Ubiracy de Souza Braga*
A
“vaia” ou “apupo” orqujestrado é um ato público para demonstrar ou representar desaprovação
ou defeito por uma plateia, geralmente um artista, ou político, em geral com a
interjeição “Uhhhhhhhhhh!” pronunciada de maneira prolongada, ou fazendo outros
ruídos como vozes de animais etc. Em casos de extrema rejeição, a vaia pode ser
acompanhada de objetos arremessados no palco, ou arena, como ovos e tomates. É
provável que as vaias tenham surgido na Grécia Antiga, em que as execuções eram
recepcionadas com aplausos ou com vaias, dependendo do gosto do espectador.
Atualmente o ato de vaiar não é considerado grosseiro ou vexatório na maior
parte das culturas, embora haja alguns defensores que afirmam que o ato de
aplaudir e vaiar pode servir para melhorar a qualidade da interpretação. No
Maracanã, a 1ª vaia como representação ao golpe de Estado no Brasil ocorreu na
abertura dos jogos olímpicos, de forma estrepitosa sofrida por Michel Temer (PMDB)
na sua mísera fala de poucos segundos foi marcante. A vaia veio da esmagadora
maioria dos presentes e revela a falta de apoio ao governo provisório. A
pesquisa do “DataFolha”, mesmo com a divulgação
dita “maquiada”, já demonstrava. A nossa população local, regional e nacional não
deseja o governo marcadamente golpista de Temer, mas sim uma nova eleição
presidencial.
A sociologia das emoções se
constituiu como uma subárea da disciplina sociologia nos anos 1990 primícias de
um processo iniciado nos Estados Unidos quase duas décadas antes. Herdeiros de
duas escolas sociológicas distintas, a funcionalista de Talcott Parsons e a
interacionista simbólica, de George Herbert Mead, Herbert Blumer e Erving
Goffman, e outros, que se desenvolvem à partir das suas respectivas filiações,
teorias sociológicas alternativas, e, até certo ponto, conflitantes, para a
compreensão das emoções. As tensões conceituais e metodológicas entre tais
proposições envolvem questões sociológicas fundamentais, cuja origem remota aos
debates travados entre os pragmatistas William James, John Dewey e George Mead.
As respostas a essas questões dizem respeito à definição do conceito
sociológico. Seus adeptos propõem uma sociologia das emoções que deve procurar
as causas sociais, psicológicas, fisiológicas das emoções para explicá-las.
Deve utilizar-se do método quantitativo que seja capaz de prever as emoções
“empiricamente relevantes” e de formular “leis” gerais aplicáveis ao estudo do
homem urbano na contemporaneidade.
Nas
arquibancadas não tínhamos dependentes do programa das gestões presidenciais de
Lula/Dilma “Bolsa Família”, ou moradores do programa “Minha Casa Minha Vida”,
ou ainda representantes de outras categorias que se beneficiaram dos programas
sociais de Lula e Dilma nos últimos anos. Muito pelo contrário, a grande
maioria de espectadores era composta de membros da nossa classe média e da
elite brasileira, defensora do afastamento da presidente Dilma. O mais
preocupante para o interino golpista Michel Temer é que a vaia foi estridente e
de todos os setores do estádio Maracanã, símbolo da cidade maravilhosa, que já
fora considerada a maior arena do mundo. Por mais que a mídia golpista, capitaneada
pela Rede Globo de televisão, a 4ª maior rede mundial tente negar, como está
sendo denunciado pela imprensa livre, e mascarar com manipulação de áudios na
transmissão, ficou impossível de colocar “panos mornos” na sua impopularidade e
na constatação político-ideológica de que ele, para o povo, é um traidor, um
ser desprezível, um mau caráter, o capitão do golpe em andamento no Brasil e
não tem estofo nem preparo moral para comandar nossa nação.
Legitimidade
é um termo utilizado em Teoria Geral do Direito, em Ciência Política e em
Filosofia Política que define a qualidade de uma norma ou de um governo ser conforme a um mandato legal, à Justiça, à
Razão ou a qualquer outro mandato ético-legal. Em outras palavras, a
legitimidade é o critério utilizado para se verificar se determinada norma se
adequa ao sistema jurídico ao qual se alega que esta faz parte. Em Teoria
Política é o conceito com o qual se julga a capacidade de um determinado poder
para conseguir obediência sem necessidade de recorrer à coerção, que supõe a
ameaça da força, de tal forma que um Estado é legítimo se existe um consenso
entre os membros da comunidade política para aceitar a autoridade vigente. Jürgen
Habermas, apresenta uma concepção teórica diferente de qual seria o critério
para se assegurar a legitimidade de uma norma. Primeiramente ele refuta a
relação intensa entre legalidade e legitimidade, buscando outro fundamento para
tal legitimidade. Portanto, afirma que este fundamento seria a existência de
uma moral convencional que, por determinar normas prévias, gerais e vinculantes
para todos, possibilitam o surgimento de um poder político que possa justificar
a sua autoridade coercitiva. Assim, a fundamentação da autoridade do direito se
daria devido a este entrelaçamento entre direito e moral. A sua originalidade
refere-se ao momento de incondicionalidade que inclusive no Direito moderno
“constitui um contrapeso à instrumentalização política do meio que é o Direito,
deve-se ao entrelaçamento da política e do Direito com a moral”.
