L. A. Garcia-Roza – Crime & Castigo em Copacabana (RJ).
Ubiracy de Souza Braga*
“Minha vida sempre foi pautada por três
interesses: literatura policial, teoria psicanalítica e filosofia”. L. A. Garcia-Roza
A
subjetividade foi constituída a partir de uma nova interpretação em face do
indubitável dualismo a que somos remetidos pelo recurso à Lei, seria o caso de
nos perguntarmos se o empirismo, pelo desprezo que tem pela Lei, não teria
conseguido romper os limites impostos pelo platonismo. Sabemos como a história
da filosofia reduziu o empirismo a uma corrente de pensamento moderno
preocupada com a questão da origem do conhecimento: - todo conhecimento tem sua
fonte na experiência. Sabemos ainda que a afirmação não é, em si mesma, falsa;
o que é falso é reduzir a problemática empirista ao problema do conhecimento. O
próprio adjetivo “empirista” é por demais genérico para significar, com alguma propriedade,
autores tão diversos como Locke, Hume, Hartley e Stuart Mill, cujas teses
centrais nem sempre dizem respeito ao problema do conhecimento. Portanto, falar do empirismo em geral é
ignorar as peculiaridades de cada autor, algumas suficientemente fortes para tornar
suas posições irredutíveis aos demais. Não queremos perder de vista que o termo empirismo, se empregado genericamente,
é muito mais de compreendê-lo no âmbito discursivo de um fator de ocultamento
do que de esclarecimento, sem contar que reflete per se uma preocupação fundamental
que não é a central dois discursos desses autores, mas da história da filosofia
na sua função primordial ordenadora do saber ocidental.
A identificação da subjetividade com
a consciência para ser um ponto inabalável da filosofia moderna. Quando muito
encontramos em algumas interpretações a referência a uma região de opacidade,
mas que não chega a se constituir como uma ameaça; pelo contrário, é a própria consciência
expandindo seus domínios. Melhor dizendo, da consciência individual à
consciência transcendental, a problemática permanece a mesma. Nesse mundo,
cartesianamente concebido e conduzido, o ideal narcísico de uma consciência idêntica
a si mesmo é plenamente atingido. O que representou o século XVI como um século
de incertezas e de confusão resultantes da derrubada das grandes verdades que
haviam sido acumuladas por mais de dois milênios. Desde a autoridade do
Aristóteles até a fé na Igreja e nas grandes instituições do mundo ocidental,
tudo foi abalado por este século crítico, aturdido pelas grandes descobertas,
pelas invenções e pelas transformações políticas e religiosas. O resultado foi
um semicaos no interior do qual o homem ficou entregue à perplexidade e à
dúvida. Ao desvario e às incertezas da consciência no século XVI, seguiu-se a
ordem da racionalidade da consciência no século XVIII. Esta oposição não se
verificou apenas no âmbito do discurso filosófico, mas ela fazia parte da
divisão mais ampla que colocou frente a frente a identidade e a diferença.
Na
Introdução à Fenomenologia foi concebida ao mesmo tempo em que a obra é
redatada em primeiro termo; parece, pois, que encerra o substancial pensamento
do que é efetivo em toda a obra. Verdadeiramente constitui uma Introdução em
sentido literal aos três primeiros momentos de toda a obra, isto é: a
consciência, a autoconsciência e a razão -, enquanto a última parte da
Fenomenologia, que contêm os particularmente importantes desenvolvimentos sobre
o Espírito e a Religião, ultrapassa por seu conteúdo a Fenomenologia tal
como é definida stricto sensu na muito citada Introdução. Ao que parece é como
se Hegel entrasse no marco de desenvolvimento fenomenológico com algo que na
teoria, em princípio não deveria haver ocupado um posto nele. Não obstante, seu
estudo, em maior medida que o do prólogo, nos permitirá elucidar o sentido da
obra que quis escrever, assim como a técnica que para ele representa o
desenvolvimento fenomenológico. Precisamente porque a Introdução não é como um
Prólogo anexo posterior que contêm consideráveis informações gerais sobre o
objetivo que se propunha o autor e as relações que sua obra tem com outros
tratados filosóficos do mesmo tema. Melhor dizendo, “a introdução é parte
integrante da obra, constitui o delineamento mesmo do problema e determina os
meios postos em prática para resolvê-lo”.
