Ubiracy de Souza Braga*
Os economistas assumiram que o estudo das ações
econômicas do homem poderia ser feito abstraindo-se as outras dimensões
culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas,
políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram
como as duas funções elementares exercidas por todo e qualquer indivíduo: o
consumo e a produção. O homo economicus nada mais é do que um fragmento de
ser humano, a sua parcela que apenas produz e consome no mundo das mercadorias,
cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência. O conceito de “homo economicus”
é um postulado da racionalidade global vigente. É caracterizada pelo triunfo
dos economistas que encontraram nele, a semelhança dos biólogos no darwinismo, e
na psicologia uma teoria do comportamento coerente.
O termo discurso pode também ser definido do ponto de
vista lógico. Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a
intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa
coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as
mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura compreensível ao
discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o
pensamento. Um discurso político, por exemplo, tem uma estrutura e finalidade
muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão
econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão.
Um estudo de ideologias da administração, por outro
lado, não está preocupado com as origens do espírito capitalista, mas sim com
as armas ideológicas empregadas na luta pela ou contra a industrialização. E
quando ideologias são formuladas para defender um conjunto de interesses
econômicos, é mais esclarecedor examinar a estratégia de argumentação do que
insistir em que o argumento é autointeressado. Os argumentos em serviço próprio
dos grupos dominantes podem não parecer um campo de estudos promissor, no
entanto, sociologicamente Reinhard Bendix acredita que essas ideias
desenvolvidas podem ser consideradas um sintoma das relações sociais de classe
em mudança, ou seja, indícios para a compreensão das sociedades industriais.
Portanto, Bendix, propõe analisar detalhadamente, se
já não é um truísmo, as evidências observáveis dos fenômenos do mundo social em seus próprios termos. Segundo
o autor, é nesse nível das ações sociais que ocorre a experiência humana, e o
estudo das ideologias da gestão empresarial ilustra que ele também pode
constituir uma abordagem para o entendimento da estrutura social. As
interpretações gerenciais dadas para a relação de autoridade nos
empreendimentos econômicos, juntamente com a concepção em oposição assimétrica,
mas em nível de complementariedade na relação capital “versus” trabalho acerca
de sua posição enquanto classes na sociedade industrial emergente constituem
uma imagem conjunta das relações de classe. Imagem esta que mudando em tempo e espaço
e que diferem de um país para outro. Esse aspecto da estrutura social em
transformação pode ser estudado pelo exame de cada posição ideológica em termos
de seus corolários lógicos. Enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais
estão relacionados à autoridade dos empregadores e, em sentido mais amplo, à
posição de classe de empregadores e empregados na sociedade.
Três correntes filosóficas contemporâneas são
responsáveis pela criação deste conceito: o hedonismo, o utilitarismo e o
sensualismo. O hedonismo, que afirma
que o homem está sujeito, tal como os animais, à lei natural dos instintos e
que, portanto se encontra implícita a procura do prazer, do bem-estar e
distanciamento da dor. O utilitarismo,
para quem o útil é valioso e contrapõe o prazer calculado ao irracional,
classificando os prazeres nobres e pobres. O sensualismo quando afirma serem os sentidos a fonte do
conhecimento. Os economistas construíram um método teórico unanimemente aceite,
elaboraram-se práticas econômicas que se encontra em todas as obras
fundamentais: a lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade
marginal, aplicadas ao consumo e à produção.
A razão biopsicológica essencial a toda a atividade humana é o interesse
pessoal. Este primeiro princípio é então afetivo, pois define a única razão da
atividade econômica; o homem não obedece senão à razão consumista.
No nível de análise econômico, oligopólio é uma forma
evoluída de monopólio, no qual um grupo de empresas ou governos promove o
domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Corresponde a uma
estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado
por um número reduzido de empresas. De tal forma que cada uma tem que
considerar os comportamentos e as reações das outras quando toma decisões de
mercado. No oligopólio, os bens produzidos podem ser homogêneos ou apresentar
alguma diferenciação sendo que, geralmente, a concorrência se efetua mais ao
nível de fatores como a qualidade, o serviço pós-venda, a fidelização ou a
imagem, e não tanto ao nível do preço. As causas típicas do aparecimento de
mercados oligopolistas são a escala mínima de eficiência e características da
procura.
