sábado, 30 de dezembro de 2017

Naufrágio do Bateau Mouche, em Copacabana, Rio de Janeiro.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas”. Umberto Eco 


                           
       Umberto Eco começou a sua carreira como filósofo sob a orientação de Luigi Pareyson (1918-1991), na Itália. Seus primeiros trabalhos dedicaram-se ao estudo da estética medieval, sobretudo aos textos de São Tomás de Aquino. A tese principal defendida por Umberto, nesses trabalhos, diz respeito à ideia de que esse grande filósofo e teólogo medieval, que, como os demais de seu tempo, é acusado de não empreender uma reflexão estética, trata, de um modo particular, da problemática do belo. A partir da década de 1960, Eco lança se ao estudo das relações existentes entre a poética contemporânea e a pluralidade de significados. Seu principal estudo, nesse sentido, é a coletânea de ensaios intitulada Obra Aberta (1962), que fundamenta o conceito de obra aberta, segundo o qual uma obra de arte amplia o universo semântico provável, lançando mão de “jogos semióticos”, a fim de repercutir nos seus intérpretes uma gama indeterminável, porém não infinita de interpretações. Ainda na década de 1960, Eco notabilizou-se pelos seus estudos acerca da cultura de massa, em especial os ensaios contidos no livro: Apocalípticos e Integrados (1964), em que ele defende uma nova orientação nos estudos dos fenômenos da cultura de massa, criticando a postura apocalíptica daqueles que acreditam que a cultura de massa é a ruína dos altos valores artísticos - identificada com a Escola de Frankfurt, mas não necessariamente e totalmente devedora da Teoria Crítica - e, também, a postura dos integrados - identificada, na maioria das vezes, com a postura engenhosa de McLuhan -  para quem a cultura é resultado da integração democrática das massas na sociedade. 
       A partir da década de 1970, Eco passa a tratar quase que exclusivamente da semiótica. Eco descobriu o termo Semiótica nos parágrafos finais do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690), de John Locke, ficando ligado à tradição anglo-saxónica da semiótica, e não à tradição da semiologia relacionada com o modelo linguístico de Ferdinand de Saussure. Pode-se dizer, inclusive, que a teoria de Umberto acerca da obra aberta é dependente da noção pierciana de semiose ilimitada. Nesta concepção do sentido, um texto será inteligível se o conjunto dos seus enunciados respeitar o saber associativo. Ao longo da década, e atravessando a década de 1980, Eco escreve importantes textos nos quais procura definir os limites da pesquisa semiótica, bem como fornecer uma nova compreensão da disciplina, segundo pressupostos buscados em filósofos como Immanuel Kant e linguistas como Charles Sanders Peirce. São notáveis a coletânea de ensaios: As Formas do Conteúdo (1971) e o livro de grande fôlego Tratado Geral de Semiótica (1975). Nesses textos, Umberto Eco sustenta que o código que nos serve de base para criar e interpretar as mais diversas mensagens de qualquer subcódigo (a literatura, o subcódigo do trânsito, as artes plásticas etc.) deve ser comparado a uma estrutura rizomática pluridimensional que dispõe os diversos sememas (ou unidades culturais) numa cadeia de liames que os mantêm unidos. 
         Dessa forma, o Modelo Q (de Quillian) dispõe os sememas — as unidades mínimas de sentido — segundo uma lógica organizativa que, de certo modo, depende de uma pragmática. A sua noção de signo como enciclopédia é oriunda dessa concepção. Como consequência de seu interesse pela semiótica e em decorrência do seu anterior interesse pela estética, Eco, a partir de então, orienta seus trabalhos para o tema da cooperação interpretativa dos textos por parte dos leitores. Lector in fabula (1979) e, Os Limites da Interpretação (1990) são marcos dessa produção, que tem como principal característica sustentar a ideia de que os textos são máquinas preguiçosas que necessitam a todo o momento da cooperação dos leitores. Dessa forma, Eco procura compreender quais são os aspectos mais relevantes que atuam durante a atividade interpretativa dos leitores, observando os mecanismos que engendram a cooperação interpretativa, ou seja, o pre-enchimento de sentido que o leitor faz do texto, procurando, ao mesmo tempo, definir os limites interpretativos a serem respeitados e os horizontes de expectativas sociais gerados pelo próprio texto, em confronto com o contexto histórico em que se insere o leitor.