Em
primeiro lugar, Hegel define na Introdução como se coloca para ele o problema
do conhecimento. Vemos como em certo aspecto retorna ao ponto de vista de Kant
e de Fichte. A Fenomenologia não é uma noumenologia nem uma ontologia, mas
segue sendo, todavia, um conhecimento do Absoluto, pois, que outra coisa
poderia conhecer se só o Absoluto é verdadeiro, ou só o verdadeiro é Absoluto?
Não obstante, em vez de apresentar o saber do Absoluto “em si para si”, Hegel
considera o saber tal como é na consciência e precisamente desde esse saber
fenomênico, mediante sua autocrítica, é como ele se eleva ao saber absoluto. Em
segundo lugar, Hegel define a Fenomenologia como desenvolvimento e cultura, no
sentido de seu progressivo afinamento da consciência natural acerca da ciência,
isto é o saber filosófico, o saber do Absoluto; por sua vez indica a
necessidade de uma evolução. Em último lugar, Hegel precisa a técnica teórica
do desenvolvimento fenomenológico e em que sentido este método é precisamente
obra própria da consciência que faz sua aparição na experiência, em que
sentido é suscetível de ser repensado em sua necessidade pela filosofia. A lei
cujo desenvolvimento necessário engendra todo o universo é a da dialética,
segundo a qual toda ideia abstrata, a começar pela de ser, considerada no seu
estado de abstração, afirma necessariamente a sua negação, a sua antítese, de
modo que esta contradição exige para se resolver a afirmação de uma síntese
mais compreensiva que constitui uma nova ideia, rica em desenvolvimento, ao
mesmo tempo, do conteúdo das duas outras.
Na
Introdução à Fenomenologia Hegel repete suas críticas a uma filosofia
que não fosse mais que teoria do conhecimento. E não obstante, a Fenomenologia,
como têm assinalado quase todos os seus expressivos comentaristas, marca em
certos aspectos um retorno ao ponto de vista de Kant e de Fichte. Em que novo
sentido devemos entendê-lo? Ora, se o saber é um instrumento, modifica o objeto
a conhecer e não nos apresenta em sua pureza; se for um meio tampouco, nos
transmite a verdade sem alterá-la de acordo com a própria natureza do meio
interposto. Se o saber é um instrumento, isto supõe que o sujeito do saber e
seu objeto se encontram separados; por conseguinte, o Absoluto seria distinto
do conhecimento: nem o Absoluto poderia ser saber de si mesmo, nem o saber,
fora da relação dialética, poderia ser saber do Absoluto. Contra tais
pressupostos a existência mesma da ciência filosófica, que conhece
efetivamente, é já uma afirmação. Não obstante, esta afirmação não poderia
bastar porque deixa a margem a afirmação de outro saber; é precisamente esta
dualidade o que reconhecia Schelling quando opunha o saber fenomênico e o saber
absoluto, mas não demonstrava os laços entre um e outro. Uma vez colocado o
saber absoluto não se vê como é possível no saber fenomênico, e o saber
fenomênico por sua parte fica igualmente separado do saber Absoluto. Hegel
retorna ao saber fenomênico, ao saber típico da consciência comum, e pretende
demonstrar como aquele conduz necessariamente ao saber Absoluto, ou também que
ele mesmo é um saber absoluto que, todavia, não se sabe como tal.
