. Sua perspectiva é chamada de “institucionalista” em razão da grande ênfase que o autor de “A Teoria da Classe Ociosa” coloca sobre o que ele chamou de instituições. Na economia vebleniana, instituições são “hábitos, rotinas de conduta” bastante arraigadas num determinado momento histórico. Assim, por exemplo, a existência de uma classe de indivíduos que se abstêm do trabalho produtivo, a “classe ociosa”, é uma instituição. Outros exemplos de instituições são a propriedade absenteísta, ou seja, o hábito, bastante presente na economia capitalista, de o dono do negócio não ser exatamente quem cuida pessoalmente dele; a “financeirização” da riqueza, isto é, a representação do equipamento produtivo da sociedade através de “papéis”; e a emulação, que talvez seja o mais importante no livro: “A Teoria da Classe Ociosa”, que diz respeito ao hábito dos indivíduos de se compararem uns com os outros “invejosamente”, numa sociedade competitiva, ou, melhor dizendo, quando se coloca o desejo das pessoas de serem reconhecidas como “melhores” que os outros.
Temia não poder terminar a obra e procurava receber cordialmente os moços, a quem dizia: - “É preciso haver homens que continuem, depois de mim, a propaganda comunista”. Marx é desses seres insólitos, que ocupam o primeiro lugar na ciência e na vida publica. De tal maneira confinava com essas duas  atividades,  que  era difícil saber o que se projetava em primeiro lugar: se o homem de ciência ou o lutador socialista. Toda a ciência deve ser cultivada por si mesma e que nas investigações cientificas não há resultados passageiros ou eventuais, era de opinião que se o homem de ciência não queria ocupar um plano secundário deveria participar da vida publica, sem fazer do seu gabinete um esconderijo, nas lutas sociais e políticas.  - “Longtemps Lafargue fut un oublié du combat socialiste. Il faudra attendre les années 1930 avant que le Parti communiste ne le redécouvre et c`est par les Etats-Unis, et notamment un ouvrage de Leslie Derfler de 1991, que Lafargue redeviendra un objet d`histoire pour les historiens du socialisme. Marié à la fille de Marx, proche d`Engels, tantôt révolutionnaire, tantôt parlementaire, l`histoire de Lafargue est en peu celle du socialisme. En nous réappropriant ses correspondances et ses écrits, c`est une certaine tradition de la gauche française que l`on redécouvre et qui, dans le contexte des échéances à venir, fait écho à des réalités qui traversent la famille socialiste aujourd`hui”. 
Aos 69 anos de idade ele e Laura morreram juntos em um pacto de suicídio. Antes de morrer, Lafargue deixou uma carta, explicando o suicídio:  - “Estando são de corpo e espírito, deixo a vida antes que a velhice imperdoável me arrebate, um após outro, os prazeres e as alegrias da existência e que me despoje também das forças físicas e intelectuais; antes que paralise a minha energia, que quebre a minha vontade e que me converta numa carga para mim e para os demais. Há anos que prometi a mim mesmo não ultrapassar os setenta; por isso, escolho este momento para me despedir da vida, preparando para a execução da minha decisão uma injeção hipodérmica com ácido cianídrico. Morro com a alegria suprema de ter a certeza que, num futuro próximo, triunfará a causa pela qual lutei, durante 45 anos. Viva o comunismo! Viva o socialismo internacional!.!”. 
Ele também escreveu O Capital - Extratos, para facilitar o acesso popular à obra “O Capital”, de Karl Marx. Esses extratos também teriam sido elogiados pelo sogro. Muitos outros tentaram resumir a obra, especialmente o Livro Primeiro, devido ao fato que  Marx comentava que ou ficavam acadêmicos demais com a desvantagem de manter difícil a compreensão pela classe trabalhadora ou eram de uma linguagem acessível para a classe trabalhadora porém ainda mais pobres e mal interpretadas. – “Efectivamente, en 1911 tuvo lugar el trágico suceso que llenó de estupor y tristeza a los socialistas de todo el mundo. Pablo y Laura Lafargue se habían suicidado en su casita de Draveil, en la noche del 26 de noviembre, un gesto que sorprendió a toda la militancia socialista internacional. La entrañable pareja, después de haber pasado todo el sábado en París se habían dirigido a su casa en Draveil. Conversaron con humor, dirían el jar­dinero Ernest Doucet y su familia, de la jornada realizada. Laura y Pablo habían estado en un cine. Sabían cuan cerca se hallaba la muerte y eso no desfiguraba la serenidad y alegría familiar. Doucet a la ma­ñana siguiente, inquieto por lo tarde que era dada la espartanas costumbres de la pareja, golpea la puerta, como no responde nadie, la abre él mismo, y se encuentra a Paul y Laura ya sin vida. Él permanecía extendido y vestido en su habitación. En la habitación con­tigua, Laura sentada en una butaca, también estaba muerta”.
Historicamente há dois tipos de causas extrasociais às quais se pode atribuir a priori uma influência sobre a taxa de suicídios: as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do meio físico. Poderia ocorrer que, na constituição individual ou pelo menos, na constituição de uma classe importante de indivíduos, houvesse uma propensão, de intensidade variável conforme os países, que arrastasse diretamente o homem ao suicídio; por outro lado, o clima, a temperatura, etc., poderiam pela maneira como agem sobre o organismo, ter diretamente os mesmos efeitos. As hipóteses, em todo caso, sustentadas por Émile Durkheim e validadas para os dias atuais é que grande número de mortes voluntárias não entram em nenhuma dessas categorias; a maioria delas tem motivos que não deixam de ter fundamento na realidade.
Vale lembrar que não se pode, sem fazer mau uso das palavras, considerar todo suicida um louco. Mas de todos os suicídios o que parece mais difícil de discernir que se observam nos homens são os de “espírito melancólico”; pois, com muita frequência, o homem normal que se mata também se encontra num estado de abatimento e de depressão, exatamente como o alienado. Mas sempre há entre eles a diferença essencial de que o estado do primeiro e o ato resultante dele não deixam de ter causa objetiva, ao passo que, no segundo, não têm nenhuma relação com as circunstâncias exteriores. Para Durkheim, nas situações de degredo, como ocorre nas prisões e nos regimentos, há um estado coletivo de formação da consciência coletiva que inclina os soldados e os detentos ao suicídio, diretamente quanto o pode fazer a mais violenta das neuroses. O exemplo é a causa ocasional que faz manifestar-se; mas não é aquele que o cria, e, se o impulso não existisse, o exemplo seria inofensivo. Uma observação sociológica pode servir de corolário. Mas não se enganem o suicídio é uma manifestação de amor.
Em filosofia, metodologicamente “Absurdo” se refere ao conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida. Ou, a inabilidade humana para encontrar algum significado. Nesse contexto “absurdo” não significa, “logicamente impossível”, mas sim “humanamente impossível”. O universo e a mente humana não causam separadamente o Absurdo. Mas é o Absurdo que surge pela natureza humana contraditória de ambos existindo simultaneamente. Esta filosofia está relacionada ao existencialismo de Sartre e ao niilismo de Nietzsche, ainda que não deva ser confundido com estes. “Absurdismo”, portanto, como conceito tem suas raízes no século XIX com o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Já como sistema de crença nasceu do movimento existencialista quando o filósofo e escritor francês Albert Camus rompe essa linha filosófica e publica seu manuscrito “O mito de Sísifo”. As consequências da 2ª grande guerra proporcionaram um ambiente  propício para visões “absurdistas”, em especial na devastada França, como as de Emil Cioran.           
O absurdo no ensaio: “Le Mythe de Sisyphe” é considerado um ponto de partida. Trata-se de uma sensibilidade, não de uma filosofia do absurdo. O autor diz isso em parte do prólogo: - “aqui se encontrará unicamente a descrição, o estado puro de uma doença do espírito. Nenhuma metafísica, nenhuma crença foi misturada a isso por enquanto”. Sem lugar a dúvidas, “O mito de Sísifo” é a obra capital do absurdo. Assim como fez Jean-Paul Sartre, ao publicar em 1943 o ensaio “O ser e o nada”, onde tenta exibir a tese da novela “A náusea” (1938), Camus publica o ensaio em que tenta resolver os problemas propostos em sua narração “O estranho”, ambos de 1942. Um dos aspectos relacionados por estudiosos a este ensaio de Camus é o tema do suicídio. Foi analisado magistralmente por Émile Durkheim, mas para Camus, especialmente em sua primeira parte: “Um raciocínio absurdo”. A resposta que Camus tenta diante deste problema, refere-se a um trabalho sobre o sentimento do absurdo, sua gênese, seu conteúdo. Desenvolve o conceito do tempo, como inimigo, para entender a ilogicidade do mundo. O espectro da morte como uma certeza do absurdismo. Bibliografia geral consultada.