                                                        
     Naufrágio pode ser caracterizado sociologicamente como desaparecimento, afundamento ou perda de uma embarcação, ou navio de transporte, da marinha mercante ou de guerra em alto mar em conflito bélico. Situação de afundamento de um navio ou  ação como representação de um ato que se converte em causa de uma ação, como o ato de naufrágio de afundar referente a uma embarcação. No sentido figurado refere-se ao insucesso, fracasso ou decadência, queda ou ruína. A denominação Bateau-mouche representa um tipo de embarcação com design para servir como plataforma de visita turística, navegando em águas abrigadas, habitualmente rios, em que o convés superior é aberto ou tem uma cobertura transparente, para os passageiros poderem apreciar a paisagem na rota marítima. Os mais conhecidos são os que circulam no rio Sena em Paris, e de onde a designação originalmente apareceu. Na realidade, o termo é uma marca registada da Compagnie des Bateaux Mouches, a principal operadora deste tipo de embarcações comerciais no Sena. O nome foi adotado para caracterizar este tipo de embarcação quase em todo o mundo, sendo usada para os barcos que fazem o mesmo tipo de passeio nos canais de Amsterdam ou Estocolmo. No Brasil, “bateau-mouche” é o registro de uma série de embarcações adaptadas para essa finalidade e que exploram o turismo nas águas da Baía de Guanabara. No Rio de Janeiro após um complexo acidente durante o réveillon (1988), na praia de Copacabana o nome bateau-mouche tornou-se historicamente um paradoxo nãointencional e sinônimo de tragédia.
       O Bateau Mouche IV representou a embarcação de turismo que naufragou na costa brasileira no dia 31 de dezembro de 1988, mais precisamente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, quando estava a caminho de Copacabana. Das 142 pessoas a bordo, 55 morreram. Acredita-se que a embarcação estivesse superlotada, além de apresentar uma série de falhas. A embarcação, um antigo barco de pesca fabricado em Fortaleza em 1970 e batizado inicialmente como Kamaloka, havia sido modificada várias vezes, destacando-se o acréscimo de um terraço suplementar. Durante as comemorações do Ano Novo de 1989, embora estivesse regularizada pelas autoridades competentes e fosse considerada um cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro, ao se deslocar para fora da barra da baía de Guanabara para assistir à queima de fogos na praia de Copacabana, deparou-se com ondas pesadas no mar, vindo a adernar. A rápida e acentuada movimentação de carga nos andares superiores causou o naufrágio, no qual morreram 55 dos 142 passageiros a bordo. A traineira Evelyn Maurício tinha partido de Niterói com os pescadores Jorge de Souza, João Batista de Souza Abreu, Marcos Vinícius Lourenço da Silva, Francisco Carlos Alves de Moraes e Jorge Luiz Soares de Souza e as suas famílias a Copacabana; no caminho cruzaram com o Bateau Mouche IV, iluminado e muito cheio.
            Os pescadores “presenciaram o naufrágio, e tornaram-se heróis ao jogarem boias, cabos e cordas para salvar cerca de 30 náufragos, que foram retiradas do mar pelos braços”. No inquérito que se seguiu foram apontados diversos responsáveis, entre eles a empresa de turismo, os passageiros que disputavam um lugar a boreste do terraço da embarcação, as autoridades competentes do estado do Rio de Janeiro, e a Capitania dos Portos, dando lugar a um longo processo judicial. O laudo pericial apontou que o Bateau Mouche IV transportava mais que o dobro da lotação permitida (62 passageiros). Os sócios majoritários da empresa Bateau Mouche Rio Turismo, Faustino Puertas Vidal e Avelino Rivera (espanhóis) e Álvaro Costa (português), foram “condenados por homicídio culposo (sem a intenção de matar), sonegação fiscal e formação de quadrilha”, em maio de 1993, a quatro anos de prisão em regime semiaberto (só dormiam na prisão), mas em fevereiro de 1994 eles fugiram para a Espanha. A atriz Yara Amaral (1936-1988) perdeu a vida na tragédia, junto com sua mãe. Também se encontrava a bordo da embarcação o ex-ministro, Aníbal Teixeira, que sobreviveu.
Copacabana é um bairro situado na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. É considerado um dos bairros mais famosos e prestigiados do Brasil e um dos mais conhecidos do mundo. Tem o apelido de “Princesinha do Mar” e “Coração” da Zona Sul. Faz divisa com os também bairros nobres da Lagoa, Ipanema, (enseada de Botafogo, praia do Leme e bairro Humaitá. Copacabana atrai um grande contingente de turistas para seus mais de oitenta hotéis, que ficam especialmente cheios durante as épocas do ano-novo e do carnaval. No fim de ano, a tradicional queima de fogos na Praia de Copacabana atrai uma multidão. A orla ainda é lugar de variados eventos, como shows nacionais e internacionais, durante o resto do ano. Inicialmente, a praia e toda a região a sua volta tinham o nome tupi de Sacopenapã, que tem como significado “o barulho e o bater de asas dos socós”. No século XVIII, com a inauguração de uma ermida em homenagem a Nossa Senhora de Copacabana, num rochedo no final da praia, o nome da praia e da região foi trocado para Copacabana. recebeu este nome em homenagem a uma cidade da Bolívia, a cidade de Copacabana, capital da província de Manco Capac e um importante porto às margens do famoso lago Titicaca e rocha andina Cordilheira Real. É cenário religioso em que Nossa Senhora se manifestou de acordocom a formação da crença na Virgem de Copacabana. 
      O segundo Barão de Ipanema, José Antônio Moreira Filho, era um grande proprietário de terras na região do atual bairro de Copacabana. Em sociedade com José Luís Guimarães Caipora, teve um papel importante na urbanização da área com a construção da maioria de seus logradouros. José Antônio Moreira Filho foi o responsável pela urbanização da Vila de Ipanema que deu origem ao bairro do mesmo nome. Entre 1908 e 1914, a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, no final da praia, foi demolida para dar lugar ao atual Forte de Copacabana. Em 5 de julho de 1922, a calçada da Praia de Copacabana foi palco de um evento marcante da história do país: a marcha dos dezoito revoltosos do Forte de Copacabana, que percorreram toda a extensão da praia desde o Forte de Copacabana até o Forte do Leme, no extremo oposto, para enfrentar as forças legalistas, no episódio que ficou reconhecido como a Revolta do Forte de Copacabana.  Ou em particular Revolta dos 18 do Forte, também reconhecida como Revolta do Forte de Copacabana, que foi iniciada em 5 de julho de 1922 e encerrada no dia seguinte, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Foi a primeira revolta do movimento tenentista, no contexto  social e político da República Velha, também reconhecida como Primeira República, representou um período da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930 e ficou marcado pela força bruta das oligarquias. Os marcos históricos que estipulam metodologicamente seu início e o fim são a Proclamação da República e a Revolução de 1930.  
Em 13 de agosto de 1923, foi inaugurado o Hotel Copacabana Palace, em frente à praia. Desde então, o hotel tornou-se um símbolo da cidade. No decorrer das décadas de 1930, 1940 e 1950, a praia viveu seu período áureo, quando tornou-se a praia mais frequentada da cidade, suplantando a Praia do Flamengo e recebendo a alcunha de “princesinha do mar”. Na década de 1970, também foi realizado, pela Superintendência de Urbanização e Saneamento, através de dragas nacionais e holandesas, um grande aterro hidráulico, comandado pelo engenheiro Hildebrando de Góes Filho, presidente da Companhia Brasileira de Dragagens, que ampliou a área de areia da praia e cujos objetivos principais eram: a ampliação da área de lazer através de shows, arenas de vôlei e futebol de praia etc., o alargamento das pistas da Avenida Atlântica, a passagem por baixo do calçadão central do interceptor oceânico e, ainda, para evitar que as ressacas chegassem até a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, paralela à Avenida Atlântica, e invadissem as garagens dos edifícios do corredor, como era comum, com as ressacas de maremotos, sendo que as mais fortes chegavam mesmo até extremidade da famosa Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Os estudos em modelos físicos hidráulicos desta ampliação foram realizados no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa. Nesses modelos técnico-metodológicos, trabalharam os engenheiros portugueses Fernando Maria Manzanares Abecasis, Veiga da Cunha, Antônio Pires Castanho e Daniel Vera-Cruz e o engenheiro brasileiro Jorge Paes Rios. Posteriormente, foram construídos, na orla, uma ciclovia e alguns quiosques para atendimento ao público consumidor. De 23 a 28 de julho de 2013, a praia de Copacabana sediou todos os eventos centrais da Jornada Mundial da Juventude de 2013. A escolha da cidade foi feita pelo papa Bento XVI em 2011, no encerramento da Jornada Mundial da Juventude daquele ano. Com a renúncia do papa Bento XVI em fevereiro de 2013, o evento foi conduzido pelo seu sucessor, para Francisco S. J., nascido Jorge Mario Bergoglio, é o 266º Papa da Igreja Católica e atual chefe de Estado da cidade Estado do Vaticano. Foi o primeiro encontro do novo papa com a juventude católica e também o primeiro evento internacional do seu pontificado. A JMJ Rio 2013 foi considerada como o maior evento da história do Rio de Janeiro pelo prefeito da cidade. Os eventos ecumênicos foram a Missa de Abertura, a acolhida ao Papa Francisco, a Via-Sacra, a Vigília e a missa de envio com o Papa, na qual compareceram 3,8 milhões de fiéis, tornando a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro a segunda da história das Jornadas. Nos Jogos Olímpicos de 2016, sediou as  competições de vôlei de praia, maratona aquática e triatlo.
Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no interior de sua comunidade. Os ritos de passagem podem ter caráter social, comunitário ou religioso.  Ritos de passagem são aqueles que marcam momentos importantes na vida das pessoas. Os mais comuns são os ligados a nascimentos, mortes, casamentos e formaturas. Em nossa sociedade, os ritos ligados aos nascimentos, mortes e casamentos são praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas não costumam ser, em si, religiosas, mas frequentemente têm importantes momentos religiosos. O termo foi popularizado pelo antropólogo franco-holandês Arnold van Gennep no início do século XX, mas também desenvolvido por Mary Douglas e Victor Turner na década de 1960. Em todas as sociedades chamadas pela antropologia colonialista de “primitivas”, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, reconhecidas como “ritos de iniciação” ou “ritos de passagem”. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição ritual particular para o indivíduo, representam igualmente a sua progressiva aceitação e participação tanto na sociedade local, mas sobretudo, e simultaneamente global em que está disponível, tendo a representação social tanto  individual quanto  coletivamente.
Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome, previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene. Anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia. Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade pela procriação ou pela alimentação, ela estava simbolicamente misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã. Variadas cerimônias marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte-americanos, algumas tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens guerreiros era trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o sangue derramado eram, dessa forma, considerados como uma retribuição à Terra das dádivas que a tribo recebera até ali. Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no chamado “reino dos mortos” e garantia o retorno futuro ao “mundo dos vivos”.