Não
apenas Fichte, mas o próprio Schelling, tampouco satisfaz a exigência de uma
estrutura de sistema que retorna a si mesma, pois o dualismo fichteano do eu e Não-Eu
perdura, em última análise, no primeiro projeto resumido de sistema, no Sistema
do idealismo transcendental. Segundo ele, a filosofia tem, com efeito, duas
partes – filosofia natural e filosofia transcendental, a qual, por sua vez,
contém, entre outras coisas, filosofia prática e filosofia teórica. Schelling
argumenta do seguinte modo: já que o saber seria unidade de subjetividade e objetividade,
o ponto de partida da filosofia teria de ser ou o objetivo (a natureza) ou o
subjetivo (a inteligência). Naquele caso, surgiria a filosofia da natureza;
neste, a filosofia transcendental. No entanto, o objetivo de cada uma dessas
duas ciências seria avançar na direção da outra – portanto, de um lado,
“partindo da natureza chegar ao inteligente”, e, de outro, partindo do
subjetivo, “fazer surgir dele o objetivo”. Esta afirmação apenas poderia fazer
sentido se para Hösle, com ela se tivesse em mente que a inteligência tem de
objetivar e naturalizar em atos práticos e estéticos, como Schelling tenta
demonstrar no Sistema. A segunda falha
resulta da primeira. Schelling conhece, em última instância, apenas duas esferas
da filosofia, as quais, na terminologia de Hegel, pertencem ambas à filosofia
da realidade. Aquela estrutura que precede à ambas e que Hegel tematiza na
Ciência da Lógica não tem lugar neste projeto de sistema de Schelling. É fácil
ver que não se pode um renunciar a ela, e por três motivos.
Em
segundo lugar, somente desse modo se pode compreender porque ambas as partes
são momentos de uma unidade. Não basta afirmar sua relação mútua, é preciso
explicitar estruturas ontológicas gerais que subjazem de igual modo à natureza
e à inteligência. Em segundo lugar, somente desse modo se pode tornar plausível
a dependência da natureza em relação a uma esfera ideal. E, em terceiro lugar,
uma filosofia natural e uma filosofia transcendental apriorísticas são
inconcebíveis sem essa esfera abrangente, pois a partir de que deveriam ser fundamentadas as primeiras suposições de
ambas as filosofias da realidade? Depois de se desfazer do “resto de
fichteanismo”, ainda reconhecível sobretudo na execução do Sistema do idealismo
transcendental, Schelling introduziu na Apresentação, como base destas duas
ciências, o Absoluto, e o definiu como identidade de subjetividade e
objetividade. No entanto, não se pode deixar de ver um limite na doutrina
schellinguiana do absoluto que representa um retrocesso, ficando, no mínimo,
aquém de Fichte e, em certo sentido, até mesmo aquém de Kant: as categorias
analíticas que Schelling utiliza para a caracterização do Absoluto são catadas
e, de modo algum deduzidas do próprio Absoluto. Unidade, identidade, infinitude
são determinações que Schelling toma da tradição e que, em primeiro lugar, ele
não legitima em si e por si – ele apenas mostra que em sua utilização de mera
identidade, antes elas que seu contrário conviriam ao absoluto, o qual é
entendido como unidade de subjetividade e objetividade, e que em segundo lugar,
ele nem sequer põe em um nexo causal ordenado.
Luiz Alfredo Garcia-Roza sempre foi apaixonado por literatura policial. Mas, curiosamente estreou na literatura de ficção apenas em 1996, aos 60 anos de idade. Mesmo com o tempo apertado e dividido entre as aulas, a orientação acadêmica de teses e dissertações, a coordenação do programa de pós-graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sem falar na preparação de livros em que utiliza a técnica de interpretação da psicanálise e filosofia, ele arranjava tempo para ler Arthur Conan Doyle, Raymond Chandler e Dashiell Hammett, alguns de seus autores preferidos. A partir de 1996, quando lançou seu primeiro romance policial, “O Silêncio da Chuva”, o gênero literário saiu do segundo plano para o papel de protagonista. Motivado pelo prêmio da indústria cultural “Nestlé de Literatura” e pelo exotismo do prêmio Jabuti, ganhos com a obra de estreia, Garcia-Roza decidiu deixar a vida acadêmica para se dedicar unicamente à questão primaz da literatura nacional.
