sábado, 3 de setembro de 2016

Mister Pip – Cultura, Cinema, Educação & Utilidade de Uso do Livro.

                                                                                                             Ubiracy de Souza Braga*

A linguagem realiza o que o silêncio pretendia e não conseguiu obter”. Maurice Merleau-Ponty

                                        

Maurice Merleau-Ponty nasceu em Rochefort-sur-Mer, em 14 de março de 1908 e faleceu em Paris, em 3 de maio de 1961. Foi um filósofo fenomenólogo francês. A constituição do significado na experiência humana foi seu principal interesse e ele escreveu sobre percepção, arte, política, religião, biologia, psicologia, psicanálise, linguagem, natureza e história. Estudou na Escola Normal Superior de Paris, graduando-se em filosofia em 1931. Lecionou em vários liceus antes da Segunda Guerra (1939-1945), durante a qual serviu como oficial do exército francês. Em 1945 foi nomeado professor de filosofia da Universidade de Lyon. Em 1949 foi chamado a lecionar na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne). Em 1952 ganhou a cadeira de filosofia no Collège de France. De 1945 a 1952 foi coeditor com Jean-Paul Sartre da revista Les Temps Modernes. Suas primeiras obras dialogam com a psicologia; são os casos de La Structure du Comportement (1942) e Phénoménologie de la Perception (1945). Influenciado pela obra de Edmund Husserl, Merleau-Ponty procura dar “carnalidade” à consciência intencional de seu mestre e precursor. Leva a filosofia de Husserl às últimas consequências de sua encarnação no mundo da vida. Em Fenomenologia da Percepção,  estabelece critica a existência cartesiana do homem pelo cogito. Para o fenomenólogo, o homem se faz presente pelo seu corpo e este participa do processo cognitivo.

Voltando sua atenção filosoficamente para a questões sociais e políticas de seu tempo, histórico e socialmente, Merleau-Ponty publicou em 1947 um conjunto de ensaios marxistas contidos no volume: Humanisme et Terreur (“Humanismo e Terror”), a mais elaborada defesa do “comunismo soviético” do final dos anos 1940. Contrário ao julgamento do “terrorismo soviético”, atacou o que considerava “hipocrisia ocidental”. Porém a guerra da Coreia desiludiu-o e fê-lo romper com Jean-Paul Sartre, que apoiava os comunistas da Coreia do Norte. Em 1955, Merleau-Ponty publicou mais ensaios marxistas, intitulados através do ensaio: Les Aventures de la Dialectique (“As Aventuras da Dialética”). Essa coleção, no entanto, indicava sua mudança político-afetiva e evidentemente metodológica de posição: o marxismo não aparece mais como a última palavra na História, mas apenas como uma metodologia heurística. Merleau-Ponty morreu repentinamente de infarto do miocárdio, em 1961 aos 53 anos, aparentemente enquanto preparava-se para apresentar uma aula sobre a concepção filosófica de René Descartes, deixando um manuscrito inacabado, que foi publicado postumamente em 1964, com uma seleção de notas de trabalho de Merleau-Ponty, organizados por Claude Lefort, intitulado: “O visível e o invisível”. Foi sepultado no cemitério Père Lachaise, em Paris, junto com sua mãe Louise, sua esposa Suzanne e sua filha Marianne.   

Livro é um objeto comunicativo, imprescindível composto por páginas encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso com imagens e que forma uma publicação unitária, ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outros, formando um volume. Em ciência da informação, o livro é chamado monografia, para distingui-lo de outros tipos de publicações como revistas, periódicos, teses, tesauros, artigos etc. O livro é um produto intelectual e, como tal, encerra reconhecimento e expressões individuais ou coletivas. Mas também é um produto de consumo, um bem. A parte final de sua produção é realizada por meios industriais, a impressão e distribuição, envolvendo o design de livros. A tarefa de criar conteúdo passível de ser transformado em livro é tarefa do autor. A produção dos livros, no que concerne a transformar os originais num produto “comercializável”, é tarefa do Editor, em geral contratado por uma editora. A coleta, a organização e a indexação de coleções de livros, por outro lado, é tipicamente tarefa do bibliotecário. Finalmente, destaca-se o livreiro, cuja função principal é disponibilizar os livros editados ao público em geral, vendendo-os nas livrarias generalistas ou de especialidade. Compete ao livreiro merceologicamente, todo o trabalho de pesquisa temática que vá ao encontro da vontade dos leitores contumazes.