ENGELS, Friedrich, Paul et Laura Lafargue. Correspondance. Textes recueillis, annotés et présentés par Émile Bottigelli. Traductions de l'anglais par Paul Meier. Tome II. Paris: Éditions Sociales, 1956; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos Marx (1855-1883): Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; HARDMAN, Francisco Foot, “Introdução: Trabalho e Lazer no Movimento Operário”. In: LAFARGUE, Paul, O Direito à Preguiça: A Religião do Capital. 3ª edição. São Paulo: Editora Kairós, 1983, pp. 13-20; ELIAS, Norbert, A Busca da Excitação. Lisboa: Difusão Europeia do Livro, 1992; CHAUÍ, Marilena, Introdução de O Direito à Preguiça de Paul Lafargue. São Paulo: Editora Hucitec/Editora da Universidade Estadual Paulista, 1999;  DE MASI, Domenico; MAERK, Johannes, “El Derecho a la Pereza”, de Paul Lafargue. In: Revista Mexicana del Caribe. México. Ano 5, n° 9, pp. 229-237, 2000; DE MASI, Domenico, A Economia do Ócio. Rio de Janeiro: Editor Sextante, 2001;  ALBORNOZ, Suzana Guerra, “Sobre O Direito à Preguiça de Paul Lafargue”. Disponível em: Cad. psicol. soc. trab. Vol. 11 n° 1. São Paulo jun. 2008; DURKHEIM, Émile, O Suicídio. Estudo de Sociologia. 2ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011; GUTIÉRREZ-ALVAREZ, Pepe, “La Muerte Escogida de Paul Lafargue y Laura Marx”. Disponível em: http:kaosenlared.net./22/10/2012; LAFARGUE, Paul, La Religion du Capital, suivi de Le Droit à la Paresse, et de Pie IX au Paradis. Paris: Éditions Théolib, 2014; MARX, Karl, Sobre o Suicídio. São Paulo: Editorial Boitempo, 2015; ARAUJO, Ana; AMARANTE, Roger, Que terrível: Karl Marx é o economista mais indicado nas escolas de Economia dos Estados Unidos. In: Crítica Semanal da Economia Política, fev. 2016; entre outros. 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Impostor – Cinema, Criação Artística & Aniquilamento Social.

                                                                                                             Ubiracy de Souza Braga*

    “O amor dos jovens não está no coração, mas nos olhos”. William Shakespeare                                           


O impostor no âmbito da filosofia nos remete à Sócrates quando percebeu que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância que tem como referência o princípio da sabedoria. Seu estilo de vida assemelhava-se ao dos Sofistas, embora não vendesse sua “capacidade de potência” enquanto ensinamentos. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era afastar, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber. A primeira referência ocidental de um discurso sobre a arte encontra-se na obra de Platão. Seu discurso e a metafísica tem o objetivo de assegurar o conhecimento da verdade. Ao identificar o que o artista pode representar percebemos o reconhecimento da arte e o perigo que representa entre a cópia e a imitação nos possibilitará pensar o conceito moderno de arte. A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que a maiêutica revela nos discípulos suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências, perguntas e respostas destruíam o falso saber. Os discípulos, libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias ideias. Com isso, é preciso esclarecer qual é esse sentido corrente, extraindo-o de textos e documentos representativos daquele período. 
            Possivelmente se obterá como resposta que há emprego desse vocabulário com a intenção de expressar o simples. E de fato “fazer a mesma coisa” que faz aquele ou aquilo que é imitado. Sem com isso ser preciso referir-se a qualquer forma de produção técnica específica. O significado de um artefato, segundo a interpretação de Alöis Riegl, é conexo com a estrutura mental abstrata que definirá o reconhecimento da obra de arte como tal. Analogamente se referem a unidades de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos sociais de uma mesma “conexão geracional” lidam com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. Karl Mannheim não esconde sua preferência pela abordagem histórico-romântica alemã e destaca ainda que este é um exemplo bastante claro de como a forma de se colocar uma questão pode variar de país para país, assim como de uma época historicamente determinada para outra socialmente inclusiva.       
              Marca é a representação de uma entidade, qualquer que seja ela, objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria social da comunicação, pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. Uma simples palavra pode referir uma marca. O termo é frequentemente usado hoje em dia como referência a uma determinada empresa: um nome, uma marca verbal, imagens ou conceitos que distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é comum estar se referindo, na maioria das vezes, a uma representação gráfica no âmbito e competência do designer gráfico, onde a marca pode ser representada graficamente por uma composição de símbolo e/ ou logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto, o conceito de marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica. Marca não é um conceito fácil de definir. A marca em essência representa produção-consumo com uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. A garantia surge com a marca que é um símbolo mais complexo. Um artefato é conexo à estrutura mental que definirá o reconhecimento da obra de arte.      
 