Para surpresa do autor, seus livros não só ganharam a
simpatia do público como viraram best-sellers.
Juntos, “O silêncio da chuva”, “Achados e perdidos”, “Vento sudoeste”, “Uma
janela em Copacabana” e “Perseguido”, todos da empresa editorial Companhia das
Letras, venderam 90 mil exemplares no Brasil. Com um cinismo latente afirma: - “Fiquei
assustado. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. A própria feitura de um best-seller
supõe quase uma fórmula e eu não sigo nada disso”. Suas histórias também foram
lançadas na Espanha, Estados Unidos, Portugal, França e Grécia. Além de
atravessar com as palavras o oceano, as tramas do autor carioca vão em breve
ganhar as telas dos cinemas. O diretor José Joffly está na fase de produção de um
filme baseada em “Achados e perdida”. “Vento sudoeste” foi vendido para a
produtora Ana Maria Bahiana. “Ela vai fazer um filme e uma série para a TV”,
narra Garcia-Roza
Um dos principais responsáveis por todo esse sucesso é
o delegado Espinosa, personagem presente em todos os livros do autor. Ele não é
um super-herói, é um homem comum, com dúvidas e angústias, que cumpre com
responsabilidade social, inteligência e honestidade suas funções como titular
da 12ª DP, no tradicional bairro de Copacabana. Ele conhece a corrupção que ronda
a delegacia e sabe muito bem em quem pode e em quem não pode confiar, mas vai
levando, sabendo que pouco pode fazer para mudar essa estrutura que atravessou
o oceano com os portugueses. Não interessa ao autor retratar com fidelidade a
violência que marca cotidianamente o Rio de Janeiro. As ruas do centro e de
Copacabana, bairro onde nasceu, em 1936, e os problemas que atingem a cidade
estão nas páginas dos seus livros. Mas tudo é usado apenas como elemento de
fundo para a criação de suas tramas. - “Os acontecimentos policiais do Rio
servem somente para me manter dentro da temperatura da cidade. Nada mais do que
isso. Não tenho interesse em saber detalhes. A violência da cidade não é
sedutora”.
A carreira artística do ator
Domingos Montagner, nascido em São Paulo em 26 de fevereiro de 1962, começou no
circo, na companhia de seu teatro “La Mínima”, em 1980. Em 1990, ingressa no
teatro como palhaço em “Cordel Encantado”, da Rede Globo de televisão, que foi
a sua primeira participação em novela. Na televisão fez poucas participações,
como o seriado “Força Tarefa” e “A Cura”. Recentemente, também participou do
seriado Divã, em que fez Carlos, o amante da protagonista Mercedes, vivida pela
atriz Lília Cabral. Em 2012, viveu o presidente Paulo Ventura na minissérie O
Brado Retumbante. Neste ano, interpretou em “Salve Jorge”, o guia turístico
Zyah, que se apaixona por Bianca, personagem de Cléo Pires. Em 2013, viveu o
ativista Mundo em “Joia Rara”. Em 2014, é o protagonista de “Sete Vidas”, no
papel de Miguel, um homem que descobre ter sete filhos, após ser doador de
esperma.
Neste livro, há três personagens femininas bastante
importantes. A primeira é Irene, que Espinosa conheceu em Vento Sudoeste e com
quem continua a se encontrar em uma espécie de namoro light. Irene funciona
como um contraponto para a vida profissional de Espinosa. É na presença dela,
nas conversas com ela, que Espinosa desenvolve suas teorias e de quem obtém uma
perspectiva externa dos crimes. A segunda personagem é Celeste, namorada de um
dos policiais assassinados e cuja presença, mais etérea que corpórea, é
espreita constante na narrativa. Numa analogia ao angustiante livro de Cornell
Woolrich, “A Dama Fantasma”, Celeste é capaz de aparecer com as respostas de
que o delegado precisa apenas para, no minuto seguinte, desaparecer e gerar
mais dúvidas ainda. Por fim, a terceira mulher, Serena. Impossível não se
lembrar de Lisa Fremont, de “Janela Indiscreta” (1954). Não que Serena seja
elegante ou refinada como Grace Kelly, mas a obsessão que desenvolve em relação
à vigília da janela do apartamento em frente ecoa a trama de Alfred Hitchcock.