                  

A história social do livro é uma história de inovações técnicas que permitiram a melhora da conservação dos volumes e do acesso à informação, da facilidade em manuseá-lo e produzi-lo. Esta história está intimamente ligada às contingências político-econômicas e à história de ideias e religiões. A escrita surgiu na antiguidade, antecedente ao texto e ao livro. A escrita consiste em um de código capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos, em suma, palavras. É importante destacar que o meio condiciona o signo, ou seja, a escrita foi em alguns momentos orientada por esse tipo de suporte; não é possível esculpir em papel ou escrever em mármore, por exemplo. Os primeiros suportes utilizados para a escrita foram tabuletas de argila ou de pedra em escrita cuneiforme encontradas na Mesopotâmia. O livro mais antigo reconhecido é: Instruções a Xurupaque (c2600-c2500). Considerando as limitações tecnologicamente que os suportes materiais possuíam, os livros utilizados no péríodo da chamada Idade do Bronze eram curtos. A Epopeia de Gilgamesh, por exemplo, é a maior obra literária em tabuletas de argila, e suas traduções ocidentais não chegam a 16 mil palavras.

Mais tarde veio o khartés, volumen, para os romanos, a forma pela qual ficou mais conhecido que consistia em um “cilindro de papiro”, facilmente transportável. O “volumen” era desenrolado conforme ia sendo lido, e o texto era escrito na maioria das vezes em colunas, e não no sentido do eixo cilíndrico. Algumas vezes, um mesmo cilindro continha várias obras e, por conta disso, era denominado tomo. O comprimento total de um “volumen” era 6 ou 7 metros, e quando enrolado seu diâmetro chegava a seis centímetros. O papiro consiste a parte da planta, que era liberada, livrada do restante da planta - daí surge a palavra “liber libri”, em Latim, e posteriormente livro em português. Os fragmentos de papiros mais recentes são datados do século II a. C. Aos poucos o papiro é substituído pelo pergaminho, excerto de couro bovino ou de outros animais. A vantagem do pergaminho é que conserva mais ao longo do tempo. O nome pergaminho deriva de Pérgamo, cidade da Ásia Menor onde teria sido inventado e era muito usado.

O “volumen” também foi substituído pelo códex, que era uma compilação de páginas, não mais um rolo. O códex surgiu entre os gregos como forma de codificar as leis, mas foi aperfeiçoado pelos romanos nos primeiros anos da chamada Era Cristã. O uso do códice e do pergaminho era complementar, pois era mais fácil “costurar códices de pergaminho do que de papiro”. Uma consequência fundamental do códice é que ele faz com que se comece a pensar no livro como objeto, identificando definitivamente a obra com o livro. A consolidação do códex acontece em Roma, como já citado. Em Roma a leitura ocorria tanto em público (para a plebe), evento chamado recitatio, como em particular, para os ricos. Além disso, é muito provável que em Roma tenha surgido pela primeira vez a “leitura por lazer” (voluptas), desvinculada do senso prático que a caracterizara até então. Os livros eram adquiridos em livrarias. Assim aparece também a figura do editor, com Atticus, homem de grande senso mercantil. Algumas obras eram encomendadas pelos governantes, como a Eneida, encomendada à Virgílio por Augusto. Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve em parte ao surgimento do códice, pois a partir de então tornou-se mais fácil distribuir informações em forma escrita.

