sábado, 10 de outubro de 2015

Quebra de Conduta – Penetração, Securitização & Memória Social.

                                Ubiracy de Souza Braga*

Quem não vive para servir, não serve para viver”. Mahatma Gandhi


        Em primeiro lugar, a securitização é uma prática financeira que consiste em agrupar vários tipos de ativos financeiros, notadamente títulos de crédito tais como faturas emitidas e ainda não pagas, dívidas referentes a empréstimos entre outros, num processo social de conversão em títulos padronizados negociáveis no mercado de capitais interno e externo. A dívida é transferida, vendida, na forma de títulos, para vários investidores. É a conversão de uma dívida - duplicatas, cheques, notas promissórias - em título lastreável e negociável entre instituições financeiras. Estes títulos podem ser adquiridos diretamente por Bancos, Distribuidoras de Valores ou Fundos de Investimento como forma de rentabilizar o montante de capital investido. Caberá também ao comprador do título securitizado a cobrança individual de todas as dívidas que compõe o título, isentando a Securitizadora e qualquer manipulação através de intermediário, inclusive de cálculo de qualquer ônus. Em segundo lugar, esses títulos são caracterizados por um compromisso de pagamento futuro, de principal e juros, a partir de um fluxo de caixa proveniente da carteira de ativos selecionados. A securitização é utilizada pelo sistema financeiro para obtenção de fundos e  divisão de riscos. É uma forma de transformar ativos não líquidos em títulos mobiliários líquidos, transferindo os riscos associados a eles para os investidores que os compram. 
     Em fevereiro de 1970, historicamente o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos criou a primeira transação envolvendo um ativo financeiro lastreado em hipotecas. A Associação Nacional da Hipoteca do governo dos EEUU - Government National Mortgage Association (GNMA), reconhecida como Ginnie Mae -, começou então a vender ativos lastreados por uma carteira de empréstimos hipotecários. Créditos habitacionais transformavam-se assim em títulos, que passavam a ser negociados nos mercados financeiro e de capitais. Em 1985, as técnicas de securitização, originalmente desenvolvidas para o mercado de hipotecas, foram aplicadas, pela primeira vez, a créditos não hipotecários, a saber, os contratos de empréstimos para aquisição de automóveis, os quais viriam a lastrear o segundo maior fundo em volume de ativos, superado apenas pelos fundos lastreados em hipotecas, que se tornou um atraente produto das chamadas finanças estruturadas, sobretudo por ter um prazo de vencimento consideravelmente mais curto que o das hipotecas. A primeira operação de securitização de empréstimos no mercado nacional automobilístico para compra massiva de automóveis, no valor de 60 milhões de dólares, teve origem na Marine Midland Bank e realizada em 1985 pela Certificate for Automobile Receivables Trust. Um comprovante cujo valor é derivado de um empréstimo de carro. Isso confere ao proprietário o direito de reclamar os pagamentos da parte principal do negócio (contrato social) efetuado e juros dos empréstimos para automóveis específicos que sustentam a garantia. 


Há aproximadamente duzentos anos, a ideia de que a verdade era produzida, e não descoberta começou a tomar conta do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) europeu. O precedente estabelecido pelos românticos conferiu a seu pleito uma plausibilidade inicial. O papel efetivo de romances, poemas, peças teatrais, quadros, estátuas e prédios no movimento social dos últimos 150 anos deu-lhe uma plausibilidade ainda maior, obtendo legitimidade, já que sabemos que “as ideias adquirem  força na história”. Alguns filósofos inclinaram-se ao iluminismo e continuaram a se identificar com a ciência. Eles veem a antiga luta entre a ciência e a religião, a razão e a irracionalidade, como um processo em andamento que assumiu a forma de luta entre a razão e todas as mediações intraculturais que pensam na verdade constituída e não encontrada. Esses filósofos consideram que a ciência é a atividade paradigmática e insistem que a ciência natural descobre a verdade, ao invés de cria-la.  Grégory Lioubov (Jean Dujardin) é um agente secreto que trabalha para o governo russo. Ele é enviado a Mônaco para investigar as ações sigilosas de um poderoso empresário. Alice (Cécile de France), uma especialista das finanças, é contratada para integrar a equipe e se infiltrar no local, mas Grégory começa a suspeitar que ela está trabalhando para o inimigo. Ele precisa se aproximar dela e conhecê-la melhor. Os dois acabam se envolvendo em uma paixão perigosa, capaz de destruir a carreira de ambos.