Serena é, na verdade, mais uma vítima da investigação de Espinosa. Ao mesmo
tempo em que tenta desempenhar o papel de “femme fatale”, a tentação que o
delegado vacila entre combater e abraçar, Serena é envolvida na trama mais complexa do que poderia esperar e da qual não sabe e nem compreende
como se defender.
A femme fatale existiu, de uma forma ou de outra,
desde o início dos tempos no folclore e na mitologia de quase todas as
culturas. Alguns dos exemplos mais primitivos, antropologicamente falando,
incluem a deusa suméria Ishtar e a personagem bíblica Dalila. Durante o final
do século XIX e começo do século XX, o tema da “femme fatale” se tornou um
ícone as representação onipresente na cultura ocidental e pode ser encontrado
nas obras de Oscar Wilde, Edvard Munch e Gustav Klimt. Isto pode ter sido em
decorrência de uma reação aos movimentos feministas historicamente constituídos,
que advogavam uma mudança radical do papel social da mulher, como as
“sufragettes”, no caso da visão política. Com a introdução do “film noir”, nos
anos 1940, a “femme fatale” floresceu na cultura de massa no âmbito
cinematográfico. Exemplos incluem os “thrillers” de espionagem, e certo número
de “tiras de quadrinhos” de aventura, como o “Spirit”, de Will Eisner ou “Terry
e os piratas”, de Milton Caniff, além de “Barbarella” e “Valentina”, para ficarmos
nestes exemplos.
A femme
fatale é às vezes tratada como uma espécie de vampiro sexual; seus apetites
sombrios eram considerados capazes de sugar a virilidade e a independência de
seus amantes, deixando-os ocos. Nesta visão, na antiga gíria norte-americana “femmes
fatales” eram chamadas de “vamps”, abreviação de “vampira”, Em “Vamps e Vadias”,
livro escrito por Camille Paglia logo após “Personas Sexuais”, ela aborda essa
crescente confusão em torno do que chama de “cultura do estupro”: o estupro em
sua definição criminal foi substituído por olhares, e até mesmo uma noite
frustrante de sexo consensual. É essa definição da pós-feminista que nos dá
base para explicar o que é o feminismo estereotipado – a concepção de que
homens e mulheres estão travando uma guerra, e todo o comportamento do “patriarcado”
é interpretado como agressão. Eva Green as Femme Fatale in
“Sin City 2”. Um retrato clássico de femme fatale é dado pela
personagem Justine no “Alexandria Quartet”, de Lawrence Durrell. Na ópera, uma
“femme fatale” é geralmente interpretada por uma mezzo-soprano dramática. Mais
comumente, no teatro musical, é vivida por uma “alt”, ou inimiga, adversária do
personagem ingênuo da donzela em perigo.