   Nas sociedades contemporâneas muitos desses ritos subsistiram embora muitos deles esvaziados do seu conteúdo de sentido simbólico. Batismo e festas de aniversário de 15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia, que hoje representam muito mais um compromisso social do que a demarcação do início de uma nova fase na vida do indivíduo. No entanto, a troca do símbolo pela ostentação pura e simples, acaba criando a desestruturação do padrão social. Os ritos de passagem estão inseridos em algumas das religiões afro-brasileiras, estando mais presentes no Culto de Ifá, nos rituais   Candomblé e Culto aos Egungun que, seguindo as tradições africanas, fazem o ritual do nascimento, ritual do nome quando uma criança é apresentada ao Orun e ao Tempo, ritual de iniciação ou feitura de santo, algumas fazem o ritual do casamento, o ritual fúnebre e o ritual do Axexê quando a pessoa iniciada morre. A Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás, usa-se o termo “fazer a cabeça” onde pode existir a catulagem e pintura, porém a cabeça não é raspada completamente, e não tem imposição do adoxú. A reclusão nesses casos é de 3 a 7 dias, feita a instrução esotérica, aprendizado das rezas e pontos riscados e cantados, e é feita a apresentação pública naquele espaço reservado.
No início do século XX, mutatis mutandis, a companhia “Pinillos y Isquierdo” representava um dos mais modernos meios sociais de navegação espanhola. Em 1910, lança o navio Infanta Isabel e 2 anos depois, seu gêmeo, o Príncipe de Astúrias, uma versão melhorada. Ambos foram construídos nos estaleiros Kingston, pela Russel & Co sob supervisão da Pinillos. Construído em 1914 nos estaleiros da escocesa Russell & Co, o mais luxuoso transatlântico espanhol ostentava 150 metros de comprimento, 16.500 toneladas e capacidade para transportar 1.900 passageiros a uma velocidade máxima de 18 nós. O Príncipe de Astúrias tinha casco duplo em sua extensão, com compartimentos estanques e de lastro que podiam ser enchidos ou esvaziados facilmente, proporcionando uma estabilidade maior em qualquer situação crítica de navegação. Em 6 de março de 1916, o navio se dirigia ao tradicional porto de Santos, fazendo sua sexta viagem à América do Sul. 
Levava oficialmente 588 pessoas entre passageiros e tripulantes, embora houvesse a informação de que cerca de 800 imigrantes em situação de precarização viajavam clandestinamente nos porões, fugindo da violência letal da 1ª grande guerra. Entre as cargas importantes, o navio levava 12 estátuas de bronze que fariam parte do monumento La Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas em Buenos Aires e uma considerável quantia de 40 mil libras em ouro. Entre as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a chamada Terceira República Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, o principal herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip (1894-1918), em Sarajevo, foi o estopim da 1ª Grande Guerra, o que resultou em um ultimato da Áustria-Hungria contra o Reino da Sérvia. Diversas alianças antes formadas foram invocadas, dentro de algumas semanas, as grandes potências estavam em guerra; através de suas colônias, o conflito se espalhou ao redor do planeta como um balão de estufa.
Além de ser um navio potente e moderno, o Príncipe de Astúrias era luxuoso com uma biblioteca para uso exclusivo dos passageiros, em estilo Luís XVI, com estantes de mogno e assentos de couro de qualidade. Etnograficamente a cobertura superior servia como espaço de lazer com bancos e cadeiras, e nela existiam vidraças coloridas que protegiam do vento e das tempestades. O restaurante era decorado com painéis de carvalho japonês e quadros com molduras de nogueira. Havia também com uma cúpula coberta com vitrais coloridos, pela qual se podia desfrutar da luz natural ambiental durante o dia. O navio contava com um salão de música que podia ser acessado pelo salão de entrada, onde havia uma grande escadaria com laterais e corrimãos trabalhados em madeira. O chão de entrada era decorado com tapetes persas que eram usados como pista de dança. Um piano havia sido construído especialmente para ser tocado a bordo.
            A palavra réveillon tem origem no verbo em francês réveiller, que significa “acordar” ou “reanimar” em sentido figurado. Assim, o réveillon é o despertar do novo ano. A partir do século XVII, a palavra Réveillon passou a ser utilizada para designar as festas realizadas pela nobreza francesa, que duravam a noite toda. Marcado por simbolismos, o réveillon é uma comemoração com muitos rituais, realizados para atrair “a boa sorte” ou para “deixar para trás tudo o que foi ruim”, trazendo esperança de dias melhores para o novo ano. Com a expansão da cultura ocidental para muitos outros lugares do mundo durante séculos recentes, o calendário gregoriano foi adotado por muitos outros países como o calendário oficial e a data de 1º de janeiro tornou-se globalizada para se comemorar o ano-novo, mesmo em países com suas próprias celebrações em outros dias como Israel, China e Índia. Na cultura da América Latina, há uma variedade de tradições e superstições em torno de datas como presságios para o próximo ano. Essa tradição contida na concepção etnográfica dos ritos na passagem (cf. Van Gennep, 1977) do ano é muito importante sociologicamente falando, para a realização humana e tem um caráter motivacional das festas religiosas. Faz com que as pessoas sejam mais positivas e consigam encarar as situações difíceis do dia a dia.

         As superstições e as crenças estão enraizadas na cultura brasileira que abriga uma miscigenação de tradições de vários povos. É interessante que esses hábitos não se percam e sejam rememorados entre as gerações, uma vez que favorecem a mudança de comportamento, de hábitos e até para que o novo ciclo seja melhor que o anterior. Chovia forte e a visibilidade era baixíssima, quando, por volta das 4h20 da madrugada, o comandante, José Lotina, viu um raio, que indicou o quão próximo o navio estava da terra. Ele ordenou toda a força a ré e que o leme fosse desviado completamente para boreste (direita), mas era tarde demais. O navio bate violentamente nos rochedos na Ponta do Boi na Ilhabela, no litoral de São Paulo e afunda em cerca de 10 minutos. Em um dos piores naufrágios da história do Brasil, oficialmente 445 pessoas morrem e apenas 143 sobrevivem. Se a hipótese dos “imigrantes ilegais”, mais de 1000, se confirmar, este é o maior naufrágio de navios de passageiros, maior até do que o do Titanic e o pior, com suspeitas de crimes graves e uma verdadeira conspiração envolvendo seu afundamento. A embarcação Bateau Mouche IV naufragou em 31 de dezembro de 1988, precisamente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Naquela noite de terça-feira, dia 31 de dezembro, pouco mais de 250 barcos circularam no mar de Copacabana em busca de uma posição privilegiada para ver o espetáculo de fogos de artifício que atrai milhões de pessoas a cada réveillon. Sessenta toneladas de fogos e oito torres de som com 120 watts localizadas entre a discoteca Help e a Avenida Princesa Isabel deram aparentemente as boas-vindas ao ano de 1989 nas areias da praia de Copacabana. Dez minutos antes da meia-noite, porém, começava a acontecer a tragédia anunciada que, mais do que o réveillon, tornaria aquela passagem de ano uma das mais marcantes de toda a história social das festas na orla carioca. Uma hora e 20 minutos depois do barco de passeio Bateau Mouche IV ter deixado o ancoradouro, no restaurante Sol e Mar, nas proximidades da Avenida Repórter Nestor Moreira, em Botafogo, ele afundou na entrada da Baía de Guanabara, a caminho da Praia de Copacabana. Cinquenta e cinco pessoas morreram, entre elas a atriz Yara Amaral e Maria José Teixeira, casada com o ex-ministro do Planejamento Anibal Teixeira, que conseguiu se salvar. O Bateau Mouche naufragou a cerca de um quilômetro da Praia Vermelha, entre o Morro do Leme e a Ilha de Cotunduba, próximo ao Pontal do Leme, onde a profundidade é de 22 metros. Pescadores de Jurujuba, em Niterói, que estavam numa traineira, foram os primeiros a perceber que o barco afundaria e conseguiram retirar pelo menos 30 pessoas do mar.
Bibliografia geral consultada.
SILVARES, José Carlos, Naufrágios do Brasil. Edição bilíngue: Português/Inglês. São Paulo: Editora Cultura Subeditoras, 2010; CARVALHO,  André Benevides de, Análise da Convenção de Atenas: Conteúdo e Possíveis Efeitos. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Direito Internacional. Santos: Universidade Católica de Santos, 2010; CELESTINO RIOS e SOUZA, Carlos, Arqueologia Subaquática: Identificação das Causas de  Naufrágios nos Séculos XIX e XX na Costa de Pernambuco. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2010; GOULARTI FILHO, Alcides, “História Econômica da Construção Naval no Brasil. Formação de Aglomerado e Performance Inovativa”. In: Revista Economia. vol.12, nº2, pp.309-336, 2011; SANTOS, Marina Gonzalez Ferreira dos, Análise de Acidentes com Embarcações em Águas sob Jurisdição Brasileira - Uma Abordagem Preventiva. Dissertação de Mestrado. Programa de Engenharia Ambiental. Escola Politécnica e Escola de Química. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; DURAN, Leandro; BAVA DE CAMARGO, Paulo Fernando; BARBOSA, Marina Souza, Desvendando o Naufrágio do Vapor Bahia, PE, Brasil (1997): O Olhar da Arqueologia Subaquática. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014; LACERDA, Katia de Barros de, Proposta de Prevenção de Acidentes em Embarcações de Transporte de Passageiros. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Transportes. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2015; FARHERR, Ramsés Mikailauscas, O Naufrágio do Vapor Rio Apa (1887) sob a  Óptica da arqueologia Marítima: Contextos, Relações e Ressignificações. In: periódicos. ufpesledu.br/vol. 14, nº 27 (2017); entre outros.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Clarice Lispector - Dom, Identidades & Afeto Mediado nas Palavras

                                                                                                Ubiracy de Souza Braga
 
                                                     “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso”. Clarice Lispector
 

                Pode-se afirmar que a tradução de qualquer texto literário, um texto que tem como representação a vida social e política produz efeito estético e provoca um efeito catártico no leitor, segundo a definição corrente de literatura. É claro que, não excluindo os tradutores generalistas, os tradutores especializados são frequentemente capazes de oferecer, pela familiaridade com aquele gênero ou aquele autor, um estilo literário capaz de reter e identificar aquele universo particular, gerando alguns efeitos   específicos na leitura do original, no leitor, o que pode representar uma vantagem para a realização desta atividade. Ainda assim, mesmo especializando-se em autores ou gêneros literários, o tradutor literário precisa dominar a técnica da escrita de diálogos, uso de coloquialismos, gírias, estilos narrativos e quase todas as estratégias empregadas pelos autores dos originais, o que não deixa de ser uma forma de especialização “em si”.  Os resultados da operação contam então com restos da adesão. Fazem cálculos até mesmo com o desgaste de toda convicção. Durante séculos, supunha-se que fossem indefinidas as reservas de crença. Aos poucos a crença se poluiu, como ar e a água. Percebe-se ao mesmo tempo não se saber o que ela é. Tantas polêmicas e reflexões na vida cotidiana sobre os conteúdos ideológicos em torno do voto e enquadramentos institucionais para lhe fornecer, não foram acompanhadas de uma elucidação acerca da natureza do ato de crer.