Encaram a expressão “criar a verdade” como meramente metafórica e totalmente enganosa. Pensam na política e na arte como esferas em que a ideia de “verdade” fica deslocada. Outros filósofos, percebendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não ensina nenhuma lição moral e não oferece conforto espiritual, concluíram que a ciência não passa de uma serva da tecnologia. Esses filósofos alinham-se com o utopista político e com o artista inovador. Os primeiros contrastam a “realidade científica concreta” com o “subjetivo” ou o “metafórico”, os segundos veem a ciência como mais uma das atividades humanas, e não como o lugar em que os seres humanos deparam com uma realidade não humana “concreta”. De acordo com essa visão, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para o objetivo de prever e controlar o que acontece, assim como os poetas e os pensadores políticos inventam outras descrições do mundo para outros fins. Não há sentido algum, porém, em que qualquer dessas descrições seja uma representação exata de como é o mundo em si. Esses filósofos consideram inútil a própria ideia dessa representação, consignando uma verdade de categoria fenomênica, como uma descrição do espírito ainda não plenamente cônscio de sua natureza espiritual (dialética) e, elevar ao tipo de verdade oferecida pelo poeta e pelo revolucionário político.                      

O idealismo alemão, porém, representou uma solução de compromisso pouco duradoura e insatisfatória. É que Immanuel Kant e Georg Hegel fizeram apenas concessões parciais em seu repúdio à ideia de que a verdade está “dada”. Dispusera-se a ver o mundo da ciência empírica como um mundo “fabricado” – a ver a matéria como algo construído pela mente, ou como feita de uma mente insuficientemente cônscia de seu próprio caráter mental -, mas persistiram em ver a mente, o espírito, as profundezas do eu como dotados de uma natureza intrínseca – uma natureza que se poderia conhecer por uma espécie de superciência não empírica, chamada de filosofia. Isso significava que apenas metade da verdade – a metade científica inferior – era produzida. A verdade superior, a verdade sobre a mente, seara da filosofia, ainda era uma questão de descoberta, não de criação. Richard Rorty precisa sua tese de distinção entre a afirmação de que o mundo está dado e a de que a verdade dada, equivale a dizer, com bom senso, que a maioria das coisas no espaço e no tempo, é efeito de causas que não incluem os estados mentais humanos. Dizer que a verdade não está dada é dizer que, onde não há frases, não há verdade. E que as frases são componentes das línguas humanas, e que as línguas humanas são criações humanas. Só as descrições podem ser “verdadeiras” ou “falsas” - sem o auxílio das atividades descritivas dos seres humanos - não pode sê-lo.

Em filosofia e lógica, a contingência enquanto representação da realidade é o modo de ser daquilo que não é necessário nem impossível.  É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para lembrarmos de Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um “sistema de pensamento”; teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito abstrato, separando-se da multiplicidade das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele. 

Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.

No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa produção do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, pois, fora de dúvida, de um lado dizer que o homem só produz o que já existe. Por outro, é necessário que um progresso individual seja efetuado. Mas o progredir no mundo só ocorrer nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas.

Adam Przeworski entende que todas as teorias que explicam o funcionamento da sociedade sejam elas oriundas concepção revolucionária de Marx, conservantista de Émile Durkheim ou sistêmica de Talcott Parsons, incluindo este que buscou combinar atividade humana e estrutura em uma teoria da ação e não se limitou ao “funcionalismo” strictu sensu, necessitam ser submetidas ao pleno desafio: fornecer os micros-fundamentos para interações sociais e especificamente, basear toda a teoria da sociedade nas ações dos indivíduos concebidas como orientadas para a realização de objetivos racionais. Mesmo que a ação racional seja um elemento fundamental, o individualismo metodológico não é em principio, segundo Jon Elster, redutível ao primeiro. Em tese, e isto é importante, na perspectiva da ação, pode-se imaginar a suposição analítica como referencial de análise da ação individual, mas não necessariamente, a ação racional no sentido weberiano.
Jon Elster dá um exemplo na seguinte frase, “os Estados Unidos temem a União Soviética, o primeiro substantivo coletivo é objeto de redução, mas não o segundo, porque aquilo que os norte-americanos individualmente considerados temem pode muito bem ser uma nebulosa entidade coletiva (escrito em 1986)”. Segundo Elster, a função do individualismo metodológico é a de ajudar a “abrir a caixa preta” e mostrar como funcionam as suas “engrenagens internas”. Isto é, a dedução a partir das macroestruturas não é válida, pois os mecanismos causais da ação social ficam ocultos e o nível de explicação do(s) motivo(s) da ocorrência de determinado(s) evento(s) fica bastante reduzido. Além disso, argumenta que “a racionalidade instrumental, a escolha de meios adequados aos interesses egoístas, é mais um mecanismo que explica as razões da escolha e da ação do homem”. Elster estuda um amplo conjunto de práticas e saberes sociais, em torno de mecanismos que ele divide entre aqueles que explicam as ações individuais e aqueles que explicam a interação social entre os indivíduos; evidentemente, os segundos são mais complexos que os primeiros e os pressupõem. Entre os mecanismos da ação social, chama a atenção para dois, em especial: a) as emoções e paixões que nos impelem impulsivamente, e, b) as normas sociais, leis que nós obedecemos (e queremos que os outros obedeçam), sem uso de coerção social, e, portanto, formas de conduta compulsória. 