Outros argumentam que a figura tem um
contraponto masculino. E neste caso, alguns exemplos poderiam ter como
representação a figura de Don Juan, do preconceito vitoriano sobre o “negro”
Heathcliff de “O Morro dos Ventos Uivantes” e vários heróis nos livros de Lord
Byron, donde se originou o termo “herói byroniano”, bem como diversos
personagens como Billy Budd, como o Conde Drácula, Tadzio em “Morte em Veneza”, Georges
Querelle em “Querela de Brest”, de Jean Genet. Enfim, nas figuras caricatas do
espião britânico James Bond de Ian Fleming, prenunciando a chamada “guerra
fria” e Tom Ripley na série de Patrícia Highsmith. Copacabana é um bairro nobre situado na Zona
Sul da cidade do Rio de Janeiro. É
considerado um dos bairros mais famosos e prestigiados do Brasil e um dos mais
conhecidos do mundo. Tem o apelido de “Princesinha do Mar” e “Coração da Zona
Sul”. Copacabana atrai um grande contingente de turistas para seus mais de
oitenta hotéis, que ficam especialmente cheios durante as épocas do ano-novo e
do carnaval. No fim de ano, a tradicional queima de fogos na Praia de
Copacabana atrai uma multidão de pessoas. A orla ainda é lugar de variados
eventos, como shows nacionais e internacionais, durante o resto do ano. Há
várias hipóteses etimológicas para o nome Copacabana. A primeira alega que o
termo origem na língua quíchua falado no extraordinário Império Inca,
significando “lugar luminoso”, “praia azul” ou “mirante do azul”. Fontes
etnográficas indicam-no como originário da língua aimará falada na Bolívia, significando
“vista do lago”; em quéchua: “kota kahuana”, onde Copacabana é o nome dado a
uma cidade às margens do Lago Titicaca, sobre um antigo e
mágico local de culto inca narrado pela rica literatura.
O segundo Barão de Ipanema, José
Antônio Moreira Filho, era um grande proprietário de terras na região do atual
bairro de Copacabana. Em sociedade com José Luís Guimarães Caipora, teve um
papel importante na urbanização da área com a construção da maioria de seus
logradouros. José Antônio Moreira Filho foi o responsável pela urbanização da
Vila de Ipanema que deu origem ao bairro do mesmo nome. Entre 1908 e 1914, a
Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, no final da praia, foi demolida para dar
lugar ao atual Forte de Copacabana. Em 5 de julho de 1922, a calçada da Praia
de Copacabana foi palco de um evento marcante da história do país: a marcha dos
dezoito revoltosos do Forte de Copacabana, que percorreram toda a extensão da
praia desde o Forte de Copacabana até o Forte do Leme, no extremo oposto, para
enfrentar as forças legalistas, no episódio que ficou reconhecido como a
Revolta do Forte de Copacabana. Ou em
particular Revolta dos 18 do Forte, também reconhecida como Revolta do Forte de
Copacabana, que foi iniciada em 5 de julho de 1922 e encerrada no dia seguinte,
na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Foi a primeira revolta do
movimento tenentista, no contexto social e político da República Velha, também
reconhecida como Primeira República, representou um período da história que se estendeu de 1889 a 1930 e ficou marcado pela força bruta oligárquica. Os marcos históricos que estipulam metodologicamente seu início e
o fim são a Proclamação da República e a chamada Revolução de 1930.
Em
13 de agosto de 1923, foi inaugurado o Hotel Copacabana Palace, em frente à
praia. Desde então, o hotel tornou-se um símbolo da cidade. No decorrer das
décadas de 1930, 1940 e 1950, a praia viveu seu período áureo, quando tornou-se
a praia mais frequentada da cidade, suplantando a Praia do Flamengo e recebendo
a alcunha de “princesinha do mar”. Na década de 1970, também foi realizado,
pela Superintendência de Urbanização e Saneamento, através de dragas nacionais
e holandesas, um grande aterro hidráulico, comandado pelo engenheiro
Hildebrando de Góes Filho, presidente da Companhia Brasileira de Dragagens, que
ampliou a área de areia da praia e cujos objetivos principais eram: a ampliação
da área de lazer através de shows, arenas de vôlei e futebol de praia etc., o
alargamento das pistas da Avenida Atlântica, a passagem por baixo do calçadão
central do interceptor oceânico e, ainda, para evitar que as ressacas chegassem
até a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, paralela à Avenida Atlântica, e invadissem
as garagens dos edifícios do corredor da Avenida Atlântica, como era comum, com
as ressacas de maremotos, sendo que as mais fortes chegavam mesmo até
extremidade da famosa Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Os
estudos em modelos físicos hidráulicos desta ampliação foram realizados no
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa. Nesses modelos
técnico-metodológicos, trabalharam os engenheiros portugueses Fernando Maria
Manzanares Abecasis, Veiga da Cunha, Antônio Pires Castanho e Daniel Vera-Cruz
e o engenheiro brasileiro Jorge Paes Rios. Posteriormente, foram construídos,
na orla, uma ciclovia e alguns quiosques para atendimento ao público
consumidor. De 23 a 28 de julho de 2013, a praia de Copacabana sediou todos os
eventos centrais da Jornada Mundial da Juventude de 2013. A escolha da cidade
foi feita pelo papa Bento XVI em 2011, no encerramento da Jornada Mundial da
Juventude daquele ano. Com a renúncia do papa Bento XVI em fevereiro de
2013, o evento foi conduzido pelo seu sucessor, para Francisco S. J., nascido
Jorge Mario Bergoglio, é o 266º Papa da Igreja Católica e atual chefe de Estado
da cidade Estado do Vaticano. Foi o primeiro encontro do papa com a
juventude católica e o primeiro evento internacional do seu pontificado.
