Ubiracy
de Souza Braga*
“O homem atual não tem consciência de
melhorar o mundo para os que virão depois dele”. Antonio Banderas
O famoso mágico Jean Eugène Robert-Houdin
ficou reconhecido por criar autômatos para suas performances. O
período de 1860 a 1910 é reconhecido como A
Era de Ouro dos Autômatos. Durante este período, muitas pequenas empresas
dirigidas por famílias brilharam em Paris, enviando milhares de
autômatos-relógios e pássaros mecânicos cantantes para todo o mundo. Estes
mecanismos são cobiçados por colecionadores, que sabem que apesar de caros alguns
são muito raros. Os principais vendedores franceses foram as diversas empresas
Vichy, Roullet & Decamps, Lambert, Phalibois, Renou e Bontems. Os autômatos
contemporâneos continuam sua tradição de manter ênfase em sua arte, em
detrimento de sofisticação tecnológica. Eles hoje são representados pelos
trabalhos do Teatro Mecânico Cabaret no Reino Unido, Dug North e Chomick+Meder,
Thomas Kuntz, Arthur Ganson, Joe Jones nos Estados Unidos da América (EUA), Le
Défenseur du Temps pelo artista francês Jacques Monestier, e François Junod na
Suiça. Alguns brinquedos mecânicos desenvolvidos durante os séculos XVIII e XIX
eram autômatos de papel e simplicidade material,
embora autômatos de papel requeiram um nível de ingenuidade mecânica.
No filme Hugo, de 2011, o
personagem principal, Hugo Cabret, deve consertar um autômato em forma de
homem, o qual ele e seu pai já tentaram consertar antes, acreditando que ele
contém uma mensagem secreta deixada por seu pai antes de sua morte. Perto do
final do filme, é revelado que o mesmo autômato foi criado por Georges Méliès,
que doou o mecanismo para o museu onde o pai de Hugo trabalhava, depois que o
próprio Méliès não conseguiu o consertar. Este filme é baseado no livro de 2007,
intitulado A Invenção de Hugo Cabret,
pelo autor estadunidense Brian Selznick. Formalmente, um autômato é definido
como sendo um modelo matemático de uma máquina de estados finitos. Um autômato
funciona como um reconhecedor de uma determinada linguagem e serve para modelar
uma máquina, ou mesmo, se quiserem um computador simples. É usado, por exemplo,
em editores de texto para reconhecer padrões. Um conceito fundamental nos
autômatos é o conceito de estado. Este conceito é aplicado a qualquer sistema,
por exemplo, à nossa televisão. As noções de estado e sistema são tão
onipresentes que foi desenvolvido um campo de conhecimento chamado Teoria dos
sistemas. Uma televisão pode estar ligada(on) ou desligada(off), temos então um
sistema com dois estados. A um nível mais detalhado, podemos desejar
diferenciar os canais, caso em que podemos ter centenas de estados: um para
desligada e os restantes significando ligada no canal N, existindo sempre um
número finito de estados. Dada uma televisão, ela não está apenas num dos
estados possíveis, somos capazes com o uso racional da tecnologia fazer mudar a
televisão de estado.
Antonio Banderas entra agora para o
mundo da ficção científica no cinema com uma história profunda sobre a
decomposição do ser humano. Algo que, segundo o ator, não é tão impensável
assim. Isso porque ele duvida de que o homem moderno, instigado pelo ritmo
frenético das novas tecnologias, tenha capacidade de parar para pensar no
futuro de sua espécie. – “O homem atual não tem consciência de melhorar o mundo
para os que virão depois dele, e isso pode, eventualmente, levar à destruição
do planeta e de nossa forma de viver”, refletiu o ator e produtor de “Autómata”,
filme dirigido pelo também espanhol Gabe Ibáñez, em entrevista à Agência Efe,
em Madri. Mesmo assim, Banderas afirmou estar otimista, porque sabe que a utilização de novas tecnologias é chave na propagação das imagens e está convencido
de que precisam existir formas de se conscientizar. – “É preciso que exista uma
maneira de as pessoas encontrarem um modo de se organizar e melhorar a forma de
gestão, para que ela seja mais justa e faça mais sentido. Acontece que, vendo
as notícias, me contradigo totalmente, porque o que vivemos é o oposto, e a
única coisa que as novas tecnologias fizeram foi acelerar esses momentos,
inclusive os maus, que vão a uma velocidade vertiginosa e fogem ao nosso
controle. Já não sabemos se poderemos controlar o monstrinho que criamos”.
Ainda
de acordo com o ator e produtor, “Autómata” se enquadra na classificação de
ficção científica mais tradicional. – “Diria que segue o estilo da ficção
literária de Orson Welles ou Isaac Asimov. É uma provocação para a reflexão
sobre o futuro. É um espelho que reflete as sociedades modernas”. O filme se
desenvolve em um futuro no qual o que restou da humanidade vive entre muros, em
um mundo sem oceanos, e se apoia em robôs domésticos para sobreviver. Banderas
é Jacq Vaucan, um obscuro e triste agente de seguros que acaba por trair o
gênero humano. Coprodução com a Bulgária, onde foi rodado ao custo de US$ 5,7
milhões, obtidos por meio de contatos pessoais do ator: desde a produtora
Millenium, passando pela voz de Javier Bardem para o primeiro robô que se dá
conta que já não tem nada mais a aprender com os humanos, à sua ex-mulher,
Melanie Griffith, que também dá voz a um robô no filme como indivíduos únicos e com personalidades distintas.