Entre as interações sociais, chama a atenção ainda, em especial, para as consequências “não intencionais” de um comportamento, desde a sua progênie quer em Max Weber e ipso facto em Charles Wright Mills, enquanto que explicam muito bem os mecanismos de “ação coletiva”, uma forma de interação cooperativa entre todos os indivíduos de um grupo (como partidos políticos), e as instituições, mecanismos de imposição de regras compulsórias, utilizando inventivos positivos ou coerções para regular o comportamento do indivíduo, como por exemplo: Estado, empresas, exército, judiciário, etc. Enfim, ele analisa a mudança social de várias esferas da vida social, da inovação tecnológica às revoluções políticas. É muito claro e conciso, igualmente ilustrando os mecanismos hipotéticos, históricos e literários, demonstrando na teoria que sabe muito bem do que está falando, estabelecendo bases sólidas de interpretação para as ciências sociais, considerando uma gama de dados e status correlatos à idade, barrando interesses e posições particulares.
Para o que nos interessa, “Quebra de Conduta” é um filme que pretende um recorte heurístico cinematográfico global e no que diz respeito à globalização da economia. O filme tem como representação outra face da comunicação e interseção de pessoas e filmagens feitas simultaneamente em dois países. Quando personagens gravam uma mesma cena, em Moscou e no Brasil, p. ex., sem a perda da originalidade e da emoção. Pessoas podem viver culturas diferentes, em minutos. Filmado principalmente na cidade de Monte Carlo, em Mônaco, a câmera de Éric Rochant desfila com leveza por lindas paisagens em Bruxelas e Moscou também, com os cuidados de uma direção de fotografia meticulosa que faz desse longa-metragem um filme sobre securitização, transnacionalizada, bem cuidado e bonito. Mas se em sua aparência ele se apresenta fluente e rico visualmente, diga-se o mesmo ao restante dos elementos e personagens que compõem essa produção artística.  
O contexto político ligeiramente amplexo é profundamente contextualizado na trama com um roteiro instigante que retoma oportunas reviravoltas ao longo de seu desenvolvimento. Que prende a atenção do espectador, ainda que o “arco dramático” de maior relevância permaneça mesmo com escopo no romance entre Moïse e Alice. Essa relação social é apresentada de modo convincente. E, muito, pelo “social irradiado” do elenco principal, apaixonado e comprometido, além da intrometida presença de Tim  Roth nesse conturbado romance. Ela permanece alheia às verdades sobre Moïse. Ele desconhece alguns segredos em volta de Alice, como sua estreita relação com a CIA - Central Intelligence Agency, literalmente a temerosa agência de inteligência responsável por investigar e fornecer informações de segurança nacional desencadeada na América Latina. Seus senadores também se engajam em atividades políticas secretas, a pedido do presidente dos Estados Unidos da américa.  