Um
golpe de Estado ocorre quando um governo estabelecido por meios democráticos e
constitucionais é derrubado de maneira ilegal – sendo portanto, de uma forma
que desrespeita esses processos democráticos (eleições diretas, por exemplo) e
as leis de um país. Um golpe não necessariamente acontece com o uso da força,
apesar de que são comuns na história do Brasil e de outros países da América
Latina a ocorrência de golpes militares – ou seja, a ameaça do uso da força é
usada para remover o poder constituído. Outras formas de golpe também são
possíveis, como pelo uso indevido da Justiça para incriminar pessoas no poder –
ou seja, a Justiça agindo ela mesma de maneira ilegal. Essa é uma forma de
golpe mais sutil, mas que produz os mesmos resultados: a deposição de um
governo eleito democraticamente por vias que extrapolam as regras de um Estado
Democrático de Direito.
Também
é importante entender que um golpe de Estado pode ter apoio da maioria ou de
uma minoria. O apoio popular é, na verdade, um ingrediente bastante presente em
diversos golpes. Um golpe também pode ser realizado pelo próprio governo, que
se recusa a ceder o seu poder em situações previstas em lei. Por exemplo: um
governo que continua no poder quando deveria ter permitido novas eleições
diretas. A história social e política do Brasil são marcadas por diversos
episódios de golpe. A expressão utilizada pelo filósofo Slavoj Žižek:
“violência enquadrada”, seja precisamente porque, “talvez, hoje, Jô seja o
herói apropriado: aquele que se recusa a buscar um significado mais profundo”.
Em verdade ele quer retratar a “visão
em paralaxe”: medida da mudança de “posição aparente de um objeto em relação a
um segundo plano mais distante, quando esse objeto é visto a partir de ângulos
diferentes”. E não perder de vista que a metáfora do fenômeno óptico surge também
como instrumento crítico, como ocorre com a expressão: “fora Temer”. Neste
caso, ela se refere eminentemente contra as falsas formas de compreender a
dinâmica social e política da globalização, como é o caso do conservadorismo,
no campo da política, particularmente, com a exclusão do espaço político
propriamente dito e a redução do potencial subversivo da noção de liberdade.
As transformações políticas e a
chamada “modernização” no campo de análise econômico-social do Brasil quase
sempre foram efetuadas no quadro de uma “via prussiana”, ou seja, através da
conciliação entre frações das classes dominantes, de medidas aplicadas “de cima
para baixo”. Com a conservação essencial das relações de produção atrasadas (o
latifúndio) e com a reprodução ampliada de capital de dependência ao
capitalismo internacional. Essas transformações “pelo alto” tiveram como causa
e efeito principal, a permanente tentativa de marginalizar as massas populares.
Não só da vida social em geral, mas, sobretudo do processo social de formação e
tomada das grandes decisões políticas nacionais. Quem proclamou nossa
Independência política foi um príncipe português, numa típica manobra “pelo
alto”; a classe dominante do Império foi a mesma da época colonial.
Quem
terminou capitalizando os resultados da proclamação da República (também ela
proclamada “pelo alto”) foi a velha oligarquia agrária; a Revolução de 1930,
apesar de tudo, não passou de uma “rearrumação” do velho bloco de poder, que
cooptou - e, desse modo, neutralizou e subordinou – alguns setores mais
radicais das camadas médias urbanas; a burguesia industrial floresceu sob a
proteção de um regime bonapartista, o Estado Novo, que assegurou pela repressão
e pela demagogia a neutralização da classe operária, ao mesmo tempo em que
conservava quase intocado o poder do latifúndio, etc. Mas essa modalidade de
“via prussiana” ou de “revolução-restauração” encontrou seu ponto mais alto no
atual regime militar, que criou as condições políticas para a implantação em
nosso País de uma modalidade dependente e conciliada com o latifúndio de
capitalismo monopolista de Estado, “radicalizando ao extremo a velha tendência
a excluir tanto dos frutos do progresso quanto das decisões políticas as
grandes massas da população nacional” (cf. Coutinho: 1979: 34).
A democracia é hoje não apenas o terreno no
qual o adversário de classe é obrigado a retroceder, mas é também o valor
historicamente universal. Uma prova
dessa universalidade são as acesas polêmicas que têm hoje lugar entre as forças
sociais e políticas progressistas brasileiras, envolvendo o significado e o
papel pela democracia em nosso país. Pode-se facilmente constatar, a presença
de diferentes e até mesmo contraditórias concepções de democracia entre as
correntes políticas que se propõem representar os interesses populares e, em
particular, os das massas trabalhadoras. Trata-se de um fato normal e saudável,
contanto que não se perca de vista a necessidade imperiosa de acentuar - na
presente conjuntura - aquilo que une a todos os oposicionistas. A luta pela
conquista de um regime de liberdades político-formais que ponha definitivamente
termo ao regime de exceção que, malgrado a fase de transição que se esboça,
ainda domina o nosso país com o golpe de Estado de 2016.
Bibliografia
geral consultada.
____________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Nenhum comentário:
Postar um comentário