Antonio Banderas é uma das faces mais conhecidas do cinema espanhol. Sonhou em ser jogador de futebol quando criança, mas foi obrigado a abandonar as chuteiras após quebrar o pé aos 14 anos. Filho de um policial e uma professora, ele começou a se interessar pelas artes após assistir uma montagem do musical “Hair” no teatro. Estudou na Escola de Artes Dramáticas de Málaga e chegou a ser preso por atuar em uma peça de Bertolt Brecht que havia sido censurada pelo governo do general Francisco Franco. Em 1981, com 19 anos, se mudou para Madri buscando maior destaque na carreira de ator. Juntou-se à equipe do Teatro Nacional da Espanha, se tornando o membro mais jovem da história a ingressar no grupo. Suas atuações no palco chamaram a atenção do diretor Pedro Almodóvar, que em 1982 convidou Banderas para atuar em “Labirinto de Paixões”, seu primeiro trabalho que internacionalizaria sua carreira. Ambos realizaram ainda filmes polêmicos como: “A Lei do Desejo”, “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, “Ata-me!” e, recentemente, “A Pele que Habito”.
Antonio Banderas é uma das faces mais conhecidas do cinema espanhol. Sonhou em ser jogador de futebol quando criança, mas foi obrigado a abandonar as chuteiras após quebrar o pé aos 14 anos. Filho de um policial e uma professora, ele começou a se interessar pelas artes após assistir uma montagem do musical “Hair” no teatro. Estudou na Escola de Artes Dramáticas de Málaga e chegou a ser preso por atuar em uma peça de Bertolt Brecht que havia sido censurada pelo governo do general Francisco Franco. Em 1981, com 19 anos, se mudou para Madri buscando maior destaque na carreira de ator. Juntou-se à equipe do Teatro Nacional da Espanha, se tornando o membro mais jovem da história a ingressar no grupo. Suas atuações no palco chamaram a atenção do diretor Pedro Almodóvar, que em 1982 convidou Banderas para atuar em “Labirinto de Paixões”, seu primeiro trabalho que internacionalizaria sua carreira. Ambos realizaram ainda filmes polêmicos como: “A Lei do Desejo”, “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, “Ata-me!” e, recentemente, “A Pele que Habito”.
No
início da década de 1990, apareceu como objeto de desejo de Madonna em “Na Cama
com Madonna”, no que já seria uma prévia de sua estreia nos cinemas
norte-americanos. A primeira participação em Hollywood veio em 1992 com “Os
Reis do Mambo”. Nos anos seguintes obteve destaque em obras como “Filadélfia” e
“Entrevista com o Vampiro”, e passou a ser visto como herói de aventuras a
partir de “A Balada do Pistoleiro”, de Robert Rodriguez. Demonstrou
versatilidade e brilhantismo em filmes como: “A Máscara do Zorro”, “Assassinos”,
“Dupla Explosiva” e “Era uma Vez no México”. Atuou ao lado de Angelina Jolie em
“Pecado Original” e voltou a trabalhar com Rodriguez na trilogia: “Pequenos
Espiões”. Vale lembrar que em 1996, conheceu sua esposa Melanie Griffith
durante as filmagens de “Quero Dizer Que Te Amo”. Banderas fez sua estreia,
logo em seguida, com a direção com “Loucos do Alabama” (1999). Além disso, trabalhou
com importantes diretores, como Brian De Palma (“Femme Fatale”), Julie Taymor (“Frida”),
Alan Parker (“Evita”) e Woody Allen (“Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos”),
mas sempre teve que lidar com os críticos de cinema que, do ponto de vista etnocêntrico,
defendem que nunca conseguiu nos Estados Unidos papéis tão bons quanto os que
interpretaram no cinema espanhol.
As relações sociais entre os polos
“humanismo e maquínico” estão sempre presentes e não são autônomos. Na
sociedade globalizada a dialética entre estes dois polos constitui o espaço da
invenção entre o que é estética e tecnologia. Em menos de um século os mecanismos
de “pós-contemplação” tornaram-se progressivamente maquínico. O “estrato
maquínico” está relacionado à maquinaria televisual da transmissão a distância,
ao vivo e multiplicada na relação ente emissor e receptor. Estrato onde há mais comunhão, onde o sujeito
pretende viver a relação intensiva para ser mais um número na recepção
extensiva como alongamento do homem. A imagem informática, enquanto processo de
trabalho e de comunicação visual de síntese, infográfica, digital, virtual,
transformando o próprio real em maquínico, pois o objeto a se representar
pertence a ordem das máquinas no âmbito virtual, onde o programa cria, forja e
modela o seu gosto, que além da reprodução social atua na própria concepção. É distinto da separação entre signos linguísticos e elementos plásticos; equivalência da semelhança e da afirmação. Estes dois princípios constituíam a tensão da pintura clássica: pois o segundo reintroduzia o discurso, ainda que seja só a afirmação ali onde se fala, numa pintura em que o elemento linguístico era cuidadosamente em seu sucedâneo excluído.