Livro é um objeto comunicativo, composto por páginas encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária, ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outros, formando um volume. Em ciência da informação, o livro é chamado monografia, para distingui-lo de outros tipos de publicações como revistas, periódicos, teses, tesauros, artigos etc. O livro é um produto intelectual e, como tal, encerra reconhecimento e expressões individuais ou coletivas. Mas também é um produto de consumo, um bem. A parte final de sua produção é realizada por meios industriais, a impressão e distribuição, envolvendo o design de livros. A tarefa de criar conteúdo passível de ser transformado em livro é tarefa do autor. A produção dos livros, no que concerne a transformar os originais num produto “comercializável”, é tarefa do Editor, em geral contratado por uma editora. A coleta, a organização e a indexação de coleções de livros, por outro lado, é tipicamente tarefa do bibliotecário. Finalmente, destaca-se também o livreiro, cuja função principal é disponibilizar os livros editados para consumo ao público em geral, vendendo-os nas livrarias generalistas ou de especialidade. Compete também ao livreiro todo o processo de trabalho individual e coletivo de pesquisa que vá ao encontro da vontade dos leitores.

A história social do livro é uma história de inovações técnicas que permitiram a melhora da conservação dos volumes e do acesso à livre informação, da facilidade em manuseá-lo e produzi-lo. Esta história está intimamente ligada às contingências político-econômicas e à história de ideias e religiões. A escrita surgiu na antiguidade, antecedente ao texto e ao livro. A escrita consiste em um de código capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos, em suma, palavras. É importante destacar que o meio condiciona o signo, ou seja, a escrita foi em alguns momentos orientada por esse tipo de suporte; não é possível esculpir em papel ou escrever em mármore, por exemplo. Os primeiros suportes utilizados para a escrita foram tabuletas de argila ou de pedra em escrita cuneiforme encontradas na Mesopotâmia. O livro mais antigo reconhecido é: Instruções a Xurupaque (c 2600-c 2500). Considerando as limitações que os suportes materiais possuíam, os livros da Idade do Bronze eram curtos. A Epopeia de Gilgamesh, por exemplo, é a maior obra literária em tabuletas de argila, e suas traduções ocidentais não chegam a 16 mil palavras.

Mais tarde veio o khartés, volumen, para os romanos, a forma pela qual ficou mais conhecido que consistia em um “cilindro de papiro”, facilmente transportável. O “volumen” era desenrolado conforme ia sendo lido, e o texto era escrito na maioria das vezes em colunas, e não no sentido do eixo cilíndrico. Algumas vezes, um mesmo cilindro continha várias obras e, por conta disso, era denominado tomo. O comprimento total de um “volumen” era 6 ou 7 metros, e quando enrolado seu diâmetro chegava a seis centímetros. O papiro consiste a parte da planta, que era liberada, livrada do restante da planta - daí surge a palavra “liber libri”, em Latim, e posteriormente livro em português. Os fragmentos de papiros mais recentes são datados do século II a. C. Aos poucos o papiro é substituído pelo pergaminho, excerto de couro bovino ou de outros animais. A vantagem do pergaminho é que ele se conserva mais ao tempo. O nome pergaminho deriva de Pérgamo, cidade da Ásia Menor onde teria sido inventado e era muito usado.

O “volumen” também foi substituído pelo códex, que era uma compilação de páginas, não mais um rolo. O códex surgiu entre os gregos como forma de codificar as leis, mas foi aperfeiçoado pelos romanos nos primeiros anos da chamada Era Cristã. O uso do códice e do pergaminho era complementar, pois era mais fácil “costurar códices de pergaminho do que de papiro”. Uma consequência fundamental do códice é que ele faz com que se comece a pensar no livro como objeto, identificando definitivamente a obra com o livro. A consolidação do códex acontece em Roma, como já citado. Em Roma a leitura ocorria tanto em público (para a plebe), evento chamado recitatio, como em particular, para os ricos. Além disso, é muito provável que em Roma tenha surgido pela primeira vez a “leitura por lazer” (voluptas), desvinculada do senso prático que a caracterizara até então. Os livros eram adquiridos em livrarias. Assim aparece também a figura do editor, com Atticus, homem de grande senso mercantil. Algumas obras eram encomendadas pelos governantes, como a Eneida, encomendada à Virgílio por Augusto. Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve em parte ao surgimento do códice, pois a partir de então tornou-se mais fácil distribuir informações em forma escrita.