A Jornada Mundial da Juventude Rio
2013 foi considerada como o maior evento da história do Rio de Janeiro pelo
prefeito da cidade. Os eventos ecumênicos foram a Missa de Abertura, a acolhida
ao Papa Francisco, a Via-Sacra, a Vigília e a missa de envio com o Papa, na
qual compareceram 3,8 milhões de fiéis, tornando a Jornada Mundial da
Juventude do Rio de Janeiro a segunda da história social e cultural das
Jornadas.
Por outro lado, Garcia-Roza afirma não ser de maneira
alguma provocado a escrever novela policial em função da violência da cidade.
Para ele, a violência “em si”, é grosseira, estúpida, ignorante e inteiramente
gratuita. Não têm nada de sedutor, nem sequer tem o lado cerebral dos grandes
crimes. Para ele a alta taxa de criminalidade também não instiga o leitor. Se
ele se sentisse tão tocado pela violência nem precisaria ler. Por que alguém
escreve um livro policial? Daí a tese hobbesiana: Porque pode matar quem quiser
sem ser preso e sem que ninguém morra efetivamente. Na literatura, a violência simbólica pode se exercer e se expressar
nitidamente no universo da fantasia. Fico imaginando Dostoievski, afirma
Garcia-Roza, com sua fragilidade física, criando Raskolnikoff, de “Crime e
castigo”, que mata duas mulheres a machadadas. A literatura permite que os demônios
venham à tona: assassinos, os psicopatas e os crimes sexuais emergem, e a
escrita de certa maneira, os doma. O escritor é um domador de demônios. É
preciso usar a razão com sabedoria na conveniência absurda, da literatura, para
transformar tudo isso literariamente. Esse é o grande fascínio de ser escritor.
Fiódor Dostoiévski foi muito influenciado por
tradições folclóricas. Algumas acreditavam que as águas de rios, mares e lagos
representavam a fronteira entre “o mundo dos vivos e o mundo dos mortos”. Por
conta da influência que arrecadou através dessa cultura – onde o homem está
entre a vida e a morte –, as personagens da literatura de Dostoiévski estão
constantemente expostas a ocasiões complexas, beirando os limites da razão e da
lógica, e os limites que o ser humano é capaz de realizar diante de problemas universais;
contudo, em geral, suas personagens podem ser classificadas em diferentes
categorias: “cristãos humildes e modestos”, “autodestrutivos e niilistas”,
“cínicos e libertinos”, “intelectuais rebeldes”, enquanto regidos por ideias e
não imperativos sociais ou biológicos herança do positivismo comtiano.
Lembra-nos un passant a “filosofia na
alcova: ou os preceptores imorais” do Marques de Sade.