          Metodologicamente a descrição da dialética que assim se estabelece é um dos pontos culminantes do pensamento humano desde a Antiguidade, em todas as épocas e sua conclusão é surpreendente: “o homem integral, livre, satisfeito com o que é, o homem que se aperfeiçoa”. Não é o senhor nem o escravo, mas sim o escravo que consegue suprimir sua sujeição. Isto é Hegel, um homem admirável. A célebre metáfora do senhor e do escravo, tão popularizada na tradição ocidental, foi criada por Hegel (cf. Kojève, 1973) e utilizada por muitos pensadores no século XX, e hoje em tempos sombrios mais do que nunca. Desse modo, qualquer aproximação da metáfora “em si” ou do seu sentido, necessita de uma análise da obra e do contexto filosófico onde a mesma se insere. Diferentemente das muitas lições e cursos que G. W. F. Hegel ministrou e que, posteriormente, foram transformados em aulas, sua escrita aqui é bastante distinta. No âmbito filosófico podemos notar a clara oposição de Hegel ao posicionamento kantiano. A segunda significação é cultural, isto é, a “consciência vive num determinado contexto e época”. Já a terceira significação é histórica, ou seja, “a consciência do indivíduo e da cultura caminha para uma ciência na história”. A partir de tais cruzamentos é que podemos compreender a dialética do “senhor e do escravo” em Hegel. 



                                    
            Quando Hegel morreu em 1831, o corpo violentamente decapitado de Maria Antonieta “jazia numa vala comum em Paris”. Napoleão e a Revolução clássica haviam percorrido seus caminhos. Os ingleses e a revolução de Metternich haviam se encarregado do grande homem. A república norte-americana tomara seu lugar entre as potências imperialistas e seus navios velozes percorriam os sete mares. Goethe serenamente observava uma vida de conflitos fundida em forma clássica e selava seu épico de Fausto, o homem universal que transcende o mundo da sensualidade. A tragédia Fausto é, sem dúvida alguma, um dos textos que emoldura a Goethe repercussão universal. Nela, pode-se dizer, o poeta expressa a experiência da existência. Holbach estava fora de moda, “mas um garoto de treze anos em Trier, Marx, nascido no ano em que Hegel se tornara professor de filosofia da Universidade de Berlim, já começava a descobrir a filosofia que significava Hegel e logo iria ressuscitar Holbach em uma forma mais dinâmica do que todo o romantismo e que varreria o mundo, até a China, com uma paixão do intelecto mais poderosa do que qualquer coisa que Werther tenha conhecido”.
Clarice Lispector foi uma escritora nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, mas declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana, sendo considerada uma das escritoras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. A escritora dizia não ter aparentemente nenhuma ligação com a Ucrânia e que sua “verdadeira” pátria era o Brasil. Pouca gente se dá conta de que uma das escritoras mais talentosas da literatura brasileira viveu em Maceió. Trata-se de Clarice Lispector, que passou alguns anos de sua infância na capital alagoana. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se mudar para o Recife, onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perderia a mãe. Aos quatorze anos de idade, transfere-se com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro, onde a família estabilizou-se, e onde o seu pai viria a falecer, em 1940. Sua obra literária tem como escopo cenas cotidianas e enredos psicológicos, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Predomina em suas obras o nível de análise psicológico, visto que o narrador segue o fluxo do pensamento e o monólogo interior das personagens. As ações sociais, quando ocorrem, destinam-se a ilustrar características psicológicas das personagens. São comuns enredarem-se histórias sem começo, meio ou fim. Por isso, ela se dizia, do ponto de vista da criação, ser mais que uma escritora, irradiando uma ideia afetiva nas palavras, porque registrava em palavras aquilo que sentia. 
Mais que histórias, seus livros apresentam impressões. Logo, o enredo pode fragmentar-se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado, pelo menos inusitado para a personagem. Esse fato provoca um desequilíbrio interior que mudará a vida da personagem para sempre. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado, pelo menos inusitado para a personagem. Esse fato provoca um desequilíbrio interior que mudará a vida da personagem para sempre. .Logo, o enredo pode fragmentar-se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo. Mas esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado - pelo menos inusitado para a personagem. Ocorre a “epifania” como a representação do momento em que a personagem sente uma “luz iluminadora” de sua consciência, contraditória, no sentido hegeliano, que a fará despertar para a vida contradições, perplexidades que noutra instância nela não fariam a menor diferença. 