Em 1766 Bougainville recebeu de Luís XV de França a missão de navegar ao redor do globo em uma expedição com um naturalista, cartógrafo e astrônomo. Tornou-se o 14° navegador da história, e o primeiro francês a conseguir o feito: a realização dessa volta ao mundo revigorou o prestígio da França após suas humilhantes derrotas durante a Guerra dos sete anos. Bougainville zarpou em 1766 com dois navios, La Boudeuse e L'Etoile. Esteve no Rio de Janeiro em 1767 e reuniu dados sobre as fortificações, administração e comércio. – “Se inicialmente recebera boa acolhida das autoridades locais, incidentes no sul, envolvendo portugueses e espanhóis, provocaram mudança na atitude do vice-rei em relação aos franceses”, segundo descreve Maria Fernanda Bicalho. Ele e seus oficiais foram proibidos de permanecer nos arredores da cidade, inviabilizando extraordinariamente a coleta de espécies vegetais pelo naturalista Philibert Commerson (1727-1773), célebre precursor por suas ideias conservacionistas.
Em seu álbum Pitoresco, entretanto, retrata os principais monumentos naturais e artificiais e o aspecto geral das cidades e populações: a prancha 34, por exemplo, reproduz a “Cascade de la Grande Tijuca, près Rio-Janeiro”, que é hoje chamada a cascatinha da Tijuca, no Parque do Açude, Alto da Boa Vista. Visitou a ilha de Taiti em abril de 1768 e por pouco perdeu a oportunidade de se tornar seu descobridor, desconhecendo a visita anterior de Samuel Wallis no HMS Dolphin menos de um ano antes. Em março de 1769, a expedição completou sua circum-navegação e chegou em Saint-Malo, com a perda de somente sete dos 200 homens que compunham a tripulação, fato excepcional naquela época, e um crédito extra ao bom comando da expedição de Bougainville. Sua viagem foi também excepcional “pelo fato de ter sido a primeira a incluir uma mulher, Jeanne Baré, empregada do naturalista da expedição” acima mencionado, Philibert Commerçon. Descrevendo o Taiti no seu livro de 1771, Voyage Autour du Monde, Bougainville ofereceu visão de um paraíso terrestre onde homens e mulheres viviam felizes, em completa inocência, longe da corrupção da civilização. Ele ilustrou o conceito de “nobre selvagem”, e influenciou as ideias utópicas de filósofos como Jean-Jacques Rousseau antes do advento da revolução clássica francesa.
Segundo Merleau-Ponty, a esfera humana é uma espécie de “intermundo”, o qual pode ser explicado como o contexto histórico, a simbologia, ou a verdade a ser construída. Algo que acena com a possibilidade de uma significação das coisas, apesar de todos os paradoxos existenciais. Neste sentido, ser é visto pelo outro como uma fração de mundo, a interação entre as consciências e a ligação dialética entre o senhor e o escravo no sentido hegeliano. Contudo, as obras mais significativas de Merleau-Ponty são as de natureza psicológica, para o que nos interessa, entre elas: A Estrutura do Comportamento, de 1942, e Fenomenologia da Percepção, de 1945 antes de seu engajamento afetivo do ponto de vista comunista. Na sua fase de inferência política elaborou uma série de ensaios de teor marxista como: Humanismo e Terror, de 1947, que pode ser considerado sociologicamente uma apologia do comunismo soviético de fins da década de 1940. Em 1955 ele passa por modificação na sua weltanschauung no ensaio: As Aventuras da Dialética, de 1955, no qual o marxismo é um método para se avançar sobre a questão tópica da verdade na fenomenologia.         
Ao distanciar-se de suas primeiras obras e buscar uma nova ontologia, Merleau-Ponty busca o Espírito Selvagem e o Ser Bruto, no que ilustramos idealmente através de nossa compreensão. Sua interrogação vem exprimir-se numa espantosa nota de trabalho de “O visível e o Invisível”, na medida em que para ele: “o Ser é o que exige de nós criação para que dele tenhamos experiência”. Frase cujo prosseguimento reúne emblematicamente arte e filosofia, pois a nota continua: “filosofia e arte, juntas, não são fabricações arbitrárias no universo da cultura, mas contato com o Ser justamente enquanto criações”. Por que devemos entender a sequência do processo comunicativo de criação? Porque entre a realidade dada como um fato, instituída, e a essência secreta que a sustenta por dentro há o momento instituinte, no qual o Ser vem a ser: para que o ser do visível venha à visibilidade, solicita o trabalho do pintor; para que o ser da linguagem venha à expressão, pede o trabalho do escritor; para que o ser do pensamento venha à inteligibilidade, exige o trabalho do pensador. Pensar permite aos seres humanos modelarem sua percepção do mundo social ao redor de si, e com isso lidar com ele de uma forma afetiva e efetiva e de acordo com suas metas, planos e desejos. Esses trabalhos são criadores. 