         Em que pese a grande influência do esteticismo, cujo corolário apareceria no início do século XX na forma do abstracionismo, uma apoteose do individualismo artístico, houve correntes que o combateram. Hippolyte Taine elaborou uma teoria de que a arte tem um fundamento sociológico, aplicando-lhe um determinismo baseado na raça, no contexto social de seu tempo. Jean Marie Guyau apresentou uma perspectiva evolucionista, afirmando que a arte está na vida e evolui com ela, e assim como a vida se organiza em sociedades, a arte deve ser um reflexo da sociedade que a produz. A estética sociológica teve associações com os movimentos políticos de direita, assim como de esquerda, especialmente o socialismo utópico, defendendo para a arte o retorno a uma função social, contribuindo para o desenvolvimento das sociedades e da fraternidade humana, como se percebe nos trabalhos de Saint-Simon, Leon Tolstoi e Pierre Joseph Proudhon, entre outros. John Ruskin que dá ênfase a sensibilidade subjetiva e emotiva em contraponto com a razão e William Morris, por exemplo, combateram a banalização da arte causada pelo esteticismo e pela assunção da era industrial, e defenderam a volta ao sistema corporativo e artesanal medieval. 


  O impostor no âmbito da teoria política releva o conceito de bonapartismo. Trata-se de uma ideologia política de origem francesa e alemã, inspirada pela maneira que Napoleão Bonaparte governou. Em nossos dias, como ocorreu com o golpe de Estado de 2016 no Brasil, o conceito bonapartismo/impostor é frequentemente usado para definir um tipo de governo em que o Poder Legislativo perde força e o Executivo se fortalece. No modelo bonapartista, o governante quer ser um ditador, mas objetiva construir uma imagem carismática de um representante popular. Esse tipo de sistema se instala quando nenhuma classe social ou casta representativa tem poder suficiente para ser hegemônico, deixando a um líder suficientemente habilidoso o poder de realizar  as mediações entre as diversas forças sociais através de um golpe de Estado. Além de Napoleão III, o 1º Presidente da Segunda República Francesa e, depois, Imperador dos Franceses do II Império Francês. Era sobrinho e herdeiro de Napoleão Bonaparte. Foi o primeiro presidente francês eleito por voto direto, mas comparativamente, Bismarck na Alemanha é outro exemplo histórico de bonapartismo. 
       A lógica instrumental passa a nortear as relações sociais, políticas e, sobretudo na reprodução das relações econômicas quando o olhar em relação ao outro passa por uma operação de outra ordem: a formalização da razão em um meio social que propaga o constructo da irracionalidade. A tensão entre fato social e fator, aparência e realidade, substância e atributo, tende a fluir na aparência das coisas. Os elementos de demonstração, de descoberta, de autonomia e de crítica retrocedem diante da imitação, da asserção e da designação. A visão é invadida por elementos autoritários, mágicos e rituais, de modo que a locução é destituída das mediações que são as fases do processo de avaliação e de cognição. Os conceitos que compreendem os acontecimentos, e desse modo transcendem, estão mergulhados na falta de uma genuína representação sociológica. Privada de tais mediações complexas, a ideologia tende a promover e a expressar - através da interpelação e constituição do sujeito - a identificação imediata da verdade e da verdade estabelecida, da razão e do fato, da coisa objetificada na relação e de sua função, da aparência e da existência.           
    Falar de um sentido analógico ou metafórico de imitação seria ainda conferir ao termo, em alguma medida, função técnica e não simplesmente utilitária e corrente na modernidade. E a intenção fortemente crítica a respeito da ideia de imitação que predomina não deveria inviabilizar necessariamente a manutenção de um sentido para essa mesma ideia que pudesse preservar aquele tipo de imitação que ainda será possível aos guardiões praticar, desde que se possa perceber, no caso do especialista, a distinção e eleição do estilo que mistura a apropriação do olhar na perfeição estética e artística da pequena parte de imitação. Temos assim a chave para uma fundamental distinção entre um mau sentido de imitação, o tradicional, que estava em questão quando começou sua investigação e sob o qual se propunha a “primeira tipologia”, e um bom sentido de imitação, não literal e analógico, presente na “segunda tipologia”, que a cidade deverá acolher e adotar em sua historicidade como um símbolo permanente, representativo de fertilidade, riqueza e abundância. A distinção entre imitação e cópia pode ser um debate, e no caso em questão não parece ser relevante ir além da noção tradicional (platônica) de que a imitação é um processo de reprodução menos exato do que a cópia. Entretanto, Platão julga a arte como imitação, capaz de enganar, uma vez que a realidade sensível já é uma imitação do inteligível. A arte afasta ainda mais do real, pois imita a cópia. A imitação da cópia é o que Platão chama de Simulacro, que introduz uma desmedida maior do que a própria existência do mundo natural. 
 