Embora alguns biógrafos insistam que a primeira
“crise” de Fiódor Dostoiévski aconteceu antes da prisão, às cartas que ele enviou ao
irmão deixaram bastante claro que ele só começou a apresentar a doença durante
sua prisão. Os estudos médicos nunca chegaram a um acordo sobre a epilepsia de
Dostoiévski. Freud afirmou que era uma doença histérica, e não epilepsia. Não
só pelas Cartas, mas também pelos testemunhos deixados por seus contemporâneos,
podemos perceber que Dostoiévski nunca abandonou a religião Ortodoxa, na qual
fora criado, ao contrário do mito que se formou posteriormente. A partir de
Freud, o Inconsciente passa a ser uma instância psíquica com leis próprias,
regida pelo imperativo da satisfação e que, a todo o momento, quer irromper na
consciência e, para tanto, romper com o que se entende por recalque.
Enfim, para a compreensão da neurose de Dostoiévski,
analiticamente Freud utiliza o “sujeito do sintoma”, nesse caso da epilepsia.
Pois bem, Dostoievski era epilético e, segundo suposição de Freud, os sintomas
neuróticos teriam assumido forma epilética a partir do assassinato de seu pai.
Aí se torna visível a questão do parricídio; como demonstrado pelo complexo de
Édipo, em que Fiódor Dostoiévski, talvez como qualquer outra pessoa, teria ao
mesmo tempo ódio do pai por vê-lo como rival pelo amor da mãe e identificação
com ele através da admiração e desejo de ocupar seu lugar, fundando uma relação
ambivalente. O ódio, no entanto, seria reprimido pelo que Freud representa como
“temor à castração”, e permaneceria no nível do inconsciente. Quando presente
um fator bissexual, como constitucional da criança, o amor pelo pai faz com que
o menino queira assumir a posição da mãe. Porém, para isso a criança seria
igualmente castrada, de modo que o medo da castração dessa vez causa um medo
também à atitude feminina: um nível aparente de homoerotismo latente.
Bibliografia geral consultada.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor, Os Irmãos
Karamázov. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1962; GOLDMANN, Lucien, Per una Sociologia del Romanzo. Milão:
Editore Bompiani, 1967; CERTEAU, Michel de, La
prise de parole. Paris: Éditions du Seuil, 1968; FREUD, Sigmund, “Dostoiévski e o Parricídio”. In: Obras Completas. Volume XXI. Rio de
Janeiro: Editora Imago, 1990; PAGLIA, Camille, Vampes & Vadias. Rio de Janeiro: Editor Francisco Alves, 1996; DIJKSTRA,
Bram, Idols of Perversity: Fantasies of
Feminine Evil in Fin-de-siècle Culture. Oxford: Oxford University Press, 1986; FERNANDES, Flávia Ferreira, A Praia de Copacabana:
Uma Reflexão sobre Algumas das Estratégias de Construção e Manutenção da Imagem
de um Espaço de Consumo e Lazer da Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Niterói: da Universidade
Federal Fluminense, 2007; GARCIA-ROZA,
Luiz Alfredo, Acaso e Repetição em
psicanálise: uma introdução à teoria das pulsões. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1986; Idem, Freud e o
inconsciente. 23ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008; Idem, Uma Janela em Copacabana. 3ª edição. Rio
de Janeiro: Editora Companhia das Letras, 2010; AZEVEDO, Fernanda
Mara de Almeida, Romance Policial, Psicanálise e Cultura Contemporânea em
Luiz Alfredo Garcia-Roza e Dennis Lehane. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de
Educação e Humanidades. Instituto de Letras. Rio de Janeiro: Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2012; VALLE, Cid Prado, Rocambole de Carne à Copacabana. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora
Litteris, 2013; O`DONNELL, Julia, A
Invenção de Copacabana – Culturas Urbanas e Estilos de Vida no Rio de Janeiro
(1890-1940). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2013; MEIRELES, Maurício, “Psicanalista
Luiz Alfredo Garcia-Roza cria Literatura de Crime Tropical”. In: http://www1.folha.uol.com.br/2015/10/; entre outros.
______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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