Em tais mercados existe concorrência, mas as quantidades
produzidas são menores, para que os preços sejam maiores do que nos mercados
concorrenciais, ainda que relativamente ao monopólio as quantidades sejam superiores
e os preços menores. Nos mercados oligopolistas onde não exista cooperação
entre as empresas a curva da procura do produto da empresa depende da reação
das outras empresas. A concorrência neste tipo de mercado para evitar guerras
de preços poderá ser feita a outros níveis como nas características dos produtos
distintas do preço, qualidade, imagem, fidelização, etc. O oligopólio pode
permitir que as empresas obtivessem lucros elevados a custo dos consumidores e
do progresso econômico, caso a sua atuação no mercado seja baseada em cartéis,
pois assim terão os mesmos lucros como um monopólio.
Em um oligopólio, as alterações nas condições de
atuação de uma empresa vai influenciar o desempenho de outras empresas no
mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de
empresas do oligopólio é reduzido. Em contrapartida, um truste é uma coligação
econômica ou financeira, um agrupamento de empresas que tem como objetivo
diminuir e eliminar a concorrência, parcelarizando o mercado. Quando se
verifica a formação de trustes, a concorrência é transferida para a área da
qualidade e apoio ao cliente, porque não existe concorrência no que diz
respeito aos preços. No oligopólio, muitas vezes ocorre à criação de um cartel,
onde as poucas empresas dominantes fazem um acordo para manter o preço do
produto comercializado. Tanto os cartéis como o truste exercem poder de pressão
sobre o mercado. Ao contrário do truste, no cartel as empresas envolvidas
continuam independentes no âmbito legal.
Tanto o monopólio quanto o oligopólio contribui para
uma concorrência imperfeita. A diferença entre monopólio e oligopólio é que no
monopólio existe apenas um fornecedor ou vendedor, que domina o mercado,
enquanto que no oligopólio existem poucos fornecedores do mesmo produto. Quando
um produto é considerado essencial para a economia de um país, muitas vezes
esse país estabelece leis que impedem a criação de monopólios e oligopólios. Talvez
o maior exemplo de oligopólio no Brasil seja o mercado de telecomunicações, no
qual poucas empresas controlam o mercado. No caso da telefonia móvel, a fusão
das empresas TIM e Vivo consistiu no primeiro oligopólio nesta área do mercado.
Também são conhecidos oligopólios no caso da montagem de veículos, na produção
de ônibus, por exemplo, o que pode contribuir decisivamente para o aumento do
preço das passagens do transporte público.
Capital financeiro pode ser entendido como o capital
representado por títulos, obrigações, certificados e outros papéis negociáveis
e rapidamente conversíveis em dinheiro. Uma vez que as necessidades de liquidez
variam significativamente entre os agentes econômicos, há uma grande variedade
de instrumentos, sob a forma de contratos, que combinam diferentes ativos e são
comercializados nos mercados financeiros. Em termos simplificados, a lógica
financeira consiste em “fazer dinheiro a partir de dinheiro”, sem
necessariamente passar pela esfera da produção de mercadorias. O predomínio
crescente dessa lógica, de caráter rentista - isto é, que não tem como
finalidade a produção, mas a remuneração do detentor de um ativo - na economia
mundial globalizada ocorre desde pelo menos o início da década de 1980.
Entre 1980 e 2006, a riqueza financeira mundial,
incluindo ações e debêntures, títulos de dívida privada e da pública e
aplicações bancárias, cresceram mais de 14 vezes, enquanto o PIB mundial
cresceu menos de 5 vezes. Trata-se, portanto, de um capital fictício - ou seja,
não vinculado à esfera produtiva, no âmbito da produção e consumo - e que
efetivamente acabou por comandar a economia como um todo. Desde 1971, o governo dos Estados Unidos,
durante a administração de Richard Nixon, cancelou unilateralmente os acordos
de Bretton Woods (1944), acabando com a conversibilidade do dólar
norte-americano em ouro, embora a moeda se mantivesse como meio de pagamento
internacional geral e hegemônica. De fato, o dólar americano continua sendo a
moeda constitutiva de mais de 70% das reservas internacionais.
Quando dinheiro inconversível funciona como meio de
pagamento internacional, abrem-se as portas para a chamada financeirização da
economia, campo de forças entre nações potencialmente geradoras de crises. Em
um contexto de globalização econômica, essas crises rapidamente se tornam
sistêmicas, sobretudo quando atingem o coração do sistema, a exemplo da crise
das hipotecas de alto risco, deflagrada em 2007-2008. Neste sentido, Keynes, em
sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, entendeu que, para “salvar o
capitalismo de si mesmo”, era preciso que o Estado o controlasse, e já
insinuava para a necessidade de regulação dos mercados - principalmente o
mercado financeiro - e de controlar os fluxos financeiros internacionais.