O clima de comunicação, próprio para ganhar confiança vem do modo como ela “dialoga” com criança através da obra. Como no mesmo livro “A Mulher que Matou os Peixes”, logo no início antes de contar a história vem a frase: “Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e meu coração vai ouvir”. E esse recurso estilístico se repete várias vezes. As digressões ou os supostos diálogos da narradora com o leitor predominam em relação às ações da própria narrativa. Clarice Lispector parecia estar ciente de como penetrar no universo infantil de modo seguro e que não fizesse em momento algum com que o pequeno leitor se sentisse “sozinho” ao ler a história – na verdade, a impressão de que a narradora é uma companhia está muito presente, tal a intimidade oferecida pelo contexto. Como em uma das passagens de “O Mistério do Coelho Pensante”, a confiança a ser conquistada é uma prioridade quando permite estabelecer uma analogia. É autora original não só quanto à ficção imaginada, mas também uma pioneira em outras áreas: ingressando no jornalismo ainda na década de 1940, era a única mulher da redação em que trabalhava, e uma das poucas, a exercer uma profissão. Nos anos 1950, enfrenta novo desafio. Convidada a escrever “colunas femininas”, precisa falar sobre moda, beleza e comportamento, mas deseja “driblar” o que está por trás destas relações sociais, uma poderosa ideologia que reduzia a mulher e seu desempenho através de um papel menor na sociedade.
Ao lado dessa preocupação, vive o temor de que o ofício comprometa sua atividade intelectual como ficcionista. Por isso, utiliza pseudônimos e concorda, anos mais tarde, em ser a ghost writer da famosa manequim Ilka Hack Soares, uma das mulheres mais belas do Brasil dos anos 1950 e 1960, fez sua estreia no cinema em 1949 no filme: Iracema, uma adaptação do romance homônimo de José de Alencar. Passou ainda pelos estúdios das pioneiras e reveladoras Vera Cruz e Atlântida. Na TV apresentou programas de consumo jornalístico e/ou de variedades. Foi também modelo de capa de revistas de classe média; desfilou em passarelas profissionalmente. Acompanhou o ator Rock Hudson em visita ao Brasil em 1958. Em 1971 atuou no teatro e televisão, destacando-se em telenovelas pragmáticas da Rede Globo como “Bandeira 2” (1971), “Anjo Mau” (1976), “Locomotivas” (1977), “Champagne” (1983), “Corpo a Corpo” (1984) e “Mandala” (1987). Apresentou a representação do chamado “Jornal de Verdade”, era um telejornal da Rede Globo e surgiu como substituto do Jornal de Vanguarda, do qual conservou, além de alguns integrantes da equipe, as principais características: o tom informal e coloquial no discurso de seus apresentadores, a presença de vários locutores, o comentário de jornalistas especializados, que interpretavam os fatos mais importantes do dia; e o humor e a irreverência dos bonecos em movimento de Borjalo.
Para escrever as colunas femininas, uma atividade independente do percurso literário, Clarice utilizava-se de vários pseudônimos. O livro Só Para Mulheres  reúne 290 textos e pequenos trechos. Os temas vão do melhor corte de cabelo e do vestido do momento à felicidade conjugal, passando por uma série de receitas de almanaque. Respeitando as limitações comerciais - no Correio, a coluna era patrocinada pelos cosméticos Pond`s - e as referentes ao veículo de comunicação e à média do público-alvo, Clarice soube imprimir a tudo sua marca literária. A inventividade com os adjetivos, as construções com duplos sentidos e o uso de metáforas do poder nada óbvias, recursos presentes em seus contos e romances, também aparecem. Sob o aparente papo inocente das chamadas dona-de-casa, escondem-se reflexões sobre a essência do feminino e sua relação estratégica com os homens.
        Clarice também critica os excessos consumistas. Parte dos textos que escreveu à época, sob os pseudônimos de Tereza Quadros e Helen Palmer e como ghost writer de Ilka Soares, estão em  Só para Mulheres, coletânea organizada por Aparecida Nunes, doutora em literatura brasileira e estudiosa da obra da autora de romances como A Hora da Estrela e A Paixão Segundo G.H. Referência a este aspecto foi realizada em reportagem publicada no jornal O Globo, a respeito da compilação das colunas de assuntos femininos a ser lançada com o título Correio Feminino. A matéria apresenta uma faceta pouco conhecida mas também muito característica de Clarice Lispector: a da mulher vaidosa, e que como jornalista podia dar dicas para outras mulheres também preocupadas com a moda, a beleza e comportamento. Para falar desses temas, Clarice assinou como Tereza Quadros, depois como Helen Palmer, e também a ghost writer da atriz Ilka Soares. Outra atividade que Clarice exerceu foi a produção de livros infantis. O primeiro deles, “O Mistério do Coelho Pensante”, data de 1968 e foi baseado numa história real da família. Depois vieram “A Mulher que Matou os Peixes”, “A Vida Íntima de Laura”, “Quase de Verdade” e “Como Nasceram as Estrelas”.
Registrada como Chaya Pinkhasovna Lispector, Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 na aldeia de Chechelnyk, região da Podólia, então parte da República Popular da Ucrânia e hoje parte da moderna Ucrânia. Filha dos judeus russos Pinkhas Lispector e Mania Lispector (nascida Krimgold), seu nascimento se deu em meio aos “preparativos” da família para a fuga, em razão do antissemitismo resultante da guerra civil russa (1918-1920). Pinkhas Lispector era um comerciante, filho do religioso Shmuel Lispector e da burguesa Heived. Pinkhas e Mania se casaram no ano novo de 1889, por determinação dos pais. Do casamento nasceriam três filhas: Leah, em 1911; Tania, em 1915; e Chaya (ou Haia), em 1920. A proibição da emigração fez com que os Lispector buscassem meios aparentemente ilegais em uma tentativa, que falhou e que fez com que eles se mudassem para uma aldeia mais próxima das fronteiras, Chechelnyk. Estudou Direito na Universidade do Brasil, posteriormente UFRJ, apesar de demonstrar interesse pelo meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora, logo se consagrando como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das intelectuais mais influentes da literatura brasileira (e do modernismo), sendo inclusive considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É incluída pela crítica analítica especializada entre os principais pensadores brasileiros do século XX. 
A presença judaica assumida como tal tem início apenas no século XIX, após a Constituição de 1824 ter instituído formalmente a liberdade religiosa no país. Como fenômeno de massa, no entanto, a imigração judaica começou depois do desenvolvimento da navegação a vapor e do estabelecimento de linhas comerciais entre a Europa e o Brasil, o que aconteceria só na segunda metade do século XIX. No inverno de 1921, conseguiram deixar a Ucrânia após alcançarem o rio Dniestre, através do qual foram levados à cidade de Soroco, então pertencente à Romênia e atualmente à República da Moldávia. Lá viveram em um albergue, e Mania foi internada em um hospital de caridade. Planejaram a fuga da Europa, com o intento de emigrar para o Brasil ou para os Estados Unidos, opção esta que acabou por ser inviável devido à aprovação do “Emergency Quota Act”, que dificultava a emigração do Leste Europeu. A fuga foi cogitada primeiramente por Mania Lispector e sua família, que já havia emigrado em sua maior parte para a América do Sul a fim trabalhar em organizações judaicas. No entanto, Pinkhas concordou com a emigração somente em razão do avanço dos pogroms, no fim da década de 1910. Por volta de 1918, a pobreza fez com que a família se mudasse para a cidade de Haisyn, também na Podólia, no atual Oblast de Vinnitsa, onde ocorreram alguns “pogroms”, historicamente, termo que se refere aos violentos ataques físicos da população em geral contra os judeus, tanto no império russo como em outros países. A palavra russa significa “causar estragos, destruir violentamente”. Num deles, por volta de 1919, Mania “foi estuprada por um grupo de soldados, que lhe teriam transmitido sífilis”.
  Mas o movimento social ganharia volume significativo apenas na segunda metade da década de 1920, quando Estados Unidos da América e Argentina introduziram restrições à entrada de determinados grupos. O Brasil, que desde fins do século XIX se  estabelecera como um importante destino da migração internacional, tornou-se uma alternativa natural. Sucessivamente, judeus provenientes do Império Russo, dos Bálcãs e da Europa Central passaram a chegar em números crescentes: calcula-se que, entre 1920 e o início da 2ª guerra mundial, mais de 50 mil judeus tenham aqui aportado. Desde as últimas décadas do século XIX, o Brasil havia recebido alguns milhões de imigrantes europeus, vindos principalmente da Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Polônia. Em Maceió, a família continuou a viver em condições precárias e enfrentou alguns conflitos decorrentes das dificuldades econômicas e culturais. Para sustentar a família, Pedro tornou-se um pequeno mascate, comprando roupas velhas e usadas em áreas carentes para revendê-las aos comerciantes da cidade, e também deu algumas aulas particulares de língua hebraica para os filhos de alguns vizinhos e vendia cortes de linho. A situação melhorou somente quando Pedro, ao lado de José, passou a fabricar sabão, como fez na Ucrânia. Em 1925, após três anos morando em Maceió, no estado de Alagoas, mudou-se, pouco depois de seu pai, para Recife, no estado de Pernambuco, com sua mãe e irmãs, possivelmente em consequências dos conflitos familiares e do desejo de Pedro de melhorar as condições sociais da família mudando-se para um centro econômico mais desenvolvido culturalmente que apresentava também uma população judaica mais coesa. Viveram no bairro Boa Vista.

Em 1928, aos sete anos, aprendeu a ler e a escrever. Em 1930, pouco depois, escreveu, inspirada por uma peça que havia visto, sua primeira peça teatral, “Pobre menina rica”, de três atos e cujas páginas foram perdidas. Em 1931, enviou contos para a página infantil do Diário de Pernambuco, mas o jornal não publicou seus textos porque “os outros diziam assim: - ‘Era uma vez, e isso e aquilo...’. E os meus eram sensações (cf. Manzo, 2001). Eram contos sem fadas, sem piratas. Então ninguém queria publicar”. Após completar o jardim de infância, ingressou no ensino primário, na Escola João Barbalho, mostrando bastante interesse por matemática e passando a dar aulas dessa disciplina aos filhos dos vizinhos.  Nesse período mudaram-se para a rua Imperatriz Teresa Cristina. Em 1930, na terceira série, ingressou no Colégio Hebreu-Iídiche-Brasileiro, onde aprendeu hebraico e iídiche. O estado de Mania agravou-se, e Clarice escreveu, para tentar agradá-la, contos e peças, mas em 21 de setembro de 1930, aos quarenta e dois anos, Mania Lispector morreu e foi sepultada no Cemitério Israelita do Barro. Em homenagem à mãe, Clarice Lispector compôs sua primeira peça para piano.
Em 15 de dezembro, seu pai deu início ao processo de nacionalização, solicitando um documento inicial. Em 17 de junho de 1931, encaminhou um pedido de naturalização. Em 1932, Clarice, aos doze anos, foi aprovada, ao lado da irmã Tania e da prima Bertha, no Ginásio Pernambucano. Em 1933, decidiu tornar-se escritora quando “tomei posse da vontade de escrever ... vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar”. Na sua última entrevista em vida, ela disse que nessa sua formação literária “misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa, misturado com Fiódor Dostoievski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores. Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, O Lobo da Estepe, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais. Terminei rasgando e jogando fora”. A família mudou-se para uma casa própria na avenida Conde da Boa Vista, em Recife,  um importante logradouro. Inicia-se na Ponte Duarte Coelho e termina na Rua Dom Bosco, e depois passa a se chamar Av. Carlos de Lima Cavalcanti. Corta os bairros da Boa Vista e da Soledade.
Em 7 de janeiro de 1935, com 14 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro na residência de um casal judaico no bairro do Flamengo e depois moram em uma casa antiga perto do Campo de São Cristóvão. Estabilizam-se na cidade logo em seguida, ocupando parte da casa 341 da rua Mariz e Barros, no bairro da Tijuca. Clarice então estudava o quarto ano do ginásio no colégio Sílvio Leite, na mesma rua de sua casa. Em 1936, terminou o ginásio e ingressou, em 2 de março de 1937, em uma escola preparatória, a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, então chamada de Universidade do Brasil. A decisão causou estranhamento na época, tanto por Clarice ser mulher quanto por não pertencer à elite carioca, mas era justificada por seus desejos de mudanças sociais, pois “o que eu via [em Recife] me fazia como me prometer que não deixaria aquilo continuar”. De acordo com ela, “como eu não tinha orientação de nenhuma espécie sobre o que estudar, fui estudar advocacia”. Apesar da relutância do pai, que temia mudanças “estressantes” na filha, ela perseguiu sua vocação na literatura com seus planos disciplinares em sua vida e tinha um objetivo humanista claro: - “Minha ideia ... era estudar advocacia para reformar as penitenciárias”.
A atuação de Agamenon Magalhães na Constituinte de 1933 foi pautada na defesa do regime parlamentarista, na qual não teve apoio nem do governo nem dos demais parlamentares. Apesar disso, em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do Trabalho, Indústria e Comércio. Passam a primeira semana no Rio de Janeiro. Nesse período, deu apoio à criação da Justiça do Trabalho, ampliou a rede de apoio aos trabalhadores urbanos, e cooptando-os utilizou a arregimentação sindical para combater a infiltração comunista no movimento operário, principalmente após chamada Intentona Comunista de 1935. Para isso, defendeu a intensificação do controle sobre os sindicatos e o aceno com novas leis sociais para os trabalhadores. Em 1937, após a demissão de Vicente Rao, passou a acumular também as funções da pasta da Justiça. Aliado fiel de Vargas, Agamenon Magalhães entrou em choque com o interventor Lima Cavalcanti, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938. Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor. A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu com os anos de militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em torno da 2ª guerra mundial. Este período foi marcado por mudanças políticas, mas sobretudo no plano cultural.