Sua participação com a Central de Inteligência norte-americana é revelada através de uma inspirada e apropriada metáfora erguida sobre o conceito da “Faixa de Möbius”, sua representação mais comum e conhecida é como um símbolo do infinito. Fazer uma é muito simples, basta pegar uma tira de papel, girar uma de suas pontas e juntar os dois extremos. Assim, resta uma fita aparentemente com apenas um lado, que é a característica que define a fita de Moebius, a mesma que dá título a essa produção originalmente. Éric Rochant tem como escopo um trabalho de direção que equilibra bem a dialeticidade entre aspectos reais que tem como representação real e ficção. Como também cenas de tensão arrebatadoras como ocorre com o elevador onde Jean Dujardin destaca-se ao se confrontar com um segurança de Rostovsky, demonstrando toda sua habilidade, física e de percepção ágil, sem precisar lançar mão de grandes recursos para causar o devido efeito especial. Como acima de tudo, em cenas sensuais de amor que oscilam ao sexo realisticamente projetado sem ser apelativo. A CIA e as suas responsabilidades alteraram-se significativamente em 2004.
           A lei preventiva da “Reforma da Inteligência e Terrorismo”, de 2004, criou o cargo de Diretor de Inteligência Nacional (DNI), que assumiu alguns procedimentos técnicos do governo e IC-gama de funções. O DNI gerencia o IC e, portanto, do ciclo de inteligência. As funções que se mudaram para o DNI incluíram a preparação de estimativas de parecer consolidadas do IC 16 agências, e a preparação de briefings para o presidente do estado norte-americano. Grégory Lioubov (Jean Dujardin) é um charmoso agente secreto que trabalha para o governo russo. Ele é enviado a Mônaco para investigar as ações sigilosas de um poderoso empresário. Alice (Cécile de France) é uma especialista em “securitização”, prática financeira que consiste em agrupar vários tipos de passivos financeiros, convertendo-os em títulos “limpos” padronizados negociáveis no mercado de capitais. É contratada para integrar a equipe e se infiltrar no local. Mas Grégory começa a suspeitar que ela esteja também trabalhando para o inimigo. Ele precisa se aproximar dela; conhecê-la melhor. Os dois  se envolvem numa paixão arrebatadora capaz de destruir suas impecáveis carreiras. 
A abordagem construtivista conforme Adler (1999) tem sido descrita e explicada, aplicada empiricamente e contrastada a outras abordagens das relações internacionais. No entanto, há pouca clareza e menos ainda consenso sobre sua natureza e substância. A confiança da teoria construtivista das relações internacionais na teoria social e no vocabulário interpretativista; a crença errônea de que o construtivismo, o pós-estruturalismo e o pós-modernismo são variações da mesma perspectiva reflexiva; a relativa escassez de pesquisa empírica construtivista anterior; e, mais importante, os debates internos sobre do que trata realmente o construtivismo - tudo isso tendeu a obscurecer a base científica do construtivismo, sua preferência pela ontologia e pela epistemología frente à metodologia, e sua contribuição potencial para um melhor entendimento das relações internacionais. É imperativo que se tente juntar as peças e estabelecer uma explicação sintética da abordagem construtivista. É igualmente que justifique a abordagem construtivista em bases ontológicas e epistemológicas e se mostre como elas levam a novos meios teóricos e empíricos de compreensão das relações internacionais. Mais do que isso, há uma necessidade real de distinguir entre as reivindicações no âmbito do construtivismo e aqueles levantados pela representação dos interpretativistas mais radicais e/ou por racionalistas, na maioria dos positivistas neo-liberais do papel das idéias nas relações internacionais. Até o momento, a maioria das descrições construtivistas deixou de enfatizar a importância de fatores sócio-cognitivos e apenas começou a reconciliar teoria e pesquisa sistemáticas das ciências sociais com o papel jogado pela interpretação na vida social.      
      
     
No filme é possível observar o que é decisivo no debate econômico e político sobre segurança, em especial na contribuição europeia ao cotejar os principais conceitos e inovações propostas, voltadas a uma ação integradora das relações sociais e ao fortalecimento do papel das instituições de segurança pública. A Escola de Copenhagen criada no âmbito do Copenhagen Peace Research Institute (COPRI), em 1985, com o objetivo de desenvolver estudos voltados à questão global da paz, sendo influenciada pela teoria construtivista das relações internacionais, trabalha com a criação das chamadas “identidades coletivas” e objetivam compreender a segurança internacional sob uma perspectiva globalizante, tendo como principais pensadores Barry Buzan, Ole Waever e Jaap de Wilde, cujo pensamento econômico é voltado à securitizaçãoOs seus trabalhos se distanciam do escopo proposto pela Escola Realista em razão da mudança de simbólica do conceito de segurança proposto por Barry Buzan (1984; 1991: 123), assim o debate da segurança não se encontra mais adstrito ao setor militar; este novo cenário de análise identifica cinco setores onde a securitização poderia ocorrer: militar, político, econômico, social e ambiental, destacando-se que o processo de securitização pode envolver concomitantemente mais de um setor. O contraste do pensamento europeu com os estudos desenvolvidos nos Estados Unidos é nítido, uma vez que o conceito norte-americano de segurança não é aprofundado devido à prevalência do empirismo sobre a teoria. Ou o desprezo por ela em dadas circunstâncias, sociais e políticas sendo influenciado pelo enfoque realista das relações de segurança internacionais. Com uma abordagem eminentemente militarizada para a resolução das questões relacionadas com a segurança, utiliza-se da teoria racionalista e o instrumental teórico do conhecimento debatido como legitimação do processo político de decisão.