É neste sentido é que transparece o véu da noiva. Poder
de barganha significa no mercado o poder de troca; permuta. Mas barganhar que
representa o ato de trocar pode definir na formação do nível de análise
econômica de forma fraudulenta não um objeto por outro. Mas a força de uma
pessoa (monopólio) ou grupo (oligopólio) ao discutir preços, colocando pressão e
exigindo, por exemplo, maior qualidade em menor preço. Barganha tem origem na
palavra inglesa “bargain”, que representa o verbo barganhar em português. Em
sentido figurado, barganha pode ser sinônima de trapaça, porque pode
representar uma transação fraudulenta. Enfim, poder de barganha segundo Michael
Porter (1979; 1980) compõe dois dos fatores deste modelo. O poder de barganha
dos compradores é uma das cinco forças, é a capacidade de barganha dos clientes
para com as empresas do setor. Este “campo” tem a ver com o poder de decisão
dos compradores sobre os atributos do produto. Principalmente quanto a preço e
qualidade, quando os clientes exigem mais qualidade por um menor preço de bens
e serviços, forçando os preços para baixo, aumentando o consumo e os concorrentes
uns contra os outros.
Segundo Porter, os setores variavam de acordo com as
“forças competitivas” básicas e a compreensão dessas forças era fundamental
para se elaborar a estratégia e garantir uma vantagem. Porter argumentava que,
embora a melhor estratégia para qualquer dada empresa dependesse de suas circunstâncias
específicas, no nível mais amplo uma empresa só pode assumir três posições
defensáveis que lhe permitirão lidar com sucesso com as cinco forças competitivas,
assegurar um retorno superior sobre os investimentos para seus acionistas e ter
um desempenho superior ao de seus concorrentes no longo prazo. Finalmente, do
ponto de vista meramente econômico a análise das fontes da vantagem competitiva
tinha que ocorrer não no nível da empresa como um todo, mas no nível das
atividades distintas que uma empresa realiza para projetar, produzir,
comercializar, entregar e oferecer suporte ao seu produto. Em suma, em todas as
empresas haveria uma cadeia de atividade que gerava valor para seus clientes, e
somente por meio da cuidadosa análise nessa “cadeia de valor” é que a empresa
poderia encontrar fontes de vantagem competitiva, concorrencial e sustentável.
Bibliografia geral consultada
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Empresas. Barcelona:
Ediciones Palestra, 1955; SELZNICK, Philip, Leadership
in Administration. Nova Iorque: Free Press, 1957; BENDIX, Reinhard, A Study of Managerial Ideologies. Economic Development and Cultural
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Editora Cultrix, 1971; BALDELLI, Pio, Informazione
e Controinformazione. 1ª edizione. Milano: Gabriele Mazzotta Editore, 1972;
CORIAT, Benjamin, Ciência, Técnica e
Capital. Madrid: H. Blume Ediciones, 1976; Idem, L`atlier et le chronomètre. Paris: Christian Bourgois Editeur,
1979; LACLAU, Ernesto, Política e
Ideologia na Teoria Marxista: capitalismo, fascismo e populismo. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1978; PORTER, Michael E., “How competitive forces shape
strategy”. In:
Harvard business Review, march/april
1979; Idem, Competitive Strategy. New York: Free Press, 1980; HABERMAS, Jürgen, Técnica e Ciência como Ideologia. Lisboa: Edições
70, 1987; Idem, “What Does Socialism Mean Today? The Rectifying Revolution and
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1990; BARRACHO, Carlos, Lições de
psicologia Económica. Lisboa: Instituto Piaget, 2001; HILFERDING, Rudolf, Il Capitale Finanziario. Tradução de Vittorio Sermonti, Savero Vertone. Milano: Editore Mimesis, 2011;
TRAVASSOS, Juliana Azevedo, Responsabilidade Corporativa: Institucionalização e Ideologia. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais, 2012; BENDIX, Reinhard, Construção Nacional e Cidadania: Estudos de Nossa Ordem Social em Mudança. Tradução Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Edusp, 2019; entre outros.
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*Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências da Comunicação junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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