Enfim, a obra de Clarice Lispector concebeu mais de 200 traduções para mais de 10 idiomas, do tcheco ao japonês, sendo mais de 179 traduções integrais de livros e 25 de contos publicados na imprensa nanica especializada por “periódicos”. Seus livros mais traduzidos são principalmente os romances: “A Hora da Estrela”, com 22 traduções; “A Paixão Segundo G. H.”, também com 22; “Perto do Coração Selvagem”, com 18; “Laços de Família”, com 16; e “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, com 15 traduções que foram iniciadas logo depois do início de sua carreira literária e receberam uma boa acolhida da crítica especializada, sendo os idiomas com mais tradução o espanhol, o inglês e o francês. Em 1954, seu primeiro livro a ser traduzido foi editado na França: “Perto do Coração Selvagem”, em tradução de Denise-Teresa Moutonnier pela editora Plon. É o romance de estreia de Clarice Lispector. Publicado originalmente em dezembro de 1943, o livro é marcado pelo estilo introspectivo da escritora. Recebeu muitas críticas positivas na época, tendo sido premiado como melhor romance de estreia pela Fundação Graça Aranha, em outubro de 1944. A tradução desagradou Clarice Lispector, “que enviou reclamações sobre erros ao editor”, Pierre de Lescure, “mas acabou por preferir fingir que a tradução nunca existiu”.
            Em 1955, ocorreu a primeira tradução para o espanhol: “Água Viva”, por Haydeé Yofre para a Sudamericana. Clarice Lispector teve seu primeiro texto publicado na Espanha em 1965, mas apenas nos anos 1990 sua obra é reconhecida pelo público espanhol e passa a fazer parte do repertório de leituras do país europeu, contando com um grupo fiel de leitores. Em 1961, a primeira versão para o inglês: “A Maçã no Escuro”, por Gregory Rabassa para a editora da Universidade do Texas. Em 1963, teve sua primeira tradução para o alemão representando a primeira tradução de um de seus livros de contos: “Laços de Família”, por Marianne Eyre, Margareta Ahlberg e Arne Lundgren, para a Norstedts. Em 1964, ocorreu a versão também para o alemão: “A Maçã no Escuro”, por Curt Meyer-Clason para a Classen. Em 1966, duas de suas obras são traduzidas para o alemão: “Onde Estivestes de Noite?” por Sarita Brandt para a Suhrkamp; e o conto “A Imitação da Rosa” por Curt Meyer-Clason para a Claassen. Em 1969, “A Paixão Segundo G. H.”, para o espanhol, por Juan García Gayo para a Monte Avila. Em 1973, a primeira para o tcheco: “Perto do Coração Selvagem”, por Přeložila Pavla Lidmilová para a Odeon; e também o primeiro livro de contos traduzido para o espanhol, “Laços de Família”, por Haydeé Yofre Barroso para a editora Sudamericana, desde 1998 do grupo editorial Penguin Random House, fundado em 1939 por argentinos e espanhóis radicados na cidade de Buenos Aires.                  
Bibliografia geral consultada.
 
KOJÈVE, Alexandre, Introduction à la Lecture de Hegel. Paris: Éditions Gallimard, 1973; GODELIER, Maurice, O Enigma do Dom. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001; ÁNGELES, Guadalupe, “Chi ès Clarice Lispector”. In: SagaranaRivista Litteraria. Rio de Janeiro, n° 8, 2002; LISPECTOR, Clarice, A Vida Íntima de Laura. Rio de Janeiro: José Olympio Editor, 1974; dem, Revelación de un mundo. Buenos Aires: Ediciones Hidalgo, 2004; Idem, Para no olvidar: crónicas y otros textos. Madrid: Ediciones Siruela, 2007; Idem, Todas as Crônicas. Prefácio de Marina Colasanti. Organização de Pedro Karp Vasquez. Pesquisa textual de Larissa Vaz. 1ª  edição. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2018; SÁ, Olga de, A Escritura de Clarice Lispector. 3ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes: 2000; MANZO, Lícia, Era uma vez Eu: A não ficção na obra de Clarice Lispector. Juiz de Fora: Editora da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2001; MENDONÇA, Maria Helena Magalhães, A Crônica e as Cronistas Brasileiras: Questão de Gênero(s). Tese de Doutorado em Literatura. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002; NUNES, Aparecida Maria, Clarice Lispector Jornalista. São Paulo: Editora Senac, 2006; FONSECA, Ailton Siqueira de Sousa, A Odisséia de Si: Reconstrução do Homem em Clarice Lispector. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; MOSER, Benjamin, Clarice. São Paulo: Editor Cosac Naify, 2009; MELO, Marina Félix, A Percepção da Teoria da Dádiva em um Modelo Contemporâneo de Fazer Sociológico. In: Revista Espaço Acadêmico 111, agosto de 2010; PAJOLLA, Alessandra Dalva de Souza, Identidades Femininas Múltiplas em Crônicas de Clarice Lispector. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Letras. Universidade Estadual de Maringá, 2010; FERREIRA, Rony Márcio Cardoso, Clarice Lispector: Uma Tradutora em Fios de Seda (Teoria, Crítica e Tradução Literária). Tese Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Literatura. Instituto de Letras. Departamento de Teoria Literária e Literaturas. Brasília: Universidade de Brasília, 2016; LEAL, Wesclei Ribeiro da, A Condição Humana na Poética de Clarice Lispector. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2017;  entre outros.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Oliveira Lima - História & Escrita da Literatura na História.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

                “O traço dominante da individualidade de Varnhagen é a paixão da investigação histórica”. Oliveira Lima
                                  
                
            De maneira geral, considera-se que os dois critérios fundamentais para julgar a importância de uma obra são a sua raridade e a relevância do referido escrito na tradição cultural à qual ele se insere na historiografia em geral. Sobre chegar ao ponto de desejar colecionar primeiras edições, o bibliófilo José Mindlin dizia: a maior qualidade de um bibliófilo é a paciência. - “Quando se chega a esse estágio, aquele que pensava em ser na vida apenas um leitor metódico está irremediavelmente perdido”. Mindlin ainda escreveu um livro, “Uma vida entre livros”, onde narra sua paixão sobre os livros. Foi dono da maior biblioteca particular do país, que calcula em torno de 45 mil obras, das quais muitas são raras. Antes de falecer, em março de 2010, José Mindlin doou parte do seu acervo para a Universidade de São Paulo. A coleção conta com 25 mil volumes, tem o Brasil como tema e recebeu o nome de Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.    
Manoel de Oliveira Lima, historiador e jornalista representou o Brasil em diversos países, foi professor-visitante na Universidade Harvard, além de membro-fundador da Academia Brasileira de Letras. Devido ao fato de ter passado boa parte de sua juventude na Europa, tratou de fortalecer a identificação de sua imagem pessoal com a República brasileira, através da atividade típica de jornalística. Mas supor que o jornalismo lhe tenha permitido fazer um nome e tornar-se conhecido entre os círculos da classe dominante em Pernambuco não parece demasiado. Seu jornalismo timbrava então pelos temas de consumo largo num país de leitor restrito e passivo, ávido de novidades européias, apresentados como notas de viagem e correspondência de Portugal. Apaixonado por livros colecionou-os ao longo de sua démarche com o 3° maior acervo sobre o Brasil, perdendo somente para a Biblioteca Nacional (RJ) e para a notável biblioteca da Universidade de São Paulo. A Biblioteca Oliveira Lima, encontra-se na Catholic University of America em Washington, tem 58 mil livros, correspondência entre pares, mais de 600 quadros e álbuns de recortes como fontes primárias de notícias de jornais.  Gilberto Freyre sugere na sua biografia que o afastamento de Oliveira Lima de sua terra natal seria responsável pelo seu pouco reconhecimento no Brasil.