                                                                                  
Na mitologia greco-romana era representada por um vaso em forma de chifre, com uma abundância de frutas e flores se espalhando dele. Também simboliza a agricultura e o comércio, além de compor o símbolo das ciências econômicas com a reprodução do trabalho humano. O seu significado provém da cabra Amalteia (ninfa do Olimpo) que na mitologia greco-romana amamentou Zeus/Júpiter enquanto criança. No mundo contemporâneo essa palavra é utilizada como sinônimo de abundância, repetição fálica globalizada, porém está sendo esquecida por seu estilo rebuscado, originário e antigo. O próprio chifre é um símbolo fálico, representante do sagrado masculino. O sagrado masculino trouxe a desmistificação da trajetória de criação a que os homens são submetidos,  de outra forma de olhar seu papel no mundo, família, sociedade e principalmente, como indivíduo. E, como a cornucópia remete a um chifre, é uma representação mais utilizadas do Deus Cornífero nas religiões pagãs e neopagãs. O seu interior simboliza o útero representado a Deusa e quando pleno de alimentos simboliza a generosidade da terra em fertilidade, representando o sagrado feminino.  
  A lógica instrumental passa a nortear as relações sociais, políticas e, sobretudo, na reprodução de relações econômicas quando o olhar em relação ao outro passa por uma operação de outra ordem, formalizando a razão em um meio social que propaga o constructo da irracionalidade. A dificuldade de se definir crenças irracionais encontra-se diretamente relacionada à maneira de estudá-las empiricamente. A relação entre aparência e realidade não é problemática, pois a aparência é a representação das coisas a nós. Ao aparecerem a nós, as coisas se apresentam, de modo que, havendo aparência, usualmente há algo que aparece. As coisas podem se apresentar diretamente, ou através de indícios ou sintomas, ou pode ser apresentada uma propriedade que a coisa não tem. A tensão entre fato social e fator, aparência e realidade, substância e atributo, tende a fluir na aparência das coisas. Os elementos de demonstração, de descoberta, de autonomia e de crítica retrocedem diante da imitação, da asserção e da designação. A visão é invadida por elementos autoritários, mágicos e rituais, de modo que a locução é destituída das mediações complexas que são fases do processo de avaliação e de cognição. Conceitos que compreendem os acontecimentos, e desse modo os transcendem, estão mergulhados na ausência de uma genuína representação sociológica.
         Privada de mediações, a ideologia tende a promover a identificação da verdade e da verdade estabelecida, da razão e do fato, da coisa e de sua função, da aparência e da existência humana. Como contraponto à correlação da sociedade em relação ao indivíduo, materializada no poder dominante que exercem uns sobre os outros, em termos econômicos e/ou devido ao lugar que ocupam na hierarquia das instituições, do trabalho e na reprodução material da existência cabe ao indivíduo refletir sobre seu próprio condicionamento social. E neste sentido refletir sobre o conceito de identificação, em uma época em que a ciência e a tecnologia se converteram em forças produtivas, como sabemos, pode contribuir para o desvelamento das injustiças sociais inclusivas, ao aspecto contraditório do termo progresso. Contudo, enquanto a história real se desenvolveu a partir de um sofrimento real, que de modo algum diminui proporcionalmente ao crescimento dos meios para sua eliminação, a concretização desta perspectiva depende da criação. Pois ela é não somente, enquanto arte/ciência serve para distanciar os homens da natureza, mas enquanto tomada de consciência do próprio pensamento que, sob a forma da ciência, permanece preso à dinâmica processual de apropriação da economia, o que permite medir a distância niveladora das injustiças sociais.
Enfim, o bonapartismo foi essencial na eleição de Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão, como Presidente da Segunda República, e lhe deu o apoio político necessário para, em 1852, descartar a constituição e proclamar o Segundo Império. Em 1870, Napoleão III levou a França a uma derrota desastrosa diante da Prússia na Guerra Franco-Prussiana; na seqüência, abdicou. Depois, os bonapartistas continuaram a agitar para que outro membro da família fosse colocado no trono, competindo, a partir de 1871 em diante, com outros grupos monarquistas: os orleanistas, que favoreciam a restauração da Casa de Orleans, à qual pertencera Luís Filipe, rei da França de 1830 a 1848 - e os legitimistas, que pretendiam a restauração da Casa de Bourbon, a família real francesa tradicional. O bonapartismo é uma ideologia e um culto a personalidade de origem francesa e alemã, inspirada pela maneira que Napoleão Bonaparte governou. Durante o longo processo da Revolução Francesa, em 1799, com um golpe militar, Napoleão Bonaparte tomou o poder na França. Logo em seguida foi instituído o Consulado e ele se tornou primeiro-cônsul. Em 1802, foi proclamado cônsul vitalício e, dois anos depois, ele se autoproclamou imperador. Em nossos dias, é frequentemente usada para definir sociologicamente um tipo idela de governo em que o Poder Legislativo perde força e o Executivo cada vez mais se fortalece.

 
A força social dessas três facções monarquistas era muito provavelmente maior que a dos republicanos, naquele período histórico exemplar, mas como as três provaram ser irreconciliável na escolha de quem deveria ser o novo monarca francês, o fervor monarquista afinal arrefeceu e a República francesa tornou-se uma característica mais ou menos permanente na vida francesa. O bonapartismo lentamente foi relegado a ser a fé cívica de uns poucos românticos, mais um diletantismo do que uma filosofia política prática. O golpe de morte para o bonapartismo provavelmente foi dado quando Eugênio Bonaparte, o único filho de Napoleão III, foi morto em ação enquanto servia como oficial do Exército Britânico na Zululândia, em 1879. O “18 Brumário” foi um golpe de Estado comandado por Napoleão Bonaparte na França. No calendário revolucionário francês, este dia ocorreu em 18 de Brumário do ano IV, em 9 de novembro de 1799 no calendário gregoriano. Através deste golpe, Napoleão colocou fim ao Diretório e iniciou a ditadura na França. Após a queda do Diretório, foi criado o Consulado e Napoleão se tornou o primeiro-cônsul da França, governando com poderes absolutos. Mesmo com uma grande instabilidade na França, Napoleão recebeu apoio da burguesia que defendia a pacificação do país e gerar um ambiente de ordem.
Os políticos do Diretório deram a Napoleão o apoio necessário e propuseram o uso da força militar para que ele assumisse o governo. No Brasil o golpe de Estado de 2016 revela: a)  um impostor e a assustadora oportunidade de levar ao conhecimento do Judiciário; b) os meios de prova através dos quais pretendem demonstrar a veracidade das suas precárias alegações; c) acerca dos pontos controvertidos do processo político de destituição da presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff,  do Partido dos Trabalhadores (PT) sem comprovação de crime de responsabilidade, que juridicamente representa uma ação ilícita cometida por um agente político. Após julgamento, o político pode perder seu cargo, bem como a inabilitação para cargos públicos no futuro.  Só a um impostor é possível este ato de criação e aniquilamento da verdade diante das transformações políticas no âmbito da modernidade. O Art Loss Register, banco de dados internacional que acompanha os casos de obras de arte roubadas, registra atualmente mais de 300 mil obras furtadas no mundo – e este número cresce a um ritmo de 10 mil novos casos por ano. O mercado negro das artes pode ser muito lucrativo – apesar da dificuldade de revender obras sem atrair atenção, os valores milionários fazem que muitos ladrões tentem a sorte. Os mercados negros florescem na maioria dos países durante as guerras. A maioria dos estados acoplados dentro de uma guerra total ou outras guerras em grande escala prolongada devem necessariamente impor limitações no uso doméstico dos recursos críticos que necessitam para o esforço contínuo da guerra, tal como alimento, combustível, borracha, metal, entre outros.
 Na maioria dos os casos, um mercado negro fornece bens racionados em preços exorbitantes. Racionando e controlando o preços em muitos países durante a segunda guerra mundial a atividade difundida incentivada do mercado negro. Um exemplo clássico de regulação que criou mercados negros foi a proibição do álcool nos EUA. De forma similar quando as leis de proibição desaparecem, dissolvem-se os mercados negros; que é o motivo pela qual as regiões em que ocorreu a legalização da Cannabis estarem experimentando uma extinção de seus mercados negros que abasteciam essa demanda. Começando no século XIX e século XX, muitos países começaram a proibir a posse ou o uso de várias drogas recreacionais, tal como os Estados Unidos e a famosa guerra contra as drogas. Muitos povos continuam a usar drogas ilegais, e um mercado negro existe para fornecê-las. Apesar dos esforços da lei para interceptar fontes ilegais de droga, a demanda remanesce elevada, fornecendo um motriz de lucro grande para que gangues assegurem-se de que as drogas estejam disponíveis. Quando há esforços da lei para capturar uma pequena parte dos distribuidores de drogas ilegais, a elevação do risco e a demanda muito inflexível para tais drogas asseguram-se de que os preços de mercado negro se levantem, pois distribuidores novos incentivam a incorporação do mercado a um ciclo perpétuo.Roubar e revender objetos de arte são um crime comparativamente não só aos olhos da lei, mas também aos da cultura, que perde obras de imprescindível e real valor subjetivo e objetivo para a humanidade. Os artefatos roubados são caros porque retém valor de culto e de exposição. O roubo envolve uma ampla rede transnacional de trafico de mercadorias eficazmente poderosa e com muito dinheiro. Geralmente este tipo de crime é encomendado, pois os agentes que o praticam já sabem muito bem o que querem roubar e exatamente para quem vai vender. Além do roubo, receptar objetos de arte roubados ou qualquer objeto roubado também é crime. 
Bibliografia geral consultada.