 E justamente porque tateiam ao redor de uma intenção de exprimir alguma coisa para a qual não possuem modelo que lhes garanta o acesso ao Ser, pois é sua ação que  abre a via de acesso para o contato pelo qual pode haver experiência do Ser. Que laço amarra num tecido único experiência, criação, origem e Ser? Aquele que prende Espírito Selvagem e Ser Bruto. Que é Espírito Selvagem? É o espírito de práxis, que quer e pode alguma coisa, o sujeito que não diz “eu penso”, e sim “eu quero”, “eu posso”, mas que não saberia como concretizar isto que ele quer e pode senão querendo e podendo. Isto é, agindo, sob determinadas condições sociais, realizando uma experiência e sendo essa própria experiência. O que torna possível a experiência criadora é a existência de uma falta ou de uma lacuna a serem preenchidas, sentidas pelo sujeito como intenção de significar alguma coisa muito precisa e determinada da existência humana. Somente depois do ato criador é que a experiência se torna possível. O ser bruto e o espírito selvagem são condições essências, por meio das quais vai se dá o rompimento óbvio com a tradição.
Analítica e historicamente estamos no início da década de 1990, numa ilha tropical chamada Bougainville a qual sofre as graves consequências de uma guerra civil.  Com o conflito, o lugar torna-se um caos. É lá que mora Matilda, uma inocente garota de 13 anos e narradora da história. Isolados por um bloqueio político, econômico e militar, os habitantes da ilha vivem com dificuldades e privações desde que os brancos colonizadores fecharam a mina, única fonte de riqueza de toda a comunidade. Para Matilda, o bloqueio tem um significado ainda mais doloroso - a menina nunca mais vira seu pai desde então. Um único branco permanece na aldeia: o Sr. Watts. Cabe a ele  reabrir a escola e ensinar algo útil as crianças, de modo a refletir a cultura. Sr. Watts, ou “olho arregalado”, como todos o chamam, é um homem misterioso e excêntrico. Branco, alto e sempre metido em seu terno de linho, mantinha o hábito de usar um nariz de palhaço ao levar sua mulher Grace, uma negra nativa da ilha, para passear como uma rainha em uma carroça. Ninguém saberia dizer por que “olho arregalado” permanecera em Bougainville depois do bloqueio.
      Sua história social só começa a vir à tona quando as crianças são chamadas de volta à escola. Ele começa a ler para a turma, em voz alta, o seu velho exemplar de “Grandes Esperanças”, de Charlie Dickens. Pip, o personagem principal da história, torna-se imediatamente um cativo na vida daquelas crianças que logo perceberão que, sobretudo numa ilha em guerra, o poder da imaginação pode ser algo muito valioso. O filme, de 2012, é baseado em acontecimentos reais e no livro “O Sr. Pip”, de Lloyd Jones. O livro “O Sr. Pip”, por sua vez, é baseado no livro: “Grandes Esperanças” de Charles Dickens. Fascinada pela história do livro e por Mr. Pip, personagem principal do romance, a jovem Matilda (Xzannjah Matsi) é a mais entusiasmada com as aulas e se torna muito próxima de Mr. Watts. Em uma pequena ilha da Papua Nova Guiné, Mr. Watts (Hugh Laurie) é o único homem branco. Este professor decide reabrir uma escola, e ensinar às crianças a história do livro: “Grandes Expectativas”, de Charles Dickens. A adolescente Matilda fica fascinada com o romance, mas seus sonhos são interrompidos pela dura realidade local, quando inimigos chegam à ilha em busca de rebeldes, e um mal entendido leva-os a crer que o jovem Pip é um homem perigoso. O pai de Matilda trabalhador da mina é transferido contra sua vontade, sinal distintivo que é atributo de poder, de dignidade, de posto, de comando, deixando a menina sozinha e sua mãe na ilha. Matilda vê no Mr. Watts a figura de um pai. Mr. Pip se torna um mito na ilha, graças às leituras de Watts.  Em Mr. Pip, exibido no Festival de Toronto, Canadá.