                         
Formou-se no curso superior de Letras de Lisboa, que mais tarde se transformaria na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1887, e em 1890 começou a trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Atuou como diplomata em Portugal, Bélgica, Alemanha, Japão, Venezuela, Inglaterra e Estados Unidos. Foi encarregado de negócios da primeira missão diplomática brasileira no Japão. Em 1901 deu parecer contrário ao projeto brasileiro de recebimento de imigrantes japoneses. Escreveu então ao Ministério das Relações Exteriores alertando sobre o perigo de o brasileiro se misturar com “raças inferiores”. Chegou a ser falado para a embaixada brasileira em Londres, mas o Senado não aprovou sua indicação. Oliveira Lima era malvisto pelos britânicos pelo ideal de que o Brasil permanecesse neutro na 1ª grande guerra e por sua proximidade com a Alemanha. Também fizera inimigos dentro do país, em parte por não aprovar a atitude expansionista da República em situações como a anexação do Acre realizada pelo Barão do Rio Branco.
Oliveira Lima cultivou o hábito de ler e escrever. Parte de sua fama de germanófilo vem dos elogios que dedicou a obras de filosofia alemãs quando era crítico literário. Foi autor do terceiro livro brasileiro sobre o Japão, publicado em 1903. A biografia que escreveu sobre o rei D. João VI é tida como uma das principais obras sobre essa figura histórica, o imperador titular do Brasil, embora tenha sido o seu filho D. Pedro o imperador do Brasil de fato. Um dos últimos representantes do absolutismo, D. João VI viveu num período tumultuado, e o seu reinado nunca conheceu paz duradoura. Oliveira Lima foi amigo de escritores, era íntimo de Gilberto Freyre e trocara cartas com Machado de Assis. Em 1916, doou sua descomunal biblioteca à Universidade Católica da América, em Washington, e para lá se mudou em 1920. Impôs a condição de que ele próprio fosse o primeiro bibliotecário e organizador do acervo, função que desempenhou até sua morte, sendo sucedido pela esposa Flora de Oliveira Lima.  Em 1924 tornou-se professor de Direito Internacional na Universidade Católica da América. No mesmo ano foi indicado professor honorário da Faculdade de Direito do Recife. Morreu em 1928 e foi enterrado no cemitério Mont Olivet, Washington. Em sua lápide não consta seu nome, mas a frase: “Aqui jaz um amigo dos livros”.
Joaquim Nabuco foi um marco da intelligentsia brasileira no século XIX e teve forte influência sobre Oliveira Lima que, em suas “Memórias”, narra as fraquezas humanas de personalidades consideradas unanimidades nacionais, como o barão do Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores nos três primeiros governos da República e Joaquim Nabuco, um dos principais nomes do movimento abolicionista. Entre outras personalidades políticas e literárias de seu tempo, são alvos de Oliveira Lima também o marechal Deodoro da Fonseca e Hermes da Fonseca, presidente da República de 1910 a 1914 - ambos vistos como dotados de “curteza de inteligência”. Ambos passaram boa parte de suas vidas na Europa e foram profundamente marcados pela presença dos valores monárquicos. Ao contrário de seus colegas, republicanos não só por simpatia, mas por militância, Nabuco foi sempre, desde moço, um adepto da Monarquia. De corpo e de espírito pertenceu ao velho continente, como afirma: - “O que me impediu de ser republicano na mocidade, foi muito provavelmente o ter sido sensível à impressão aristocrática da vida”, é analisada pelo evolucionista Herbert Spencer e Walter Bagehot, pensadores com profunda influência sobre Nabuco.