RUSSELL, Bertrand, Significação e Verdade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1973; DELEUZE, Gilles,  Cinéma II: l` Image-temps. Paris: Éditons Minuit, 1985; ACHCAR, Francisco, “Platão contra a poesia”. In: Revista da USP (8): 151-158, dez-fev., 1991; ANNAS, Julia, Introduction à la Republique de Platon. Paris: Presses Universitaires de France, 1994; PEIXOTO, Maria Inês Hamann, Relações de Arte, Artista e Grande Público: A Prática Estética Educativa numa Obra Aberta. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade de Campinas, 2001; LOPES, Luiz Manoel, “Teoria do Sentido em Deleuze”. In: An. Filos. São João del-Rei, n°10, pp. 203-220, jul. 2003; VATTIMO, Gianni, El Sujeto y la Mascara. Barcelona: Editorial Península; 2003; ARALDI, Clademir Luís, Niilismo, criação, aniquilamento. São Paulo: Editora Unijuí, 2004; DAMIÃO, Carla Milani, Sobre o Declínio da Sinceridade. São Paulo: Editora Loyola, 2004; ANDRADE, Daniel Pereira, Nietzsche: A Experiência de Si como Transgressão. São Paulo: Editora Annablume, 2007; GALARD, Jean, A Beleza do Gesto: Uma Estética das Condutas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008; MARX, Karl, Il Diciotto Brumaio di Luigi Bonaparte. Milano: Edizioni Lotta Comunista, 2010; PALMA, Alexandre, A Arte Contemporânea e Ética: Concepções de Professores Atuantes na Formação de Artistas Visuais no Ensino Superior. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; RIORDAN, Rick, Os Heróis do Olimpo - A Marca de Atena. 1ª edição. São Paulo: Editora Intrínseca, 2013; SCHMITT, Michele, Plágio no Brasil: Entre o Modelo, a Cópia e a Autoria. Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2015; entre outros.  
________________
 
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

sábado, 24 de setembro de 2016

Destruição de Nalanda – Legitimidade & Prestígio Social na Antiguidade.

                                                                                                             Ubiracy de Souza Braga*
 
              “O mestre que não sabe se deixar ultrapassar por um aluno é um mestre ruim”. Józef Elsner

A Toscana é uma região no centro da Itália. A capital, Florença, abriga algumas das obras de arte e arquitetura renascentistas mais reconhecidas do mundo, como a estátua de Davi, de Michelangelo, as obras de Botticelli na Galleria degli Uffizi e a Catedral Santa Maria del Fiore, o Duomo. Sua paisagem natural diversificada abrange os montes Apeninos, as praias da ilha de Elba no Mar Tirreno e os vinhedos e oliveiras de Chianti. Em uma visão globalizada a primeira universidade a seguir o conceito moderno surgiu na Ásia, durante o século V, e ficou reconhecida como a universidade de Nalanda, em Bihar, Índia. Nela viveu o filósofo budista Nagarjuna. Durante sua existência chegou a contar com mais de 10.000 estudantes e 1.500 professores. Os cursos de estudo incluíam escrituras das escolas Mahayana (novas) e antigas, textos brahmânicos como os Vedas e temas seculares como hetu-vidya (lógica), sabda-vidya (gramática), chikitsa-vidya (medicina), sadagama-kala, escultura, kosa, pintura, metalurgia e silpa-sastra. A Universidade tinha três grandes bibliotecas: Ratnasagara, Ratnaranjaka e a Ratnodadhi de 9 (nove) andares.  O currículo dessa universidade, invejável, extenso, envolvia Teologia, Filosofia, Matemática, Astronomia, Alquimia e Anatomia. Seus filósofos budistas promoviam debates filosóficos envolvendo diversos temas. Em 1193, a universidade foi saqueada por usurpadores muçulmanos. Quando o tradutor tibetano Chak Lotsawa Chöjé Pal (1197-1263/64) em 1235 encontrou-a em parte destruída, mas funcionando com um extraordinário e talentoso número de monges