            Enfim, em análise comparativa, a visão europeia, por seu turno, estabelece um conceito de segurança fundado no constante debate reflexivo, construindo uma teorização específica com uma ampla abordagem política e econômica, ancorada na teoria construtivista, onde a reflexão geral do processo político conta com a participação da sociedade na definição das questões fundamentais de segurança, sendo esta a sua fonte legitimadora. O pensamento europeu proposto pela Escola de Copenhagen é desenvolvido através dos processos sociais de comunicação mediante os quais a identificação das três unidades envolvidas no debate de segurança, tem a participação obrigatória e indispensável para a consolidação do processo de securitização, como vimos, estabelece uma prática financeira que consiste em agrupar vários tipos de ativos financeiros, notadamente títulos de crédito tais como faturas emitidas e ainda não pagas, dívidas referentes a empréstimos entre outros níveis de análise pragmática econômica privatistas, convertendo-os em títulos em série padronizados.   
É neste sentido que no meio da trama de espionagem no mundo ilusório do capital financeiro e de altas finanças, Éric Rochant faz com que Alice e Moïse – não é o que parece ser na narrativa – se apaixonem. Alice, economista de renome, foi recrutada pela CIA para trabalhar como infiltrada na mesma missão. Suspeitando de uma possível traição, Gregory decide quebrar uma das principais regras da agência e entrar em contato com ela, de forma a perceber as suas intenções o que acaba gerando empatia entre ambos. Retratam uma belíssima história de amor com cenas de sexo absolutamente espetaculares. Ipso facto belíssimas devido aos ângulos da câmara do diretor de fotografia Pierre Novion – uma câmara discreta, mas romântica, mais poética, do que óbvia – e da interpretação dessa extraordinária atriz belga Cécile de France, que aos dezessete anos foi para Paris estudar na École Nationale Supérieure des Arts et Techniques du Théâtre. Foi descoberta pelo agente Dominique Besnehard. Indicada quatro vezes ao prêmio César du cinema, anual do cinema francês atribuído aos profissionais da Sétima Arte, em várias categorias, a fim de premiar as melhores produções francesas. A cerimônia de entrega, também reconhecida por A Noite dos Césares, ocorre no Teatro do Châtelet, em Paris. Venceu duas vezes: em 2003, recebeu o prêmio de revelação feminina por “L`Auberge Espagnole”; em 2006, o prêmio de melhor atriz por “Les Poupées Russes”. 
Bibliografia geral consultada.

HAFTENDORN, Helga, “The Security Puzzle: theory-Building and discipline-building in international security”. In: International Studies Quarterly, 35, 1991, pp.3-17; McSWEENEY, Bill, “Durkheim and the Copenhagen School: A Response to Buzan and Wæver”. In: Review of International Studies, volume 24, nº 1, 1998; BORGES, Luiz Fernando Xavier, “Securitização como parte da segregação de risco”. In: Revista do BNDES, vol. 6, n° 12, pp. 123-136, dez. 1999; TANNO, Grace, A Contribuição da Escola de Copenhague aos Estudos de Segurança Internacional. Dissertação de Mestrado em Ciências. Instituto de Relações Internacionais. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica-Rio de Janeiro, 2002; Idem, “A Contribuição da Escola de Copenhague aos Estudos de Segurança Internacional”. In: Contexto. Volume 25 n°1. Rio de Janeiro Jan./June 2003; RORTY, Richard, Contingência, Ironia e Solidariedade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007; BRASIL JR., Antonio da Silveira, Uma Sociologia Brasileira da Ação Coletiva.  Oliveira Vianna e Evaristo de Moraes Filho. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007; PINHEIRO, Fernando Antonio Perrone, Securitização de Recebíveis - Uma Análise dos Riscos Inerentes. Dissertação de Mestrado. Departamento de Administração. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; BAIGORRI, Maia Camila, Securitização de Recebíveis e Risk Taking da Instituições Financeiras: Evidências do Mercado Brasileiro. Dissertação de Mestrado em Ciências Contábeis. Programa Multi-Institucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis. Brasília: Universidade de Brasília; João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba; Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2014; MOTTA, Bárbara Vasconcellos de Carvalho, Securitização e Política de Exceção: O Excepcionalismo Internacionalista Norte-Americano na Segunda Guerra do Iraque. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC/SP). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais Sant Tiago Dantas. São Paulo, 2014; LELOUP, Jean-Yves, Une Danse Immobile. Paris: Éditions Du Relie, février, 2015; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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