Para Octavio Ianni a relação entre o
homem e a máquina é uma das mais extremas e cruéis sátiras sobre o Mundo
Moderno. A sociologia e a modernidade surgem na mesma época, na mesma idade.
Talvez se possa dizer que a revolução popular de 1848 despertou o Mundo para
algo novo, que não havia sido ainda plenamente percebido. A multidão aparecia
no primeiro plano, no horizonte da história. E aparecia como multidão, massa,
povo e classe. A revolução de 1848 em Paris repercutiu em toda a França, na
Europa e em muitas partes do mundo. Via-se que a multidão tornava-se classe
revolucionária em conjunturas críticas. A metamorfose pode ser brusca,
inesperada, assustadora, fascinante. Em Paris de 1848 viviam, trabalhavam,
produziam e lutavam Tocqueville, Proudhon, Comte, Marx, Blanqui e Baudelaire. Na
capital do século XIX, se revelam os primeiros sinais de que aquela sociedade é histórica, transitória, nesse momento nascem a Sociologia e a
Modernidade.
Enfim,
é daí que nasce o herói solitário e triste de Charles Chaplin. Numa das mais
avançadas expressões da Modernidade no plano estético da arte que é o cinema,
surge o “lumpenproletariat” olhando espantado para os outros, as coisas, o
mundo. Carlitos é um herói trágico. Solitário e triste, vaga perdido no meio da
cidade, um deserto povoado pela multidão. Farrapo coberto de farrapos.
Fragmento de um todo no qual não se encontra; desencontra-se. Caminha perdido e
só, no meio da estrada sem-fim. Parece ele e outros, mas outros e muitos, todos
os que formam e conformam a multidão gerada pela modernidade. Vale lembrar que representa um momento excepcional
da épica contemporânea. E contemporâneo faz referência também à época presente, o tempo atual e ao indivíduo do nosso tempo. Por exemplo: a música contemporânea é a música do nosso tempo. A arte contemporânea é a arte de nossa época. Contudo, o sentido da palavra moderno é diferente da palavra contemporâneo. Uma vez que é empregada para fazer referência ao que é mais recente ao que está mais próximo de nós. Melhor dizendo, o que tem tendência a inovações ainda não consagradas pelo uso. Carlitos revela a poética da vida e do mundo a partir
da visão paródica do lumpen que olha a vida e o mundo a partir dos farrapos
da extrema carência, de baixo-para-cima, de ponta-cabeça.
Bibliografia
geral consultada.
CARROUGES, Michel, Les
Machines Célibataires. Paris: Éditions Arcanes, 1954; ASIMOV, Isaac
“Hollywood and I”. In: Asimov´s Science
Fiction, May 1979; CHAPLIN, Charles, Mis
Primeros Años. Buenos Aires: Emecé Editores, 1981; WOOD, Stephen (ed.), The Degradation of Work? Skill, deskilling
and the labor process. Hutchinson. London: Melbourne, 1982; TRONTI, Mario, Operários e Capital. Porto: Editor Afrontamento,
1976; GIANNOTTI, José Arthur, Trabalho e
Reflexão. Ensaios para uma dialética da sociabilidade. São Paulo: Editora Brasiliense,
1984; DEJOURS, Christophe, A Loucura do
Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Editoras Cortez-Oboré,
1988; LÉVY, Pierre, Ideografia Dinâmica: para uma imaginação artificial. Lisboa: Instituto Piaget, 1991; VALE FILHO, Adhemar Maria do, Um Modelo para Implementação de Consciência em Robôs Móveis. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis: Universidade Federal de Sanata Catarina, 2003; LOPES, Danielly Amatte, Entre Ervas e Humanos: Uma Abordagem da Relação Homem-Máquina Através da Animação Japonesa Néon Genesis Evangelion. Dissertação de Mestrado. Programa de Pòs-Graduação em Cultura Visual. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2006; IANNI, Octávio, A Sociologia e o Mundo Moderno. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2011; STANGE, Renata Luiza, Adaptatividade em Aprendizagem de Máquina: conceitos e Estudo de Caso. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011; CERTEAU, Michel, A Invenção do
Cotidiano. Artes de fazer. 20ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes,
2013; Artigo: “Antonio Banderas Already Filming Automata in Bulgaria”. In: www.novinite.com/12april2013; WEISSBERG, Jay, “San Sebastian Film Review: Automata”. Disponível em: Variety. Retrieved 1° November 2014; SCHRÖDER, Stan, “See the
Trailer for ´Automata`, a Sci-Fi Movie with Robots and Antonio Banderas”. iN: Mashable. Retrieved 14 June 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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