                   
A destruição de Nalanda assim como de templos e monastérios no norte da Índia, onde havia centros de estudos, é considerado por notáveis historiadores como a causa do súbito desaparecimento do antigo e importante pensamento científico indiano. O primeiro relato etnográfico europeu sobre as ruínas de Nalanda foi realizado por Buchanon-Hamilton, o qual visitou o lugar no primeiro quarto do século dezenove. Mas foi somente a partir de 1860 que Alexander Cunningham identificou o local e a região como sendo a do antigo Nalanda e que chamou a atenção do “mundo da arqueologia” para a importância do sítio arqueológico. Alguns anos mais tarde, A.M. Broadley procedeu algumas escavações não sistemáticas no sítio Chaitya e publicou uma monografia sobre o lugar (1872). O “Archaeological Survey of India” escavou o local por vinte anos, começando em 1915-16. Muito ainda resta a ser escavado. Nalanda é um dos maiores sítios arqueológicos da Índia.  Representa e simboliza padrões no reino de conhecimento da erudição, especulação filosófica e “sadhana” espiritual. Seu nome é suficiente para evocar uma imagem brilhante presente na psique indiana e buddhistas. A herança de Nalanda representa o rejuvenescimento das tradições de erudição, compreendidas do dharma e sadhana. Ela pode uma vez mais difundir o religioso e espiritual entre os países da Ásia. 

           
A famosa Universidade Budista Nalanda reabriu as suas portas em 2014, no estado indiano de Bihar, localizado a cerca de 10 km de onde a instituição original foi construída há 800 anos, quando foi destruído por um rei turco. Com o apoio anterior de dezesseis países asiáticos, a Índia aprovou uma lei em 2011 para criar esta “instituição internacional de estudos intelectuais, filosóficos, históricos e espirituais”. A nova Nalanda mantém a memória do primeiro, criado no século V e transformou-se na principal instituição de conhecimento do mundo, com cerca de 10.000 alunos. Selecionada a partir de um milhar de candidatos, quinze estudantes vão começar a recuperar o esplendor perdido de antigos Nalanda à mão de onze professores. No entanto, cada uma das duas disciplinas que compõem o novo centro e Ecologia e História aceita um máximo de vinte alunos, de modo que o processo de seleção permanece em aberto. A reabertura do Nalanda responde ao desejo dos membros da Cúpula do Leste Asiático de reforçar os seus laços através da educação e aprofundar o entendimento mútuo da sua herança histórica e teológica. Para isso, conta entre seus alunos com um reitor de universidade no Butão e um médico em Estudos Budistas, e os professores dos Estados Unidos da América e Cingapura.

       Apesar do modelo de organização variar de instituição para instituição, quase todas as universidades dispõem de alguns órgãos centrais comuns, como um reitor, chanceler ou presidente, um conselho de curadores, um senado universitário e decanos das várias unidades orgânicas. O provimento destes órgãos varia conforme o estatuto da instituição, indo desde a nomeação por uma autoridade superior à eleição pelos próprios membros da universidade.  Decano é um termo latino que, em latim tardio, significou Chefe de dez. Originou-se no exército romano tardio e passou a ser usado posteriormente para os funcionários subalternos no Império Bizantino, bem como para diversos cargos na Igreja, de onde deriva o título “deão”, “decano”. É, por definição, um dignitário capitular que preside ao cabido, em razão da sua precedência por idade. Costumamos chamar Deão ou Decano ao cônego mais idoso da Diocese. Além de ser um posto acadêmico e uma posição canonical, o deão é um dos cônegos escolhido pelo seu bispo, a quem é confiada “uma autoridade determinada e especial nas atividades pastorais específicas da sua Diocese”. Os Cânones estabelecem que o deão deve desempenhar o papel de auxiliar e conselheiro do clero da zona da sua Diocese, especialmente no desempenho da sagrada Liturgia e assistir-lhes espiritualmente nas suas doenças.
          Nalanda foi um centro de estudos budistas na Índia, do século V ao século XII. De acordo com fontes tibetanas, Nagarjuna ensinou lá. Nalanda foi uma das primeiras universidades a aceitar alunos residentes, que lá moravam. Durante sua existência chegou a contar com mais de 10.000 estudantes e 1.500 professores. Em 1193, a Universidade de Nalanda foi saqueada por invasores muçulmanos. Quando o tradutor tibetano Chag Lotsawa a visitou em 1235 encontrou-a em parte destruída, mas ainda funcionando com um pequeno número de monges. Nalanda etimologicamente significa aquele que dá conhecimento. A destruição de Nalanda assim como de templos e monastérios no norte da Índia, onde havia centros de estudos, é considerado por vários historiadores sociais como a causa do súbito desaparecimento do antigo pensamento científico indiano nas áreas de Matemática, Astronomia, Alquimia e Anatomia. Restam algumas ruínas de Nalanda, que hoje não é mais habitada. Em 1951, um centro de budistas Pali (Theravada) foi fundado perto de Nalanda, o Nava Nalanda Mahavihara.

O Museu de Nalanda contém preciosos manuscritos encontrados por escavações. Foi inscrito como Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2016 por: testemunhar o desenvolvimento do Budismo em uma religião e o florescimento de tradições monásticas e educacionais.  Tradicionalmente o deão substituía o bispo nas zonas rurais ou mais regiões mais afastadas e era reconhecido per se como o Vigário Forâneo. Vigário forâneo, também chamado vigário da vara, ouvidor ou arcipreste, é o sacerdote nomeado, por determinado prazo, pelo bispo diocesano para estar à frente duma vigararia ou arciprestado, tendo como atribuições: animar e coordenar as atividades pastorais comuns; acompanhar os clérigos na sua vida e exercício de suas funções; velar pela correção das expressões litúrgicas, pelo tratamento dos livros paroquiais e alfaias, e pela boa administração dos bens eclesiásticos. Hoje, os papéis de reitor e vigário são essencialmente os mesmos. Qual dos dois títulos é detido pelo pároco é histórico. Algumas paróquias têm um reitor, outras, em sua maioria tem apenas um  vigário. Nos Estados Unidos da América, as posições de vigário e reitor não são reconhecidas nos cânones de toda a igreja. No entanto, alguns cânones diocesanos definem vigário como o sacerdote encarregado de uma missão; e curate é frequentemente usado para assistentes, sendo totalmente análogo à situação inglesa.