          Hugh Laurie arma-se de um grande carisma e um quê de mistério no papel do professor Watts, o único homem branco na ilha Bounganville, em guerra com Papua Nova Guiné por conta de uma mina gigantesca de cobre explorada pelos australianos.Uma das almas tocadas por Watts, que costuma chegar à vila todas as manhãs usando um nariz de palhaço e arrastando um riquixá com sua mulher, é Matilda (Xaznnjah Matsi). Seu pai está na Austrália, e a mãe Delores (Healesville Joel) é católica fervorosa. A garota se encanta com as leituras de Grandes Esperanças, de Charles Dickens, e sonha acordada com sua visão do Senhor Pip, um homem que ascende socialmente. O protagonista da obra de Dickens é o assunto mais comentado de Bougainville, fazendo com que as pessoas esqueçam a violência de uma guerra civil e a ausência de seus familiares. O livro narra, sob a perspectiva da história oral e do olhar de Matilda, como o personagem de um dos grandes escritores do século XIX, Charles Dickens, é capaz de mudar a vida da jovem e de sua comunidade. Diariamente, Sr. Watts, didaticamente lia um capítulo do livro, acompanhado a questão do tempo e movimento comunitário, despertando nas crianças a curiosidade por um mundo nunca antes visto e renovando a esperança de dias melhores.
  Personagem inesquecível, o sr. Watts merece um parágrafo apenas para si, chamado pelas crianças de Olho Arregalado (Pop Eye) no original, apelido que deveria ter sido mantido por motivos óbvios), ele vive afastado da vila, junto da enlouquecida sra. Watts, a quem transporta numa espécie de liteira. Nessas ocasiões, ele usa um nariz de palhaço, substituído por um terno ao serem iniciadas as aulas. É então que o sr. Watts opera mudanças na vila, lendo todos os dias às crianças algumas páginas de  Grandes Esperanças, o romance de Dickens, o maior escritor do século XIX, de acordo com ele.  E é assim que, gradativamente  os meninos e meninas se apaixonam por seu professor e também pelo sr. Pip do título, típico herói dickensiano a sobrepujar com sacrifícios e o auxílio de milagres as vicissitudes da vida na Inglaterra vitoriana. Então surge o inominável, a violência incontida narrada sem sentimentalismos, direta e irrefreável como uma bala de fuzil. De repente, em apenas uma longa cena, a realidade mostra suas armas. A imaginação já havia anteriormente instilado nos corações e mentes de Matilda e dos habitantes de Bougainville, porém, as grandes esperanças que somente a literatura tem o poder de instilar, aguçando o espírito humano, atribuindo-lhe forma. A leitura é o principal meio de comunicação e processo de trabalho que liga o ser a sociedade. Através dela construímos correlações de sentidos e significados diversos, conspícuos, contraditórios, complementares sobre o mundo. A partir da prática literária podemos construir diferentes interpretações na formação de uma comunidade que passam a compartilhar formas de aprender juntos a ler e contradizer o texto. 
A Região Autônoma de Bougainville, também reconhecida como Salomão do Norte, é uma região autônoma na Papua-Nova Guiné é considerada a maior do grupo Ilhas Salomão. A maior ilha é Bougainville, e também inclui a província adjacente a ilha de Bukasegunda maior ilha da Região Autônoma de Bougainville, em Papua-Nova Guiné, ocupada pelo homem desde tempos do Paleolítico, há cerca de 30000 anos. A ilha foi invadida pelo Japão durante a 2ª guerra mundial (1939-1945). Embora a ilha tenha sido metralhada e bombardeada por forças aéreas aliadas, os exércitos aliados nunca lutaram na ilha. Os japoneses se renderam quando os aliados na península de Selau, nas proximidades da ilha de Bougainville. É um filme deslocado mal divulgado, nem tão badalado. Mas um filme de exceção para ser bem lembrado! Mr. Pip é um drama de guerra dirigido por Andrew Adamson, o mesmo diretor do fabuloso As Crônicas de Nárnia e os primeiros Shrek. É baseado no livro que leva ao leitor o nome do filme, do autor neozelandês Lloyd Jones. Hugh Laurie é o protagonista vivendo um professor de literatura, com o elenco Xzannjah, Healesville Joel, Eka Darville, e outros. Laurie atuou em oito temporadas na série House lembrado pelo seu personagem, Dr. Gregory House, que venceu dois prêmios Globo de Ouro.  
Bibliografia geral consultada. 