Biblioteca em Washington recupera legado de Oliveira Lima.
Suas reflexões filosóficas e sociais têm profundo impacto sobre Oliveira Lima na construção de sua teoria de identidade nacional para o Brasil. A compreensão dessas contradições é chave para Oliveira Lima ao propor suas idéias para a construção da nacionalidade e responder ao problema da dicotomia América/Europa anunciada por Nabuco, atribuindo um papel fundamental à vinda da instituição da monarquia portuguesa para o Brasil. Propõe uma alternativa entre solidão intelectual e história. Trata-se de uma solução sincrética: a Monarquia lusitana, começando com a fuga de D. João VI para o Brasil em 1808, traz para o chamado novo continente toda a tradição, as instituições, a arte, beleza, ciência, enfim, a civilização imperialista da Europa para as paisagens aparentemente solitárias do Brasil. A fusão entre civilização e natureza, e não sua separação à qual Nabuco parece estar rendido, preencherá a “solidão americana”, trará o mundo civilizado e opressor para o Brasil, criando assim uma “nova cultura”, um novo sentido de nacionalidade baseado na soma do tradicional ao novo, das instituições à natureza, do saber aos sentimentos.  Oliveira Lima frisa que, longe de ser o mestre de seu próprio destino, D. João veio fugido das “perturbações políticas e transformações sociais” que afetavam o resto da Europa e cujo epicentro estava em Paris.
Isto enfatiza uma das características sociais centrais de Oliveira Lima: o olhar panorâmico e global que enxerga os eventos no âmbito das relações internacionais e do concerto das nações. De fato, a vinda da corte para o Brasil cumpriu, na visão de Oliveira Lima, um importante papel político e diplomático. Preservou a Casa Real portuguesa do esmagamento pelos exércitos napoleônicos e covarde manteve suas possessões intactas, esperando que a Inglaterra derrotasse Napoleão e possibilitasse seu retorno ao trono português. A civilização européia deixada para trás pelo rei é o palco de turbulências e guerras. A nova sociedade a ser construída unirá o melhor as artes, a cultura, as instituições, a atividade intelectual simbolizada pelo rei - ao meio ambiente propício “à deliciosa vida sedentária” - isto é, ao “ócio produtivo” que conduz à nobreza atividades humanas: o pensamento criador.  No que concerne à proposta de identidade nacional de Oliveira Lima, a centralização da monarquia conseguira ao menos o fundamental: a integridade territorial face às forças políticas centrífugas das regiões, cujas lideranças se inspiravam nas idéias republicanas advindas da França e dos Estados Unidos. Neste sentido, o Brasil manteve sua unidade territorial, sendo preservado da fragmentação de vice-reinos separatistas ocorrida no resto da América Latina.
          Na América Espanhola, a ausência de um governo central possibilitou que as mesmas forças políticas regionalistas existentes no Brasil lá vingassem. As revoluções republicanas da América do Sul e América Central recortaram o continente numa coleção importante de pequenas repúblicas, em contraste com o colosso continental mantido pela ditadura luso-brasileira. No entanto, foi exatamente esse distanciamento social e político do Brasil que conferiu à obra de Oliveira Lima sua riqueza e características peculiares, dando-lhe relevância atual para os estudiosos das Ciências Políticas e Sociais. A estadia além-mar do historiador-diplomata possibilitou uma visão de globalidade do Brasil em perspectiva, favorecendo uma análise comparativa dos diversos aspectos da sociedade brasileira com relação a outras sociedades, sob seu domínio num contexto amplo, tanto no que se refere ao restante da América Latina quanto aos países imperialistas do hemisfério norte, principalmente Grã-Bretanha e Estados Unidos da América. Através de sua obra e de suas atividades laborais como pesquisador, o historiador ligou o chamado “novo mundo” das Américas ao “velho mundo” da Europa, a tradição à inovação, a civilização à natureza, o passado ao futuro.
Isto é refletido nas suas atividades de diplomata e no seu trabalho disciplinar em praticar uma forma de “diplomacia cultural”, que procurasse dialeticamente não só divulgar o Brasil para o mundo, mas revelar o mundo ao Brasil. Neste sentido, como conservador celebrou as instituições, a intelligentsia e as artes, defendendo a monarquia no Brasil como marco principal de um “processo civilizador”. No Brasil, a manutenção da integridade territorial pelo Estado, utilizando a força, foi uma das principais condições para que se construísse, a posteriori, um sentimento de nacionalidade. A manutenção da unidade territorial, portanto, foi apenas um dos pré-requisitos para que se formasse, no Brasil, uma ideia de nacionalidade. O outro componente estava na nova matriz cultural-institucional e no papel que esta iria ter, de articulá-lo politicamente ao mundo e de fixar uma ideia de Nação no imaginário brasileiro, principalmente por meio das representações nas artes e nas ciências. O Brasil do Império é um Brasil soberano que se abre para o mundo, recebendo um número sem precedentes de diplomatas, artistas, etnógrafos, botânicos, zoólogos – figuras que vão contribuir para fundar a ciência e as artes nacionais que influenciam enormemente na costura de uma ideia central de Nação. Além disso, passariam a revelar o Brasil para o mundo, não mais como um “lugar selvagem”, mas já como integrante do “mundo civilizado”, passível de ser conhecido quando analisado com as mesmas “ferramentas” analíticas provindas da Europa ou referidas aos mesmos cânones artísticos, estéticos e científicos. 
Nessa perspectiva, Oliveira Lima foi visto como autores que constroem uma imagem, atualizada no contexto, dos Estados Unidos como padrão civilizatório e ordenamento institucional. Tal representação a partir de conceitos com atualidade histórica e ideológica pontual, como raça, meio, progresso e atraso, constitui-se um componente do referido paradigma ideológico emergente ao naturalizar a de superioridade associada à civilização saxônica na América, superando e despartidarizando a imagem tradicional da “americanização republicana”, na qual os Estados Unidos apareciam na condição modelar de República-mãe no continente. Tal potencialidade ideológica era ainda reforçada por meio da aplicação daquele aparato conceitual de autores no sentido de situar simbolicamente os Estados Unidos na condição de modelo universal para inúmeras questões extremamente relevantes no contexto interno brasileiro, como o problema da assimilação social dos negros, a questão da mulher, etc., para fazer frente à irrefreável e natural tendência dos Estados Unidos a efetivar o significado intelectual e interno da doutrina. Essa negociação política entre as Américas superior e inferior, apenas poderia ser levada a efeito sob a liderança do Brasil juntamente “com as excepcionalidades nacionais hispânicas”.  
Uma vez possível tal pan-americanização do monroísmo ficaria o continente latino em posição, internacional estável frente a ambas as forças civilizadoras constituídas pela Europa e os Estados Unidos, ainda sob a liderança, inevitável, mas não necessariamente tutelar, destes. No interior de tal racionalização, o Brasil era posto em situação excepcional, como interlocutor privilegiado dos estados Unidos frente à América hispânica, a partir da qual poderia, dentro do sistema interamericano em construção, concretizar suas projeções históricas de poder, notadamente no cenário sul-americano. O Monroísmo representa a visão norte-americana do Pan-Americanismo, bem distinta do Bolivarismo e fundada no predomínio dos EUA sobre os demais Estados americanos. Sua primeira manifestação foi a mensagem presidencial de James Monroe enviada ao Congresso dos EÚA (1823). Nela, Monroe negava aos europeus o direito de intervenção no continente americano, seja para criar áreas de colonização, seja para suprimir a independência recém-conquistada pela maioria dos Estados norte-americanos. A análise do documento evidencia que os Estados Unidos opunham-se à Europa da Santa Aliança. É nessa direção que, compondo uma noção fundamental do paradigma emergente da americanização, as relações do Brasil com os Estados Unidos são representadas em uma imagem de aproximação histórica e natural, que só convinha desenvolver no contexto, sem rupturas radicais com as igualmente tradicionais ligações com a órbita europeia das relações internacionais de poder. É nesse quadro geral social e político que se situou, finalmente, a análise de Oliveira Lima da política colonial norte-americana no Caribe como missão civilizatória.  
             Nas artes, também o cunho exótico, não só das paisagens naturais, mas sociais, é sobreposto por um olhar científico, etnográfico, antropológico. Nas telas de artistas como Debret, Rugendas, os irmãos Taunay, vê-se um Brasil das relações sociais, da senzala, da lavoura, da cidade, do comércio, das relações entre índios e brancos, negros e brancos, e um novo tipo social original brasileiro, o mestiço. É sem dúvida uma sociedade original, distinta da Europa, mas que ao mesmo tempo precisa da forma europeia, da técnica e do intelecto, para ser representada e incorporada à imaginação como a unidade Brasil. Nada mais representativo deste sincretismo do que o “mestiço”, que irá se transformar num emblema de Brasil. Oliveira Lima, referência fundamental para a obra de Gilberto Freyre, já reconhece o poder da miscigenação na formação de um tipo sincrético que contribuirá para a unidade nacional. Escrevendo sobre a insurreição Pernambucana contra a invasão holandesa no século XVII, Oliveira Lima encontra a semente do que virá a ser a Nação Brasil.
Oliveira Lima defende a “mistura de raças”, ocorrida não só no Brasil como no resto da América Latina, até como exemplo de união e harmonia racial para a América do Norte. Assim como a proposta de identidade nacional de Oliveira Lima é, de certa forma, uma resposta ao problema da “solidão americana” colocado por Nabuco, a miscigenação racial no Brasil e na América Latina foi um elemento de união e de harmonização em sociedades altamente hierarquizadas e estratificadas, divididas por lealdades regionais. Implícita nessas colocações está a ideia de que, talvez, sem o mestiço não poderia haver jamais um sentido de Nação. Não é à toa que Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay e mais tarde Portinari, Di Cavalcanti e Darcy Ribeiro, na Antropologia, já anteviam no mestiço o símbolo maior de uma representação de miscigenação no Brasil. Num mundo cada vez mais interligado cultural e economicamente, mas ao mesmo tempo cada vez mais cindido racial e etnicamente, tão bem-sucedido em seus sincretismos, talvez desponte como um exemplo de sociedade na aurora deste novo século.  Em seus 61 anos de vida Manuel de Oliveira Lima exerceu inúmeras funções profissionais deixando um legado ainda marginal que vai da pesquisa literária, ao jornalismo e à história da historiografia. 
Bibliografia geral consultada.
LIMA, Manuel de Oliveira, Formation Historique de la Nationalité Brésilienne. Série de Conférences Faites em Sorbonne. 1ª edição. Paris: Librairie Garnier Frères, 1911; Idem, “Elogio de Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro (1903)”. In: Revista de Portugal, 222, 1964; Idem, Catalog of the Oliveira Lima Library. Boston: Garrison Kent Hall Publishing, 1970, 2 volumes; Idem, Memórias: Estas Minhas Reminiscências. Recife: Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes, 1986; Idem, Dom João VI no Brasil. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editor Topbooks, 1996; RODRIGUES, José Honório, “A Biblioteca de Oliveira Lima em Washington”. In: O Jornal. Rio de Janeiro, 5 de maio de 1956; Idem, Correspondência de Capistrano de Abreu a Oliveira Lima (1900-1901). Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1956; FREYRE, Gilberto, Oliveira Lima, Dom Quixote Gordo. 1ª edição. Recife: Universidade Federal de Pernambuco/Imprensa Universitária, 1968; GOUVÊA, Fernando da Cruz, Oliveira Lima: Uma Biografia. Recife: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, 1976, 3 volumes;  HOLANDA, Lourival, Sob o Signo do Silêncio. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1990; GUIBERNAU, Montesserat, Nacionalismos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores; SILVA, Lucas Victor, Sobre a Na(rra)ção em Oliveira Lima: Uma Leitura de Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em História do Brasil. Departamento de História. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2003; MALATIAN, Teresa Maria, “Oliveira Lima nos Estados Unidos”. In: História Revista - Revista da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás, vol. 13, n° 2, 2008; COSTA, Roger Renilto Diniz, Entre a História e o Mito: Oliveira Lima e a Construção de Heróis Nacionais Monarquistas pela Historiografia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon, 2016; HENRICH, Nathalia, Ser ou Não Ser Antiamericano? Os Estados Unidos na Obra de Oliveira Lima. Tese de Doutorado em Sociologia. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016; FREITAS, Guilherme Souza Carvalho da Rocha, Oliveira Lima e a Divulgação do Brasil no Exterior (1908-1912): Entre a Historiografia, a Crítica Literária e a Política Externa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Culturas e Identidades Brasileiras. Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017;  entre outros.