   
Recentemente, o Deão é também conhecido como o Vigário Urbano, escolhido como urbano ou metropolitano das zonas distritais da Diocese ou Arquidiocese. Em Portugal, o Deão era a primeira dignidade depois da pontifical, nas Igrejas-Catedrais e também nas das Colegiadas, embora o presidente do cabido das Colegiadas portuguesas tivesse o nome de Prior. Segundo alguns autores, o nome Deão ou Decano teria origem na regra de S. Bento, bem como nos cabidos e cônegos regulares, a viverem em comum, do tempo de Carlos Magno. Deão ou decano designaria o Superior religioso com dez monges a seu cuidado. Segundo outros, há de ir buscar-se a sua origem à Instituição militar dos Decuriones. Deão ou decano são termos que se empregavam ainda para designar o presidente de cada uma das subdivisões dos arcediagos das Dioceses com os chamados Deãos Rurais. No século IX, em alguns cabidos tinham passado para o Deão as funções de Arcipreste da Catedral, com o respectivo encargo dos presbíteros e cerimônias sagradas. Em certas catedrais a primeira dignidade era a do arcediago, como vigário do bispo e prepósito do cabido. Desde o início, eram distintos os ofícios de presidente cabido e do arcediago. O regime do cabido passou para o prepósito e para Deão ou Arcipreste. Em alguns cabidos a primeira dignidade era a de prepósito ou a do arcediago, e noutras a de Deão ou Arcipreste. 

Nalanda – Wikipédia, a enciclopédia livre
A figura acadêmica do Deão ocupa um lugar de preeminência e honra, desprovido de jurisdição. O decano era originalmente o líder de um contubérnio, o pelotão de oito legionários que viviam na mesma tenda. Não deve ser confundido com decurião, que era um título dado aos funcionários civis e os líderes de esquadrões (turmas) de cavalaria, com 30 homens. Nos textos gregos é equivalente ao posto decarco (“dekarchos”); comandante dos dez. A partir do século IV, o termo passou a ser usado para mensageiros do palácio, em particular os do serviço do imperador. Eles também aparentemente serviram como guardas dos portões e, no século VI, João, o Lídio os igualou aos antigos lictores. No Cletorológio de Filoteu, o decano foi um funcionário de nível médio, servindo sob um protoasecreta. De acordo com o De Ceremoniis de meados do século X, o decano ficava “encarregado dos trabalhos imperiais”, quando o imperador estava em campanha. Evidência sigilográfica para os decanos bizantinos é relativamente raro, mas retratados em manuscritos iluminados, onde a sua aparência varia consideravelmente, de acordo com as suas diferentes funções. Na Igreja, ocorrem em monastérios para os chefes de outros monges, os subalternos de baixo-escalão oficiais do patriarca de Constantinopla, atual Istambul e os coveiros eclesiásticos (“fossores”). 
Decano, em diplomacia, é o título que se dá ao chefe de uma missão estrangeira num país que maior antiguidade tenha e, por isso, tem precedência sobre os seus demais colegas ali creditados. Em muitos dos países que mantém relações com a Santa Sé é comum caber ao núncio apostólico este papel pelo só fato de representar ao Papa, e noutros como, por exemplo, Costa do Marfim e Senegal, se outorga o título ao representante de suas antigas metrópoles. Na atualidade as funções do decano são limitadas e reduzidas a atuar como porta-voz do corpo diplomático nalgumas cerimônias. Alguns países não aceitam esta função, ao argumento de que não há necessidade de intermediário entre o chefe de uma delegação legalmente constituída e sua entidade ministerial de relações exteriores. Em muitos casos o decano também intermedia assuntos conflituosos entre os membros de uma representação diplomática e o país de acolhida, como ocorre em impasses internacionais, por exemplo, ou entre as diversas representações políticas e diplomáticas. O Embaixador da Nicarágua nos Estados Unidos da América  Guillermo Sevilla Sacasa, que ocupou ali este posto diplomático por 36 anos, era chamado de Decano “do corpo diplomático naquele país”.  
Reitor é a denominação atribuída ao dirigente máximo de alguns tipos de instituições de ensino, podendo também designar o sacerdote responsável por um seminário ou por um santuário, basílica ou catedral. A palavra tem origem no latim “Rector”, aquele que dirige ou aquele que governa. O reitor é o diretor principal de certos tipos de instituições de ensino, em especial as universidades, nas quais cada faculdade possui o seu próprio diretor e o reitor dirige a todos. Da mesma forma, a reitoria é normalmente considerada o órgão executivo máximo em uma universidade. O pronome de tratamento para reitor é Vossa Magnificência (V. M.). Dada a grande dimensão que inúmeras universidades possuem, existe antes do reitor, hierarquicamente a figura do pró-reitor, e no âmbito das pró-reitoras, um acadêmico responsável pela direção de um determinado Departamento ou Coordenação de atuação da instituição em questão, como a pesquisa, extensão ou a graduação e pós-graduação. O decano pode ser considerado historicamente a pessoa mais velha de certo escol ou grupo qualificado de  pessoas, classe, instituição, ou corporação; em alguns casos comparados ao pró-reitor de uma universidade. 

Os decanatos são unidades administrativas ligadas à Reitoria que coordenam e fiscalizam as atividades de ensino & pesquisa universitárias para evitar truques de malversação. A função de cada decanato é fazer com que os departamentos e/ou coordenações que compõem e formam a Universidade funcionem de forma eficaz, segundo um grau acadêmico, sob a forma de  um título conferido normalmente por uma instituição de ensino superior em reconhecimento oficial pela conclusão com sucesso de todos os requisitos de um curso, de um ciclo ou de uma etapa de estudos superiores. O sistema de graus acadêmicos desenvolveu-se na universidade medieval europeia, acompanhando posteriormente, a expansão global deste tipo de Instituição. Os graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, concedidos pelas universidades da Europa foram adotados nas diversas sociedades do Mundo.
As suas raízes podem ser comparadas à Igreja primitiva, na qual o termo “doutor” se referia aos apóstolos, aos padres da Igreja e a outras autoridades eclesiásticas que interpretavam e ensinavam a Bíblia. O direito para conceder uma Licentia Docendi estava originalmente reservado à Igreja, que requeria que o candidato passasse num exame, fizesse um juramento e pagasse uma taxa. No Terceiro Concílio de Latrão (1179) foi concedido o acesso, depois praticamente gratuito, a todos os candidatos aptos, que, no entanto ainda tinham que ser examinados na aptidão para a escolástica eclesiástica. O direito da concessão do grau de doutor tornou-se num motivo de contenda entre as autoridades da Igreja e as cada vez mais emancipadas universidades, mas foi concedido pelo Papa à Universidade de Paris em 1213, sob a forma de licenciatura geral para o ensino a Licentia Ubique Docendi. No entanto, a licenciatura acabou por se tornar numa etapa intermédia para o acesso ao doutoramento, o qual passou a constituir a qualificação exclusiva para ensinar numa universidade.