JAPIASSU, Hilton, O Mito da Neutralidade Científica. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1975; PERLMAN, Janice, O Mito da Marginalidade. Favelas e Política no Rio de Janeiro. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977; KATZENSTEIN, Ursula, A Origem do Livro. São Paulo: Editora Hucitec, 1986; FEBVRE, Lucien, O Aparecimento do Livro. São Paulo: Editora Unesp, 1992; MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996; Idem, Le Visible et le Invisible. Paris: Éditions Gallimard, 1996; BICALHO, Maria Fernanda Baptista, “Cidades e Elites Coloniais. Redes de Poder e Negociação”. In: Varia História. Belo Horizonte, volume 29, pp. 17-38, 2003; MAFRA, Núbio Delanne Ferraz, Leituras à Revelia da Escola. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 2003; MOUTINHO, Luiz Damon Santos, “O Invisível como Negativo do Visível: A Grandeza Negativa em Merleau-Ponty”. In: Trans/Form/Ação. Volume 27 n° 1. Marília (SP), 2004; SCORTECCI, João, Guia do Profissional do Livro. São Paulo: Editor Scortecci, 2007; SILVA, Claudinei Aparecido de Freitas, A Carnalidade da Reflexão: Ipseidade e Alteridade em Merleau-Ponty. São Leopoldo: Editora Nova Harmonia, 2009; TALAMINI, Jaqueline Lesinhovski, O Uso do Livro Didático de História nas séries Iniciais do Ensino Fundamental: A Relação dos Professores com os Conceitos Presentes nos Manuais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2009; CHAUÍ, Marilena, “Merleau-Ponty: A Obra Fecunda”. In: http://revistacult.uol.com.br/2010/03; GRESS, Thibaut, “Maurice Merleau-Ponty: Oeuvres”. In: Actu-Philosophia, 6 de fevereiro de 2011; SILVA, Luan do Carmo da, O Conceito de Lugar no Livro Didático e o Processo de Ensino-Aprendizagem. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Estudos Socioambientais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2014;  GUALBERTO, Clarice Lage, Multimodalidade em Livros Didáticos de Língua Portuguesa: Uma Análise a Partir da Semiótica Social e da Gramática do Design Visual. Tese de Doutorado. Programa de Pós–Graduação em Estudos Linguísticos. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

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