A palavra Marrocos deriva do nome da cidade de Marraquexe, que foi sua capital durante a dinastia almorávida e o Califado Almóada. A origem do nome Marraquexe é contestada, mas provavelmente vem das palavras berbere amur (n) akush (ⴰⵎⵓⵔ ⴰⴽⵓⵛ), que significa Terra de Deus. O nome berbere moderno para Marraquexe é Mṛṛakc na escrita berbere latina. Em turco, o Marrocos é reconhecido como Fas, um nome derivado de sua antiga capital, Fez. No entanto, em outras partes do mundo islâmico, por exemplo, na literatura árabe egípcia e do Oriente Médio, antes de meados do século XX, o nome comumente para se referir ao Marrocos era Marraquexe (مراكش).  Em 1415, Portugal vira os olhos para a África e empreende a conquista de Ceuta e, no século seguinte, a maior parte do litoral marroquino estava nas mãos de portugueses e espanhóis. Ceuta continua sob soberania espanhola até hoje. Em 1472, os sultões da Fez perderam todos os seus territórios estratégicos e já não têm o controle do Estreito de Gibraltar.  

Os Portugueses apoderam-se de Tânger, em 1471, que quase dois séculos mais tarde (1661) cedem a Inglaterra como dote da rainha Catarina de Bragança a seu marido Carlos II de Inglaterra. Durante o governo português (1471-1661), Tânger é a capital do Algarve, em África, porque existem dois Algarves, a da Europa e a de África, tanto um como outro considerados territórios pessoais da Dinastia de Avis e depois da dinastia de Bragança (o rei de Portugal também tinha o título de Rei dos Algarves). Sob os reinados sucessivos de Afonso V, João II e Manuel I (período que marca o apogeu da expansão portuguesa) o Algarve africano abrange quase toda a costa atlântica de Marrocos, com a excepção de Rabate e Salé. Os Portugueses controlam a parte costeira que se estende desde Ceuta até Agadir, tendo como marcos as praças fortes de Alcácer-Ceguer, Tânger, Arzila, Azamor, Mazagão e Safim e do Castelo Real de Mogador.    

O poder é habitualmente legitimado através da autoridade. Enquanto legitimidade pressupõe consenso mais ou menos generalizado, onde a legitimação refere-se ao modo de obtenção desse consenso entre os membros de uma coletividade. Da natureza da legitimação derivam os tipos de obediência, bem como o caráter e os efeitos sociais do seu exercício. Simplificadamente exercício. Max Weber distingue as classes de dominação segundo suas pretensões típicas à legitimidade. Jürgen Habermas entende legitimação como decorrente da percepção, por parte dos cidadãos, de que as instituições dentro das quais eles vivem são justas, benevolentes e existem no melhor interesse deles, merecendo o seu apoio, sua lealdade e adesão. Crise de legitimação é uma condição em que uma ordem política ou um governo não é capaz de obter adesão nem de investir-se de autoridade suficiente para governar. Os altos índices de abstenção eleitoral em muitas sociedades democráticas ocidentais, aparentemente podem ser considerados como um indicador de uma crise de legitimação. Universidade de Karueein é a mais antiga do mundo fundada em 859 no Marrocos. 
 Numa universidade, a formação de um doutorando era realizada de uma forma equivalente ao treino que um membro de corporação de ofícios tinha que realizar para obter o grau profissional de mestre (latim: “magister”, significando professor) no seu ofício. O termo “mestre” passou assim também a ser usado na universidade como equivalente ao de “doutor”. O uso do grau de mestre consolidou-se numa matéria de usos e costumes em algumas universidades, não sendo usado em outras. Contudo, nas universidades que o usavam, o grau de mestre acabou por se tornar normalmente num grau de qualificação inferior ao de doutor. A Universidade de Paris utilizava o termo “mestre” para designar os seus graduados. Esta prática foi seguida pelas universidades de Oxford, Cambridge e Saint Andrews, tornando-se depois a norma no mundo anglo-saxónico. Outras universidades preferiam o termo “doutor”. A designação dos graus posteriormente ligaram-se às matérias estudadas. Os letrados das faculdades de artes liberais ficaram reconhecidos como “mestres em artes”; os das faculdades de teologia, medicina e direito ficaram conhecidos como “doutores” títulos que devem ser respeitados.
Bibliografia geral consultada.

STEIN, Stanley, The Colonial Heritage of Latin America. Essays on Economic Dependence in Perspective. Oxford University Press, 1970; HIRANO, Sedi, Castas, Estamentos e Classes Sociais. Discussões Técnicas Preliminares. Dissertação de Mestrado. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1972; PASQUINO, Pascale, “Le Statut Ontologique des Incorporels dans l’Ancien Stoïcisme”. In: Les Stoïciens et leur Logique. Paris: Éditions Vrin, 1978; DUMONT, Louis, Essais sur l`Individualisme. Une Perspective Antropologique sur l`Ideologie Individualisme Moderne. Paris: Esprit-Seuil, 1983; JANOTTI, Aldo, Origens das Universidades: Singularidade do Caso Português. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992; PONTY, Maurice, Le Primat de la Perception et ses Conséquences Philosophiques, précédé de Projet de Travail sur la Nature de la Perception. Lagrasse: Éditions Verdier, 1996; RODRÍGUEZ DE LA PENA, Alejandro, Los Origenes de la Universidad: las Piedras y las Almas de las Universidades Medievales. Espanha: Revista Abril, nº 85, 2000; SANTOS, Benerval Pinheiro, Paulo Freire e Ubiratan D’Ambrosio: Contribuições para a Formação do Professor de Matemática no Brasil. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; SIMÕES, Mara Leite, “O Surgimento das Universidades no Mundo e sua Importância para o Contexto da Formação Docente”. In: Revista Temas em Educação. João Pessoa, volume 22, nº 2, pp. 136-152, jul. Dez., 2013; DORIGÃO, Antônio Marcos, Darcy Ribeiro e a Reforma da Universidade: Autonomia, Intencionalidade e Desenvolvimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Maringá: Universidade Estadual de Maringá. 2015; BENFICA, Tiago Alinor Hoissa, História e Universidade: A Institucionalização do Campo Histórico na Universidade Estadual de Mato Grosso/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tese de Doutorado.  Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Ciências Humanas. Universidade Federal da Grande Dourados, 2016; entre outros.

_________________

 * Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).